O médico e o padre, a receita e a bênção O surgimento de “novas religiões” (teologia da prosperidade) bem como o avanço da tecnologia (exames e medicamentos sofisticados) está fazendo com que padres (assistentes espirituais) médicos (profissionais da saúde) se defrontem, cada vez mais, com os desafios que essas novas modalidades trazem diariamente. No campo religioso, crescem os movimentos neopentecostais (novas igrejas, “seitas evangélicas”, renovação carismática, espiritismo, misticismo etc.) que prometem, através de orações, rituais e bênçãos, prosperidade, cura, solução para todos os problemas e bemestar generalizado. No mundo médico, a tecnologia que possibilita o transplante e o implante de órgãos e tecidos. A indústria farmacêutica que coloca à disposição grande quantidade de medicamentos. Os mais sofisticados exames confundem a cabeça dos doentes e dos que os assistem. Por essa razão a assistência espiritual, bem como o atendimento médico, estão se tornando cada vez mais exigentes. Novas exigências Tanto na religião como na medicina houve grandes mudanças. Uma delas é que estamos vivenciando um momento no qual impera uma mentalidade menos paternalista. Hoje, o que o padre e o médico dizem não é mais aceito como verdade absoluta. O fiel e/ou paciente não aceitam mais ser tratados como objeto de cuidado e piedade; querem ser sujeitos da sua situação. Do padre, em geral, as pessoas gostam de ouvir: “Seus problemas estão sendo causados por espíritos ruins, diabos, encosto, espírito de alguém que morreu e se encarnou, culpa de vidas passadas, ou resultado de algum trabalho que alguém encomendou para arruinar sua vida. Desejam ouvir algo que causa impacto. Não gostam de ouvir que o problema pode estar dentro da própria casa. Caso o padre diga isso, geralmente procuram um outro sacerdote ou assistente espiritual”. Na saúde, os pacientes que dispõem de mais recursos, na maioria das vezes exigem exames de alto custo e até trocam de médico se este não atende seu pedido. Em menor proporção, essa mentalidade se faz presente também nas classes menos favorecidas. No entanto, uma matéria publicada numa revista, considerava que, de cada 100 exames realizados nos hospitais e ambulatórios, em geral, mais de 80 dão resultados negativos. E que no Brasil mais de vinte mil pessoas morrem por ano devido a automedicação e/ou ao consumo exagerado de medicamentos. Porém, tenho observado no hospital que é grande a felicidade dos familiares quando vão visitar os doentes e os vêem tomando soro, de preferência com coloração diferenciada e com um punhado de radiografias embaixo da cama. Antes era assim Por longo tempo, mais do que atender as pessoas, a não ser em confissões, o padre tinha como obrigação principal celebrar as missas. As pessoas vinham à Igreja muito mais para “cumprir um ritual” ou preceito dominical do que para buscar uma palavra de consolo. Nas confissões, mais do que desabafar, as pessoas já traziam pronta a lista completa de pecados. O padre, por sua vez, tinha no confessionário a lista de penitência que deveria ser aplicada. Para médico, a tarefa mais árdua era ouvir as queixas do paciente e da família. Afinal, num tempo de tão poucos recursos, este era o mais importante de que dispunham. Dessa conversa, em geral, saía o diagnóstico. Portanto, muito mais do que pedir exames, era importante dar ouvido à história das pessoas.
