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PASTORAL DA SAÚDE: A ESPERANÇA DO ENFERMO ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA A Pastoral da Saúde (PS) do Brasil é uma entidade de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB como uma sociedade cívico-religiosa, sem fins lucrativos, organizada por tempo indeterminado, instituída oficialmente desde 09 de maio de 1986, de atuação em âmbito nacional e de referência internacional, cuja missão está no compromisso em promover, educar, prevenir, cuidar, recuperar, defender e celebrar a vida (ou seja, lutar pela saúde plena) de todo o povo de Deus, tornando presente no mundo de hoje a ação libertadora de Cristo na área da saúde. A PS tem como objetivo geral a evangelização, com renovado ardor missionário, do mundo da saúde, à luz preferencial pelos pobres e enfermos, contribuindo para a construção de uma sociedade justa e solidária a serviço da vida. Esta pastoral ainda oferece uma oportunidade do cristão discutir aberta e cristãnamente toda a filosofia de nossa existência, tentando dar motivos e sugerir criativas formas de como viver melhor, aproveitando cada precioso momento de nossas vidas, e, ainda, conviver com um dos maiores temores da humanidade: a enferm idade. Sabendo que a doença não escolhe o momento, ou melhor, não anuncia previamente a sua chegada e nem geralmente escolhe as suas “vítimas”, deparamos, na maioria das vezes, com um certo despreparo em como lidar a enfermidade em seus vários aspectos, tanto por parte do enfermo quanto de sua família, e, às vezes, até por parte de alguns profissionais de saúde. Visando o testemunho da misericórdia de Deus, aparece, então, a figura do verdadeiro companheiro e amigo, um reconhecedor dos esforços e progressos da vida e transmissor de gestos puros de esperança e conforto espiritual ao enfermo: o agente da pastoral da saúde. São dezenas de milhares de voluntários que não medem esforços e superam variadas dificuldades para exercerem o magnífico talento de levar esperança e saúde espiritual a todos enfermos, católicos ou não, em hospitais e domicílios, fortalecendo a fé e a esperança cristã e acompanham e orientam os familiares do doente a enfrentar os momentos difíceis da enfermidade. Configura-se, assim, o trabalho da Pastoral na dimensão solidária, que está baseada na diretriz da Construção de uma Sociedade Solidária da CNBB. Mas, há aqueles que rompem as barreiras do leito (hospitalar e/ou domiciliar) e se empenham em ensinar e conscientizar as pessoas da sábia e oportuna capacidade de prevenir a doença, não permitindo a exposição aos agentes causadores ou desencadeantes de patologias. Este trabalho ocorre particularmente na prevenção, promoção e educação no setor saúde, implementando uma cultura de valorização, com ênfase em ações preventivas. Caracterizamos, dessa maneira, o serviço dos agentes que optam por exercer a missão do voluntariado na dimensão comunitária, espelhada na diretriz de Renovar a Comunidade da CNBB. Existe ainda a dimensão político-institucional, compreendida por servos de Deus que, cônscios de seus direitos e deveres como cidadãos, desenvolvem uma notável capacidade de fiscalizar e opinar nos mais variados projetos políticos, ligados direto e indiretamente à saúde. Esta área de atuação encontra-se em consonância com a diretriz da Promoção da Dignidade das Pessoas da CNBB. Nela, os agentes de pastoral participam ativa e criticamente nas diversas instâncias colegiadas que decidem as políticas de saúde, ou seja, nas Conferências de Saúde e em Conselhos Locais, Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde. Reafirma, desta maneira, a consciência do cidadão no direito à saúde e na obrigação de lutar para condições mais humanas de vida. Além disso, faz parte do nobre trabalho desta dimensão o interesse na sensibilização e integração da comunidade científica e instituições de ensino, principalmente do setor saúde, à causa da PS, proporcionando maior proximidade e harmonia entre os serviços de saúde, os prestadores de serviço, os trabalhadores da saúde e os usuários do sistema, com a valorização e aplicação de políticas de humanização das instituições de saúde e da formação profissional. O Sistema Único de Saúde – SUS - criado em 1988 pela Constituição Federal, a chamada Constituição Cidadã, foi um grande avanço não só para o Brasil, mas para muitos outros países, pois este sistema de saúde está sendo considerado como o melhor “Plano de Saúde Pública” do mundo. Sua inspiração ocorreu, inicialmente, junto às discussões da Reforma Sanitária Brasileira, na década de 70, e culminou com uma grande e inovadora expressão de resultado no debate intenso e participativo pelos participantes da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986. É a participação popular e de entidades sérias e organizadas mostrando a real importância na transformação da história deste país. Mas, nem tudo é perfeito. A saúde pública brasileira atravessa uma fase paradoxal. Apesar de estarmos regidos por um sistema de saúde que garante o acesso universal, integral e gratuito a toda população, deparamos com um verdadeiro colapso no atendimento aos cidadãos. São inúmeros os hospitais e serviços de


