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DEUS E A MEDICINA ROQUE MARCOS SAVIOLI Muitos católicos do mundo ainda estão convencidos de que Deus nos quer doentes e aflitos, esquecendo-se de que, em nenhum momento, Jesus incitou as pessoas a continuarem enfermas, para cumprir a vontade do Pai. O conceito de um Deus punitivo iniciou-se na Idade Média, quando muitos sacerdotes e teólogos admitiam ser o espírito, prisioneiro do corpo, de modo que tudo o que levasse ao sofrimento seria valorizado. Recuperar a saúde, por sua vez, seria a perda de uma oportunidade de sofrimento. Infelizmente esse conceito perdurou por muitos anos, não se dando real importância ao corpo, como templo do Espírito Santo ou ainda, como dom de Deus. Nessas circunstâncias, a cura seria arma contrária às aspirações de salvação. Com o ressurgir dos ideais cristãos da Igreja primitiva, que enfatizava os dons carismáticos recebidos por Deus, caíram por terra todas as idéias estóicas aceitas. Deus não nos quer doentes, e a cura é parte do processo da salvação. Porque Deus permite a doença? Essa pergunta é muito freqüente durante a prática médica diária, mas a bem da verdade, Deus não causa as doenças. Pois na criação do homem, Ele nos fez a sua imagem e semelhança, de modo que nos criou absolutamente perfeitos, isto é livres de quaisquer enfermidades. Sob o ponto de vista filosófico e teológico, as doenças surgiram decorrentes da perda da imunidade divina do primeiro casal como conseqüência do pecado primeiro. A partir do momento em que o pecado entrou no mundo, como resultado da desobediência a Deus, o homem ficou susceptível a todos os tipos de doenças, e conseqüentemente, à morte (“Porque é pó, e em pó irás te tornar", Gênesis 3,19). As conseqüências da mácula original permanecem gravadas no inconsciente da humanidade podendo ser transmitidas de geração em geração, até os nossos dias. Vários psicólogos agnóstas concordam com a hipótese de transmissão do inconsciente intergerações, de forma que, assim como recebemos as características genéticas externas, podemos também, herdar as informações do inconsciente dos nossos antepassados. Esses registros poderão ficar por toda a vida enterrados em nosso inconsciente ou se manifestar de outras formas, como por exemplo, por meio de doenças físicas ou psíquicas. O inconsciente humano foi muito estudado por vários autores, mas foi Carl Jung, quem admitiu ser o inconsciente, o centro da nossa psique. Existe em nosso inconsciente o " eu pessoal" , centro de registro de todas as nossas características próprias, ou seja , dimensão da pessoalidade, ou ainda, estrutura originariamente perfeita e sadia do nosso ser. De certa forma, o "eu pessoal" é a semente divina que existe em nós, criada à imagem e semelhança de Deus. Ao nascermos, nosso inconsciente estará compostos do “eu pessoal”, das informações da ancestralidade, dos reflexos dos traumas vividos durante a concepção, a gestação e o parto. Nessa situação, toda semente perfeita estará ilhada pelas conseqüências do pecado, que poderão ou não se manifestar em forma de doença aparente. Se a memória inconsciente contiver substrato capaz de suplantar o “eu pessoal", poderão surgir doenças congênitas como forma de manifestação do inconsciente transmitido de uma ou várias gerações anteriores. Deus não quer que um filho seu, nasça com problemas.


