icaps-171

Page 1

CELEBRANDO O NATAL COM CRISTO E COM O OUTRO En tão é Natal! E o que você fez? E o que deixou de fazer em prol do outro? Sabendo que é difícil viver sem a presença do outro, Sem se preocupar com o outro. Ao nos isolarmos, afastamo-nos Do convívio das pessoas, da comunidade e por vezes de Deus. Afastar-se do convívio das pessoas pode ser uma fuga Para não ter preocupação com o outro. E preocupar-se com o outro não é simplesmente deixar de fazer o mal, Mas também fazer algo em benefício do outro. No trabalho pastoral, estamos em contato direto com o outro. Os que trabalham conosco e os que por vocação, missão, compromisso, Procuramos servir os doentes, razão de ser deste trabalho voluntário e pastoral. Por isso, embora enfrentamos situações de desentendimentos, pois, somos humanos, Os sofredores devem despertar em nós um sentimento de compaixão, De amor e de solidariedade, que nos une acima de qualquer vaidade pessoal, Convicção religiosa, valores pessoais, raça, língua ou cor. Natal é a manifestação do amor de Deus para com seu povo. De um Deus que percebem as necessidades do homem e com ele faz aliança. Jesus Cristo, encarnação do Pai, é o intermediário dessa aliança Que une os homens entre si e com Deus. Mostra que acima dos valores e interesses pessoais está a pessoa humana, E que por ela devemos “brigar”, Pois o amor de Deus é o seguimento do amor ao próximo. Portanto, celebrar a festa cristã do Natal é receber o presente que Deus nos deu. Acolher o Cristo, é antes de tudo, acolher as pessoas. É servir o outro e não se servir dele. Celebrar o Natal é reviver tudo o que acontece durante o ano. O que fiz e o que deixei de fazer . É arrepender-se das coisas erradas que atrapalham o outro. É alegrar-se com as coisas boas da vida. É lembrar que o melhor e verdadeiro presente é doar-se no dia-a-dia. Seja um presente para o outro servindo sempre. Feliz Natal e Próspero Ano Novo. São os votos da equipe ICAPS.

PARA AJUDAS AS PESSOAS, SIMPLESMENTE ESCUTE Psi cólogo africano mostra que saber ouvir as pessoas é um ato de amor


Como você pode abrir o caminho da comunicação? Aprenda a escutar. Escutar é noventa por cento de uma boa comunicação. Não é só “a outra metade da conversa”. É uma habilidade, que é preciso aprender e preticar, sempre. A maioria das pessoas acha difícil escutar a metade do tempo e, quando o fazem é com a metade da atenção. “O escutar atento e genuíno tornou-se tão raro que encontrar alguém que escute bem, quase nos faz perder o fio fo pensamento”, afirma David Augsburger, psicólogo angolano, membro da Comissão Médica Cristã do Conselho Mundial de Igrejas. Ele presta serviço comunitários na África e na Ásia. No último final de semana, esteve em cidade do interior de São Paulo onde concedeu palestras sobre como “escutar e ouvir com solidariedade”. Segundo a opinião de Augsburges, hoje em dia, escutar é o maior dos elogios, ignorar é um insulto. “Para se tornar humano, todo mundo precisa de alguém que o escute”, completa. “Para sermos humanos, precisamos aprender a escutar”, reforça a terapeuta Maria Lopes Bueno, de Portugal, colaboradora de Augsburger. Você sabe escutar? Diante de uma platéia eclética, composta de profissionais liberais, religioso e leigos, o psicólogo angolano perguntou: “Você sabe escutar?” Direta e incisiva, a questão caiu como uma bomba em nossa cabeça. “u seu olhos traem que você está pensando em outra coisa? Um bom ouvinte também escuta com os olhos”, ensina Augsburger. E as perguntas prosseguiram: “Você deixa as palavras e as idéias do outro fluírem, enquanto você planeja seu próximo comentário, ‘cozinhando’ alguma esperteza com a qual você vai deslumbrá-lo na primeira oportunidade? Você interrompe os outros ou ainda pior, se antecipa às suas idéias tentando concluir pelo outro ou interfere quando ele procura alguma palavra? Você indaga, questiona, indicando impaciência ou superioridade?”. É por meio desta questões que Augsburger conduz a palestra com eficiência. A platéia, meio atormentada com tantas afirmações fortes, acaba concluindo a verdade: “Nos não sabemos escutar”, diz o empresário Mário Amado Filho, de Pindamonhangaba (SP). Segundo ele, aprender a ouvir as pessoas é o primeiro passo para evitar discussões, principalmente em família. “Tenho dois filhos adolescentes. Se soubesse ouvi-lo de verdade, com certeza evitaria muita briga”. Além das palavras Augsburge dá seqüência na palestra colocando mais perguntas para os espectadores: “Ou você sabe realmente escutar? Você consegue ir elám das palavras e das frases e captar as idéias? Você consegue ir além das idéias e captar os sentimentos? Consegue atingir a verdadeira intenção? Isto é escutar os outros com amor. Amar é ser um ouvinte apaixonado!” “Você já experimentou isso? Você já conversou com alguém que o escutou com tanta atenção que você acabou se abrindo com essa pessoa? Despertou o melhor de você mesmo? Ajudou a clarear seus pensamentos por meio daquela forma de escutar?” E Augsburger expôs fatos que acontecem na conversa entre duas pessoas. “Aconteceu de você começar a expor suas angústias profundas e a queixar-se amargamente contra sua situação quando a compreensão de seu amigo – expressa pela atenção total – fez com que você visse as coisas sob uma nova luz?”