saúde que se encontram superlotados, com enormes filas de cirurgias e invasões de corredores nos Pronto Socorros por macas que carregam vítimas de um sistema que implanta impostos “criativos” (CPMF, por exemplo), mas que, curiosamente, suprime cada vez mais as verbas destinadas à Saúde. Observa-se ainda uma exposição antiética e negativa dos profissionais de saúde à opinião pública, não oferecendo a estes trabalhadores (salvo algumas raras exceções) condições mínimas para o desempenho de suas atividades, como maiores ofertas de recursos humanos e logísticos para o atendimento aos pacientes. Além do que, esta classe de profissionais encontra-se insatisfeita e descontente com a péssima remuneração oferecida pelo sistema público de saúde, obrigando a este profissional administrar exaustivas escalas de plantões e tendo que, muitas vezes, superar o extenuante cansaço físico e mental para cumprir com as obrigações e encargos financeiros da sobrevivência familiar e cultural. Para superarmos esta problemática, não adianta querer achar um responsável para depositarmos toda a indignação de cidadãos e “usuários em potencial” deste caótico e discriminante sistema de saúde. Devemos unir e discutir francamente o problema, levantando as falhas e, ao mesmo tempo, oferecer sugestões e apoiar idéias inteligentes e criativas nesta difícil temática. O antagonismo na saúde brasileira se explicita com maior nitidez no fato de que a população em geral é constantemente atraída por uma saúde de “primeiro mundo”, apresentada pela rede privada e de planos de saúde (esta última já com uma fatia superior a 40 milhões – cerca de 23,5% - dos brasileiros), deixando a população encantada com os altos níveis de evolução tecnológica, novos conceitos na qualidade do atendimento e uma atenção diferenciada ao paciente e aos acompanhantes. São realidades diferentes em um mesmo país, o qual luta para enfrentar as desigualdades sociais, mas esbanja muita riqueza cultural de seu povo e uma imensurável biodiversidade de seu território, de dimensões continentais. Qualidade de vida também é imprescindível. Assim, temos alguns determinantes e condicionantes que interessam a todos na luta pela saúde. Pode-se enumerar alguns, como o direito à moradia, ao trabalho, ao lazer, ao transporte, à educação, à alimentação etc. Tudo isto implica no reconhecimento do homem como ser integral, mas dependente de vários outros fatores para gozar uma saúde plena e verdadeira. Ressalta -se ainda, neste momento, a promoção e a atenção à saúde, em todos os níveis, como requisitos fundamentais no elenco das políticas públicas e sociais e imprescindíveis na construção de uma sociedade justa, solidária e democrática. Portanto, a participação da PS na dimensão político-institucional torna-se fator primordial não só no processo da vigília contínua e da valorização do Controle Social, com a participação popular no setor saúde, mas também no interesse em despertar o valor da temática de humanização na formação profissional em instituições de ensino. Pensa-se, então, que, zelar pela humanização e incentivar a evangelização geral das comunidades, hospitais e centros de atendimento, seria sim o grito principal da Pastoral da Saúde e o fato de não ter saúde hoje para esta pastoral é não olhar com o olho humano para tudo que acontece em relação à saúde, é não apoiar e acomodar-se e não criar meios educativos de humanizar, principalmente para aqueles que lidam diretamente com a saúde, no processo da formação profissional nas instituições de ensino. O grito hoje, ainda, seria o de humanizar verdadeiramente todos os serviços de saúde prestados à população brasileira, garantindo a tão esperada Qualidade de Vida. Obteria-se, assim, uma viável valorização do trabalho do agente como verdadeiro missionário e evangelizador humano, pois o mesmo, cônscio do trabalho pastoral, sensibiliza-se mais e com maior rapidez diante do sofrimento do próximo, além de transmitir a importância deste aspecto aqueles que acompanham o enfermo. Conscientizar a todos dos direitos e dos deveres em lutar pela vida, incentivar a contínua preocupação com a formação do agente de pastoral e valorizar a tarefa de transmitir a Boa Nova, levando uma palavra de esperança a todos que necessitem, são “bandeiras” essenciais na PS. É bom lembrar que o agente, em seu grito de cidadania, demonstra a prioridade do resgate a uma verdadeira cultura de saúde plena, buscando sempre na humanização de todo e qualquer trabalho ligado a saúde o real motivo de transformação do homem individual para o homem que valoriza a comunidade e o meio em que vive. Portanto, resta a esta Pastoral continuar lutando, com todo o seu exército de voluntários, por um mundo mais justo e solidário, por uma saúde plena e acessível. A missão não é fácil, mas possível, pois com a força interior do coração de cada um: o AMOR, há uma uma renovação de energias que impulsiona cada vez mais o ser humano na caminhada do Reino de Deus. Temos orgulho de sermos brasileiros! Temos orgulho de sermos católicos! E, finalmente, temos certeza de que estamos promovendo o bem a todo filho de Deus e estamos cientes de que tudo isto é um desafio, mas, acima de tudo, uma compensação de nascer e ter vivido e não apenas existido. Dr. André Luiz de Oliveira médico, Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde CNBB e membro da Comissão Latino-americana e do Caribe do Departamento de Pastorais sociais


