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Ano XVII- n.º 189 – agosto de 2001 Medicamentos Antidepressivos O tipo de depressão que mais se beneficia com o tratamento medicamentoso é mais que uma simples tristeza ou “baixo astral”. É uma condição prolongada, com duração de duas semanas ou mais, que interfere na capacidade da pessoa para desempenhar as suas tarefas diárias e sentir prazer em atividades que antes ela considerava agradáveis. A pessoa deprimida mostra-se muito triste e pode demonstrar falta de interesse no ambiente à sua volta. Pode apresentar diminuição do apetite e perda de peso (embora algumas pessoas comam mais e engordem quando deprimidas). Pode dormir demais ou muito pouco, ter dificuldade para adormecer, ter sono agitado ou despertar entes da hora, de madrugada. Pode manifestar sentimentos de culpa, autodesvalorização ou desesperança. Pode se queixar de que seu pensamento estão lentos, sentir falta de energia, achar que “tudo é difícil” ou apresentar-se agitada e irrequieta. Uma pessoa deprimida pode chorar, pensar e falar em se matar, e até mesmo tentar o suicídio. Outras têm sintomas psicóticos, como delírios (idéias falsas), que estão relacionados com a sua depressão. Por exemplo, uma pessoa com depressão psicótica pode se julgar morta e se imaginar no inferno, sendo punida. Nem todas as pessoas deprimidas têm todos estes sintomas, mas todo deprimido apresenta ano menos alguns deles. A depressão pode variar de intensidade, de leve a grave. Os antidepressivos são utilizados amplamente nos casos de depressão grave, mas podem ser também benéficos em casos de depressão mais leve. Os antidepressivos, embora não sejam estimulantes, reduzem ou eliminam os sintomas de depressão e ajudam a pessoa deprimida a se sentir como se sentia antes de se tornar deprimida. Os antidepressivos são também utilizados para distúrbios caracterizados principalmente por ansiedade. Podem bloquear os sintomas de distúrbios do pânico, com palpitações, angústia, tontura, dores no peito, náusea e falta de ar. Podem também ser utilizados para tratar algumas fobias (medos de coisas ou situações específicas). O médico escolhe um determinado antidepressivo, de acordo com os sintomas individuais de cada paciente. A melhora da depressão não ocorre imediatamente após se começar a tomar o medicamento. A maioria dos antidepressivos leva de 1 a 3 semanas para começar a fazer efeito. Alguns sintomas melhoram logo, outros levam mais tempo. Por exemplo, o nível de energia ou o padrão de alimentação e sono da pessoa pode melhorar antes que o humos se apresente menos deprimido. Se houver pouca ou nenhuma alteração nos sintomas após 5 ou 6 semanas de tratamento, pode-se tentar outro medicamento . Algumas pessoas respondem melhor a um medicamento do que outros. Como não existe um meio seguro de se determinar previamente que medicamento será eficaz, o médico pode ter que prescrever inicialmente um, depois outro, até encontrar aquele que seja eficaz, O tratamento é mantido no mínimo por vários meses e pode durar até um ano ou mais. Enquanto algumas pessoas têm apenas um episódio depressivo e depois nunca mais têm outros, ou permanecem livres de sintomas durante anos, outras têm episódios mais freqüentes ou muito prolongados, que podem durar anos, Algumas pessoas sentem que sua depressão se torna mais freqüente e grave à medida que elas envelhecem. Nestas pessoas, o tratamento contínuo (de manutenção) com antidepressivos pode ser um meio eficaz de reduzir a freqüência e gravidade da depressão. Os antidepressivos mais freqüentemente utilizados não apresentam efeitos colaterais conhecidos a longo prazo, e podem ser utilizados indefinidamente.


A dose receitada pode ser reduzida se os efeitos colaterais incomodarem. O lítio pode também ser utilizado para o tratamento de manutenção de episódios repetidos de depressão, mesmo que não existam evidências de uma episódio de mania no passado. As doses de antidepressivos variam, dependendo do tipo de medicamento, do metabolismo individual, da idade e, algumas vezes, do peso do paciente. Geralmente, indica-se o tratamento com doses baixas, que vão sendo aumentadas gradualmente, até que se alcance o efeito desejado sem o aparecimento de efeitos colaterais desagradáveis. Existe uma grande variedade de medicamento antidepressivos disponível. Eles diferem em temos de efeitos colaterais e, em algum grau, no nível de eficácia. Os antidepressivos tricíclicos (assim denominados por sua estrutura química) são mais comumente utilizados no tratamento de depressões denominadas “maiores” que os inibidores da monoaminooxidase (IMAO); mas os IMAOs são freqüentemente úteis nos casos das chamadas depressões “atípicas”, cujos sintomas são excesso de sono, ansiedade, ataques de p6anico e fobias. A clomipramina é um antidepressivo tricíclico usado também no tratamento do distúrbio abessivo-compulsivo (DOC). A fluoxetina, um antidepressivo bicíclico, comercializado desde 1989, tem sido bastante utilizada. Alguns antidepressivos mais novos estão atualmente sendo estudados e podem vir a ser comercializados nos próximos anos.