“Este é o poder do escutar com amor”, conclui o psicólogo. “Nada é mais necessário. Principalmente para as pessoas que têm problemas. Isto inclui quase todos nós”. Solidariedade “Lembra-se quando você estava envolvido em alguma tragédia pessoal? Você queria alguém falando para você? Fazendo um discurso de simpatia? Ou um pequeno sermão de estímulo? “Não, não! Você queria alguém que o amasse bastante para sentar e escutar seus sentimentos, para dar compreensão e aceitação, apesar de seu problema. Certo? “A pessoa que não se preocupa em escutar o fere profundamente. Não importa todas as coisas gentis que ela diga ou se aplicou bem clichês como ‘Afinal de contas poderia ter sido pior’”. Para que os participantes da palestra “entendessem a mensagem”, como disse Augsburger, ele contou um caso particular. “Nunca vou esquecer-me de um momento trágico em minha vida, quando precisei de ajuda e recorri a um velho amigo para partilhar um pouco do meu sofrimento. Depois de três fases, interrompeu-me e fez um pequeno discurso impecável e bonito. Porém, quanto mais ele falava, mais distante me parecia. Queria alcançá-lo, agarrá-lo e dizer: ‘Volte. Não quero seu lindo ramalhete de palavras. Quero você!’” A palestra terminou. Augsburger volta para a África, onde está atualmente coordenando vários cursos de comportamento social, com a certeza de que provocou algo nas pessoas aqui no Brasil. “Sei que muitas vão mudar de comportamento depois destas questões”. Antes de ir embora, reforçou suas afirmações: “Amar é escutar. Ouvir é carinho. Amar é abrir a sua vida para outra pessoa, através do interesse sincero, da atenção simples, do escutar honesto, da compreensão e do compartilhar. A comunicação começa com o escutar. Cresce com a verdadeira compreensão”.

SÃO BENTO MENNI, UM SANTO PARA O NOVO MILÊNIO Às portas da canonização de São Bento Menni, temos a grata satisfação de apresentar-vos um dos mais novos Santos da Igreja. A sua canonização será dia 21 de novembro de 1999, em Roma, na Basílica de São Pedro, pelo nosso Papa João Paulo II.

