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SANTA TERESINHA: A ARTE DE SABER SOFRER. Há mais de três anos recebi o pedido para escrever um artigo sobre Santa Teresinha e o sofrimento. Nunca disse não, mas nunca me decidi a escrever sobre este tema tão importante e ao mesmo tempo tão difícil. Ninguém pode medir a dor e o sofrimento a não ser a pessoa que sofre. A nossa atitude para com os doentes deve ser de amor, de solidariedade, mas jamais de dizer que não sofrem, porque somente eles sustentam o peso da doença e sabem como o corpo dói quando é comido por dentro. Conhecemos a dor por experiência própria, porque todos nos recordamos de ter passado pelo caminho do sofrimento e conhecemos a dor pelas narrativas daqueles que não se envergonham de contar o que sentem e o que percebem diante da dor física, moral e espiritual. Perto do doente não deve existir nem a compaixão, nem o medo, nem a comiseração, mas o amor solidário que nos permite participar da sua cruz. Na visão da fé, no sofrimento participamos da paixão de Jesus e completamos na nossa carne o que ainda lhe falta. A humanidade é o grande corpo de Cristo, sofrido e machucado por todos os tipos de dores, próprias e nossas. Ele carregou as nossas dores e se fez o “servo sofredor de Javé”. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face (1873-1897), proclamada doutora da ciência e do amor pelo Papa João Paulo II em 19 de outubro de 1998, experimentou pessoalmente o sofrimento físico e espiritual. Na “História de uma Alma” – sua auto-biografia - , nas suas cartas e poesias, ela nos relata como se posicionou diante da dor e nos transmite, com simplicidade os seus ensinamentos que encontram a autêntica fundamentação na Palavra de Deus. Nunca encontrei alguém que não gostasse de Santa Teresinha. Ela é amiga de todos e todos são seus amigos. O motivo da grande simpatia por pela Santa é sua simplicidade, seu abandono, sua confiança em Deus e especialmente a sua grande sinceridade. Ela não esconde o que sente, se faz solidária com os outros e manifesta em todos os momentos a sua natureza humana que se revolta, se rebela, mas sabe, pela fé, aceitar o que Deus lhe envia. Em nenhum lugar dos seus escritos Teresinha exalta a dor, a doença, como caminho que leva a Deus. Nela não há nenhum traço masoquista ou de sadismo: felicidade por sofre ou ver os outros sofrerem. Ela percebe que a doença não é dom nem castigo de Deus, é o acontecer da vida, fruto da fragilidade, e devemos permitir que os médicos, com os meios que possuem, nos curem. Ela, consciente de sua pobreza religiosa, como qualquer pobre sente-se humilhada de ver que os remédios custam muito caro e que os gastos podem trazer transtornos para a comunidade. Mas aceita tudo o que lhe oferecem para que a sua dor seja aliviada. Grande é o choque de Teresinha ao descobrir que tem tuberculose e maior ainda na primeira hemoptise... Ela sabe que a morte está perto e que o seu ser terá uma lenta destruição. Não se desespera porque, pela sua formação religiosa, pela sua vida de oração, sabe ver em tudo o projeto de Deus que a chama, através da doença, a ser holocausto pela salvação dos pecadores. Desde criança ela aprendido a não desperdiçar a dor e, através dela, se unir ao Cristo crucificado. A pastoral as saúde pode ajudar o doente a passar do primeiro choque da descoberta de sua enfermidade a saber oferecer a dor como oração e caminho de santidade. A doença não torna o ser humano descartável mas o faz mais precioso e nele a vida se faz delicada e 1