EFEITOS COLATERAIS DE MEDICAMENTOS ANTIDEPRESSIVOS Antidepressivos Tricíclico Os antidepressivos tricíclicos podem produzir efeitos colaterais, que variam de acordo como medicamento. Por exemplo, a amitriptilina pode deixar as pessoas sonolentas, enquanto que com a nortriptilina este efeito dificilmente ocorre. Por causa deste tipo de variação nos efeitos colaterais, um antidepressivo pode ser altamente indicado para uma pessoa e não ser recomendável para outra. Os tricíclicos, algumas vezes, podem complicar problemas cardíacos especíicos, e o médico deve estar ciente desta possibilidade. Outros efeitos colaterais dos tricíclicos são visão borrada, boca seca, constipação, ganhos de peso, tontura ao mudar de posição, sudorese excessiva, dificuldade de micção, alterações do interesse ou desempenho sexual, espasmos musculares, fadiga e fraqueza. Nem todos os tricíclicos produzem todos estes efeitos colaterais, e nem todas as pessoas os apresentam. Alguns dos efeitos desaparecem rapidamente, enquanto outros podem permanecer durante todo o tratamento. Alguns efeitos colaterais são semelhantes aos sintomas de depressão (por exemplo, fadiga e constipação). Por isso, o paciente ou seus familiares devem discutir todos os sintomas com o médicos, que poderá trocar o medicamento ou alterar sua dose. Os tricíclicos também podem interagir como o hormônio da tireóide, com medicamentos antihipertensicos, contraceptivos orais, alguns anticoagulantes, medicamentos para dormir, antipsicóticos, diuréticos, anti-histamínicos, aspirina, bicarbonato de sódio, vitamina C, álcool e fumo. Uma dose excessiva de antidepressivos é grave e potencialmente fatal, requerendo imediata atenção médica. Sintomas de intoxicação desenvolvem-se em 1 hora e podem se iniciar com palpitações, pupilas dilatadas, rubor facial, agitação, e progredir para confusão mental, perda da consciência, convulsões, arritmias cardíacas, colapso cardiorrespiratório, e morte. PRECAUÇÕES NECESSÁRIAS AO SE TOMAR ANTIDEPRESSIVOS Quando se tomam antidepressivos, é importante relatar a todos os médicos (e dentistas) – não apenas àqueles que está tratando a depressão – todos os medicamentos em uso, inclusive os comprados sem receita médica, bem como eventual consumo de álcool. Os antidepressivos devem ser tomados


