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O AGENTE DE PASTORAL DA SAÚDE E OS MECANISMOS DE DEFESA OLACIR GERALDO AGNOLIN Auto-estima elevada é necessária para a harmonia psíquica. Dela dependem vários fatores, tais como a maior ou menor capacidade de sustentar determinados papéis tanto no âmbito familiar como no social, o grau de autonomia pessoal, a eficiência e eficácia nos empreendimentos quotidianos, a boa capacidade relacional. Acontece que diariamente deparamos com situações que ameaçam nossa auto-estima. Uma iniciativa que vai mal, uma humilhação recebida, perder o emprego, não conseguir usufruir dos direitos de cidadão. Nessas situações freqüentemente surge o sentimento de impotência, fragilidade, não se sentir amado e, como conseqüência, a auto-estima decresce. Ativar os mecanismos de defesa é a forma encontrada pelo ego para tentar recuperar a auto-estima perdida. Indica um processo mental habitual inconsciente e às vezes patológico utilizado pelo indivíduo para enfrentar a realidade exterior ou interna. Em menor ou maior grau todos nós fazemos uso deles. A utilização muito intensa, prolongada e generalizada dos mecanismos de defesa é que caracteriza a patologia, pois afasta o indivíduo da realidade objetiva deixando-o cego diante dos outros recursos do mundo objetivo e subjetivo de que poderia utiliza-se. Todos têm características comuns: a) Negam, falsificam ou deformam a realidade interna e externa. b) São automáticos e não atos deliberados. c) Agem no inconsciente, de modo que o indivíduo não tem consciência do que acontece. Os mecanismos de defesa são numerosos. A seguir, descrevo apenas alguns mais utilizados e conhecidos. Um estudo mais aprofundado pode ser encontrado no livro Os mecanismos de defesa de Ego, de Ana Freud. Quem deseja uma visão geral mais sintética pode recorrer ao Compêndio de Psiquiatria de H. I. Kaplan e B. J. Sadock. NEGAÇÃO: por meio deste mecanismo o indivíduo não toma conhecimento de algum aspecto da realidade ou de si mesmo que lhe seja penoso ou provoque angústia. É um mecanismo reação à descoberta de uma doença grave. PROJEÇÃO: o impulso inaceitável da própria pessoa e vivenciado como pertencente a outra pessoa. Quando projeto não condigo perceber minha limitação e a vejo no outro. O erro está sempre no outro. Quando consigo percebê-lo em mim, é porque o outro me induziu. É uma defesa que também age em nível social. Está na base do fenômeno do bode espiatório, sobre quem se jogam responsabilidades, erros, culpas e imaturidade pessoal. PENSAMENTO MÁGICO: é a perpetuação da lógica infantil no adulto. Para a criança há uma interação dieta entre pensamento e evento. Para o adulto que se guia por essa lógica, pensar é igual a fazer. Pode-se modificar a realidade apenas pensando nela sem uma ação física intermediaria e adequada. A publicidade trabalha bastante com esse esquema: para ter prestígio e sucesso basta ter um carro de luxo, usar roupas de marca. Para sentir o irresistível sabor de liberdade basta fumar o cigarro X. As soluções mágicas se fazem presentes geralmente quando nos sentimos incapazes diante da realidade. Quem já não se sentiu tentado a deixar de tomar uma decisão importante na esperança de que tempo resolva tudo? Nem sempre o tempo sozinho é o senhor da razão.

