Seqüência do boletim 123456789-
Programa do congresso Visita ao doente: a arte de estar com o outro A energia da fé força que cura Terapia gênica e Alzheimer Divulgação do livro Cidadania e saúde Dicas de saúde Esperança de construir um Brasil Trabalho e estresse
Obs. Fazer o boletim com 8 páginas.
PROGRAMA DO XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE Tema: Qualidade de vida na pastoral da saúde DATA: 06 e 07 de setembro de 2003 LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo Avenida Nazaré, 1501 – Ipiranga – São Paulo – SP DIA 6 SÁBADO 7h30 às 8h30 - Inscrições e entrega de material 8h30 às 9h – Oração e abertura 9h às 10h - O cuidar de si e do outro no Novo Testamento – Roberto Fernandes 10h às 10h30 – Intervalo 10h30 às 11h15 – Interface: Cuidado e curador ferido. Sílvia Ribeiro Brescia 11h15 às 12h30 – Cuidado e espiritualidade: um caminho para a transformação. Regina Liberato. 12h30 às 13h45 – Almoço 13h30 às 13h45 – Lançamento do livro Humanização hospitalar. Pe. Augusto Mezzomo 13h45 às 16h – Psicodrama – Cuidando do cuidador: desafios para os agentes. Sílvia e Regina. 16h às 16h30 – Intervalo 16h30 às 17h30 – Atividades de grupos e fechamento DIA 07 DOMINGO
7h45 às 8h45 – Celebração da missa 8h45 às 9h30 – Amar o idoso que está em você. Léo Pessini 9h30 às 10h15 – Promoção do envelhecimento saudável. Dr. Miguel Hall Neto 10h15 às 10h45 – Intervalo 10h45 às 12h – O cidadão idoso. Zally Queiroz 12h às 13h15 – Almoço 13h15 às 14h30 - Alegria em meio ao sofrimento – Ângelo da Silva 14h30 às 15h30 – Biblioterapia: uma ação pasotral – Rosa Maria Bereta 15h30 às 16h – Intervalo 16h00 às 16h45 – Pastoral através de histórias. Carmelina da Silva 17h00 – Encerramento INSCRIÇÕES: (11) 3675-00-35 Contato com Cristiana
VISITA AO DOENTE: A ARTE DE ESTAR COM O OUTRO ANÍSIO BALDESSIN O que eu devo fazer quando o doente fica em silêncio? Quando ele chora, quando está inconsciente, em estado terminal, com uma doença incurável, revoltado ou depressivo, quando é de outra religião ou ateu, quando não aceita orações e sacramentos, ou ainda quando não está muito disposto a receber visitas e conversar? Talvez, essas sejam as perguntas que mais angustiam os agentes de pastoral da saúde quando visitam os doentes. Por isso, esses são, sem dúvida, os questionamentos que mais ouço quando dou cursos para agentes de pastoral da saúde, ministros da eucaristia e/ou pessoas que visitam doentes nos hospitais e em casa. Essa angústia aumenta ainda mais quando, nos cursos, falo sobre aquilo que o agente não deveria dizer aos doentes. Ou ainda quando chamo a atenção para que nas visitas, os agentes não repitam frases feitas tais como, você vai sair dessa, você vai ficar bom, nada acontece por acaso, eu já vi coisa pior, hoje é você, amanhã poderá ser eu, graças a Deus que você está num bom hospital, Deus não dá nada mais daquilo que a gente não pode suportar, comparado ao de Jesus seu sofrimento não é nada. Enfim, aquelas palavras que soam muito bem para quem fala, mas que pouco ajuda quem ouve. Ao mesmo tempo, procuro ressaltar a importância de não fazer muitas perguntas, não usar os recursos da oração como uma maneira de não se envolver ou se livrar das pessoas, não ter uma preocupação exagerada em oferecer e/ou distribuir sacramentos, orações e bênçãos. Ou então pensar que pode e deve "resolver" os problemas dos doentes, dos familiares ou das pessoas que, direta ou indiretamente cuidam dele. Depois de ouvir tudo isso, ou seja, de não repetir frases feitas, fazer muitas perguntas, tentar impor suas convicções religiosas a ninguém, ter tanta preocupação em falar de Deus, de distribuir sacramentos ou ficar fazendo orações com os doentes, os visitadores, agentes de pastoral da saúde, perguntam: Mas, afinal, se não podemos fazer assim, o que devemos fazer ou dizer? Será que vale a pena continuar visitando os doentes?
A importância da visita
Todos os que se dispõem visitar os doentes, nos hospitais ou em casa, devem ter uma certeza. Toda e qualquer visita, mesmo que seja feita de maneira não muito conveniente sempre acaba provocando um certo bem estar para a pessoa. A não ser que o visitador acabe caindo num vale de lágrimas. Ou seja, levando e expondo seus problemas pessoais e dificuldades para o doente que já tem tantos problemas. Os livros e artigos sobre relação de ajuda e pastoral da saúde ressaltam o bem estar que a visita provoca nas pessoas. Ao mesmo tempo, lembra que na visita pastoral, não existe o certo e o errado. O que existe são maneiras, mais convenientes ou menos convenientes de se estabelecer uma relação de ajuda com os doentes. Acrescenta-se a tudo isso que, na visita pastoral, cada caso é um caso. Por isso, não podemos nos dar ao luxo de pensar que não precisamos de nenhum preparo para este tipo de trabalho. Infelizmente, são muitos os que pensam dessa maneira. Ou seja, desde que eu tenha fé, amor e boa vontade, o resto o Espírito Santo garante. Por isso, uma boa preparação ajudará o agente a descobrir a maneira mais conveniente de visitar um doente e, sobretudo que a visita é uma oportunidade de estar com o outro.