apenas na quantidade receitada a mantidos em lugar seguro, longe do alcance de crianças. Quando utilizados de modo apropriado, segundo as instruções médicas, os antidepressivos são medicamentos bastante úteis que podem reverter os sintomas da depressão e ajudar uma pessoa a sentir-se bem novamente. CUIDADOS PALIATIVOS – UMA NOVA ABORDAGEM EM EVOLUÇÃO NO BRASIL Introduzir o conceito de cuidados paliativos em nossa sociedade tem sido um grande desafio. Lutar para que esta sociedade se familiarize com esses cuidados indispensáveis é remeter o ser humano à verdadeira essência da medicina . Propiciar o controle da dor, o alívio dos sintomas e melhor qualidade de vida para os pacientes que padecem de uma doença crônico-evolutiva sem possibilidades de cura, é um direito deste, um dever de cada profissional da área da saúde e de toda a comunidade . O termo “palliare” vem do latim e significa cobrir, proteger, acobertar. É um termo constantemente compreendido em nossa cultura como algo sem fim específico, sem muito valor, um disfarce. Hoje, tal conceito já vem sendo disseminado por todo o mundo e compreendido como uma abordagem de assistência contínua e integral, com o objetivo de lidar com o paciente sem possibilidades de cura, focando o controle da dor e o alívio de sintomas em busca de melhor qualidade de vida. De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde : “Os cuidados paliativos são os cuidados totais e ativos ao paciente cuja doença não responde mais aos tratamentos curativos e quando o controle da dor e de outros sintomas psicológicos, sociais e espirituais tornam-se prioridade. O objetivo é oferecer a melhor qualidade de vida possível aos pacientes e familiares. Muitos aspectos dos cuidados paliativos são também aplicáveis durante todo o curso da doença e tratamentos.”(1). Tal definição direciona e ressalta os aspectos relevantes para quem cuida e para quem é cuidado. Todos nós sempre tentamos aliviar o sofrimento do outro. O que faziam os médicos antigamente a não ser paliar e aliviar ? Na Idade Média, com o aparecimento dos hospices, locais para abrigar os enfermos que perambulavam em busca de alívio e conforto, teve iníciou uma filosofia que se difundiu nos anos 60 com o movimento moderno de hospice, que divulgava o respeito à dignidade do ser humano e os cuidados intensivos e totais aos enfermos terminais. Nestes 25 anos a medicina paliativa vem se desenvolvendo como resposta à necessidade dos pacientes. O avanço da tecnologia da medicina vem propiciando um avanço jamais sonhado; novas drogas, novos procedimentos, especialidades e sub-especialidades foram surgindo, contribuindo para o aumento da cronicidade das doenças e, consequentemente, para a maior sobrevida dos pacientes. Enquanto esta evolução ocorre, algumas mudanças acontecem na formação e nas atitudes dos médicos, trazendo como foco principal o curar e não o cuidar. Os hospitais foram tendo como enfoque a investigação e os tratamentos e os pacientes em estágio avançado freqüentemente começaram a não ser mais foco de investimento por parte das instituições. Aqueles que estavam morrendo despertavam menos o interesse da comunidade científica e a morte começam a aparecer como uma falha médica.


Questões como a comunicação médico-paciente, aspectos éticos, psicológicos, sociais foram sendo relegados a segundo plano. O processo de hospitalização, o excesso de rotinas e sub especialidades afastou o médico e os demais profissionais da saúde da proximidade do evento morte e de todo o significado que tal acontecimento poderia ter para o paciente e para os seus familiares. Em nosso país, os estudos demonstram que 70-100% dos pacientes com câncer sofrem de dor na fase avançada ou terminal. Estes pacientes morrem com dor, abandonados, pois embora se tenha acesso aos mais modernos avanços tecnológicos, facilidades diagnósticas e terapêuticas, não se tem o devido acesso às drogas essenciais para o alívio da dor e o respeito à sua dignidade. Em países desenvolvidos os cuidados paliativos começam a ser um direito básico quando os cuidados curativos não são mais apropriado. Em países subdesenvolvidos, devido ao grande número de pacientes em fase avançada do câncer, os cuidados paliativos são praticamente a única esperança. Portanto, não é um luxo final, mas um direito humano básico que deveria estar disponível a quem necessita (2). Segundo a previsão da Organização Mundial de Saúde, para o ano 2015 9 milhões de pessoas morrerão de câncer, anualmente em países desenvolvidos, uma estatística extremamente preocupante. Este é um alerta para uma série de fatores, dentre eles a necessidade urgente de assistir melhor estes pacientes, de implantar programas de educação em saúde, de desenvolver uma política de saúde adequada e de criar diretrizes para a implantação de unidades de cuidados paliativos em todo o país, o que de alguma forma já está sendo iniciado. Nossa sociedade vem atendendo estes pacientes dentro da realidade de cada instituição, com poucos recursos e pouca, quando não total ausência de formação dos profissionais . Os pequenos grupos de profissionais que escolheram trabalhar nesta área devem contar com a possibilidade de uma formação específica para serem realmente úteis, oferecendo os devidos cuidados, estando atentos para as necessidades do paciente e de seus familiares e para as dificuldades que enfrentarão ao lidar diariamente com o sofrimento e a morte. A comunicação entre médico, equipe, paciente e familiares deve ser clara, contínua e verdadeira. A família, constituída por parentes próximos ou pessoas com as quais o paciente mantém outros vínculos significativos, tem papel crucial no bom enfrentamento do processo de adoecimento. Os profissionais da saúde devem acionar a família para maximizar os resultados do tratamento. Este é o primeiro suporte com o qual o paciente vai contar. Independentemente do número de pessoas que compõem as famílias da qualidade de relacionamento e da comunicação entre os seus membros, esta vai influenciar diretamente no bom enfrentamento da doença por parte do enfermo. Adoecer acarreta uma série de mudanças na vida do indivíduo, no contexto familiar, profissional, social e psicológico. O impacto psicológico da doença e seus tratamentos é diretamente influenciado pela interação entre o grau de comprometimento físico, os recursos internos do paciente, a intensidade dos tratamentos, os efeitos colaterais e outras reações adversas da interação com a equipe de saúde.(3)