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FORMAÇÃO REATIVA: quando esta defesa é ativada a pessoa pensa, sente e faz exatamente o contrário do que instintivamente pensaria, sentiria e faria. O comportamento manifesto é correto, mas não apoiado em convicções. Assim, quando há excesso de puritanismo dogmatismo exacerbado, gentileza extrema, podemos pensar que, no fundo, bem no fundo, o sentimento é exatamente o oposto. A formação reativa geralmente é reconhecida no excesso. RACIONALIZAÇÃO: Allport, em seu livro psicologia da Personalidade, nos diz que “o raciocínio descobre as verdadeiras razões de nosso comportamento, a racionalização descobre as boas razões para aquilo que fazemos”. Entendemos por racionalização a produção de razões plausíveis, embora falsas, para uma ação, a fim de afastar seus verdadeiros motivos. Preciso participar de um encontro que considero chato? Se moro em São Paulo o trânsito é sempre uma boa desculpa para chegar no final. A racionalização não busca a verdade, mas a autodefesa, e quem racionaliza é incapaz de ver as razões contrárias que poderiam destruir a conclusão para ele intocável. REPRESSÃO: é a exclusão da consciência de tudo o que provoca ansiedade, do que é contrário às tendências dominantes da personalidade consciente, desejos, fantasias, recordações, emoções. O que é reprimido passa a ser esquecido como se não existisse. Porém, fica esperando o momento oportuno para vir à tona de algum jeito e geralmente volta sob a forma de sintoma. Como salientei no início, a lista dos mecanismos de defesa é bem mais extensa. E cada mecanismo em particular exigiria um aprofundamento mais acurado. Do que foi dito, creio ter ficado claro que as defesas alteram a percepção da realidade externa e interna, escondem impulsos e desejos inaceitáveis ,levam a pessoa a assumir comportamentos e convicções, às vezes, contrários aos originais. Condicionam a pessoa e tolhem a sua liberdade. Por isso o autoconhecimento é de suma importância. Quanto mais nos conhecermos mais livre será nosso comportamento e poderemos agir de modo mais coerente e autêntico. TEOLOGIA DA MOTE E AFLIÇÃO JEAN ANNE ZAPPA No lapso dos últimos seis anos perdi meus pais para a morte. E dessa maneira experimentei dois tipos de aflição. Com a prolongada doença do meu pai experimentei muita aflição antecipada; com a morte repentina e inesperada de minha mãe, de certa forma a aflição foi protelada como conseqüência do abalo. Desejava canalizar minha aflição de algum modo, par assim ajudar os outros. Sendo professora de religião na escola secundária, tornei-me sensível àqueles estudantes que também estavam aflitos. Decidi iniciar um grupo de apoio para ajudar os estudantes a administrarem seus aflições. O que segue é um intento de articular a teologia da morte e aflição a partir do ponto de vista da doutrina e da Sagrada Escritura, integrando leituras, minha própria fé cristã, minhas experiências pessoais com a morte dos meus pais e o processo de aflição pelo qual passei. Há um tempo estabelecido para tudo, um tempo para cada coisa sob o céu. Um tempo para nasce, um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para desarraigar a planta. Um tempo para matar e um tempo para curar... Um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para lamentar e um tempo para dançar;... um tempo para procurar e um tempo para perder; um tempo para