O estar com o outro Todas as dúvidas e inquietações surgidas nas visitas pastorais resultam da preocupação do agente em fazer algo pelo outro. Ou seja, o que eu posso fazer para ajudar o outro a resolver seus problemas? No entanto, na visita pastoral, mais importante do que pensar, o que eu posso fazer, é pensar que a finalidade principal da visita não é fazer algo pelo outro senão, estar com o outro. Estando com o outro, certamente, poderei ajudá-lo de alguma maneira. Porém, se minha preocupação maior for fazer algo, a impossibilidade de realizar tal tarefa poderá causar uma certa frustração. Novo Testamento são muitos os relatos que mostram as atitudes de Jesus junto às pessoas. Chama nossa atenção a maneira de Jesus agir junto às pessoas. Embora não tivesse uma grande preocupação em reunir grandes multidões, sabia como ninguém, quando estava junto às pessoas, aproveitar bem as oportunidades. No capítulo quarto do evangelho de São João por exemplo, temos o episódio que narra o encontro com a mulher samaritana que estava apanhando água no poço (Cf Jo 4). Nele, Jesus se coloca na condição de necessitado, só depois que ela se sente amparada começa a fazer algo por ela, ou evangelizá-la. No evangelho de Lucas, na caminhada com os discípulos de Emaús (Cf. Lc 24, 13-35), antes de fazer qualquer observação ou recomendação, caminha, durante algum tempo com eles. Só depois de ouvi-los, provoca confronto. "Afinal, sobre o que vocês estavam conversando enquanto caminhavam pelo caminho". São Marcos, relata o encontro de Jesus com o cego Bartimeu (Cf Mc 10, 46-52). Também aqui, Jesus só realiza a cura depois do próprio Bartimeu expressar sua vontade: “Mestre, eu quero ver de novo”. Portanto, quando visitar doentes, muito mais do que pensar: o que vou fazer e/ou falar para ajudar o outro, pense em estar com ele. Pois, a primeira finalidade da visita não é fazer desaparecer as dores e os problemas aquele que sofre a enfrentá-los, de maneira criativa, para o próprio crescimento. Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A ENERGIA DA FÉ, FORÇA DE CURA MARCELO BARROS Começamos mal o século XXI, com guerras no sul da Índia, agravamento dos conflitos na Palestina, além dos ataques de extremistas e de governos como Busc, que respondem ao terror do Estado, o que é mais grave. Essas guerras se somam ao aumento das injustiças sociais e da pobreza da imensa maioria dos humanos. Tudo isso agrava os sintomas de uma sociedade doente e depressiva. As cidades não oferecem qualidade. A vida familiar é perturbada por horários desencontrados e desumanos. A multiplicidade de ofertas para o consumo e a exarcebação dos desejos facilitam a frustração individual e coletiva. Um sistema econômico elitista e excludente faz com que o aumento do desemprego e da concentração da terra nas mãos de poucos agravem a fome e ameacem a vida de milhões de seres humanos. A ciência médica não cessa de progredir, mas muitos não têm acesso a esse progresso. Em toda América Latina se desenvolvem formas tradicionais de tratamento e de cura. A medicina alternativa atrai o povo pobre que não pode pagar consultas privadas e remédios das multinacionais farmacêuticas e nem conta com um sistema de saúde digno. Mas interessa também aos que, por convicções espirituais, sabem que na base de cada doença há alguma ruptura ou ameaça do equilíbrio e da comunhão da pessoa consigo mesma, com o outro, ou com o universo. Existem inúmeras explicações e diferentes propostas de cura. Muitos médicos consideram inoperantes os métodos alternativos, e até prejudiciais. Por outro lado, muitos adeptos desses métodos de cura ignoram e condenam os médicos e remédios oficiais. Graças a Deus, em diversos lugares, já se vêem uns e outros trabalhando em comum e se complementando. Procuram unir pressupostos culturais das terapias tradicionais, indígenas ou orientais e, ao mesmo tempo, recursos e avanços da medicina moderna que não agridam o organismo, nem deixem de ver a pessoa em seu conjunto individual e social. Médicos e enfermeiros podem medir o colesterol ou a insulina no sangue. Verificam a pressão arterial, mas não têm instrumentos para sanar a causa da solidão, carência afetiva, mau humor e tristeza. As religiões antigas nos lembram que curar não é só recuperar a saúde perdida, mas conquistar um novo equilíbrio. Se a doença é, de fato, uma ameaça à vida, pode ser também profundo apelo a uma mudança. Quantas pessoas, a partir da experiência de uma doença grave, transformaram o seu modo de viver. Todas as religiões concordam que o projeto divino para o ser humano não é uma salvação que atinge apenas uma parte da pessoa (o espírito), mas se deve traduzir em força de cura e de vida. Se a maior energia curativa é o amor, nos enganaríamos se fizéssemos uma religião que funcionasse como uma espécie de supermercado, onde encontrássemos à disposição apenas receitas de cura. Deus seria uma espécie de tapa-buraco à disposição de nossas carências egocêntricas ou regressivas. A proposta da fé e de uma espiritualidade profunda é a de religar a pessoa consigo mesma, com os outros e com o universo numa relação de amor. Na maioria das religiões, a fonte de todo amor chama-se Deus. Para quem crê, a relação com Deus é terapêutica e nos leva a viver a cura de nossas feridas interiores e físicas, como forma de acolher profundamente a vida recebida de Deus como dom e missão. Um método usado em toda tradição espiritual para se alcançar a cura através da intimidade com Deus é a oração, tanto a prece da pessoa enferma como a intercessão que fazemos a Deus por alguém, mas a fé nos garante que toda oração é escutada.
