icaps-162

Page 1

A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL DR. NELSON SASS A realização do pré-natal representa papel fundamental em termos de prevenção e/ou detecção de doenças tanto maternas com fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante. Aliás, para se ter uma idéia de sua importância e dos problemas que enfrentamos, o Brasil apresenta taxas de mortalidade (óbitos de gestantes durante a gestação e parto), trinta vezes maior quando comparados com as taxas verificadas em países de primeiro mundo como o Canadá. A realização do pré-natal só apresenta vantagens, além de baixo custo. Julgamos importante enumerar alguns destes aspectos: - Permite identificar doenças que já estavam presentes no organismos, porém evoluindo de forma silenciosa, como a hipertensão arterial, diabetes, doenças do coração, anemias, sífilis, etc. Seu diagnóstico permite medidas de tratamento que evitam maior prejuízo à mulher, não só durante a gestação, mas por toda sua vida; - Detecta problemas fetais, como más formações. Algumas delas em fases iniciais permitem o tratamento intra-útero que proporciona ao recém-nascido uma vida normal; - Avalia ainda aspectos relativos à placenta, possibilitando tratamento adequado. Sua localização inadequada pode provocar graves hemorragias com sérios riscos maternos. - Identifica precocemente a pré-eclâmpsia, que se caracteriza por elevação da pressão arterial, comprometimento da função renal e cerebral, ocasionando convulsões e coma. Esta doença constitui uma das principais causas de mortalidade no Brasil. Pré-natal com qualidade satisfatória deve, ainda, obedecer a algumas características: * Deve iniciar-se o mais precoce possível: a partir de duas semanas de atraso menstrual, já é possível o diagnóstico da gravidez e dar início ao seu seguimento; * Devem ocorrer um mínimo de cinco consultas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, este é o número mínimo para que se considere um seguimento adequado; * Sua qualidade é fundamental: exames como a tipagem saguineas, testes pra sífilis, ultra-som, etc., devem ser solicitados já primeira consulta, além do exame clínico onde se verifica a pressão arterial, o peso e o crescimento do útero. Estas informações devem estar registradas em uma caderneta e anotadas de forma legível. Não existe “alta” do pré-natal. No último mês, o intervalo entre as consultas devem ser semanais, até o parto. Chamamos a atenção, no início deste texto, aos problemas relacionados às medidas de prevenção. A qualidade de assistência materno-infantil é questão de segurança nacional. Porém, muitas vezes, quem não se comporta de maneira adequada frente aos problemas é a própria paciente, mesmo tendo acesso a serviços de saúde de boa qualidade. Sua participação é fundamental em termos de conscientização dos possíveis riscos que possa enfrentar durante a gestação, bem como sua participação ativa representa peça fundamental na aferição da qualidade do serviço que lhes é oferecido. Dr. Nelson Sass é médico da Associação Paulista de Medicina CAUTELAS COM MODISMOS E AUTOMEDICAÇÃO WALTER CENEVIVA A globalizada comunicação instantânea sobre doenças e remédios, ao atingir milhões de pessoas, trouxe, neste final desse século, mudanças no relacionamento do médico com seus clientes e da medicina com a comunidade. A cada dia que passa muito mais pessoas são informadas (ou desinformadas), por meio da mídia não especializada, a


respeito de novos produtos ou técnicas, apontados como capazes de resolver sofrimentos humanos originando novos problemas éticos e legais. A comunicação generalizada gera confusões graves. A maioria das pessoas não decodifica adequadamente as mensagens científicas, nem as distinguem das pseudocientíficas ou apenas publicitárias. Subproduto grave da divulgação, que a lei resolve apenas em parte, está na automedicação indiscriminada potencializada pela fiscalização deficiente dos órgãos públicos competentes. Os fatores relevantes nesse quadro sintetizam preocupações que afligem a medicina clássica e que vieram a ser agravadas pela qualificação geométrica de povos produtos e técnicas e também pela difusão de publicidade volumosa, freqüentemente sob forma de depoimento de pessoas conhecidas, de produtos apontados como