NATAL: NASCIDOS PARA AMAR E SERVIR Tratar bem o nosso semelhante é obrigação independente de religião, cultura, partido político e valores pessoais. "Ainda que não acredite no Deus Criador de tudo e de todos, faça por mim o mesmo que gostaria que lhe fizessem", pois pelo fato de sermos humanos, filhos de Deus, devemos manter um relacionamento cordial, as pessoas nascem para amar e servir. "Quem não vive para servir não serve para viver". Nós, como agentes de pastoral da saúde, temos a oportunidade de amar e servir. Talvez você não se tenha dado conta de quantos momentos de felicidade você pode proporcionar aos doentes com sua dedicação, sensibilidade, solidariedade, competência e amor: Quando o saúda com um bom dia. Sempre que vai visitá-lo e partilha sua alegria com recuperação dele. Quando é capaz de acolher as lágrimas diante de um insucesso, e vibrar com cada êxito. Cada vez que você olha nele e vê não apenas a doença, mas o doente. Quando você devolve a calma com um toque e um carinho. Quando você arruma-lhe a cama com amor e cuidado, confortando-o. Quando alivia sua angústia com sua presença, ainda que silenciosa, ouve suas queixas, fazendo com que ele sinta a importância da vida e continue lutando para recuperar a saúde e viver. Quando você, além de toda dedicação, "competência profissional", leva paz. É natal e tempo de alegria. Vamos nos reunir para celebrar junto aos que conosco convivem e trabalham. Com certeza, vamos colocar sobre a mesa além da nossa amizade, alegria, presentes, comida, tudo o que de bom aconteceu. Não vamos esquecer as coisas que não foram boas, afinal, elas estiveram presentes em nosso dia-a-dia. Vamos celebrá-las não como sinal de derrota, mas como um ensinamento e momento para crescimento. Jesus, razão de ser do Natal, nos ensinou que a vida deve ser sempre celebrada. Seja nos momentos bons ou nos difíceis. Em nossa ação pastoral, onde vivenciamos todos dias realidades de alegria e tristeza, a cada momento somos desafiados a sermos bons. Amar e servir, embora às vezes, seja difícil ser bom quando os outros não são. Procurar fazer as coisas certas quando os outros não fazem. Jesus deu-nos o exemplo amando-nos por primeiro. Portanto, o desafio é seguir o ensinamentos de nosso mestre, transformando nossa fé e amor em atos concretos. Mostrar que a fé sem obras é morta. Que o coração sem mãos é vazio. Que ter competência sem amor é preocupar-se somente com o fazer algo pelo outro, esquecendo a importância de estar com o outro. É ver a doença e esquecer o doente. Por isso, aproveito a oportunidade para agradecer a todos os agentes que, apesar das dificuldades passaram o ano amando e servindo os doentes. Que no ano novo estejamos juntos para servir. Feliz Natal e Feliz Ano novo. Pe. Anísio Baldessin - Diretor do ICAPS SOCIOLOGIA DA PASTORAL DA SAÚDE SUSANA QUEIROGA
“No principio, Deus criou os céus e a terra. A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas”(Gen. 1,1-2). Começa assim uma historia que passa de geração em geração, formando o ciclo mágico e maravilhoso da criação. E, a determinada altura, “o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem trasformou-se um ser vivo.( Gen.2,7). A base das principais religiões passa pela criação da divindade à imagem semelhança do homem. Desde sempre o homem teve necessidade de explicar, através do que conhece, aquilo que desconhece. E assim se contam as histórias. Definição sociológica de religião Nas sociedades ocidentais, muitas pessoas identificam religião com cristianismo. Uma fé em um ser supremo, que nos obriga a um comportamento de índole moral na terra, e nos promete uma vida além da morte. No entanto, não podemos certamente definir nestes termos a religião em todas as suas formas. Estas crenças e muitos outros aspectos do cristianismo, estão ausentes da grande maioria das religiões do mundo. As características que todas as religiões parecem, de fato, partilhar são os rituais ou cerimônias realizadas por uma comunidade, que, na sua diversidade, implicam um conjunto de símbolos que invocam sentimentos de relevância ou temor. Os rituais religiosos são muitas vezes feitos individualmente, mas em todas as religiões se verifica a existência cerimonial coletivo. Este aspecto é visto pelos sociólogos como um dos fatores principais que se