exige mais atenções. Teresa ensina a todos, quando estivermos doentes, a não nos sentirmos um peso para os que estão ao nosso lado, mas a sentir-nos profundamente amados. Teresa do Menino Jesus percebeu que as Irmãs da comunidade a amavam muito, e que a Madre Priora destacou a sua irmã, Madre Inês, para estar sempre ao seu lado. Esse gesto lhe permitiu não se sentir rejeitada, mas acolhida, amada. Teresa do Menino Jesus percebe que, para superar melhor o sofrimento e a dor, é necessário experimentar o amor humano. Neste amor está a força pela qual a cruz não é mais carregada a sós mas com todos os que estão perto de nós. Em Teresa e na sua comunidade, embora não da parte de todas as irmãs, encontramos a humanização da dor. Ela sabe que, quando a dor se faz mais dura, poderá chorar, apertar as mãos de sua irmã e desabafar tudo o que se passa dentro dela, porque tem certeza deque será compreendida. Teresa tem, como todos nós e o próprio Jesus, medo da morte. Nos últimos dias de sua vida, quando as hemoptises são mais freqüentes, ela teme morrer sufocada. Num momento em que o medo se faz mais forte ela diz: nunca saberei morrer. E, em outra ocasião, pergunta à Madre Gonzaga: como devo fazer para morrer? Há na sua vida momentos em que ela deseja morrer para não sofrer mais e outros em que deseja viver para experimentar a presença amorosa de Deus em sua vida. Estes conflitos interiores são assumidos por ela. Não se envergonha de revelar a tentação de suicídio quando vê tantos remédios perto dela e dá um conselho para os que cuidam dela: nunca deixem remédios perto dos doentes. Na escola de Santa Teresinha o sofrimento se faz humano e é superado através da nossa humanidade, que reage e se revolta diante da dor... Ninguém quer morrer. A morte se apresenta como o fim de tudo, o nada. Somente contemplada através da fé ela é porta necessária que se abre para que possamos entrar na plenitude da vida. “Não morro, entro na vida”. “O SOFRIMENTO ME DÁ ALEGRIA” Esta frase de Santa Teresinha deve ser bem compreendida para que não se faça da santa uma masoquista. Ela é dita dentro de um contexto de fé, de entrega da vida como serviço a Deus para o bem dos outros. Nesta perspectiva a cruz, a dor, são caminhos que nos permitem realizar o plano de Deus em nossa vida. Eu considero o momento mais feliz de Jesus, a sua plena realização e o momento de alegria mais intensa quando, no alto da cruz, ele exclama: “Em tuas mãos, Pai, entrego o meu espírito” e “tudo está consumado”. Somos felizes quando somos encontrados dignos de participar das alegrias e dos sofrimentos de quem amamos. Em Teresa do Menino Jesus contemplamos a realização do grande ideal apresentado por Paulo apóstolo: “Não sou mais eu que vivo mas é Cristo que vive em mim”. A alegria de que fala Teresinha não tem a sua raiz na dor, na morte, porque isto é sempre algo de negativo, mas na identificação com o Amado, na participação solidária com os que sofrem. Eu não sou especialista em pastoral da saúde. Aliás, não sou especialista em nada. Mas tenho a convicção de que é necessário aprofundar mais a “mística” da dor, do sofrimento como força escondida que dá coragem para carregar com dignidade a própria cruz. O sofrimento, diz São João da Cruz, não deve ser desperdiçado mas guardado, vivido, assumido, ele se tornará uma pedra preciosa que um dia ser-nos-á dada na vida eterna. Pastoral da saúde não é dar remédio ou fazer visitas de cortesia aos doentes, 2


tampouco ler para eles páginas do Evangelho ou fazer reflexões sobre a dor, mas estar perto do doente em silêncio, escutando a sua dor, manifestando o nosso amor. O doente quer que nós falemos pouco e o escutemos muito. O silêncio é a melhor pastoral que revela toda a força da solidariedade e do amor. O amor não é palavra, é gesto, é silêncio. Maria, Mãe de Jesus e nossa, aos pés da cruz não diz nenhuma palavra, mas está lá, em pé e em silêncio; duas atitudes que encontramos nos mártires e encontramos em Santa Teresinha do Menino Jesus. O corpo, como o de Teresinha ou como o de qualquer doente prestes a morrer, está estraçalhado pela dor, mas a alma que ama pode exclamar com ela: “Meu Deus, eu vos amo! Meu Deus eu vos amo”... Com Santa Teresinha aprendi a sofrer um pouco e com ela aprendi a mística do sofrimento que não é outra coisa senão ver atrás da dor o rosto luminoso de Cristo de braços abertos, que nos acolhe no seu Reino.