úteis para a cura de quase todos os males da saúde humana. O destaque dado a tratamentos de certa espécie de tumores e que agitou o primeiro semestre é um exemplo. Outro está no que se pode denominar de “fenômeno do viagra”, cujo desenvolvimento terminou gerando, no Brasil e no mundo, questões inerentes à automedicação e à atitude profissional desejável, devido aos muitos que quiseram adquirir o produto. REPERCUSSÃO DRAMATIZADA Certos tipos de problemas geram irresistível onda de esperança de cura, como se viu ao começarem a ser divulgadas novas possibilidades no tratamento do câncer. Lembre-se que as primeiras notícias eram muito mais otimistas que as que vieram a caracterizar o trabalho dos pesquisadores envolvidos. A reação ao viagra foi mais escandalosa, pela ligção com a impotência masculina. Embora possa provocar devastador abatimento psicológico nos atingidos pelo fracasso do relacionamento sexual, a importância não impede o prosseguimento das atividades normais, dia-a-dia do homem. A repercussão do produto e o valor econômico, de par com a divulgação feita, dramatizam a importância da resposta institucional da medicina ante a reação coletiva. É dela a serena avaliação dos elementos relacionados aos efeitos colaterais incompatíveis com a aplicação indiscriminada do produto, para bem esclarecer a coletividade. O médico, por seu lado, respeitará as normas legais em vigor, compondo o binômio entre pressão social e a compreensão dos problemas individuais. Cabem, assim, duas atitudes profissionais básicas: a da medicina em geral, preocupada com o bem estar coletivo, e a do médico, específica, relacionada com a saúde dos eu paciente. A primeira mostrará a prudência suficiente para o esclarecimento pronto e qualificado dos fatos relevantes. A segunda respeitará a aflição do cliente, desejoso de soluções imediatas, mas o advertirá quando a restrições e perigos, tendo força para desatendê-lo quando solicite prescrições de que resultem riscos inaceitáveis. COMUNICAÇÃO MASSIFICANTE A automedicação (imprudente ou não) integra os problemas da saúde e dos costumes nacionais, sendo inevitável em país extenso e heterogêneo como o nosso. A medicina, pelos seus órgãos públicos e privados, associativos ou profissionais e por seus representativos, satisfaz seu dever ao desaconselhá-la, apontando perigos e inconvenientes. Quando os modismos e a comunicação massificante impõem o consumo de produtos não devidamente comprovados, negar a validade da automedicação tem utilidade restrita. É preciso ir além, determinando limites, contra-indicações, dosagens, Já a prescrição, pelo médico, do uso de tratamentos ou remédios novos exige cuidados particulares. Se para o


cliente o produto da moda pode ser fonte de alegria, para o profissional pode originar efeitos negativos e, com eles, o risco de indenizações por danos materiais e morais. No mundo novo da comunicação globalizada, as responsabilidades da medicina e do médico na síntese de acepções aqui adotadas em face dos consumidores de seus serviços e de todo o corpo social, sofreram sensíveis mudanças. A função de orientar a sociedade e as bases da profissão pela palavra e pelo exemplo é todos os médicos independentemente da conduta pessoal que os clientes adotarem. São institucionalmente convocados, com particular ênfase, para o esclarecimento público dos perigos da saúde. Os atuadores da base profissional devem atender para as falácias de certos modismos farmacológicos ou técnicos, porquanto são eles os que convivem concreta e imediatamente com as conseqüências do tratamento prescrito. Walter Ceneviva é advogado em São Paulo e articulista da “Folha de São Paulo”. Artigo extraído da Revista SER MÉDICO, Jul/Ago/ Set/98. DO JOGO DAS MÁSCARAS À COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL PETER BOLECH Quem vive em sociedade sabe que o isolamento é um dos sofrimentos do nosso tempo. O isolamento é, de resto, uma consciência da técnica e do modo atual de vida. Viajamos enjaulados em nosso carros. Em nossas casas, o diálogo se interrompe quando ligamos a TV. Muitos de nós desaprendemos a arte do diálogo e do encontro por falta de comunicação. Não foi por nada que esse problema ocupou filósofos e escritores do nosso século, Kafka a Bergaman, de Burber a