No cristianismo, os relatos evangélicos das curas que Jesus Cristo faz revelam que o amor de Deus atua como força curadora e como “amostra grátis” do Reino de Deus, futuro do mundo e da vida com Deus quer que seja para todos. Conforme os evangelhos, cada vez que Jesus cura alguém, ele mostra estar recriando a pessoa. Nessa relação de fé a pessoa curada se aceitar ser realmente nova criatura, aberta à novidade do Espírito de Deus, que transforma a nossa história pessoal e as condições deste mundo. Abrir-se é confiar. Confiar é optar pro jogar fora o medo. Cada vez que Jesus Ressuscitado se revela aos apóstolos, a primeira palavra que diz é: “Sou eu. Não tenham medo!”. Se Deus é amor, como diz Paulo na carta aos romanos: “Nada nos separará do amor divino. Nem a morte, nem a vida, nem os poderes do céu e da terra nos poderão fazer mal”. Marcelo Barros é monge beneditino e escritor.
TERAPIA GÊNICA ASPECTOS BIOÉTICOS
E
A
DOENÇA
DE
ALZHEIMER:
Nos últimos anos, houve considerável revolução no estudo da doença de Alzheimer graças aos avanços e à pesquisa no campo da genética humana. A aplicação de modernas técnicas de genética molecular resultou na identificação de possíveis genes causadores da DA, mas também permitiu que se estabelecessem certas hipóteses sobre as causas e a evolução da patologia. O aconselhamento e o assessoramento genético têm grande importância para o diagnóstico precoce de algumas doenças e prognóstico futuro de determinadas afecções. Assim, as modernas técnicas de engenharia genética utilizadas para investigar algumas doenças constituem uma previsível e factível possibilidade de tratamento para doenças como a DA. É graças a elas que foram encontrados alguns cromossomos relacionados à DA (o 11, o 14, o 12, o 19 e o 21). Por outro lado, a técnica dos implantes, das transferências e das modificações genéticas trazem problemas técnicos e éticos de peso considerável. Ultimamente, os estudos genéticos sobre a DA têm aumentado basicamente em função de dois fatores: a) à inquietação pública devido ao possível componente hereditário da DA; b) ao avanço de modernas técnicas de genética molecular capazes de identificar genes alterados. De fato, os avanços científicos mais promissores da DA estão acontecendo no âmbito da biogenética. Daí vem a grande necessidade de refletir sobre o que a ciência está trazendo para o conhecimento, prevenção e tratamento precoce da DA, bem como sobre os problemas éticos que podem advir da ditas práticas.
Genética e DA Há quase duas décadas os cientistas concluíram que existem dois tipos de DA: a genética e a esporádica. O controle genético é de suma importância na DA genética em vista de seu caráter hereditário. Assim, sabe-se, por exemplo, que o risco de desenvolver a DA aumenta quando um teste genético detecta a presença do gene Apo E-4 (tipo de proteína encontrada nos alelos de alguns cromossomos) um aumento de até 47% naqueles que têm uma mutação no dito gene ou até mesmo de 91% nos casos em que o mesmo gene apresente duas mutações. Somente aquelas pessoas cujo histórico familiar apresenta algum
caso de DA e nas quais se detectam genes como os APP, PSI e PS2 demonstram certa predisposição, mas, segundo alguns autores norte-americanos, o risco estimado não costuma superar 2% dos casos. Recentemente, foram descobertos três genes (APP: precursor da proteína amilóide; PS1: presenilina 1 e PS2: presenilina 2) nos quais determinados mutações são responsáveis pela doença de Alzheimer familiar. Descobriu-se ainda que um outro gene (APOE: apolipoproteína E) atua como fator de risco. As mutações genéticas dos mesmos constituem os principais fatores genéticos responsáveis pelo desenvolvimento degenerativo da demência tipo Alzheimer. Contudo, seria possível dizer que a DA é geneticamente heterogênea e que é um transtorno esporádico multifatorial.
Terapia Gênica e DA As doenças de nítida predisposição genética naturalmente são e têm sempre sido séria preocupação para a humanidade. Calcula-se, hoje, que existam aproximadamente 3.000 doenças de origem genética e que 2% dos recém-nascidos sejam atingidos por uma delas. O patrimônio genético do ser humano pode apresentar alterações ou anomalias enzimáticas que desencadeiam ou predisponham patologicamente a vida de um indivíduo podendo provocar disfunções bioquímicas que causem deformações orgânicas durante o desenvolvimento vital, ou até mesmo a morte. O conhecimento e a intervenção na biblioteca genética do homem permitirá reduzir o risco de contrair doenças desde a DA até o câncer e até mesmo preveni-las antes que apareçam. A terapia genética, portanto, objetiva curar doenças causadas total ou parcialmente pela herança genética e, inclusive, impedir que surjam no desenvolvimento evolutivo humano. Assim, não se limita a suprimir sintomas, mas agem no sentido de anular causas. Tendo em vista que atualmente há muitas doenças de fundo genético, vale distinguir os três tipos de doenças que resultam de alterações na informação genética do indivíduo. De acordo com o modelo de herança é possível salientar três diferentes categorias de alterações: doenças de herança monogênica (aquelas que resultam da presença de um só e único gene mutado); doenças de herança poligênica ou multifatorial (aquelas em que vários genes herdados interagem com fatores ambientais, pré-natais ou pós-natais, produzindo uma deformação congênita); e as doenças de base cromossômica ou citogenéticas (aquelas em que se encontra alguma alteração numérica ou estrutural dos cromossomos e que podem trazer conseqüências pré ou pós-natais graves ao portador.). Contudo, a DA não é atribuída à alteração de um único gene, mas a vários genes defeituosos aliados a outras condições multifatoriais. Por isso, nem a medicina preditiva nem a terapia gênica parecem ser as únicas respostas médicas para combater a doença. No momento, não é fácil aventurar-se a dizer, com a contundência que gostaríamos, que a terapia gênica seja uma panacéia contra a DA, ela pode, no máximo, ajudar a preveni-las e tratá-la melhor. Além disso, a terapia gênica limita-se a doenças monogênicas recessivas (não autossômicas ou dominantes). Existem, portanto, falhas na DA: a primeira é que nem tudo se enquadra na predisposição genética; a segunda, é que a terapia gênica não é a única nem a melhor solução para combater a doença.
