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Ano XVIII – n.º 187 – junho de 2001. Por Que Deus Permite o Mal e a Morte? Se buscarmos o que diz o Antigo Testamento sobre a origem do mal, faremos um descobrimento surpreendente e espantoso: Deus mesmo é que provoca o mal que há no mundo. São inumeráveis os episódios em que aparece Deus castigando. Porém, Deus não só figura na Bíblia como responsável das doenças, mortes e todos os males sociais, como também dos desatares da natureza, que aparecem diretamente provocados por seu poder. Assim foi Deus quem enviou as serpentes venenosas que morderam os israelitas quando estavam no deserto (Num 21,6); quem mandou um terremoto para que morressem todos os que haviam se colocado contra Moisés (Num 16,31-32); quem castigou com a doença da lepra a irmã de Moisés (Dt 24,9); quem mandou a peste para Israel, em que morreram 70.000 homens (2Sm 24,15); quem provocou uma seca de três anos em todos os país (1 Rs 17,1). No Antigo Testamento, pois, todas as desgraças, infortúnios, enfermidades e até mesmo a morte aparecem provindas de Deus. Tal convicção se acha claramente exposta no livro de Isaías, donde Deus disse: “Eu, Javé, criei a luz e as trevas, mando o bem-estar e as desgraças; eu faço tudo” (Is 44,7). No livro do profeta Oséas, o profeta exclama: “Deus nos lastimó, e nos curará Deus não há querido, e não nos venderá (Os 6,1). Oséas de um modo patético, no pobre salmista que reclama ao Senhor: “Desde minha infância vivo enfermo, e sou um infeliz. Tenho suportado coisas terríveis vinda de vós, e já não posso mais, tem mostrado teu enojo, e teus castigos me tem destruído” (Sal 88,16-17). Nada acontece sem que Deus mande Desta maneira, em quase todas as páginas do Antigo Testamento se ouve falar da ira de Deus que se impõe contra seu povo. Como Israel pode conceber uma imagem tão espantosa de Deus? É fácil compreender. Quando se escreveu o Antigo testamento as ciências ainda não havia se desenvolvido. Não se conhecia as leis da natureza, nem as causas das enfermidades, nem porque se sucediam os fenômenos ambientais. Mesmo a psicologia era pouco conhecida e bastante elementar. Os conceitos de liberdade e responsabilidade humana estavam muito pouco desenvolvidas. Este início que muitos fenômenos que hoje chamamos naturais, naquela época se considerava sobrenaturais, e portanto, vindos diretamente de Deus. Deste modo, qualquer coisa que ocorria, boa ou ruim, linda ou feia, feliz ou desgraçada, era obra de Deus. Um israelita não podia jamais imaginar que sucederia algo neste mundo sem que fosse mandado por Deus. Ele era o dono de tudo, e portanto, o autor de tudo. Nenhum enfermo! Quando Jesus veio ao mundo, a situação não havia mudado muito. As ciências continuavam na etapa primitiva, seguiam ignorando as causas naturais dos fenômenos que sucediam. Foi então quando Jesus expôs um pensamento nunca ouvido até aquele momento: ensinou que Deus não manda males a ninguém; nem aos justos e nem aos pecadores. Só manda o bem. Para demonstrar, adaptou uma metodologia sumamente eficaz. Começou a curar os doentes que traziam, e explicava que fazia em nome de Deus. Deste modo, anunciava a boa notícia de que Deus não quer a enfermidade de ninguém, e que se alguém adoecer, não é porque Ele havia permitido.