QUEM FOI BENTO MENNI? São Bento Menni nasceu em Milão (Itália) a 11 de março de 1841. Aos 19 anos ingressou para Ordem Hospitaleira de São João de Deus e em 1866 foi ordenado Sacerdote. São Bento Menni é património espiritual de toda a Igreja, especialmente das Irmãs Hospitaleiras de quem é o fundador dos Irmãos Hospitaleiros, cuja Ordem restaurou em Espanha, Portugal e México. Faleceu em Dinan (França) a 24 de abril de 1914. Na sua juventude, teve um forte chamamento a ser hospitaleiro, a que foi fiel durante toda a sua vida. Tomou contacto com o sofrimento humano servindo os feridos da guerra de Itália, em 1859, ocasião em que conheceu os Irmãos Hospitaleiros. Entrou na Ordem na Província Lombardo-Véneta, foi escolhido para o sacerdócio e deixou antever que podia ser ele o instrumento da Restauração da Ordem em Espanha e Portugal. Foi enviado a restaurar a Ordem no seu próprio berço - Espanha. Fundou um hospital para crianças em 1867, praticou a hospitalidade em favor dos feridos da guerra carlista em Navarra (1873-75). Em 1877, a sua sensibilidade e preferência pelos doentes mentais a quem considerava os mais necessitados, levou-o a fundar o Hospital


Psiquiátrico de Ciempozuelos - Madrid. Do seu amor a estes doentes brotou a fundação da Congregação das Irmãs em 1881. A sua caridade estendeu-se às necessidades mais urgentes do seu tempo: preocupou-se com a assistência às crianças e às pessoas idosas. Soube imprimir em todos os Centros o seu grande espírito hospitaleiro. São Bento Menni, testemunha sublime da hospitalidade. O seu apostolado teve uma ênfase especial para os doentes mentais: criou centros espaçosos, com grandes jardins, com pessoal profissional qualificado, com uma assistência digna de menção, com implantação dos métodos ergoterapêuticos que facilitavam a cura, ou pelo menos estancavam ou retardavam a deterioração. Soube enlaçar a caridade com a defesa dos direitos dos doentes, negociando com as Secretarias Regionais para alcançar os recursos que a assistência exigia. Estamos convencidos que pode realizar tudo isto, porque foi um grande apóstolo da hospitalidade; pela sua grande sensibilidade frente ao sofrimento dos outros; porque, como São João de Deus, quis estar com os doentes, com os pobres, com os humildes e quis fazê-lo oferecendo-lhes o melhor, promovendo uma cultura de hospitalidade animada pôr uma visão holística e integral da assistência, atuando com qualidade total, como gostamos de dizer na nossa linguagem actual.

São Bento Menni, consagrado numa sociedade secular. A sociedade em que lhe tocou viver não era fácil. Havia uma indiferença, para não dizer perseguição religiosa. Apesar disso, também encontrou muitas pessoas que o apoiaram e encorajaram nos seus trabalhos. Foi religioso e fundador da Congregação das Irmãs: apreciava profundamente a sua vida religiosa. Como consagrado viveu e promoveu nas Irmãs e nos Irmãos a consagração, como estilo de vida para seguir Jesus Cristo. Viveu a sua consagração no meio dos doentes e necessitados, negociando com as entidades públicas, partilhando projetos com os benfeitores, sendo hospitalidade com os médicos e enfermeiros, com as Irmãs e os Irmãos, no serviço aos assistidos nos Centros que fundou. São Bento Menni transmissor incansável do carisma da hospitalidade. São Bento Menni possuía uma grande personalidade, rica nos compromissos pessoais, nas formas de atuar, na maneira de se apresentar. Criava impacto. Não admira que tantas pessoas tenham embarcado com ele na aventura da hospitalidade. Era um carismático. Este impacto produziu os seus efeitos naqueles que cruzaram seu caminho. Ao canonizar Bento Menni a Igreja convida-nos a entrar de cheio no Evangelho e nesse projeto de hospitalidade. Nele encontramos o nosso próprio rosto e a ele podemos recorrer como protetor e intercessor, para que nos ajude a saber estar no mundo, a partilhar e a transmitir a hospitalidade como ele o fez. São Bento Menni, encarnação do sofrimento e do gozo do mistério pascal de Cristo. A vida oferece-nos muitas satisfações, mas não nos poupa aos muitos sofrimentos. Na vida de Cristo também foi assim. No que chamamos o seu mistério pascal englobamos nós a parte de sofrimento e a de gozo, a parte de morte e de ressurreição. Ninguém se livra de participar neste mistério pascal da vida, no mistério pascal de Jesus Cristo. São Bento Menni foi uma pessoa de grande fortaleza a vida toda. Mas a missão, as obras, a restauração e a fundação deram-lhe a oportunidade de participar do mistério pascal de Jesus Cristo, na sua vida e na sua morte, na sua alegria e no seu sofrimento. Não vamos parar-nos nos aspectos de alegria e de sofrimento que encheram a sua vida, porém existiram. Não sabemos se nos enganamos ao afirmar, neste momento, que a sua santidade é fruto da participação real no mistério pascal de Cristo.


