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Relatório Mundial da Saúde 1999 FAZENDO DIFERENÇA DR. GRO HARLEM BRUNSTLAND Apresentação da Diretoria Geral da Organização Mundial da Saúde ( Genebra 11/05/1999) Este é o último Relatório Mundial da Saúde do século, e o primeiro que publico como Diretor Geral da OMS. Ele revê as conquistas extraordinárias e olha prospectivamente para os desafios e oportunidades visando uma saúde melhor para a população mundial. Primeiramente, permitam-me mencionar dois pontos chaves: As maiores conquistas de saúde do século XX situam-se entre as maiores transformações sociais de nosso século. As condições de vida melhoraram fantasticamente para a maioria dos seres humanos. A partir de uma atividade doméstica indiferenciada, os cuidados de saúde cresceram numa vasta indústria absorvendo 9% da riqueza mundial. Mais que 2.000 bilhões de dólares anuais. Mas este século deixou um triste legado. Mais de um bilhão de pessoas humanas ficaram para trás na revolução da saúde. Assim, esta é a primeira mensagem: precisamos inserir este bilhão de excluídos no processo. Pode ser feito, sabemos o que é preciso fazer e podemos ir longe numa simples década. Vejo isto como o desafio mais importante – ajudar a tirar o pobre da pobreza. Discutimos longamente que esta é uma obrigação moral. Mas este relatório argumenta que combater a pobreza através de melhor saúde é também uma questão de economia saudável. Acredito que esta perspectiva atrairá a atenção dos que tomam decisões para além dos Ministérios da Saúde. É exatamente isso de que nós necessitamos. Precisamos lembrar aos Presidentes, Primeiros Ministros e Ministros da Economia que eles mesmos são Ministros da Saúde. Para citar um exemplo: Uma diferença de expectativa de vida de 5 anos entre dois países que não estão no mesmo nível, pode beneficiar economicamente o país mais rico, numa taxa de crescimento maior de meio por cento ao ano. O efeito cumulativo de tal diferença é significativa para o desenvolvimento. Reduzindo drasticamente o excesso de mortalidade e morbidade elevada que governam os países pobres, significa objetivar mais intervenções que podem resulta em maior resultado na saúde – como dar atenção renovada à tuberculose, malária e HIV/AIDS – doenças que incidem pesadamente sobre os pobres. Sabemos também que as mulheres e crianças sofrem mais que os homens. Existe a necessidade de maiores investimento na redução da mortalidade materna, No mês passado – em Moçambique, participei de um Congresso sobre mortalidade materna, aonde o governo do Dr. Mocumbi enviou esforços para baixar as taxas desse problema. Pensem sobre isso: Enquanto que uma entre aproximadamente 4000 mulheres na Europa ou EUA, tem o riso de morrer na hora do parto, esta taxa chega a ser de uma entre 16 nos países pobres. Simplesmente imaginem o sofrimento subsequente: As trágicas conseqüências para a criança, para p resto da família e para toda a comunidade quando uma mulher morre no melhor de seus anos. A segunda mensagem deste relatório é olhar para frente e tomar as decisões certas em tempo. Na área da saúde, os sucessos freqüentemente trazem novos desafios. Se temos sucesso em cortar a pobreza e dando às populações uma chance real para subir na escala do desenvolvimento, novas ameaças de saúde advirão, a parir de doenças não comunicáveis, pelo simples fato de que as pessoas vivem mais, ocorrem mudanças de estilos de vida e exposição a riscos como por ex. o tabaco. Portanto estamos alertando para nos prepararmos. Focalizamos o que criteriosamente o setor saúde terá de enfrentar nos próximos anos. Existe necessidade de cuidados primários de saúde, acesso a medicamentos básicos, vacinas e profissionais treinados. Será necessária, em pouco tempo, uma grande mudança na forma de como os sistemas de saúde estão estruturados e financiados; e freqüentemente sob condições financeiras limitadíssima. Tomemos como exemplo o tabagismo. Se não tomar nenhuma providência, é certo que o número de fumantes crescerá em 20 anos. Isto aumentará o número de mortes causadas pelo fumo de 3.6 milhões hoje, para aproximadamente 10 milhões em 2020. Metade das vítimas do tabaco morrem, não na velhice, mas na idade madura. Nem mencionei as doenças e as seqüelas que serão também parte da quadro. O peso sobre o sistema de saúde será enorme. A terceira mensagem deste relatório é o papel da informação. Foi a expansão do conhecimento básico que tornou possível a revolução da saúde no século XX> O conhecimento melhora a saúde através de dois mecanismo. O mais óbvio é a criação de tecnologias específicas, tais como remédios e vacinas. Mas divulgação desses remédios e vacinas é base para a promoção de comportamentos saudáveis. As pessoas hoje


