SOFRER: SÓ POR UM IDEAL ANÍSIO BALDESSIN Num momento de reflexão junto com um doente que havia experimentado situações de sofrimento, começamos a enumerar as vezes que passou momentos difíceis na vida. Foram muitos é verdade. Porém, chegamos a “inesperada” conclusão de que as situações de sofrimento eram bem inferiores do que os momentos de bem estar. No entanto, enquanto conversávamos, lembramos mais facilmente dos pedaços difíceis da vida. Por que? O sofrimento é uma realidade na vida dos seres vivos. Por ser racional, o ser humano é o que mais reflete sobre as doenças. Por essa razão, os momentos difíceis de nossas vidas, são os que ficam para sempre em nossa memória. Pode não parecer, mas é muito simples entender. Sabemos por experiência que as coisas que mais chamam atenção no mundo são as que acontecem com menor freqüência. Tudo o que é raro merece destaque. As pessoas que se destacam, positiva ou negativamente, os eclipses, os terremotos, as catástrofes, os acidentes, as doenças, a morte na família, etc., Assim também acontece com o sofrimento, especialmente aqueles provocados pela doença. Portanto, deixando de lado as exceções dos que já nascem doentes, a maioria absoluta passa a maior parte da vida de maneira saudável. No momento em que ficamos doentes, a primeira reação é tentar ficar livres e também entender por que estamos sofrendo. Neste momento surgem muitas perguntas. Por que eu? Para que sofrer? Será que eu mereço passar por isso? Será que eu não tenho fé? Sem dúvida, estas são as perguntas que mais ouço quando visito doentes. Existe, em todas as pessoas que sofrem, uma ansiedade muito grande para entender o problema do sofrimento que tanto marca o vida dos seres humanos, mas que não sabemos qual é a finalidade. Para que serve o sofrimento?
Para alguns é um meio de salvação. Para outros um sentido redentor, pois é nos momentos de sofrimentos e crises que aprendemos muitas lições. Existem os que acreditam que sofrimento é um meio de purificação. Outros, dizem que sofremos porque somos limitados fisicamente. Fazemos atitudes impensadas, como comer sem critérios trabalhar sem segurança, abusar do trabalho e sofrer stress. Sofremos as conseqüências de nossos maus atos. Poderíamos citar inúmeras explicações para este problema que aflige a todos sem distinção. O certo é que o sofrimento sempre fez parte da vida de todos os seres vivos e por mais que tenhamos tentado, ainda não temos uma resposta satisfatória. O teólogo e jornalista Carlos Alberto Christo, (Frei Beto) afirma: “existem vários tipos de sofrimentos. Sofrem os acidentados, deficientes físicos, os que tem anomalias causadas pela dor, os que têm doença mental, afetivo, moral, a dor da mulher ao dar a luz etc”. A própria atividade messiânica de Jesus foi sofrimento sob muitas formas. Jesus não tem lar (Mt 8,20), nem família (Mc 3,31,35); em suas atividades percorre cidades da Galiléia; encontra decidida oposição por parte dos líderes de Israel. Chora sobre Jerusalém por não ter conseguido convertê-la (Lc 19,4). O resultado da sua atividade foi o fracasso da cruz. Assim sendo, temos de um lado a realidade do sofrimento. Por outro, todos os que sofrem, procuram sair da situação de sofrimento. Até o próprio Cristo, enquanto pode,
fugiu do sofrimento. Também sua missão foi aliviar o sofrimento do outro. Portanto, se o sofrimento, puro e simples fosse positivo o próprio Cristo não teria se preocupado em aliviar o sofrimento alheio. É incontável o número de profissionais que se dedicam no trabalho tentando aliviar todo e qualquer tipo de sofrimento. Mesmo daqueles que estão sofrendo por pura responsabilidade como é o caso de muitos que estão condenados a prisão, ou os que não cuidaram de sua própria saúde. Mesmo nestas situações, sempre existe alguém pronto para ajudá-lo a amenizar a dor. Por mais perigoso que seja o bandido ou criminoso, há sempre um advogado pronto para defender seus direitos. Portanto, o sofrimento sempre provoca a compaixão de alguém. O que fazer com o sofrimento?