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guardar e um tempo para desperdiça; um tempo para ficar e, silencia e um tempo para falar; um tempo par amar. ( Si 3; 1-7). O autor do Eclesiastes expressa sentimentos básicos que falam a respeito das experiências da morte de um ser querido e do processo de aflição subseqüente. Todas essas experiências são aqui enunciadas como o ciclo e ritmo da vida. Mas, se todos esse são elementos do fluir natural da vida, porque as vezes a experiência da morte é tão dolorosa, tão difícil e tão dolorosa, tão difícil e tão triste? Como Ed Farley escreve no seu artigo “Dimensões da Morte na Vida da é”, a morte é uma realidade aceita pela nossa é cristã, porém também age como fator de transição que nos leva a aspectos mais profundos da vida. Nossa própria morte acaba com nossa fraqueza e com as limitações que nos impedem de receber plenamente o amor do Senhor. A morte é uma transição que nos transporta além dessa vida limitada e nos introduz na plenitude de Deus. Resistimos à morte, em parte, por causa de nossa fraqueza, porque gostamos de ter o controle e a morte interfere abruptamente em nossa vida. Como pessoas fracas desejamos aferrar-nos; tememos, porque uma vez ou outra já temos experimentado alienação e solidão nesta vida e equacionamos essas mesmas experiências com a morte. Todavia, nossa é cristã proclama que a morte foi derrotada pelo pacto do ato amoroso de Deus através da morte e ressurreição de Jesus. A ressurreição de Jesus nos diz que há algo mais após a morte. Nossa fraqueza causa medo; nossa fidelidade à promessa da nova vida nos permite entrar numa nova e plena compreensão do Senhor. A mesma ambigüidade também é válida quando experimentamos a perda de um ser querido. Ficamos diante do desafio de nossa crença cristã que nos permite entrar numa maior e total relação com o/a falecido/a através do Senhor. Citando Karl Rahner, em Morte e Ministério: “A morte é o fim da agonia e o início da vida definitiva”. O enlutado precisa descobrir formas criativas de continuar a permanecer em contato coma aquele cuja vida é agora mais completa e mais livre do que a nossa. As reações emocionais, físicas e psicológicas e a respostas à experiência da morte podem ser esmagadoras para quem guarda luto. O ministério da graça e nossa é cristã nos permitem lutar com esses sentimentos e reações – se estivermos abertos a Deus – e trabalhar conosco. Nossa fé não nos fornece uma formula mágica para erradicar esses sentimentos, porém, certamente nos sustenta enquanto procuramos encontrar algum sentido para a nossa dor e aflição. Nossa fé nos oferece um sentido de esperança e paz no meio de nossa dor e sofrimento. Nossa fé não e um substituto do processo de aflição, porém, ele media entre o processo de aflição para um sentido maior de crescimento e vida. De acordo com Religião e Luto, a aflição é um processo natural que nos permite reagrupar nossas emoções, para assim podermos lutar com a perda e estabelecer um novo rumo na vida. Nossa fé é uma mão que nos guia, que nos permite expressar a experiência da aflição e comportar-nos em atos rituais de maneira saudável e aceitável. Uma pessoa aflita que tem fé pode ser apoiada, aceita e compreendida por outros membros da comunidade de fé que a auxiliarão a entender e controlar as emoções da aflição, para que apareça a vida e não a destruição. Devemos enfrentar a dor profunda e incisiva do processo de aflição. Não é fácil, ainda que possamos encontrar coragem para resistir à dor, sabendo que é saudável. Como São Paulo escreve em Rom. 5,3-5: “Esculpimos nossas aflições. 3


Sabemos que nossas aflições preparam para a resistência, a resistência para a virtude comprovada e a virtude comprovada para a esperança. E a esperança não nos deixará desapontados, porque o amor de Deus tem sido derramado em nossos corações por intermédio do Espírito Santo”. Isto não significa sugerir que nossa fé cristã manda não nos afligir. Nossa fé não nos pede para não demostrar aflição ou reprimi-la. Mais propriamente, nossa fé nos conforta em nossa aflição e dor, até o ponto de um dia experimentarmos novamente a esperança, se toleramos o processo de aflição. O livro Compassion tem um enunciado excelente da experiência de aflição: “A palavra compassion, significa sofrer com, ir aonde dói, adaptar-nos aos espaços da dor, compartilhar a debilidade, o medo, a confusão e a angústia. A compaixão desafia a pessoa a gritar com os que se lamentam, a chorar com eles, para partilhar a vulnerabilidade e a falta de orças”. Aqueles que se afligem anelam por alguém que caminhe com eles na dor, alguém para ouvir, para partilhar a vulnerabilidade, que os aceite como são e viaje com eles. Pode muito bem ser que, através do processo de aflição, Deus esteja pedindo, àqueles que se lamentam, que sejam compassivos consigo, que admitam e aceitem a própria vulnerabilidade, debilidade e falta de forças. Porque Deus é o Deus da compaixão. Deus não interfere e nem tira a dor, o Senhor caminha e sofre conosco, partilha a nossa debilidade, vulnerabilidade e falta de forças. Quando podemos experimentar o Deus da compaixão em nosso sofrimento, nossas defesas despedaçam-se e permitimos que o Senhor entre, porque “quando eu estou fraco, então eu sou forte”( 2 Cor 12,10). Enfrentar o processo de aflição de cabeça erguida e abraçando a experiência da aflição sem resistência, repressão ou censura, conversando com Deus, nos levará, eventualmente, a conhecer a paz e a esperança que nos são oferecidas. Sentir a dolorosa angústia da depressão, solidão, culpa, vazio e lágrimas, pode “nunca separar-nos do amor de Deus que foi derramado por nós em Jesus Cristo”(Rm 8,39). Porque Deus é um Deus de fidelidade e compaixão que vem a nós onde nós estamos – em meio de nossa dor e abatimento. Nossa fé deveria impelir-nos a perguntar-nos: Acredito no Deus que se preocupa e sofre comigo? Melhor do que perguntar-nos: por que Deus permite que eu sofra? O processo da aflição é apenas isso, um processo, algo pelo que devemos passar, que eventualmente terá fim. A duração do processo depende das causas individuais e particulares da aflição. Este conhecimento, apenas este, pode darnos esperança. Porém, mais importante, a teologia da aflição pode ser equiparada à teologia do amor. Nossa aflição e indicador certo de que havíamos prometido nosso amor a outra pessoa. Sentimos dor porque amamos. Sentimo-nos debilitados porque a pessoa que nos amava e era parte de nós se foi. Estamos vazios porque o ser querido por quem nos afligimos preenchia parte de nossa vida com um amor singular, insubstituível. A experiência da perda permanecerá conosco, mas com o passar do tempo devemos aprender a lidar com a perda de forma mais vivificante. Devemos descobrir e estar abertos a maneiras de canalizar nosso amor pelo falecido, para outros relacionamentos. Nossa energia deve ser reinvestida em novos e mais inspiradores relacionamentos, experiências e atividades. A dor da aflição, eventualmente, se deslocará de uma memória assombrada para uma meiga lembrança de amor.