Igual atitude assumiu frente a morte. Quando vieram pedir por alguém que tinham morrido, jamais dizia: “Não, deixemos morto porque esta é a vontade de Deus”. Ao contrário, o ressuscitava imediatamente para ensinar que Deus não mandava a morte e nem queria. Em seus ensinamentos transmitia esta mesma mensagem a seus ouvintes. Um dia seus discípulos viram passar um cego de nascença, e perguntaram: “Mestre, quem pecou, ele ou os pais dele”? (Jo 9,13). E Jesus explicou que nunca as enfermidades são enviadas por Deus, nem são castigos por seus pecados. Em outra oportunidade vieram contar-lhe que havia caído uma torre num bairro de Jerusalém e 18 pessoas tinham sido soterradas. E Jesus declarou que esse acidente não era vontade de Deus, nem era castigo pelos pecados dessas pessoas, e sim que todos estamos expostos aos acidentes e por isso devemos estar sempre preparados (Lc 13,4-5). Um passarinho que cai Jesus ensinou claramente que Deus não quer, nem manda, nem permite as enfermidades. Tampouco provoca a morte, nem os acidentes, nem ocasiona diretamente os fenômenos da natureza em que tantos seres humanos perdem a vida. Disse que de Deus procede só o bem que há na vida, não o mal, porque Deus ama profundamente o homem e não pode mandar nada que o faça sofrer ( (Jn. 3,16-17). Jesus, porém não explicou de onde vem as desgraças deste mundo, porém, explicou de onde não vem: de Deus. Não ensinou que causas as provocam, porém, ensinou quem não as provoca: Deus. No entanto, existe uma frase no Evangelho que deixa muita gente confusa. Está no capítulo 10, versículo 29 do evangelho de São Mateus onde Jesus disse: “Nenhum passarinho cai por terra sem que o Pai do céu lhe permita”. Ou seja, se um passarinho cair por terra e sofrer uma desgraça ou acidente, é porque Deus assim permitiu. Porém, na realidade se trata de uma má tradução das Bíblias. O texto original grego disse que nenhum passarinho cai por terra, sem a ordem de Deus. Como na expressão faltava o verbo, os tradutores da Bíblia agregaram “sem que Deus permita, pensando que está era a intenção de Mateus. Na realidade, o evangelista, ao dizer que o passarinho não cai sem a vontade de Deus, quis dizer isso, é dizer que não cai sem que Deus está ao seu lado, ou sem que Deus o acompanhe. O seja, que Deus está perto daqueles que sofrem; porém, não que permitiu o sofrimento. Simplesmente sofre com eles. Um Deus da vida Apesar deste progresso, muitos cristãos, por lerem mais o Antigo do que o Novo Testamento, seguem pensando como pensavam os primitivos israelitas, e conservam profundamente arraigados e seu inconsciente aquela imagem de Deus que Deus deveria responsabilizar-se por todos os males que acontecem na sociedade. Ainda que Jesus Cristo nos explicou que Deus não quer nossas dores e sofrimentos, muitos cristãos pensam que os sofrimentos que padecemos são enviados por Deus. É muito comum, por exemplo, ao visitar algum enfermo, ouvir os amigos dizerem: “tens que aceitar o que Deus manda”, como se Deus houvesse proporcionado aquela enfermidade. Ou mesmo em velório, ouvimos a famosa frase dos que estão “consolando” os familiares: “temos que aceitar a vontade de Deus”. Porém, como podemos admitir que é vontade de Deus que alguém morra? “Deus é Deus de vida e não de morte, dizia Jesus” (Mc 12,27). Deus dá vida e nunca tira. O livro da sabedoria diz expressamente: “não foi Deus que fez a morte” (Sb 1,13). Como podemos culpá-lo do falecimento de alguém, quando o mesmo Jesus, em seu nome, devolveu a vida a três pessoas que estavam mortas. Pensar que estes incidentes sucedem por vontade de Deus é um falta de respeito a Deus e uma grave ofensa a seu amor e sua bondade.


ARIEL ÁLVARES VALDES, Extraído da REVISTA HUMANIZAR n.º54 pág.54 Jan./Fev. 2001 Espanha) Embriões Sobrantes: Um Problema sem Solução Ética e Viável

O que fazer com as centenas de milhares de embriões que a fecundação artificial deixou no congelador? Conservá-los indefinidamente, destruí-los ou destiná-los à pesquisa não é ético; doá-los a outras pessoas que queiram fazê-los nascer é impraticável. O problema foi abordado por Gonzalo Herranz em sua contribuição ao recente Simpósio Internacional sobre “Questões Éticas e Jurídicas do Embrião”, realizado em Madri (Espanha) no dia 7 de novembro, organizado pela Associação Espanhola de bioética. O texto a seguir é um resumo de sua palestra.

