12345 12345 12345 do Instituto 12345 12345 12345 Camiliano 12345 12345 de Pastoral 12345 12345 12345 da Saúde 12345 12345 12345 e Bioética 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 Julho 2004 12345 12345 12345 ANO XXII – Nº 221 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA12345 12345
Informativo 12345 12345
❒ PASTORAL
❒ BIOÉTICA
SÃO CAMILO E A CRUZ VERMELHA No mês de julho homenageamos São Camilo de Léllis, que nasceu no dia 25 de maio de 1550 e faleceu no dia 14 de julho de 1614. Apresentamos um pequeno histórico da cruz vermelha, símbolo da Ordem dos Ministros Enfermos, camilianos.
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cruz vermelha camiliana tem uma história original. A mãe de Camilo, antes de dar à luz, teve um sonho. Viu seu filho com uma cruz no peito, de cor vermelha rutilante, seguido por um bando de outros jovens, todos com o mesmo distintivo. O sonho deixou-a inquieta, pois achou que seu filho acabaria sendo um chefe de bandidos. E morreu com essa inquietação, já que seu filho, que estava com 13 anos apenas, não dava sinais de muito juízo. Antes, era um menino irrequieto e incontrolável.
Teria sido mera casualidade a relação entre o sonho da mãe e a escolha da cruz por parte do filho? No dia 29 de junho de 1586, festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, Camilo e alguns companheiros apareceram pela primeira vez em
público, na Praça de São Pedro, em Roma, ostentando no peito, bem vistosa, a cruz vermelha. O povo ficou impressionado, e todos perguntavam: Quem são estes homens? De onde eles vêm? Que fazem na vida? A resposta, eles a teriam no diaa-dia, lá mesmo, em Roma, e não nas horas agradáveis, mas nos momentos críticos. Camilo e seus companheiros começaram a desfilar, com sua cruz vermelha, pelos hospitais e pelas cadeias, pelos becos e cortiços da cidade, sempre a serviço dos doentes, sobretudo dos mais pobres, de dia e de noite, fizesse calor ou frio, fosse longe ou perto. Sobretudo nos anos 1590 e 1591, quando a cidade foi abalada por terrível carestia, acompanhada de peste e outras calamidades, a cruz vermelha desfilava por todos os cantos. Camilo e seus companheiros trabalhavam intrepidamente, incansáveis como formigas, levando socorro a todo mundo. Terminada a calamidade, Camilo foi aclamado “Anjo protetor de Roma” e “Pai de todos os pobres”. Já não era um desconhecido, era um herói da cari-
❒ HUMANIZAÇÃO
dade. Ele e seus colegas de ideal. De onde vinham, talvez poucos soubessem. Mas quem eram e o que faziam na vida não escapava a ninguém. A partir de então, a cruz vermelha camiliana espalhou-se pela Itália e pelo mundo, carregada no peito de pessoas dispostas a dar até mesmo a vida para aliviar o sofrimento dos outros, em hospitais, cadeias, em domicílios, nos momentos de epidemia ou nos campos de batalha. Onde há sofrimento, lá é seu lugar. A cruz vermelha de Camilo tornou-se símbolo dos hospitais e de todos os serviços de saúde. Para Camilo, a cruz vermelha “camiliana” tinha um grande significado: “Que o mundo saiba que nós, marcados com este santo sinal da cruz, somos dedicados ao serviço dos pobres doentes. E também para provar que se trata de uma Ordem de cruz, isto é, de trabalho, de sofrimento e de renúncia até a morte. Quem quiser, pois, seguir o nosso ideal de vida, prepare-se para carregar a cruz, renegar a si mesmo e seguir Jesus Cristo até a morte”. Palavras austeras, mas densas de significado e de exigências! Assumi-las, implica risco. A cruz camiliana não é, pois, um mero enfeite. Não é morta, mas viva e vivificante. Transforma as pessoas e as redime. Não as esmaga. Infunde-lhes o essencial da vida: o amor a Deus e ao próximo. Quase três séculos mais tarde surgiria uma outra cruz vermelha — A Cruz Vermelha Internacional —, provavelmente inspirada na cruz vermelha camiliana, pois, na massacrante batalha de Solferino, os Camilianos marcaram presença ativa no socorro às vitimas. Eram poucos e de todo insuficientes para tamanha calamidade. Jean Henri Dunat deve ter topado com alguns deles e talvez apertado suas mãos, estreitando com eles forte comunhão de ideal.