É lícito usar a terapia gênica na DA? A terapia gênica, definida como a intervenção terapêutica no genótipo, poderia ser feita em células somáticas ou em células germinais (gametas). No primeiro caso se trataria de células que cumprem uma missão básica no organismo, mas a intervenção sobre as
mesmas não resultaria em uma alteração transmissível do patrimônio genético. No caso da terapia gênica em células germinais surje o problema da herança, ou seja, a modificação do patrimônio genético se transmitiria aos descendentes – este último ponto implica numa enorme amplitude e complexidade e ocasiona o nosso questionamento básico sobre a doença: a terapia gênica germinal no caso da DA é lícita? A priori, a resposta parece pode ser totalmente afirmativa, mas aqui, como em muitos outros temas bioéticos, é preciso deixar aberta a porta do “sim, mas...”. É necessário recorrer a uma série de pautas prévias para justificar a licitude clínica e ética deste tipo de intervenção. Assim, dentre os requisitos clínicos possíveis gostaríamos de fazer especial menção aos seguintes: - Que defeito genético acarrete um elevado risco patológico, como parece ser o caso da DA; - Que não existam outros métodos alternativos de tratamento que possam evitar o uso da terapia gênica, atualmente, não se conhece nenhum, nem mesmo a própria terapia gênica; - Que o benefício desejado justifique o risco, isto é, que o fim procurado (curar ou paliar os sintomas da doença) seja igual ou maior que os danos que possam surgir a curto ou longo prazo. Além destes critérios, consideramos que caso seja possível usar a terapia gênica na DA precisamos tratar de uma série de problemas éticos que não devem ser relegados ao esquecimento. Entre outros: a confidencialidade dos dados, a decisão de ficar ou não a par desses dados, o consentimento informado sobre algumas decisões a partir dos referidos dados, o assessoramento psicológico sobre os resultados dos ditos testes genéticos, etc. Contudo, também se pode discutir o fato de que se é possível justificar a terapia gênica curativa o que impede de se justificar a intervenção preventiva ou profilática? Ou ainda: será possível manipular os componentes genéticos para melhorar certas condições biológicas? Ante estas questões cabe apenas parar, pensar e deliberar a partir de critérios éticos prudentes e estabelecer uma possível ‘ética da responsabilidade’, tanto na investigação quanto no tratamento genético desta doença. Devido a todos esses fatores e considerando toda a problemática ética, devemos dizer com relação às possibilidades presentes e futuras da terapia gênica na DA que torna-se cada vez mais necessário introduzir o chamado ‘princípio da cautela e da responsabilidade’. Assim propomos o seguinte como critério ou regra ética fundamental nos casos em que exista incerteza técnica ou ética: in dúbio pro malo, ou seja, em caso de dúvida considerar o pior prognóstico e não melhor, ou ainda: in dúbio abstine, em caso de dúvida melhor abster-se, especialmente quando as conseqüências negativas forem imprevisíveis ou quando possamos estar tomando um caminho de retorno difícil ou impossível. Divulgação de livro Obs. (colocar a capa do livro) REFLEXÕES PARA AGENTES DA PASTORAL DA SAÚDE: A contribuição bíblica. Organizado pelo Pe. Anísio Baldessin, reflexões para agentes de pastoral da saúde: a contribuição bíblica é composto de artigos onde os autores procuram fazer uma leitura paralela dos textos bíblicos dando uma a eles uma versão pastoral. Embora não contenham respostas prontas, os artigos mostram inúmeras faces e contribuições que a Bíblia oferece ao trabalho pastoral na área da saúde.
É um livro endereçado aos capelães, padres, pastores, assistentes espirituais e aos milhares de agentes e pastoral da saúde, para reflexões individuais e, principalmente, para discussões em grupos de agentes. Você poderá encontrá-lo no ICAPS no telefone (11) 3675-00-35 com Cristiana, FAX (11) 3865-21-89, nas Edições Loyola em São Paulo – Tel. (11) 1914-19-22 ou nas livrarias ou distribuidoras ou de sua cidade.
