DIA MUNDIAL DO DOENTE O ano de 2002 marca a 10a edição desta comemoração, sempre na data de 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes. A cada ano um santuário mariano é escolhido como centro das celebrações que se espalham por todo o mundo católico. Neste ano é o santuário de Nossa Senhora da Boa Saúde em Vailankanny, na Índia Meridional. Este local atrai não somente cristãos, mas também seguidores de outras religiões, especialmente Hindus. Este santuário é “um ponto de encontro para os membros das diferentes religiões e um extraordinário exemplo de harmonia e de intercambio inter-religioso”. O tema deste ano convida os cristãos católicos a vivência da solidariedade como resposta cristã ao sofrimento humano, no seguimento de Jesus, que veio trazer “vida em abundância” ( Cf. Jo 10,10). Isto exige uma posição inequívoca em favor da cultura da vida e também um compromisso de defesa da mesma. O sofrimento humano e as religiões O sofrimento continua sendo presente na vida humana. De certa maneira, ele é tão profundo como próprio ser humano, e o toca na sua própria essência. Precisamos procurar formas novas e mais eficazes de aliviar o sofrimento. A pesquisa e o tratamento médico não explicam e nem eliminam totalmente o sofrimento. Este transcende a nível meramente físico. As várias religiões da humanidade sempre procuraram dar uma resposta sobre o significado do sofrimento, bem como reconhecem a necessidade de demonstrar compaixão e amabilidade para com as pessoas que sofrem. Assim as convicções religiosas originaram determinadas práticas médicas de tratamento de doenças. A história das diferentes religiões apresenta formas organizadas de assistência à saúde dos enfermos, que eram praticadas desde os tempos mais antigos. A originalidade da contribuição cristã João Paulo II lembra que a Igreja considera que existem muitos elementos válidos e nobres nas interpretações não cristãs do sofrimento, mas diz que a compreensão cristã deste mistério humano é única. Para descobrirmos o significado do sofrimento, “devemos voltar nossa atenção para a revelação do amor divino, fonte última do sentido de tudo o que existe”. A resposta à interrogação sobre o sentido do sofrimento “foi dada por Deus ao homem na Cruz de Jesus Cristo”( Salvifici Doloris ,13). Na Cruz, Cristo derrotou o mal e nos torna também capazes de vencê-lo. O nosso sofrimento adquire um significado precioso se for unido ao seu. Cristo, como Deus e Homem, assumiu sobre si mesmo os sofrimentos da humanidade e nele a própria dor humana adquire um sentido redentor. Nesta união entre o humano e o divino, o sofrimento revela o bem e derrota o mal. Solidariedade samaritana Na fé encontramos o significado último do sofrimento, na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. A resposta cristã à dor e ao sofrimento não é marcada pela passividade. A Igreja, seguindo os passos de Jesus que “passou fazendo o bem”( At 10,38) vai a procura dos doentes e das pessoas que sofrem, levando-lhes conforto e esperança. O modelo de ação é o Bom Samaritano, que atende às necessidades de quem sofre.
Aos que atuam no mundo da saúde O Papa diz que em suas visitas às mais diversas regiões do globo, ficou muito sensibilizado pelo extraordinário testemunho cristão de vários grupos de agentes (profissionais da saúde, sacerdotes, religiosos, leigos) que trabalham no campo da saúde. Lembra especialmente aqueles que trabalham com os portadores de deficiências, doentes terminais, e portadores do vírus HIV Aids. João Paulo II exprime sua gratidão e apreço a todos estes agentes samaritanos, que haurem força e inspiração na sua fé em Jesus, na parábola do Bom Samaritano e encontram na eucaristia, a força e o estímulo para o serviço. Ciência e vida humana A Igreja, ao cuidar dos doentes e das pessoas que sofrem, inspira-se na visão de pessoa humana “criada a imagem de Deus e dotada da dignidade que Deus lhe deu e de direitos humanos inalienáveis” diz o Papa. Conseqüentemente nem tudo o que é tecnologicamente possível de se fazer é admissível do ponto de vista ético. Os grandes avanços da medicina nos últimos tempos exigem uma grande responsabilidade de cuidar do dom divino da vida que permanece sempre um dom, em cada uma das suas fases e condições. Devemos estar vigilantes contra qualquer possível violação e supressão da vida. As instituições de saúde cristãs, “solidamente radicadas na caridade” continuam a missão de Jesus, de cuidar dos mais frágeis e doentes. “Estou convicto de que, como lugares onde se confirma e se garante a cultura da vida, essas instituições hão de continuar a corresponder às expectativas que cada um dos membros sofredores da humanidade depositou nelas” finaliza João Paulo II. Que este apelo, inspire ações samaritanas junto aos que sofrem e doentes em nossas comunidades.
