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40 DICAS PRÁTICAS PARA AGENTES E VOLUNTÁRIOS DA PASTORAL DA SAÚDE JOSÉ PAULO ARRUDA OLIVEIRA Estas são algumas pistas de ação pastoral colhidas ao longo de 17 anos de atividade na Pastoral da Saúde no Hospital das Clínicas da FMUSP - SP e no Hospital de Base cidade de Bauru. São também frutos dos cursos ministrados pelo ICAPS (Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde) Brasil afora, que agora quero partilhar com aqueles que atuam na área da saúde. Agradeço aos Padres Camilianos, sobretudo aos Capelães do Hospital das Clínicas da FMUSP que sempre estimularam e apostaram na capacidade do leigo em desenvolver atividades Pastorais com comprometimento e liberdade. Agradecimentos calorosos aos inúmeros agentes que compartilharam nestes anos dificuldades, alegrias, estímulos e sobretudo confiança. PASTORAL HOSPITALAR 1- A apresentação visual é muito importante, trajar-se com sobriedade, usar sempre um guarda-pó ou jaleco limpo e o crachá bem à vista para que a pessoa visitada saiba seu nome, sua Paróquia etc. ... 2- Inicie seu trabalho sempre na Capela do Hospital, nos dias marcados pela Capelania para você e seus colegas. Coloque-se em oração, peça, suplique pelo sucesso de suas visitas. 3- Nunca se esqueça: Não é você que está fazendo a visita, mas sua comunidade, a sua Igreja; sua responsabilidade vai muito além daquilo que imagina. 4- Dirija-se ao seu setor. Apresente-se no Posto de Enfermagem, cumprimente os profissionais; se você não é pessoa conhecida, apresente-se, identifique-se. Pergunte sobre os pacientes que na ótica deles precisariam de sua presença. 5- Quando adentrar no quarto ou enfermaria, cumprimente a todos coletivamente, depois dirija-se à pessoa sujeito de sua visita. Nunca sente na cama, cumprimente com delicadeza, segure as mãos, se não puder, a testa etc. . 6- Pergunte como vai, procure saber de suas expectativas. Pergunte quem o está visitando, seus familiares, amigos, etc... A maior parte do seu tempo com ele, procure escutar, esta é a chave do seu colóquio. 7- Seja sacramental e não sacramentalista. Procure testemunhar Deus, sua fé na sua visita, no dialogo, e nunca seja um mercador de sacramentos. 8- Leve sempre alguma coisa com você: mensagens, folhetos dominicais, revistas cristãs, terços, etc. .. Os pacientes gostam de ler e isso ajuda a quebrar barreiras para dialogo. 9- Se o paciente não quiser prolongar ou nem mesmo dialogar, não seja insistente, são fazes especiais que ele está passando; dirija-se a outra pessoa. Volte outro dia, será mais produtivo. 10- Se o diálogo se prolongar, o paciente desejar falar, escute-o com atenção, olhando sempre para ele, sorria quando precisar. Nunca conteste opiniões, crenças, mesmo que sejam amenidades, futebol, etc. ...