Sartre. Não é por nada que o reavivamento do diálogo tem hoje um relevo particular, tanto na Igreja quanto na sociedade civil. Situações Particulares do Hospital No hospital encontram-se doentes em estado grave ou fase terminal, que anseiam por um encontro compreensivo com os outros, com pessoas dispostas a ajudar, dispostas a ficar perto de quem sofre no corpo e no espírito, dispostos a suavizar a dor, a romper o isolamento e a angústia que, por vezes, são mortais. Nestas situações o diálogo e a comunicação interpessoal assume um valor especialíssimo. Podemos aprofundar este tema sob vários aspectos: iniciar com a natureza do anúncio a transmitir, passar pela atitude das pessoas que transmitem e, finalmente, tratar da situação dos interessadas, isto é, dos doentes. Anúncio O anúncio a transmitir ao homem que vive no isolamento e no desespero, deve ser sem dúvida, o da verdade consoladora. Mas como é possível dizer algo verdadeiro e ao mesmo tempo consolador, quando se sabe que aquele homem encontra-se numa situação gravíssima, que talvez esteja se encaminhando para o fim. A este propósito discute-se longamente se convém dizer a verdade ao doente e, em caso afirmativo, quem deve dizê-lo e como. As opiniões divergem. Há quem recomende que se deve dizer ao doente a verdade com brutal franqueza e deixar depois que se ajuste sozinho com a nova situação; outros sugerem enganá-lo até o fim, com a mentira piedosa e deixá-lo até o fim acreditar na cura mesmo quando a morte está próxima. Penso que estes dois pontos de vista opostos ignoram o essencial. Correspondem a atitudes erradas a que recorremos, quando a arte da saúde tem caráter científico e se barra o


acesso ao ser completo do homem à sua vida e à sua morte. Somente quem toma consciência da realidade global e crê no significado da vida, do sofrimento e da morte, que está convencido De que sua existência humana não acaba com a morte física, mas desemboca numa dimensão de imortalidade carregada de mistério, pode transmitir ao moribundo um anúncio consolador. Demonstraremos mais claramente nas páginas que seguem. Quero também salientar de passagem, que não aprovo uma visão unilateral do homem que não abarque toda a sua realidade, porque poderá conduzir a perigosos desvios, até ao extremos de matar o “doente sem esperança”. Quem encara a vida do homem apenas como o desenrolar mecânico de um fenômeno físico, pode com a maior naturalidade ser levado a interropê-la quando a julga destituída de sentido, quando o “aparato humano” não funciona mais. Atitude Fundamental do Mediador O comportamento de quem tem por dever ajudar o doente é muito importante e somente quem tem uma atitude positiva em face ao homem sabe enfrentar as provocações da vida e desafios da morte, e pode ajudar espiritualmente a quem se encontra na angústia de morrer. Quem, ao contrário, não assume nem mesmo o pensamento da própria morte, encontra-se embaraçado em face da morte dos outros. No livro Entrevistas Com Moribundos a Dra. Elizabeth Kubler-Ross diz: “para encontrar a forma justa do encontro , é necessário antes de tudo a capacidade de o médico encarar de frente a própria morte. Se isso lhe for difícil e se considerar a própria morte como um acontecimento terrível e como um tabu, não poderá falar com tranqüilidade de modo a ajudar o doente. Se nós mesmos não conseguimos permanecer serenos em face de nossa morte, como poderemos ser de ajuda para nossos pacientes”? A Situação dos Pacientes e o jogo das máscaras Além da atitude de quem conforta, deve ser considerada a situação especial do paciente que precisa de ajuda. Diante do médico, da enfermeira, do padre, está talvez uma pessoa terrificada pela morte, que se retrai angustiada em face a uma “entrevista”, pressentida mas não aceita: refulgia-se em si mesmo como numa cápsula ou se defende agredindo, lamentando-se; ou se fecha, cai em depressão profunda ou torna-se excessivamente eufórica. O doente assume uma máscara e não permite aos estranhos desmenti-la. Se também o acompanhante, por ansiedade, insegurança ou embaraço, reage e se refugia numa máscara, inicia-se aquilo a que eu chamarei: O jogo das máscaras. A esta altura a comunicação verdadeira torna-se impossível. A Máscara do Agente de Pastoral da Saúde A máscara é um