EXPERIÊNCIA PASTORAL CÉLIA REGINA MOSCA BERGANTIN A experiência pastoral que descrevo nasceu de um desejo de servir a Deus nos irmãos doentes e necessitados. Como leiga, acredito que ser cristã não se resume em participar das celebrações eucarísticas e ouvir a palavra de Deus. É preciso vivê-la na prática junto às comunidade, seguindo o que Jesus nos pediu no Evangelho (Cf Mt 25,31-45) “Dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, visitar os doentes”. Seguindo o mandato de Jesus, iniciei meu trabalho na Pastoral da Saúde da Paróquia de São Benedito da cidade de Salto - SP - Diocese de Jundiaí em 1991, participando das missas dos doentes, das reuniões mensais e das visitas aos enfermos. Em novembro do mesmo ano fui escolhida como vice-coordenadora. Em seguida, assumi a Coordenação geral, função que exerço até hoje. PASTORAL DA SAÚDE ONTEM Quando assumi a coordenação, a Pastoral da Saúde já existia na Paróquia havia mais ou menos uns doze anos, contando com aproximadamente 40 agentes que basicamente se restringiam ao atendimento espiritual aos doentes em suas casas. A comunidade, muito acolhedora, me amparou, e fui procurando conhecer realmente o que era Pastoral da Saúde. Para um maior aprofundamento, entrei em contato com os Padres Camilianos, donde recebi, especificamente do Padre Leocir Pessini, instrução, apoio e disponibilidade para nos orientar em cursos de formação. Contei também com a imprescindível colaboração e apoio do Pároco, Pe. Geraldo da Cruz Almeida, um jovem sacerdote, com um coração aberto ao sofrimento das pessoas, e do Vigário Pe. João Batista dos Santos que acompanhava a Pastoral da Saúde mais ativamente. A PASTORAL DA SAÚDE HOJE Com os cursos de formação e um maior engajamento de leigos comprometidos com os doentes e necessitados, o último cadastro registrou um número de 150 Agentes. Todos os Agentes estão distribuídos na Paróquia e suas sete comunidade (antigas capelas) dos bairros, sendo que desses 150, efetivamente podemos contar com a atuação de mais ou menos 120 elementos prestando assistência Física, Social e Espiritual a mais ou menos 500 doentes e idosos. Dentre os Agentes temos um que representa toda a comunidade no Conselho Municipal de Saúde, e um outro no poder legislativo municipal e o atual diretor do hospital municipal é um Agente de Pastoral da Saúde, pois é nosso dever exigir nosso direito à cidadania. A equipe de coordenação está assim constituída: Coordenadora e vice, Secretária, tesoureira, enfermeira, equipe de liturgia, equipe de cozinha, equipe de apoio com dois responsáveis em cada setor da região pertencente à Paróquia. A coordenação se reúne no mínimo uma vez por mês para discutir, avaliar e analisar o andamento do trabalho pastoral e preparar a reunião mensal com os agentes. Para o ano 2000, a Pastoral da Saúde deverá passar por uma reestruturação. Pretende-se criar novas equipes como: de eventos, divulgação nos meios de comunicação da cidade, equipe responsável pelos equipamentos visto que a Pastoral da Saúde possui cadeiras de rodas, muletas, colchões d’água, andadores, cadeiras de banho, camas hospitalares, inaladores etc., UNIÃO, ORAÇÃO e FORMAÇÃO Os Agentes que fazem parte da Pastoral da Saúde, em nossa cidade, procuram trabalhar em equipe de uma maneira muito familiar. Existe um clima de respeito, confiança, caridade, carinho, humildade e doação. Pois, para cuidarmos bem do outro, acreditamos que primeiro precisamos cuidar bem de nós mesmos. Como gostar dos outros se não gostamos de nós mesmos?. Esse grupo cresce e se fortalece a cada dia graças a confiança em Deus, muita oração, participação nas celebrações eucarísticas e também ao amor que cada um coloca naquilo que faz. Ou seja, transformar o amor a Deus no amor ao próximo. Pois a solidariedade nos faz romper as barreiras e obstáculos e assim nós perseveramos na missão. Oferecemos, com freqüência, para os nossos agentes, cursos de formação e de atualização. Ao mesmo tempo, participamos dos encontros diocesanos e também das reuniões bimestrais promovidas pela Coordenação Diocesana da Pastoral da Saúde. Isso possibilita um maior