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Nossa fé cristã permite nos afligir, para lembrar-nos que experimentamos a debilidade, as limitações, a vulnerabilidade da condição humana e que temos um Deus que nos acolhe e nos leva além de nós mesmos, se permitimos ao Senhor assim faz6e-lo. Em tempo, com paciência, aceitação e apoio, encontraremos as maneiras de canalizar o amor que sentíamos e dividir, até mesmo articular esse amor através de relacionamentos novos e atuais. Ao mesmo tempo, nossa é fortalece nosso relacionamento com o falecido de forma nova e mais completa através do Senhor. A teologia da aflição que estou propondo não trata de uma competição com o objetivo de testar nossa fé, é acerca da coragem em meio à dor. Trata-se de curar em meio à debilidade. É a respeito a uma nova vida em meio à morte. É a respeito de resignação, porque acreditamos em um Deus de compaixão, um Deus que sofre conosco, um Deus que nos dá esperança. Louvado seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai da misericórdia e Deus de toda consolação. Ele nos conforta em todas as aflições e, portanto, nos permite confortar aqueles que enfrentam problemas com a mesma consolação que temos recebido Dele. Assim, como compartilhado muitos dos sofrimentos de Cristo, assim, através de Cristo compartilhamos abundantemente sua consolação. ( 2 Co 1,3-5).

A Mulher na Bíblia (por abrangência as crianças e os escravos) A humanidade toda sempre se dividiu em classes: ricos e pobres, cultos e primários, sadios e doentes, livres e escravos, bem aquinhoados e favelados. Mas a grande classificação é a que divide toda a raça humana em duas metades, quase que perfeitamente iguais em número: homens e mulheres, divisão fundada num detalhe anatômico e fisiológico. Mas nunca haveria de se supor que esse detalhe (que em nada altera a essência das pessoas) pudesse determinar conseqüências tão profundas, com tanto prejuízo para uma das metades, as mulheres. Todos os povos, de todos os tempos marcaram a divisão com normas, imposições brutais, regras consuetudinárias, sempre com agravo das mulheres. Os nativos das Américas parecem ter sido uma exceção. Não sabemos dos nosso Índios da época do descobrimento que fizessem discriminação acentuada em desfavor das mulheres: Os homens caçavam e pescavam, as mulheres cuidavam das crianças, das malocas do cultivo do aipim e mandioca. O mesmo parece que se diga dos Incas do Perú e Bolívia, dos Aztecas do México e dos Peles Vermelhas dos Estados Unidos.