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DEPAS – CELAM.

ESPIRITUALIDADE E SAÚDE SIDNEY VILMAR NOE A realidade resume-se àquilo que podemos captar através de nosso cinco sentido? Dessa resposta vai responder a maneira como relacionarmos espiritualidade e saúde. Talvez nossos olhos não vejam, nem possamos tocar, porque nossos sentidos não estão condicionados a enxergar e a sentir uma realidade que não aquela que nossas mentes foram educadas a perceber e a elaborar. Especialmente nos últimos dois séculos, a humanidade ocidental restringiu-se à percepção daquilo que pode ser explorado pelo método empírico-indutivo (Tillich). Mas seria essa a realidade toda? Seria essa uma das razoes pelas quais temos dificuldades em lidar com historias de milagres e curas em nossas igrejas? Relacionar espiritualidade e saúde implica buscar contato com uma realidade onipresente, mas cujo acesso, pela racionalidade ilustrada “por uma espada de fogo” ( Gêneses 3.24). Significa reaprender a comunicarmo-nos com a realidade normalmente oculta aos sentidos. Através de símbolos e ritos, abre-se uma janela que permite o contato direto com essa realidade. Participamos de uma realidade que já agora foi resgatada para a vida plena e que pode ser experimentada através daquilo que compreendemos como saúde. É o transdecente e atemporal que irrompe na esfera do imanente e finito para sua transformação. A partir do mergulho nessa realidade aquém dos nossos sentidos, proporciona pelo contato com símbolos e ritos, podemos experimentar a transformação de nossas vidas no sentido de uma vida plena. Essa transformação implica uma outra relação com a vida, com as pessoas, com o cuidado do corpo, com o cuidado de si mesmo, no trabalho e no lazer. E isso se da pela espiritualidade, e, mais especificamente, pela fé, “que é a prova de que existem coisas que não vemos” (Hebreus 11.1 – BLH). Os sacramentos adquirem importância especial, neste ínterim; mas também outras práticas rituais, como a unção com óleo, a imposição de mãos, a confissão e a absolvição. E, o que é decisivo, o contato com essa realidade última implica uma outra relação com a saúde e com a doença: elas já não mais se excluem! Ambas fazem parte do ser finito, que, transformado, experimenta de forma antecipada a cura plena. É possível, pois, experimentar cura e salvação, por mais paradoxal que pareça, inclusive na doença. E essa ultima percepção, mediana pela espiritualidade, devo de forma muita grata a uma pósgraduada, acometida por um câncer. Dr. Sidnei Vilmar Noe, Docente de Teologia Pratica e Aconselhamento Pastoral na EST

SAÚDE GLOBAL LÉO PESSINI A Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma organização inter governamental que conta com 192 estados membros, nos últimos anos vem publicando anualmente um importante relatório sobre a situação da saúde no mundo. O último,