entrosamento com outras pastorais e a oportunidade de estarmos em contato com outros agentes que atuam na Pastoral da Saúde nas deversas paróquias. A equipe coordenadora, tem participado, regularmente dos Congressos Brasileiros de Pastoral da Saúde promovido pelo ICPAS (Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde), procurando colocar em prática todo o aprendizado dos encontros e congressos, aplicando-os em nossa realidade. A reuniões mensais dos agentes, além da oportunidade da convivência, são momentos oportunos para a discussão de temas e dinâmicas voltadas para a formação específica dos mesmos. Sempre partimos de algum texto bíblico, mensagens ou artigos específicos de Pastoral da Saúde. Enfim, procuramos fazer desses encontros, um tempo oportuno para abastecer-nos humana e espiritualmente. Para as reflexões espirituais, convidamos padres, religiosos ou mesmo leigos com preparação específica. Convidamos também profissionais da saúde para abordar temas específicos de saúde, e também para alertar os agentes na educação na prevenção de possíveis doenças, já que no trabalho pastoral encontramos muitas situações em que as famílias precisam ser instruídas na questão da prevenção, procurando assim atingir a dimensão comunitária da Pastoral da Saúde. A PRÁTICA PASTORAL A Pastoral da Saúde desta Paróquia está centrada mais numa dimensão domiciliar. Ou seja, a maior parte das visitas são feitas às casas dos doentes. Porém, fazemos também visitas aos hospitais da cidade. Quanto às visitas, normalmente atendemos as solicitações dos doentes ou familiares. Mas, na maioria das vezes, somos nós que tomamos a iniciativa de conhecer e saber se nas casas ou apartamentos há algum doente. A visita é feita pelo menos uma vez por semana, de acordo com as necessidades do doente e também da disponibilidade dos agentes. Sempre que possível, as visitas, são feitas por dois Agentes. A orientação é que os Agentes procurem ver os doentes como o centro de sua visita. Por isso, devem respeitar sua história, seu espaço físico, seus hábitos e sua crença. O Agente deve ser aquele que sabe ouvir o doente. Ao mesmo tempo, o agente é aquele que transmite ao doente e familiares a presença de Cristo, Com sua presença, sendo solidários com o sofrimento, e oferecendolhes ajuda no que for necessário, resgatando sua dignidade diante das necessidade, físicas, mentais, sociais e espirituais. As vezes, mais importante do que falar de Deus, o agente precisa testemunhar Deus através de seus atos. NECESSIDADES DOS DOENTES Físicas - Já que a grande maioria dos doentes assistidos pela Pastoral da Saúde não possuem muitos recursos, nosso grupo tem uma preocupação em assisti-lo fisicamente. Assim sendo, os agentes, na medida do possível, prestam além da assistência espiritual, alguns cuidados de que os doentes necessitam tais como: - Auxílio em sua higiene pessoal, curativos, roupas, alimentação (fornecemos cestas básicas e até mesmo uma alimentação adequada para o doente). - Acompanhamento do doente ao médico, quando é necessário; - Orientação quanto à providência dos remédios na Central de Saúde, junto às assistentes sociais, (sem contar que muitos remédios são comprados pela Pastoral da Saúde), como também a ajuda em exames de laboratório; É meta da Pastoral da Saúde instalar uma farmácia comunitária com a finalidade de distribuir remédios às pessoas carentes de nossa cidade. Medicamentos esses que virão de doações da comunidade em geral, pelos diversos médicos e clínicas da cidade. Para isso, é prioridade na farmácia contar com um farmacêutico e um atendente de farmácia. Mentais - Quero falar das pessoas que hoje em dia sofrem de perturbações devido às condições de vida, como solidão, depressão, abandono. Neste sentido, nossa função é ouvi-los, respeitá-los, fazê-los sentir-se amados por Deus e pelos irmãos. Que através do nosso gesto de solidariedade eles possam resgatar o sentido da vida plena. Neste campo temos tido bons resultados visto que acompanhando tais pacientes, foram encaminhados ao atendimento clínico. Pois tePois, temos consciência clara que em muitos casos não são suficientes o acompanhamento solidário e espiritual.