Perguntas para aprofundar em grupo: 1) Como os doentes são lembrados na sua comunidade? 2) Existe uma equipe de pastoral da saúde atuante? Se não, o que fazer para iniciar? 3) Como funcionam as instituições de saúde na sua localidade?
A VIRTUDE DA CARIDADE E O SERVIÇO AOS IRMÃOS A virtude da caridade leva-nos a reconhecer o rosto de Jesus presente em cada irmão. O próximo é, para nós cristãos, o lugar teológico por excelência, onde experienciamos Deus (cf. Mt 25,31-46 Lc 10, 25-37). Os santos entenderam bem o recado de Nosso Senhor que nos manda servi-lo na pessoa do pobre e do doente. Conta-se a história de um dominicano, São Martinho de Lima que por ser negro e escravo, quando se tornou irmão conservou o costume de dormir no chão como se fazia entre os pobres. O seu superior ficou sabendo, não gostou e, apelando para o voto de obediência, obrigou Martinho a dormir na cama. Um belo dia o superior foi visitar a cela de Martinho que ficava perto da portaria do convento, pois ele exercia a função de porteiro. Qual não foi a surpresa do superior ao encontrar um pobre doente dormindo na cama do santo irmão. O superior, muito bravo, perguntou porque Martinho não estava dormindo na cama pois, tendo feito o voto de obediência era
obrigado a obedecer e o superior tinha determinado que ele dormisse na cama. São Martinho, muito calmo, explicou ao superior que achava que a caridade tinha precedência sobre o voto de obediência. Martinho, que era irmão leigo e analfabeto, deu uma belíssima aula de teologia ao superior que teve de aceitá-la, pois Martinho estava certo. No Evangelho de São João 13, 1-17, ficamos comovidos ao ver Jesus realizando um dos gestos mais eloqüentes de sua vida. Ele assume a atitude de servo e lava os pés dos discípulos. Deus feito homem em Jesus se curva diante da criatura assumindo a função de escravo. Com este gesto o Senhor nos interpela e nos convoca a despir-nos de nossos mantos, a arregaçar as mangas e vestir o avental, como a dona de casa quando vai lavar louças. O que fica evidenciado nesta cena comovente é que o nosso amor para com Deus deve ser traduzido em gestos concretos. Diz Jesus: “Vocês me chamam de Mestre e Senhor. Pois bem: Eu, que sou o Mestre e Senhor, lavei os vossos pés, por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros”. O caminho do discípulo e discípula de Jesus é o caminho do serviço e da caridade gratuita. Quer nas tarefas pequenas que não dão prestígio, quer nas mais trabalhosas e complexas, porque Deus nos pede o uso intenso de todos os dons.O mundo saberá que somos cristãos não pela força de nossos discursos, mas pelo amor e pelos gestos de solidariedade que realizamos em favor dos irmãos. Quando servimos, seja visitando um irmão enfermo ou realizando um ato de solidariedade, estamos traduzindo em gestos as mensagens do Senhor. Fazer uma visita a um irmão enfermo não nos custa nada e você se sentirá beneficiado. Hoje, está provado cientificamente que a pessoa que presta serviço gratuito à comunidade tem mais facilidade para lidar com seus problemas e limites. Existem empresas que incentivam seus funcionários a prestar uma hora de serviço gratuito à comunidade e isso é bom, ajuda na produção e na realização pessoal. O cristão que deseja vivenciar e testemunhar seu amor a Jesus e procurar a santidade, deve necessariamente dedicar-se ao exercício da caridade e do amor fraterno. O progresso pastoral de uma paróquia se dá à medida em que se dispensa uma atenção toda especial aos doentes que são, conforme a doutrina da Igreja, os membros sofredores do corpo místico de Cristo. São João Maria Vianney, que