requisito teatral que remonta à pré-história. Serve ao ator para representar uma pessoa diferente, representar um papel que não é o seu e levar à frente um diálogo que corresponde a uma personalidade fictícia, não à sua. Na cena, a másacara é um meio inocente para disfarçar-se como no carnaval: os espectadores sabem que diante deles está uma pessoa disfarçada. Existem contudo, ao menos em alegoria, máscaras menos inocentes. Máscaras que querem enganar, que escondem o verdadeiro vulto do portador e o protegem contra perigos reais ou supostos. Sobre as máscaras nem sempre inocentes, existem muitas e profundas afirmações de Nedoncelle em seu livro: A RECIPROCIDADE


DAS COSNCIÊNCIAS; (Paris -1942) e de alguns autores da escola de Frankfurt. Mesmo confrontos entre doentes e Agentes de Pastoral da Saúde para evitar o confronto direto, quer colocá-las entre as máscaras sociais que não estão isentas de perigos. A Máscara do Médico O médico que tem encontro direto ou pessoal com um doente grave, pode facilmente esconder seus limites atrás da máscara da profissão: numa interpretação estritamente técnica de sua profissão ele pode empregar os requisitos mais desenvolvidos da terapia, fazer análise e medidas, diagnosticar e controlar, organizar o tratamento e a assistência, dar indicações, impor uma forma de administração médica da mais alta perfeição burocrática. Com todo esse trabalho pode deixar algo de lado muito essencial: a comunicação direta com o doente. E não conseguirá nem mesmo libertar o doente de uma possível auto-ilusão. É preciso saber que também o paciente se esconde numa máscara. Não chega a se encontrar existencialmente, não chega à catarse, ao encontro. Se deste modo o médico escondido atrás da máscara do técnico, foge a um de seus deveres essenciais, justificar-se-á dizendo que seu objetivo é o emprego de procedimentos terapêuticos “concretos”, que a ele é confiado o corpo e não a alma do doente, que ele age segundo seu estado profissional de consciência. E pode concluir dizendo que seu trabalho já é suficientemente cheio e não se lhe devem pedir tarefas suplementares. Em seu livro: COMO PODEMOS ASSISTIR AOS MORIBUNDOS, Bowers analisa com precisão a máscara do médico, que pode apresentar-se sob os múltiplos aspectos. Eis alguns: - O médico vê e age profissionalmente. Comporta-se de uma determinada maneira, tem autoridade, um hábito, um equipamento, através dos quais geralmente cria a distância entre si mesmo e o doente e evita o encontro direto. Na cena do hospital ele exige a autoridade de um sumo-sacerdote, cuja palavra é lei e domina a vida e a morte com onipotência absoluta. - A linguagem profissional também pode torna-se uma máscara. O médico sabe o que diz porém está certíssimo de que suas palavras não têm nenhum sentido para o doente. Que a língua não honra sua função, veda ao invés de comunicar o sentido daquilo que exprime. Satisfaz, talvez, a profissionalidade do médico mas desatende às necessidades do doente. - Existe a máscara da aparelhagem. Neste caso, a defesa é devida ao fato de que entre o doente e o médico existe algo de concreto. Pode ser a máscara do oxigênio, do estetoscópio, sonda, injeção subcutânea, seja o que for: estes equipamentos absorve toda a atenção. Protege a alma sensível do médico contra os sentimentos do doente cheio de ansiedades e torna possível ao médico continuar seu trabalho, incansável ao encontro direto com o paciente. - Existe a máscara da despersonalização. O doente transforma-se num “caso” ou numa doença. Um médico pergunta à enfermeira quantos doentes havia ainda na sala de espera. Ela abriu a porta e deu uma olhada. A resposta foi: “o coração e o pulmão estão ainda aqui”. A tendência de referir-se à doença mais que ao doente, dá ao médico a possibilidade de ocupar-se de uma parte da pessoa , daquela parte da qual se sente seguro. O médico se posiciona autoritário na sua competência profissional, assim como, de resto, fazem os outros homens da ciência; limita-se à sua atividade. Concentrando sua atenção