Hoje é assim Atualmente, muitas pessoas procuram as Igrejas para ouvir palavras bonitas e, de preferência, não comprometedoras. Geralmente, pegam um pouco do que cada uma oferece. Quanto mais barulho melhor. As missas se transformaram em “showmissas” e os cultos em verdadeiras sessões de “curas” “exorcismos” e “milagres” ou técnicas para obter riqueza e prosperidade. A preocupação maior é “satisfazer o freguês”, não importando muito a maneira. Existe, sim, uma preocupação que as pessoas não se sintam incomodadas pela pregação do Evangelho. No mundo médico vivemos a fase da “segunda opinião”. As pessoas em geral consultam bem mais de um médico. Os que mais lhes chamam a atenção são os que pedem exames e receitam muitos medicamentos. Em geral, vão à procura daquilo que mais lhes agrada. A verdade muita vezes não é bem recebida; principalmente, se o médico disser que não existe uma doença. O problema Padres e médicos se encontram em situação semelhante. O padre, mais do que “rezar”, precisa celebrar a missa. Mais do que “aplicar penitência”, precisa ter paciência. Dentre as muitas exigências é preciso que seja um bom ouvinte, acolhedor, equilibrado e, principalmente, que disponha de tempo para as pessoas. Mais do que uma boa teologia as pessoas exigem empatia e muita simpatia. Mais do que falar de Deus precisa testemunhar Deus para o outro. Do médico, mais do que competência profissional é exigido senso de humanidade. Além de títulos de mestrado e doutorado, ele precisa ter capacidade de ouvir e acolher. Mais do que uma atitude paternalista (decidir tudo pelo paciente) é exigido que saiba trabalhar em equipe multidisciplinar onde tudo seja decidido em conjunto, em colaboração e de acordo com o paciente. Mais do que receitar e prescrever exames, precisa saber escutar. A realidade De um médico ouvi o seguinte comentário: “Nossa! Estou cansado de atender tantos pacientes, com tanta falta de recursos e com tempo tão limitado”. De um padre o desabafo foi: “Hoje celebrei quatro missas, compareci a alguns encontros e reuniões. Ao terminar a missa das dezenove horas espero que não apareça ninguém para conversar. Não que não queira atender, mas receio atender mal”. Após ouvir esses comentários, em tom de brincadeira, fiz a seguinte observação: “Vocês têm uma arma poderosíssima nas mãos e não usam!” Ficaram um tanto quanto assustados com a minha observação. Eu disse: “O médico possui o receituário e a ficha para a prescrição de exames, enquanto o padre possui a bênção, a oração e os sacramentos. É muito mais fácil e rápido, prescrever uma série de exames e receitar uma grande quantidade de medicamentos do que atender e conversar com a pessoa. Para o padre é mais simples dar uma bênção do que se colocar em atitude de escuta diante de alguém”. Se eu quiser, embora não costume fazer, a maneira mais fácil de me livrar de uma pessoa é dando uma bênção. As missas, bênçãos, orações e sacramentos, bem como os exames, receitas e medicamentos são de extrema importância. A verdade é que, tanto o padre como o médico, às vezes, usam esses artifícios para não se envolver com as pessoas. Certo dia, após celebrar a missa das 18h30 alguém me procurou para saber se eu tinha uns cinco minutos para conversar. Enquanto tirava os paramentos usados na
celebração respondi que sim. Convidei-a para entrar na Capelania. Mal se sentou, disse: “Eu quero que o senhor me dê uma bênção”. Após observar rapidamente sua fisionomia, fiz o seguinte comentário: “Você está com uma fisionomia muito angustiada! Está sentindo alguma coisa?” A pessoa falou uma hora e meia sem parar. No total, “gastei” mais de duas horas para atendê-la. Não teria sido mais fácil dar-lhe a bênção? Num consultório médico, uma senhora chegou reclamando que estava com muita coceira na cabeça. Levou também vários medicamentos que tinham sido recomendados por um profissional médico. Ao entrar no consultório de um antigo alergista que atendia no ambulatório, expôs seu problema. O alergista pediu as caixas de remédio e, após verificálos, começou a fazer algumas perguntas básicas. Após poucas palavras pegou uma folha de papel em branco, colocou-a sobre a mesa e, pedindo licença, começou a examinar o couro cabeludo da paciente. Não demorou muito para encontrar alguns piolhos. No final da conversa pode recomendar um remédio bem mais barato e eficaz. O que fazer? O exemplo de Jesus pode iluminar nossas atividades. No encontro com as pessoas, o primeiro passo antes de qualquer atitude era acolher. Aliás, poderíamos citar inúmeros casos na Bíblia. Além disso, sempre perguntava: “O que você quer que eu faça?” Porém, sua preocupação maior não era agradar a todos mas dizer a verdade. Agradava àqueles que queriam trilhar o caminho da verdade, da justiça e da vida. Por isso, a cada pregação que fazia, muitos se convertiam e começavam a seguir seus