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Os Esquimós faziam questão que o casal tivesse filhos homens. Mas isto se explica: O habitat dos Esquimós que só oferece carne de baleias e peixes para a subsistência exige pessoas robustas para a caça desses animais, tanto mais que eles só dispõem (ou dispunham tempos atrás) de arpões e facas feitas de ossos. E para suprir equipamento tão pobre era precioso muita força física! A Bíblia, livro de Deus e da Humanidade informa bem claramente que o plano inicial de Deus era a perfeita igualdade. “Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança ... Deus criou o homem à sua imagem, criou-os macho e fêmea” Gen 1, 26-27. A mulher foi tomada do lado de Adão, expressão para significar que quem está ao meu lado é do meu status, emparelha comigo, é igual a mim. Mas logo a seguir, no ajuste de contas, vemos o homem acusar a mulher, atribuindo-lhe toda a culpa da desgraça. “A mulher que puseste ao meu lado, foi ela quem me deu do fruto e eu comi.” Gen. 3,12 Aqui começa a caminhada penosa da mulher. “Farei com que na gravidez tenhas grande sofrimento; é com dor que hás de dar à luz. Teu desejo te impelirá para teu homem e ele te dominará”. Gen. 3,16 O “ele te dominará” é de fato brutal. Eqüivale a ele te escravizará! A tarefa que cabe à mulher – a maternidade e educação dos filhos – é carga muito pesada. Logo começa a escravidão da mulher. Onde fica então o “carne da minha carne, osso dos meus ossos”? Desdobrando agora esse núcleo central, vejamos os componentes de que se constitui: a) Compleição física mais fraca; daí a expressão “sexo fraco”. É evidente que o homem se prevalece desta condição como mandão, valentão, usando mesmo a violência física como argumento de peso. Embora a Bíblia não cite agressões corporais à mulher, podemos dar de barato que era método em uso. b) Menstruação, corrimento. Todos os povos do Oriente Médio tiveram grande prevenção contra estes fenômenos! Um nojo profundo, asco da mulher nesta fase a marginalizavam a ponto de ela ser considerada infecta, contaminada. Tudo que ela tocasse também ficava contaminado, poluído! O parto era um acontecimento que encurralava a mulher para o fundo da casa: por 40 dias quando nascia um menino, por 80 quando nascia uma menina!

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c) Esterilidade, da qual só a mulher era responsável. Esta era uma das maiores angústias e tormentos da mulher: não gerar filhos! Era quase uma maldição. Sara, o grito de desespero de Raquel: dá-me um filho ou eu vou morrer! Gen 30.1. Isaac e Rebeca – não será por terem tido apenas dois filhos que são um casal tão apagado no Gênesis? Dinah, a única filha de Jacó, só é mencionada ao nascer e após ter sido deflorada por Siquém; daí desaparece do cenário para nunca mais. Voltando um pouco atrás: O Templo não estaria interessado em impor tantas impurezas às mulheres? Para se “descontaminarem”, deviam oferecer sacrifícios ou donativos ao Templo. A mulher passava metade do ano na condição de impura! Mas deve-se notar que não faltou esforço das pobres mulheres para se libertar da escravidão dos machos e de tantas impurezas. a) Maria que teve a coragem de contestar a exclusividade do profetismo do seu irmão Moisés, reclamando para si este mesmo direito! Nm. 12, 1-10 b) A mulher de Moisés, Séfora, que ralhou com ele por não ter circuncidado os filhos que já eram rapazinhos e sem mais ela mesma cumpriu o rito da Aliança. c) Raab que acolheu e escondeu, com grande risco de vida, os dois exploradores de Jericó. d) Belíssima a figura de Débora, que era juíza em Israel. O general Barac não quis ir à guerra contra Sisara, sem a companhia de Débora. Ela concordou e a derrota de Sisara foi completa. O cântico de Débora é um dos únicos em que se engrandece uma mulher. e) Rut, a moabita. f) Ester que também arriscou a própria vida para conseguir dos judeus a autorização de se defenderem do extermínio no tempo do rei Artaxerces. g) Judit, outra figura ímpar, a terceira mulher que expôs sua vida pela salvação da pátria. h) Rispa, filha de Saul, que por semanas inteiras ficou junto dos cadáveres de seus dois filhos e três sobrinhos impedindo que fossem devorados pelas fera e ultrajados pelos Gabaonitas. i) A mãe dos sete irmãos Macabeus. Poucas mulheres podem ser apontadas como exemplo de fortaleza e coragem como esta mulher .