Sociais - Em nosso trabalho, não é raro encontrarmos doentes afastados do convívio social dentro de sua própria casa. Muitos ocupam um quarto nos fundos, impossibilitando a participação da vida sócio-familiar. Na tentativa de melhorar essa realidade, estamos sempre procurando conscientizar os familiares dos doentes de que ele precisa muito da família. Justamente, por estar debilitado fisicamente, ele necessita de carinho, cuidado e atenção tanto quanto de remédios, banho e alimentação. Por isso, em nossa paróquia, fazemos celebrações para os doentes nas datas festivas. Pois entendemos que esta pode ser uma maneira de colocá-los em contato com a sociedade, fazendo com que se sintam pessoas dignas e participantes da comunidade. ESPIRITUAIS - Atualmente a paróquia de São Benedito conta com 35 agentes da Pastoral da Saúde, que após boa preparação, receberam a ordem para serem ministros da Eucaristia. Esses ministros levam a comunhão aos doentes nas casas ou nos hospitais. Para isso, são devidamente preparados pelos próprios colegas ou mesmo pelos agentes que os acompanhavam anteriormente. Caso o paciente queira, recebe a visita do padre. O atual pároco, Pe. João Estevam da Silva, regularmente vai à casa do doente para ministrar os sacramentos da Confissão e Unção dos Enfermos, preparando-os assim para que possam receber semanalmente a eucaristia. Depois de uma boa preparação os Agentes e Ministros da eucaristia fazem celebrações nas casas do doente juntamente com seus familiares. Ou seja, levam o Cristo da vida ao encontro do Cristo sofredor. Além disso, realizamos na paróquia todas as celebrações especiais tais como: o dia mundial do doente (onze de fevereiro), missa de Páscoa, celebração do dia São Camilo, padroeiro dos doentes e dos profissionais da saúde, no dia 14 de Julho. Oportunamente celebramos a chamada “Missa da Saúde” à qual todos os doentes da comunidade são convidados a participar. Sempre encerramos essas missas com um almoço. Portanto, o doente se alimenta do pão do corpo e do pão da alma. RECURSOS FINANCEIROS Toda a assistência que prestamos aos nossos doentes e idosos tem um custo e necessita de recursos. Para isso, a Pastoral da Saúde da Paróquia possui um caixa que é mantido das seguintes formas: - Realização de quatro promoções no ano, onde são vendidas pizzas semi-prontas ou almoços; - 25% da coleta do 3º domingo de toda paróquia; - Coleta do IV domingo da comunidade São Paulo Apóstolo; - 10% do dízimo da Igreja Divino Espírito Santo; - Há doações e ofertas espontâneas de terceiros; CONCLUSÃO Ao concluir a exposição desta experiência, sem um sentimentalismo exagerado, posso dizer que a Pastoral da Saúde é uma história de amor e dedicação. Em nossa cidade gozamos de grande conceito nos diversos setores da saúde, graças à dedicação de cada Agente, ao diálogo com autoridades, união, confiança e seriedade. Para isso, não poupamos esforços pelos direitos dos nossos doentes. Posso afirmar que, até hoje, ainda não nos frustramos e nem nos cansamos. Pois o trabalho abnegado dos Agentes é notável, e a sua recompensa é a sensação de missão cumprida. O “pagamento” e a recompensa deste trabalho reflete-se no sorriso do doente acamado, no abraço apertado, no agradecimento de cada um pois estamos descobrindo a cada dia que aquela pessoa que está sofrendo não é apenas um doente mas um irmão. Cristo espera que sua Igreja no novo milênio tenha a face misericordiosa como o Pai celeste é misericordioso. Por sua vez, nós leigos não podemos nos esquecer de que nós é que somos a Igreja. MENSAGEM FINAL Esse relato é uma história que vivenciei passo a passo. Espero que dentro de diferentes realidades minha experiência possa servir para outras pessoas que estejam querendo, ou que já tenha iniciado um trabalho de Pastoral da Saúde.