viveu no século XIX, era tido por muitos de seu tempo como um homem ignorante. Quando seminarista foi reprovado em todos os exames e, logicamente, aconselhado pelos seus formadores a voltar para casa. Depois de muita insistência foi ordenado sacerdote e destinado a uma pequena paróquia rural no povoado D’Ars que possuía apenas duzentos habitantes. O povo ia pouco à Igreja. João Vianney, vendo a situação em que encontrava sua paróquia, começa a visitar as famílias, em especial aquelas onde havia doentes. Em pouco tempo sua paróquia passa por uma transformação tão grande que começa a atrair a atenção não só dos paroquianos mas de toda a França. Hoje, é ele o padroeiro dos párocos. Uma paróquia que ainda não tem a pastoral da saúde organizada e os doentes ficam sem assistência possui um grande tesouro a ser descoberto e a evangelização está incompleta, pois quando Jesus ordena aos seus discípulos que saiam pelo mundo, envia-os para pregar o Reino e curar os doentes (cf. Mt 10, 7-8). A prática da virtude da caridade deve nos levar não só ao encontro dos doentes mas também ao encontro dos pobres pois, amando-os, o cristão está amando o próprio Senhor.
A virtude da caridade no seu sentido mais profundo é restituir ao pobre aquilo que de direito lhe pertence, como ensina o grande bispo São Basílio: “Pertence a quem está sem roupa a roupa que guardas no armário; a quem está descalço o par de sapatos que envelhece em sua casa; pertence ao pobre o dinheiro que tens escondido; pertence a quem tem fome o pão que tu armazenas”. Concluímos estas considerações com o pensamento de Madre Tereza de Calcutá que nos diz: “Se, por vezes, os nossos pobres morrem de fome, não é por que Deus não cuida dele e sim porque vocês e eu não demos, não fomos instrumento de amor nas mãos de Deus”. Tadeu dos Reis Ávila é religioso camiliano, estudante de teologia e membro da equipe ICAPS
JESUS PSICOTERAPEUTA Psicoterapia pode ser definida como tratamento dos distúrbios emotivos e da personalidade através de instrumentos psicológicos. Tendo presente esta definição, quero refletir o quanto a dimensão espiritual tem ocupado espaço na psicologia e até que ponto podemos chamar Jesus de psicoterapeuta? Podemos dizer que o homem é um ser criativo, a centelha criativa de Deus habita em nós. E não existe olhar mais criativo que o olhar de Deus, e não existe olhar mais científico que o olhar divino. Crença e ciência, uma paixão pela verdade. Neste sentido, o ato científico não deixa de ser um ato de fé e de busca da verdade. Seria importante que a psicologia não se descuidasse das verdades incômodas reveladas por Deus e, ao mesmo tempo, a religião não se descuidasse das verdades incômodas que provêm da psicologia. Neste sentido, a psicologia e a teologia poderiam enriquecer e aprofundar a compreensão humana. Os encontros de Jesus eram terapêuticos, transformadores e curativos, apontando sempre para o interior, para o coração. Seu olhar penetrava em profundidade, podia ver os pensamentos humanos, suas fraquezas, seus pecados, sua esperança e intenções mais secretas. “Não precisava que o informasse a respeito do homem, pois sabia muito bem o que vai no coração de cada um” (Jo 2,25). Se Jesus era psicoterapeuta, qual era o seu método? Seu método foi sua própria pessoa. Jesus expunha-se e convidava a todos para o conhecerem. Era terapeuta do corpo, da mente e do espírito. Atraía todos para si, apontando sempre o lugar do Pai. Sua relação era terapêutica porque era transformadora, renovadora e curativa. Jesus era mais que psicoterapeuta: era modelo, exemplo, mestre e