Em geral, a primeira reação dos que sofrem é querer saber o porque estão sofrendo e imediatamente buscar um culpado. Dentre os possíveis culpados, o primeiro é Deus. “É vontade de Deus”. Está é sem dúvida a frase que mais se repete. Contradizendo esta frase o rabino Harold Kusnher afirmou: “Se sofrimento é vontade de Deus todos os que cuidam dos que sofrem estão agindo contra sua vontade”. Quando os sofrimentos são de origens internas tais como; doença mental, loucura, epilepsia entre outras se atribui ao demônio. É simples de entender. Por não poder culpar, marido, esposa, pai, mãe, irmão, filho, filha, vizinho, amigo ou amiga, jogamos a culpa em alguém que não nos responde. Se culparmos alguém próximo de nós, ele pode reagir. Deus, ou o “demônio” ao contrário, nunca reagem às nossas acusações. Outra reação é olharmos para o passado e principalmente para a Bíblia e ver que muitas pessoas, principalmente Jesus Cristo, entre tantas, também sofreram. Lemos por exemplo aquilo que São Paulo escreveu na carta aos Filipenses. “completo na minha carne o que falta ao sofrimento de Cristo” (Cf.) E poderíamos citar inúmeras situações de sofrimento contidas na Bíblia. Alguém já mencionou o valor do sofrimento mostrando inúmeros benefícios trazidos pelo sofrimentos de alguns. Por que Jesus Sofreu?
Primeiramente, é importante lembrar que o sofrimento de Jesus não foi um sofrimento provocado por doenças. Jesus jamais sentiu dores provocadas por tumores, mal funcionamento dos rins, nunca fez hemodiálise, quimioterapia, radioterapia, nem passou dias respirando através de tubos dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva), nunca se submeteu a uma intervenção cirúrgica ou qualquer tipo transplante. Porém, não podemos negar que Jesus foi um dos homens que mais sofreu, mas nunca procurou o sofrimento simplesmente por sofrimento. Seu sofrimento foi o resultado de sua manifestação de amor. Sempre procurou fugir do sofrimento. Jamais convidou a oferecer o sofrimento a Deus, quer seja em benefício do próprio doente, ou de outra pessoa. “entendam bem: misericórdia é o que eu quero e não sofrimento”. Não tinha este tipo de discurso. Em nenhum momento afirmou que o sofrimento serve para a salvação, ou santificação. É verdade que Jesus disse: “felizes os que choram” mas mais adiante continua: “porque serão consolados”. Pois, para Jesus não são as lágrimas que constituem a felicidade, mas o fato que Deus consola aqueles que sofrem porque são considerados reprovados por Deus. Ou seja, que sofriam por ter feito algo de errado e estavam sendo castigados por Deus. O sofrimento de Jesus não provem da doença como afirmamos acima. O maior sofrimento por ele encontrado foi a reação negativa à sua pregação. Uma hostilidade
crescente da qual a violência vai até a sua eliminação física. Ou seja, o sofrimento de Jesus resulta da responsabilidade do poder religioso, em nome de uma lei tradicional que sacrificava o povo. O sofrimento de Jesus é por um ideal de libertar o povo. Portanto, embora fosse muito difícil aceitar os açoites, crucificação, coroa de espinhos, chicotadas, bofetões, o sofrimento de Cristo tinha uma razão de ser. Mesmo sofrendo por um ideal, Jesus Cristo, fugiu até quando foi possível do sofrimento. Mas chegou a um determinado ponto que não havia outra saída. Dar a vida, foi o último recurso encontrado por Ele para demonstrar todo amor que tinha pela humanidade. Isto mostra as diferentes dimensões do sofrimento. É difícil comparar sofrimento
Uma das coisas mais comuns nos hospitais, principalmente em pronto socorros ou enfermarias com mais de um paciente, é ouvir este comentário: “porque você está reclamando tanto? Veja ou outro que está ao seu lado. Ele está em pior situação do que a tua e no entanto não está reclamando”. Será que é possível fazer esta comparação mesmo sem sentir a dor? Não seria precipitado fazer essa afirmação? É difícil afirmar com certeza quem sofre mais. A pior dor é aquela que estou sentindo. A dor do outro, eu posso até imaginar, mas não consigo senti-la. Mesmo quando estabelecemos uma empatia que é a capacidade de sintonizar com as necessidades do outro, fisicamente, eu não posso e nem consigo sentir a dor do outro. Talvez fosse mais coerente dizer. Eu posso imaginar o quanto você está sofrendo! Nunca faça comparações. Deixe que o próprio doente perceba que a seu lado está alguém mais necessitado do que ele. Um assunto sem resposta?
