12345 12345 12345 do Instituto 12345 12345 12345 Camiliano 12345 12345 de Pastoral 12345 12345 12345 da Saúde 12345 12345 12345 e Bioética 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 Junho 2004 12345 12345 12345 ANO XXII – Nº 220 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA12345 12345
Informativo 12345 12345
❒ PASTORAL
❒ BIOÉTICA
❒ HUMANIZAÇÃO
ATENDIMENTO PASTORAL AOS ENFERMOS TADEU DOS REIS ÁVILA
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atendimento pastoral aos enfermos é um direito fundamental e um dever da Igreja (cf. Mt 10,810). Não garantir esse direito ou negligenciá-lo constitui uma violação e uma infidelidade a sua missão. O primeiro responsável pelo atendimento pastoral dos enfermos na paróquia é o pároco. Lembremse: “os párocos do seu dever de visitar pessoalmente os enfermos com toda a solicitude e de ajudá-los com generosa caridade. Compete-lhes sobretudo, ao ministrar-lhes os sacramentos, despertar a esperança no coração dos presentes e reanimar a fé no Cristo padecente e ressuscitado, de modo que, ao trazerem o maternal carinho da Igreja e o consolo da fé, confortem aqueles que crêem e levem os outros a voltarem-se para as coisas do alto” (Ritual da Unção dos
Enfermos e sua assistência pastoral, n. 35). Porém, a falta de ministros ordenados acaba dificultando o bom atendimento dos enfermos. Para os párocos “atarefados” pastoralmente cujo o desempenho dessa missão se torna quase impossível, é bom e aconselhável incentivar e incrementar a pastoral da saúde na paróquia, pois o agente de pastoral bem preparado poderá ser um grande colaborador do pároco na tarefa de assistir e acompanhar os enfermos. Ser agente da pastoral da saúde, preocupar-se com o bom atendimento pastoral dos enfermos é uma vocação especial e genuinamente bíblica (cf. Mt 25,31-46). Um dos textos muito significativos sobre a ação do agente de pastoral que se põe a serviço dos enfermos nós o encontramos no Evangelho de Mar-
cos. No episódio relatado por Marcos transparece simplicidade, mas é de uma criatividade movida pelo amor. Diante de uma multidão que se acotovelava para ouvir Jesus, os doentes, impossibilitados de disputar espaços, acabavam sendo impedidos de aproximar-se de Jesus. Quatro homens “agentes de pastoral” percebem a aflição de um doente que quer chegar até Jesus mas a multidão o impedia. Esses quatro voluntários do amor, vendo que era impossível levar o doente pela via normal, “abriram o teto à altura do lugar onde Jesus se encontrava, e, tendo feito um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico”; tomam uma atitude que parece “ridícula”, mas que desconcerta a multidão, que não teve sensibilidade de perceber a presença dos doentes que também desejavam aproximar-se de
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EXPEDIENTE
Jesus. Nesse texto, temos um modelo de pastoral participativa e comunitária. Quem ama sabe o que fazer; os quatro “agentes” agiram movidos pelo amor (cf. Mc 2,1-12). Sobre a importância do trabalho desenvolvido pelos visitadores dos enfermos se poderia desenvolver e fundamentar toda uma teologia da visita, e sua importância, com base na Sagrada Escritura. Porém acho desnecessário fazê-lo. Basta dizer que a Bíblia confere à visita uma importância fundamental. Em primeiríssimo lugar é o próprio Deus que toma a iniciativa de visitar seu povo para libertá-lo (cf. Ex 3,7-20). Visita sua gente e permanece no seu meio (cf. Sf 3, 12-15). Em Jesus se realiza a grande visita: Ele encarna e “arma sua tenda” no meio do seu povo (cf. Jo 1,14). Durante sua vida pública Jesus valorizava muito esses pequenos gestos de ir a casa, sentar-se à mesa. Jesus passa boa parte de seu tempo escutando o povo, e sua missão inclui inúmeras visitas: para curar (cf. Mc 4,4-38), provocar mudanças (cf. Lc 19,2-10), levar a misericórdia do Pai ou apenas descansar na casa de amigos (cf. Lc 10,38). O agente de pastoral da saúde é enviado pelo Deus da vida para anunciar o Evangelho aos membros sofredores do corpo místico de Cristo. “No Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, se um membro sofre, todos os outros sofrem com ele (cf. 1Cor 12,26). Por isso a Igreja considera como extremamente honrosas a misericórdia em relação aos enfermos e as assim chamadas obras de caridade e ajuda mútua, que visam a socorrer as diferentes necessidades humanas” (Ritual da Unção dos Enfermos e sua assistência pastoral, n. 32). Por isso cada paróquia deve valorizar o trabalho realizado pelos agentes de pastoral da saúde, cuidar da formação de seus membros, despertando neles as qualida-
O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos. Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Nivercindo Antônio Cherubin. Diretor Responsável Anísio Baldessin. Secretária Cristiana Baldessin Maina.