afirmava, “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai se não por mim” (Jo 14,6). A pergunta que temos de fazer é: O que podemos ainda hoje aprender com Jesus em suas relações terapêuticas? Como era sua postura de vida diante dos outros? Somos o que acreditamos. Nosso instrumento de trabalho é o nosso vínculo-terapêutico. Mas em que acreditamos? Como é o nosso olhar? Como estamos vendo o mundo? Existe um trabalho que Deus faz em nossa vida. É fundamental que o psicoterapeuta possa entender que alguém está operando naquela vida. Existe uma história, um fio, um sentido, um propósito. Deus opera em meio à dor e ajuda-nos a transcender a dor. O psicoterapeuta não pode esquecer de olhar para quem opera, visualizar o crescimento do cliente como um processo dinâmico que se dá no coração, não apenas na
cabeça. Perceber que o poder terapêutico não está sob seu controle e abrir espaço para o mistério. Neste sentido, o ato científico não deixa de ser um ato de fé. E o processo através do qual Deus opera não é apenas um método ou uma técnica. O crer maduro atravessa os horizontes e desnuda a pretensão humana. A espiritualidade do terapeuta é de suma importância, pois temos de estar em crescimento pessoal, além do crescimento científico. Nossa crença deve ser transformadora de nossa vida e da vida do outro. Artigo extraído do Jornal de opiniões ano 2000. A doença como arma Lemos no êxodo que, diante da recusa do Faraó em libertar os hebreus da servidão, Jeová enviou uma peste que acometeu o gado (é a quinta praga), seguida por “tumores que arrebentavam em úlceras nos homens e nos animais”. A noção da enfermidade como castigo divino ou como maldição demoníaca está presente em praticamente todas a culturas e explica o arcaico temor que acompanha as pestilências. A própria Bíblia confere peculiar atenção à lepra (“tzaraat”, em hebraico). Critérios diagnósticos são descritos minuciosamente, e aos sacerdotes é delegada a tarefa de tomar conta dos enfermos – isolando-os, uma prática que será mantida pelo cristianismo. Lepra era sinônimo de conduta pecaminosa, o que tinha certo fundamento: afinal, é uma doença que se transmite por contágio, o que pressupõe contato, possivelmente sexual, entre corpos. Mas havia outra razão para considerar as pestilências como punição originária da divindade: a causa era desconhecida, misteriosa. Muitas dessas enfermidades eram atribuídas aos miasmas, emanações de regiões insalubres como os pântanos – o termo malária vem daí, de maus ares. Uma nova concepção surgiu no fim do século 15, quando, em razão da liberalização dos costumes que coincidiu com o advento da modernidade e também pelas guerras que então se sucediam, uma epidemia de sífilis varreu a Europa. Doença de inimigo - Já então atribuía-se contágio à ação de inimigos: para os franceses, sífilis era o mal napolitano, para os italianos, o mal francês. Os poloneses falavam na “doença dos alemães”, os russos temiam a “doença dos poloneses’. O nome da doença se origina em um poema escrito em 1530 pelo médico e poeta Girolamo Fracastoro, narrando a história de Syphilus, um pastor que se recusa a fazer sacrifícios ao deus Sol e é por isso punido com a enfermidade. Fracastoro levantou a hipótese de que a transmissão da doença se fizesse por meio de partículas muito pequenas, “seminaria contagium” ou “vírus”. Mas, curiosamente, essa idéia não foi investigada. À época, o telescópio já era comum, mas o poder das lentes era usado para descobrir planetas ou novas terras, não para ver o que sucedia no corpo humano. Nem mesmo a invenção do microscópio, no final do século 16, permitiu a identificação