distingue a religião da magia. Contributos dos principais fatores Marx considerava a religião como ideologia, como produção material que toda a sociedade faz nascer. É a “consciência invertida”, o “ópio do povo”. Werber questiona sobre qual seria a religião capaz de racionalizar a vida cotidiana. Apesar dos seus trabalhos sobre as religiões orientais ou sobre o Judaísmo, Werber considerava o protestantismo ascético, o vetor privilegiado do processo ocidental de racionalização pré-capitalista. Durkheim, por outro lado, avança na sua obra “As Formas Elementares da Vida Religiosa” com a seguinte definição: “uma religião é um sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, interditadas, crenças e práticas que unem numa mesma comunidade moral, chamada Igreja, todos os que a ela aderem”. Neste sentido, a religião aparece como administração do sagrado, referida, portanto, ao domínio do extra-quotidiano. De uma maneira geral, é nos grandes ajustamentos periódicos que todas as crenças, ritos e práticas se exprimem no máximo da sua intensidade e predominância. Daí que a necessidade da sua repetição periódica. Esta necessidade revela-se através dos três parâmetros que passo a descrever: Em primeiro lugar, o homem experimenta a sua coesão social como comunhão através do espaço de culto; Depois, adora nesse culto, nos ritos e nos símbolos, a sociedade que o constrange, concebendo-a como fonte de liberdade;
Por fim, transporta para o seu quotidiano os sentimentos de força, de coesão e o entusiasmo criado por esses ajuntamentos periódicos. O fenômeno religioso na atualidade. Os fenômenos religiosos são hoje objetivos de grandes mutações e de novas dinâmicas. Outrora o religioso era encarado como a única forma de olhar o mundo. Com a reflexão e diversificação das sociedades, o religioso encontra-se agora ao mesmo nível do econômico, do político, do social, isto é, de novas dimensões que emergiram e foram ganhando importância. Todo este fenômeno é acompanhado por um processo de secularização que as sociedades, nomeadamente as ocidentais, tem vindo assistir. A vida religiosa já não tem, como na sociedade tradicional, um caráter coletivo e social; a organização social já não está ligada às atividades e ao ciclo religioso. O homem, a sua multidimensionalidade e a pastoral da saúde. A partir da base sociológica que foi exposta, podemos encontrar o homem nas suas manifestações de alegria, tristeza, situações em que parece haver uma só saída na vida, ou entrada, olhar o homem na sua individualidade, enquadrado no trabalho de uma equipe, como comunidade. Devemos considerar também o homem na sua dimensão cultural, na sua origem, dentro de um processo de socialização, circunscrito pelas condições ecológico-ambientais; e assim pensar que todas as dimensões que o compõem são importantes e contribuem para sua existência com equilíbrio. Estar doente pode significar a perda de alguns pontos de equilíbrio. A intervenção noutras dimensões poderá ser uma boa estratégia para auxiliar na recuperação, enfim, para auxiliar na reabilitação. A intervenção pastoral pode constituir este auxiliar. O que é pastoral da saúde e a sua evolução histórica Em termos histórico a pastoral da saúde vem referenciada nas descrições dos evangelistas, como Mateus, por exemplo, que relata que Jesus ao enviar seus discípulos em missão aconselhava “... Durante a viajem pregai, dizendo: o Reino de Deus esta próximo, curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai demônios”( Mat. 10 7-8). A Igreja foi desde sempre pioneira na resposta de saúde. Os cuidados de saúde foram quase sempre garantidos pelos religiosos. Após sua hospitalização em 1981, João Paulo II “produz” dois documentos que contribuem para uma pastoral da saúde organizada. São eles a Encíclica Salvifici Doloris e o Motu próprio Dolentium Hominum. Institui também o conselho pontifício da pastoral para os profissionais da saúde e proclama o dia 11 de fevereiro como dia mundial do doente. Encena-se assim uma atitude de mudança, passando de uma pastoral de resposta para uma pastoral de proposta, de uma pastoral de chamada para uma pastoral de presença, de uma pastoral de sacramentos para uma pastoral que privilegia a humanização. A atividade pastoral é um conjunto de ações executadas na Igreja e pela Igreja.