O câncer e a AIDS, especificamente, levam os pacientes a um processo de reflexão intenso sobre o verdadeiro sentido da vida e da morte, e a família, os cuidadores e os profissionais da saúde são acompanhantes deste processo. Muitos valores e crenças são questionados e desafiados, muitas constatações tornam-se surpreendentes, muito sobre se mesmo pode ser descoberto pelo paciente nesta reavaliação da vida. A espiritualidade também tem um papel importante neste processo, por que através dela nos conectamos com algo maior, com uma dimensão mais ampla e reconfortante. A equipe de saúde, e a família, precisam falar a mesma linguagem e oferecer subsídios para que o paciente possa descobrir em si mesmo tais potencialidades. O paciente deve ser ativo no processo de sua doença e tratamento, deve buscar o equilíbrio e a interação com os profissionais podem ajudá-lo a enfrenta-la. Deve buscar informação, esclarecimento e apoio para discernir sobre o que é melhor para si . Não somos nós, profissionais da saúde, que diremos qual é a melhor qualidade de vida para este ou aquele indivíduo. A interação com a doença, assim como o bom enfrentamento desta, é um processo individual . Tal processo, cheio de significados, pertence ao paciente. Os profissionais da saúde devem estar aptos para promover um ambiente acolhedor e oferecer recursos aliviar a dor/ Da reflexão sobre a previsão de tantos casos de câncer e HIV/AIDS que virão a ocorrer em nosso país e no mundo, nasce o movimento de retomada de alguns princípios básicos da essência da medicina. Sem a união e participação das instituições de saúde públicas e privadas, da indústria farmacêutica, das entidades governamentais, da Vigilância Sanitária, da iniciativa privada, dos profissionais interessados e toda a comunidade, não haverá mudança. Na realidade, este movimento gera benefícios para todos que buscam uma sociedade melhor, que faz o que tem de ser feito. A Associação Brasileira de Cuidados Paliativos quer sensibilizar os profissionais da saúde para a importância de tais cuidados, buscando a formação adequada para estes profissionais, para que tal desafio possa o mais rápido possível reverter em real benefício para pacientes e familiares. Atualmente, em nosso país, 29 serviços de cuidados paliativos foram levantados pela Associação Brasileira, situados nas 5 regiões do país e organizados de forma eficiente, provendo assistência em ambulatório, na internação e no domicílio. A necessidade desses serviços se organizarem veio da grande demanda de pacientes que têm a possibilidade de viver mais, mas ainda vivem com dor e com uma série de sintomas que os impedem de viver com dignidade. Quase todos esses serviços nasceram de Serviços de Dor que se desenvolveram e assumiram muito da assistência integral aos pacientes. Programas de apoio e suporte psicossocial não podem mais ser encarados como dispensáveis, o trabalho em equipe multidisciplinar é imprescindível para compreender o paciente e o ambiente onde está inserido, acarretando maior adesão aos tratamentos, melhor enfrentamento, uma relação mais estreita com o médico e a equipe, uma participação ativa e digna do paciente. Que neste novo milênio possamos avançar em técnicas diagnósticas e terapêuticas de detecção precoce e tratamento, que possamos alcançar maiores perspectivas no controle da doença e no alívio de sintomas mas, antes de tudo, que possamos oferecer a formação e a capacitação à equipe de saúde, para proporcionar um atendimento mais humano e digno ao paciente Que o conceito de qualidade de vida, tão amplamente divulgado, possa ser antes de tudo compreendido.


Referências Bibliográficas: 1. DOYLE, D; HANKS, G.; Mac DONALD, N . Oxford Textbook of Palliative Medicine. Oxford University Press.Inc., New York,1998. 2. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Cancer Pain and palliative care. Technical Report 804. Geneva,1990. 3. LEVIN, D. N.; CLEELAND, C. S.; DAR, R. Public attitudes toward cancer pain. Cancer. 1985; v. 56, p. 2337-39. Ana Georgia Cavalcanti de Melo, Psicóloga Clínica especializada em Oncologia. Fundadora e Presidente da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos; fundadora do Instituto Day Care Center e consultora do Programa de Cuidados Paliativos da Coordenação Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde. Acolher, Escutar, Entender e Estimar a Pessoa Doente