des naturais que auxiliam no bom desempenho de sua missão. Uma das qualidades indispensáveis que deve ter o agente de pastoral da saúde é saber escutar. A esse propósito a tradição bíblica conferiu à atitude da escuta uma importância singular, muito superior à capacidade de falar. “Quem responde antes de ouvir, passa por tolo e se cobre de confusão” (cf. Pr 18,13). Salienta a primazia do ouvir em relação às possíveis respostas: “Escuta com ternura o que te dizem a fim de compreenderes e darás então uma resposta sábia e apropriada” (Eclo 5,13). Jesus, também, nos seus ensinamentos, mostrava a importância de ter ouvidos para ouvir (cf. Mt 11,15; 13,15-16). É, sem dúvida, mais importante ouvir com atenção, com carinho, que se adiantar em dar conselhos e apresentar soluções. O agente de pastoral deve ter acima de tudo um grande amor aos enfermos. São Camilo recomendava a seus religiosos que era preciso amar o doente como uma mãe que cuida de seu único filho enfermo. Amor e afeto para com os doentes é um elemento essencial na espiritualidade camiliana e na pastoral da saúde. Evoco no final dessas considerações aquela que é considerada a primeira “agente de pastoral da saúde” (cf. Lc 1,39-56). Veneranda com o sugestivo titulo de Salus informorum (Saúde dos enfermos), a “ Virgem Maria, durante a vida, foi modelo daquele amor materno que devem estar animandos todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens” (cf. Lumem Gentium, n. 65). Que a exemplo de Maria possamos nós também engajar-nos nesse setor privilegiado de evangelização vendo na pessoa do irmão enfermo o próprio Cristo. TADEU DOS REIS ÁVILA é padre camiliano, membro da equipe ICAPS e trabalha no seminário de Monte Santo — MG
Revisora Rita de Cássia Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola – Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 3.500 exemplares.
COMO VISITAR UM DOENTE
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Saiu a terceira edição do livro: Como visitar um doente, de autoria do diretor do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde – ICAPS – Padre Anísio Baldessin. É um livro de fácil leitura que tem como objetivo oferecer orientações práticas para padres, pastores, religiosos (leigos, agentes de pastoral da saúde, visitadores de doentes e ministros da eucaristia) que exercem, principalmente, a dimensão solidária visitando os doentes nos hospitais e nos domicílios. Você poderá encontrá-lo nas livrarias católicas de sua cidade ou entrar em contato, de segunda a sexta, das 13 às 18 horas, com a secretaria do ICAPS pelo telefone (11) 3675-0035, com Cristiana, ou pelo FAX (11) 3865-2189, ou com Edições Loyola (11) 6914-1922.
Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
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ESPIRITUALIDADE NA ÚLTIMA ETAPA DA VIDA ALBA PAYAS I PUIGARNAU
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odas as sociedades dispõem de uma série de crenças e ritos sobre a morte para ajudar a pessoa doente e sua família a enfrentar essa difícil experiência. Infelizmente, nos últimos decênios, as perspectivas filosóficas e teológicas foram relegadas a um segundo plano pelo espetacular avanço da medicina e da ciência. E a morte, uma experiência, vivida em casa com o apoio da família, dos vizinhos e da comunidade religiosa, passou a ser algo que cada vez mais acontece no hospital. O apoio que a própria família dava agora o transfere a profissionais. Antes, a fé sustentava a pessoa no momento de enfrentar a morte, e essa mesma fé era ao mesmo tempo um apoio psicológico e emocional importante. Atualmente, nossa sociedade invalidou as crenças no além e, a miúdo, as questões existenciais que as pessoas enfrentam em sua última etapa da vida não são atendidas corretamente. A falta de guia e apoio espiritual é uma fonte adicional de sofrimento para os doentes. Todo profissional que atende a enfermos em situação terminal deve estar aberto a acompanhar e a dar suporte a suas necessidades espirituais. Às vezes, o doente escolhe partilhar suas preocupações espirituais com o religioso ou sacerdote disponível, mas também é certo que freqüentemente o faz com as enfermeiras, os médicos ou os auxiliares, ou porque confia nessa pessoa concreta, ou porque sente que seu sentido espiritual não encaixa com uma identificação religiosa específica, ou simplesmente porque é a pessoa disponível no momento em que a questão emerge. O que está claro é
que a responsabilidade da atenção espiritual deve ser compartilhada entre todos os membros da equipe.
ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE O acompanhamento espiritual não faz parte do currículo acadêmico dos profissionais de saúde, e essa responsabilidade, que surge mais de nossa condição humana que da profissional, nos será menos incômoda se entendermos qual é o papel do cuidador em determinadas situações. Cada religião expressa essa visão particular do mundo e da vida do homem em relação com seu criador através e uma série de rituais, filiações e normas éticas em um padrão de acontecimentos de referência. Nessa visão da ordem cósmica e em sua expressão os membros encontram sentido, objetivo e plenitude. Poderíamos dizer que cada religião oferece um mapa da realidade visível e invisível em que a pessoa pode colocar os acontecimentos de sua vida adquirindo um significado ou objetivo. Esse mapa é também um guia moral, de tomada de decisões, de modo que seguindo o caminho indicado se pode chegar a uma espécie de tesouro, ou vida eterna, ou céu, onde se encontrará a recompensa por haver seguido uma vida de acordo com a filiação religiosa. As necessidades religiosas das pessoas têm a ver com a expressão de suas crenças, a relação com seu Deus o uso de orações e atos rituais de comunicação ao redor de certos símbolos e objetos de culto, os sentimentos compartilhados com os outros membros da comunidade, a
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celebração do sentido da comunidade e a responsabilidade de cada um.
O QUE É ESPIRITUALIDADE A espiritualidade é muito difícil de definir ainda que seja um conceito que todos entendemos. Ao falar dela nos referimos a uma experiência muito mais pessoal e íntima que pode ou não ser expressada dentro de uma religiosidade. Chega-se à espiritualidade a partir da experiência pessoal e através de uma conexão pessoal interior com um âmbito íntimo. A experiência pessoal segundo Klass (1996) tem dois componentes que a caracterizam: por um lado a experiência de si mesmo deixa de ser individualidade e se dá uma consciência de unidade; a separação eu-tu desaparece e aparece um sentimento de unidade com o outro, consigo mesmo, Deus, a natureza ou o que é divino. O desaparecimento da fronteira entre o individuo e o que existe no além inicia quando desaparece a oposição ou a confrontação. Isso envolve umas implicações psicológicas claras, pois as fronteiras do ego se diluem. Um sentimento de unidade com o todo, o desaparecimento da separação, que é a base do que chamamos experiência mística. A espiritualidade tem a ver também com a aceitação do que é irracional: a existência de um ser superior, essência, ordem suprema. Algo que não podemos entender nem controlar, e que desafia a lógica, mas do que podemos participar de alguma maneira e que pode dar significado a nossa existência. Essa diferenciação entre o que é de domínio espiritual e o que é de domínio religioso é fundamental, tanto se falamos de pessoas crentes como de não crentes. Apesar de a pessoa se definir como não crente, e rechaçar os sistemas de crenças que lhe oferece a religião, a ânsia espiritual está em seu interior, seja consciente ou não, e o acompanhamento espiritual desperta ou traz à luz esta ânsia. Essa é a diferença entre o acompanhamento espiritual e o religioso. A pessoa que se diz não crente nega-se esse impulso natural de espiritualidade. Essa negação é como
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uma interrupção da conexão íntima consigo mesma e com Deus e se dá sempre por uma razão que é importante averiguar. O acompanhamento espiritual tem que ver com a restauração desse movimento.
ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL “Acompanhar desde a compaixão é difícil porque requer a disposição interna de ir com os outros, ali aonde se sentem débeis, vulneráveis, sós e rotos. Mas esta não é a nossa resposta espontânea ao sofrimento. O que mais desejamos é afastar o sofrimento fugindo dele ou buscando uma cura rápida. Como profissionais ou religiosos ocupados, ativos e importantes, queremos ganhar nosso pão dando uma contribuição real. Isso quer dizer que a coisa primeira e mais importante é fazer algo que mostre que nossa presença realmente marca uma diferença. E assim ignoramos nosso maior dom, que é a habilidade de entrar com compaixão na dor dos que sofrem.” A relação de ajuda no acompanhamento espiritual está baseada em duas atitudes: o respeito absoluto ao caminho da própria pessoa ou a não diretividade e a atitude de interrogação. É necessário partir de uma situação de nudez: de não ter mapas que sirvam. O agente pastoral nunca pode impor seu mapa pessoal. Entramos em um terreno no qual só a própria pessoa pode fazer sua cartografia. Para fazer isso devemos manter uma atitude de interrogação. Não conhecemos o mundo inte-
rior da pessoa e nosso trabalho é acompanhar, iluminar e dar espaço para que a pessoa possa fazer seu trabalho. As perguntas são o instrumento que permite à pessoa conectar consigo mesma, com seus sentimentos, crenças, esperanças. As boas perguntas ajudam a focalizar o processo de exploração pessoal. Acompanhamos fazendo perguntas explícitas ou implícitas (o silêncio é freqüentemente uma boa pergunta) que ajudem a pessoa em sua viagem de descobrimento pessoal. Fazemos a interrogação de uma posição de não suposição: não conhecemos nada da experiência subjetiva do enfermo e, quando o ajudamos a formular questões, não nos preocupa muito a resposta que dará, mas o que está passando em seu interior nesse processo de busca da resposta. Assim como a religião pretende dar boas respostas, a espiritualidade tem a ver mais com ajudar a pessoa a formular boas perguntas e deixar espaço para que ela mesma busque suas respostas. Freqüentemente quem enfrenta a morte nos pergunta sobre questões como o sentido do sofrimento ou a possibilidade de vida depois da vida, entre outras. Quando nos fazem perguntas sobre preocupações espirituais, em realidade não esperam que lhes demos respostas e se lhas damos, seguramente não as escutarão ou não lhes servirá. Como afirma Brady (1979), nos perguntam como uma maneira de promover a conversa que os ajude a articular seus próprios pensamentos e sua luta interior. Fazem-no pela necessidade de explicar-nos algo muito pessoal: partilhar sua própria história.
Às vezes também o fazem como teste, para nos provar: inquietamnos estas perguntas e nos mostramos impacientes? Respondemos de maneira respeitosa e isso faz com que decidam mostrar seu interior, suas dúvidas, fantasias, ou seja, sua vulnerabilidade conosco, ou damos uma resposta tão clara e inequívoca a partir de nossa convicção religiosa, partilhando crenças ou convicções filosóficas sem saber se são congruentes com seus valores, seu estilo de vida, sua história, cultura ou linguagem? A doutrinação aparece freqüentemente como defesa ante nossa incapacidade de responder ao sofrimento que está por trás da pergunta: por que a mim? Segundo Norman Cousins “a morte não é a pior das tragédias. A pior das tragédias é a despersonalização: morrer isolado em uma unidade estéril, separado do alimento espiritual que dá o contato com uma mão amorosa, separado da possibilidade de experimentar as coisas que fazem com que a vida valha a pena”.
NECESSIDADES ESPIRITUAIS NA ÚLTIMA ETAPA DA VIDA É muito difícil descrever os objetivos do acompanhamento espiritual de pessoas na última etapa da vida. Um modo de abordá-lo é identificar quais são as preocupações espirituais mais freqüentemente expressadas. Ante a consciência da própria mortalidade, desperta uma intensa revisão de vida que permite à pessoa entender e encontrar um significado e um objetivo para a própria existência. O indivíduo que enfrenta a morte se pergunta sobre seu passado, o presente e o futuro: Por que estou doente? Que sentido tem minha enfermidade agora, neste momento de minha vida? Que sentido têm a dor e o sofrimento que tenho que viver? Essa busca também toma uma dimensão de interrogação do passado: Que sentido teve minha vida? Se agora tenho que morrer, valia a pena? Quem sou eu? Qual foi meu papel na vida? Para atender o doente nessas perguntas, é útil animá-lo a fazer um repasse de sua vida, dando atenção aos momentos mais significativos:
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coisas que fez, sucessos a que assistiu ou a parte da história que lhe tocou viver podem ser áreas de exploração. Ajudar a identificar os frutos de cada etapa: o significado não se inventa, é necessário ajudar a descobri-lo. A miúdo o sentido profundo se encontra em acontecimentos muito simples, onde houve sentimentos especiais de amor ou de dor: simples encontros entre pessoas que se amam, que desfrutam da vida ou da relação ou que fazem algo criativo. Explorar a qualidade desses momentos especiais na vida da pessoa pode ser de grande ajuda na descoberta do sentido profundo de sua espiritualidade. A necessidade de resolver lutos passados não elaborados também emerge freqüentemente quando as pessoas enfrentam a morte. O trabalho de reconstruir um significado para perdas do passado é um dos temas centrais do luto (Neimeyer, 1997). Nem todas as perdas supõem uma ameaça aos construtores de significados: de fato, algumas possivelmente as reforçam. Mas, na última etapa da vida, podem aparecer assuntos pendentes não resolvidos que supõem uma fonte de sofrimento se não se resolvem adequadamente.