A pastoral da saúde é, segundo Feytor Pinto, uma pastoral especializada, não apenas dos doentes ou dos hospitais ou dos seus profissionais de saúde cristãos. A pastoral da saúde olha o homem na sua totalidade, e atinge todas as estruturas e unidades de saúde, todas as organizações que atuam no tratamento, prevenção e promoção global da saúde. Campo de atuação da pastoral da saúde São três os vetores principais desta atuação – Humanização, a evangelização e a sacramentação – expressos através da defesa intransigente da vida; o respeito pela pessoa humana, o serviço ao doente, a solidariedade, a ação em equipe e a competência e qualidade profissional. Para isto a intervenção pastoral deverá Em primeiro lugar, seguir as orientações gerais no âmbito da saúde. Ou seja, atualização, formação e investigação apresenta-se como essenciais; Em segundo lugar, deverá definir uma estratégia de acompanhamento espiritual. Este tipo de acompanhamento deve partir das dificuldades espirituais concreta da pessoa. Deve tender a suscitar e despertar as potencialidades físicas, psicológicas e espiritual do doente. Finalmente, devemos caminhar para um projeto de comunidade pastoral ou capelania hospitalar aberta, agregando para além do sacerdote, diáconos, religiosos e leigos. Dadas as subjetividades que rodeiam todo este tipo de intervenção, as equipes de pastoral, os capelães, todos os que exercem a atividade de pastoral na saúde, deverão tender para uma racionalização da sua atividade, através do registro, da procura de necessidades pastorais, utilizando metodologias cientificas, de uma forma transdisciplinar. Reflexões Finais A melhor intervenção pastoral é aquela que não transcende as necessidades da pessoa, mas propõe linha de ação a realidade de quem assiste. A título de reflexão final fica o esboço das linhas de atuação estratégicas do Instituto dos padres e irmãos de São João de Deus (congregação que a exemplo dos camilianos) atua junto aos doentes para esta matéria (onde se inclui também a área de animação). Assim pretendemos: Fomentar a criação de um espaço próprio nos centros assistenciais que ainda o não possuam; Insistir na idéia da necessidade de no mínimo, ter um colaborador para assegurar o serviço de pastoral da saúde e animação; Demonstrar o conceito de pastoral de saúde apenas ligado a “celebração ”; Promover o conhecimento e esclarecimento dos conceitos implicados na pastoral da saúde e animação de modo a reduzir os erros de atuação das equipes; Continuar a “evangelização” segundo o espírito de São João de Deus, junto aos doentes, colaboradores, famílias, e sociedade envolvente; Continuar a promover ações de formação e encontros dos responsáveis da pastoral da saúde e animação; Promover a criação em cada um dos centros assistenciais do modelo de atenção espiritual.