11- Quando o assunto se direcionar à religião, ouça sempre em primeiro lugar o ponto de vista dele, respeite sempre sua religiosidade, devoções etc. ... Depois conduza a conversa para a oração, ore com ele. 12- Sacramento é algo muito sério, comunitário. Qualquer deles, significa compromisso seu, do paciente e da comunidade. Se ele pedir? Converse e discretamente pergunte o porquê do desejo de recebê-lo. Anote e avise a Capelania; o Padre ou o ministro providenciarão. 13- Terminadas as visitas, dirija-se novamente ao Posto de Enfermagem, despeça-se gentilmente, deseje um bom trabalho, se tiver tempo troque algumas palavras, faça amizade. É importante. 14- Se você for conduzir pacientes à missa na Capela ou a qualquer outro lugar, consulte o Posto de Enfermagem e acompanhe primeiro aqueles que podem andar, todos juntos; leve-os e depois traga-os de volta às suas enfermarias ou quartos. Aqueles que precisarem de maca ou cadeira de rodas solicite-as no Posto. Verifique se a Santa Missa coincide com o horário da visita médica ou da medicação. 15- Procure sempre qualidade em suas visitas. Não se preocupe com quantidade. Se for preciso fique o período todo de sua visita com uma só pessoa, não se preocupe, valerá a pena. 16- Prepare-se para o Não. Você ouvirá muitos: não quero, não preciso, não gosto da sua religião, não quero visitas hoje, não estou com vontade de ir a missa. Não se sinta desprestigiado, isto é comum, seja perseverante e transforme o não em sim! Como? 17- Com paciência, com elegância, com educação, com sorriso, com afetuosidade, com alegria, com espontaneidade; mostre-se, seja você, seguro da sua fé, seguro que Cristo o acompanha, seguro que sua Comunidade o apoia, seguro que seu Capelão o estimulará, seguro da esperança que você evangeliza com renovado ardor missionário! MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS 18- Se você for Ministro Extraordinário da Eucaristia siga algumas regras do Manual; há material farto sobre o tema e formas de se conduzir. Só ofereço dois tópicos: 19- Você é o portador, o mensageiro do Cristo Vivo, sinal de esperança, não tente substituir o sacerdote presidindo um rito, mas seja o interlocutor e portador do Pão Vivo. Seja discreto nas perguntas; transforme a doença, o sofrimento em oferta viva ao Pai junto com Cristo. Ofereça a teca para ele segurar, sentir, tocar. Ore junto, peça junto, partilhe você seus sentimentos também. 20- No momento do “Senhor eu não sou digno” diga sempre palavra de esperança. Eu sempre digo assim: Meu irmão, eis o Cordeiro de Deus, aquele que nos livra do pecado, aquele que nos aliviará de nossas dores, aquele que ilumina a competência dos Médicos, aquele que dá amor e carinho aos enfermeiros(as), aquele que nos dá Paz. Responda junto: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, dizei uma só palavra e estarei salvo. 21- Ofereça então o Pão Vivo, dizendo: Eis o Corpo de Cristo, que ele entre em seu coração, lhe conceda tudo aquilo que você pedir. Ele responderá: Amém! PASTORAL DOMICILIAR


22- Comece sempre na sua igreja seu tempo de visitas. Saia com o roteiro já prédeterminado. 23- Aguarde seus companheiros na Igreja, dirijam-se ao Sacrário, coloquem-se em oração! Supliquem pelas pessoas a serem visitadas e por vocês mesmos. 24- Agende sempre com antecedência suas visitas. Certifique-se do horário mais oportuno. Há horários próprios e impróprios, consulte sempre os acompanhantes e ou responsáveis. 25- Nunca saia de sua Paróquia sozinho para as visitas. O ideal seria duas pessoas. Este detalhe é de muita importância. Por que? Na maioria das vezes a visita não será tanto para a pessoa enferma, mas sim para seus acompanhantes, que deverão estar (sempre estão) extenuados, cuidando do enfermo. 26- Chegando no local, adentre sem reparar no ambiente, se está em ordem ou não. Há um ditado que diz: não filmem, sejam discretos, não perguntem sobre medicação, gravidade da moléstia etc... Esperem que eles se manifestem. 27- Só uma pessoa deverá se ocupar com o enfermo; a outra deverá estar com o acompanhante. Se tiver liberdade, ofereça-se para uma ajuda: arrumar cozinha, lavar uma roupa etc... Maria quando esteve com Isabel foi para servir... faça isso! 28- Geralmente os enfermos domiciliares são portadores de doenças crônicas e ou incuráveis, há muita impaciência, revolta e desesperança. Os resultados da visita são mais demorados. Leva tempo para obtermos uma relação de confiança. Paciência é requisito indispensável para o agente. 29- Não é você que visita. É sua Comunidade Paroquial. Dessa forma, comprometa-se com eles, anote datas importantes, tais como aniversários, formatura. Transmita todos os dados possíveis ao seu coordenador. 30- Seja sacramental e não sacramentalista. Há uma tentação imensa, de nós leigos, oferecermos sacramentos. Sobretudo no que se refere a Confissões: sempre sabemos alguma coisa, é fácil ser Juizes. Espere o momento adequado e converse com seus coordenadores sobre isto. Só a partir daí solicite a visita do seu pároco e ou do ministro. 31- Leve sempre uma leitura, com mensagens, folhetos da missa dominical, revistas, etc... 32- Se você perceber que o enfermo ou acompanhante não se abre não vai com sua cara: não desanime, seja humilde e peça para trocar com outro voluntário(a). Empatia nas visitas domiciliares é fundamental. 33- Se houver clima, ore com eles; do contrário não seja insistente. Veja se não é você que quer rezar, quer ler, quer impor sua vontade! 34- Seu objetivo é o doente, nunca a doença, a aparência. A pessoa é o sujeito de sua visita! 35- Quando seus pacientes estiverem em fase terminal, acompanhe-os mais vezes do que o normal. Se for oportuno, explique o Sacramento da Unção com clareza e objetividade. Há ainda muitas dúvidas a respeito. Não é um Sacramento de Morte, mais sim Sacramento de Vida. 36- Quando houver óbito, tome a frente, faça a Oração dos Agonizantes Se não a conhecer, procure nas livrarias m o Manual próprio. Deixe os familiares se expressarem com liberdade. Não é hora nem momento de tentar consolar, o silêncio é a sua melhor atitude. Após os primeiros momentos, procure a pessoa que lhe parecer mais indicada e coloque-se à disposição para ajudá-la no que for preciso: Avisar os parentes, acompanhar alguém para providências funerárias, avisar o Pároco etc...