CIDADANIA E SAÚDE ALEXANDRE DE MORAIS A Constituição Federal, em diversos dispositivos, prevê princípios informadores e regras de competências no tocante à proteção da saúde pública. No preâmbulo da Constituição Federal destaca-se a necessidade do Estado democrático assegurar o bem estar da Sociedade. Logicamente, dentro do bem estar, destacado como uma das finalidades do Estado, encontra-se a Saúde Pública. Alem disso, o direito à saúde dentre outros, aparecem como conseqüência imediata a consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento da Republica Federativa do Brasil. Esse fundamento afasta a idéia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade individual. A saúde é concebida como direito de todos e dever do Estado, que a deve garantir mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doenças e de outros agravos, regendo-se pelos princípios da universalidade e da igualdade de acesso às ações e serviços que a promovem, protegem e recuperam. Não foi outra a conclusão da Organização Pan-americana da Saúde e do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde, ao afirmar que “o conceito de ações e serviços de relevância pública, adotado pelo artigo 197 do atual texto constitucional, norma preceptiva, norma preceptiva, deve ser entendido desde a verificação de que a Constituição de 1988 adotou como um dos fundamentos da Republica a dignidade da pessoa humana”. Seguindo essa orientação, a Constituição da Republica consagra ser a Saúde direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua proteção e recuperação (CF,art.196), sendo de relevância publica as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou por meio de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado(CF, art.197). Igualmente, em seu artigo 200, a Constituição Federal afirma Competir ao sistema único de saúde executar as ações de vigilância e epidemiológica (inciso II) e fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano. A atuação do Poder Público nos serviços de vigilância sanitária de alimentos é de vital importância para a saúde pública, pois conforme estudos realizados pelo Centro Americano de Controle de Doenças, os alimentos contaminados chegam a causar nos Estados Unidos mais de 50 milhões de casos de diarréia. Alem do aspecto de saúde publica, tal fato repercute economicamente, uma vez que diversas pessoas faltam ao trabalho ou deixam de produzir adequadamente durante o
período em que, por contaminação alimentar, ausentam-se do trabalho ou de suas funções diárias. A OMS – Organização Mundial de Saúde e a Organização para Alimentação e Agricultura – FAO criaram uma comissão conjunta OMS/FAO para o estudo de padrões mínimos de segurança alimentar, estabelecendo a necessidade de edição de um código de procedimentos de higiene para estabelecimentos onde são servidos alimentos pré-cozidos e cozidos para alimentação coletiva, em virtude da constatação dos seguintes dados epidemiológicos mostrando que muitas epidemias de intoxicação alimentar são causadas por alimentos consumidos nos estabelecimentos que os servem; perigo que cercam as operações de fornecimento de alimento de larga escala, especialmente ao que se referem a armazenagem e manipulação; o grande números de pessoas que pode ser envolvido numa epidemia; vulnerabilidade da população. Vislumbruou-se, ainda, pela OMS a necessidade de controle sanitário em todas as fases do preparado dos alimentos até o momento de seu consumo, para que se previna a contaminação anterior à comercialização do alimento. A legislação deve ser implementada com o auxílio do poder da polícia do Poder Público, que é responsável pela saúde pública. Esse mesmo entendimento foi proclamado pela organização Pan-americana da Saúde e do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde ao afirmar que “aplicado as ações e aos serviços de saúde, o conceito implica o poder de controle, pela sociedade e pelo Estado, visando zelar pela sua efetiva prestação e por sua qualidade. Ao qualificar as ações e serviços de saúde como de relevância pública, proclamou a Constituição Federal sua essencialidade. Por “relevância pública” deve-se entender que o interesse primário do Estado, nas ações e serviços de saúde, envolve a essencialidade para a coletividade, ou seja, sua relevância social. Ademais, enquanto direito de todos e dever do Estado, as ações de serviços de saúde devem ser por ele privilegiados. A correta interpretação do Artigo196 do texto constitucional implica o entendimento de medidas dirigidas ao enfrentamento das doenças e suas seqüelas, através da atenção medica preventiva e curativa, bem como de seus determinantes e condicionantes de ordem econômica e social Alexandre de Moraes é Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo.
DICAS DE SAÚDE. Pode ser este ou o texto seguinte. Coloque o que couber. CÂNCER DE PELE: O GRANDE VILÃO DO VERÃO KÁTIA MACHADO Este tipo de câncer tem sido responsável por 25% de todos os tumores malignos no país e, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), deve atingir, neste ano, cerca de 65.240 brasileiros. Apesar de oferecer enorme risco, o sol não é o único causador da doença, mas qualquer tipo de luminosidade natural, inclusive nos dias de chuva ou nublados. O que acontece é que os raios mais agressivos atravessam a atmosfera e incidem sobre a pele das pessoas. O câncer de pele aparece subitamente por meio de uma verruga, uma pinta ou uma ferida que não cicratiza. Segundo José Trindade Filho, coordenador da Campanha Nacional de Prevenção do câncer de Pele da regional fluminense da Sociedade Brasileira de Dermatologia (em entrevista ao Jornal Fluminense, de 06/11/2002, o câncer de pele é fácil
de ser tratado e curado quando observado precocemente. Para tanto, basta fazer o auto exame. Mas, se não diagnosticado previamente, pode levar à morte. José Trindade Filho alerta para o fato de que os sintomas da doença podem aparecer até 20 ou 30 anos após a intensa e indevida exposição aos raios solares. “Costumo dizer que, tal como um remédio, o sol precisa ser tomado na dosagem certa pra melhorar, curar ou mesmo salvar uma vida. Mas o uso indevido ou indiscriminado da energia solar poderá resultar em danos irreparáveis aos seres vivos, principalmente humanos”, diz. Para evitar a doença, o jeito é tomar alguns cuidados, como usar chapéus ou bonés e óculos escuros, evitar o sol entre 10 e 16 horas e abusar de filtro solares. A prevenção é recomendada a todas as pessoas, sendo que com maior intensidade àquelas com pele clara, sardas, olhos claros, cabelos louros ou ruivos, ou seja, que tenham uma ascendência européia, e àquelas com histórico familiar da doença, pois existe também um fator genético pra o câncer de pele. Mas, pra o dermatologista Cleire Paniago, presidente da Fundação Nacional do Câncer de Pele (em entrevista ao Jornal do Comércio, de 11/11/2002, a proteção não deve restringir apenas aos dias de sol na praia ou no clube. Ele informa que, quanto maior a altitude, mais próximo se está do sol e, por isso, mais forte é a radiação. Vale também lembrar que cerca de 80% de toda a luz solar a que nos expomos durante a vida inteira é pega até os 18 anos e, por isso, nessa fase é recomendável maior preocupação com o sol. O câncer de pele é dividido em três tipos: 1 - Carcinoma basocelular – Não causa metástases (propagação do câncer pelo corpo), mas os tecidos corrói os tecidos que estão à sua volta, causando algumas deformidades. Esse tipo de câncer de pele é mais comum após os 40 anos em pessoas de pele clara. O aparecimento dele está diretamente associado à exposição ao sol acumulada durante a vida. 2 – Carcinoma Espinocelular – Esse tipo da doença pode se espalhar pelo organismo por meio de gânglios, e está associada à exposição solar sem proteção, tabagismo, exposição a substâncias como arsênio e alcatrão e alterações no sistema imunológico. 3 – Melanoma - É o tipo mais perigoso da doença, atinge freqüentemente pessoas de pele clara e sensível. O sinal de seu aparecimento é normalmente pro meio de uma de uma pinta escura e está ligado à exposição solar. Ele é responsável por três em cada quatro mortes por câncer de pele.