Como a fecundação artificial não garante a gravidez, explica o dr. Herranz, desde o momento em que a técnica começou a ser utilizada se vêm criando embriões humanos sobrantes (EHS) para compensar os fracassos. Mais tarde, a possibilidade de congelar os embriões e conservá-los para novas tentativas-se a primeira falhar - aumentou o número de EHS, também porque aproximadamente metade dos embriões se perde quando são descongelados. Ao conseguir a gravidez ou desistir das tentativas, os casais abandonam os embriões congelados e não-usados, criando assim a atual acumulação de EHS. Seu número é estimado em 300 mil a 400 mil nos Estados Unidos. “O número de embriões congelados continuará a crescer”. A tendência não será parar no futuro nem com o congelamento de oócitos (células que dão origem aos óvulos), porque a chance de nascer uma criança a partir da fecundação de um oócito congelado não passa de 1%. (1) De nada adiantará, ainda, o cultivo dos embriões in vitro até a fase de blastocisto, porque isso permitiria apenas selecionar os mais fortes e converter os outros em sobrantes. Além disso, em tempos recentes, “para evitar os problemas biológicos e econômicos derivados de gestações múltiplas, estabeleceu-se como norma que não se devem implantar mais de dois embriões por tentativa, o que contribui para aumentar o número de EHS”. PROBLEMA INSOLÚVEL Para o dr. Herranz, à grave questão sobre o destino a dar aos embriões humanos sobrantes não tem respostas que sejam ao mesmo tempo éticas e viáveis”. “Para um problema tão grande, não parecem ser uma solução as débeis e questionáveis alternativas do congelamento de oócitos, nem os procedimentos de seleção e eliminação implicados no cultivo prolongado in vitro ou no diagnóstico pré-implantatório. Estas técnicas selecionam e rejeitam drasticamente embriões congelados de baixa qualidade vital ou genética. A mesma mentalidade da seleção é, de certo modo, insaciável: escolher o ótimo requer a maior quantidade possível de material primário. A crioconservação indefinida não é uma solução: seria absurdo aumentar todo ano o número de tanques de nitrogênio líquido para ir armazenando dezenas, centenas de milhares de embriões congelados, petrificados no tempo. A doação a outros casais também não resolve o problema. Como assinala um trabalho recente, fala-se muito e bem da doação de embriões, mas na prática é tudo muito diferente. Mesmo solucionando os complexos problema legais, os receptores querem saber tudo sobre as características psicológicas e genéticas dos doadores. Estes, por sua vez, ainda precisam superar o apego emocional aos embriões e colocar estas criaturas nas mãos de pessoas cujo caráter e estilo de vida são completamente desconhecidos. (2) REPUGNÂNCIA MORAL DIANTE DA DESTRUIÇÃO