AMAR E SENTIR-SE AMADO ATÉ O FINAL DA VIDA O enfermo, e especialmente o que enfrenta a morte, vive a ameaça de ruptura de suas relações com os outros, com os queridos, mas também consigo mesmo. A necessidade básica de todo ser humano é de amar e ser amado, e sentir essa conexão até o fim da vida. A última etapa da vida é uma oportunidade de celebração e aprofundamento dos vínculos mais importantes da pessoa e também uma oportunidade de restabelecer aqueles que estavam quebrados e que antes de morrer a pessoa deseja resolver. Muitas vezes necessita completar as relações do passado, resolver os assuntos pendentes e viver o que lhe sobra de tempo com relações mais significativas. O trabalho de resolução de pendentes inclui o trabalho do perdão, a expressão da gratidão e do afeto. Nesse mesmo sentido Kornfield nos fala que diante da morte só há questões importantes: Amei bem? Fui amado?
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SENTIDO DE ESPERANÇA E/OU TRANSCENDÊNCIA Encontrar um sentido para a própria vida relaciona-se também com outra necessidade: a ânsia de um nível de transcendência. As pessoas religiosas podem ter a necessidade de aprofundar sua relação com Deus através das orações, sacramentos ou outras expressões rituais. Para eles o conforto está na certeza do reencontro com Jesus, ou Atman ou o Tão, e têm a esperança religiosa de ser perdoados, ou de chegar à iluminação. Para outro, a esperança pode ser encontrada no sentimento de uma vida completa, o regresso à natureza e a participação no ciclo da vida, a perpetuação através da família, o legado artístico ou criativo, a contribuição social ou intelectual à comunidade ou o viver na lembrança dos seres queridos. Nesse processo de exploração e busca de significados existem atividades que podem ser muito úteis, recordando sempre que o instrumen-
to mais importante do acompanhamento espiritual é nossa capacidade de estabelecer relações de confiança: nossa escuta paciente, respeitosa, cálida. Freqüentemente, tudo o que nos pedem é que estejamos presentes como testemunhas silenciosas de sua dor. Também podemos ajudar com pequenas atividades como as reminiscências, fotografias, pinturas significativas, objetos queridos, música preferida, criar símbolos ou ritos, meditações guiadas, a prática do silêncio, a expressão emocional, a escritura criativa. Para Jean Vanier, “acompanhar os outros não é dar teus valores, mas revelar aos outros seus valores, seus dons, suas forças, e confiar neles e em sua capacidade de crescer. Por isso é tão importante aproximar-se das pessoas em sua fragmentação e pequenez, suavemente, tão suavemente, não te forçando a ti mesmo sobre eles mas aceitando-os tal como são, com humildade e respeito”. ALBA PAYAS I PUIGARNAU é psicoterapeuta especialista no acompanhamento a pacientes terminais.
NOTÍCIAS DO ICAPS 쮿 No dia 16 de março, o coordenador nacional da pastoral da saúde, Dr. André Luiz de Oliveira, proferiu palestra para 18 agentes da pastoral da saúde de Palmas (TO), abordando o tema: O que é pastoral da saúde. 쮿 No dia 21 de março, o assessor técnico cientifico da pastoral da saúde de Uberlândia-MG, engenheiro agrônomo Alexandre Tavares, proferiu uma palestra para agentes da pastoral da saúde de Uberlândia, abordando o tema: Água fonte de vida. Na ocasião estiveram presente 62 agentes. 쮿 No dia 21 de março, o coordenador nacional da pastoral da saúde, Dr. André Luiz de Oliveira, proferiu palestra para 18 agentes da pastoral da saúde de Porto Velho – RO, cujos temas foram: Água fonte de vida e que é pastoral da saúde. 쮿 No dia 25 de abril, os religiosos camilianos e estudantes de teologia Rosivaldo Donizete Vieira e Mário Kozik estiveram na cidade de Andradina, interior de São Paulo, animando um encontro dos agentes de pastoral da saúde daquela diocese. 쮿 Nos dias 26 e 27 de abril, o padre Anísio Baldessin esteve, durante à noite, na cidade de Bragança Paulista ministrando palestra para agentes de pastoral da saúde que atuam no hospital da Universidade São Francisco.