Peço a Deus que nós todos estejamos sempre abertos para a verdadeira caridade. Caridade inspirada nos exemplos de Cristo e que São Camilo de Léllis, com suas limitações humanas soube, como ninguém colocar em prática dando de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestindo os nus e visitando os doentes etc., Portanto, o Agente da Pastoral da Saúde é convidado a ser um evangelizador, que com suas palavras e ações transparece a figura e o modo de ser de Jesus Cristo. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Cf Jo 10,10) Célia Regina Mosca Bergantin é Coordenadora da Pastoral da Saúde da Paróquia São Benedito da cidade de Salto – SP
Carta de um paciente terminal a Deus Meu querido Pai. Tu tens um lugar em minha vida. Ru estás presente em meus pensamentos, nos sentimos do meu coração e em todo meu ser de maneira cada vez mais intensa e profunda. Através de minha enfermidade, da dor, do desprendimento e das privações forçadas, tem aumentado minha certeza de que havia necessidade de perguntar qual a razão de meu câncer. Quero refletir sobre a tua presença em todos os momentos, sobre teu amor para comigo, que posso vivênciar intensamente e em toda profundidade neste momento que o sofrimento me aniquila. Senhor, sempre acreditei que tu és um Deus de Amor. Minha enfermidade tem ajudado a penetrar naquilo que é a coluna dorsal de todo viver e também descobrir que o essencial da minha vida é o amor. Cada um de nós vive, respira por teu amor, pois tu és Deus, e teu amor foi demonstrado pelo teu filho Jesus Cristo que deu sua vida por amor, dando-nos a certeza absoluta da vitória sobre a morte e a certeza da felicidade na vida eterna. Por isso, mesmo sofrendo com a certeza da morte, que se apresenta perto de mim, com todo meu ser eu creio na ressurreição. Portanto, pouco me interessa saber o que será depois da morte. Pois acredito firmemente que serei acolhido pelo teu amor total. Bom Pai, eu te amo e sou amado por ti e isso me basta. Adriano Backx A influência da religião sobre a saúde FRANCISCO LOTUFO NETO Psiquiatria e psicologia são ciências novas, nascidas praticamente no século passado. Seu relacionamento com a religião tem sido conturbado, com desconfianças e hostilidades de ambos os lados. Os escritos de Freud, pai da psicanálise, considerando a religião uma ilusão e o transtorno obsessivo compulsivo da humanidade, certamente contribuíram para deteriorar o relacionamento. Albert Ellis, criador da Terapia Racional Emotiva, em seu estilo contundente, precipitadamente afirmou ser a religião causadora de patologia e neurose. Mais tarde, diante das evidências em contrário apresentadas por Malony, que estudou pacientes da própria clínica de Ellis, mostrando que os religiosos apresentavam maior progresso e saúde, Ellis reconheceu seu engano. Dois pioneiros suíços, Oskar Pfister, pastor e Paul Tounier, médico, deram importante contribuição para mudar esse clima de animosidade. A correspondência entre Oskar Pfister e Freud foi recentemente publicada uma série de artigos sobre o trabalho e ministério de Paul Tounier. Dessa forma, uma colaboração inestimável tem sido prestada à prática médica, psiquiátrica, psicológica e teológica. Essas publicações irão sem dúvida ajudar nossos profissionais cristãos a melhor integrar sua fé em suas profissões, e terão impacto no ministério cristão. Paul Tounier foi um dos pioneiros da aplicação da fé cristã à prática médica e à psicoterapia, sendo seu trabalho considerado como praticamente sinônimo de Aconselhamento Cristão. Seus livros, de agradável leitura, tocam ainda o coração de muitos, ajudando e despertando o crescimento pessoal e espiritual, aprimorando o conhecimento de si mesmo e permitindo uma vida mais plena na comunhão com Deus. Gostaria de tratar aqui dos frutos desse pioneirismo, que, em épocas de grande preconceito contra a religião no meio psicológico, trouxe uma luz diferente para se entender os problemas humanos.