“A destruição pura e simples não é solução. Nenhuma palavra (”deixar morrer”, “impedir o crescimento”, “destruir”) pode esconder o fato duro de que um ser humano foi criado para viver e agora isso lhe é negado”. Além disso, nos países (como a Espanha) onde a lei ordena a destruição dos EHS depois de um certo prazo, a norma não se cumpriu, até onde se sabe, por causa da repugnância que a destruição provoca nos médicos. Mas também não é uma solução “a pesquisa destrutiva, que reduz os embriões à condição de coisas consumíveis, o que é incompatível com o respeito mínimo exigido pelo sujeito humano em pesquisa biomédica. Não há nenhum motivo de pesquisa que possa se alcançada legitimamente `custa de vidas humanas. Assim está escrito no Código de Nuremberg, na Declaração de Helsinque e no Convênio sobre Direitos Humanos e biomedicina do Conselho Europeu. O SÁBIO É EVITAR Diante de um problema de tais dimensões e complexidade, a atitude sábia é evitálo, na medida do possível. Não produzir embriões humanos sobrantes deliberadamente é uma decisão moral e cientificamente viável. Mas choca, de um lado, com os interesses das clínicas de fecundação artificial – muito motivadas para alcançar as cotas máximas de eficiência, prestígio e competitividade – e, de outro, com os interesses dos usuários das técnicas, que não querem passar pelo mesmo incômodo, risco e gasto que comportaria o reinicio do processo clínico. Mas, ao ver as coisas em uma perspectiva de justiça (à qual o embrião tem direito), conclui-se que, por causa destas preferências e sucessos marginais, estamos pagando um preço proibitivo: a existência indescritivelmente precária de milhares de seres humanos”. O dr. Herranz aponta um caminho para começar a parar a produção de EHS: a responsabilidade dos casais. As pessoas que procuram as técnicas de fecundação artificial se encontram, muitas vezes, em uma situação especial. Querem ansiosamente um filho. Fazem-no com carga emocional forte, pois o tempo corre contra elas e a superação da esterilidade pode ser fator decisivo para a estabilidade do casamento. A deontologia médica moderna obriga o médico a dar aos pacientes toda a informação que seja eticamente significativa, incluindo os riscos e as conseqüências de suas decisões. Os casais responsáveis precisam de informação objetiva e completa, pois não podem ignorar a conseqüência de suas escolhas e devem fazê-las em perfeita lucidez. Entretanto, na fecundação artificial não se faz assim. O dr. Herrans afirma: “Procurei na bibliografia e nos poucos formulários de consentimento informado para congelamento de embriões já publicados se há informação e um pedido de consentimento sobre o número exato de embriões criação que os pais autorizam. Não encontrei nada, exceto uma referência a uma lei vigente no estado norte-americano do Louisiana”. CONSENTIMENTO INFORMADO “Produzir embriões sobrantes é dar a vida, como fruto de uma decisão calculada e com a ajuda da tecnologia, a seres humanos para colocá-los em um estado onde estão completamente indefesos. Isso é assunto de extrema intensidade moral. A princípio, os pais recorrem à fecundação artificial em busca de um filho muito desejado. Os embriões criados no laboratório são feitos para viver. Não são criaturas surgidas de modo casual, inesperado, irresponsável, em um arrebatamento erótico e passional. Eles são trazidos à existência de modo intencional – para serem filhos -, com plena deliberação, com a ajuda da técnica científica. E isso cria uma responsabilidade ética qualificada. A julgar pelas aparências, porém, pais e médicos estão de acordo em produzir embriões sem perceber o que fazer, sem querer notar que se trata de filhos de verdade, pelos quais é preciso sentirem-se responsáveis. ‘Muitos pais – diz uma embriologista


clínica inglesa - pedem para congelar seus embriões sem ter pensado a respeito de todas as implicações dessa decisão. E rapidamente os abandonam, mental e fisicamente.’ ”(3) Por isso, o dr. Herranz conclui que a consciência civil e a deontologia médica exigem o fim da produção de embriões humanos sobrantes. GONZALO HERRANZ Enfermagem Volto novamente à velha canção, Que é tão cara ao meu coração. Enfermagem... Nessa manhã de beleza e friagem. Ela nasceu do eterno cuidar. Verbo tão lindo de conjugar... De velhos, De crianças, De lembranças, E de esperanças... Ela lembra me vigília, E a enorme maravilha, Que é o ajudar a nascer, E o precioso viver... Enfermagem... Às vezes, tão tecnológica, Sempre com uma dose de lógica. Em todos os momentos, O planejamento... No entanto é o coração... Que torna mágica a poção, Que se oferece ao paciente, Diariamente... Enfermagem... Nesse lindo mês de maio, Como consta em meu diário, Está o seu dia. Pura alegria, E gratidão... (Inaiá Monteiro Mello) A todos que, um dia, dedicaram se à arte da Enfermagem (maio/2001) DOR: CASTIGO, MISTÉRIO OU BENEFÍCIO Os antigos viam a dor como um castigo vindo do “alto”. A palavra dor tanto em grego como em latim, também significa punição, por isso a dor era aceita como um fardo, como parte da ordem natural.