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PREVENIR A OBESIDADE JÚLIO SERAFIM MUNARO
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prefeitura de Araraquara, cidade do interior de São Paulo, com 182 mil habitantes, lançou um programa de reeducação alimentar. Motivo: constatou que entre 15% e 20% da população da cidade está obesa. O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, assinou decreto que proíbe a propaganda de cigarros, bebidas e alimentos a menos de 200 metros da entrada de todas as escolas de educação infantil e fundamental, além de estabelecimentos de saúde da prefeitura. A medida, segundo o prefeito, quer prevenir doenças, favorecer a qualidade de vida e promover hábitos saudáveis de alimentação. O decreto foi motivado por um relatório da OMS, que “classifica a epidemia de obesidade em adultos e crianças, as doenças cardiovasculares, a diabete tipo 2 e algumas formas de câncer como doenças provocadas por má nutrição”. O governo inglês programa impor elevados impostos aos junk foods, isto é, aos alimentos tipo hambúrguer, salgadinhos, refrigerantes, manteiga e leite integrais, além de outras comidas que gozam da preferência popu-
lar. A decisão parte da constatação de que as doenças cardíacas superam o câncer como primeira causa de morte no país e que o número de obesos saltou de 10% em 1980 para mais de 20% em 2001. Hoje alcançam 23%. Também os Estados Unidos estão lançando campanha contra a obesidade, pois já se iguala ao fumo como causa de morte e pode ultrapassá-lo em breve. Em 2000, nos EUA, o fumo causou 435 mil mortes, isto é, 18,1% do total de óbitos. A obesidade levou à morte 400 mil pessoas, atingindo 16,6% do total de óbitos. O que preocupa, porém, é a evolução da obesidade como causa mortis. Em 1990, a obesidade matou 300 mil pessoas ou 14%, em 2000 subiu para 16,6%. Estima-se que 64% da população norte-americana, isto é, 129 milhões de pessoas, esteja acima do peso normal. Nos últimos 20 anos, o número de obesos dobrou na União Européia. As mulheres obesas chegam a 17% da população feminina e os homens obesos abrangem 15% da população masculina. Uma autêntica epidemia, segundo a OMS.
XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE DATA: 5
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DE SETEMBRO DE
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Os novos desafios da pastoral da saúde será o tema Central do XXIV Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde. Os outros temas serão: — — — — — — — — —
Água, fonte de vida e de saúde Vigília social da água: estratégias de cidadania O agente de pastoral no mundo moderno Visita pastoral ao doente através do silêncio A comunicação como fator de humanização Competência, solidariedade e sensibilidade na visita ao doente Despedir-se da vida com dignidade e elegância O agente de pastoral como esperança de cidadania e de vida Como vai a pastoral da saúde no Brasil?
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 8% da população pode considerar-se obesa, com o risco de, em poucas décadas, chegar a 32%, o que também assumiria características de epidemia. Entre 1975 e 1997, o número de crianças obesas passou de 35% para 15%, chegando a um total de 6,5 milhões. A OMS está lançando uma estratégia global de dietas saudáveis, pois considera a má alimentação responsável por grande parte de doenças crônicas cardiovasculares, câncer e diabete tipo 2. Propõe que as dietas humanas tenham no máximo 10% de energia proveniente de açúcar que, no Brasil, chega a 19%. Como maior produtor mundial de açúcar, o país não vê com bons olhos a redução do açúcar na dieta mundial, com receio de perder parte dos 2,3 bilhões de dólares que a exportação de açúcar lhe garante. Também os EUA se opõem à proposta da OMS, e pelos mesmos interesses comerciais do Brasil. Dado o número crescente de obesos, várias entidades propõem e lutam para que a obesidade seja classificada pela OMS como doença. Com isso, os gordos teriam a cobertura dos serviços públicos e dos planos de saúde, podendo até deduzir do imposto de renda gastos com tratamentos da obesidade. Arthur Frank, diretor do Programa de Controle de Peso da Universidade George Washington, declarou: “A obesidade deve ser vista como uma doença, pois as pessoas obesas não têm controle total dos fatores que causam o problema”. É uma doença de custo cada vez mais elevado. Na Europa, corresponde a 8% do total de despesas com saúde. Cada ano, a obesidade causa na União Européia 78 mil novos casos de câncer. No Brasil, o SUS aplica 600 milhões de reais só para a internação de obesos, ou o equivalente a 12% do que o governo gasta para tratar das demais doenças. Se fossem somados os gastos indiretos, a conta ultrapassaria 1,5 bilhão de reais. Compreende-se, pois, a importância das medidas tomadas no Brasil e no mundo para implantar hábitos alimentares sadios. JÚLIO SERAFIM MUNARO é padre camiliano, coordenador da pastoral da saúde da Arquidiocese de São Paulo e professor de história.