dos agentes infecciosos, o que só aconteceria no final do século 19, com a escola pasteuriana. Um terceiro motivo para que a doenças epidêmica fossem consideradas punição era o seu enorme potencial de mortalidade. No século 14, a peste bubônica liquidou um quarto da população européia, comprometendo a própria estrutura da sociedade feudal. Como diz Boccaccio no “Decameron”: “Em meio à aflição e à miséria, até mesmo as autoridades civis e eclesiásticas perderam o seu poder”. Boccaccio falava de Florença, onde, segundo estimativas, dois de cada três habitantes morreram de peste. Nas guerras, as doenças infecciosas podiam ser o fator decisivo para a vitória (ou para a derrota). Quando Cortés
invadiu o México, liderava um precário e reduzido bando de soldados, que os astecas poderiam te liquidado com as mãos nuas, se quisessem. Mas com os espanhóis veio a varíola, doença para a qual os nativos não tinham imunidade. A epidemia que se seguiu foi catastrófica, matando inclusive o imperador e vários membros da família real. A partir daí a conquista do México foi um fato consumado. Não é de admirar que muito cedo se tenha cogitado da doença infecciosa como arma bélica. O problema era como fazê-lo. Em suas guerras contra os cristãos, os turcos costumavam catapultar os cadáveres de pessoas mortas de peste na direção dos inimigos. Não era um procedimento muito eficientes, porque a doença se transmite não por contato direto, mas pela pulga do rato, o que então se ignorava. Melhor resultado foi obtido com a varíola, doença muito contagiosa e muito letal. De novo, foi um procedimento usado, até recentemente, nas Américas. Roupas de variolosos eram deixadas em trilhas indígenas; os índios vestiam-nas, adoeciam e morriam como moscas. Punição divina – A descoberta da vacina, no final do século 18, abriu caminho para a erradicação da doença, o que, no entanto, só veio a acontecer em 1977, depois de uma maciça campanha de vacinação desencadeada pela organização Mundial da Saúde. Mesmo assim, a idéia da guerra biológica não morreu, ao contrário. No caso da varíola, é exatamente a inexistência da enfermidade que a torna mais perigosa. Como a vacinação de rotina foi abandonada – tratava-se de um procedimento desnecessário e não isento de riscos -, o número de suscetíveis é imenso. Por outro lado, culturas do vírus existem, e a possibilidade de que tenham caído em mãos pouco responsáveis ou francamente criminosas tem sido levantada com freqüência. Mais do que mísseis ou bombas, as doenças resultam em armas apavorantes. Criam um clima de permanente paranóia. É possível identificar um terrorista, mas não é possível detectar germes de doenças. Nesse contexto, não é de admirar que a velha idéia da punição divina tenha sido ressuscitada. É ou foi não apenas por Bin Laden, como também pelo velho fundamentalista Jerry Falwell. Conhecido por sua posições conservadoras, Falwell não hesitou em atribuir os ataques terroristas em Nova York e Washington aos pecados dos norte-americanos. Ainda não se falava em antraz, mas essa nova ameaça certamente será usada para reforçar os seus argumentos. Como diz Susan Sontag, doenças freqüentemente são metáforas. Usadas por poetas, metáforas enriquecem a vida. A serviço do terrorismo, ao contrário, servem para transformar a existência em um verdadeiro martírio. Moacyr Sciliar é escritor e médico de saúde pública, autor de, entre outros, “A Paixão Transformada – História da Medicina na Literatura” (Campanha das Letras). N/A NEURÓTICOS ANÔNIMOS (Um Programa de Recuperação para pessoas com problemas mentais e emocionais.) 1) N/A é, uma Irmandade onde pessoas que se reconhecem neuróticas ajudam-se mutuamente na solução de seus problemas mentais e emocionais, através da prática do Programa de Recuperação de Alcoólicos Anônimos, adaptado para os Neuróticos Anônimos. 2) O Programa de Recuperação de Neuróticos Anônimos oferece uma série de sugestões, contidas essencialmente em seus Doze Passos e suas Doze Tradições. As sugestões dos Doze Passos propõem um programa de vida espiritual, porém, não