Imaginar o mundo sem dor não era apenas leviano, mas sim, algo que se aproximava da blasfêmia. Mas, em todas as épocas, sempre houve quem de uma forma ou de outra se arriscava a questionar essa blasfêmia. Na obra intitulada “Papiro Ebers” verificamos que os egípcios, por volta do século XVI AC. Já empregavam o ópio, relacionando-o com o analgésico. No século V AC, na época de Hipócrates, os médicos aliviaram a dor de seus pacientes com um precursor da aspirina, derivado da casca do salgueiro. Mas também a raiz de mandrágora, o balsamo de tigre e a salsaparrilha eram específicos primitivos utilizados para alívio da dor. Humphrey Davy descobriu as propriedades anestésicas do óxido notroso há quase duzentos anos; Michael Faraday foi o pioneiro a observar os efeitos do éter; já a morfina isolada a partir do ópio devemos a Wilhelm Sertuner. A iniciativa do ataque contra a dor começou realmente na II Guerra Mundial, quando cirurgiões de Campanha verificaram que homens com membros mutilados, com graves lesões internas e queimaduras horríveis agiam como se nada sentissem, conversando calmamente com os médicos e recusando-se a receberem os narcóticos que lhes eram prescritos. Tal atitude dos pacientes levou os médicos a intuírem que os feridos estavam em plena euforia pela glória de alívio por terem se libertado do combate. Estavam os médicos longe de suporem que o corpo humano é capaz de produzir seu próprio narcótico. Hoje sabemos que o corpo é capaz de produzi essas substâncias. Embora importantes os primeiros progressos na pesquisa da dor atinham-se meramente aos sintomas. Foi só recentemente que se começou a compreender a natureza da dor e, sobretudo, o que a causa. Dor é uma mensagem enviada ao cérebro no sentido de informá-lo que os tecidos do corpo foram danificados. Hoje em dia, grande parte das pesquisas sobre o controle da dor, visa dilatar o percurso da mensagem. Essa mensagem varia de um a dois segundos e, nesse tempo, a dor é potencial, não é real. A dor só é real quando o sinal doloroso atravessa o tálamo e vai para a córtex cerebral, onde aí são percebidas a localização e a intensidade da dor. Dilatando, portanto, esse período de percurso, pode-se até controlá-la e, por que não, extirpá-la. “O sofrimento é uma visita de Deus” disse-nos Madre Tereza de Calcutá. E como é profundo o grande cristão, ortodoxo Dostoivevski, romancista russo ao falar do bem e do mal em sua obra, pela boca do personagem Roskolnikoff, o noivo, quando diz a Sofia ( menina prostituída pelo próprio pai): “... Roskolnikoff lançou um olhar de fogo sobre o rosto de Sofia, umedecido pelas lágrimas. Derepente curvou-se até o chão e beijou-lhe os pés. Sofia recusou assustada, como se tivesse diante de um louco. E Roskolnikoff lhe disse: ‘Não foi diante de ti, Sofia, que me curvei, mas diante de todo sofrimento humano’”. A vida parece-nos enfraquecida quando lhe faltam a dor e o sofrimento. É comum as pessoas acharem estranho quando tudo está certinho, harmonioso, sem contratempos Chegamos mesmo a termos um ‘pé atrás’ quando a vida parece-nos um ‘mar de rosas’. É o sofrimento que dá dimensão de profundeza à nossa existência. Só quem é capaz de sofrer por suas convicções merece ser levado à sério. O sofrer, muitas vezes maiores, ou mesmo é considerado como disciplinador da alma e do corpo para um crescimento posterior. No entanto, a dor desperta para o outro à medida que percebemos a dor alheia como apelo personalizado. A dor do outro contesta a nossa serenidade e o nosso tesouro, nosso