Só assim, não continuaremos a olhar para o céu, à espera de respostas, mas poderemos agir de forma dinâmica. Artigo extraído da revista Hospitalidáde Ano 67 nº 261 Julho-setembro 2003 A ATUAÇÃO DE LAIR CONTRA A AIDS ADIB DOMINGOS JATENE O programa de controle e combate a Aids do Ministério da saúde recebeu reconhecimento internacional como o mais avançado de todo o mundo. Este programa é resultado de uma formulação que atravessou varias administrações e foi se consolidando ao longo do tempo em um exemplo de continuidade administrativa, presente, aliás, em outros programas do ministério. Meu propósito, neste artigo, é resgatar o papel de uma funcionária exemplar do ministério, afastada desde 1996, quando sofreu acidente automobilístico em Recife. Realizava-se um evento sobre Aids naquela cidade, onde a atuação destacada de Lair Guerra de Macedo Rodrigues foi interrompida, ficando ela por vários dias entre a vida e a morte, consequência de lesão cerebral. Recuperou-se lentamente, não podendo, até hoje, reassumir suas funções. Esse episódio, de forma nenhuma apaga sua participação no combate a essa grave doença que é responsabilidade todo o mundo. Quando, em 1992, ocupei por oito meses o ministério, encontrei Lair, que já tinha dirigido a Divisão de Doenças Sexualmente transmissíveis e Aids, com proposta para trabalhar na Opas (Organização Panamericana da Saúde), em Washington, como consequência de sua atuação no ministério. Insisti para que reassumisse a divisão e, com participação de Pedro Chequer e outros funcionários, executasse a proposta de intensificação de ação e descentralização nos Estados e nos municípios, com incorporação de diversas ONGs que se ocupavam do mesmo tema. A eficiência com que ela comandou o processo trouxe as primeiras perspectivas otimistas sobre o controle da doença, com alertas agressivos nos meios de comunicações, que tiveram tanto impacto na população. Recursos internacionais obtidos por ela permitiram ampliar significativamente as ações de informações com participação destacada de organismos da sociedade, escolas e comissões de prevenção de acidentes (CIPA) de empresas. Enquanto isso, com recursos do orçamento, iniciava a distribuição de AZT gratuitamente os portadores da doença. Merece destaque a distribuição de seringas e agulhas descartáveis a usuários de drogas ejetáveis, feita de forma pioneira, em Santos, por David Capistrano. Essa atitude teve o apoio de Lair, enfrentado a onda de críticas de setores que absorviam a gravidade do problema e a necessidade de atitudes inovadoras e corajosas, hoje universalmente aceitas. Em março 1995, Lair interferiu para que fosse editada a portaria ministerial 21, regulamentando a compra e a distribuição de medicamentos para o tratamento da aids. Em 1996, Lair procurou-me para comunicar a primeira reunião de consenso, com a participação de 60 especialistas em infectologia e DSTS. Esse evento, de dois dias, em Brasília, resultou em proposta de se disponibilizar a todos os portadores da Aids o coquetel de medicamentos capaz de controlar os sintomas e permitir sobre-vida longa, mantendo suas atividades profissionais. Essa proposta, que honra a comunidade cientifica brasileira, emitida pela primeira
vez em todo mundo, foi levada por Lair à 7 Conferência Internacional sobre Aids, realizada em Vancouver ( Canadá). Sensibilizado com o problema, Jose Sarney, então presidente do Senado, apresentou e conseguiu aprovar, contra a opinião de alguns setores do governo, a lei 9313/96, regulamentada pela portaria ministerial2334/96. Dessa forma, o ministério ficou legalmente autorizado a disponibilizar gratuitamente os medicamentos específicos aos portadores de Aids. Assim, o Brasil se tornou o primeiro país a abordar a doença não apenas nos aspectos educativo e preventivo, mas também oferecendo o tratamento mais eficaz de forma universal e gratuita. Após o acidente, afastar Lair, o programa, graças a Pedro Chequer e aos que se seguiram, manteve a mesma diretiva com total apoio dos ministros que se sucederam. A atualidade de ex-ministro da saúde, José Serra, enfrentando os laboratórios internacionais e ameaçado com a quebra de patentes para adequar o custo dos medicamentos, fez parte da luta para manter a orientação que vem sendo construída no SUS. A manifestação do UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas para / Aids) considerando o programa brasileiro o mais avançado do mundo consagrou não só o ministério da saúde, mas