passos, enquanto outros se afastavam ainda mais. A verdade é que as pessoas se sentiam incomodadas pelo Evangelho. Mais do que oferecer mensagens emotivas que satisfizessem o povo, Jesus procurava as causas da infelicidade e do sofrimento das pessoas. Isso porque ele sabia muito bem que não basta curar os sintomas. Pois os sintomas desaparecem e as causas continuam. Na minha atividade pastoral junto aos doentes, profissionais e familiares, causa surpresa ver médicos que “não sabem” consultar um paciente se não estiverem munidos de um receituário, prescrições de exames e de alta tecnologia. Impressiona-me ainda mais padres, agentes da pastoral da saúde, (visitadores) que são incapazes de visitar um doente senão estão com os bolsos cheios de folhetos, mensagens, terços, orações, ou com a Bíblia nas mãos. É claro que é importante contar com a colaboração da tecnologia e dos meios de evangelização. Seria irracional ignorarmos os recursos terapêuticos e os meios de comunicação do quais dispomos para uma melhor assistência. Porém, será que muitas vezes não seria mais eficiente e humano um atendimento solidário e personalizado? Existem momentos em que precisamos benzer ou receitar. Sem dúvida isso tem um efeito muito relevante na vida das pessoas. Talvez devêssemos procurar evitar que esses recursos se tornem máscaras que usamos para nos manter longe das pessoas e de seus problemas. O livro do Eclesiastes (cf 3,2-8) afirma que, “embaixo do céu existe um tempo para tudo”. Com as pessoas podemos afirmar que também existem diversos tempos. Tempo para ouvir, tempo para falar, tempo para receitar, tempo para prescrever, tempo para chamar a atenção, tempo para orientar, tempo para abençoar e tempo para orar. Descubra qual é o tempo. Anísio Baldessin
Dia Mundial da AIDS A AIDS hoje é um grande desafio para a Igreja e para a sociedade. Estima-se que no Brasil há mais de 600.000 pessoas infectadas pelo vírus HIV. O número de notificações registradas no Ministério da Saúde já representa mais de 200.000. A doença está aumentando entre jovens, mulheres e pobres. A AIDS é uma doença que ataca o sistema de defesa do organismo, sendo causada pelo vírus HIV. Sem defesa, a pessoa contrai facilmente as chamadas doenças oportunistas: tuberculose, toxoplasmose, pneumonia etc. que podem levar à morte. Desde praticamente o início da doença, a Igreja tem se mobilizado para acolher os portadores do vírus da AIDS. São dezenas de ONGs, de casas de apoio que recebem, acolhem, ajudam materialmente e espiritualmente os soropositivos. Como Jesus acolhendo os doentes excluídos de seu tempo, a Igreja recebe todos aqueles que necessitam de conforto, ternura e atenção. Fazendo isso, continuamos escrevendo o Evangelho com a nossa própria vida. Mesmo encontrando incompreensões, a Igreja prega que a melhor maneira de se prevenir contra a doença é a fidelidade e a castidade. Continuamos pregando que as relações sexuais devem ser vividas dentro do matrimônio, onde encontram seu pleno significado de prazer e de procriação. Todos precisamos parar de julgar e condenar aqueles que contraíram o vírus HIV. Só Deus conhece as pessoas. Não fomos criados para julgar, mas para sermos misericordiosos. Devemos ser portadores de esperança e incansáveis promotores de vida. Escreve o Frei Reynaldo Ungaretti Ameixeira, ofm (in memoriam) “É fato, contudo, que diante da AIDS, nós cristãos e franciscanos, nos encontramos impotentes e confusos. Talvez seja por isso que passamos ainda, ao doente de AIDS, a imagem da Igreja como instituição inimiga, fria, julgadora, moralizante e repressora, mais interessada em normas e doutrinas que em pessoas humanas. Oxalá, esta imagem negativa da Igreja seja apenas fruto do despreparo de alguns e não do coração endurecido dos preconceituosos radicais e cruéis que nada entenderam da Boa-Nova do Cristo vivido por Francisco de Assis” (maio de 1994). Que neste 1º de dezembro, dia mundial de luta contra a AIDS, nós, cristãos e cristãs, possamos solidarizar-nos com aqueles que trabalham por um mundo melhor. D. Eugênio Rixen, bispo de Goiás, Presidente da Pastoral DST/AIDS.
ENTREVISTANDO DEUS Sonhei que tinha marcado uma entrevista com DEUS. "Entre", falou DEUS, "Então, você gostaria de ME entrevistar?" "Se você tiver um tempinho", disse eu. DEUS sorriu e falou: "Meu tempo é eterno, suficiente para fazer todas as coisas; que perguntas você tem em mente?" "O que mais O surpreende na humanidade?", perguntei. DEUS respondeu: "Que se aborreçam de ser crianças e queiram logo crescer e aí, desejem ser crianças outra vez". "Que desperdicem a saúde para fazer dinheiro e aí percam dinheiro para restaurar a saúde." "Que pensem ansiosamente sobre o futuro, esqueçam o presente e, dessa forma não vivam nem o presente, nem o futuro." "Que vivam como se nunca fossem morrer e que morram como se nunca tivessem vivido."