Quando isso ocorre, a criança, embora sem culpa alguma, pode estar sofrendo reflexos de males cometidos pelos antepassados, culpas herdadas pela transmissão do inconsciente intergerações. Muitas vezes, essa criança se torna o principal motivo de conversão familiar. Podendo se desencadear uma harmoniosa onda de fé, amor e carinho em todos aqueles que convivem com o doente. A composição do inconsciente vai se modificando com a formação de nossa personalidade. A todos os traumas recebidos na ocasião do nascimento, vão se somar os vividos nos primeiros anos de vida, passando pela adolescência até a idade adulta. Note-se que cada vez mais o "Eu pessoal", apanágio da perfeição, fica ilhado pelos aspectos negativos dos traumas recebidos – é o germe divino sendo suplantado pelos erros do comportamento humano. O Eu pessoal, por sua vez, carece de ser abastecido. Por sua própria característica divina, ele somente poderá encontrar alimento no Criador. A intimidade com Deus possibilitará recarregar nosso Eu pessoal, fazendo que a luz interior brilhe sobre todos os condicionamentos negativos do nosso inconsciente, objetivando principalmente nossa cura interior, com conseqüente desaparecimento de todas as enfermidades causadas pelo inconsciente. Existem algumas doenças causadas pela exposição a fenômenos externos, como por exemplo, as decorrentes de hábitos de vida não saudáveis (fumo, obesidade, vida sedentária, stress excessivo, etc..) ou as devidas a contaminação do meio externo (doenças sexualmente transmissíveis, zoonoses , pneumoconioses). Além disso, podem existir situações em que as doenças surgem como decorrência de um pecado social, como por exemplo, após exposição a radiação, a gases letais, agrotóxicos, as seqüelas da desnutrição etc. Nesses casos, embora não sejamos responsáveis diretos pelas doenças, somos vítimas de erros de nossos governantes. Vários momentos da história da humanidade mostraram o sofrimento de vítimas dos desmandos de terceiros. Nessa situação, embora Deus permita que inocentes sofram conseqüências dos erros de outrem, Ele nos usa para na tentativa de evitarmos repetições dos erros. Quem não se recorda das atrocidades da Segunda Grande Guerra? Dos crimes do nazismo? Como Deus cura? 1 - Pelos meios que temos dentro de nós -Um dos fenômenos muito discutidos por todos os cientistas é o mecanismo de cura decorrente da auto-sugestão. Embora os mais céticos e agnostas eliminem a ação divina nesse principio de cura, devemos considerar que não é a sugestão que cura, mas sim o Senhor, usando a sugestão como meio. Nesse aspecto é muito importante o mecanismo de fé expectante. É através dela que permitimos a manifestação do poder curativo de Deus. Para desencadear esse processo de auto sugestão, há necessidade de participação de nossa vontade. Nesse caso, usando nosso direito de livre-arbítrio, dado por Deus. Muito se tem discutido a respeito de como a fé pode atuar no nosso inconsciente, ou mesmo consciente, libertando-nos de doenças. Pesquisadores de respeito demonstraram em estudos de neurofisiologia, a existência, no sistema nervoso central, de um "centro da fé". Essa região estaria localizada em áreas contíguas àquelas que regulam toda a defesa do organismo, de modo que estímulos de fé, acionariam todas as áreas da defesa orgânica. Assim, a prática da fé liberaria substâncias que estimulariam as células da defesa do organismo, combatendo assim as doenças.