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Dicas de Saúde
Cuide da pele no frio
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hidratação pode ajudar a prevenir complicações no inverno. O clima frio costuma causar alguns problemas na pele. Isso ocorre porque as glândulas sudoríparas e sebáceas do organismo humano produzem menos secreções no frio, fazendo com que a pessoa transpire menos, deixando a pele mais seca. O ressecamento da epiderme, camada externa da pele, pode causar algumas lesões dermatológicas, que acarretam sensações de desconforto, como coceiras e descamação. “Por tornar a pele quebradiça, o ressecamento predispõe a pessoa a desenvolver infecções por vírus, bactérias e fungos e, por isso, pode ocasionar infecções na pele”, explica Dr. Jayme de Oliveira Filho, dermatologista, da Universidade Santo Amaro e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia — Regional São Paulo. “A maioria das pessoas que procura o dermatologista nessa época do ano se queixa de coceira e apresenta algumas reações alérgicas ou até mesmo eczemas na pele. Tudo isso devido à falta de hidratação”, explica o médico.
ALIMENTAÇÃO É ALIADA Alguns alimentos podem ajudar a proteger a pele. “Alimentos que possuam uma substância chamada caroteno – que dá a cor alaranjada em alguns vegetais e frutas – podem auxiliar nessa proteção”, diz Dr. Jayme. Além disso, deve-se ingerir muito líquido, principalmente água, que é saudável e recomendada em qualquer estação do ano.
ALGUNS CUIDADOS NO DIA-A-DIA PODEM AJUDAR A EVITAR PROBLEMAS NA PELE NO INVERNO 쐍 Diminua o tempo do banho e a temperatura da água. 쐍 Procure usar um sabonete menos agressivo, como aqueles para bebês. 쐍 Use sabonete apenas nas áreas do corpo que necessitam: genitais e axilas. Se passar por todo corpo, que seja bem rápido. 쐍 Proteja sua pele após o banho com um óleo específico ou creme ou loção umectante, conforme seu tipo de pele. 쐍 Não esqueça de usar filtro de proteção solar fator 15 nas áreas do corpo expostas ao sol. Os raios ultravioleta são agressivos para a pele tanto no inverno como no verão 쐍 Não utilize buchas ou esfoliantes durante o banho. DIANTE
DE SINTOMAS DE PROBLEMAS DE PELE
CONSULTE SEMPRE UM DERMATOLOGISTA ANTES DE USAR QUALQUER PRODUTO.