A princípio este assunto parece não oferecer respostas positivas e convincentes a respeito do sofrimento. É claro que seria muita pretensão falta de bom senso de minha parte, querer explicar o problema do sofrimento e ser o dono da verdade. No entanto, no meu ponto de vista este não é um assunto totalmente sem resposta. Primeiramente, é importante lembrar que a natureza nunca perdoa, e nem dá saltos. Sempre devemos levar em consideração que muitos tipos de sofrimento é provocado pelo homem diante de uma escolha mal feita. A falta de responsabilidade de alguns pode provocar inúmeros tipos de sofrimento. Porém, isso não nos satisfaz e nem responde nossas dúvidas. Por isso, acredito que o sofrimento não está aí para ser explicado e sim para ser aliviado. Será que se soubéssemos a razão exata do sofrimento, este causaria menos revolta? Ou será que nos sentiríamos ainda mais injustiçado por estarmos pagando por um ato que não merecíamos? Talvez ao invés de trazer uma certa tranqüilidade, o conhecimento da causa do sofrimento poderia trazer mais revolta, e mais interrogações. Portanto, partindo do princípio que o sofrimento deve ser aliviado, ao invés de ficar perguntando porque estou sofrendo, ou porque o outro sofre, deveríamos sempre nos perguntar: o que posso fazer para aliviar o sofrimento? Certamente diminuiríamos nossas brigas com nós mesmos, com nossos irmãos e com Deus. Talvez, mesmo sofrendo por não entender o mistério do sofrimento, poderia ajudar àquele que sofre. O ideal não é sofrer. Mas se tiver que sofrer, que o sofrimento seja por um ideal, em favor de si mesmo e principalmente do outro. Anísio Baldessin é padre camiliano capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
ENTENDA O DIABETES E DAIBA COMO CONTROLAR A DOENÇA Diabetes Melitus (DM) corresponde, a um grupo de doenças metabólicas, com dois componentes importantes: hiperglicemia e alterações na secreção de insulina. No Brasil, estima-se que oito milhões de pessoas sejam diabéticas. Portanto é um problema de saúde pública que deveria merecer prioridade de atenção dos órgãos governamentais. Na criança e no adolescente, geralmente a diabetes registrado é do tipo 1, que apresenta falência total na produção de insulina e requer sua reposição. Deparou-se, porém, com relativa freqüência, nos últimos anos, o diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes. O quadro clássico do diabetes tipo 1 inclui situações como: sede excessiva, amagrecimento, alterações visuais e maior suscetibilidade a infeções. A ocorrência de cetoacidose (processo em que o corpo do diabético fica muito desidratado, com respirações difícil, hábito com cheiro de acetona, confusão mental e, às vezes, já em estado de coma) pode pôr em risco a vida da criança. No DM tipo 2 a maioria dos pacientes é obeso, o que leva a algum grau de resistência à insulina. Neste caso, raramente ocorre a cetoacidose. Como a hiperglicemia se instala gradualmente, o DM tipo 2 fica sem diagnóstico, muitas vezes por anos seguidos. Daí a necessidade de averiguar, periodicamente, os níveis glicêmicos (glicemia maior de 126 mg indica provável diagnóstico), principalmente se há casos na família. Os critérios para pesquisar diabetes em pessoas assintomática são: idade superior a 45 anos ou mais jovens com o seguinte histórico: 1.Ser abeso (índica de massa corpórea maior que 27); 2.Possuir parente de primeiro grau com Diabetes melitus; 3.Pertencer a alguma etnia de alta prevalência; 4.Mães cujo recém-nascido tenha peso acima de 4 quilos ou teve díabetes; 5.Ser portador de hipertensão arterial (acima de 140/90), HDL colesterol abaixo de 35 mg% e/ou triglicérides acima de 250 mg% e glicemia de jejum ou teste de tolerância à glicose alterados. O diagnóstico em tempo hábil e tratamento adequado evitam complicações graves, como retinopatia, nefropatia, neuropatia, ulcerações, amputações, disfunções