1.Cada pessoa é uma personalidade diferente com uma história, mais ou menos intermitente, de sucessos e fracassos na sua dinâmica psicossomática, vivências familiares, relacionamentos sociais, atividade profissional, intervenção social, política e cultural de acordo com uma escala de valores éticos, estéticos e religiosos. De fato, a qualidade de vida e a situação sanitária dependem de fatores múltiplos, uns sofridos e outros provocados pela pessoa, pela falta de prevenção ou por, eventualmente, correr riscos irrefletidos. 2.Ao depararmos com uma situação de doença deveremos acolher a pessoa fragilizada e escutá-la, sem curiosidade doentia de querer saber “porque” aconteceu, “como” se processou e evoluiu o seu estado, “quem” foi o culpado, qual o diagnóstico e o prognóstico... O urgente é que a pessoa doente descubra em que vez de ser julgada e apoiada, sem grandes preocupações de despropositado aconselhamento sanitário ou recomendar doses de paciência e conformação... 3.Para além das dores, do sofrimento, interrogações e inquietação acerca do futuro pessoal, familiar, profissional e socioeconômico, o risco provocado pela doença prolongada ou crônica é a solidão, a consciência de esquecimento e até a percepção de ser não só dispensável mas até um peso para os familiares. Quanto mais se prolonga o estado de doença mais as visitas rareiam, menor é o interesse expressamente manifestado. Isto é fonte de sofrimento pois a pessoa se sente marginalizada e eventualmente injustiçada. 4.Independentemente das causas, lentas ou abruptas, da situação de doente, o que acontece é que, habitualmente. -Dá-se uma ruptura na respectiva atividade e na dinâmica da própria participação familiar, profissional e social que era fonte de afirmação; -Cessam as atividades, instaura-se a dependência e a consciência da perda de autonomia e da liberdade de opção. -A possível consciência de ser vítima, real ou imaginária, com a percepção de que os projetos e esperanças são substituídos pelo pessimismo, revolta e, eventualmente, até o desespero. 5.De qualquer modo e diferentemente em cada caso, o que freqüentemente surge é uma vivência de crise, de receio que a vida que planejada pode tornar-se uma incógnita ou até um pesadelo. E quanto mais a pessoa estima a própria independência, participação social ativa e até liderança, mais sofre com as dependências e a inutilidade, enquanto se torna um peso para a família e a sociedade.


6.Discretamente poderemos sugerir a conveniente aceitação dos próprios limites e as agravantes limitações a que todos estamos sujeitos. Eventualmente poderemos ser tentados a dar conselhos pretensamente bem-intencionados e até edificantes. O que deveremos é manifestar por atitudes a amizade efetiva, coerente e persistente. Deve-se evitar contar histórias “edificantes” que podem recordar outras tantas agressivas e maléficas. 7.Sempre útil é a discrição e escuta atenta para que a pessoa diminuída pela doença se sinta acolhida, estimada e apoiada pela solidariedade e fraternidade efetivas. É bem possível que tome atitudes contraditórias acerca de Deus, dos familiares, dos companheiros de trabalho com argumentos mais ou menos agressivos, por vezes pouco razoáveis. Deve-se auxiliar a pessoa doente a tentar ser lógica, a raciocinar com critério, propondo-lhe processos para pensar com lógica e aceitar os limites e as diferenças, assim como o “mistério da vida” que nos envolve a todos no tempo e para além dele... FR. BERNARDO, O. P. Morte Digna e Outras Mortes O Congresso Holandês aprovou, recentemente, por 140 votos contra 40, a lei que legaliza, no seu território, a prática da eutanásia. Esta lei não veio fazer mais que definir como legal aquilo que já era prática corrente, há bastante tempo. O problema da eutanásia claro que não se pôs e não se põe (porque a lei não o resolve...), somente na Holanda. Muito pelo contrário, continua a colocar-se em muitos países e até com grande acuidade. Não sabemos qual será o desfecho que terá nessas nações. É provável que em algumas o resultado venha a ser semelhante ao da Holanda. Será mais um caso ou casos a lamentar nos quais a morte terá prevalecido sobre a vida. É evidente que a lei, agora aprovada na Holanda, inclui procedimentos que estão previstos e são exigidos, como por exemplo, que a morte seja pedida pelo paciente e, portanto, não possa ser aplicada indiscriminadamente, mas isso não a torna justa a lei. Até porque, mesmo sem fazer outras considerações, se presta ao abuso de aplicá-la contra a vontade da pessoa, como no caso do médico holandês que aplicou a eutanásia a uma religiosa porque estava convencido de que a crença da sua paciente a impediria de a pedi-la. Para além soam possíveis abusos, a lei viola a dignidade humana, pois a morte provocada vai contra esta dignidade, mesmo que seja dada por piedade: a vida humana merece respeito sempre, em qualquer circunstância. Todos aqueles que defendem a eutanásia recorrem a sofismas de várias ordens, apresentando-a, por exemplo, como a panacéia que resolveria o problema das doenças terminais e irreversíveis. Ora, não é assim. E não é assim, porque é necessário considerar muitos outros problemas, antes e na ocasião da morte próxima. O fundamental, em toda esta problemática, é fomentar iniciativas e ações educativas para que as pessoas não peçam que lhes tirem a vida: desenvolver a medicina preventiva, utilizar os numerosos recursos que existem para aliviar as dores físicas e psíquicas, criar situações mais humanas para os doentes e considerar, sobretudo, que pedir para tirar a vida é, na maioria dos casos, um pedido de ajuda e afeto. A longo prazo, é necessário educar para a consciência dos nossos limites: a velhice, a perda de energia, o sofrimento; não ocultar a morte no dia-a-dia, de maneira que as pessoas tenham a possibilidade de ir integrando aquilo que é inevitável e faz parte da existência humana. É bom recordar também que não provocar a morte, não é sinônimo de prolongar a vida da pessoa por todos os meios científicos de que se possa dispor. Estamos a falar da distanásia, da