Como fazer o auto-exame? De início, a pessoa deve procurar um ambiente com luz clara, providenciar um espelho de corpo inteiro, outro de mão, uma cadeira e uma escova de cabelo. O objetivo do auto exame é procurar manchas que coçam, descaman ou sangram, sinais pintas que mudam de tamanho, de forma e de cor, feridas que não cicatrizam em quatro semanas e verrugas lisas e brilhantes que mudam de tamanho. Em frente ao espelho grande, a pessoa deve começar examinando o pescoço e o peito, e as mulheres, especialmente, a parte inferior dos seios. Deve-se observar cuidadosamente o rosto, preocupando-se ainda mais com o nariz, os lábios, a boca e as orelhas. Não se pode esquecer de olhar também antebraços, mãos e unhas, dobrando os cotovelos, e as axilas, levantando os braços. Na parte das costas e com o auxílio do espelho de mão, deve-se observar as nádegas e a parte de trás das pernas.
Depois de observado todo o corpo de pé, é hora de sentar-se na cadeira e examinar atentamente a planta e o peito dos pés, a região entre os dedos e as unhas e, com o auxílio do espelho de mão, as pernas e a região genital. Por fim, com os dois espelhos, deve-se examinar o pescoço, a nuca, os ombros e a parte superior das costas e, com uma escova de cabelo, o couro cabeludo. DE OLHO NA CONJUNTIVITE NEWTON KARA JOSÉ Olhos vermelhos, lacrimejando, sensação de areia e muita coceira são alguns dos sintomas de alerta. Nos últimos meses, a população tem estado alerta para qualquer desconforto sentido nos olhos, pois a conjuntivite passou a ser considerada uma epidemia em diversos estados brasileiros. Conjuntivite é o nome genérico que se dá a qualquer inflamação que atinja a membrana que recobre o olho, chamada de conjuntiva. Como ela está sempre exposta ao meio ambiente, acaba sofrendo irritações por conta de excesso de poeira, poluição, falta de oxigênio, entre outros fatores. De acordo com o Dr. Newton, dependendo da causa, essas inflamações têm denominações específicas. Conjuntivite infecciosa – É mais comum, no momento, em diversas regiões brasileiras. É uma inflamação causada por bactérias ou vírus. A conjuntivite bacteriana ocasiona olhos vermelhos e excesso de secreção. Já a viral, é mais dolorida, formando também a secreção nos cantos dos olhos e causando grande desconforto. Irritativa – Ocasionada pro poluição Traumática – Causada por alguma batida no olho, ou se a pessoa dorme tempo insuficiente para o seu descanso completo. Associada a alergia – Por ácaros, poeira, produtos, maquiagem.
Contágio “De todos os tipos, a conjuntivite viral é a que mais preocupa, pois é mais contagiosa e tem sua incidência aumentada no frio, clima mais propício a sua propagação”, explica Dr. Newton. O contágio ocorre, principalmente, pelo contato físico ou com algum objeto utilizado por uma pessoa contaminada. Por isso, é preciso redobrar o cuidado em locais públicos, como em ônibus e banheiros. O vírus é resistente. Para se ter uma idéia, salienta o médico, ele sobrevive até mesmo na água do mar ou em piscinas e pode ser transmitido para outra pessoa. A ida ao médico para obter um diagnóstico correto e uma indicação de tratamento adequado ao tipo específico de conjuntivite é muito importante. “Uma conjuntivite mal tratada pode resultar em um problema crônico, inclusive, com formações de úlceras e infecções na córnea, comprometendo a visão”, enfatiza.
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Como prevenir Lave freqüentemente as mãos Use somente seus objetos de higiene pessoal
- Evite coçar os olhos - Troque periodicamente toalhas de banho e rosto e roupas de cama. - Evite contato íntimo com pessoas com conjuntivite - Caso desconfie que esteja com conjuntivite, procure assistência médica! - Não se auto medique e não use receitas caseiras que poder agravar o problema! Newton Kara José é professor titular da disciplina de oftalmologia do Hospital das Clínicas de São Paulo. A ESPERANÇA DE CONSTRUIR UM BRASIL DIGNO PARA TODOS! LÉO PESSINI O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um importante indicador que mensura a qualidade de vida dos povos. Criado em 1975 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), compõem-se dos seguintes elementos: expectativa de vida ao nascer (longevidade), analfabetismo adulto (taxa de alfabetização de pessoas com mais de 15 anos) e renda per capita ( PIB per capita). A metodologia do IDH é de autoria de um grupo de cientistas sociais liderado pelo Prof. Amartya Sen, Premio Nobel de Economia de 2000. Esta metodologia no entanto, é questionada pelo prof. Joseph Stiglitz, Premio Nobel de Economia de 2001. Para este cientista, ficaria melhor classificar o grau de desenvolvimento humano das nações pela média ponderada de um triplo índice de desenvolvimento, ou seja: econômico, político e social. Segundo este especialista, o crescimento econômico não traz a felicidade coletiva se desfalcado de políticas públicas de redistribuição da renda e se não sancionado por instituições verdadeiramente democráticas (Joelmir Beting). A edição de 2003 do relatório IDH traz os dados de 2001 e foram incluídos 175 países. Segundo o IDH os países são classificados segundo três categorias - variando de 0 (nenhum desenvolvimento) a 1 (desenvolvimento total)- a saber: Alto: igual ou maior que 0,8; médio: de 0,5 a 0,79 e baixo: menor que 0,5. Os 22 melhores países, em promoção humana, (IDH superior a 0,900), são todos eles economicamente fortes, socialmente