lavam as mãos por saberem das descobertas dos micróbios. Elas praticam o sexo seguro porque sabem a respeito da AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Elas param de fumar porque sabem que o fumo mata. O conhecimento científico, portanto, não é algo distante do ambiente em que vivem as pessoas . O maior desfio é conhecer, divulgar e enfatizar a importância da maneira como as pessoas lidam com suas vidas. É a partir desta base de conhecimento, continuamente renovada e ampliada, que nós temos de buscar as respostas para incluir o bilhão excluído e tomar as decisões certas em como libertar as pessoas da pobreza. Muito conhecimento é gerado através de pesquisa na indústria privada e em governos de países de renda alta. Mas duas importantes lacunas não estão sendo preenchidas: uma diz respeito à pesquisa e melhora do padrão de vida para combater as doenças infecciosas que afligem principalmente os pobres. A outra, diz respeito a uma geração sistemática de informações de base para os países usarem na elaboração de seus sistemas de saúde no futuro, Para a Organização Mundial da saúde esta será uma preocupação chave de agenda pública de pesquisa para preencher estas lacunas. Permitam-me finalmente comentar a respeito do relatório: Fazendo diferença. Para a OMS esta é uma mensagem ambiciosa . Necessitamos focalizar em intervenções que realmente causem o maior impacto. É uma mensagem para nossa Organização e para os Estados Membros. Precisamos avaliar muito mais cuidadosamente como planejamos, distribuímos e usamos nossos recursos. Saúde para todos no ano 2000, foi a visão para nossos estados membros. Junto, nós somente conseguimos Saúde para muitos, mas não ainda para todos. Esta agenda inacabada, agora está incluindo o bilhão excluído. Isto é o que realmente fará a diferença. APOSENTADORIAL: FACA DE DOIS GUMES DILENE FERREIRA Para o sociólogo e psicólogo espanhol Eduardo López Azpitarte, que se dedica à reflexão sobre os grandes problemas da Terceira Idade, a aposentadoria é, sem dúvida, uma das etapas mais críticas e angustiantes da vida humana, pois é de certa maneira a declaração oficial de que a fase mais importante da vida, quando o exercício de uma profissão e o trabalho incorporam plenamente a pessoa à sociedade, ficou definitivamente para trás. “A partir de uma data determinada por outros interesses, distantes dos desejos ou das possibilidades do interessado, fica decidida sua passagem para o mundo dos aposentados, como pessoa formalmente inúteis do ponto de vista econômico e trabalhista”. Segundo Eduardo Lopes Azpitarte, este é um momento em que a maioria dos indivíduos dispões ainda de competência profissional e condições psicofísicas para continuar seu trabalho. “Mas afastadas do setor produtivo, deverão conformar-se em receber uma ajuda econômica limitada pelos serviços prestados durante sua vida útil”. Isto se tiverem trabalhando dentro das determinações legais. Essa sensível redução nos rendimentos, aliada à correspondente perda do poder aquisitivo, repercute grandemente numa hora em que se começa a experimentar a incerteza do futuro. Mas a influência da aposentadoria na avaliação Azpitarte não se limita ao plano econômico. Afeta também outros níveis da vida da pessoa. A adaptação a essa etapa se processa de maneiras diferentes, de acordo com as situações pessoais e até da profissão exercida. “Para aquele que têm futuro garantido e a possibilidade de continuar com sua atividade profissional ou dedicar-se a outras tarefas capazes de preencher o tempo e de lhes trazer tantas ou mais satisfações que as proporcionadas pelo trabalho anterior, a aposentadoria é apenas mais uma fase da vida, um privilégio a agradecer”, explica