37- No cuidado com os doentes é importante não esquecer da ternura humana. Como São Camilo de Lellis dizia há mais de 400 anos: DEVEMOS CUIDAR DOS DOENTES COM A MESMA DEDICAÇÃO QUE A MÃE TEM PARA COM SEU ÚNICO FILHO ENFERMO. 38- Poderia contar muitas histórias, testemunhos, situações de dificuldades; mas muitas alegrias também aconteceram nestes anos. Com certeza você as terá também: anote, faça sua história, respeitando sempre a confidência e a privacidade a que o doente tem direito. 39- Se hoje consigo explicitar estas dicas, devo-as aos enfermos que tive o privilégio de conhecer servindo e que são os responsáveis pela fé que tenho. A vivência da solidariedade no mundo do sofrimento provoca verdadeiros milagres no sentido de resgatar a esperança da Ressurreição. Seja solidário e verá milagres acontecer. 40- O que me faz perseverar é simplesmente acreditar. Eu acredito naquilo que faço e quando faço como Igreja, consciente que ela é santa e pecadora e onde as coisas acontecem com naturalidade, a inspiração, a palavra certa, a humildade que vem do coração, eu sinto que Jesus está comigo, o meu padroeiro e intercessor São Camilo está sempre atento, sempre, fonte de inspiração a me conduzir. Persevere, seja insistente; no inicio é apostolado, depois acaba sendo convicção! Creio naquilo que Camilo de Lellis disse há mais de 400 anos atrás: FELIZ DAQUELE QUE RECEBER UM OLHAR, UM SORRISO, UM OBRIGADO DE UM ENFERMO, JÁ TERÁ O REINO DOS CÉUS. José Paulo Arruda de Oliveira é Agente de Pastoral na cidade de Bauru - SP

CAMILIANOS CELEBRAM 450 ANOS DO NASCIMENTO DE SÃO CAMILO No dia 07 de abril, Dia Mundial da Saúde, das 14:00 às 16:30 os Religiosos Camilianos festejaram os 450 anos do nascimento de São Camilo de Léllis, fundador da Ordem dos Ministros dos Enfermos. Na verdade, o dia do nascimento de São Camilo é 25 de maio de 1550. Porém, a festa foi antecipada para coincidir com o Dia Mundial da Saúde. A solenidade contou com a presença do Superior Geral da Ordem, Pe. Ângelo Brusco, D. Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, que presidiu a santa missa, com a presença dos Religiosos Camilianos (as), funcionários de nossas instituição e leigos, totalizando mais de 450 pessoas. No início, foram apresentadas as diferentes atividades da Província Camiliana Brasileira a saber: Ministério, formação, educação e assistência hospitalar. O Padre Anísio Baldessin, diretor do ICAPS e responsável pelo ministério da Pastoral da Saúde, apresentou ao público a seguinte mensagem. Ao celebramos os 450 anos do nascimento de São Camilo de Léllis, devemos lembrar que o ideal desse grande santo era cuidar dos doentes e promover a saúde.