justos e politicamente abertos. Os 10 melhores, pela ordem são: 1) Noruega, 0,944; 2) Islândia, 0,942; 3) Suécia, 0,941; 4) Austrália, 0,939; 5) Holanda, 0,938; 6) Bélgica, 0,937; 7) Estados Unidos, 0,937; 8) Canadá, 0,937; 9) Japão, 0,932; 10) Suíça, 0,932. Os 20 países em pior situação (IDH abaixo de 0,400), são todos da África. A América Latina situa-se no bloco intermediário. Os dez melhores: Argentina (34), Uruguai (40), Costa Rica (42), Chile (43), Cuba (52), México (55), Panamá (59), Colômbia (64), Brasil (65) e Venezuela (69). Como está o Brasil? Nosso país é desigualmente desenvolvido. Há uma expressão muito conhecida entre nós, que resume todas as assimetrias, chamada “Belíndia”, palavra composta de Bélgica e Índia. A primeira representa a parte rica e desenvolvida, Bélgica (6 no IDH) e a segunda, a Índia, a grande maioria pobre de nossa população (127 no IDH). Nosso país subiu para o 65 no índice da ONU. Na primeira edição do IDH em 1975, o Brasil recebeu índice de 0,643, o equivalente hoje ao padrão de desenvolvimento da Nicarágua e um pouco melhor que o de países africanos pobres, como Botsuana e Namíbia. Neste último relatório, o índice brasileiro de 0,777, é pouco inferior ao russo (0,779) e superior aos números da Venezuela (0,775) e da China (0,721).
Os itens que mais contribuíram para o avanço do Brasil foram longevidade e educação. Desde 1975, a expectativa de vida do brasileiro aumentou 8 anos – de 59,5 anos em média para 67,8. Houve um forte declínio da mortalidade infantil (até 5 anos de idade por 1.000 nascidos vivos), ou seja de 60 para 36 em 12 anos. É necessário lembrar que dois terços da mortalidade infantil são causados por doenças provocadas pela água sem tratamento sanitário. Quanto à educação, o relatório da ONU mostra que, entre 1990 a 2001, a taxa de matrícula no ensino fundamental (crianças de 7 a 14 anos) saltou de 86% para 97% e a de alfabetização de adultos (pessoas com 15 anos ou mais) subiu de 82% pra 87,3%. Os analistas da ONU apontam para a baixa qualidade do ensino, inferior à média da América Latina. O problema sério para o Brasil segundo o relatório é a distribuição de renda. Nosso país está entre o seleto grupo dos seis piores países do planeta em termos de distribuição de renda. “O País não sofreu uma estagnação em seu desenvolvimento nos últimos anos, mas ainda existem imensos bolsões de pobreza dentro do Brasil que devem ser atacados”. Um item considerado mais preocupantes pela ONU no relatório é o saneamento básico. A expansão da rede de esgotos foi menor do que deveria ser entre 1990 e 2001 – o percentual de casas com rede de esgoto cresceu de 71% para 76%. O governo brasileiro prometeu elevar esse índice para 86% até 2015, segundo as Metas de Desenvolvimento Humano assinadas pelos 189 membros da ONU em 2000, no documento chamado Declaração do milênio. O desempenho brasileiro indica que nas áreas de educação e de mortalidade, o País deve alcançar as metas, mas fica ainda muito longe de erradicar a extrema pobreza, a fome, entre outras chagas sociais. Segundo o relatório da ONU, 1 em cada 10 brasileiros sobrevive com renda mensal inferior a US 30. A faixa de população que sofre de desnutrição crônica, declinou de 13% para 10% nos últimos 12 anos. São 17,5 milhões de brasileiros que hoje passam fome. Este é o alvo do programa Fome Zero do atual governo. Segundo o relatório os anos 90 foram uma “década de desespero” para muitos países. Neste cenário temos 54 países em que a renda per capita está mais baixa que em 1990, 20 deles na África subsaariana. Além disso, em 34 nações a expectativa de vida diminuiu, em 21 há mais gente passando fome, e em 14 mais crianças morrem antes dos cinco anos. Este rápido chek up da realidade mundial e do Brasil em particular, que os dados da ONU nos apresentam, pode nos chocar e até nos transformar em pessimistas defensores do “catastrofismo”, em relação ao futuro. Na verdade trata-se desafio à nossa esperança de construirmos o futuro de nosso país com qualidade de vida para todos. Claro que isto nunca acontecerá sem priorizar a saúde e educação do povo. Sejamos parceiros desta causa e sonho maior, dando a contribuição que nos cabe como cidadãos! Pe. Léo Pessini Vice-reitor e Superintendente da União Social Camiliana TRABALHO, ESTRESSE OCUPACIONAL E SÍNDROME DE “BUNUOT” ALEXANDRINA MELEIRO O estresse decorrente do trabalho ou estresse ocupacional tem merecido mais atenção nas ultimas décadas, mas não o suficiente para que seus efeitos sejam minimizados. Com o corre-corre, horários desrespeitados, horas de sono perdidas, ma alimentação e falta
de tempo para o lazer, o resultado não poderia ser outro: Cerca de 30% dos profissionais apresentam sintomas do estresse. Há uma pressão, especialmente das novas tecnologias, sobre os profissionais que se vêem obrigados a se adaptar às demandas do mercado sem um preparo prévio. A situação tenção, insatisfação e ansiedade, levando a pessoa ao esgotamento (“burnout”). No Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, a síndrome, predominante entre médicos e professores, chamou a atenção da psiquiatra Alexandrina Meleiro durante seus estudos do médico como paciente, (tema de sua tese de doutorado apresentada em 1998). Desde então, a medica é uma das principais especialistas do país no assunto. Numa entrevista ao boletim desse instituto, Alexandrina Meleiro fala sobre as causas de estresse ocupacional, suas conseqüências e