Constatou-se também, estudando-se monges beneditinos, que a incidência de hipertensão arterial estava bem abaixo da esperada nos religiosos que tinham como hábito fazer orações diárias, comprovando-se a ação curativa da oração e da fé. Em um hospital americano, grupo de pesquisadores, estudou a evolução clínica de pacientes internados em Unidades Coronárias, durante fase aguda do infarto do miocárdio, dividindo-os em dois grupos: indivíduos que tinham religião e praticam a fé cristã e pacientes agnostas ou ateus. Embora os dois grupos apresentassem as mesmas características clínicas (faixa etária, tipo e extensão do infarto, etc.) os pacientes que professavam sua fé apresentaram melhor evolução clínica que os outros. Existem inúmeros estudos tentando comprovar a ação da fé sobre a cura das doenças. Sob o ponto de vista científico, no entanto, quase todos esses estudos ou não apresentam metodologia científica aceitável, ou necessitam de comprovação. Nessas circunstâncias é melhor aceitar que Deus cura através da fé, utilizando-se da nossa liberdade de decisão. Na nossa vivência médica temos observado que os pacientes que estão movidos pela fé cristã toleram melhor as doenças sendo mais susceptíveis ao tratamento médico. É muito agradável para o médico, tratar de um paciente que tenha sua religiosidade cristã aflorada no momento do atendimento. Em conjunto com o paciente, o médico pode abrir caminhos de grande intimidade da relação médico-paciente, obtendo ótimos resultados terapêuticos. 2 - Pelos meios que existem fora de nós - Deus utiliza os médicos e os medicamentos para nos curar. Existem várias passagens da Sagrada Escritura nas quais vemos que Deus cura por meio desses instrumentos. "Honra o médico porque dele necessita, também ele foi criado por Deus" (Eclo, 38,1). Deus ordena que se visite, honre e trate com o médico, pois Deus lhe concedeu o dom de curar, assim como deu aos sacerdotes o poder da absolvição dos pecados. Na Escritura também se lê: "E os médicos também rogarão ao Senhor que lhes conceda a graça de te aliviar e curar, para que recuperes a saúde" (Eclo,38,14). O paciente deve "querer" ser curado, permitindo assim, que Deus atue. O médico, por sua vez, deve ter fé que Deus atuará nele, tornando-o um instrumento da ação da sua ação. Na ocasião do batismo, Deus nos concede os dons carismáticos recebidos do Espírito Santo. Aos médicos, Ele também oferece a possibilidade de estudarem e de se graduarem. A graça divina será ainda maior se os médicos unirem seus dons carismáticos de cura recebidos pelo batismo aos conhecimentos adquiridos durante sua vida profissional. Por essas razões é que tem surgido muitos grupos de orações compostos por profissionais de saúde que, dentro dos hospitais, vem desenvolvendo um trabalho muito interessante no processo de evangelização e cura. Da mesma forma como usa os médicos e a Medicina, Deus utiliza-se dos medicamentos e dos farmacêuticos para nos curar. "O Altíssimo criou na terra os medicamentos, e o homem prudente não os despreza". Deus deu aos homens a ciência para que pudessem glorificá-lo por causa das maravilhas Dele. Com elas o médico cura e elimina a dor, e o farmacêutico prepara as fórmulas. Dessa maneira, as obras de Deus não têm fim (Eclo, 38, 6-8). Muitos médicos dão testemunho de que orar sobre os medicamentos faz desaparecer os efeitos colaterais e torna o efeito terapêutico mais eficaz. E esse procedimento se realizado junto com o paciente pode abrir um grande


canal de comunicação com Deus, recebendo-se respostas terapêuticas surpreendentes. È a fé do médico somada a do paciente para a obtenção da graça de Deus. 3 - Diretamente, sem usar meios - Deus também nos cura diretamente, sem se utilizar meios através dos milagres. Nessa circunstância, ação divina existe independente da nossa vontade. Os milagres são raros e, antes de serem proclamados por representantes da Igreja, devem ser analisados com muito critério por especialistas. Eles podem ser usados tanto como sinais de edificação da fé, quanto, se falsos, como evidências de descrédito. É muito preocupante quando observamos anúncios freqüentes de milagres por pastores protestantes ou padres católicos, pois os possíveis milagres de hoje podem ser fatos comuns no amanhã. A banalização dos milagres tem sido uma forma dos adeptos da nova era em tentar desacreditar a nossa fé. Dr. Roque Marcos Savioli Doutor em cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

EUCARISTIA E O SERVIÇO AOS IRMÃOS.

Na Missa “Apelos da Eucaristia” do Frei Luiz Turra, canta belamente o refrão do canto de entrada:“ Igualdade, fraternidade, nesta mesa nos ensinais. As lições que melhor educam, na Eucaristia é que dais!”. A Eucaristia é de fato a “escola” por excelência de todo cristão, onde Cristo se dá a todos sem fazer distinção de pessoas ou de classe social. É a mesa da fraternidade, presente tanto nas artísticas e ricas catedrais, como nas simples e pobre capela do interior. É a mesa que congrega os irmãos na fé e na comunhão fraterna. É escola de vida, pois nela o Cristo Jesus nos ensina que somos todos irmãos. É mesa do compromisso. Não podemos sobre nenhum pretexto desassociar o “Faça isso em memória de mim” do “Fazei como Eu fiz.” (cf. Lc 22,14-23; Jo13,1-17). Celebrar a Eucaristia de “mãos limpas”, sem tê-las “sujado” na massa da caridade é entrar em contradição com o ato que celebramos. Celebrar a Eucaristia não é só realizar o ato cúltico, mas supõe um viver antes e depois da celebração; do contrário realizamos apenas um ritual e não tiramos as conseqüências que decorrem da nossa participação da mesa eucarística. Conta-se uma história de um certo senhor muito piedoso que participava da Eucaristia todos os dias, não podia ouvir o sino tocar que logo corria para celebração,