religiosa, a ser praticado pela pessoa que deseja-se recuperar. As sugestões das Doze Tradições propõem princípios a serem observados, individualmente, para que a Irmandade se mantenha unida e fiel ao seu objetivo. 3) N/A não usa a palavra “neuróticos” em seu sentido científico. Para essa organização, neurótica é qualquer pessoa cujas emoções descontroladas interferem em seu comportamento, de qualquer forma e em qualquer grau, segundo ela mesma o reconhece. 4) N/A existe com o único propósito de ajudar pessoas mental e emocionalmente perturbadas a se recuperarem de sua doença e se manterem recuperadas. Aquelas que já se recuperaram, ou estão se recuperando, ajudam as que ainda sofrem. 5) N/A nasceu nos Estados Unidos, em 1964, quando Grover B., um neurótico e alcoólatra recuperado através de Alcoólicos Anônimos, sentiu que o programa de A/A poderia também ser aplicado à recuperação de pessoas neuróticas que não fossem alcoólatras. A rápida expansão dos grupos de N/A é prova de que Grover tinha razão. 6) No Brasil, N/A teve início em abril de 1969, na cidade de São Paulo. Hoje, além dos grupos de N/A existentes na capital paulista, outros grupos já se encontram também em funcionamento regular em muitas outras cidades, situadas em diversos estados do nosso país. A média de freqüência às reuniões é de vinte pessoas aproximadamente. 7) As pessoas novas são sempre bem-vindas. A elas N/A oferece seu Programa de Recuperação, cuja aceitação depende exclusivamente de uma decisão pessoal de quem recebe a mensagem. Posto em prática, contudo, ele é o caminho que leva à serenidade. 8) O anonimato pessoal é preservado em N/A, não havendo, portanto, registro de seus membros. Uma vez que a política de relações públicas de N/A se baseia na atração e não na promoção, cabe-nos, também, sempre manter o anonimato pessoal na imprensa, rádio, televisão e cinema. A preservação do anonimato pessoal em nível público é essencial ao nosso trabalho de transmissão da mensagem, tendo em vista estender nossa ajuda a outros neuróticos desejosos de se recuperar. 9) Não há profissionalismo em N/A. Sua ajuda é oferecida gratuitamente a todas as pessoas com problemas mentais e emocionais. O único requisito para se tornar membro de N/A é o desejo de sarar. Nosso lema a esse respeito é: de graça recebemos, de graça procuramos dar. 10) No que se refere a sua manutenção, os Grupos de N/A são auto-suficientes. Sua despesas com a impressão de folhetos, aluguel das salas de reunião, contribuição para o escritório de serviços e outras que se fazem necessários para garantir o seu funcionamento são cobertas por contribuições voluntárias de seus membros, cujo valor fica a critério de cada um e, geralmente, é depositada numa sacola durante a reunião. 11) N/A tem sempre contato com a colaboração de inúmeras pessoas mental e emocionalmente sadias, profissionais ou não, que se mostram interessadas em seu Programa de Recuperação. Muitos neuróticos devem sua recuperação a essas pessoas, pois através delas tomaram conhecimento e foram encaminhadas para N/A. O estímulo e a colaboração por parte de médicos, religiosos, assistentes sociais e da imprensa em geral, em muito tem contribuído para o crescimento da Irmandade. A todas essas pessoas, registramos aqui o nosso mais sincero agradecimento. 12) N/A não impõe nenhuma crença religiosa a seus membros. Embora seja apoiada e recomendada por muitos religiosos, a Irmandade de Neuróticos Anônimos não está ligada a nenhuma seita ou organização religiosa. Suas portas e seu Programa de