o sociólogo. Ele lembra que, desobrigados de outros compromissos, esses aposentados podem fazer coisas que sempre desejaram ter feito. Neste caso a ruptura com a atividade anterior não acarreta traumas. Pelo contrário, traz até uma melhoria na vida das pessoas, que poderão continuar trabalhando naquilo que gostam. Outro grupo de profissionais, cujo trabalho tinha um caráter puramente utilitário, como mero ganhapão, pode experimentar a alegria de uma libertação, quando no emprego não encontrava prazer, nem um meio de auto-realização. O fim de uma situação molesta não pode deixar de ser um consolo, como um peso que se tira dos ombros, mas que era necessário para o futuro econômico. Para a grande maioria dos aposentados, contudo, a nova situação não é nada agradável. Na opinião do sociólogo, trata-se, no fundo, de uma espécie de “morte social” em conseqüência da qual muitas pessoas ficam excluídas do mundo do trabalho, como indivíduos que já não tem mais vez ali. “A proporção dessas pessoas que desejariam continuar na ativa e sentir-se integradas a uma sociedade que as forças à marginalidade chega a mais de 60%”. Anda de acordo com Azpitarte, é um sinal de alerta que lhes recorda


uma dolorosa realidade: já estão começando a sobrar num mundo em que haverão de ser substituídos por outros, muitas vezes nem tão entusiasmado ou dinâmicos. DO momento da aposentadoria em diante, para a grande parte dessa população que não dispõe de outros interesses nem de outras alternativas para preencher o tempo, não haverá opção além da televisão, dos programas de rádio e do jogo como forma de matar o tempo e lazer, apesar destas opções não serem as mais indicadas para elevar o nível cultural ou o próprio aperfeiçoamento moral. O trabalho mecânico e rotineiro não tinha preparado essas pessoas para outro tipo de atividade, nem despertado nelas algum desejo complementar. Agora que nada têm a fazer surge uma sensação de vazio e tédio que elas próprias não sabem como superar. Em qualquer das hipóteses, do ponto de vista de Azpitarte, mesmo que consigam adaptar-se à aposentadoria, na maioria das vezes acabam não aceitando a situação . Ao ter que se afastar do trabalho essas pessoas passam a afazer parte de um grupo social diferente que as separa da classe ativa e produtiva quando, na realidade, ainda se julgam capacitadas e com uma vocação que não podem mais exercer. Ou então, começam a sentir-se marginalizadas num mundo que não as valoriza como antes. ( artigo extraído do Jornal de Opinião) AFETIVIDADE, AMOR E SEXUALIDADE NA 3ª IDADE

Lenize Bahia Chaves “Eu nunca sei corno é que se pode achar um poente triste. Só se é por um poente não ser urna madrugada. Mas se ele é um poente, como é que ele haveria de ser uma madrugada.” Faço minhas as palavras de Fernando Pessoa para enfatizar que é precioso assegurar as diferenças. Uma madrugada é uma madrugada; um poente é um poente. O enamoramento é o enamoramento, o amor é o amor. A sexualidade da juventude tem sua especificidade e a sexualidade da maturidade tem as suas, mas são, preservando as diferenças, igualmente prazerosas e ricas. Este parece, entretanto, ser o mal que aflige muitas pessoas quando se percebem envelhecendo: continuar cultuando valores, projetos e ideais da juventude sem se darem conta de que a vida exige que redefinamos esses valores, esses projetos, esses ideais. É por isso que encontramos pessoas vitimadas pela ociosidade, desengajadas de qualquer projeto existencial, afundadas no tédio e paralisadas em uma queixa mal formulada de vazio, depressão e desesperança. É como se balbuciassem: como não posso levar adiante meus projetos da juventude, não há nenhum projeto possível ou desejável. Poderíamos propor, então, a apologia do "RE". Em qualquer idade isto é importante, mas na 3ª idade quem não se dispõe a se (re)organizar, (re)decidir, (re)definir, (re)descobrir, (re)investir, (re)inventar...acaba submerso num “pântano” de amargura, solidão e tristeza. A vida é por natureza incerta e "colocar o certo no incerto dá erro contra a gente", nos diz Guimarães Rosa. Esse é o grande erro: não rever nossas certezas e decisões, colocar nossos projetos, nossos ideais, nossa sexualidade, nossa afetividade e até mesmo os nossos corpos dentro de uma dimensão imutável (certa), padronizada por uma sociedade violenta que por decreto nos faz acreditar que o que é jovem é belo, atraente, saudável, excitante, criativo, dinâmico e o que é velho deve ser ruim, chocho, estático, sem atrativos. As palavras são capazes de curar realidades em nossas mentes. Passamos a acreditar que assim é: a juventude passa a representar valores positivos e a velhice a ser totalmente investida de valores negativos. Deepak Chopra (corpo sem idade, mente sem fronteiras) nas alerta, entretanto, para o fato de que "a palavra jovem é um código para muitas coisas que