A formação técnica que Camilo tinha há 450 anos não eqüivaleria àquela de um atendente de enfermagem em nossos dias. Formação esta que, hoje certamente, contribuiria muito pouco no atendimento terapêutico aos doentes. Porém, há 450 anos, muito mais do que manuzear máquinas, os profissionais precisavam saber arrumar bem uma cama, dar banho, ou mesmo preparar um chá. Essa realidade pode nos levar a duas conclusões equivocadas: a primeira, de que não necessitamos de preparação; a segunda de que hoje não há espaço para as pessoas que são dotadas apenas de esforço e boa vontade. A verdade é que nenhuma das afirmações está correta. Pois o mesmo Camilo pedia: “Põe mais coração nas mãos, irmão”; o que hoje pode ser traduzido como amor e competência. E todos os que se propõem seguir os ideais de Camilo, devem ter presente essa realidade. Ou como disse Kurt Lewin: “Nada pode ser tão prático como uma boa teoria”. Nosso ministério pastoral exige não somente pessoas que tenham boa fé, mas que tenham uma fé boa. Que estejam dispostas a irem onde as pessoas estão, encontrá-las na situação em que elas estão e não na situação na qual nós gostaríamos que elas estivessem. Que não se deixem vencer pelos obstáculos, mas que façam dos obstáculos um desafio. Foi pensando nisso, que a Província Camiliana Brasileira criou em 1981 o Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde (ICAPS), que é responsável por todo o ministério da Pastoral da Saúde. Desde então, o ICAPS já realizou dezenove congressos brasileiros de Humanização e Pastoral da Saúde, congressos regionais e onze encontros de capelães hospitalares do Brasil. Ministrou centenas de cursos e palestras em dioceses e paróquias espalhadas pelo Brasil. Proferiu inúmeras conferências sobre Ética e Bioética em escolas e universidades. Publica mensalmente o boletim ICAPS que é um subsídio muito apreciado e usado por Bispos, Padres, Agentes e profissionais da saúde. Atende a pedido de cursos de Pastoral da Saúde, conta com uma boa bibliografia, subsídios variados, e objetos de piedade. Porém, todas essas atividades não seriam realizadas se não contássemos com o trabalho, quase anônimo e abnegado, de milhares de Agentes de Pastoral da Saúde que desenvolvem seu ministério pastoral em hospitais, paróquias e domicílios atuando nas dimensões, solidária, comunitária e polítca-institucional da Pastoral da Saúde. Portanto, todos os que se dispuserem a trabalhar no ministério pastoral deverão levar no peito não somente a cruz de São Camilo, mas também seus ideais. Que tenhamos o mesmo amor que Ele tinha para com os doentes. Amor esse inspirado no Bom Samaritano. Pois quem tem amor, sabe o que fazer, como fazer e não tem dificuldade em descobrir a quem deve fazer. Que nós possamos cumprir as leis e os ideais de São Camilo, não simplesmente por obrigação e sim por amor. Pois todos os que amam cumprem a lei, mas nem todos os que cumprem a lei são capazes de amar. Anísio Baldessin é padre camiliano capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP


Dicas de Saúde Emoções em torno da febre amarela VICENTE AMATO NETO e JACYR PASTERNAK A febre amarela é uma doença causada por determinado tipo de vírus. Está situada no grupo das febres hemorrágicas como a doença ocasionada pelo Ebola, a dengue, as arenviroses e as hantaviroses. O microorganismo responsável pela enfermidade é transmitido às pessoas suscetíveis por meio de mosquitos do gênero Haemagogus, em áreas silvestres, e pelo Aedes Aegypti, nas regiões urbanas. Disso derivam as duas modalidade da moléstia: silvestre e urbana. A silvestre continua ocorrendo, ocasionalmente, enquanto que a urbana não acontecia no Brasil desde 1942. Esse controle significou expressivo sucesso no âmbito da Saúde Pública, merecendo idêntico elogio a erradicação do Aedes Aegypti do território nacional, categoricamente consumada. Agora, a febre amarela e o citado vetor estão muito em foco, gerando preocupações e emoções. Por isso, pareceu-nos oportuno um comentário a esse respeito. 1) O Aedes Aegypti retornou e com ele, a dengue. Houve descuido? É viável atribuir à culpa à incompetência? A volta era inevitável? Cremos que não vale a pena enveredar por especulações, mas de qualquer maneira a impropriedade surgiu, suscitando uma emoção inicial. 2) Logicamente, tornou-se necessário programar o combate ao renitente mosquito. Sabemos que foi elaborado um plano de luta, do qual devem obrigatoriamente participar suficientes recursos materiais e humanos, envolvendo ações municipais objetivas e permanentes, com a cooperação da comunidade, somando-se a tudo isso medidas adequadas a cargo de países vizinhos. Constatou-se sucesso parcial mas a presença do Aedes Aegypti persiste, dando suporte à dengue e favorecendo o temido reaparecimento da febre amarela urbana. Nova emoção, portanto. 3) Eliminar totalmente o “bichinho” voador, caracterizando erradicação, afigurou-se muito improvável. Assim sendo, impedir o ressurgimento da febre amarela urbana passou a depender de ampla vacinação, praticada por meio de imunizante barato, eficiente e produzido aqui. Essa tática, aprovada, encontra-se em execução e almejamos que atinja o resultado esperado pelos idealizadores. Enfrentar decididamente o voraz sugador coibiria, concomitantemente, a dengue e o reaparecimento da febre amarela urbana. Não obstante, deu-se preferência a outra tática. 4) Habitualmente não são divulgados os acometimentos da modalidade silvestre. De repente, após diagnósticos estabelecidos em determinadas metrópoles, os meios de comunicação relataram amplamente o ocorrido. Esses casos estão sendo mais comuns? Há melhor confirmação etiológica em certos lugares? Os relatos têm nexo com eventual ressurgimento da forma urbana? Independentemente de cogitações, muitos cidadãos chegam a antever junção do vírus com mosquito, propiciando eventual propagação da infecção amarílica em áreas não silvestres.


5) Se vier a febre amarela urbana, os economistas “freezers”, que subjugam os defensores de justas atenções para com a Saúde Pública, desfalecerão, emocionados, e talvez despenquem. Convenhamos: certos compartimentos merecem dignidade e respeito. Todavia não sejamos pessimistas. Personagem sobrenatural, supremo, poderoso e confiável é brasileiro, conforme costumamos afirmar. Sem dúvida, neste momento Ele deve demonstrar essa condição. Vicente Amato Neto é médico infectologista e Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Jacyr Pasternak é médico infectologista e Doutor em medicina pela Universidade Estadual de Campinas.

ENFERMEIRA: QUEM SERVE POR AMOR, NÃO VÊ O TEMPO PASSAR. INAIÁ MONTEIRO MELO Parece que foi ontem, Que cheguei... Cheia de sonhos e projetos E a eles me entreguei... Minha missão? Cuidar de gente... Corpo, alma, mente E até do coração... O tempo passou... E eu aqui estou, seguindo o ideal, Sem igual, De cuidar do paciente... Eu era jovem, bela E ainda o sou... Cheia de inúmeros planos E assim se foram os anos... De realização plena e verdadeira, Doando a vida inteira. O tempo passou depressa... Que pena! Mas tenho a alma serena... De quem viveu e sofreu, De quem amou, De que muito fez, De quem de gente sempre cuidou...