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No livro dos Provérbios (Cap. 5, 15-19) encontramos um elogio solene, exaltado à mulher. No Cap. 31, 10-31 temos mais um verdadeiro poema à mulher virtuosa, boa dona de casa, ativa, industriosa. No livro do Sirácida (Cap. 26, 1-4 e 16-21) encontramos mais elogios à mulher. São elogios esses alegres, pomposos, solenes! Não devemos pensar porém que os livros de Judit e Ester sejam históricos. São provas de que havia um esforço sério de arrancar a mulher da sua condição de submissão, esforço para fazer conhecer seu valor, suas qualidades e direito de igualdade. Tudo não passou de uma tentativa ou campanha titânica, sem maiores resultados. O próprio Sirácida, depois de tudo quanto disse no Cap. 26, parece ter-se arrependido, porque no Cap. 42, 9-14 mostra-se angustiado, aflito, descrente da mulher, a sempre menor de idade, precisando do contínuo suporte do homem! Pode-se imaginar maior vexame do que o versículo 14. “Melhor a maldade do homem que a bondade de uma mulher”? Somente os Profetas foram vozes poderosas que se levantaram em defesa das viúvas, dos órfãos, dos estrangeiros e escravos. Os profetas eram de fato homens retos, iluminados, que assumiram sua vocação e que falaram a verdade desde o rei até o último fiel. O que pregavam era coerência entre fé e vivência, enfatizando o desajuste da teoria e da prática. Um ponto que se destacava na pregação e invectivas desses homens era conversão de mentalidade. O Deus de Israel é bom, é justo, verdadeiro e fiel. Assim deve ser o Israelita. Por isso um dos temas mais visados era a pompa do culto divorciada da vida. O discurso de crítica era pesado: O culto do Templo é para mim uma abominação; não como carne de touros, de novilhos; não preciso dessas matanças de animais. O sacrifício que aprecio é que desamarreis as cordas, que deixeis ir livres os presos, não oprimais as viúvas e órfãos, que agilizeis os processos dos tribunais, não aceiteis suborno nos despachos dos processos; justiça nos pesos, medidas e preços. Houve realmente um esforço e empenho pela libertação da opressão da violência e prepotência. Os profetas foram homens de muito moral para exigir a justiça, o direito . 8


Por isso mesmo todos eles foram trucidados, vítimas das injustiças que combatiam. Sempre houve porém um avanço na caminhada dos direitos, da libertação. Tanto mais que a imagem do Messias projetada pelos Profetas era a de um Messias justiceiro, defensor dos pequenos, libertador, inovador. A proclamação solene da nova ordem ocorreu naquele sábado na Sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque me conferiu a unção para anunciar a boa nova aos pobres. Mandou-me proclamar aos cativos a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para despedir os oprimidos em liberdade ... Hoje esta Escritura se cumpriu para vós que a ouvis.” Lc 4, 18-19 Desse dia em diante Jesus começou curar todas as hemorroíssas, todas as mulheres acurvadas há 18 anos, todas as viúvas de Naim, todas as filhas das sirofenícias, recebeu com agrado a unção das suspeitas que lhe ungiram os pés, a aclamação daquelas que gritaram “bem – aventurado o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram.” Teve um sorriso amigo e terno para as pobres viúvas que vieram com duas moedinhas de cobre – dois centavos – para desfazer o deboche dos abonados que atiravam luzentes moedas de prata na caixa do Templo. Recebeu e acolheu todas as adúlteras na iminência de serem apedrejadas. E as samaritanas – quantas samaritanas acolheu? É preciso falar de Maria Madalena? E para poder alcançar a todos com seu olhar de misericórdia e amor, subiu à montanha das Bem-aventuranças donde descortinou todos os países, com todas as hemorroíssas, com todas as suas irmãs de infortúnio, sem esquecer as viúvas dos casebres perdidos nas montanhas de Siquém 1, morrendo de miséria e de vergonha, elas e seus filhos entrevados em cima de uns trapos imundos. E aproveitando a presença de uns Camilianos que estavam ai por perto, olhou bravo para eles e deu-lhes ordens severas de abrirem seus hospitais e assistirem também essas mulheres miseráveis, envergonhadas, sub-humanas, elas e suas crianças esguedelhadas, esqueléticas.