MAIS EMPATIA E MENOS TEOLOGIA NA VISITA AOS DOENTES ANÍSIO BALDESSIN Primeiramente, é importante definir ou distinguir empatia de simpatia. Muitas vezes misturamos estes conceitos. Empatia, segundo a definição do dicionário brasileiro, é uma palavra que vem do grego empátheia, ou tendência para sentir o que você sentiria se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. Enquanto que simpatia, também derivada do grego, sympátheia é a conformidade de gênios. Ou seja, é uma tendência ou inclinação que reúne duas ou mais pessoas que instintiva e mutuamente se sentem atraídas. O Dizionario Italiano Ragionatto, Florença em 1988 define a palavra empatia como “tendência a identificar-se emotivamente com a outra pessoa, tomando consciência dos seus pensamentos e sentimentos”. O dicionário da língua inglesa é muito rico em sinônimos que indicam a atitude empática na relação de ajuda: “deixar-se transportar” nos estados emotivos do outro; “imergir” nele; “compartilhar”, “participar”, “ser traspassado”, “sintonizar-se”, “conformar-se” com os estados emotivos, “esquecer a si mesmo para ser completamente para o outro”, “absorver”, “completamente presente”. Diante dessas definições penso que poderemos entender o que significa estabelecer empatia com alguém. A diferença básica entre simpatia e empatia é que, para considerar alguém simpático, muitas vezes eu não necessito dialogar com a pessoa. Quantas vezes já dissemos: “Essa pessoa me pareceu muito simpática. Nossa! Que pessoa simpática!” Quanto à empatia é muito difícil estabelecê-la sem que haja o mínimo de comunicação. Numa situação de sofrimento, para eu entender a pessoa empaticamente, devo transferir-me para a situação existencial dela, receber e viver o seu estado emotivo, ressentir pessoalmente seus sentimentos, envolver-me com a sua experiência e, de certo modo, assumi-la. Em síntese, é a sintonização dos meus sentimentos com os sentimentos dos outros. Empatia e teologia

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Sem dúvida que as ciências, especialmente a psicologia e a teologia, contribuíram para o crescimento das relações humanas. Essa verdade não podemos negar. Porém, o perigo que corremos é de oferecer todos os nossos conhecimentos sem oferecer a nós mesmos como pessoas humanas. As pessoas nem sempre precisam de nossas mil e uma respostas. Ao desabafar, quase sempre esperam que tenhamos um coração acolhedor. Caso contrário, cairemos no mesmo erro em que caio o profissional que foi procurado por um velho amigo que estava em busca de alguém para compartilhar seu sofrimento e, após duas ou três frases foi interrompido por um discurso impecável e bonito. Porém, no final da conversa, o “sofredor” queria dizer: “Não quero somente seu lindo ramalhete de palavras. Quero você”. A mentalidade antiga, que encarava a doença como castigo de Deus, fez com a preocupação maior no atendimento ao doente quando este chegasse ao hospital fosse atendê-lo em suas necessidades espirituais. O ser físico, social e mental era quase que esquecido. Quem não se lembra da história de Jó? Os amigos foram visitá-lo e ao invés de oferecer empatia ofereceram teologia. Ou seja, gastaram todo o tempo disponível tentando explicar Deus. Enquanto Jó necessitava de empatia eles ofereciam teologia. Ou seja, tentavam de toda maneira “defender e explicar” Deus. É muito importante o agente não colocar a teologia no lugar da empatia e a empatia no lugar da teologia. Ambas podem contribuir positivamente para o trabalho pastoral junto aos doentes. Para tanto, é imprescindível saber aplicá-las.

A empatia na pastoral da saúde Quando visitamos doentes ou nos relacionamos com pessoas, principalmente desconhecidas, a primeira tendência é sermos simpáticos. No primeiro encontro com o outro, sempre tomamos muito cuidado com o que vamos falar e como vamos agir. Neste caso, a vontade de fazer muitas perguntas e de dar certos tipos de respostas pode cortar o diálogo e, consequentemente, não haver empatia. Para que um diálogo seja de ajuda é preciso que antes de tudo transmita compreensão. Ou seja, mais do que explicações teóricas, o agente tenta comunicar ao doente o que é capaz de compreender do seu mundo interior. Compreender o outro não apenas racionalmente, mas com o coração. É “andar” pelo interior do outro com a sensação de que estamos dentro do nosso próprio eu. E isso não se faz somente com as costumeiras perguntas, mas através da comunicação que proporciona a ambos a oportunidade de falar. A preocupação exagerada em falar de religião, por exemplo, também ajuda a bloquear o diálogo. Principalmente se nos colocarmos como donos da verdade. Se não formos capazes de sentir e acreditar que o outro também tem algo a nos ensinar, dificilmente conseguiremos estabelecer uma relação empática.