sexuais e doenças cardiovasculares. Portanto, pessoas que não apresentam sintomas mas se encaixam nas características acima devem procurar o médico para verificar s estão com diabetes. TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E AS TRANSFUSÕES DE SANGUE Christian de Paul de Barchifountaine Os testemunhas de Jeová são cristãos que encaram a Bíblia como a completa palavra de Deus. Essa pseudo-religião nasceu em 1813 nos Estados Unidos, tendo em Rutherford o seu principal divulgador sob forma de grupos de estudos bíblicos, e por volta de 1909, era já uma organização internacional com sede em Brooklyn, Nova York. Atualmente, somam-se mais de 3 milhões de adeptos, dos quais cerca de 25% nos Estados Unidos e cerca de 500 mil praticantes no Brasil. Eles aceitam quase a totalodade dos tratamentos médicos e cirúrgicos atuais. Não fumam, não usam drogas ilícitas, nem praticam aborto. Entre eles há médicos e cirurgiões. A recusa em tomar transfusões de sangue ou derivados baseia-se em sua interpretação da Bíblia. Os testemunhas de Jeová são pessoas de profunda convicção religiosa que têm na Bíblia o fundamento da proibição de aceitarem a transfusão de sangue, mesmo quando ela
significa o único meio para salvar uma vida. No livro do Gênesis 9, 3-4, encontramos: “Tudo o que vive e se move vos servirá de comida. Entrego-vos tudo como já vos dei os vegetais. Contudo, não deveis comer carne com vida, isto é, com sangue”. Também encontramos no Livro do Levíticos 17, 13-14: “Se um israelita ou um estrangeiro que mora no meio de vós caçar um animal ou uma ave que se pode comer, deverá derramar o sangue e cobrí-lo de terra. O sangue é a vida de todo ser vivo; foi por isso que eu disse aos filhos de Israel: Não comam o sangue de nenhuma espécie de ser vivo, pois o sangue é a vida de todo o ser vivo e quem o comer será exterminado”. No Deuteronômio 12, 23-25, lemos: “Porém, de nenhum modo coma o sangue, pois o sangue é vida. Portanto, não coma a vida com carne. Não o cama nunca. Derrame-o no chã como água. Não o coma, e assim tudo correrá bem para você, estará fazendo o que agrada a Javé”. Também em Atos dos Apóstolos 15,19-20 encontramos: “Por isso, eu sou de parecer que não devamos importar os pagãos que se convertem a Deus. Vamos somente prescrever que eles evitem o que está contaminado pelos ídolos, as uniões ilegítimas, comer carne sufocada e o sangue”. COMPORTAMENTO MÉDICO A respieto da recusa de transfusão de sangue pelos Testemunhas de Jeová, a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia estudou a questão e elaborou um documento ( em 14 de dezembro de 1974) que os Conselhos Regionais de Medicina aceitam e sugerem que seja adotado, sem imposições. De acordo com o documento, quando se trata de um adulto consciente, “sugere-se respeitar suas convicções mas exige-se que ele assine uma declaração isentando de responsabilidade a instituição, o médico e quem dele cuidar”. No caso de adulto inconsciente, o documento “admite que os angue possa ser aplicado, desde que nem o cliente nem seus familiares venham a saber”. O problema básico é evitar o trauma psicológico e espiritual, enquanto a vida é salva. Essa atitude, todavia, embora salve a vida do doente e não o traumatize, desrespeite as suas convicções e sua vontade. Tratando-se de crianças, menor de idade, incapaz, o problema não está na criança, no menor de idade ou incapaz, mas nos pais e tutores. Estes impõem sua convicção aos filhos ou tutelados sob a guarda do pátrio poder. A orientação do documento é de que se respeite a decisão de não permitir que o sangue seja aplicado, mas dever-se-á exigir deles a assinatura de termos de responsabilidade. Embora seja possível facilmente burlar a vigilância dos pais e tutores e aplicar o sangue, aconselha-se a não fazêlo e deixar a questão sob sua responsabilidade. Um aspecto