também a determinação com que o problema foi abordado. Ressalte-se que o Brasil, de forma pioneira, e o Canadá são os únicos países que oferecem gratuitamente os medicamentos a todos os portadores da doença. No dia 1º de dezembro, dia mundial de luta contra a Aids, o nome de Lair deve ser exaltado porque foi sua capacidade de propor, sua coragem de defender e sua eficiência em executar que nos colocaram na direção correta, consolidada por tantos que, com competência e dedicação, mantiveram as ações em área tão sensível, o reconhecimento de uma liderança que partiu de Lair. Hoje, ainda com alguma seqüela do acidente, recebe, por meu intermediário, o reconhecimento de todos os que acompanharam, aplaudiram e não se esquecem de sua atuação. Adib Domingos Jatene, médico, cirurgião cardíaco
ACOMPANHANDO O MORRER JOSÉ CARLOS BERMEJO Em nosso meio, existe, cada vez mais, pessoas vivenciando o luto e acompanhando o morrer, do que pessoas que morrem. Portanto, ainda que pretendamos, não podemos fugir deste tema. Ainda que não gostemos, a morte é um tema que atinge a todos. Por isso, ultimamente, o luto está sendo encarado como um fenômeno que faz parte da nossa vida, e por isso merece ser estudado com mais profundidade. Por essa razão, talvez esteja aumentando também a certeza de que, se vivido, sadiamente o luto pode ser uma experiência humanizadora. Viver sadiamente o luto é encará-lo não somente como uma dor patológica, mas também como uma dor antecipada, uma dor crônica e uma dor retardada. Enfim,
viver sadiamente o luto é conjugar o verbo separar-se do verbo acompanhar o morrer. Com frequência, diferentes autores nos recordam que para acompanhar dignamente o processo do morrer requer a integração da própria morte, assumindo nossa condição de finitude e nosso limite. Diríamos que isto poderia ajudar inclusive a desfrutar mais da vida de e vivê-la mais alegremente. Pois, a consciência da finitude traz um valor ao presente, a cada experiência e a cada instante que vivemos. Viver a própria morte O poeta Rilke, no livro "da pobreza e da morte" começa assinalando que muitos não sabem morrer, que não chegam a elaborar sua própria morte. A tese do poeta é "viver a própria morte" como possibilidade humana de ser si mesmo até o final. Rilke explica também porque nos é dada à possibilidade de morrer nossa própria morte. Porque há em nós algo eterno. Ou seja, nossa morte não é similar à morte dos animais. Pois, na medida em que há algo de eternidade em nós, podemos elaborar e trabalhar nossa própria morte. Isso nos distingue completamente do resto dos demais animais. Porém, por não sabermos o que fazer traímos nossa vocação, de maneira que não chegamos a viver dignamente nossa morte. Como temos demasiado medo da dor e do sofrimento, nos empenhamos em viver a vida cega e estupidamente, como se fôssemos imortais. E como não chegamos a amadurecer nossa própria morte, colocamos em seu lugar um aborto cego, uma morte inconsciente de si mesmo. Ivan Ilich formulou com absoluta clareza tanto em que consiste a diferença entre a morte própria e a morte alheia, indicando qual é a causa de tal distinção. Que todos os homens são mortais explica o falecer anônimo do outro, porém, não o meu, ou o da pessoa amada. No momento em que Ivan Ilich experimenta a corresponsabilidade da própria morte, a mais profunda solidão e angústia diante dela, é torturado pela mentira sistemática ante seu estado. Essa mentira que tentava esconder dos outros e dele mesmo seu estado o torturava. Pois, além de saber que estava sendo enganado sentia-se obrigado a participar daquela mentira. Para Ivan Ilich as muitas tentativas de ajudá-lo reduzia sua morte ao nível de uma contrariedade, de uma inconveniência, de uma falta de decoro. Quando mais necessitava ser compreendido, consolado, mimado, só o jovem Guerásim era capaz de compreendê-lo permitindo-o que compartilhasse seus próprios sentimentos e a dor antecipada. Neste sentido, quanta solidão emocional se poderia evitar com uma comunicação autêntica e sincera em torno do morrer! Talvez não há nada mais útil, para quem está morrendo, do que as relações humanas acompanhada do silêncio. A dor do luto A dor do luto forma parte da vida exatamente igual que a alegria do amor. É, talvez, o preço que pagamos pelo amor, o custo da implicação recíproca. O papel do luto consiste em recuperar a energia emotiva invertida no objeto perdido para reinventar novos apegos, como indica o psicanalista Sigmund Freud.