A empatia de Jesus O mistério da Encarnação é o fundamento dessa atitude. “A encarnação é o exemplo supremo de empatia: ‘E o verbo se fez carne, e habitou entre nós e nós vimos a sua glória; glória essa que, Filho único cheio de graça e de verdade, ele tem parte do Pai’ (Jo1,14). Cristo, sendo de condição divina, não considerou como presa ou algo a que se agarrar o ser igual a Deus. Mas despojou-se, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens e, por seu aspecto, sendo reconhecido como homem; ele se rebaixou, tornando-se

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obediente até a morte, e morte numa cruz’ (Fl 2,6-8). A partir da Encarnação, poder-se-ia dizer que Cristo abandonou seu próprio ponto de referência, a glória de Deus, para entrar em outro: a realidade humana. Jesus dá mostras de saber colocar-se no lugar do outro para compreender o que está sentindo. Ao mesmo tempo sabe exprimir o que percebe como experiência ou sentimento do seu interlocutor.

A empatia do agente com o doente Na visita pastoral, a empatia é muito importante mas muito difícil de ser alcançada. Primeiramente, porque na maioria das vezes não entramos em sintonia com o doente. E quando isso acontece fica muito difícil para o agente se colocar no lugar daquele que está sofrendo. A pressa e a necessidade de ter que realizar muitas visitas leva o agente se preocupar mais com os tempo do que com o doente. Sintonizar com o outro, no fundo, significa estar atento àquilo que é importante para ele. E o doente consegue estabelecer esse relacionamento através de uma comunicação autêntica. Sem máscaras, sem preocupação de ambas as partes, ao menos no início de solucionar o problema um do outro. Para isso, devemos usar a comunicação que nos leva ao auto-conhecimento e ao conhecimento do outro. A partir daí, poderemos facilitar a compreensão empática. Mas, mesmo diante das dificuldades que, às vezes, impossibilitam a empatia, algumas coisas deveríamos evitar na empatia com o doente. Uma delas é dizer a alguém que tenha perdido um seio numa mastectomia: “Eu entendo seu problema”. Como é possível afirmar isso sem nunca ter passado por tal situação? Outra atitude não muito indicada nestas circunstâncias é começar nossa visita pela confrontação, ou seja, colocar a pessoa diante de si mesma ao invés de começar pela empatia. Seria o mesmo que dar remédio para o doente sem antes fazer um diagnóstico. No relacionamento com o doente e no diálogo empático poderíamos estabelecer, ao menos no início da visita, como prioridade, as seguintes regras: falar sobre o que o doente quiser, deixá-lo expor suas convicções mesmo que sejam bem diferentes das nossas. Acolher sua história, que embora seja triste e marcada por desencontros, dores e sofrimentos é sempre algo sagrado. Portanto, ao nos defrontarmos com as pessoas que sofrem, seja qual for o tipo de sofrimento, será sempre importante colocarmos a serviço do outro nossas técnicas de abordagem, nossa espiritualidade e conhecimentos teológicos. Porém, antes de tudo, seja humano, respeite e acolha aquele que sofre. Os que sofrem não precisam só de nossas crenças, doutrinas e filosofias. Com certeza, nos momentos difíceis, precisam muito mais de nossa empatia do que de nossa teologia.

I congresso hospitalares

brasileiro

ecumênico

de

assistentes espirituais

Aconteceu no centro de convenções São Camilo, em São Paulo, nos dias 17, 18 e 19 de outubro de 2000 o primeiro congresso brasileiro ecumênico de assistentes espirituais hospitalares que teve como tema central Cuidando do enfermo: novos desafios para a assistência espiritual. O encontro contou com a presença e participação de 60 pessoas