O coração hospitaleiro tem uma sensibilidade especial para acompanhar e tentar diminuir ou eliminar o sofrimento dos demais, mas também dizemos que o sofrimento próprio ajuda a crescer humana e espiritualmente, e ensina a consolar os outros. São Bento Menni, Homem de Deus. Próximos da sua canonização podemos proclamar que em São Bento Menni as duas Instituições encontramos um pai espiritual, um pai que amou as suas filhas e os seus filhos, os doentes e os colaboradores, que aceitou as incongruências da vida como uma possibilidade de progredir no caminho da santidade. Deus tem os seus planos sobre cada um de nós; às vezes coincidem com os nossos, outras não, e mesmo quando coincidem com os nossos, pôr vezes o Senhor conduz-nos por caminhos não esperados. Temos de fazer uma leitura na fé da própria história para realizarmos a vontade de Deus na nossa vida. A espiritualidade de São Bento Menni está centrada no Coração de Jesus e em Maria, no mistério da Cruz, nos sacramentos da Eucaristia e da Penitência, na consagração, na dedicação constante à oração, na fidelidade criativa aos princípios recebidos, no fazer da pátria alheia a sua própria pátria, em descobrir ao lado da dimensão masculina o rosto feminino da hospitalidade, no estar ao lado e no defender os direitos daqueles a quem considerava os mais pobres, os doentes mentais, etc. Podemos defini-lo como itinerante da hospitalidade, profeta da hospitalidade, missionário da hospitalidade. Pode sê-lo porque, acima de tudo, era uma pessoa de Deus e o amava sobre todas as coisas. A hospitalidade de São Bento Menni para além fronteiras.

São Bento Menni era um carismático. Este impacto produziu os seus efeitos e se expandiu pelo mundo a fora. Estendeu-se para além das fronteiras da Espanha e chegou a muitos outros países dos quatro continentes. No Brasil, as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração realizam sua missão, juntamente com centenas de colaboradores e voluntários, em três Hospitais, todos destinados à assistência psiquiátrica e em um Lar para idosos. Como voluntárias as Irmãs, colaboram em alguns projetos eclesiais e sociais. Os Irmãos da Ordem Hospitaleira de São João de Deus da estão presentes em 50 países. Realizam a missão no Brasil em três Hospitais e colaboram como voluntários em outros projetos. São Bento Menni é um Santo para o Novo Milénio, a ele podemos recorrer como protetor e intercessor rezando: Deus, conforto e protecão dos humildes, que através das palavras o obras de São Bento Menni, Sacerdote anunciaste o Teu Evangelho de misericórdia, concede-nos por sua intercessão, as graças que Te pedimos, e que seguindo o seu exemplo Te amemos sobre todas as coisas e Te sirvamos sempre nos nossos irmãos necessitados e doentes Por Nosso Senhor Jesus Cristo... Amém. Pai Nosso, Ave Maria e Glória. Nossa Família Hospitaleira manifesta grande alegria através deste fecundo meio de comunicação que é o Boletim ICAPS. Convidamos todos a si unirem a nós no louvor e gratidão a Deus pela sua vida e testemunho de caridade a serviço dos doentes psiquicos.

MAIORES INFORMAÇÕES: IRMÃS HOSPITALEIRAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Estrada da Riviera, 4742

04916-000 – Santo Amaro - SP Fone: (11) 5517-6100 ou (11) 5517-6101 Fax (11) 5517-6248


ORDEM HOSPITALEIRA DE SÃO JOÃO DE DEUS Estrada Turística do Jaraguá, 2365 05161-000 Pirituba - São Paulo Fone: (11) 3904-4482 ou (11) 3904-1993 - Fax (11) 3904 9278 Ir. Maria Ludovina Fernandes

Frei Júlio Faria

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE: HOSPITAL DAS CLÍNICAS ADOTA POSTURA INOVADORA O novo Termo de Responsabilidade do HC prevê a participação ativa do paciente no processo de tratamento e incentiva os médicos a explicar os procedimentos em linguagem clara e acessível POR ESTELLA GALVÃO

O HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA da USP adotou um novo Termo de Responsabilidade para maiores e capazes que representa um grande avanço na relação médico-paciente. O novo Termo substitui a versão anterior, de 1945, e dispõe sobre direitos e deveres do paciente, dos profissionais de saúde e do hospital. O teor do documento é baseado na filosofia bioética que prevalece em todo o mundo. "Quando a atual comissão de bioética do hospital começou a trabalhar no texto, em 1996, teve a preocupação de discutir pontos fundamentais na dinâmica da relação médico-paciente", relata Gabriel Oselka, vice-presidente da comissão de ética em pesquisa do Hospital das Clinicas e professor-associado de Pediatria da FMUSP. Um dos pontos mais importantes dessa discussão era a questão da autonomia do paciente, ou seja, até que ponto os procedimentos realizados, do ambulatório à internação, respeitavam o direito do paciente de participar de decisões que dizem respeito á sua saúde e bem-estar, tema já consagrado em outros países. "No Brasil, esse conceito passou a ganhar espaço nos últimos anos com o exercício do direito de cidadania do consumidor de serviços e produtos", observa o professor. ' Na área médica, segundo Oselka, a tradição brasileira não valoriza essa questão. Ele esclarece: "isso ocorreu não porque os médicos são autoritários, mas porque é a única forma de prática da medicina que aprenderam". Estabeleceu-se uma relação "paternalista" claramente frustrada pelo Termo de Responsabilidade datado de 1945.


O atual Termo de Responsabilidade incorporou pontos da discussão desenvolvida nos vários serviços do Hospital das Clínicas de São Paulo como estratégia para vencer resistências dos médicos ao novo modelo. O principio básico do documento está na participação ativa do doente no processo de diagnóstico e tratamento de sua moléstia. O QUE MUDOU. O artigo i° do antigo documento autorizava o corpo clinico do hospital a "praticar qualquer procedimento diagnóstico ou terapêutico, médico ou cirúrgico, inclusive anestesia, transfusão de sangue e exames complementares" no paciente. Para o prof. Oselka, isso eqüivalia a um "cheque em branco". Reflete a postura que ainda existe como modelo nos serviços médico-hospitalares do país, segundo a qual o profissional coloca-se como dono do saber e, por essa premissa capaz de discernir o que é melhor para o paciente. Agora, o novo Termo do HC propõe que o paciente tenha participação ativa no processo de investigação para fechamento do diagnóstico e nas modalidades de tratamento. Assim, ao constatar a necessidade de uma biópsia de fígado, o médico deve explicar ao doente que procedimento implica retirar uma partícula do órgão por meio de agulha que atravessa o abdômen. Deverá alertar quanto ao risco de sangramento durante a biópsia e obter, desse modo, o "consentimento esclarecido". "Tudo se resume a descer do pedestal e explicar o que quer que seja ao doente em linguagem clara e acessível." Outro diferencial em relação ao texto antigo é o fato de o novo Termo ser dirigido a qualquer paciente matriculado no HC e não apenas àquele que será submetido a um procedimento cirúrgico. "É uma filosofia de atendimento que mostra a atitude do HC em relação aos seus pacientes", afirma o prof. Oselka. De outro lado, não é necessário que o doente assine o documento ao ingressar no hospital, especialmente em situação de risco vital e sob forte estresse. Ele terá tempo de ser internado e estabilizado antes de ler e assinar, que deve ser feito também pela figura do Representante Indicado, criada no presente Termo. A proposta é inovadora, segundo Oselka, porque permite que pessoas da confiança e intimidade do doente, não necessariamente familiares, decidam em seu lugar se eventualmente ele ficar impossibilitado durante a permanência no hospital. UM MODELO A SER SEGUIDO. Unidos principais hospitais de difusão da cultura hospitalar para todo o pais, o HC acredita que o novo texto, a exemplo do antigo, seja adotado por diversas instituições. "Temos recebido solicitações de colegas de várias regiões pedindo para reproduzir o Termo de Responsabilidade que adotamos e é nosso desejo que isso ocorra", afirma o prof. Oselka. Essa política vai ao encontro da expectativa do Fórum de Patologias do Estado de São Paulo, entidade que representou os pacientes na cerimônia de ratificação do novo Termo, realizada no final do ano passado. O Fórum está trabalhando na elaboração de um Termo de Responsabilidade nacional, obrigatório e idêntico para todos os hospitais públicos e privados. “Vamos levar o documento, claramente inspirado no modelo do HC, para avaliação do ministro da Saúde, José Serra“, diz Jorge Curbello, que na ocasião representava o Fórum de Patologias na comissão. O processo de elaboração do documento levou três anos. O prof. Gabriel Oselka e outros membros da Comissão de Bioética, de caráter multidisciplinar comandaram