Acompanhar e viver o luto supõe considerar a morte como o fim de uma biografia humana reconhecendo-o especificamente o humano que há na vivência da separação. Porque a morte reconhecida unicamente como o fim de uma biologia avança a dezumanização e a despersonalização na elaboração da perda. Morrer pode ser triste, porém, morrer uns para os outros antes de morrer é muito mais triste. Caminhar juntos sem compreender a dor alheia por separações é caminhar só, é morte. E isto é o que sucede quando tanto as palavras como o silêncio impõe seu lado trágico. Querendo evitar o drama da verdade, caímos, as vezes, na solidão e no abandono a que elabora seu luto. O silêncio, que é saudável, torna-se banal quando absorvido por muitas palavras. Mas, quando respeitado, oferece um consolo que vem da silenciosa solidariedade. Caso contrário, pode revelar um vazio de palavras pouco ou nada eloqüente. Acompanhar a morrer Quem tem tido a oportunidade de acompanhar, dignamente, uma pessoa querido dignamente, faz desses momentos uma referência de sua história. Neles se concentram de maneira simbólica e vital expressões de amor, de verdade, de sinceridade, de coragem, de sensibilidade e de humanidade. Há pessoas para as quais a evocação desses momentos supõe uma fonte de satisfação e de consciência de que na vida se tem vivido as relações se aproveitam e se desfrutam. Existem também pessoas que, a partir de uma perda não bem elaborada, padecem sentindo-se inclusive como vítimas de situações de exclusão. Quem não almejou o melhor, quem não teve a coragem de situar-se nas chaves da sensibilidade junto as pessoas queridas no seu final, quem não fez desses momentos uma experiência biográfica significativa, conviverá depois com o sentimento de culpa, com o remorso, com o vazio, com uma "pena sem apelidos", e não a saborosa pena da missão cumprida, senão a insípida pena do vazio absurdo. A mudança, quem almejou combinar jogos de olhadas e carícias, de palavras sensíveis e de momentos de intimidade emocional terá gravados, em sua mente e no seu coração, as gratas recordações das pessoas significativas que passaram por sua vida. José Carlos Bermejo é religioso camiliano, membro da Província Camiliana Espanhola.
ISSO É VERDADE? MARILIZ PEREIRA JORGE 1 - Comer banana faz passar a cãibra ? Mais ou menos. Bananas não curam crises de cãibra, mas podem ajudar na prevenção, já que são ricas em potássio, e a falta desta substancia é uma das causas do problema. A mais comum, no entanto, é a desidratação, porque perde-se água
e minerais como0 sódio e potássio, que são importantes no processo de contração muscular, diz Fernanda Rodrigues Lima, do Hospital das Clinicas. Na crise de cãibra, o músculo entra em espasmo e não consegue relaxar voluntariamente. O que se recomenda, alem de alongamentos dos músculos, é que a hidratação seja feita antes, durante e depois da atividade física. Laranja também é uma ótima fonte de potássio. 2 - Colocar um prego de uma garrafa de vinho e tomar uma colher por dia ajuda a curar anemia. Folclore. Anemia é uma doença que atingi essencialmente crianças de até 5 anos, com o pico maior na faixa de crianças de até 3 anos e, em segundo lugar, adolescentes. “ É uma conduta extremamente antiga, pouco eficaz”, Alerta Mauro Fisberg, pediatra e chefe do centro de atendimento e apoio ao adolescente, da Unifesp ( Universidade Federal de São Paulo). Alem disso, é potencialmente perigosa, pois não se sabe quanto de ferro é liberado no processo e, pior, pode haver contaminação por outros metais, mais tóxicos. 