sobre a peça anatômica impessoal do indivíduo ele pode estabelecer uma relação e interrompe-la, sem que seus escrúpulos sofram nenhum desconforto. A máscara da rotina hospitalar tira do doente quase que imperceptivelmente, aqueles aspectos da vida que determinam sua personalidade e sua dignidade. A Máscara da Enfermeira Devido à sua posição, a fuga é ainda mais fácil do que para o médico. Sua autoridade e mais ainda, sua personalidade, dependem do médico que prescreve os cuidados a seguir e toma as decisões. Assim, a enfermeira pode facilmente esconder-se atrás da máscara de executora e limitar-se a executar seu papel de portadora de máscaras; não se lhe pode pedir para que se envolva em todos os problemas profissionais da terapia. Está sempre por demais ocupada. O número de paciente confiados a seus cuidados é muito grande. Ela não pode preocupar-se com a angústia de seus pacientes. Seu objetivo, especialmente com moribundos, é o de subministrar calmantes. O calmante que se administra pode efetivamente tornar-se uma máscara que se usa para manter longe o paciente e escapar das suas “amolações”, em alguns casos, desagradáveis. A Máscara do Padre O sacerdote achará por certo, muito duro esconder-se atrás de uma máscara para evitar um encontro humano de verdadeiro contato com o paciente. É sobretudo dele que se espera que se ocupe das necessidades espirituais dos homens confiados a seus cuidados. É o médico da alma. Contudo, ele também pode cair numa rotina mascarada, esconder seus limites numa liturgia formalística, desenvolver sua ação pastoral numa fria atividade formal, limitar-se a um trabalho não empenhado e de rotina. Insere-se ele também num “jogo de máscaras” no qual cada participante da cena hospitalar faz exatamente aquilo que de seu papel se espera por tradição já inveterada. Em seu livro, Bawers descreve também alguns aspectos das máscaras que são características do sacerdote. Assim por exemplo: - Antes de tudo, a máscara da segregação. O ato da ordenação distingue o padre com defensor dos santos segregados, como se na realidade ele soubesse mais do que os outros e possuísse segredos somente confiados a pessoas especialmente qualificadas. A verdadeira amplitude desta atitude segregadora vêm mais proveniente da imagem que as pessoas fazem do padre do que da adequação com a imagem que o padre faz de si mesmo. Mas isso confirma ainda mais de que ele deveria esforçar-se com mais ardor para fugir a esse tipo de isolamento. - Existe a máscara da ação ritual. Orações estabelecidas e modos de orar tradicionais tornam possível estabelecer uma relação sem revelar num encontro completo toda a sua verdadeira personalidade. Assim a relação é genérica mais que pessoal. Estando junto ao leito do doente o capelão e/ou Agente de Pastoral da Saúde pode dizer: “Façamos um breve oração”. Essas palavra protegem o padre dos sentimentos do paciente e torna-se mais fácil deixar aquele quarto com a impressão de cumprido o seu dever. Na verdade deixa aquele doente ainda mais só e isolado das pessoas. Vimos como o “mascaramento” recíproco de quantos trabalham e sofrem no hospital, torna difícil a comunicação. Como se fossem paredes divisórias, estas máscaras impedem a gente de se achegar realmente. A visita ao doente torna-se uma farsa. Quando um desempenha um papel , não se pode chegar a um encontro, a um diálogo, a um controle


comum da situação. Busca-se um encontro e tem-se uma farsa, uma espécie de driblagem no leito do doente. No término da visita o doente sente-se só como no início. Nenhum “próximo” o reconheceu, aceitou, amou como próximo em sua necessidade. Não existem verdadeira comunicação. Surge assim o grande perigo de que o paciente caia em uma grave depressão e todos se lhe afigurem como indiferentes alienados ao seu problema. TOURNER, em seu livro DOENÇA E PROBLEMAS DA VIDA, descreve o modo como o doente reage à sua depressão grave durante a visita: - “Pensa-se em alegrá-lo e o irritamos, cremos consolá-los e o provocamos. Sobre essa carne viva, as palavras mais amáveis exercem um efeito brutal. Se lhe dizemos que seu aspecto é bom, responderá que não se pode julgar as pessoas pelas aparências exteriores; se na vez seguinte dissermos que seu aspecto não está tão bom, dirá que não era necessário a gente incomodar-se para ir vê-lo e que falando assim o aborrecemos mais. Se não dissermos nada de seu sofrimento, dirá que somos destituídos de compreensão. Se lhe aconselhamos resignação dirá que somos por demais resignados e se lhe