Quarenta anos se passaram E digo: valeu a pena... Todos os momentos, A voz do vento, Toda alegria O fim do dia, E principalmente O paciente... Estou contente! Esta foi a homenagem prestada pela enfermeira Inaiá Monteiro Melo na celebração comemorativa dos quarenta anos da diretora de enfermagem do Instituto do Coração, Líris Terezinha Caracciollo

BIOÉTICA: ATÉ ONDE PODEMOS IR? WILMA LUIZ BARTH Não passa semana sem sermos tomados de surpresa com novas descobertas na área bioética. Elas se tornaram comuns e rapidamente são assimiladas pela sociedade. Enquanto algumas demoram para chegar ao povo, outras nunca serão utilizadas por aqueles que realmente têm necessidade dela, pois, infelizmente, a cadeia pesquisa-descobertasaplicação-usuário não é tão simples. Uma coisa são as descobertas de novas técnicas e procedimentos, bem outra é elas estarem ao alcance na vida do povo e nos nossos hospitais. Ao menos nesta direção a nossa pergunta tem uma resposta certa: enquanto as descobertas servem para a saúde, a vida e o bem da pessoa humana e sua dignidade, não há limites. Por falar em limites, vale a pergunta: hoje é possível falar em limites, quando a pessoa humana, desde a infância, não aprende que há limites? Nós somos a geração da liberdade absoluta, do “tudo posso, enquanto me faz feliz e dá prazer”. Se não aceitamos e observamos as regras mais elementares, como aceitaremos outras? Do ponto de vista científico e tecnológico, é difícil precisar até onde podemos ir nas descobertas. A natureza tem limites aos quais ela mesma está sujeita e aos quais procura ser fiel. Quando ela os ultrapassa, saindo do normal, cria sérios problemas que nós muito bem conhecemos, tais como as tempestades, destruíções, defeitos físicos, alteração da cadeia natural. A natureza é sábia e nos ensina que é preciso respeitar os limites. O efeito maior é a morte! A pessoa humana, pela razão, descobre estas leis da natureza e pode desejar ultrapassá-las ou alterá-las. Mas, e os efeitos dessa alteração? Algumas conseqüências podem ser estabelecidas até mesmo antes, mas outras somente serão conhecidas depois, quando já pode ser tarde demais. A razão humana pode muito e, aliada ao tempo e à tecnologia, vai conhecendo sempre mais. Procedimentos médicos, cirúrgicos e muitos outros, considerados de “fronteira da vida humana”, até há pouco tempo eram tidos como irrealizáveis. Hoje já são uma realidade. Outros, que sequer imaginamos, certamente serão conhecidos um dia. Para a técnica e a razão científica não há limites, isto é, elas podem descobrir sempre mais.


Quando Deus criou a pessoa humana, disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a”. Havia algum limite nisto? Acredito que não. A Bíblia fala que “tudo era bom” mas traz um alerta: “Podeis comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do Bem e do Mal não comereis, porque no dia em que dela comerdes, havereis de morrer”( Gn 2,17). A conseqüência para a humanidade por ultrapassar este limite é conhecido por todos nós. A Bíblia termina este relato dizendo que Adão e Eva foram expulsos do paraíso. Podemos reafirmar um conhecimento ditado: “Embora tudo seja tecnicamente possível, nem tudo é eticamente realizável”. E, por isso, se afirma que por trás de boa técnica humana, se esconde uma realidade ética, moral. Há um limite para a ciência técnica e biológica. Sim, existe. Não do ponto de vista científico, mas do ponto de vista ético. E é certamente aqui que reside o problema. Nos últimos anos a técnica avançou livremente, enquanto a reflexão ética, filosófica, religiosa e social ficou estagnada. As “duas asas” da pessoa humana se desequilibraram e, a continuar desta forma, nos poderão levar à queda fatal. O trabalho todo consiste em reequilibrar a técnica e a ciência com a ética. Só que aí nos deparamos com dificuldades. Existem sempre aqueles “espertinhos” que querem fama e dinheiro e por causa disto não aceitam limites. Existem cientistas que, numa compreensão errada de sua missão, simplesmente entendem não haver limites para a ciência e, em nome do bem, entendem ser tudo lícito. Existem também empresas que, devido ao fator econômico, vêem nesta área uma grande possibilidade de lucro e, onde o lucro manda, não há limites. Existem também países, como aqueles que patrocinam o “Projeto Genoma Humano”, interessados em patentear as descobertas e apoderar-se da genética humana para, no fundo, continuar mantendo a hegemonia sobre os outros. Voltamos ao velho problema: onde os interesses mandam, não há limites! Enquanto não abrimos mão de outros interesses e buscarmos somente o bem da pessoa humana, continuaremos nesta problemática. Há algumas urgências a serem desenvolvidas: buscar maturar um forte sentido crítico diante da ciência, buscar uma mobilização geral das consciências e um esforço ético comum, construir juntos uma nova cultura da vida humana, lutando por formar a consciência moral. Essa tarefa deve ser individual como também social. Considero que os governos e a sociedade devem criar e apoiar os diversos “Comitês Éticos” nesta área, que acompanhem, orientem e avaliem todos os passos da ciência e as novas técnicas.