3 - Sair com o cabelo molhado pode dar gripe. Não é bem assim. Gripe de verdade, dessas de derrubar na cama, só é causada por vírus influenza. No máximo, a unidade e o choque térmico provocado pela mudança de temperatura podem evoluir para um resfriado do comum, segundo João Toniolo Neto, geriatria e diretor do Vigigripe. Para gripe, existe vacina; contra resfriado, não. 4 Prender a respiração, beber copos de água e levar susto curam soluço? Funciona. Soluço, entre outras causas, pode ser provocado pela ingestão de liquido ou comida em excesso, bebidas muito gás. Qualquer coisa que dificulte a respiração e, conseqüente, aumente a quantidade de gás carbono no organismo pode interromper a crise, pois inibe a irritação do nervo frênico, diz o gastroenterologista Arnaldo Ganc, do Hospital Albert Einstein. Dar um susto em quem esta soluçando libera uma carga de adrenalina que também pode fazer o nervo voltar ao normal.Mas há soluços mais persistentes – causados por insuficiência renal, hérnias de hiato, refluxo gastresofágico, pós-operatório com irritação do diafragma - que, para ser curados, podem ate exigir hipnose, anticonvulsivantes ou uma sonda colocada ate o nariz ate a garganta. Já no caso dos anedóticos soluços dos bêbados, ainda não se sabe com precisão quais os que o provocam. 5 - Líquidos quentes no verão refrescam.
Confere. Quando esta muito calor, uma bebida pode ajudar o corpo à se adaptar a temperaturas mais altas. Apesar da quentura momentânea, há dilatação dos vasos, o corpo transpira, perde calor e se refresca. 6 - Transpirar bastante emagrece. Mito. A transpiração é resultado da física, mais induzi-la de maneira artificial fazendo atividades com roupas pesadas e quentes ou enrolado plástico no corpo causa desidratação. A crença persiste porque a perda de água ocasiona uma redução de peso temporária, mas não perda de gordura real, explica Fernanda Rodrigues de Lima, Chefe do ambulatório de esportiva do Hospital das Clinicas. 7 - O correto é respirar pelo nariz. Verdade. As fossas nasais filtram e aquecem o ar inspirado, impedindo complicações em portadores de doenças respiratórias (asma, por exemplo). A mucosa nasal também retem bactérias, germes e partículas. Alem disso, respirar pela boca pode prejudicar o desenvolvimento da mandíbula, principalmente na fase de crescimento, e comprometer a dentição e a respiração, levando a pessoa a roncar no futuro, afirma a pneumologista Sônia Maria Guimarães Pereira Togeiro, da Uniesp. 8 Comer uma fatia de abacaxi na sobremesa ajuda a queimar as calorias ingeridas durante a refeição. Balela. O abacaxi é uma fruta como outra qualquer, com quantidade de calorias (50 em uma fatia de 180g) semelhante à de outras frutas. A vantagem é que comer uma fatia não engorda e da a mesma sensação de saciedade de um doce, mas credita a fruta ( ou o suco de limão, também acido) o poder de queimar gordura é tolice, afirma Antonio Roberto Chacra, chefe do departamento de endocrinologia da unifesp.
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FUNÇÕES DO RISO PARA A SAÚDE MENTAL PAULO CÉSAR O riso polemiza com o sério: onde tem sizudez, rigidez, arrogância, o riso cria caso, polemiza, abre conflito, não deixa pedra sobre pedra. O riso questiona os hábitos irrefletidos: os viciados em fazer sempre as mesmas coisas do mesmo jeito são colocados em evidência, são apresentados e apanhados de surpresa.