equilíbrio, nossa saúde. A dor do outro contesta nosso mundo, como nossa dor contesta o mundo construído pelos outros. Sem dúvida, a dor e o sofrimento ajudam a destruir o egoísmo e abrem as portas à compaixão e a solidariedade. Embora a doutrina cristã do sofrimento e dor, seja: Bela, Sublime e Grandiosa é impossível ao incrédulo abraçá-la. Eu digo: Impossível? Não: Difícil? Sim. Para o incrédulo abraçar a doutrina do sofrimento cristão é muito difícil, é quase impossível, porque não crê em Cristo, Supremo Julgador dos vivos e dos mortos. Ele, o Divino Mestre, o Filho de Deus vivo, único e eterno, julgará a todos, queiram ou não os incrédulos e negadores. E assim sendo o sofrimento terá significação dada a existência de um Supremo Senhor. Não há dúvida alguma que a dor exerce no mundo uma missão divina. Cristo santificou e divinizou a dor. Ela é uma benção. A dor cristamente suportada, recordará sempre ao homem o Reino de Deus que se aproxima, as delícias eternas do paraíso. Ninguém sobe ao Thobor sem passar pelo Gólgota. Não se acerta o caminho. O sofrimento e a dor faz descer à planície e inicia-se lentamente a ascensão do Calvário. Só então encontra-se o caminho do Thabor e chega-se ao cimo com Deus no coração. MARIA LÚCIA MIHOTO Hipertensão O que é? Uma pessoa tem hipertensão (pressão alta) quando o sangue faz uma força muito grande nas artérias (valor igual ou acima de 140 por 90mmHG, ou simplesmente “14 por 9”). A pressão, quando não controlada, pode prejudicar o funcionamento do coração, do cérebro e dos rins. Diagnóstico O diagnóstico é simples: basta medir a pressão. Pessoas acima de 20 anos devem medi-la pelo menos uma vez por ano. Se há casos de hipertensos na família, faça isso aso menos duas vezes por anos. Sintomas Na maioria dos casos, a hipertensão não apresenta nenhum sintoma. No entanto, algumas pessoas sentem dores de cabeça, tontura, zumbido no ouvido, dor no peito e fraqueza, que podem ser sinais de alerta. Quando ocorre A incidência é maior em adultos e pessoas idosas, mas pode ocorrer em qualquer idade. Fatores de risco  consumo excessivo de sal  consumo de álcool (além de dificultar o tratamento da hipertensão, pode aumentar a pressão)  fumo (aumenta o risco de problemas cardiovasculares, principalmente em pessoas hipertensas)  excesso de peso (prejudica o controle de pressão arterial, além de fazer o coração trabalhar mais)  estresse  falta de atividade física


diabetes (portanto estão mais propensos a desenvolver hipertensão)

Recomendações  mantenha o seu peso ideal. Se necessário, mude seus hábitos alimentares. Coma mais fruta, verdura, legumes e grãos  não abuse do sal  pratique uma atividade física regular aproveite os momentos de lazer  deixe de fumar  diminua as preocupações e o nervosismo  modere o consumo de álcool  evite alimentos gordurosos