comungava, confessava, fazia um monte de novenas para tudo quanto era santo, até mesmo para aqueles santos que historicamente se coloca dúvida sobre sua existência. Esse devoto senhor numa certa manhã recebeu uma carta de Deus. Nela Deus manifestava o desejo de encontrá-lo na semana seguinte e marcou até o local para o encontro. O senhor muito feliz se preparou com jejuns e novenas. Chegando o tão esperado dia, partiu para o encontro com Deus levando consigo numa sacola listas enormes de Missas assistidas ao vivo e pela TV, outras tantas de novenas feitas a Santo Expedito e a uma multidão de Santos. Acontece que enquanto caminhava para encontrar Deus, a beira do caminho encontrou uma pessoa doente pedindo socorro, mas o senhor todo esbaforido passou correndo, com medo de atrasar para o encontro com Deus não deu a mínima para o doente que estava a beira do caminho. Chegando ao local marcado para o tão esperado encontro, encontrou apenas um bilhete que dizia: Fui socorrer o doente que lhe pediu ajuda, assinado: Deus. Parece-me que esse senhor não entendeu o recado de Jesus que disse: Tudo que vocês fizerem ao irmão é a mim que estão fazendo.(cf. Mt 25,31-46). Hoje em nossas comunidades e paróquias quantos ainda age como esse senhor? Isso já aconteceu com você? Quantas vezes deixamos de socorrer irmãos nossos caído a beira do caminho para não chegar atrasado a Igreja? Você acha isso certo? Hoje somos bastante influenciados por movimentos de tendência interiorizante, temos bastante facilidade para exaltar a presença real de Jesus na Eucaristia, através de pregações fervorosas, de longas adorações etc. Nossa dificuldade maior é de ver Cristo que continua sendo imolado na pessoa do irmão doente, sem teto, sem comida, sem saída, sem oportunidades, sem dignidade. A este respeito, a Carta Apostólica (DD) lembra: “ Recebendo o Pão da vida, os discípulos de Cristo se preparam para enfrentar, com a força do Ressuscitado e do seu Espírito, as obrigações que os esperam na sua vida ordinária. Com efeito, para o fiel que compreendeu o sentido daquilo que realizou, a Eucaristia não pode exaurir-se no interior do templo” ( João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini, 45). São João Crisóstomo é bastante violento num de seus sermões contra aqueles que pensa agradar a Deus embelezando templos e gastando fortunas com alfaias e paramentos, tão a gosto do homem moderno. Diz ele: “ Se queres honrar o corpo de Cristo, não o


descuides quando se encontra nu. Não o honres, aqui na Igreja, com roupas de seda para descuidá-lo lá fora, onde padece frio e nudez. Com efeito, aquele que disse: “ Isto é o meu corpo” é o mesmo que disse: “Vós me vistes com fome, doente e não me destes de comer e nem cuidaste de mim. E na medida em que fizestes isto ao menor dos meus irmãos, a mim o fizeste”. O 14º Congresso Eucarístico celebrado em Campinas recentemente nos lembrava: “A Igreja faz a Eucaristia todas as vezes em que luta a favor da vida, em que se coloca solidária e fraternalmente ao lado dos oprimidos, dos pobres, dos empobrecidos, dos doentes, para dar pão, para ensinar a conseguir o pão e para transformar a sociedade que acumula, em tão poucas mãos, o que falta na mesa de tantos!”. Em toda Eucaristia que participamos o Senhor nos convida também a ser pão, deixar-se partir, ser alimento. Desinstalarmos de uma vida cômoda para se colocar a serviço da vida. O grande bispo Santo Irineu dizia: “A glória de Deus é que o homem viva”. Parafraseando Santo Irineu o bispo mártir dom Oscar Romero exortava em suas homilias: “ A glória de Deus é que o pobre viva”. Privar o homem de viver com dignidade, sem saúde, sem vida é dizer não a Eucaristia que celebramos (cf.1Cor11,17-34). Pois o mesmo Jesus que disse: “Este é o meu Corpo e o meu sangue” (Lc 22,14-20), é o mesmo que disse: “Tudo que vocês fizerem a um destes irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizeram”. (cf. Mt 25,31-46).