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Ano XXII – Nº 221 – Julho 2004 – BOLETIM ICAPS
ENTIDADES CAMILIANAS: UM IDEAL DE SÃO CAMILO NIVERSINDO ANTÔNIO CHERUBIN
“Quando se trata da doutrina social cristã, não se anuncia apenas; aplica-se na prática, em termos concretos. Sua luz é a verdade. Seu fim, a justiça. Sua força dinâmica, o amor” (PAPA JOÃO XXIII em Mater et Magistra)
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EXPEDIENTE
ão as seguintes as entidades camilianas que desenvolvem atividades na área da saúde: Sociedade Beneficente São Camilo, Beneficência Camiliana do Sul, Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, Beneficência Camiliana e Cruzada Bandeirante de Assistência Médico-Social. As entidades camilianas citadas estão intimamente ligadas à solução de problemas e à implementação de programas que afetam a vida da comunidade do nosso país. Trabalham em parceria com o governo federal, estadual e municipal. São auxiliadas também por empresas privadas. Recebem o apoio logístico das respectivas entidades de classe. Contam também com a colaboração de numerosos voluntários, sobretudo na pastoral da saúde, na assistência social e na educação infantil. Os serviços gratuitos que são oferecidos à comunidade envolvem: assistência médico-hospitalar de alta, média e baixa complexidade, inclusive implantes e transplantes; medicamentos básicos de uso contínuo; assistência ambulatorial e de emergência; programa de saúde da
O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos. Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Nivercindo Antônio Cherubin. Diretor Responsável Anísio Baldessin. Secretária Cristiana Baldessin Maina.
família; imunização e prevenção; transporte por unidade móvel de urgência – SAMU. O sistema de saúde implantado no país, em que pese sua visível precariedade, resgatou de forma ampla e profunda a cidadania da comunidade brasileira. Mais de 20 milhões de pessoas, na época da criação do SUS, passaram de excluídos a ter o direito à assistência gratuita em saúde, conforme reza a Constituição Federal: “A saúde é um dever do estado e um direito do cidadão”. A assistência social na qual as entidades camilianas têm alguma expressão oferece os seguintes serviços em São Paulo: abrigo para moradores de rua por meio de albergues; proteção às crianças e adolescentes em situação de risco por meio das casas de apoio e da criança cidadã; assistência a idosos abandonados; e atendimento a urgências sociais. Essas atividades são mantidas com recursos do governo federal, estadual e municipal, entidades nãogovernamentais e voluntários. Já a educação infantil, na qual as entidades camilianas têm participa-
Revisora Rita de Cássia Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola – Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 3.500 exemplares.
ção expressiva, foi implantada em 2003 por exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Envolve a atividade levada a efeito pelas creches que atendem a crianças de 0 a 6 anos e 11 meses de idade. Todas as entidades camilianas citadas são filantrópicas. Gozam da imunidade tributária e da isenção da cota patronal da previdência social. Na área da saúde, as entidades filantrópicas assistem a 38% dos beneficiários do SUS. Como em geral são as únicas nos municípios em que estão sediadas, o ministro da saúde é enfático ao declarar que, sem elas, o atendimento à saúde seria mais caótico. Porém, os recursos financeiros com os quais o governo paga essa assistência são muito reduzidos. As entidades filantrópicas da área da saúde se encontram, na grande maioria, em estado de insolvência. Para obviar, aos menos em parte, a situação, celebram parcerias com o governo federal, estadual e municipal para investimentos e a manutenção dos serviços. É o que ocorre com as entidades camilianas que atendem ao SUS.
Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
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A MISSÃO CAMILIANA Durante o ano de 2003, as entidades filantrópicas camilianas receberam dois documentos que tipificam bem a natureza da sua missão e que postura deveriam ostentar para colocá-los em prática. O primeiro, denominado “Carta de Identidade das Instituições SócioSanitárias Camilianas”, da Consulta Geral da Ordem, e o segundo, denominado “A Missão das Misericórdias”, divulgado pela Confederação Internacional das Misericórdias. Mesclando sinteticamente os dois documentos, definimos a missão das nossas entidades como: “Encarnar no mundo da saúde e da doença, da velhice, da exclusão social e das dependências, a ação salvífica, misericordiosa, terapêutica e salutar de Cristo, prestando todo tipo de apoio à recuperação e aprimoramento físico, intelectual, profissional, social, moral e espiritual, tornandose, conseqüentemente, promotoras da civilização do amor, da paz e da justiça”. Como organização, as entidades camilianas citadas no início dispõem de uma sede central que faz a consolidação das informações gerenciais e dos balancetes, prepara um relatório mensal que é apreciado pela diretoria, aplica auditorias contábeis e administrativas em todos os seus departamentos, e transfere mensalmente recursos financeiros para os hospitais que atendem ao SUS.
ASSISTÊNCIA À SAÚDE As entidades camilianas da área da saúde desenvolvem três atividades mais importantes: assistência à saúde, plano próprio de saúde e pastoral da saúde. São muito expressivas, também, as atividades sociais levadas a efeito por esses hospitais a cada ano. A pastoral da saúde fez em 2003, 132.672 visitas a pacientes internados; ministrou 53 cursos, com a participação de 5.920 pessoas. A assistência social atendeu 58.492 pessoas para a distribuição gratuita de medicamentos. A educação ministrou
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291 cursos, com a participação de 17.796 profissionais dos nossos hospitais e da comunidade local. A assistência gratuita que vem sendo prestada e que tem importância bastante expressiva só é possível devido principalmente a três fatores mais importantes: transferência mensal de recursos dos hospitais de São Paulo, parcerias com o governo federal para investimentos, e parcerias com os governos estaduais e municipais para a manutenção. A assistência aos beneficiários do SUS que soma, no total de pacientes-dia de todos os hospitais de cada instituição camiliana, 76,37%, 65,19% e 78,63%, respectivamente, é realizada também para que essas entidades continuem ostentando a condição de filantrópicas, conforme exige o Decreto 2.536, de 1999. Como novidade e após vários anos, a Sociedade Beneficente São Camilo assumiu, a partir de 1o de janeiro de 2004, o Hospital e Maternidade São Francisco de Assis, de Crato, no Ceará, da diocese local, em comodato por 20 anos. Outra atividade desenvolvida com expressão é a pastoral da saúde. Além das atividades internas de cada hospital, coordenadas por um profissional contratado e um grupo muito expressivo de voluntários que realiza as visitas aos pacientes internados e em seu domicilio, são promovidos, a cada ano, encontros regionais, com a participação de todos os hospitais camilianos, em parceria com o Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde da Província Camiliana Brasileira.