importante deve ser destacado nesta situação: toda pessoa tem o direito de ter suas crenças e convicções, mas não tem o direito de impô-las aos outros. ASPECTOS JURÍDICOS EM JOGO A Constituição Federal, no art. 5, inciso VI, dispõe: É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma de lei , a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”. No inciso VIII desse mesmo artigo lê-se: “Ninguém será privada de direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar por eximir-se de obrigação legal a todos imposta, e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. O código Penal Brasileiro, no seu artigo 135, refere omissão de socorro quando o médico “deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, ou em grave e iminente perigo de vida”. Talvez aí residam as razões pelas quais os médicos se
preocupem em atender aos pacientes em iminente perigo de vida, como dever legal. Em consonância com tal pensamento, o art. 146 do mesmo dispositivo penal reforça a idéia da classe médica quando refere: “Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite ou fazer o que ela não manda...”O parágrafo 3 deste mesmo artigo, entretanto, diz: “Não se compreendem na disposição deste artigo: a intervenção médica ou cirúrgica, sem consentimento do paciente ou de seu representante, se justificada por eminente perigo de vida”. É com base nesse parágrafo 3, certamente, que os médico fazem cumprir o auxílio do iminente perigo de vida, sem levar em consideração o artigo 146. O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 159, ordena: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Eis, portanto, situação conflitante no que respeita aos ordenamentos legais. Merece consideração especial o fato de que a Constituição Brasileira se sobrepõe aos dispositivos do Código Civil e Penal, que se acham a ela subordinados. Assim, indagamos como se situa o princípio da autonomia do paciente, preconizado pela Bioética e acatado pela Constituição Brasileira, quando defende o direito de o paciente lúcido decidir sobre aceitar ou não um tratamento, clínico ou cirúrgico. Essa aceitação é direito seu fundamental, expressão de sua liberdade, projeção da dignidade humana. Temos que rever nossas leis maiores para sermos coerentes com as nossas posições à luz da Bioética, sem choques de princípios , de deveres e direitos que nos atingem mas, sobretudo levando em consideração o maior dos direitos universais, que é a liberdade humana. TRATAMENTOS SUBSTITUTIVOS Nos termos de responsabilidade ou de isenção de responsabilidade, quem recusar um transfusão de sangue, aceita do volume do plasma, tais como Dextran, solução salina ou de Ringer, e amido-hidroxietil. Hoje, segundo o médico pediatra Aligieri, para os paciente temerosos dos diversos riscos inerentes às transfusões de sangue, mas particularmente para os que professam essa pseudo-religião Testemunhas de Jeová, existem alguns recursos conceituados como: Cell-saver. aparelho que recebe o sangue coletado do paciente, por meio de sucção, durante a cirurgia, misturando-o com solução fisiológica, purificando-o e separando os eritrócitos por centrifugação , conjunto de procedimentos que permitem a reinfusão; - Eritropoietina sintética recombinante, fator de crescimento hematopoiéricoque, estimula as células da medula óssea a produzir hemácias; - Coagulador de rao laser que coagula o sangue durante a intervenção cirúrgica de modo a reduzir de sangue; - Monitores externos da oxigenação do tecido que dão informações contínuas da verdadeira disponibilidade do elemento oxigênio para as células periféricas. REFLEXÕES BIOÉTICAS É cada vez mais imprescindível a necessidade da Bioética como instrumento capaz de orientar a conduta dos profissionais da saúde, pesquisadores e cientistas, tanto na definição de suas ações em determinadas circunstâncias, quanto na solução de possíveis conflitos que têm como objetivo a própria vida. Além dos aspectos jurídicos e legais, a