TADEU DOS REIS ÁVILA. ( CAMILIANO). COMBATE A HANSEANÍASE NO BRASIL CLÁUDIO TONELLO A hanseníase (lepra), doença infecto-contagiosa causada por uma microbactéria foi, durante muitos séculos uma das doenças que mais atemorizou a população. É conhecida desde os tempos bíblicos, e citada em vários textos, embora naquela época os diagnósticos não eram corretos e é difícil sabe se aqueles doentes eram realmente hansenianos, ou o nome lepra, era usado para dar “força” a uma doença social, física e mental.


A hanseníase começa com uma ou mais manchas na pele com alterações de sensibilidade. Inúmeras doenças provocam manchas, mas apenas a hanseníase tem alterações da sensibilidade, isto é, as lesões são dormentes. Não se sente no local, nota-se uma alteração do tato e da dor, isto é, tocando na mancha não se sente dor e, as vezes nem o toque. Alguns pacientes se queimam e se machucam sem sentir dor. Um doente pode durante anos se traumatizar freqüentemente, provocando defeitos principalmente nas mãos e nos pés, se eles são dormentes. São estas deformidades que provoca, um certo temor das pessoas em relação à hanseníase. Estes são os sinais mais importantes da doença. Durante muitos anos a hanseníase permaneceu sem tratamento específico, e só recentemente novas drogas se mostraram eficazes no controle da endemia. Assim durante muitos anos, o isolamento compulsório dos doentes foi a medida recomendada, sendo abolida apenas em 1962, contribuindo ainda mais para o preconceito social que hoje se observa na população em geral. Os antigos leprosários, na sua maioria foram fechados e o tratamento passou a ser ambulatorial. O Asilo Colônia Aymorés, na cidade de Bauru, continuou suas atividades no combate à doença, transformando suas atividades de isolamento em pesquisa de novas drogas e treinamento de pessoal médico e paramédico, para diagnóstico precoce e tratamento. Este antigo asilo é hoje um Instituto de Pesquisa de Doenças de Pele e reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, com centro de treinamento e pesquisa no combate à hanseníase. O avanço da medicina na luta contra esta enfermidade, teve descobertas terap6euticas importantes, como a sulfona, a rifampicina e a clofazimina, e o resultado do uso destes medicamentos trouxe a tão esperada CURA. Observa-se números importantes no controle da doença, pois nestes últimos 10 anos foram curados mais de 10 milhões de doentes no mundo, dentre os quais mais de 3000.000 no Brasil. Por ser uma doença de evolução lenta e atingir principalmente países de baixo nível sócio-econômico, a cadeia de transmissão ainda permanece, existindo 800.000 doentes espalhados pelo mundo, dos quais 80.000 no Brasil. No ano de 1999, foram descobertos 40.000 casos novos de todo o país. Isto se deve ao fato de que os recursos existentes devem se acessíveis a toda população e isto não acontece. Há necessidade de uma rede de serviços espalhada por todo o Brasil, capacitada para diagnosticar precocemente, tratar adequadamente, impedindo a marginalização social dos doentes e seus familiares. É


necessário que toda a população conheça os primeiros sinais da doença para saber o momento certo de procurar os serviços de saúde. Os avanços observados no Estado de São Paulo, embora venha curando um número elevado de doentes (40.000 nos últimos anos), ainda não foram suficientes para eliminar a hanseníase, pois ainda hoje temos mais de 6.000 casos registrados e quase 3.000 doentes novos a cada ano. Assim, se por um lado a ciência propiciou os recursos necessário para o combate desta doença, em alguns países, entre os quais o Brasil, a Hanseníase ainda se constitui em importante problema de saúde pública, havendo necessidade de esforços conjugados de todas as instituições governamentais (federais, estaduais e municipais), bem como o envolvimento de toda a sociedade civil na luta contra essa enfermidade, infelizmente ainda prevalente noBrasil. Dr. Cláudio Tonello é diretor Clínico do Instituto Lauro de Souza Lima. Bauru SP