ASSISTÊNCIA SOCIAL A atividade de assistência social é desenvolvida pela Sociedade Beneficente São Camilo na cidade de São Paulo e composta de cinco equipamentos: 쮿 ALBERGUE SÃO CAMILO I: Sediado no bairro de Tatuapé, recebe diariamente 300 homens moradores de rua, com idade superior a 18 anos. O objetivo desse albergue e dos demais 23 que existem em São Paulo é: oferecer abrigo à população de rua, atendendo suas necessidades imediatas; encaminhar, com o tempo, essa população para os recursos de referência da cidade, visando sua reintegração social; promover reflexões e debates sobre questões pertinentes à saúde, alimentação, primeiros socorros e cuidados básicos; assegurar instalações adequadas que permitam a higiene pessoal, fornecer alimentação adequada e repouso completo. 쮿 ALBERGUE SÃO CAMILO II: Sediado muito próximo do anterior, recebe para permanência, nas 24 horas do dia, 200 homens e 100 mulheres moradores de rua com algumas crianças pequenas. O objetivo principal desse albergue é dispensar os serviços descritos para o primeiro, mas com ênfase muito acentuada à formação profissional, pois envolve só pessoas desempregadas por falta de qualificação profissional.
“Estive enfermo e me visitaste” (Mt 25,36) Jovem, você se sente chamado para ser PADRE ou IRMÃO CAMILIANO Escreva-nos: SEMINÁRIO SÃO CAMILO Rua Roque de Paula Monteiro, 245 – Jaçanã 02772-000 – São Paulo – SP FONE (11) 6243-1118
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쮿 CRIANÇA CIDADÃ: Em convênio com o governo do estado de São Paulo e em substituição ao S.O.S. Criança, a Sociedade Beneficente São Camilo se firmou, a partir de 2002, como porta de entrada das crianças e adolescentes não infratores de São Paulo, em situação de risco. Utiliza, para essa atividade, dois equipamentos. Um casarão, no centro da cidade, de propriedade da Cruzada Bandeirante, e uma residência alugada pelo estado, no bairro da Mooca. Recebe crianças e jovens de 0 a 17 anos e 11 meses de idade, atendendo-as nas 24 horas do dia. O primeiro tem capacidade para abrigar 32 crianças e o segundo 20 crianças. O objetivo específico dessa atividade é: desenvolver ações socioeducativas com vistas à reorganização familiar; oferecer atividades sociais para retirar crianças e jovens da rua; resgatar as relações afetivas e familiares; encaminhar os assistidos à rede formal de educação. 쮿 CASAS DE APOIO: São dois equipamentos de propriedade da prefeitura municipal, com capacidade para acolher, cada um, 20 crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, conseqüência do esfacelamento do núcleo familiar. O encaminhamento é feito pela Vara da Infância e pelo Conselho Tutelar de cada região. 쮿 ESPAÇO GENTE JOVEM: Com capacidade para atender até 60 jovens em dois turnos diários e sediado numa comunidade eclesial de base da paróquia de Vila Pompéia, o equipamento em apreço tem os seguintes objetivos: ministrar aos jovens reforço escolar; ensinar-lhes artes plásticas; fornecer-lhes alimentação; adestrálos no convívio familiar; oferecerlhes orientação psicológica. Paralelamente, o equipamento presta assistência aos portadores de HIV da Zona Oeste de São Paulo, oferecendo-lhes orientação, facilitando o acesso aos serviços de saúde e auxiliando-os nos encargos com a alimentação.
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A manutenção desses equipamentos de assistência social é conseguida mediante repasses financeiros do governo do estado e da prefeitura municipal, de doações de empresas privadas e do trabalho de voluntários.
EDUCAÇÃO INFANTIL A Sociedade Beneficente São Camilo transformou, em 2003, seus equipamentos de assistência social, formados por 12 creches em São Paulo e uma em Nova Venécia, no Espírito Santo, em Centros de Educação Infantil, por exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Os 13 equipamentos manterão, em 2004, a capacidade para acolher 2.161 crianças, de 0 a 6 anos e 11 meses de idade, em regime de semiinternato. Oferece a elas, os meios necessários para um desenvolvimento harmônico por meio de uma programação que vá ao encontro das suas necessidades de aprendizado e outra inerente à sua faixa etária. Esses Centros de educação infantil têm como objetivos principais: atender as crianças dentro de uma proposta pedagógica interativista construtiva; acompanhar e controlar as condições de saúde, higiene e desenvolvimento físico; prestar serviços à família, atendendo seus filhos e proporcionando momentos de lazer, reflexão e informações, com vistas à sua promoção social. A manutenção dessas atividades é feita por meio de repasses do mu-
nicípio de São Paulo, de doações de empresas privadas e do trabalho de numerosos voluntários. As atividades envolvendo a assistência social e a educação infantil são realizadas por 565 profissionais contratados e uma centena de voluntários.