reflexão bioética baseia-se a partir dos princípios dos princípios de autonomia e beneficência. Do ponto de vista da Bioética, o valor maior em jogo no caso e que deveria prevalecer, é o que pertence aos valores morais e religiosos do interessado, que não poder ser violentando no plano de sua consciência e de seu corpo de crenças. O ponto fundamental: a quem pertence a vida? Ao cidadão? À sua família? A Deus? À sociedade? Até onde o exercício da cidadania permite que decisões que contrariam a consciência da cidadão podem ser tomada ao arrepio de sua vontade, sob a alegação de que é melhor para ele? Onde fica a autonomia do paciente, na confecção de uma postura que julga ser vital para a sua salvação? Sobre a prática da crença da pessoa, os filósofos já emitiram inúmeras interpretações e conceitos, quase sempre concluindo ser ela uma das características da própria humanidade, um ponto que diferencia o ser humano de outros seres irracionais, e uma das bases de sua dignidade pessoal e de sua auto-estima, assim como o amor, a fome, a luta ou a espera do futuro. Repudiar, violar ou negar tais características representa eliminar ou negar a própria condição humana, para cuja preservação têm que atuar todos os ramos das ciências normativas, como Ética, a Filosofia e o Direito. CONCLUSÃO No caso Testemunhas de Jeová, se para o adulto consciente sua tomada de decisão nos parece clara, para os pacientes inconscientes ou incapazes ou para uma criança, a tomada de decisão pelos familiares ou tutores, continua problemática. Para o adulto incnsciente ou ncapz, ele deveria levar junto a carteira de identidade, uma declaração que é Testemunha de Jeová e não quer receber transfusão de sangue ou doação, declaração assinada por duas testemunhas, com número de telefone para contato, declaração esta registrada em cartório. Para a criança, há vários problemas: a responsabilidade dela é dos pais ou tutores que têm o pátrio poder e de outro, a criança não fez ainda a sua escolha religiosa. Assim, torna-se urgente, a criação de uma comissão de Bioética em cada hospital: uma comissão de características pluralistas do ponto de vista sociocultural e multidisciplinar na perspectiva científica. No limiar do terceiro milênio, a pluralidade e o ecumenismo surgem como um dado relevante da realidade coma qual estaremos convivendo, isso tanto em nível profissional, como em nível científico e sociocultural. Inspirando-se na experiência das comissões existentes em muitos países europeus, nos seus quadros, além de cientistas, médicos e biólogos, por exemplo, deverá contar com a colaboração de filósofos, economistas, teólogos, sociólogos e antropólogos entre outros. São enfatizadas três funções para as comissões de Bioética: educativa, consultiva e normativa. Trata-se de educação do hospital e da comunidade nos grandes temas da Bioética, a análise e discussão dos casos clínicos para esclarecer seus problemas éticos, e elaboração de normas éticas, bem como a implementação das já existentes. Christian de Paul de Barchifountaine é padre Camiliano, Reitor do Centro Universitário São Camilo
QUERIDO PAPAI
Faz dois anos que estamos separados fisicamente e hoje gostaria de lhe fazer uma confissão. Como uma cascata de pérolas o pensamento derrama sobre o papel as saudades que todos sentimos de sua presença. Abro o velho portão de ferro do jardim florido de minhas lembranças, e sinto que quando você piorava cada vez mais na sua doença, eu temia que chegasse o momento em que teria de assistir a sua morte. Apesar de ter cursado Enfermagem, e em outros anos passados trilhar pela experiência de perder meu único filho, lamento Papai, mas eu “ainda” tinha medo de vê-lo sofrer a agonia final. Chegou o momento... e ... lá eu estava “sozinha” com