inúmeras reuniões com as equipes para esclarecer o que se propunha. Ele afirma ter contado com o apoio e estímulo decisivos do então diretor clínico do hospital, Irineu Tadeu Velasco (empossado diretor da FMUSP) e do então superintendente do hospital, Alberto Kanamura. Os encontros foram precedidos pelo envio de um anteprojeto, que resultou em várias sugestões, algumas acatadas pela comissão. Houve, é claro, muitas reações cépticas. Um dos médicos presentes a esses encontros, por exemplo, afirmou: "Acho o Termo muito interessante mas se fizermos isso os pacientes serão prejudicados porque não têm condições de compreender o que será feito com eles e, naturalmente, tendem á recusa. "Esse ponto de vista reflete, na opinião do titular da Comissão de Bioética, o preconceito cultural em relação ao cidadão de menor renda, perfil predominante no atendimento do SUS. O esclarecimento dos pacientes tem outro importante componente, observado pelo prof. Oselka, que também é conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Segundo ele, denúncias de pacientes contra profissionais que chegam aos conselhos e à Justiça têm em comum o desconhecimento do paciente quanto aos resultados, riscos e seqüelas possíveis de um tratamento. A entrada em vigor do novo Termo de Responsabilidade representa ainda um instrumento educacional para médicos e pacientes e será complementado por uma Cartilha de Direitos do Paciente, em fase de elaboração. Os direitos do médico também, foram, contemplados, ressalta Gabriel Oselka. O artigo 2º, por exemplo, afirma que se um médico sentir-se constrangido a realizar aborto previsto por lei em hospitais que realizam esse procedimento, poderá recusar-se por motivo de foro íntimo desde que haja outro profissional na equipe para realizar a cirurgia. O Termo de Alfa a Pedido do Paciente, outro documento produzido dentro dessa filosofia de estabelecer o discernimento na rotina hospitalar, foi produzido para preservar o médico nas situações em que um paciente insiste em deixar as dependências do hospital sem autorização daquele que o tratou. Há pareceres do Cremesp nesse sentido, mas a Comissão de Bioética do HC julgou adequado obter a assinatura do paciente nesses casos em documento com timbre do hospital. “A autonomia do paciente tem sua contrapartida: ele é também responsável pelo exercício dessa autonomia”. AS PRINCIPAIS NORMAS DO NOVO TERMO . O paciente será tratado par meios adequados e disponíveis; a relação mútua entre profissionais do saúde e pacientes deve ser baseada na dignidade e no respeito. . O profissional da saúde tem garantida a suo autonomia ao Indicar o procedimento adequado ao paciente, observados as práticas reconhecidamente aceitas e respeitando as normas legais vigentes no país. . O médico Informará ao paciente, de forma clara e em linguagem acessível, sobre o seu estado de saúde, diagnóstico, tratamento e evolução provável da sua doença. . as procedimentos diagnósticos e terapêuticos serão executados com a prévia concordância do paciente, após ter sido esclarecido quanto a riscos e benefícios.