aconselhamos uma reação mais enérgica dirá que isso é fácil para quem não está doente. Se lhe falamos da cruz e do amor do sofrimento, dirá que não sabemos do estamos falando. É claro que em primeiro lugar é necessário distinguir entre encontro e máscara de encontro. A máscara é a primeira coisa que se evidencia devido à forte identificação com o papel de cada um (do paciente, do visitador, do médico, enfermeira etc.,). Mas essa posição inicial não possui também seu aspecto positivo? O papel de padre, visitador ou médico, dános a possibilidade de “aparecer em cena”. O essencial agora é que não permaneçamos fechados na máscara ou no papel, mas superemos a situação teatral e avancemos para uma calorosa e sincera comunicação humana. A Superação da Máscara pela comunicação autêntica A máscara que pode até facilitar o acesso à pessoa, mas que depois torna impossível uma comunicação sincera, deve pois ser superada. Para chegar a isso é certamente necessário a redução da própria angústia e do próprio embaraço. Se não conseguirmos, não poderemos libertar-nos da nossa máscara. Superação da Angústia Para superar a angústia da morte ou a angústia fundamental, só existe um caminho: o da fé. A fé em Deus, na ressurreição, na imortalidade, a fé na vida do homem para além da morte, num esfera de felicidade. Não é necessário que essa fé seja formulada sempre de maneira clara, dogmática e vivida completamente sem problemas; é suficiente que ela esteja presente no fundo do coração, e que nos leve a um plano de luz divina, de justiça, de amor. Superação da Máscara Se cai a angústia cai logo também a máscara. Ela não se faz necessária. Ao jogo das máscaras segue-se a comunicação humana. Então o médico será fiel ao seu papel de médico, mas não parará aí. Libertando-se da máscara, sentir-se-á “próximo”, fraterno do paciente. Encontrará a palavra acertada de “homem para homem” enquanto lhe oferece o atendimento médico. Dá a entender que compreende o que se passa com ele. Com calma, com naturalidade, lhe faz compreender que seu estado é grave mas não é fatal; ajuda-o devagarinho a encontrar uma maneira de morrer de modo digno e denso de significado. Não Precisa pronunciar a palavra “morte”. Existem diálogos também sem palavras. O


mesmo pode-se dizer também da enfermeira. Ela pode dar a entender que não assume o seu trabalho com indiferença e o paciente percebe e sente-se grato quando ela cumpre o seu dever, não apressadamente e com indiferente cuidado, mas com amor e espírito materno. Seu reconhecimento vem da compreensão de que não pode fazer mais. Não pretende dela que ponha a chorar. O doente, em sua condição existencial não só aprecia uma assistência técnica, como também e mais, uma presença pessoal, humana. A disponibilidade e o calor do coração são elementos inseparáveis da missão do agente de Pastoral da Saúde. São a fonte e a força de todas as iniciativas de ajuda que se tomam. O sacerdote consegue uma comunicação verdadeira junto ao leito de seu paciente se no diálogo e na oração demonstra participação interior, cumpre as ações liturgias e administra os sacramentos com fé sincera. Sentimentos e tato tornam-se fácil perceber quando o paciente o aceita. Saberá evitar a pressa que surge quando se dá um valor exagerado a todas as cerimônias. Como o médico, ele não iniciará o diálogo com aquela “verdade bruta”, mas com aquela esperança de fundo que manifesta a grande estima pelo sofrimento e pela pessoa que sofre. Pensa-se no Cristo e na imagem de Cristo entre os fiéis (também com os não prticantes e não crentes), que é e continua sendo a imagem da divina misericórdia. Os parentes e os amigos estarão enfim, habilitados a um encontro autêntico com seus doentes an hora da necessidade existencial se se abrirem o mais possível à fé e, assumindo o pensamento da morte, tanto própria como do parente ou amigo, vêm nela somente a passagem para o outro modo de viver, e assim, cultivam a esperança de um reencontro com seus caros. Estão assim preparados para acompanhar a “passagem” de uma pessoa querida com amor e compreensão com lágrimas ou sem lágrimas. Todos, deste modo encontram no fim, seu papel sem máscara ridículas, abertas a uma verdadeira comunicação e atuam em comum nos momentos mais difíceis e significativos.