na verdade nada tem a ver com juventude: as taxas mais elevadas de crimes, uso de drogas, alcoolismo, suicido, esquizofrenia, intranqüilidade social, ocorrem entre os jovens. Mesmo assim a juventude é um ideal simbólico a que quase todo mundo reage positivamente." São essas crenças que nos tornam vulneráveis, não as nossas idades. E sabe-se que na verdade 95% das pessoas acima de 65 anos não perdem sua autonomia e não necessitam de cuidados de familiares ou instituições, o que não corresponde à imagem que muitas vezes se faz da velhice. Velhice não é doença

Ter essa consciência critica torna-se fundamental para se viver com qualidade na 3ª idade. Velhice não é doença e as particularidades que a velhice apresenta nos seus aspectos bio-psico-sociais não precisam nos levar a abreviarmos nossa existência, sepultar-nos em vida, desistindo de todo o potencial de experiência, de sabedoria e amadurecimento que passamos a possuir. Assim também é com a afetividade, o amor e a sexualidade. Sabe-se que um grande número de pessoas encerra sua vida sexual por razões psicológicas. E o porquê o fazemos tem coerência com o significado que a sexualidade apresenta em suas vidas. Aqueles que a viveram com culpa, como meio de dominação ou sedução apenas, ou que se dedicaram a ela com propósitos narcisistas extremados ou por obrigatoriedade poderão encontrar na velhice um álibi ou um momento de libertação. Outros existem que a pesar de terem-na vivido de forma satisfatória, esquivam-se do contato com o parceiro ao sentir que seu corpo "envelhecido" não pode mais ser “contemplado”. Uma senhora disse certa vez que passou a não se olhar mais no espelho e que olhando as mãos ela podia imaginar o estado deplorável em que se encontrava seu rosto. Estas pessoas se negam a existir para o outro por se envergonharem de si mesmas, e choram para sempre o viço perdido do corpo. Dominados pela ideologia passaram a acreditar que "só a corpo jovem pode e deve sentir prazer, desconhecendo também que aquilo que somos é muito mais do que aquilo que vemos ou que outros vêem. Este fato explica porque muitas pessoas recorrem à masturbação como meio de satisfação sexual - o contato com o outro passa a ser extremamente complexo e ameaçador. Sexo, entretanto, "é muito mais do que orgasmos e ereções". Podemos dizer que a sexualidade é uma forma de expressão em que dois seres, duas existências se colocam em contato e relação. Por meio da sexualidade podemos ter satisfações físicas, mas podemos também satisfazer nossa necessidade de interação humana e de contato íntimo. Podemos receber e dar prazer numa atmosfera de generosidade que só a sexualidade e o erotismo propiciam. Pelo sexo temos também a oportunidade de termos uma representação de nós mesmos que dificilmente temos de outra forma. O encontro sexual é um momento de confirmação de nós mesmos através do outro. Nele podemos viver a dimensão de uma relação transfigurada pelo desejo e do encontro verdadeiro de um Eu e Tu, como nos diria Martim Bubber. As gratificações que podemos ter através da atividade sexual podem ser, então, de uma riqueza imensa e os que se dedicaram a ela de uma forma alegre, espontânea, e sadia buscarão prolongá-las até quando puderem. Mas a perda de contato com o outro e com nós mesmos parece ser uma característica do mundo moderno. Ashley Montagu (tocar - o significado humano da pele), nos diz que o homem pode alcançar a lua, mas é extremamente difícil alcançar seu semelhante. Sabe-se que uma criança pode sobreviver sem estimulação auditiva e visual, mas é impossível que sobreviva sem ser tocada.