qual pouco se fala e é também condenável e vai contra a dignidade humana, ainda que não no mesmo grau que a eutanásia. Além disso, não queríamos deixar de sublinhar que a administração de fármacos para diminuir dores insuportáveis, mesmo que encurte a vida da pessoa, é moralmente permitida. Penso que isto é por vezes esquecido, deixando o doente experimentar um sofrimento que seria evitável. Tanto a eutanásia como a distanásia, embora em diferentes níveis, devem ser evitadas para dar lugar à ortotanásia (que etimologicamente significa morte “correta”, quer dizer, boa, humana, digna), a morte no tempo devido. Como diz o livro do Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo e quanto existe debaixo do sol tem a sua hora... tempo de nascer e tempo de morrer”. Realmente, a pessoa tem o direito de morrer em paz, quando chega o momento, deixando agir a natureza. Em relação a toda esta problemática que procuramos expor e é realmente complexa, além do que dissemos atrás, é necessário trabalhar cada vez mais por uma “cultura da vida” (como afirma o Papa), para que as pessoas dêem cada vez mais sentido às suas vidas. A existência não perde o sentido quando aparece o sofrimento, mesmo extremo, quando surgem as dificuldades e os problemas de várias ordens. É necessário criar e fomentar uma visão da existência orientada para o serviço e a entrega. Como alguém disse “o homem não se destrói por sofrer mas por sofrer, sem sentido”. Quer dizer, o problema está em nós, na maneira como encaramos e vivemos as dificuldades e o sofrimento. É essa visão que determina que a alguns o sofrimento os leva a apreciar mais a vida (como acontece com muitos deficientes, alguns bem profundos) e até a voltar-se mais para Deus, a outros os leva precisamente para o lado oposto, conduzindo-os por vezes ao suicídio. PARA REFLETIR Ao longo dos séculos a Igreja tem pago caro pelos pactos, compromissos e alianças políticas com os governos que lhe ofereciam privilégios, favores, garantias. Tem-nos pago com a perda da própria liberdade, da própria autonomia. ANTÔNIO COELHO, Artigo extraído – CARTA DO AMIGO – edição maio e junho 2001 Gastrite É Fogo! Como Apagar Este Incêndio

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A DOENÇA QUE TEM (INFELIZMENTE) TUDO A VER COMO QUE VOCÊ COME Quase 90 das gastrites são provocadas por uma bactéria – a Helicobacter pylori. Os estudiosos sabem apenas que ela se aloja no estômago e provoca uma inflamação no local. Entretanto, as formas de contaminação ainda são um mistério. Mas não pense que a bactéria é única vilã. Ter maus hábitos na vida é um caminho fácil para começar a sentir a queimação no estômago.