Em seguida, a mão de DEUS segurou a minha e por um instante ficamos silenciosos; então eu perguntei: "PAI, quais as lições de vida que VOCÊ quer que SEUS filhos aprendam?" Com um sorriso, DEUS respondeu: "Que aprendam que não podem fazer com que ninguém os ame." "O que podem fazer é que se deixem amar." "Que aprendam que o mais valioso não é o que têm na vida, mas quem têm na vida." "Que aprendam que não é bom se compararem uns com os outros. Todos serão julgados individualmente sobre seus próprios méritos, não como um grupo na base da comparação!" "Que aprendam que uma pessoa rica não é a que tem mais, mas a que precisa menos." "Que aprendam que só é preciso alguns segundos para abrir profundas feridas nas pessoas amadas e que é necessário muitos anos para curá-las." "Que aprendam a perdoar, praticando o perdão." "Que aprendam que há pessoas que os amam muito, mas que simplesmente não sabem como expressar ou demonstrar seus sentimentos." "Que aprendam que dinheiro pode comprar tudo, exceto felicidade." "Que aprendam que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e vê-la totalmente diferente." "Que aprendam que um amigo verdadeiro é alguém que sabe tudo sobre eles e gosta deles mesmo assim." "Que aprendam que não é suficiente que eles sejam perdoados, mas que se perdoem a si mesmos." Por um tempo, permaneci sentado, desfrutando aquele momento. Agradeci a ELE pelo SEU tempo e por todas as coisas que ELE tem feito por mim e pela minha família. ELE respondeu: "Não tem de quê. Estou sempre aqui, 24 horas por dia. Tudo o que você tem a fazer é chamar por mim e EU virei. Você pode esquecer o que eu disse .Você pode esquecer o que eu fiz, mas jamais você esquecerá como eu te fiz sentir com essas palavras. Então, por favor, arranje um tempo para passar isto que escreveu para aqueles de quem você gosta." Autor desconhecido A escolha de uma alimentação adequada Uma alimentação adequada deve atender às necessidades do indivíduo, ou seja, fornecer todos os nutrientes de acordo com o sexo, idade e estado fisiológico da pessoa. Além disso, a dieta deve ser equilibrada, apresentando proporção adequada entre os macronutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas). Nutrientes são substâncias presentes nos alimentos e que desempenham determinadas funções no organismo. Dividem-se em macronutrientes - (carboidratos, gorduras e proteínas - e micronutrientes - vitaminas e minerais. Os carboidratos estão presentes nos cereais, massas, pães e biscoitos que consumimos e são responsáveis pelo fornecimento de energia. As gorduras são também responsáveis pelo fornecimento de energia e estão presentes em óleos, margarinas e gorduras de modo geral. As proteínas são responsáveis pelo crescimento e manutenção do organismo e estão presentes em maior porcentagem nas carnes, ovos, leite ou derivados e no feijão.
Além disso, temos as vitaminas e minerais – micronutrientes -, que encontramos em hortaliças - verduras e legumes -, e frutas, que permitem um equilíbrio nas funções do organismo. Para atender às necessidades é importante que a alimentação seja variada e, atualmente, existe uma maneira prática de compor a alimentação que é o consumo de alimentos baseado em uma pirâmide (figura 1) cuja base é composta por cereais (um maior número de porções que devemos comer incluindo arroz, pão e biscoitos, entre outros), seguido pelo consumo de hortaliças e frutas, carnes, leite e, por fim, o açúcar e as gorduras em pequena quantidade (ponta da pirâmide).