Recuperação estão abertos para pessoas de todas as crenças ou que não têm nenhuma, bem como para quem se considera ateu ou agnóstico. O Programa apenas sugere que se creia num Poder Superior ao próprio indivíduo. Deus, como cada um o concebe. 13) Em N/A, não doutrinamos e nunca procuramos analisar ou diagnosticar os outros. Nosso conhecimento da neurose e do caminho para a recuperação se deve às nossas trocas de experiências pessoais com neuróticos em recuperação. E é essa troca de experiências que constitui a ajuda por nós oferecida a todos os neuróticos que ainda sofrem e que realmente desejam libertar-se de seu sofrimento e descontrole emocional. 14) Se você deseja encontrar a vida equilibrada e feliz que já encontramos, procure-nos em N/A. Antes de conhecermos o Programa de Recuperação de N/A tínhamos tentado várias coisas para livrar-nos do nosso sofrimento. Muitos submeteramse aos mais diversos tratamentos, tomaram milhares de tranqüilizantes, antidepressivos e outras drogas similares, foram internados várias vezes. Muitos chegaram a tentar o suicídio. Durante anos, acharam que não havia saída e que estavam condenados a sofrer. Sentiam-se sós e não encontram paz em parte alguma. Mas, finalmente, achamos uma saída, que agora também oferecemos a você. Uma saída do sofrimento mental e emocional para ingressar numa vida feliz e serena. Essa saída é o Programa de Recuperação de Neuróticos Anônimos. Venha conhecê-lo. 15) Nas reuniões de N/A aprendemos, através de ajuda mútua, a sentir amor, compreensão, aceitação e amizade. Todos são bem-vindos às reuniões de N/A. NÃO SOMOS AINDA O QUE DEVERÍAMOS SER, NÃO SOMOS AINDA O QUE GOSTARÍAMOS DE SER, NÃO SOMOS AINDA O QUE PODERÍAMOS SER, MAS GRAÇAS A NEURÓTICOS ANÔNIMOS, JÁ NÃO SOMOS MAIS O QUE ÉRAMOS.
CORAÇÃO, O ÓRGÃO QUE ADQUIRIU DUAS FORMAS. Por volta do século 5 a.C., iniciou-se na Grécia Antiga um debate sobre a localização da alma. De acordo com matéria publicada na revista Galileu de junho de 2001, Hipócrates, o mais famoso médico da Antigüidade, dizia que a inteligência se encontrava na cabeça. Platão discordava. Para ele, a alma imortal estava na cabeça, mas a alma mortal, responsável pela inteligência e pelos sentimentos, estaria no coração. Aristóteles não aceita essa separação. Segundo ele, só existe uma alma, e ela se encontrava no coração, o centro do ser humano. Fica assim estabelecida, pelos séculos seguintes, a superioridade do coração. Alguma dúvida? Nenhuma, talvez digam os casais apaixonados que rabiscam coraçõezinhos por toda parte. Assim também pensam os cristãos, para quem o coração é símbolo da bondade e da caridade, e ainda os poetas e escritores, responsáveis por descrever em suas obras os estados emocionais do coração. Hoje, se diz que um coração pode ser mole ou de pedra. Pode bater descompassado ou até quebrar. Está representado em inúmeros objetos, jóias, roupas, biscoitos, propaganda. Serviu de símbolo do movimento hippie nos anos 60 e também representa o dia dos namorados. Só não dá para entender como a imagem cultuada virou sinônimo daquele órgão de aproximadamente 12 centímetros de altura por oito de largura, com 300 gramas de peso e formato de um punho, tão querido dos médicos cardiologistas.