IDADE AVANÇADA: JUVENTUDE ACUMULADA Silvia Bairão Leite Comemorando, no próximo, dia 27 de setembro o dia Internacional do Idoso, o Brasil passa de um país de jovens para o sexto do mundo com população em idade avançada, com novas conquistas de direitos para essa faixa etária. Quem pensa que os anos pesam muito e ter idade avançada é sinônimo de incapacidade ou doença, pode se surpreender. Cada vez mais os idosos ou a Terceira Idade - faixa etária que abrange pessoas de mais de 60 anos, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) - estão conseguindo conquistar direitos e seu espaço como cidadãos no Brasil. Atualmente, 12 milhões de brasileiros tem mais de 60 anos, 8% da população tem mais de 50 anos e em 2.020) serão 18 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Só cm São Paulo, nos últimos quatro anos; 246 pessoas morreram com mais de 100 anos. Por isso, foi preciso criar uma estrutura de atendimento à população mais idosa no País. Já a 4 de janeiro de 1994, o então presidente, Itamar Franco, assinava a Lei n° 8.842, que dispunha sobre a Política Nacional do Idoso e criava o Conselho Nacional do Idoso. Esta lei só foi regulamentada por um decreto de três de julho de 1996, assinado pelo presidente Fernando Henrique. Entre outros artigos, afirma que ao Ministério da Saúde compete: "garantir o acesso ao atendimento hospitalar, fornecer medicamento, próteses, estimular a participação do idoso nas diversas instâncias de controle social do Sistema Único de Saúde e "desenvolver uma política de prevenção para que a população envelheça mantendo um bom estado de saúde". Ao Ministério do Trabalho, compete "garantir mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto à sua participação no mercado de trabalho, no setor privado" e "propiciar ao idoso o acesso aos locais de eventos culturais, mediante preços reduzidos". Apesar disso, a implantação prática dessas e de outras benevolências previstas na regulamentação, ainda não está ocorrendo. O que está sendo implantado, é feito via governos e municípios, através da iniciativa municipal e governamental. Luta de cidadão Em São Paulo, foi criado já em 1984, por decreto da Prefeitura, o Conselho Municipal da Condição do Idoso, mas esse foi mudando de caráter e só em 1989, é que surge o Grande Conselho Municipal do Idoso, integrado por representantes da sociedade civil, com a assessoria de diversas secretarias, mas onde o poder de decisão é do idoso. Quem explica é a psicóloga da Prefeitura, Célia Taminato, que acompanha o Conselho: "A finalidade do Conselho é a de fazer propostas coisas que beneficiem o idoso e reivindicar". A própria criação do Conselho foi resultado da ação política dos idosos, "da pressão que eles próprios fizeram junto aos vereadores para que em 1992, fosse criado por lei o Conselho, passando pela Câmara", acrescenta Célia. A passagem gratuita de ônibus para mulheres de 60 anos em diante em São Paulo, foi uma conquista do Conselho, já que pela Constituição, só a partir de 65 anos a passagem é gratuita para todos.