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PACIÊNCIA COM O SOLUÇO ELIDE SIVIERO
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udo que em nós não é dominável deve ser dei xado ao reino da paciência, sabendo que, muitas vezes onde não podemos intervir, se deve ter uma espera paciente. Acontece a todos, vez por outra, ter um incômodo distúrbio, que chega sem pré-aviso e desaparece quando quer: refiro-me ao inconveniente soluço. Ele não se preocupa com a situação, na qual a gente se encontra. Muitas vezes, corre-se o risco de se torturar pelo soluço, mormente na hora de um encontro importante ou de um discurso difícil. Por que acontece esse estranho fenômeno em nosso corpo? Ninguém sabe explicar. Acho que essa seja uma das questões mais complexas e difíceis para um médico: “Por que soluçamos?”. Espero uma resposta há anos! O que mais embaraça é saber que, sobre isso, existem idéias tão diferentes e variadas, “terapias” estranhas e incríveis: prender a respiração até sentir-se sufocar, chupar lentamente uma bala, bocejar, comer uma colherinha de açúcar ou de mel, levar um susto (se for preciso pedi-lo, que susto será então?), beber um copo de água rapidamente, ou até uma espécie de rito mágico “traçando” uma cruz na água com uma faca de aço. Acho que passei por todas essas experiências (com exceção do rito mágico, porque me dava vontade de rir), mas nenhuma delas funcionou. Sempre nos iludimos com o fato de que um ou outro método ou outro possa produzir o efeito desejado, mas, depois de um breve alívio, eis que o antipático soluço volta: assim como apareceu, misteriosamente, também assim desaparecerá, sem nenhum motivo aparente: acaba, simplesmente, porque passou. Todas as vezes que o soluço aparece, fico admirada pela irritação que causa, pela sua ingovernabilidade: embora consiga evitar o seu barulho, o inevitável solavanco que produz é sempre visível. Só nos resta desculpar-nos com as pessoas presentes e aguardar, com paciência, que passe, sem alarmismos, sem fazer estranhas peripécias para despistar dele, sem fazer nada. Este parece ser o ensinamento desse distúrbio: aguardar, sem poder fazer nada. No nosso mundo, onde procuramos remédio para tudo e quase sempre encontramos, ainda não existe nada contra o soluço: não podemos fazer nada, a não ser esperar que passe. Esse parece ser, também, o modo para se comentar uma misteriosa frase de Jesus: “Mas para não vos opordes ao malvado” (Mt. 5,39-41). No lugar da
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Ano XXII – Nº 220 – Junho 2004 – BOLETIM ICAPS
lei, que propunha “olho por olho, dente por dente”, Jesus propõe, diante de certos ataques, que o melhor é não atacar, nem combater, mas aguardar; não guerrear, mas usar a paciência. Como Josué, que se apoderou de Jericó, não como batalha, mas tocando as trombetas de Deus, depois de seis dias da caminhada do povo ao redor dos muros (cf. Js 6). Foi uma espera paciente, uma preparação feita de confiança e isso permitiu a intervenção de Deus. Não creio que, quando o soluço passa, possa ser por intervenção de Deus. Contudo, o alívio que experimentamos poderia recordar-nos que nem sempre é necessário combater com a espada, sobretudo quando o inimigo está dentro de nós. Esse é um defeito nosso, uma limitação, uma ferida (exatamente como o soluço). Tudo que em nós não é dominável, deve ser deixado ao reino da paciência, sabendo que, muitas vezes, a paciência é a virtude dos fortes e que, justamente onde não podemos intervir, se deve ter uma espera paciente. Também Paulo disse que a perseverança produz a fidelidade provada, a esperança (Rm 5,3). Assim poderemos desfrutar também deste pequeno inconveniente, o banalíssimo soluço, para meditar e exercer a paciência conosco mesmo e esperar. Artigo extraído da revista O Santo, ano 116, nº 4, abril 2004.
VIII CONGRESSO ESTADUAL DA PASTORAL DA SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL Data: 17
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Tema central: DESAFIOS
DE JULHO DE
2004.
E MÍSTICA DA PASTORAL DA SAÚDE
17 DE JULHO (sábado) 8h 30 – Credenciamento 9h – Espiritualidade 9h 30 – Mesa de abertura 10h – Aspectos organizacionais da pastoral da saúde Conferencista: Dr. André Luiz de Oliveira (coordenador nacional da pastoral da saúde da CNBB). 12h – Intervalo para o almoço 13h30 – A mística da pastoral da saúde Conferencista: Frei João Carlos 15h – Intervalo 15h30 – Desafios para a pastoral da saúde na dimensão político-institucional Conferencista: Pe. José Linhares Ponte e Sérgio. (Santa Maria) 18 DE JULHO (domingo) 8h 30 – Celebração eucarística Presidente: Dom Clemente Weber 9h 30 – Experiências práticas da dimensão político-institucional e comunitária da Paróquia Nossa Senhora de Fátima e Paróquia Venâncio Aires 10h – Intervalo 10h30 – Desafios da dimensão solidária Conferencista: Pe. Anísio Baldessin – Padre camiliano capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP 12h – Intervalo para o almoço 13h30 – Desafios da dimensão comunitária – Água: um bem vital para a saúde Conferencistas: Irmã Elise Sehnem - Coordenadora da Pastoral da Saúde da São Camilo Sul e do Hospital Divina Providência e Sérgio Santa Maria 15h – Coral 15h30 – Encerramento das atividades
Inscrições e informações pelo telefone: (51) 3330-9066
Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde Fone (11) 3675-0035 e-mail: icaps@camilianos.org.br Av. Pompéia, 1214 A 05022-001 São Paulo, SP
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