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O riso desmascara a linguagem: o autoritário e o arrogante são desmascarados e seus discursos revelados e colocados em discussão. O riso desmistifica e liberta a linguagem do ranço autoritário. O riso desfaz as armaduras e as consistências: pessoas rígidas, tensas e estereotipadas são colocadas em contato com o humor, podendo relaxar e se expressar num clima de maior liberdade. O riso é um ácido que a tudo corrói: onde se ri nada fica como antes, o riso destrói as formas dogmáticas e cristalizadas da alma. Leveza e liberdade são suas qualidades, tudo de árido e rígido e suspenso no ar e pode então se movimentar. O riso afrouxa a subjetividade solidificada: o riso flexibiliza toda subjetividade enrijecida pela verdade indiscutível, abre frestas de novas possibilidades. O riso destrói certezas: abre cunhas de possibilidades para as dúvidas e questionamentos para o próprio ser. Potencializa e dá novos sentidos e significados ao existir. O riso permite que o espírito alce vôo sobre si mesmo: o entusiasmo é a vivência de estar com Deus dentro de si, é como se no corpo não coubesse a enormidade de uma alma estusiasmada, apliam-se os limites da subjetividade. O riso também é perigoso, podendo ser maléfico ou satânico, há ainda os males causados pelo riso, sejam eles o escárnio e a humilhação, quando se alia ao poder de diminuir o outro.
Divulgação do Guia da pastoral da saúde para a América Latina. Este guia é fruto do trabalho levado a cabo em nossos encontros regionais e latino-americanos de Pastoral da Saúde. Este livro é tem como objetivo oferecer a toda a comunidade cristã algumas orientações e pistas para a Pastoral da Saúde na América Latina. Para adquiri-lo, você poderá entrar em contato com a secretaria do ICAPS (Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde), das 13 às 18 horas pelo telefone (11) 3675-00-35, ou na Edições Loyola, (11) 6914-19-22, ou procurá-lo nas livrarias católicas de sua cidade.
O MAL CHEGA PELA BOCA Hoje, a segunda maior causa de morte nos Estados Unidos é o câncer de boca. De acordo com pesquisas conduzidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 7% da população do planeta é acometida desse mal. O que são lesões cancerizáveis? São enfermidades bucais que, quando não tratadas, podem evoluir para um câncer. O que são e quais são os fatores carcinogenos? São fatores que predispõem o paciente a desenvolver um tumor maligno; na boca, podemos citar principalmente o etilismo (álcool) e o Tabagismo (cigarro, cachimbo etc), as condições de higiene precárias (dentes quebrados, raízes
residuais, tártaro etc.) e as próteses inadequadas ou em mas condições (dentaduras e pontes fraturadas ou que causaram algum ferimento). Como o cigarro atua? Durante o ato de fumar, são liberadas inúmeras substâncias químicas com a fumaça, algumas reconhecidas cancerígenas. O calor produzido pelo cachimbo também é prejudicial. Como se faz o alto exame e o que procurar? Diante do espelho, com boa iluminação, deve-se inspecionar e apalpar todas as estruturas bucais e do pescoço. Durante o auto-exame, os principais indícios a serem observados são: feridas que permanecem na boca por mais de quinze dias, caroços (principalmente no pescoço e embaixo do queixo), súbita mobilidade dental, sangramento, halitose, endurecimento e/ou perda de mobilidade da língua. É importante frisar que a dor pode ser um sinal de lesão avançada. Qual o perfil do paciente com câncer bucal e qual a região mais atingida? Geralmente são homens (86,07%), com idade entre 45 e 55 anos, brancos ( 84,84%) e tabagistas ( 95,08%). A região da boca mais atingida é a língua, seguida do assoalho bucal e do lábio inferior. Como é feito o diagnóstico? O diagnóstico é simples. Após um exame clínico, o profissional, suspeitando de um tumor maligno, realiza a biópsia, de um tumor maligno, que consiste na remoção de um pequeno fragmento da lesão para posterior exame microscópico. Como o tratamento pode ser realizado? O tratamento pode ser realizado por meio de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, podendo ser associados ou não. Existe cura para o câncer? Em muitos casos sim, e quanto mais cedo for diagnosticado, maiores são as chances de cura, sendo as seqüelas menores e, portanto, maior a qualidade de vida. Texto extraído da revista Kalunga e revista APCD