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incluindo padres, pastores, religiosas (os) e leigos que trabalham na assistência espiritual nos hospitais e domicílios. Foi muito boa a participação dos conferencistas que motivaram todos para um debate sobre os assuntos abordados. No final do congresso todos estavam satisfeitos, muito motivados para que outros congressos sejam realizados. Foi unânime a opinião de que é muito importante fazer maior divulgação. Caberá a todos os participantes e àqueles que receberam comunicado e, por motivos diversos não puderam participar, ajudar na divulgação do próximo, que se realizará provavelmente na cidade de Curitiba. Foi escolhida uma equipe que se reunirá no início de dezembro para programá-lo. PROJETO GENOMA: DÚVIDAS E EXPLICAÇÕES Eventos

simultâneos realizados dia 26 de junho, em Londres e Washington,

comemoraram o mapeamento do código genético humano. A festa foi mera formalidade: o mapeamento será completado somente em 2003. O Projeto Genoma Humano, composto por cientistas de 19 países, espera que, com esse passo, a medicina possa encontrar o tratamento adequado para doenças como câncer, diabetes, hemofilia etc. O que significa para o homem ter decifrado o seu código genético? Significa que estão ordenadas as seqüências de todos os elementos que constituem a nossa herança genética. Por enquanto, mais do que uma conquista da medicina trata-se de grande avanço tecnológico. O mapeamento está progredindo, principalmente, por causa da ação de robôs e computadores. Para a medicina é o primeiro degrau em busca do objetivo principal: descobrir a origem genética das doenças para tratá-las com maior eficácia. Decifrar o genoma não é encontrar a cura para uma doença. A descoberta permite identificar de modo exato que gene (ou grupo de genes) atua no desenvolvimento de uma enfermidade hereditária. Para que essa meta seja alcançada os cientistas precisarão compreender a gênese de muitas proteínas humanas, processo muito mais complexo do que decifrar o genoma. Outro aspecto é a relação entre a genética e a predisposição a desenvolver certos tipos de comportamento. Os genes são determinantes de propriedades biológicas. Em questões como a inteligência, a agressividade, o alcoolismo e a homossexualidade, relativas ao comportamento humano, a explicação está muito além do fator genético. A herança genética atua tal como o ambiente; junto ao inato está o adquirido. Não somos prisioneiros de nossos genes, nem

podemos usá-los como escudo determinante do nosso

comportamento. “O genoma não absolverá os seres humanos de suas decisões individuais, nem de sua responsabilidade pessoal”, diz Craig Venter, fundador do Celera Genomics, 6


grupo criado há dois anos com o objetivo de

desenvolver o mapeamento genético,

“ninguém poderá refugiar-se atrás dos genes. “Eles afetam o nosso desenvolvimento, mas o mesmo papel é realizado pelas circunstâncias pessoais e sociais. Um dos problemas que poderá surgir está relacionado aos testes genéticos que apontem predisposição para uma doença. Como não há como prever quando a doença se desenvolverá ou se, de fato, aparecerá, a pessoa pode sentir-se doente antes que a enfermidade se manifeste. Os problemas podem se agravar caso a doença detectada não possa ser cura da, nem mesmo tratada, gerando apenas ansiedade. O que o Projeto Genoma Humano apresentou pode ser comparado a um manual de instruções. Os cientistas ainda não sabem decifrá-lo, mas este avanço, há poucos anos, era impensável. Com esse anúncio pode-se voltar a sonhar com um mundo em que as pessoas terão acesso a um tratamento mais eficaz na luta contra as doenças.

Oração sem nome Escuta, Deus: jamais falei contigo. Bom dia! Como vai? Sabes? Disseram-me que tu não existes e eu acreditei que era verdade. Nunca havia parado para reparar na tua obra. Ontem à noite, da pelas frestas da janela do meu quarto... vi teu céu estrelado e compreendi então que me enganaram. Quanta coisa maravilhosa criaste. Não sei se apertarás minha mão. Andei tão longe de ti. Vou te explicar e hás de compreender. É engraçado: nesta situação tão difícil que o sofrimento me deixou, achei a luz para enxergar teu rosto. Pude ver-te em cada coisa da natureza, pude ver-te também em cada rosto de um irmão. Dito isto, já não tenho muita coisa a te contar: só que ... que... tive muito prazer em conhecer-te. Daqui a pouco deverei passar por um procedimento delicado. Sinto medo, claro, pois essa é uma manifestação de minha humanidade. Mas depois de ter te conhecido, estou muito confiante. Sei que tu velas por mim. Ah está chegando a hora. Bom Deus, devo ir embora. Gostei de ti, vou ter saudade... Quero dizer que este procedimento não será tão simples. Bem o sabes que poderei bater à tua porta. Muitos amigo não fomos, é verdade. Mas seremos de agora em diante. Vês, Deus, penso que já não sou tão mau. Sorte ou azar. Essas coisas existem mesmo? Para mim, isso já não importa tanto. O que importa é que em ti eu descobri um amigo. Aconteça o que acontecer, por onde quer que eu ande, tu estarás ao meu lado. Obrigado meu Pai. Autor anônimo