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O milagre de Siquém, de Eça de Queiroz 9


Pe. Carlos Alberto Pigatto

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ESTRESSE: AROMATERAPIA ENFRENTA O DESAFIO! ADÃO ROBERTO DA SILVA Estresse é a nacionalização do anglicismo stress e implica em qualquer condição que ocasiona um efeito adverso ao corpo como uma frustração, uma doença ou uma disfunção. A mudança neuroendocrinológica que ocorre no corpo pode ser atribuída a fatores externos ou internos. Hans Seyle classificou o estresse em quatro etapas: 1. A etapa do alarme: Vamos supor que uma pessoa esteja passando por dificuldades financeiras. No momento em que o gerente do banco ligar para dizer que o saldo do cheque especial estourou, o hipotálamo, através do fator de libertação hipotalâmica, chamado CRF, envia uma mensagem para a glândula pituitária (mais especificamente para a adenoipófise) a fim de que ela lance na circulação sangüínea o hormônio do estresse, denominado ACTH ou adrenocorticotrofina. Este hormônio, por sua vez, desencadeia a ativação das glândulas supra-renais que liberam uma catecolamina conhecida de todos: a adreanalina. Ela prepara nosso corpo para lutar ou fugir. Só que não fazemos nem um, nem outro. Consequentemente, ocorre o aumento da pressão arterial e maior tensão muscular, fazendo com que a pessoa sinta apreensão, pânico ou até medo. Se o fator estressante for positivo (como ganhar na loteria), a pessoa sentirá uma alegria incontida. Se a situação de estresse não é algo prontamente resolvível a pessoa pode caminhar para a etapa seguinte do estresse: 2 A etapa da resistência: O córtex da glândula supra renal entra em ação nesta fase e libera um composto chamado cortisol ou hidrocortisona. Só para termos noção de como é potente este glicocorticóide, os médicos o utilizam quando fazem transplante de um órgão. O cortisol atua no timo causando a supressão do sistema imunológico. A conseqüência disso é óbvia: aumentam os processos infecciosos (por isso a pessoa estressada está mais sujeita a gripes), altera os ciclos menstruais, afeta a libido (dificilmente uma mulher estressada tem vontade de ter um relacionamento amoroso). Nesta fase também aumenta a quantidade de ácido clorídrico no estômago. Além de sentir angústia e ansiedade a pessoa corre o risco de ter doenças cérebro-cardiovasculares. Assumindo que o fator estressante não seja de curta duração, a pessoa passará então para a terceira fase do estresse, denominada de exaustão.

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3 A etapa da exaustão: Nesta fase a capacidade do organismo de liberar hormônios, leucócitos e anti-oxidante começa a ficar comprometida. A queda de energia é visível – há uma diminuição da reserva energética do rim, do fígado, do coração e do cérebro pela depleção de neurotransmissores. Ocorre inclusive uma reversão, ou seja, a adreanalina passa de um mecanismo de defesa para um mecanismo de auto-agressão (com a resposta imunológica alterada, os leucócitos deixam de reconhecer seus próprios tecidos e passam a desencadear doenças auto-imunes). Nesta fase a pessoa é um poço de irritação ambulante devido às alterações no sono e dores musculares. É o que consideramos limites para o estabelecimento da homeostase (equilíbrio) normal do corpo. Se o estresse avançar ainda mais, a pessoa entrará na quarta e última fase. 4 A fase terminal: Aqui o corpo se vê incapacitado de manter o equilíbrio. Ocorre uma incapacidade de se defender da agressão de fatores patológicos, a pessoa entra em estado de fadiga crônica, de depressão profunda, na síndrome do pânico, em apatia geral e até começa a ter idéias suicidas. Como reverter esse quadro? É aí que entra a aromaterapia com seus quatro preceitos de saúde: exercícios físicos, como caminhar que aumenta o HDL (fração boa do colesterol) e diminui os níveis de insulina no sangue, relaxamento profundo, alimentação balanceada e direcionamento correto do pensamento. Além disso, há também os óleos essenciais como de alfazema, que é neurossedativo. Ele atua na área do mesencéfalo, conferindo-lhe uma ação calmante. Este óleo, essencial quando usado em banhos, massagens, escalda-pés, aromatização ambiental ou até a própria planta num travesseiro aromático, é uma das coisas mais sedativas que há na natureza. Adão R. Silva é professor universitário