tornado público em 18.12.2003, entitulado “The World Health Report 2003 – Shaping the Future” (Relatório Mundial da Saúde 2003- construindo o futuro), apresenta alguns dados preocupantes em termos de saúde mundial, bem como faz previsões de progressos em âmbito de saúde global. Segundo o seu Diretor Geral recém-empossado, o coreano Dr. Lee Jong-wook Lee o objetivo da OMS à “ajudar a todas as pessoas, mas especialmente as mais pobres, a construir um futuro melhor” Este Report de 2003 faz um alerta para que os sistemas de saúde sejam fortalecidos através de ações focadas em países, para se atingir os objetivos de saúde global estabelecidos pela comunidade internacional. O re-enfoque em relação aos sistemas de saúde e serviços envolve todas as áreas de trabalho da OMS. A iniciativa “3 por 5” que visa disponibilizar tratamento anti-retroviral para pacientes HIV/AIDS para três milhões de pessoas até 2005; redução de mortalidade materna e o trabalho em relação a doenças crônicas e saúde mental, são alguns exemplos de ponta. Todas essas iniciativas contribuem para o aperfeiçoamento do sistema de saúde nos países e para que estas iniciativas tenham sucesso, necessitam de sistemas de saúde fortalecidos. Saúde para todos: Objetivo ainda válido O apelo do movimento “Saúde para todos” lançado há 25 anos e que culminou com a célebre Declaração de Alma-Ata sobre cuidados primários de saúde, para que o mundo assumisse os princípios de saúde para todos, a fim de superar as enormes iniqüidades entre as nações e no interior dos próprios países, permanece indispensável hoje, para uma visão coerente de saúde global. O objetivo, “Saúde para todos”, com os seus princípios de cuidados primários de saúde(acesso eqüitativo, participação da comunidade e abordagens intersetoriais pra melhorar a saúde) não eram apenas um ideal, mas também um princípio ético organizador, ou seja, todos necessitam e tem o direito ao melhor nível possível de saúde. Tornar realidade esta visão exige clareza, quer das possibilidades, bem dos das dificuldades que diminuíram e em alguns casos até ocorre regressão. “Isto significa que precisamos trabalhar com os países, especialmente os mais necessitados e não somente enfrentar as crises de saúde, mas construir sistemas de saúde sustentáveis e eqüitativos”, afirma o relatório da OMS. Continua o relatório dizendo que “as lições aprendidas no enfrentamento dos maiores desafios, entre outros SARS, HIV/AIDS, erradicação da Pólio e uso do tabaco, mostram que milhões de pessoas poderiam ter sido salvas da morte prematura e de anos de deficiência, através da combinação de ajuda financeira e aprimoramento pontuais nos serviços de saúde”. O documento da OMS diz que o HIV/AIDS, cortou a expectativa de vida em 20 anos para milhões de pessoas na África sub-Saariana. Diariamente nos países mais pobres da África, 5 mil homens e mulheres; mil crianças morrem por causa do HIV/AIDS. A constatação triste é que hoje, somente 5% de todas as pessoas que vivem no mundo em desenvolvimento que necessitam de tratamento, recebem o coquetel anti-retroviral para combater ao HIV/AIDS. Esta situação levou a OMS em setembro de 2003 a declarar uma emergência de saúde global. É em resposta a esta trágica situação que a OMS estabeleceu objetivo “de acesso universal ao tratamento do HIV/AIDS, com o alvo concreto de prover tratamento para 3 milhões de pessoas nos países mais pobres, até o ano 2005. Isto é uma demonstração clara de como o princípio de acesso eqüitativo pode ser implementado na prática, afirma o Diretor Geral da OMS.