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CONSIDERAÇÕES DOBRE OS MEDICAMENTOS GENÉRICOS Eloan Pinheiro Sempre que ouço falar de medicamentos genéricos me vem à cabeça uma velha história de família. Minha avó, já falecida, fazia uma garrafada para gripe que era tiro e queda. Mas quando mamãe lhe perguntava como a preparava, vovó respondia: “Isto é segredo!”. Ela complementava: “Você já imaginou, filha, se eu revelar o segredo todos poderão fazer e eu nunca mais vou poder ganhar dinheiro com esta minha mistura”. A questão do medicamento genérico é bem similar. O que é o medicamento genérico? É aquele que foi copiado de um medicamento existente. E por que tanta polêmica e briga por causa disto hoje em dia? A história é a mesma que a da minha avó. Se outros passarem a fazer, quem fez o primeiro vai perder dinheiro, por que ele não será o único a ganhar. Quem vai lucrar? O povo, porque quanto mais pessoas copiarem, mais cairá o preço do remédio. Já que fiz esta simplificação do fato, vamos agora às questões técnicas a respeito do assunto. Medicamento genérico é aquele que age no organismo humano, de forma igual ao medicamento de marca, patenteado por alguma empresa, atacando o problema de forma equivalente. Produto patenteado, por sua vez, é aquele que uma empresa pública ou privada pela primeira vez estudou, pesquisou e avaliou os resultados sobre uma doença, e efetivamente obteve eficácia. A partir desses resultados a empresa solicita ao Estado o direito de produzir e comercializar o produto por 20 anos, de forma exclusiva. Esses 20 anos, na verdade, se transformam em somente 10, devido ao fato de contarmos o tempo desde o início da primeira evidência de resultados eficazes obtidos pela pesquisa. Lucro É evidente que as empresas que aplicam dinheiro neste desenvolvimento querem ter o retorno do investimento. Isso seria justo, em muitos casos, se não se revestisse de uma grande crueldade para com a população. Em nenhum país os governos conseguem abrir essa “caixa preta” da indústria sem seus reais investimentos. Segundo as empresas, são necessários valores equivalentes a 300 milhões de dólares para se chegar ao produto final. No momento, economistas internacionais chegam a um valor de até 50 milhões de dólares para o desenvolvimento de produtos novos. Convém acrescentar que os produtos antivirais

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tiveram parte de seu desenvolvimento feito por instituições universitárias públicas, tanto na fase pré – clínica como nos testes clínicos, tendo sido, portanto, financiados pelo povo. O que tem acontecido em países que não reconheciam patentes? Os engenhosos químicos, engenheiros e cientistas desses países estudaram, investigaram e conseguiram fazer o produto. É óbvio que para as empresas de países ricos, ver países como China, Brasil, Índia, Coréia, entre outros, mostrarem competência para copiar e evidenciar que podemos fazer igualzinho a eles é absolutamente revoltante. O que será do mundo se todos pudermos fazer as mesmas coisas? Na minha opinião, significa um mundo com eqüidade social. Se até o momento temos dificuldades para fazer produtos inovadores não é por falta de competência instalada no país e sim por falta de