Apesar de desenvolver um programa em convênio com a iniciativa privada de Centro do Convivência, onde o idoso passa o dia, a prefeitura de São Paulo, como o Governo Federal, não tem nenhum sistema de atendimento gratuito de pernoite, ou asilos para idosos carentes. De acordo com Jorilza Mendonça, coordenadora do Programa Nacional do Idoso do Palácio do Governo em Brasília, "não se dá prioridade para o atendimento asilar, mas sim ao contrário". Segundo ela, as medidas para cumprir as determinações da Regulamentação da Lei n° 8. 842, assinada por Fernando Henrique, "estão sendo aplicadas conforme o critério de cada Estado. É o governo do Estado que pede a atuação dos Ministérios''. Ela afirma que foi assinado convênio com o estado do Paraná para a construção de casa-lares e Condomínio da Terceira Idade. Estes sistemas são de atendimento a idosos sem família. Cada um passa a morar com mais cinco idosos, no máximo, em uma casa construída pelo governo em locais destinados a essas moradias. Jorilza Mendonça afirma que a prioridade é de que os idosos fiquem com suas famílias e não em asilos. Também Célia Taminato diz que a Política do Conselho Municipal do Idoso em São Paulo é contra o asilamento. "Existe uma lei federal que obriga os filhos a prover o sustento de pais idosos"', lembra Célia, afirmando que, apesar disso, admite: "a demanda de idosos abandonados é muito grande e esse atendimento por parte dos filhos é necessário. É feito atualmente só pelas entidades filantrópicas ou particulares." Conquista importante Uma das conquistas importantes do Conselho foi a criação da Delegacia de Proteção ao Idoso em outubro de 1991:" Os delegados das delegacias comuns não tinham preparo para lidar com o idoso, nem interesse em atender às suas queixas e denúncias, lembra Célia. Outra conquista fundamental foi a criação, em 1995, do GAPI - Grupo de Assistência e Proteção ao Idoso - órgão do Ministério Público, que surgiu pelo apoio do promotor João Estevam, e que tem a finalidade de fiscalizar asilos e casas de repouso em São Paulo. Velhice? Não, juventude acumulada Quem defende um novo conceito de idade é a Irmã Maria Luíza Nogueira. Para ela não se chega à velhice, mas à fase de Juventude Acumulada. Conselheira no Conselho Estadual do Idoso e Assessora da Mitra Arquidiocesana de São Paulo e Pastoral da Terceira Idade, ela também é gerontóloga e assistente social. "O problema de velhice no Brasil é uma questão desumana. Viajo muito, no primeiro mundo não é assim", diz. Irmã Maria Luíza que está preparando dois livros sobre esta faixa etária. Ela desenvolve trabalho com vários grupos de idosos. A Irmã Luíza conta o que mais aflige as pessoas com a chegada da idade: "É a mulher que mais se aborrece com a chegada dos cabelos brancos. Cabelos grisalhos para homem é charmoso, para mulher não. Velha é quando a gente não sonha mais, não cria, não tem motivação. "Boneca" chegou aqui com uma depressão brava, olha como está agora! ", diz. A "Boneca" a que se refere é uma das freqüentadoras da Pastoral da Terceira Idade, Lurdes Fava: "A gente de idade é discriminada. Mas quem crê em Deus enfrenta e supera isso. A minha depressão começou quando saí do meu trabalho". "Boneca" ganhou esse apelido


devido às suas faces rosadas e seu sucesso como garota-propaganda da Terceira Idade. Suas fotos foram até para a Europa e TV. Isso depois que começou a freqüentar a Pastoral e se curou da depressão. Outra freqüentadora da Pastoral, que tem atividade atuante, é a professora aposentada, Ana Cláudia Guimarães, que ainda dá aulas, de catecismo agora, após se aposentar e é coordenadora e fundadora de vários grupos católicos de oração e leitura da Bíblia. Um deles já tem 30 anos de duração. O que mais espanta é saber sua idade, dada a sua aparência. Está completando 90 anos dia 22 de setembro. Ela diz que a religião é importante: "Com a fé a gente tem uma certeza absoluta, isso dá conforto ainda que a pessoa não tenha carinho. A família dá muito conforto aos idosos e não pode abandonar os velhos. Mas nós não podemos depender muito dos filhos, não podemos parar. Ficar muito só nos faz pensar coisas ruins. Temos de ter atividade. Ser feliz é fundamental. Tem jovem triste. Isso é a falta de religião". Quanto à política do país, afirma: "Os deputados não tem religião, só o dinheiro importa, esse é o Deus deles. Tiraram até o crucifixo da Assembléia..." reclama. Silvia Sairão Leite é Jornalista


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