Confronto Mútuo No início das nossas considerações descrevemos a situação particular do hospital para compreender-lhe as dificuldades no nível da comunicação visando sua superação. Como conclusão gostaria de novo lançar um olhar sobre a atmosfera do hospital e fazer algumas observações que podem parecer surpreendentes. No hospital existem premissas interessantes que facilitam a comunicação. Encontram-se ali médicos distintos, enfermeiras e sacerdotes capazes de criar com sua humanidade, com seu deslanche e otimismo, uma atmosfera favorável. O sofrimento e a necessidade com a possibilidade de suavizá-los e superá-los mantém unidas as pessoas. Se se atingir um grau de comunicação autêntica, todas as pessoas interessadas sentem-se transportadas para além dos limites do tempo e das misérias para uma singular e quase indefectível manifestação do divino ao humano. Malgrado a sombrio do lugar, exista também hilaridade no hospital, e muitas vezes parece que até reina a alegria autêntica mais do que em qualquer outro local. O pessoal do hospital sente-se feliz pela melhora dos pacientes e quase se entristece quando um deixa o hospital para voltar para casa. Aqueles que aqui viveram seus últimos momentos terrenos, estão presentes como amigos da casa, como espíritos protetores para quantos sofrem e lutam contra o sofrimento.


Assim, o hospital torna-se muitas vezes um centro de ligações profundas entre homens, uma cidade de comunicações, cadinho de humanidade, que exerce uma ação benéfica sobre a sociedade circulante. Peter Bolech foi padre camiliano da Província austríaca. Hoje já é falecido. MEDITAÇÃO Viva com muita calma, por entre a pressa e os ruídos, e lembre-se de quanta paz há no silêncio. Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de nem com a humanidade. Diga a sua verdade calma e claramente; e ouça os outros, mesmo os mais medíocres e ignorantes – eles também têm sua história. Evite pessoas espalhafatosas e agressivas, pois essas são um insulto ao espírito. Não se compare com os outros, para não se tornar vaidoso ou amargo, e saiba: sempre haverá pessoas melhores e piores que você. Desfrute tanto de suas realizações quanto de seus projetos. Cultive seu trabalho, mesmo que ele seja humilde; pois esse é um bem real, frente às variações da sorte. Seja cauteloso nos negócios, pois o mundo está cheio de armadilhas; mas não deixe que isso o torne cego para a virtude, que está sempre presente, a vida é cheia de exemplo de heroísmo. Seja sempre você mesmo, e sobretudo nunca finja afeição, nem seja cínico em relação ao amor, pois, apesar de toda a aridez e desencanto, ele é tão perene quanto o medo. Aceite serenamente o passar dos anos, abrindo mão do que pertence à juventude. Fortaleça o Espírito para enfrentar um súbita infelicidade, mas não fique se preocupando com o que não aconteceu, pois muitos temores são apenas fruto do cansaço e da solidão. Mesmo seguindo uma disciplina rigorosa, seja brando com você mesmo: você é filho do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas, e tem o direito de estar aqui, e mesmo que isto não seja muito claro, não tenha dúvidas de que o universo caminha como deve. Portanto esteja em paz com Deus, da maneira como você a conceber, e sejam quais forem suas lutas e aspirações – na terrível confusão que é a vida – fique em paz com sua alma, pois, apesar de todas as dificuldades, mentiras e sonhos defeitos, este ainda é um lindo mundo. (encontrado na velha igreja de São Paulo, em Baltimore, no ano de 1692).


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.