Para vencer os maiores desafios de saúde do mundo de hoje, o OMS está mudando a sua forma de trabalhar diz o Dr. Jong-Wook Lee. Continua dizendo que “estamos comprometidos em combinar novas tecnologias com abordagens comprovadamente eficazes, para prover melhor saúde para todos”. A mensagem chave deste relatório é que um progresso real em saúde global, depende fundamentalmente de sistemas de saúde mais fortes, que priorizem os cuidados primários de saúde. Aumenta a distância em expectativa de vida entre os países A situação global de saúde hoje levante questões urgentes sobre justiça. Em algumas partes do mundo existe a expectativa de uma vida mais longa e confortável, enquanto que em muitas outras regiões mais pobres, existe o desespero por não e controlar as doenças, embora os meios para fazê-lo já existem e não estejam disponíveis. Nos últimos 50 anos em média a expectativa de vida ao nascer em termos mundiais aumentou em quase 20 anos, de 46.5 anos em 1950-55 para 65.2 anos em 2002. Em certo sentido o relatório da OMS é um estudo de contrastes. Como ilustração disto, meninas nascidas ao mesmo tempo no Japão e em Serra Leoa. A que nasce no Japão tem uma expectativa de vida de 85 anos, enquanto a que nasce em Serra Leoa, num dos países mais pobres da África é de apenas 36 anos. A menina Japonesa receberá um dos melhores cuidados de saúde do mundo, quando necessitar, enquanto que a menina de Serra Leoa, talvez nunca verá um médico, uma enfermeira ou um Professional da saúde. A expectativa de vida em 2002 era de 78 anos para as mulheres nos países desenvolvidos para menos de 46 anos para os homens na África sub-saarina. “Estas distâncias são inaceitáveis”, diz o Diretor Geral da OMS. O fosso entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento é evidente nas estatísticas chocantes sobre mortalidade materna. O risco das mulheres morrerem durante o parto é 25 vezes maior nos países pobres que nos países ricos. Mais de 500 mil mulheres morrem anualmente como resultado de complicações durante a gravidez. Doenças crônicas: maior causa de morte entre os adultos O relatório 2003 da OMS enfatiza que se espalha pelos países em desenvolvimento a epidemia de doenças do coração, derrame e outras doenças crônicas, que somadas às doenças comunicáveis, impõem um “duplo peso” em termos de mortes prematuras e de doentes. A OMS propõe uma “dupla resposta”, integrando prevenção e controle das doenças comunicáveis e não comunicáveis no interior do sistema de saúde. Das 45 milhões de mortes de adultos no mundo em 2002, quase três quartos deste total foram causadas por doenças não-comunicáveis. Estas são as principais causas de morte em todas as regiões, exceto na África, onde o HIV/AIDS tornou-se a causa principal de mortalidade entre os adultos entre 15-59 anos. O relatório aponta que nos países em desenvolvimento, as doenças comunicáveis ainda representam 7 entre as 10 maiores causas de mortalidade infantil. Algumas das doenças que mais ceifavam vidas em 2002 eram, segundo a OMS: HIV/AIDS – 2.3 milhões de mortes; Doenças do coração – 1.3 milhão; Tuberculose – 1milhão; Acidentes de tráfego – 0,8 milhão e Derrames – 0,8 milhão. As 10 maiores causas de mortes entre adultos de 15-59 anos no mundo: (QUADRO) 1. HIV/AIDS 2. Doenças do coração


3. tuberculose 4. Acidentes de tráfego 5. doenças vasculares cerebrais 6. acidentes auto-infligidos 7. Violência 8. Cirrose do fígado 9. Infecções respiratórias 10. Doença pulmonar crônica Sistemas de saúde negligentes causam sérias conseqüências internacionais “A continuação da epidemia do HIV/AIDS, o surgimento de doenças mortais tais como a SARS e o desfio da completa erradicação da Pólio, são sintomas de falha de investimento nos sistemas de saúde. Esta falha pode ter conseqüências rápidas e devastadoras em âmbito mundial” , afirma o Relatório da OMS. As lições aprendidas frente a tais emergências de saúde, estão ajudando a criar estratégias para uma resposta urgente do sistema de saúde, pra prevenir e cuidar do HIV/AIDS. Isto certamente exigirá intervenções de saúde complexas que são, não somente factíveis em países carentes de recursos, bem como necessárias. “A experiência que ganhamos ao enfrentar o HIV/AIDS, com certeza será aplicada para toda a gama de condições doenças crônicas, do diabetes ao derrame”, diz o Dr. Lee. O documento da OMS sugere formas de apoio internacional, que possa enfrentar as principais fraquezas dos sistemas de saúde, incluindo, a falta crítica de profissionais da saúde, falta de informação sobre saúde, falta de recursos financeiros e a necessidade de maior liderança governamental com o objetivo de melhorar a saúde dos mais pobres da sociedade, isto é, melhorar e fortalecer a relação governo-comunidade. Em termos de priorização urgente, aponta-se para 4 questões chaves: a necessidade de aumento rápido em termos de treinamento e de maior número de profissionais da saúde; necessidade de aprimorar informação em saúde; financiamento sustentável e implementação de políticas de saúde pró-equidade num contexto pluralista. Alguns dados estatísticos impressionantes da situação mundial de saúde : (FAZER UM QUADRO) : Das mais de 10 milhões de crianças com menos de 5 anos que morrem anualmente, quase todas são de países em desenvolvimento. Somente 5% dos que necessitam de medicação anti-retroviral para HIV/AIDS, recebem esta medicação nos países em desenvolvimento. Para os próximos anos o objetivo é de prover medicação anti-retroviral para 3milhões de pessoas até 2005, nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, as doenças do coração e derrames são as maiores causas de morte entre os homens e mulheres adultos. Contudo, em alguns países em desenvolvimento elas se tornaram também as principais causas de morte e foram responsáveis por mais de 10 milhões de mortes em 2001. Aproximadamente 1.2 milhão de pessoas morreram de câncer do pulmão em 2000, um aumento de quase 30% desde 1990. Doenças causas pelo tabaco são as mais preveníveis causas de morte no mundo e respondem por aproximadamente 5 milhões de morte anualmente.