DICAS DE SAÚDE Você pode mesmo diminuir a barriga ... e sentir-se mais satisfeito com muito menos Susan Learner Barr Você sempre foi um bom garfo, mas recentemente seu estômago parece ter se tornado um poço sem fundo. Sente vontade de beliscar, mesmo tendo acabado de faze um lanche. Será possível que seu estômago tenha aumentado? Sim, dizem os especialistas. A capacidade do estômago se expande ou se contrai dependendo da quantidade de alimentos que se consome. “Quanto mais você come”. Diz Robyn Flipse, nutricionista de New Jesey, “mais consegue comer – e mia precisa comer para se sentir satisfeito”. A boa notícia: em apenas um mês você pode reduzir a quantidade de comida que o sacia numa refeição – e ao mesmo tempo perde peso. A relação entre apetite e barriga já foi reconhecida há muito tempo pelos peritos em obesidade. Num estudo realizado com 14 pessoas acima do peso, Allan Geliebter, psicólogo do Centro de Pesquisa sobre Obesidade, em Nova York, introduziu um balão preso a um tubo no estômago de cada uma, depois encheu o balão com água para medir a capacidade do estômago. Cada pessoa necessitava de cerca de quatro xícaras para sentir-se empanzinada. Geliebter então prescreveu a todos uma dieta de baixas calorias durante quatro semanas. Quando tornou a medir a capacidade estomacal dos participantes da pesquisa, era preciso apenas cerca de três xícaras para que eles se sentissem saciados – uma redução de 27% e a mesma quantidade necessária a pessoas de peso normal. Quanto tempo o estômago leva para se expandir? Alguns especialistas afiram que de duas a quatro semanas, se você vem exagerando com freqüência. Um excesso ocasional não fará diferença imediatamente, mas tornará mais fácil ceder às tentações. E, caso na manhã


seguinte você sinta mais fome do que de hábito, não estará imaginando coisas: seu apetite já pode esta maior. É quase certo que alguns hábitos alimentares levem a comer demais – e a ter um apetite maior. Lawence Cheskin, gastroenterologista que dirige o Centro de Controle do Peso, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, destaca o hábito de comer pouco durante o dia e depois se empanturrar com uma refeição pesada à noite. Quem faz dieta pensa que poupa calorias pulando refeições, mas raramente isso acontece. “Come uma vez por dia deixa a pessoa num estado de semi-inanição que é difícil manter”, diz o especialista em comportamento alimentar John Foreyt, diretor do Cento de Pesquisas sobre Nutrição, de Houston, Texas. “Você começa beliscando durante o dia e aos poucos aumenta a quantidade. Nesse meio tempo, já se acostumou à refeição substancial da noite”. Isso não acontece de um dia par ao outro,mas é melhor controlar a vontade de comer desde já e sentir-se saciado com menos. Eis as dicas dos especialistas: Como refeições menores em intervalos regulares. A chave para controlar o apetite são refeições moderadas sem intervalos grandes entre elas. Cheskin e Geliebter deendem três refeições e dois lanches diários, em proporções comedidas. Controle as porções: Use os seguinte truques simples mas eficazes: descanse os talheres entre as garfadas para dar tempo ao estômago de registrar que está cheio. Retire as sobras da mesa assim que acabar de comer. Em ocasião especial – com bolo de aniversário ou pizza, por exemplo -, estabeleça um limite em vez de se privar por completo. Saborear sete bocados pode saciar tanto quanto engolir 20 sofregamente. Comer antes um lanche de baixo teor calórico, como um iogurte desnatado, frutas ou cereais, pode ajudar. E, se você não conseguir recusar a sobremesa, divida-a com alguém. Faça volume. Os alimentos ricos em fibras saciam mais depressa – salada ou sopa de legumes (uma xícara) para começar a refeição, ou fruta para terminar. Cada item deve conter menos de 200 calorias. Beba água. Pelo menos um copo antes e outro durante a refeição diminuem o apetite. Domine os desejos. Reduza a vontade de comer alimentos ricos em gordura ou açúcar substituindo-os aos poucos por outros mais saudáveis – batata assada em vez de batata frita, frango grelhado com vez de bife à milanesa. Com a maioria das pessoas, à medida que as papilas gustativas se adaptam, a compulsão de exagerar nos alimentos calóricos diminui. Durante uma ou duas semanas, você se sentirá frustrado, mas a sensação passará. Faça de conta. Ao modificar seus hábitos alimentares, você pode parecer mais magro. “mantenha uma postura ereta – isso o fará aparentar dois quilos a menos”, sugere Robyn Flipse. Para as mulheres, usar meia-calça com compressão na barriga ‘emagrece” e mostra quando ela está exagerando. No entanto, diminuir o estômago não é um truque de mágica. “Eu pegava o que aparecesse na minha rente e comia correndo”, diz uma mulher cuja rotina movimentada a levou a engordar 17 quilos. Ela então passou a fazer refeições menores, mais freqüentes e com menos gordura, e a se exercitar – perdeu o excesso de peso em quatro meses. “Hoje presto atenção àquela sensação de saciedade e paro de comer um pouco antes”, diz ela. “no entanto, ainda tenho prazer em comer e não me sinto privada de nada”. Exemplo de cardápio de três refeições e dois lanches:


CAFÉ DA MANHÃ: ½ xícaras de aveia em flocos com 120 ml de leite desnatado; ¼ de cantalupo ou 180 ml de suco; 1 torrada com 1 colher de chá de manteiga ou margarina. (cerca de 500 calorias) LANCHE DO MEIO DA MANHÃ: banana ou maça. (100 calorias) ALMOÇO: sanduíche de pão integral ou pão árabe integral com 85 gramas de peru, presunto ou atum e 1 colher de sopa de maionese light, alface e tomate, refrigerante dietético ou 230 ml de leite desnatado. (400 a 500 calorias) LANCHE DA TARDE: 2 biscoitos cream-cracker integrais, uma fatia (20 gramas) de queijo minas e 180 ml de suco de frutas, ou uma porção de fruta e 230 ml de leite desnatado. (200 calorias) JANTAR: 100 gramas de carne de porco assada ou grelhada, com uma xícara de espinafre e batata-doce assada, ou 100 gramas de peixe grelhado com meia xícara de arroz, 1 xícara de brócolis ou couve-de-bruxelas cozidos no vapor, Como sobremesa, ½ xícara de sorbet ou sorvete de baixa caloria. (500 a 600 calorias). Extraído do “Reader’s Digest Seleções, outubro 1999, n.º 57 CÓDIGO DA VIDA A CAMINHO DA MORTE ARISTIDES DOURADO

Cerca de 97% das quatro unidades químicas que constituem o genoma humano estão sequenciadas, o que é um passo determinante para se entender a forma como funciona um ser humano. Este anúncio revelou-se de capital importância para a comunidade científica e política internacional, tendo sido o próprio Presidente norteamericano Bill Clinton a anunciar os resultados na Casa Branca. Contudo esta novidade “ancestral” pode encerar, por si só, o fim da vida, tal como a conhecemos, e o início de um vertiginoso caminho em direção à extinção. Em linguagem científica o ADN humano, abreviatura habitual do ácido desoxirribonucleico { subst6ancia constituída por quatro químicas, adenina (A), tinina (T), guanina (G) e citosina (C), apresenta-se sob a forma de duas cadeias agrupadas em hélice e está presente em cada uma das nossas células organizando-se em 23 pares de cromossomas, metade herdados do pai e a outra metade da mãe, sendo o responsável pela transmissão das características hereditárias. Em termos mais simples esta ácido é o guardião das nossa “instruções de funcionamento” e tem a capacidade de reconstruir novas células e de se reproduzir a si mesmo, constituindo assim o material hereditário existente na maior parte dos seres vivos. A novidade que os meios de comunicação divulgaram, e a comunidade científica acolheu e demonstrou, com soberbo orgulho, refere-se a uma primeira fase da sequenciação das letras A T G C. Isto é, os cientistas começaram o longo trabalho de, tal como uma