Analisando Riscos Não existe medicamento sem riso. Essa frase guiou os 12 anos de trabalho do médico Robert Fenichel no Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de medicamentos e alimentos do Estados Unidos, onde ocupou a cargo de vice-diretor da divisão de drogas cardiorrenais. No seu período na agência, ele ajudou a analisar mais de cem novas drogas. Aposentado desde o ano passado e trabalhando como consultor da indústria farmacêutica, Fenichel é duro ao afirmar que qualquer medicamento forte o suficiente para beneficiar o organismo é ao mesmo tempo o suficiente para prejudicá-lo. Esta entrevista ao jornal New York Times foi concedida no mês passado, em sua casa, em Washington. Pergunta – Quando um medicamento é considerado seguro significa que ele é 100% seguro? Robert Fenichel – Tudo tem algum efeito colateral. Quando as pessoas precisam de medicação, tudo bem, como, por exemplo, se você precisa de penicilina para uma endocardite bacterial, que tem 100% de mortalidade se não for tratada. É verdade, você também pode morrer de uma reação alérgica ao antibiótico, mas não importa. É melhor tomar o remédio. Recusar seria estúpido. Pergunta – O senhor faz distinção entre drogas realmente necessárias contra doenças sérias e o que o senhor chama de “terapia sintomática”, remédios que muita gente mais de uma vez somente para aliviar sintomas chatos como nariz escorrendo ou dor de cabeça. Como se faz a decisão risco-benefício nesses dois casos? Fenichel – É muito diferente. Na endocardite, algumas pessoas podem morrer com a terapia, mas mais serão salvas do que perdidas. Em condições puramente sintomáticas, a terapia também pode matar. Não muitas pessoas, mas algumas. Não é uma questão de vida ou morte, por isso a relação risco-benefício pesa mais no lado do risco. As pessoas estão tomando remédios para uma dor de cabeça comum, ou cólica menstruais, ou fazendo cirurgias cosméticas. Esses problemas não geram mortalidade. Então, se a pessoa escolhe essas terapias, está aumentando o risco de morte, em vez de diminuí-lo. As pessoas precisam de cirurgias para apendicite, não de cirurgia cosméticas ou de anti-histamínicos. Pergunta – Dado os riscos, as pessoas deveriam pensar duas vezes e não tomar medicamentos ou fazer cirurgias que tratem somente os sintomas? Fenichel – Pessoas fazem bungee jump. Presumidamente, isso os faz se sentirem bem. Se é alguém propriamente informado dos perigos, não é ilegal fazer bungee jump. Quando se trata de cirurgia, todos também devem saber dos riscos que correm, já que é possível morrer em uma simples plástica de nariz. O paciente é o único que pode saber se vale a pena correr o risco. Esses dois exemplos não são diferentes do contexto médico. O sintoma é seu, você sente a dor, você decide o que fazer.


Pergunta – O senhor acredita que a maioria das pessoa sabe avaliar a perspectiva do risco da medicação? Fenichel – Claro que não. Não é óbvio que há risco em tomar remédios. Isso significa que existe um esforço inadequado para transmitir essa informação? Talvez sim, talvez não. Será que eu entendo um risco de hepatite de uma em 1milhão se eu tomar tal remédio? Talvez não. Quando esses números são muito pequenos, são muito difíceis de compreender. Muita gente nem sabe que 25% significa um em quatro. As pessoas se preocupam muito mais com a segurança em aviões do que em carros. Preocupam-se mais com a doença da vaca louca do que com o tabagismo. Na França, as pessoas continuam fumando, mas estão parando de comer carne! Pergunta – Os sintomas chegam a ser tão ruins que justificariam tomar um medicamento com risco considerável? Fenichel – O caso mais dramático, eu acho, foi uma droga, mais ou menos seis anos atrás, chamada flosequinan, feita no Reino Unido. Era uma droga para o coração, para pessoas que mal podiam atravessar uma sala ou se vestir sem ficar desesperadamente sem ar e que tinham expectativa de vida de dois ou três anos somente. A droga realmente fazia com que os pacientes se sentissem melhor. Eles não precisavam ficar hospitalizados e podiam se locomover. Mas o medicamento aumentava a mortalidade em 50%. E isso é muito. Os pacientes poderiam morrer antes de outros com a mesma doença que não tomassem o remédio. Bom, isso foi considerado pelo FDA, e os resultados na melhora da qualidade de vida do paciente foram tão bons que a droga foi aprovada. Mas o laboratório decidiu por não colocá-lo no mercado. Pergunta – Por que alguns efeitos colaterais não aparecem até que a droga tenha sido posta no mercado, mesmo tendo sido testada em milhares de pacientes/ Fenichel – Se você tem 3 mil pacientes que é o número típico de pacientes expostos à droga antes da comercialização , e algo ocorra uma vez em mil em que o produto é usado, é 95 provável que você perceberá isso na pesquisa. Em 5% dos casos não se nota isso. Mas, se algum efeito acontecer em um a cada 5 mil, a chance de ser percebido é muito pequena. A única chance real é se acontecer algo tão chamativo como os bebês da talidomida. Mesmo que esse efeito surja em um em 1milhão, certamente no segundo se perceberá o problema. Mas a maioria das coisas é muito difícil de detectar. E isso quer dizer que diversos pequenos efeitos nunca serão percebidos. DENISE GRADY


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