O RETORNO AO PARTO NORMAL A primeira cesariana em que mãe e filho sobreviveram só foi realizada em 1794, nos Estados Unidos. Na década de 40, a cesariana tornou-se uma cirurgia utilizada com sucesso em partos de alto risco. Atualmente, ela é tão comum que médicos e organizações de saúde estão preocupados com a substituição do parto normal pela operação cirúrgica. Nos Estados Unidos, 25% dos partos são realizados por cesariana. Segundo Ashley Hill, médicos do departamento de obstetrícia e ginecologia do Florida Hospital, a chance da mãe morrer durante uma cesariana é de 20 para cada 100 mil. “Embora este não seja um número especialmente alto, é bem superior ao do parto normal”, afirma. No Japão, a porcentagem de cesarinas é de 8% do total de partos, e no Reino Unido, 10%. Por que a diferença entre os países é tão grande? Segundo pesquisa realizada pela Universidade Brown, nos Estados Unidos , os médicos e gestantes optam pela operação porque o parto normal pode demorar mais. 12


No Brasil, um levantamento feito em 1997 pelo Sistema Único de Saúde (SUS) revelou que 36% dos bebês nasciam por cesariana. O elevado índice de cirurgias preocupou o Ministério da Saúde, que tem realizado, por meio do SUS, a campanha “Parto Normal é Natural”. Essa ação está incentivando médicos e gestantes a verem o parto normal como primeira opção para os nascimentos. O Ministério da Saúde limitou em 35% os partos cirúrgicos reembolsados pelo governo. Caso a maternidade supere esse número, terá de arcar com as despesas. Para incentivar o parto normal, o governo passou a reembolsar os analgésicos utilizados e o valor pago nesse procedimento. Em um ano o número de cesarianas caiu 4,1%. Com a campanha em andamento, já é possível verificar alguns resultados. Na região norte de Minas Gerais, a Maternidade Caldas Barbosa iniciou um programa de qualidade em assistência à gestante. Com a implementação da iniciativa, a porcentagem de cesarianas caiu de 41% para 25% em 3 anos. Esse índice, apesar de alto, é considerado aceitável, pois a Maternidade Caldas Barbosa presta assistência à mulher que apresenta gravidez de alto risco. A cesariana só se torna um bom procedimento quando há risco para mãe ou filho. Em relação ao parto normal, apresenta de 7 a 20 vezes mais possibilidade de infecções e complicações para a mãe. Em cirurgias marcadas com antecedência, a possibilidade de a mãe ter alguma hemorragia é 8 vezes maior, pois o útero não segue o curso natural dos acontecimentos. Por que é tão usada por médicos? O motivo mais alegado é o tempo de espera até o nascimento do bebê. O parto normal pode durar até 10 horas, enquanto a cesariana leva em média 40 minutos. Entre os médicos, a cesariana é chamada “Parto-Guarujá”, pois permite a “previsão” do nascimento do bebê, principalmente às quintas e sextas-feiras. Outro fator é a falta de informação das gestantes, que acham a cesariana um processo indolor. Entretanto, a recuperação é mais lenta que no caso do parto normal. O Amparo Maternal, hospital de São Paulo que atende gestantes sem condições financeiras (ver Interprensa 26), realiza cerca de 35 partos por dia. Apenas 20% são feitos por cesariana. O diretor, Emílio Ferranda, diz que não se pode desprezar o parto cirúrgico quando há risco para a mãe. “Mas aqui esperamos para analisar qual é a melhor solução para cada caso, porque nós não trabalhamos com pressa”. O Governo Federal acaba de indicar o Amparo Maternal como centro de formação de mão-de-obra especializada para o parto normal.

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