Em 2003, o surto da Síndrome Respiratória Aguda (SARS) se espalhou para 30 Países, num total de 8422 casos prováveis e 916 mortes até o início de agosto. A sua rápida contenção é uma das mais belas histórias de sucesso de saúde pública dos últimos anos e representa uma grande vitória em termos de colaboração internacional. Léo Pessini é padre camiliano, Superintendente da União Social Camiliana

O DESAFIO DA MORTE E DO MORRER RUBENS ALVES Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: ‘Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver.”A vida é tão boa! Não quero ir embora... Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: ‘Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: “Não chore, que eu vou te abraçar...” Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade. Cecília Meireles sentia algo parecido: “E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. A penas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto..” Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. “Minha filhas, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! Ávida é tão boa...” Mas, tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; cidadão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza. Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: “O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?”. O médico olhou-o com olhar severo e disse: “O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?”. Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consequência apaziguada do médico, que dormiu em paz por ter feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética. Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama – de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora seu anjo da guarda, que assim punha um fim nesta miséria! Mas o médico, movido pelo


automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: Debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final. Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a “reverencia pela vida”é o supremo principio ético do amor. Mas o que é vida? Mas precisamente, O que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezigues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais? Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nos a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia. Muitos dos chamados “recursos heróicos” para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da “reverencia pela vida”. Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida esta fazendo, eles a ouviriam dizer: “libertame”. Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: “Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver para quem, para que, eu não sei...”. Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelos costumes e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento. Dizem as escrituras sagradas: “Para tudo há tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer”. A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A “reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a “morienterapia”, o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a “Pietà” de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo. Rubens Alves é escritor e autor de vários livros.

(Dicas de saúde) DORES NAS PERNAS – UM PRIMEIRO AVISO Sente as pernas cansadas, dormentes ou a latejar depois de andar alguns quarteirões? Tais sintomas poderão ser o indício de uma doença vascular periférica, o que significa que as artérias das suas pernas estão bloqueadas, fazendo com que o sangue fique impedido de circular. Segundo um especialista, o número de doentes tem aumentado progressivamente, uma vez que esta é uma doença que se agrava com os hábitos alimentares deficientes e com o sedentarismo.


Os sintomas podem ser bastante dolorosos e alguns pacientes acabam mesmo por desenvolver gangrenas nos membros inferiores, acabando por sofrer amputação. Pode também dar-se o caso das artérias em volta do cérebro e do coração ficarem bloqueadas aumentando, assim, os riscos de ataque cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. Acontece que existem maneiras de controlar o problema e quanto mais cedo ele for diagnosticado melhor. Andar cerca de cinco quilômetros por dia, cinco dias por semana, poderá ser o ideal para a saúde vascular. Para os casos mais graves, os especialistas aconselham a que se proceda a uma angioplastia – enfiar uma espécie de balão na ateria bloqueada da perna – para desobstrução ou, então, existe mesmo a possibilidade de aplicação de um bypass, em tudo idêntico aos do coração. Nos EUA há cerca de oito milhões com este problema que passa, muitas vezes, por simples “dor nas pernas”. Rodney Raabe, um especialista americano afirma que existe uma deseducação massiva nos EUA relativamente a esta questão. A maioria das pessoas atribui os sintomas à idade e à falta de exercício. Alberto Queiros explicou que muitos dos pacientes chegam ao seu consultório muito depois do prazo de diagnóstico em tempo útil, acabando, muitos deles, por sofrer amputações: “O problema é que muitos dos doentes vão primeiro a consultas de reumatismo e quando chegam ao consultório já vêm com um quadro clínico demasiado avançado”. Os exames de despistagem são rápidos e indolores. Os médicos medem a pressão sanguínea no tornozelo e no braço. Longe do coração, a tensão arterial das pernas é suposto ser mais elevada ou, pelo menos, igual a do braço. Se tal não acontecer então isso significa que se poderá estar desenvolvendo a doença vascular periférica. Pessoas que tenham mais de cinqüenta anos e sejam fumantes são mais propensas a sofrer deste mal. Outros fatores de riscos incluem diabetes, pressão alta, níveis elevados de colesterol ou outras doenças cardíacas e obesidade.


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