Figura 1. PHILIPPI, ST. et al. Pirâmide alimentar adaptada. 1996. Essa pirâmide foi com feita base no gasto energético dos indivíduos adultos, lembrando que os carboidratos são nutrientes que fornecem energia mas, se consumidos em excesso, podem resultar em excesso de peso (o mesmo ocorre com as gorduras) e por isso estão na ponta da pirâmide. A diferença entre esses nutrientes está no valor calórico de cada um deles, pois mesmo consumidas em pequena quantidade, as gorduras apresentam alto valor calórico. Vale lembrar que, ao consumi-las se deve preferir as gorduras de origem vegetal como óleos de soja ou milho e margarina ao invés das gorduras de origem animal como manteiga, banha, creme-de-leite e carnes gordas. O consumo de alimentos deve ser distribuído em três refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) e duas refeições intermediárias (lanche da tarde e lanche da noite). Entretanto, muitas vezes por falta de tempo e ou disponibilidade econômica, deixamos de nos alimentar adequadamente. É importante, ao planejar a alimentação, realizar uma pesquisa de preços optando por alimentos nutritivos e de baixo custo. Para crianças, por exemplo, variar o cardápio utilizando miúdos (fígado, moela, entre outros) ao invés de salsicha ou lingüiça que são alimentos caros e que têm adição de corantes e um alto conteúdo de sal. Para adultos, dar preferência às carnes magras, evitando o desperdício de alimentos e nutrientes. Isto é
possível utilizando-se talos de verduras na forma de bolinhos e a água de cocção de legumes para o preparo de sopas ou caldos. Para as pessoas que comem fora de casa, deve-se dar preferência aos restaurantes self-service, também chamados restaurantes ¨por quilo¨, nos quais é possível escolher uma grande variedade de hortaliças (alface, agrião, tomate, cenoura etc.) carnes magras e como sobremesa, uma fruta. Outra opção é levar alimentação de casa. Finalizando, é importante conhecer o valor nutritivo dos alimentos, habituando-se a ler os rótulos dos produtos alimentícios, consumindo alimentos de forma mais equilibrada, refletindo em uma melhoria da qualidade de vida. Maria Rita Cardoso Albano é Nutricionista do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. DEFICIÊNCIA MENTAL – O QUE É? O QUE SE PODE FAZER? O QUE É? O conceito atual de deficiência mental vê cada indivíduo de forma global e funcional, o que significa transpor o conjunto de condições apresentado por ele para a sua interação com o ambiente em que se encontra. Esta nova abordagem tem como base as práticas e concepções daqueles cuja atividade ou vida diária está diretamente vinculada à deficiência mental: os profissionais, os pais, os amigos e os próprios portadores. A deficiência mental não é uma característica absoluta manifestada por seus portadores, cujo funcionamento intelectual é limitado, mas a expressão de sua interação com ambientes sem mecanismos adequados de apoio que lhes possibilitem explorar plenamente suas potencialidades. COMO É O DIAGNÓSTICO? A deficiência mental é uma condição que envolve diversos fatores e o seu diagnóstico é estabelecido segundo critérios e testes psicodiagnósticos específicos, que focalizam a investigação cuidadosa dos aspectos médicos, psicológicos e sociais do indivíduo, visando identificar os tipos de apoio necessários para o amplo desenvolvimento de suas potencialidades. Para este trabalho, a APAE-SP conta, em seu Centro de Diagnóstico, com uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de várias especialidades médicas, como Pediatria, Neurologia, Psiquiatria e Genética, assim como Assistentes Sociais, Psicólogos, Fonoaudiólogos e profissionais que realizam exames complementares de laboratório. Tal processo é realizado a partir de uma abordagem que substitui a rotulagem dos indivíduos por uma sistemática de investigação que leva a descrições personalizadas das limitações, potencialidades e necessidades de apoio. Os mecanismos de apoio que se identificam são o que efetivamente possibilitam aos portadores da deficiência mental a minimização de suas dificuldades. COMO MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA? O objetivo principal dos apoios é possibilitar ao indivíduo uma qualidade de vida satisfatória, representada pelo mesmo conjunto de fatores e relações, com acesso às mesmas oportunidades para portadores ou não de deficiências. Estaremos melhorando a nossa própria qualidade de vida, sempre, quando melhoramos a de todos aqueles à nossa volta. QUAIS SÃO AS CAUSAS?