investimentos concentrados nas

necessidades de produtos para a saúde pública. O ministro da Saúde, José Serra, sugeriu a implementação de uma Agência de Ciências e Tecnologia em Saúde, cujo orçamento viria de imposto advindos da venda de cigarros e bebidas. Considero esta ação de fundamental importância, pois é isto que nos falta: priorizar as nossas necessidades e desenvolver aquilo que é importante para a saúde pública no país. Poderíamos ter novos produtos para atender os problemas de tuberculose, malária, AIDS, filariose, entre outros, pois há muitos pacientes já resistentes às drogas atuais. Desse modo, seria possível melhorar a qualidade de vida de nossa população. Como aumentar o acesso aos medicamentos genéricos? Sob o meu ponto de vista, há várias soluções: a) AUMENTANDO A QUANTIDADE DE GENÉRICOS NAS FARMÁCIAS – Se as empresas nacionais produtoras não conseguirem aumentar sua produção, elas poderão fazer joint ventures com empresas internacionais que já tenham seus genéricos reconhecidos nos seus países, com a bioequivalência já comprovada. b) DISTRIBUIÇÃO – O Estado poderia criar entrepostos de distribuição nas agências de correio, onde as empresas privadas e públicas pudessem depositar seus produtos e de onde as farmácias pudessem fazer suas aquisições on line. Este mecanismo foi bem utilizado no Programa de Farmácia Básica da Secretaria Executiva da Diretoria de Programas Estratégicos do Ministério da Saúde. c) PRESCRIÇÃO – Organizar folhetos dirigidos aos médicos mostrando tecnicamente que o produto genérico eqüivale ao de marca, conforme resultado do teste de

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bioequivalência realizado em instituição credenciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Sobretudo, é preciso entender que saúde é um direito de qualquer cidadão. A sociedade só tem sentido se seus cidadãos puderem usufruir integralmente de seus direitos. Portanto, nada justifica que a vontade de enriquecer de alguns prevaleça sobre o direito social da maioria.

DOENÇA: O DESEQUILÍBRIO DO SER

WALDEMAR MAGALDI FILHO A história vem de longe: chineses praticavam, há milênios, os princípios da psicossomática em busca da harmonia, e Hipócrates avisava: “O que te fere é o que te cura”. Com Freud e outros autores veio a certeza: corpo, mente, ambiente, cultura, o homem é uma coisa só. Quando surgem conflitos nesse complexo universo, o homem padece e reflete no corpo as marcas da desarmonia. Para o prof. Waldemar Magaldi Filho, psicólogo e analista junguiano, coordenador dos cursos de Pisicossomática e Psicologia Junguiana no Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos, em São Paulo, “o profissional de saúde que não reconhece a psicossomática sofre da ilusão do saber e do abuso de poder e está fadado a uma crise de ordem espiritual e emocional”. Como o senhor define psicossomática? Prof. Waldemar: Psicossomática é uma ciência que integra todos os aspectos do ser humano seja ele biológico, espiritual, social, profissional, familiar, energético, político etc. Com isso, o profissional de saúde que trabalha neste paradigma tem uma visão de homem holística e humanista, reconhecendo que a doença, psíquica e/ou somática, é sinal de desequilíbrio do ser total, podendo se tornar um grande caminho para crescimento e restabelecimento da saúde e da evolução do ser. O verdadeiro psicossomatista vai buscar o sentido dos sintomas ao invés de ir atrás das causas porque a verdadeira causa, geralmente esta ligada a uma vida sem sentido. É prática antiga? Quando e com quem começou o estudo científico? Prof. Waldemar: A prática da psicossomática é muito antiga. Hipócrates, o pai da medicina, afirmava em um dos seus mais famosos aforismos: “O que te fere é o que te cura”. A Medicina Tradicional Chinesa há mais de cinco mil anos também assume estes princípios. Desta forma, não é a psicossomática um conhecimento novo e alternativo. Ao contrário, o novo que fragmentou o ser humano, dessacralizou o seu corpo e assume uma atitude invasiva, materialista e desumanizada é a medicina contemporânea, muito mais ligada ao consumismo capitalista do que às verdadeiras razões e necessidades da existência humana. Que comprovação existe de que a mente influi realmente no corpo e vice-versa?