. No caso de se tornar Incapaz de tomar decisões sobre suo saúde, o paciente apresenta o seu representante indicado, a quem confiará a tomada d. decisões, podendo ser parente ou não. . Em caso do iminente risco de morte ou iminente risco do perda de qualidade de vida, encontrando-se o paciente incapacitado de tomar decisões, o médico estará autorizado a adotar condutos até que o Representante indicado posso se manifestar. . O prontuário do paciente será elaborado de forme legível, completa e atualizada. . O paciente tem direito a obter relatório contendo as informações registradas no seu prontuário, mediante solicitação ao Arquivo Médico. . O paciente tem garantia de sigilo sobre seus dados pessoais e clínicos, podendo ser revelados apenas tom sua autorização, salvo em casos de Imposição legal. . Após a alta médica, o paciente deverá deixar as dependências do Hospital das Clínicas no prazo de até 24 horas, após os quais serão adotadas as medidas legais cabíveis. . O paciente e os profissionais da saúde do HC poderão recorrer à Comissão de Ética Médica e à Comissão de Bioética para esclarecer questões decorrentes da prestação das ações e dos serviços de atenção à saúde.

-----------------------------------------------------------HIPERTEMSÃO E SEUS REMÉDIOS NATURAIS Mesmo médicos que criticam mudanças no estilo de vida parecem dispostos a dar crédito a uma nova dieta adequada ao combate da hipertensão. A dieta não pede que as pessoas reduzam peso, evitem sal ou bebidas alcoólicas ou que controlem de modo estrito o colesterol. Mais ainda: acrescenta alimentos, ao invés de elimina-los. Especificamente, exige que se consumam de 8 a l0 porções ao dia (aproximadamente 5 xícaras) de frutas e verduras e três xícaras de produtos lácteos com baixo teor de gordura, aproximadamente o dobro do que se consome regularmente. E a dieta continua com menor teor de gordura: 26% de suas calorias são provenientes de gorduras, ao invés dos 37% costumeiros, e toda essa redução ocorre em gordura)aturada que afeta artérias. E o mesmo tipo de dieta que alguns especialistas consideram auxiliar na prevenção do câncer. Trata-se dieta realizável, mas, infelizmente, tem sido pouco divulgada como fator de prevenção de infartos e derrames a longo prazo. O regime foi experimentado durante oito semanas


em 459 adultos, entre os quais havia 133 com leve pressão arterial. Os pesquisadores ofereceram todos os alimentos para ter certeza de que todos consumiriam os alimentos da dieta correta. Resultados: O Pessoas com pressão arterial normal experimentaram ligeira queda graças à dieta; O Hipertensos experimentaram quedas mais evidentes: de 11.5 a 5.5 milímetros. Quase a mesma redução alcançada com determinado tratamento específico para hipertensão. Os especialistas advertem que pessoas com pressão arterial muito alta quase certamente continuarão necessitando de medicamentos, embora a dieta possa ajudar na eficiência dos remédios e até permitir a redução dos mesmos. Onde está o segredo? Segundo pesquisadores que participaram no estudo, o segredo talvez esteja no elevado conteúdo de potássio que faz com que a dieta consiga a diminuição da pressão arterial. Cálcio e magnésio também poderiam exercer papel importante, mas o potássio parece especialmente importante, sendo, talvez, responsável por metade do bom efeito. Frutas, verduras e leite são ricos em potássio e a dieta prôve 4.400 miligramas do mineral cada dia, aproximadamente o conteúdo de 11 bananas. Alguns pesquisadores têm lembrado que o potássio reduz a pressão arterial ao relaxar as artérias e diminuir os efeitos do sal. Além disso, algumas pesquisas demonstram que pessoas de raça negra as quais tendem a sofrer mais com problemas de pressão arterial elevada que as de raça branca, consomem menos potássio. O potássio pode favorecer a eliminação de sódio do corpo, explicam especialistas, e também reduz a pressão sangüínea no interior dos rins. Alguns estudos também tem demonstrado que consumidores de alimentos com elevado conteúdo em potássio sofrem menos derrames cerebrais que os outros, embora alguns que enfrentam problemas renais e utilizam determinados medicamentos devam evitar potássio. Sob consulta médica O potássio parece ser muito mais eficiente em pessoas que consomem mais sódio na dieta, pois parece ajudar o corpo a eliminar o excesso de água e de sal. Quando- a pessoa não consome suficiente quantidade de vegetais, é conveniente consultar o médico sobre a possibilidade de tomar suplemento de potássio. Embora poucos médicos receitem potássio para tratar hipertensão, os suplementos poderiam ajudar a combater este perigoso mal. (Conclui na próxima edição). O Dr Alberto Abaunza é médico em West New York, no Estado de New Jersey.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.