Com referência às causas específicas da deficiência mental, é importante sublinhar a necessidade de identificá-las claramente. Poderia ser concluído que, à medida que os apoios necessários são independentes das causas, não seria necessário a investigação diagnóstica. Isto representa um grave erro, pois a causa em si pode ser tratável, como na fenilcetonúria, uma anormalidade do metabolismo que pode ser detectada precocemente pelo Teste do Pezinho e que, com tratamento dietético específico iniciado nos primeiros meses de vida, dará à criança a oportunidade de viver normalmente. Informações a respeito de determinadas doenças são fundamentais para que sejam estabelecidas e avaliadas medidas de prevenção como, por exemplo, os programas existentes de diagnóstico precoce e tratamento das doenças detectáveis pelo Teste do Pezinho. Não se previne aquilo que não se conhece. Há até quase duas décadas, acreditava-se que a deficiência mental era causada por processos apenas biológicos ou apenas psicossociais, sem que se explicasse, no entanto, por qual motivo pessoas com doenças semelhantes apresentavam desempenhos diferentes. Por que entre duas crianças portadoras da Síndrome de Down, por exemplo, uma conseguia ser alfabetizada e a outra não? Além disso, trabalhos científicos publicados na década de 80 mostraram mais de uma causa para mais de 50% dos casos de deficiência mental. Atualmente, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, há, ainda, cerca de 30% de casos de deficiência mentais sem causa biológica definida. É ainda mais complicado separar as causas da deficiência mental, devendo-se incluir aspectos biológicos, psicológicos e sociais, com base em fatores de risco. Isto significa considerar fatores biológicos ou ambientais que podem afetar a gravidez, o parto, ou o período de maior desenvolvimento do sistema nervoso central, e que podem ou não provocar anormalidades prolongadas, ou até permanentes, no desenvolvimento integral do indivíduo. Estes fatores podem ser biomédicos, como as síndromes de origem genética, ou condições ligadas à desnutrição protéico-calórica, ou infecções do sistema nervoso central, dentre outros. Podem ser de origem social - os chamados “estímulos” oferecidos pelo contato interpessoal na família e na comunidade -, ou comportamental materna, potencialmente prejudicial, como o uso de álcool durante a gravidez. Ou, em um último grupo, aqueles relacionados à disponibilidade e qualidade do apoio educacional. É impossível negar a interatividade destes fatores. COMO SE FAZ A PREVENÇÃO? Os fatores de risco podem, também, interagir em diferentes gerações da mesma família, pois podem estar presentes nos pais da criança com deficiência mental, na própria criança, ou em ambos. É essencial considerar esta interatividade de fatores e de gerações quando se aborda a prevenção da deficiência mental. A APAE-SP divulga informações pertinentes, estimula ou desenvolve ações voltada para três níveis de prevenção: a prevenção primária, com ações que devem ocorrer antes do início da condição, como no caso de se evitar a síndrome alcoólica fetal; a prevenção secundária, que visa diminuir a duração ou reverte o impacto de problemas existentes, que pode ser exemplificada pelo tratamento com medicamentos específicos para o hipotireodismo congênito; a prevenção terciária, que busca limitar as conseqüências adversas da condição existente, ou melhor, o nível funcional do indivíduo, representado,
por exemplo, pelo trabalho de estimulação precoce desenvolvido com crianças portadoras de paralisia cerebral. A deficiência mental é uma condição sociologicamente determinada, que descreve as relações entre as capacidades do indivíduo e as demandas e expectativas de seu meio ambiente. Não se obterá sucesso, portanto, na prevenção da doença mental se nos restringirmos unicamente aos fatores biológicos envolvidos. É preciso, também, abandonar a idéia de que a prevenção só pode ocorrer antes do nascimento: a prevenção deve ser estabelecida durante toda a vida, pois sempre há algo que pode ser feito. QUAL A DIFERENÇA ENTRE DOENÇA MENTAL E DEFICIÊNCIA MENTAL? Devemos enfatizar que o portador de deficiência mental não tem alterado a percepção de si mesmo e da realidade e é, portanto, capaz e tem o direito de decidir o que é melhor para ele. Quando a percepção encontra-se alterada, a condição é denominada doença mental, tratando-se de um quadro totalmente diferente da deficiência mental, apesar do fato de que 20 a 30% dos deficientes mentais apresentem associação com algum tipo de doença mental, como a síndrome do pânico, depressão, esquizofrenia, entre outras. Doenças mentais, que podem e devem ser tratadas, afetam o desempenho dos indivíduos, pois prejudicam, primariamente, outras área do funcionamento que não a inteligência, como a capacidade de concentração, o humor, o pensamento e o bom senso. Os próximos anos se constituirão em um período de transição, em termos desta nova maneira de pensar e ver a deficiência mental por meio de um processo constantemente dinâmico, cuja aceitação e transposição para a prática requererá um certo tempo. A APAE-SP tem total convicção de que, se promover entre os profissionais da área e a sociedade em geral, a compreensão clara da deficiência mental, oferecendo sistemas de apoio aos indivíduos com estas diferenças, para que tenham e alcancem objetivos pessoais, proporcionando-lhes os serviços necessários, a proteção de seus direitos como cidadãos, participando de seu desenvolvimento, para que possam ter vidas satisfatórias e de qualidade. Estes objetivos devem ser comuns a todos, independentemente do indivíduo ser ou não portador de alguma incapacidade. Quando aprendermos a conviver com as diferenças, certamente estaremos vivendo em um mundo muito melhor. Dr. Marcelo Gomes, neuropediatra é Coordenador da Área de Saúde da APAE-SP.