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Prof. Waldemar: No Ocidente, Freud começou a estudar distúrbios físicos provocados pela psique, as famosas histerias conversivas. Atualmente, vários autores foram além chegando à conclusão da inseparabilidade do trinômio: biológico, psicológico e energético, afirmando que qualquer desequilíbrio em uma parte se refletirá no todo. Assim todas as doenças podem ser consideradas psicossomáticas, porque somos seres psicossomáticos inseridos no contexto cultural e social que também é psicossomático. Que doenças, comprovadamente, poderiam ser interpretadas como de origem psicossomática? Prof. Waldemar: Nos estudos da psicossomática e de doenças somatopsíquicas, na tentativa de buscar um “responsável” pelo sintoma. Mesmo assim, a maioria das afecções dermatológicas, respiratórias, gastrintestinais, auto-imunes como o câncer e o reumatismo, são consideradas doenças psicossomáticas pela velha escola psicanalítica. Até que ponto nossos profissionais de saúde estão aptos a identificar no paciente causas psicossomáticas? Prof. Waldemar: O profissional de saúde que não reconhece a psicossomática sofre da ilusão do saber e do abuso de poder, está fadado a uma crise de ordem espiritual e emocional que o levará, invariavelmente, a questionar sua prática, ficar deprimido ou, reativa e defensivamente, dogmático e obcecado pela sua crença e sua prática. Como o senhor vê a importância do tratamento integrado por profissionais do corpo e da mente? Prof. Waldemar: O psicossomatista é o profissional que trabalha transdisciplinarmente, não tem a ilusão do saber só para si e, pela sua prática, reconhece que várias vezes é nas ciências vizinhas que está a chave para o reequilíbrio de seu cliente. Também está convencido de que não vai curar a doença de seu cliente, pois a própria doença vai fazê-lo. Ele servirá como ponte, estímulo e facilitador para que o curador ferido de seu cliente entre em ação e operacionalize a verdadeira cura. Estaremos caminhando para uma era do psicólogo-médico ou do médico-psicólogo? Prof. Waldemar: Todo médico deveria ter fundamentos da psicologia. É um absurdo vermos profissionais de ajuda terem medo de estabelecer uma relação de amor com seus clientes. Nós sabemos, há muito tempo, que uma das grandes causas do adoecimento está nas feridas causadas pela insuficiente relação de amor que o indivíduo tem para consigo mesmo e, consequentemente, para com o outro. Também sabemos que só amor pode curar o amor ferido; desta forma é absurdo o profissional de ajuda ter medo de interagir com seu cliente, escondendo-se no título, no douto saber, na falta de tempo ou no conhecimento científico. A psicologia motiva a interação, a compreensão e a relação de ajuda mútua. Atualmente, a psicossomática e a psicologia fazem parte da grade curricular das faculdades de medicina, mas são abordadas, em geral e infelizmente, de forma superficial e arcaica. Como é ensinada a psicossomática? Prof. Waldemar: O curso oferecido pelo IBEHE abrange todos os conceitos básicos de psicossomática, que estuda vários distúrbios biopsicosociais. É o primeiro e único curso oficial de psicossomática que enfoca, além das visões tradicionais da psicanálise, as abordagens humanistas, holistas, junguianas e transpessoais. É destinado a todos os profissionais de ajuda das áreas de humanas, biológicas e saúde.

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Dicas de saúde Emagrecer Mantendo o Humor

Dr. Augusto Zago Você já pensou na discriminação que certas pessoas sofrem por serem um pouco mais gordinhas que o normal?. Além da insatisfação e desconforto pela maneira deselegante como são tratadas, há a possibilidade de adoecerem pelo excesso de peso e terem outras complicações como: problemas ósseos, articulares, de coluna, os chamados problemas ortopédicos e ainda vasculares, ou problemas nos membros inferiores. Muitos ainda reclamam de cansaço, fruto do peso adicional; ou pressão alta causada pela obesidade. Pode surgir também o diabete que gera transtornos renais, o não funcionamento dos rins chamado insuficiência renal, ou a gangrena em membros inferiores e mesmo a cegueira. Obesidade pode aparentar saúde. Ouve-se não raro: que criança bonita, saudável, gordinha... Deve haver limites? Devemos padronizar um peso ideal para as pessoas? Observamos muitas vezes que os gordinhos são felizes, satisfeitos, brincalhões, contam piadas e quando decidem perder peso tornam-se apáticos, insatisfeitos e tristes. Daí a pergunta: Vale a pena emagrecer, perder o humor, peso e ser um chato, um triste? O que nós desejamos nessa conversa é alertar que nem um extremo nem outro é saudável. Devemos, sim, procurar cuidar de nosso peso para não termos conseqüências desagradáveis. Manter o humor perdendo peso e sentindo-se bem, saudável e prevenido contra doenças conseqüentes da sobrecarga em órgãos é o ideal.

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