você. Neste momento meu pensamento volta ao passado não muito distante em que passeávamos juntos, lembra-se das nossas confidências no quartinho de televisão? Onde sempre seus netos entravam procurando pelas guloseimas que você havia comprado. Das noites frias de inverno? Ah! Papai... como você sofria com seu pulmãozinho que já estava com pouca capacidade para insuflar-se naturalmente. Afinal.. Tantas lembranças... nunca comentei, mas adorava chegar a sua casa, pois sabendo do meu horário esperava-me no portão e se antecipava em abri-lo para que eu pudesse passar livremente. E quando ajudava-me a carregar meus livros? Ah! Que dificuldade. Mas eu deixava. Sentindo-me orgulhosa. Almoçávamos junto alguns dias da semana e sempre tínhamos alguns minutos para nós. Mas, quando você piorava desse mal que lhe corroía e obrigava-se a receber o oxigênio, e o soro com medicamentos, para sentir alívio nas suas agonias; eu entrava e saia do seu quarto, tentando aparentar que era um bom tratamento e que logo iria sentir-se melhor. Mas...nós dois sabíamos que não era verdade. Fingíamos e evitávamos o assunto. Que tristeza! Eu conhecia sua “dor física”, pois a falta de ar, as mãos e braços feridos pelas picadas das agulhas, os hematomas espalhados pelos membros, a tosse persistente, esse complexo desagradável, nós tentávamos abrandar com os recursos disponíveis. Que briga hein? Para que não fosse hospitalizado e ficasse longe de sua família, dos seus netos, das suas cousas e até mesmo da sua casa. Apesar de tudo éramos felizes. --- Papai! Não percebi que estava sofrendo a perda do papel social familiar e que havia me tornado dependente de sua família, já não ocupava o lugar de chefe da casa, a “dor social”, lhe afligia. E eu? Ah! Desconhecia esse tipo de dor. Veio o Natal. Senti que talvez fosse o último. Notei que tinha perdido os sonhos, as esperanças, não percebi que era a “dor psicológica”. E eu? Novamente não fiz nada. Pediu um Padre. Assim o fiz. E mais uma vez não percebi que você havia perdido o sentido da vida, a razão do viver. Os horizontes foram-se. Era a “dor espiritual”. E eu ?... Mesmo sem perceber, sentei-me ao seu lado e conversando baixinho, comecei a fazer compressas em suas mãos pois os ferimentos deixados pelas injeções eram uma constante. Você segurou a minha mão depois de eu tê-la passado no seu rosto. Seus olhos profundamente azuis fixaram-me, aí sem Papai eu percebi que sua cor rosada era trocada pela palidez da morte. Lembra-se desse momento? Soltou a minha mão e eu a coloquei no seu peito, sobre o seu coração. Você sorriu despedindo-se. Pedi a Deus que o levasse para junto dele orando em alta voz, enquanto a minha mão sentia o seu coração desfribiliando.... Nessa
hora Papai! Ninguém entenderá, mas você sabe como me senti... Em êxtase, feliz, em estado de graça... porque eu que tinha tanto medo de vê-lo morrer, senti que nesse momento tão sublime pude fazer companhia a alguém que eu amo tanto. Aprendi com você a entender que as pessoas devem morrer em paz, com dignidade e cercada dos seus entes queridos. Papai! Obrigada. Guiomar Benini Prof. da Esc. Técnica da U. F. PR. Prova do Curso de Especialização em Bioética e Pastoral de Saúde. Faculdade São Camilo - São Paulo. PAI-NOSSO PARA HOJE “Pai nosso que estais no céus, concede que nós , teus filhos, construamos uma nova pátria de irmandade e fraternidade, e não um inferno de violência e morte; Santificado seja o teu nome, para que em teu nome, Senhor, não haja abusos, opressões, nem manipulação de consciência e liberdade dos nosso filhos; Venha o teu reino, não o reino do medo, do poder, do dinheiro e de procura da paz através da guerra; Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus, por toda a nossa terra e pelas irmãs, que mudaram suas canções de alegria por causa da opressão e do estouro de bombas; O pão nosso de cada dia