A possibilidade de integração vislumbrada e vivida por Pfister e Tournier tem inspirado o estudo científico do relacionamento entre religião e psiquiatria. Esse estudo mantém a polarização e ambigüidade que a religião sempre traz: alguns opinam que ela é prejudicial à saúde mental, outros defendendo seus benefícios. Os que afirmam ser a religião prejudicial argumentam que ela: a) gera níveis patológicos de culpa; b) promove o auto-denegrir-se e diminuição da auto-estima, por meio de critérios que desvalorizam nossa natureza fundamental; c) estabelece a base para a repressão da raiva; d) cria ansiedade e medo por meio de crenças punitivas (por exemplo: inferno, pecado, sentimento de culpa, etc.); e) impede a autodeterminação e a sensação de controle interno, sendo um obstáculo para o crescimento pessoal e funcional autônomo; f) favorece a dependência, o conformismo e a sugestionabilidade, com o desenvolvimento da confiança em forças exteriores; g) inibe a expressão da sensação sexual e abre caminho para o desajuste na área erótica; h) encoraja a visão de que o mundo é dividido entre “santos” e “pecadores”, o que aumenta a intolerância e a hostilidade em relação “aos de fora”; i) cria paranóia com a idéia de que forças malévolas ameaçam nossa integridade moral; j) interfere no pensamento racional e crítico. Os que acham que a religião tem um impacto positivo sobre a saúde argumentam que ela: a) reduz a ansiedade existencial ao oferecer uma estrutura cognitiva que ordena e explica um mundo que parece caótico; b) oferece esperança, sentido, significado e sensação de bem estar emocional; c) ajuda as pessoas a enfrentarem melhor a dor e o sofrimento, encontrando nestas realidades um sentido reassegurador; d) fornece soluções para uma grande variedade de conflitos emocionais e situacionais; e) soluciona o problema perturbador da morte, por meio da crença na continuidade da vida; f) dá às pessoas uma sensação de poder e controle, por meio da associação com uma Força Onipotente; g) estabelece orientação moral que suprime práticas e estilos de vida auto-destrutivos; h) promove coesão social; i) fornece identidade, satisfazendo a necessidade de pertencer, ao unir as pessoas em torno de uma compreensão comum; j) fornece as bases para um ritual catártico coletivo. Religião madura e saudável Para Pruyser, eminente psicólogo cristão, os componentes de uma teologia são idealizados para formar um plano de vida que, se for pratica, pode trazer alegria e satisfação ao que crê. Toda religião contém esses elementos e sua integração a um estilo de vida é o determinante da relação positiva entre religião e saúde mental. Esses elementos são multidimensinais, mais complexos que o simples freqüentar um serviço religioso e se conformar a certas crenças. Malony, numa perspectiva cristã, denominou-os “teologia funcional”: - Consciência de Deus: o grau em que a pessoa experimenta uma sensação de deslumbramento e a sensação de ser uma criatura no relacionamento com o divino (i.e. reverência versus idolatria); - Aceitação da graça e amor incondicional de Deus: o grau em que a pessoa vivencia e compreende o amor e benevolência de Deus (i.e. a confiança e sensação da presença da providência divina versus independência e desesperança exageradas);
- Arrependimento e responsabilidade: o grau em que a pessoa assume a responsabilidade pelos seus próprios sentimentos e comportamentos (i.e. redenção, justificação, perdão e mudança versus falta de consciência, irresponsabilidade, amargura e vingança); - Experiência da liderança e direção de Deus: o grau em que a pessoa confia, espera e vive a direção de Deus em sua vida (i.e. fé versus desespero); - Envolvimento com a religião atuante: o grau quantitativo, qualitativo e motivacional em que a pessoa está envolvida com a igreja (i.e. compromisso, participação e associação versus isolamento e solidão); - Comunhão de vida: o grau em que a pessoa se relaciona e tem uma nação de identidade interpessoal (comunhão com outros versus estar centrado em si mesmo e no orgulho); - Ser ético: o grau em que a pessoa é flexível e compromissada à aplicação de princípios éticos na sua vida diária (i.e. noção de vocação e do viver os valores da vida versus perda de sentido e