A alimentação com excesso de gordura, temperos, pimentas e açúcar, assim como o consumo exagerado de álcool e de bebidas com gás (refrigerantes, cervejas, entre outros), aumentam a produção do ácido clorídrico – uma substância que agride as paredes do estômago e provoca a gastrite. Além disso, o stress agrava ainda mais o problema. Pesquisa recentes apontam que 20 dos habitantes de grandes cidades têm a doença devido as tensões do dia-a-dia. Para combater o mal, a receita é fazer uma alimentação equilibrada e controlar o stress. Para quem tem a bactéria no estômago, a saída é tratá-la com medicamentos específicos. Antes de sair por aí tomando remédio por conta própria ou seguindo os conselhos populares, saiba o que realmente é verdade ou mentira sobre o assunto. Dor e queimação no estômago são os maiores sintomas Verdade. Mas senti-lo uma vez ou outra não significa que seja gastrite. “É preciso ter essas sensações por mais de duas semanas”, explica o gastroenterologista Moacyr de Pádua Villela. Azia é sinal de gastrite Mentira. A azia não tem a ver com gastrite. A queimação também ocorre, só que em local diferente. A dor da gastrite é na barriga. Já a dor da azia acontece na altura do peito e da garganta. Bebidas alcoólicas piora a gastrite Verdade. O álcool fermenta e ativa a produção de ácidos. Só não é prejudicial em pequenas quantidades, porque previne infecções pela Helicobacter pylori. A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Ulm, na Alemanha . A dosagem limite seria o equivalente a um cálice de vinho por dia. “Se a pessoa beber pouco, pode até matar a bactéria, mas, se exagerar, agride o estômago e piora o problema”, diz Villela. Leite alivia a situação Mentira. Há algum tempo os especialistas descobriram que ele piora a doença. Suas proteínas dificultam a digestão e aumentam a produção de ácido clorídrico. Comer em pequenos intervalos é bom para tratar a gastrite Verdade. O estômago produz ácido o tempo todo e não deve ficar vazio para que a substância não irrite as paredes do órgão. Comer a cada três horas é o mais recomendável. Plantas combatem o problema


Verdade. Tanto os chás de camomila e de gengibre quanto o óleo de hortelã são boas alternativas, eles são antiinflamatórios naturais. Outros aliados é o chá verde. Ele possui uma substância chamada catequina, que é importante na digestão. Os antiácidos são recomendados Mentira. Em geral, eles trazem na composição alumínio e magnésio – substância que neutralizam a acidez estomacal -, que proporcionam alívio temporários. Mas, se usados com exagero, podem causar o chamado efeito rebote. O organismo se acostuma com o remédio e, na presença do mais simples alimento, produz o ácido de forma contínua. Atualmente, os especialistas têm indicado a mudança no hábitos alimentares e medicamentos que combatem a bactéria, os antibióticos. A gastrite sempre vira úlcera Mentira. O limite entre a gastrite e a úlcera está no tamanho da ferida que se forma devido à inflamação. Qualquer alteração na parede do estômago com mais de 5 milímetros é considerada úlcera. Mas uma pessoa pode ter gastrite por anos sem que ela se transforme em úlcera. Já outras, podem ter úlceras sem ter tido gastrite.

TRATAMENTO PELA BOCA 

Coma bem devagar e mastigue muitas vezes os alimentos.

Reduza o cafezinho e evite o fumo. Dê preferência aos alimentos com pouca gordura.

Frutas, verduras e legumes são ótimas opções para aliviar a queimação. A banana, por exemplo, é rica em potássio, um mineral que renova as células danificadas do estômago e substâncias que formam uma barreira contra o ácido clorídrico. Na hora da dor, uma pode ser suficiente para amenizar o mal-estar.

O arroz, que é rico em amido, protege o estômago da presença dos ácidos, pois forma uma barreira.

A couve têm princípios antiinflamatórios que amenizam a irritação do aparelho digestivo.

“Deus Não Cura Sozinho” HANDS – O que as pessoas com câncer podem esperar das religiões em geral e do judaísmo, em particular?