criança no primeiro ano do ensino básico, juntar e procurar construir palavras com sentido num longo texto com mais de 3.000.000 (três milhões) de caracteres. POSSIBILIDADES E RISCOS Esta é, sem duvida, um grande passo para o conhecimento de doenças que poderão ter um tratamento adequado no quadro da medicina preventiva. É, também, o caminho para a individuação do ser humano e para a progressão do diagnóstico clínico de cada um de nós. Mas não será igualmente uma ocasião para a tentativa, insana e megalómana, de construir “super-homens” dotados de invulnerabilidades, ou de “frankensteins” orientados para um determinado objetivo – a guerra, por exemplo? Estamos em crer que os avanços científicos, agora enunciados, conduzem a um sem número de possibilidades terapêuticas; mas também podem servir interesses menos lícitos e morais. Se, por um lado, doenças como o cancro, a diabetes ou a parkinson poderão vir a ser triste memória do passado, por outro poderemos ter se assistir ao nascimento de aberrações ou a uma nova forma de seleção nada natural. Se o caso da Dolly apresentava complicações ao nível da individuação dos seres humanos, e se os alimentos geneticamente manipulados colocam em causa a qualidade da nossa alimentação; o conhecimento do código genético (a que muitos chamam já de “linguagem divina da criação) pode conduzir-nos à massificação biogenética e ao domínios babélico do mistério da concepção. SOB UM OLHAR SOCIAL Hoje assistimos já, impassíveis, aos abusos que o diagnóstico pré-natal concede cometer: uma vez conhecida a possibilidade (e apenas a possibilidade não a certeza) de o feto, ser humano embrionário, nascer com alguma anomalia física (o síndrome de Down, por exemplo) os pais podem decidir a viabilidade dessa gravidez. Amanhã poderemos ter de assistir à eliminação, pura e simples, de todos aqueles bebês que possuam genes imperfeitos e à marginalização de todos aqueles, homens, mulheres ou crianças, que forem portadores de uma qualquer enfermidade ou deficiência física... uma verdadeira senda de morte! Mesmo entre os especialistas a opinião sobre o rumo que a investigação genética assume não é consensual. Num artigo publicado num diário chileno pelo Professor Ricardo Cruz-Coke, genetista no Instituto de Ciências Biomédicas do Departamento de Genética da Universidade do Chile, este advertia para uma certa tendência reducionista “que condiciona toda a genética”. Alertando para “o cuidado que deveríamos ter como impacto e os problemas que se podem desenrola com a aplicação prática da investigação genética”, este investigador reconhece que esta nova tecnologia pode “permitir a identificação da estrutura genética de cada uma das pessoas e assim conhecer uma informação muito íntima e pessoal”. E continua: “A sua divulgação atentaria contra a dignidade e os direitos de todos os seres humanos. A falta de precauções poderia implicar verdadeiras perversões deste conhecimento”. Por outro lado, respondendo a um seu colega que afirmara; “se quisermos saber onde está a alma, devemos procurá-la nalgum gene”; Cruz-Coke assegura decididamente que o reducionismo que ‘sintetiza tudo na genética” reduz a liberdade das pessoas pois defende que “se alguém está! Já definido pelos seus genes nada pode fazer para lutar contra esta realidade, o mesmo é dizer, se alguém vem geneticamente determinado não poderá mudar o seu destino, o que poderá servir de base para atividades tão questionáveis como a eutanásia fetal”. E o investigador assinala que não podemos esquecer que o ambiente e as


características espirituais dos seres humanos também nele interagem a par do patrimônio genético. CRER PARA ACREDITA Talvez o mais paradoxal de toda esta questão é que o genoma pode revelar a cor dos olhos, a estatura e a vulnerabilidade do Homem a determinadas doenças; mas nunca a sua raça. O que nos deixa aquele sabor de desconhecido, aquele sentido de novidade de alteridade ao qual a ciência nunca poderá responde. Um homem, geneticamente, pode diferir 0,2% de outro homem – numa lógica biofisiológica – mas na sua total identidade de ser humano, dotado de uma corporizada ou de um corpo divinizado, ele será sempre mais que a soma de todas as parte que o constituem. Como filho de Deus e sujeito de ressurreição o Homem surge em todo o seu esplendor, em todo o seu potencial. O Homem – feto, criança, jovem, adulto ou velho – será sempre o dom misericordioso do amor de Deus, o verbo da Sua palavra que, eito carne e gerado no amor de um casal, se dá continuamente ao seu irmão em perfeita, fecunda e fraterna gesta. Procurar conhecer o mais íntimo do ser humano é tarefa hercúlea para a ciência hodierna. Defender a privacidade desse mesmo conhecimento e a sua não manipulação arbitrária é o dever que cabe a cada um de nós. Sim. Reclamamos o direito à diferença porque nos reconhecemos filhos de um mesmo Deus e Pai de todos, que a todos nos irmana em Jesus Cristo concedendo-nos o dom do Seu santo Espírito. Somos membros desta sociedade e nela procuramos viver como “peregrinos e estrangeiros” e como guardiões da criação. Texto extraído – CARTA AO AMIGO – edição Maio e Junho de 2001


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