perda do sentimento de dever). Malony acrescentou uma oitava categoria,pois a pessoa madura do ponto de vista religioso deve ser tolerante, e não pré-julgadora: o grau em que a pessoa está crescendo, elaborando e tornando-se aberta a novidades em sua fé (i.e. humildade e interesse por mudanças versus mente fechada e autoritarismo). O que os estudos científicos mostram Quando se estuda o assunto, as evidências são amplamente favoráveis à valorização da religião no trabalho médico e psiquiátrico. Deixar os preconceitos de lado, diversos cientistas procuram avaliar em suas pesquisas a influência da religião sobre a saúde mental. Os resultados são surpreendentes: religião está associada a bem-estar, saúde física, diminuição da mortalidade, melhor controle da pressão arterial, maior capacidade de enfrentar o estresse, maior satisfação conjugal e sexual. Em relação à saúde mental notou-se maior ajustamento pessoal e menos tempo de internação em clínicas psiquiátricas. Koening revisou extensamente os trabalhos, relacionado saúde e religião em idosos. Observou-se que: - “Evidência se acumula em apoio da visão que o compromisso religioso maduro e dedicado sob a forma de crença e atividades baseadas na tradição judaica-cristã está relacionada a maior bem-estar e menores níveis de depressão e ansiedade”. - Esses trabalhos operacionalizaram religiões como atividade religiosa organizacional (freqüência à igreja e a outras atividades); atividade religiosa não-organizacional (oração, leitura das Escrituras, participação de programas religiosos na televisão ou no rádio); rituais religiosos (sacramentos, leis sobre dieta, modo de se vestir) e crenças religiosas, religiosidade intrínseca e força do compromisso religioso. Ainda, enfatizaram o uso de qualquer uma dessas formas de expressão religiosa como ajuda para enfrentar o estresse psicológico. - Freqüência à igreja correlaciona-se de maneira consistente com ajustamento pessoal, felicidade ou satisfação na vida, bem-estar, menor taxa de suicídio, menos sintomas depressivos, menor ansiedade em relação à morte e melhor adaptação a períodos de luto, em idosos que estão morando tanto na comunidade como em instituição. - O envolvimento na comunidade religiosa provê companhia e amigos de idade parecida e com os mesmos interesses; um ambiente que fornece apoio para amortecer mudanças estressantes na vida; uma atmosfera de aceitação, esperança e perdão; uma fonte prática de assistência, quando necessário; uma visão comum do mundo e uma filosofia de vida. - Estudos procuram controlar freqüência a cultos, uma vez que, entre idosos, isso pode ser importante viés, pois freqüenta quem tem boa saúde física, e boa saúde física relaciona-se sempre positivamente com bem-esta. Assim, freqüência a serviços religiosos pode ser apenas um sinal d boa saúde física e nada ter que ver com boa saúde mental. Mesmo quando isso é controlado, a relação entre freqüência a cultos e saúde mental se mantém. Outra área em que a religião é importante é o tratamento da dependência de álcool e drogas. Duas são as explicações para o efeito da religião sobre a supressão do uso de substâncias: a função de controle social que a religião exerce, desencorajando desvios, delinqüência e comportamento autodestrutivos, e o desenvolvimento de recursos pessoais (sucesso acadêmicos, valores pró-sociais, competência social) e ambiente positivos ( harmonia famíliar, comunicação pais-filhos, apoio dos pais,
apoio de outros adultos). O papel da religião contra o uso de substâncias tóxicas relaciona-se também ao grau em que essas normas se sobrepõem ou são contrárias às normas culturais. Ou seja, a religião tem maior efeito quando há diferentes opiniões na sociedade sobre o uso da substância em questão; e menor efeito, se houver acordo com outros mecanismos de controle social desencorajando o uso. Não se sabe como a religião promove os recursos pessoais e sociais que agem na prevenção. O exemplo mais bem sucedido do papel da religião é o movimento internacional dos Alcoolatas Anônimos, que surgiu inspirado por uma reunião de reavivamento, nela se baseando para estruturar sua organização e princípios. Os AA e outros grupos de auto-ajuda com freqüência iniciam ou encerram suas reuniões