Desde o começo o coração estimula a imaginação e motiva representações. Os sacerdotes astecas, por exemplo, costumavam arrancá-lo do peito dos inimigos vivos para oferecê-los aos deuses. Tanto valor pode ser explicado. Talvez o coração tenha assumido um papel primordial entre as culturas por ser o único órgão que se pode ouvir e sentir pulsar. O símbolo e o órgão disputaram carreiras separadas na história. Enquanto a imagem ganhava significado pouco evoluiu desde que o primeiro homem desenhou um coração na caverna de Pindal, há 12 mil anos, na Espanha. Até que o médico inglês William Harvey (1578-1657) descrevesse a circulação sangüínea e a anatomia e fisiologia do coração, o órgão foi muito mal representado. Os segredos antigos, de onde se originou todo o conhecimento médico na Europa até mais ou menos o século 16, não conheciam seu papel na circulação e representavam suas cavidades de forma distorcida. Galeno, um dos mais ilustres representantes da medicina grega, descrevia o formato cônico do coração, que evoluiu até assumir a forma de um pinho de cabeça para baixo, com uma reentrância no topo. Enquanto isso, o símbolo se ampliava. Representava o amor, a amizade, a inteligência. Com os cristãos, o símbolo ganha novas dimensões, cujo apogeu coincide com o culto do Sagrado Coração de Jesus. No século 19, no entanto, o coração dá sinais de cansaço. Grandes escritores evitaram evocá-lo, pois o símbolo também estava associado a imagens vulgares. Os hippies resgatam-no na década de 60 e logo o coração torna-se símbolo comercial. É hoje um dos ícones mais usados do mundo. Simples, fácil de dar forma e de reproduzir. A palavra coração deriva do latim cor, e do grego, cárdia. Acredita-se que originalmente venha do termo sânscrito hrid, que significa saltador. Entre os ionomâmis ele se chama “tikykymu”, uma referência sonora ao ritmo. Os egípcios pesavam o coração dos mortos em um abalança. Se o morto fosse um homem de bem, o coração estaria leve e ele seria levado para junto dos deuses. Caso contrário, seu lugar eram as trevas. Artigo extraído do “Jornal Correio Riograndense” jul.2001
NOTÍCIAS DO ICAPS FRANCA, SP – Em 18 de novembro, o padre Anísio Baldessin esteve em Franca, interior de São Paulo, ministrando curso de pastoral da saúde para agentes de pastoral da saúde e ministros da eucaristia daquela diocese. Queremos ressaltar a presença e apoio do bispo, D. Diógenes e a participação de mais 200 pessoas. PONTA GROSSA, PR - em 24 de novembro, os padres Anísio Baldessin e Francisco Gomes da Silva estiveram em Ponta Grossa, interior do Paraná, para o primeiro encontro regional de pastoral da saúde. O encontro foi promovido pela equipe diocesana de pastoral da saúde e pela pastoral da saúde do Hospital Vicentino. O apoio estrutural e financeiro do hospital que pertence à Sociedade Beneficente São Camilo fez com que mais de 150 pessoas pudessem participar. Parabenizamos todos os que de uma maneira ou de outra contribuíram na organização deste evento.
TRÊS CORAÇÕES, MG – Em 25 de novembro, o estudante de teologia e religioso camiliano Tadeu Dos Reis Ávila, atendendo uma solicitação do pároco, esteve na cidade de três corações, interior de Minas Gerais para um dia de retiro para agentes da pastoral e ministros da eucaristia. Estiveram presentes mais de 80 pessoas.
GOVERNADOR VALADARES – Em 02 de dezembro, o padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Governador Valadares, interior de Minas Gerais, dando palestras no primeiro curso de pastoral da saúde daquela cidade. O curso que iniciou no sábado à tarde e terminou no domingo contou com mais ou menos 100 participantes.
BARRA BONITA, SP – Encerrando as atividades pastorais no ano de 2001, na manhã do dia 09 de dezembro, o padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Barra Bonita, interior de São Paulo, dando palestras para mais de 50 agentes e ministros da eucaristia.
Cursos e congressos para 2002 A equipe do ICAPS, como faz todos os anos desde o início de suas atividades, coloca-se à disposição dos bispos, padres, coordenadores e agentes da pastoral da saúde para ministrar palestras, cursos ou dias de formação para futuros agentes desta pastoral e ministros da eucaristia. Entre em contato conosco pelo telefone. (11) 3675-0035 (das 8h às 16h30) c/ Renata. Fax. (11) 3865-21-89. No entanto, para podermos atender o maior número de pedidos, a equipe da CNBB também ministrará cursos, palestras e dias de formação. Portanto, os cursos poderão ser ministrados pelo ICAPS ou por alguém da equipe da Coordenação Nacional da CNBB. Entre em contato pelo telefone (61) 225-2526 FAX (61) 224-4441 (das 14h às 18h) c/ Marcelo. E-mail: psaude-cnbb@.com.br Já estão confirmadas as datas do XXII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde. Será nos dias 06, 07 e 08 de setembro. Está confirmada também a realização do VI Congresso Estadual da Pastoral da Saúde do Rio Grande do Sul. Nos próximos boletins estaremos divulgando as datas e também outros congressos regionais que acontecerão neste ano.