Padre e professor de Bioética na Pont. Universidade Católica do Rio Grande do Sul ( PUCRS).

A

oração

um modo de amar; um modo de ouvir; um modo de falar um modo de deixar o coração ao outro; um modo de deixar o outro entrar em nossa vida; um modo de entregar a liberdade, na liberdade; um modo de se ocupar das coisas dos outros; um modo de olhar carinhoso;

é:


um modo de se dispor a ser presença na vida do outro; um modo de olhar o mundo com o olhar de Deus; um modo de expor nossas necessidades aos outros; um modo de esperar contra toda esperança; um modo de agir; um modo, enfim de ser simplesmente o que se é. Diante de Deus, simplesmente ser. Rezamos, toda vez que colocamos nossa verdade diante da verdade que é Deus; rezamos, toda vez que acolhemos o outro como ele é; desejamos-lhe o bem, a paz, a alegrias; e toda vez que, num gesto simples, fazemos o bem a alguém; rezamos, toda vez que nos recolhemos e ousamos entrar dentro de nosso coração, no seu mais íntimo, e descobrimos quem somos nós e deixamos de colocar nossa segurança nas coisas exteriores para a colocarmos em Deus que é íntimo a nós; rezamos, toda vez que estamos alegres pelo bem que é feito e toda vez que nos entristecemos porque o bem não está sendo feito... rezamos, toda vez que olhamos as pessoas, contemplando nelas as riquezas de seus dons; rezamos, toda vez que sentimos a alegria de sermos perdoados e compreendidos e toda vez que perdoamos, mesmo àqueles a quem gostaríamos de mostrar nosso desgosto pela ofensa recebida; rezamos, quando assumimos de corpo e alma ajudar os outros, mesmo sabendo que nossa ajuda é pequena e limitada, acreditando, contudo, em que esta pequena ajuda é assumida pela grande ajuda de Deus; rezamos, quando valorizamos a vida como um dom que só terá sentido quando ela é entregue para que os outros vivam mais; rezamos o próprio fracasso, pois este nos revela a nossa limitação e nos torna mais humildes e, portanto, mais verdadeiros; reza-se com o olhar; reza-se com as mãos; reza-se com o corpo; reza-se com os pés! Rezamos, quando através da admiração das pesquisas da inteligência humana, admiramos um Deus que colocou no homem a capacidade das descobertas científicas; rezamos, quando admiramos a fortaleza de uma mãe e de um pai que são capazes de todo sacrifício para o bem do filho. Reza-se... Reza-se sempre porque a vida é uma oração. Se a vida é uma oração, é um dom de Deus e todo dom é objeto de oração, admiração, agradecimento. Só nos resta um caminho: Educarmo-nos. Educar nosso olhar, para que seja puro; educar nossos sentimentos, para “sentir e saborear as coisas interiormente”; educar nossos desejos, para que desejemos sempre o bem; educar nosso corpo, para que seja “sinal” de uma interioridade muito bela e profunda. Nelson Carloni.



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