com a bela oração de Reinhold Niebuhr: “Senhor, dê-me a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem de mudar aquilo que posso, e a sabedoria para saber a diferença”. O décimo primeiro passo dos AA diz: “Procuramos através da oração e meditação melhorar nosso contato consciente com Deus, como quer que o entendamos, orando somente pelo conhecimento da sua vontade para nós e pelo poder de levá-la adiante”. Os outros princípios procuram ajudar a pessoa na sua grande luta espiritual para sobrepujar a força do alcoolismo e outros vícios. Importante é que, apesar da extensa literatura disponível acerca do papel da religião no uso de substâncias, esses trabalhos não estão presentes nas principais revisões sobre o assunto, tendo, portanto, pouca influência no estabelecimento de políticas sociais, planejamento comunitário ou desenvolvimento de programas. Esse esquecimento irresponsável tem de ser sanado. Religiosidade intrínseca e compromisso religioso Allport estudou dois tipos de religiosidade: a intrínseca e a extrínseca. Na religiosidade intrínseca a pessoa realmente acredita e procura viver sua fé. Ela é o princípio motor de sua vida. Na extrínseca, a religião é um meio para atingir outros fins. Por exemplo, uma conversão com finalidade de casamento, freqüência ao serviço religioso por status e porque é bom para os negócios. Betson e Ventis acrescentaram um terceiro tipo, que é a religião do “tipo busca”. A religiosidade intrínseca correlaciona-se sistematicamente com saúde mental. A religiosidade extrínseca é aquela que dá um mau nome à religião, pois logo nos lembra a intolerância e preconceitos. Uma boa medida indireta da religiosidade intrínseca é o compromisso religioso, a freqüência com que a pessoa pratica os rituais de sua religião (oração, serviço religiosos, literatura, hora devocional etc.). Gartner e colaboradores analisaram cerca de 200 artigos recentes, e concluíram que o compromisso religioso tem uma relação positiva com a saúde física, bem-estar, prognóstico de doença, satisfação conjugal, diminuição da mortalidade, menores índices de suicídio, uso de drogas, uso de álcool, delinqüência, depressão e divórcio. Essas descobertas pesquisadas sistematicamente mostram que Pfister e Paul Tournier estavam certos, e foram sua coragem e sua integridade intelectual que permitiram que pudéssemos fazer as afirmações acima com tanta segurança. Francisco Lotufo Neto é médico psiquiatra membro do Corpo de Psicólogos e Psiauiatras Cristão e professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Dicas de Saúde Micoses superficiais O que são? As micoses superficiais são doenças causadas por fungos e microorganismos popularmente conhecidos como “bolores” que podem atingir a pele, as unhas e o couro cabeludo das pessoas, independente de idade e sexo. Quais são os principais sintomas?
Na pele: vermelhidão local, descamação e coceira. Alguns tipos de micose tornam a pele local esbranquiçada e descamativa, em forma de moedas. No couro cabeludo: coceira e eventualmente descamação e queda dos fios de cabelo, que se quebram próximo à raiz; Nas unhas: surgimento de lesões típicas que deformam, descamam e provocam o escurecimento das unhas; Como prevenir? * Após o banho, secar bem a região entre os dedos dos pés e dobras do corpo; * Evitar o uso de sapatos fechado, de material sintético, principalmente no verão; * Usar meias limpas e secas e talco nos pés; * Em caso de micoses do couro cabeludo, uma boa higiene previne a doença. Como Tratar? O tratamento é feito à base de remédios que podem ser tomados por via oral o9u por uso externo, em forma de loções, cremes ou pós, aplicados nas áreas afetadas. Nas micoses de pele, o tratamento com técnicas comuns conhecidas do lugar, é suficiente e em geral dura pouco tempo. Já para as micoses de unhas e do couro cabeludo, é preciso de persistência, pois o tratamento é longo e em geral tem a duração de até seis meses ou mais, sendo necessário associar o tratamento comum, é importante utilizar medicamentos químicos ingeridos pela boca. Importante: Sempre que aparecer uma lesão de pele, procure seu médico. Não se utilize de medicamentos ou materiais indicados por amigos. A auto-medicação nestas circunstâncias pode ser perigosa.