RABINO SOBEL – Creio que a religião em geral e o judaísmo, em particular, podem oferecer ao paciente algo importantíssimo: a esperança. Em momentos de crise, a fé costuma ser muito poderosa, principalmente se o paciente com câncer consegue enxergar Deus não como o causador da doença, e sim como uma fonte de força para enfrentá-la. A religião pode oferecer ajuda e conforto e, neste sentido, pode operar verdadeiros milagres. HANDS – Freqüentemente, pessoas que se dizem céticas, agnósticas ou atéias, ao se confrontarem com o câncer, buscam um novo significado para suas vidas, em que a fé e a espiritualidade tornam-se relevantes. Como o senhor explica isto? RABINO SOBEL – É natural, nas horas de aflição, o ser humano sentir a necessidade de se agarrar a alguma coisa. É nesse contexto que a espiritualidade se torna relevante para o indivíduo até então cético. Quando parecem falhar os outros recursos que normalmente nos servem de âncora – a racionalidade, a tecnologia, a ciência -, o paciente procura algo para substituí-los; e esse “algo” é, muitas vezes, de natureza espiritual. HANDS – Por outro lado, pessoas que sempre praticaram sua religião com é, ao se depararem com o câncer, abandonam sua religião e convertem-se a outra, como se trocassem de deus. Por que isso acontece? RABINO SOBEL – O que tenho observado por experiência própria, em função do meu contato com pacientes com câncer, é que algumas dessas pessoas se decepcionaram com “alguém” em quem confiavam. Elas não se convertem a outro credo, mas sim se distanciam de toda e qualquer religião. Sentindo que deus os deixou, optam por abandoná-Lo. HANDS – Uma das perguntas mais recorrentes entre pacientes com câncer é: “Por que eu?”. Que resposta o senhor daria para estas pessoas? RABINO SOBEL – Não daria uma reposta; apenas formularia a elas uma outra pergunta: “Quando algo de bom lhes aconteceu, você se perguntaram ‘por que eu’? É tão comum derramar lágrimas pelas desgraças e tão raro elevar a voz em cânticos de gratidão pelas dádivas... HANDS – Alguns pacientes sentem-se injustiçados por Deus. Por que tantas pessoa más não têm câncer? RABIONO SOBEL – A vida não é justa. Coisas terríveis acontecem a pessoas boas, enquanto pessoas más são poupadas. Há quem diga que os infortúnios não são provocados por Deus, e sim pelos acasos da natureza. E a natureza, normalmente cega, não distingue as pessoas boas das ruins. É convidativa, sem dúvida, essa tese de que os poderes divinos são limitados. Mas não posso, em sã consciência, defendê-la. É inconcebível, o meu ver, a nação de um Deus criador do sol, da lua, dos planetas e da vida humana, um Deus capaz de manter sob seu controle a infinita complexidade do universo, mas incapaz de controlar a multiplicação de uma célula cancerosa. Por que essa determinada célula aparece no corpo de alguém, não sei dizer, mas não consigo honestamente acreditar que seja por mero acaso. É compreensível, portanto, o paciente com câncer sentir-se injustiçado por Deus.


O judaísmo admite essa revolta. Por isso, faz parte da nossa tradição não só pedir a Deus que perdoe nossos pecados, como também tentar perdoar os pecados dEle. HAND – Isto significa que, na religião judaica, se revoltar contra Deus não é pecado? RABINO SOBEL – A relação entre nós e Deus deve ser de amor, e o sentimento de amor é uma via de mão dupla, é recíproco. Quem ama a Deus tem o direito de questioná-Lo, mas tem, também, o dever de perdoá-Lo. Quem ama, perdoa. No judaísmo, temos o YomKipur, que é o Dia do Perdão, justamente para que possamos refletir sobre nossos erros e perdoamos uns aos outros, não só entre nós, humanos, como também a Deus. HAND – Outros atribuem o ato de estarem com câncer ao castigo divino por algo de errado que teriam feito no decorrer da vida. O senhor concorda com isso? RABINO SOBEL – Não creio que haja uma relação direta entre os “pecados” porventura cometidos pela pessoa e a doença grave a acometeu. Se houvesse, não veríamos tanta gente boa sofrendo com câncer. O que sei é que nossa capacidade de compreensão é insuficiente para entender os misteriosos desígnios de Deus. HANDS – Muitos pacientes resignam-se, encarando sua doença como sendo a vontade de Deus e, assim, assumem atitudes passivas, entregando toda a responsabilidade nas mãos dEle. O que o senhor pensa a respeito desta postura? RABINO SOBEL – Creio que Deus depende do paciente tanto quanto o paciente depende dEle. Deus não cura sozinho. Ele necessita da participação ativa do paciente. HANDS – Algumas pessoas com câncer tendem a abandonar as terapias médicas convencionas para buscaram “tratamentos espirituais”. O que o senhor diria a elas? RABINO SOBEL – Acredito que toda tentativa é válida, desde que seja em complementação às terapia médica convencionais, não em substituição a elas. E, obviamente, o médico deve ser informado de todo e qualquer tratamento alternativo. Henry Sobel, presidente da Congregação Israelita Paulista Artigo extraído da revista Hands Ano 1 – número 3 Abril/


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