como os profissionais devem lidar com a doença. BIPq – Quais são os sintomas do estresse ocupacional? Alexandrina – A pessoa com estresse ocupacional, só de pensar que, no dia seguinte, tem de acordar sedo e ir ao trabalho, sente-se mal, fica irritada, com desanimo, diminui a produção no trabalho, começa a não render como antes, fala mal da empresa e do chefe. Nada lhe da prazer. Aparecem os sintomas físicos: dor de cabeça, mal estar, dor de estomago, pressão alta, dor lombar ou serviçal, perda de cabelo e outras complicações. Também há mau humor crescente, que pode levar à depressão, ao abuso de álcool, drogas e remédios. BIPq – O que difere o estresse ocupacional do estresse de que tanto se ouve dizer ? Alexandrina – Chamamos de estresse ocupacional quando a causa é decorrente do trabalho. O trabalho satisfatório é um investimento efetivo que traz prazer, alegria e, sobretudo, saúde. É a laborterapia. Quando o trabalho é desprovido de significação, não é reconhecido, ou é uma fonte de ameaça à integridade física e ou psíquica, acaba levando sofrimento ao trabalhador. Isto favorece tenção, insatisfação e ansiedade, levando a pessoa ao esgotamento; isto é, ao “burnout”. BPIq – O que é o “burnout”? Alexandrina – O “burnout” significa “consumir-se em chamas”. Ele ocorre freqüentemente com os profissionais que estabelecem um intenso contato interpessoal nas atividades laborativas. A pessoa, inicialmente, apresenta um grande entusiasmo, pensa que vai transformar o local de trabalho e vencer todas as barreiras, o que nem sempre acontece. Mais realista, o profissional percebe que as dilficudades não são ultrapassadas, O que faz sua forca de luta e resistência diminuírem. Surgem a frustração e a insatisfação. Se a pessoa não reagir, acaba ficando estagnada, exausta. Configura-se então um caso de “burnout”. BIPq – Que profissionais estão propensos a desenvolver a síndrome do “burnout”? Alexandrina – São aqueles que lidam com pessoas no trabalho e desenvolvem entusiasmo e idealização muito grandes com relação aos profissionais. Entre os profissionais mais freqüentes estão as da área da saúde, ensino, e, mais recentemente, de segurança e do jornalismo. BIPq – As pressões e o acumulo de trabalho também são causa de “burnout”? Alexandrina – No sentido em que contribuem para que a pessoa se frustre, o excesso de trabalho, o chefe chato, exigente e crítico podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome .
É importante salientar que outras causas fora do local de trabalho podem colaborar para o estresse. Entre muitas, posso destacar o desemprego, desequilíbrio financeiro, o transito, roubos, seqüestros e enchentes, que são contingências da vida moderna. BIPq – O “burnout”é capaz de afetar outras áreas da vida da pessoa? Alexandrina – Nenhum de nós consegue ser um compartimento fechado. Seria o ideal: trabalho é trabalho. Mas isso é algo que tem que ser aprendido. É um treino. As pessoas acabam levando os problemas para casa. Descontam no filho, na esposa ou no marido, no vizinho, no carro. A pessoa leva uma fechadinha no transito e joga o carro em cima, por que já está irritada, não especificamente com o transito, mas com o trabalho. Com o tempo, as conseqüências aparecem: quadros de ansiedade, depressão, alcoolismo. BIPq – Entre os profissionais que trabalham com pessoas, cerca de 30% apresentam sintomas da síndrome de “burnout”. Não se trata de um numero muito grande? A expectativa das pessoas não está muito elevada? Alexandrina – Estamos numa sociedade altamente competitiva, crítica, exigente e severa. Tudo isso coopera para que a pessoa desenvolva o “burnout” ou estresse ocupacional. Não adianta mais o profissional ter apenas nível superior. Ele tem que conhecer outros idiomas, além do inglês e espanhol, que já são de consenso. Também precisa dominar a informática, tirar um MDA, etc. Cada vez se exige mais do profissional. Diante desta demanda, alguns conseguem se sair muito bem, prosperando numa trajetória ascendente. Adaptam-se a essa situação, conseguem sucesso e sobem na carreira. Mas eu diria que um terço das pessoas não conseguem isso, e apresenta sintomas de “burnout”. Uma pesquisa americana mostra que 50% dos professores com síndrome de “burnout” abandonaram suas carreiras ou foram afastadas do trabalho. A conjuntura atual leva a isso. Assim algumas empresas estão começando a se preocupar em cuidar mais do material humano. BIPq – E como tratar o estresse ocupacional? Alexandrina – É fundamental identificar o fator estressante, compreender sua essência e seus mecanismos, de forma a reduzir os agentes que são estressantes. Uma situação ou fator estressante pode não ter a mesma repercussão para todas as pessoas. É preciso verificar se o fator estressante pode ser mudado ou não. Há situações que podem ser mudadas, entretanto, há fatores que não se consegue modificar. Vivemos numa era de mudanças que exige um talento especial de adaptação, tolerância e flexibilidade, tanto na vida particular quanto na profissional. O trabalhador deve contar com a colaboração de outros colegas e superiores. Em alguns casos de maior gravidade, o auxílio dos profissionais de saúde se faz necessário. Diversas técnicas antiestresse estão disponíveis, mas o beneficio de cada uma delas está condicionado à causa. Não há com negar que o estresse é um problema dos tempos modernos. Alexandrina Meleiro é médica psiquiatra e trabalha no Hospital das Clínicas de São Paulo.