nos dá hoje, o pão da paz, Senhor, para que possamos plantar milho e feijão, vê-lo crescer e compartilhá-los juntos, como uma família; Perdoa as nossas dívidas, que os nosso interesses pessoais nào sejam a moeda de câmbio. Que sejam mudados os nossos lamentos para cânticos de alegria, punhos fechados para mãos abertas, choro de órfãos para sorrisos; Não nos deixes cair em tentação , a tentação do conformismo, do não fazer nada, a tentação de recusar-nos a trabalhar contigo na procura da justiça e da paz; Livra-nos do mal, de sermos Caim para nosso irmão, de sermos arrogantes, de crermos que somos os senhores da vida e da morte; Amém! Que assim seja, Senhor, por tua vontade, de acordo com teu amoroso desejo, pois teu é o reino, o poder e a glória. Tu és, Senhor, a nossa única salvação em ti colocamos a nossa esperança. (Conic, Souc, 1996, pág. 36)
CRUZINHA BENTA DE SÃO CAMILO: UM TESTEMUNHO DE FÉ ADENILSON GUALBERTO SILVA Venho através desta, relatar algo de extraordinário que aconteceu em minha vida: em julho de 1993 descobrir que era portador do vírus HIV, e assim como a maioria entrei em desespero, pois pensava que tudo tinha terminado, que estava recebendo meu atestado de óbito. Mais estava começando uma nova vida. Como era viciado em drogas ( crack e cocaína ), tive logo de início uma tuberculose pulmonar que quase me levou à morte. Como estava sozinho aqui em Campinas ( fazia 9 anos que não via minha família que se encontrava na Bahia ), tive medo e o desespero tomou conta de mim. Não tinha fé, em
nada, não aceitava a existência de Deus, não tinha apreendido a perdoar, não sabia o que era amar o próximo, só usá-lo. Fui perseguido pela polícia por ser garoto de programa, e por vender drogas a menores em porta de escolas. Só em 96 é que tive um verdadeiro encontro com Deus. Tive que ser internado as pressas com crise de toxoplasmose que atingiu-me o celebro e perdi parte do lado direito. Foi aí que recebi visita de uma freira, e ela me deu a Crus e a Oração de São Camilo. No início não dei importância, achei que era bobagem. Mais naquela mesma noite, sentindo-me sozinho, sem amigo, com angustia, peguei aquela oração e a cruz e comecei a orar em voz alta. Parece que naquele momento algo de novo encheu meu coração, a cada vez que eu rezava mais alto, chorava muito; chamei com toda força e com fé de um incrédulo por São Camilo pedindo que curasse-me, que me fizesse andar novamente. E isso aconteceu novamente por três noites seguidas. Neste três dias senti uma imensa paz, sentia que uma chama ardia em meu coração. Tudo havia se transformado. Os médicos não acreditavam no que viam através da topografia; sair do HC - Unicamp após 8 dias; isso porque os médicos tinham dado de 15 a 20 dias de internação com a incerteza que não voltaria a andar tão cedo. Após tudo isso resolvi entrar em contato com minha família, foi muito bom, no momento que nos encontramos após quase 10 anos, eles me perdoaram, eu o perdoei e hoje minha família mora comigo, e somos muito felizes. Continuo a ser devoto de São Camilo, hoje eu e minha família fazemos terço todas as segundas-feiras, e agradecemos todos os dias a São Paulo por tudo o que vem acontecendo de maravilhoso, de paz em minha vida e dos meus. Hoje trabalho como voluntário em uma Cada de Apoio que acolhe pessoas com AIDS: sou auxiliar de enfermagem e como São Camilo vejo em cada irmão que sofre, a presença de Jesus Cristo. Quanto a minha cruz vermelha e minha oração, não sei onde anda, mais com certeza, nas mãos de alguém que como eu, encontra-se sofrendo e encontrando conforto e consolo na oração do irmão amado, São Camilo. Gostaria de contar com oração todos. Que Deus Abençoe a todos. Admilson Gualberto Silva permitiu a publicação desta carta de deixou seu endereço para correspondência. Rua Romeu Campagnolli, 131 Cep 13046-400 Jardim Bom Sucesso Campinas - SP