CONCLUSÃO Fazemos nossas duas mensagens que acreditamos se apliquem com bastante perfeição às atividades que vêm sendo desenvolvidas pelas entidades camilianas apreciadas aqui: “Quando se trata da doutrina social cristã, não se anuncia apenas; aplica-se na prática, em termos concretos. Sua luz é a verdade. Seu fim, a justiça. Sua força dinâmica, o amor” (Papa João XXIII em Mater et Magistra) “Combater a miséria e lutar contra a injustiça é promover não só o bem-estar, mas também o progresso humano e espiritual de todos e, portanto, o bem comum da humanidade. A solidariedade universal é para todos não só um fato e um benefício, mas também um dever. O novo nome da paz é o desenvolvimento que liberta a pessoa da fome, da doença e da ignorância. O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, tem que ser integral, quer dizer promover todos os homens e o homem todo” (Papa João Paulo II em Populorum Progressio) NIVERSINDO ANTÔNIO CHERUBIN, padre camiliano, superintendente da Sociedade Beneficente São Camilo.
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POR QUE JESUS NÃO CURAVA A TODOS? HÉLIO LIBARDI
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abemos bem que o sofrimento e as doenças não provêm de Deus. Há sofrimentos que estão ligados à nossa natureza, fruto de herança genética ou dos próprios limites dessa natureza. Outros sofrimentos nascem do nosso interior, em virtude de nossos descuidos, exageros, excessos e nossa falta de capacidade de administrar a vida. Há muitas doenças e sofrimentos que são provocados pela atitude da pessoa, com seu modo de agir e com valores que pautam sua vida. Falemos também de sofrimento, que é resultado do “pecado social”. Dele nascem a ganância, a falta de partilha, o egoísmo, a violência, o desemprego, a desigualdade social, a fome, a miséria, etc. Não podemos colocar a culpa em Deus, que respeita a nossa liberdade. Tudo o que depende de nós, temos de fazer; Deus não faz para nós. Se muitos sofrimentos são causados por decisões mal tomadas de autoridades, não temos a solução para eles nem Jesus tem a obrigação de somá-los. De que adianta resolver o problema hoje, se a causa perdura e amanhã estaremos de volta com os mesmos problemas? Isso nos ajuda a observar as atitudes de Jesus. Os milagres de Jesus têm endereço certo, um propósito maior do que o de apenas aliviar a dor. Eram sinais em seu poder sobre o mal, sinais da chegada do reino de Deus, sinais de que nenhum sofrimento ou doença ou pecado poderiam ser maiores que o poder do bem. As curas de Jesus estavam ligadas à conversão da pessoa. Eram para elas a manifestação da fé no poder de Jesus: “Tua fé te curou”. Precisamos perceber que nem todos creram em Jesus, muitos queriam só a cura e não queriam o compromisso gerado pela fé.
Outro dado que temos é que os Evangelhos não contam tudo o que Jesus fez, mas narra o mais significativo. É o que vemos no final do Evangelho de São João, que fala que nem tudo que Jesus fez foi escrito (Jo 21,25). Nas curas, Jesus foi muito categórico; mostrou que era preciso arrancar a raiz do mal e não procurar soluções paliativas e momentâneas.
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Essa a diferença entre e atitude de Jesus e a daqueles que procuram milagres que resolvam rapidamente seus problemas. Arrancar o mal pela raiz exige uma colaboração séria e responsável, caminho que nem sempre as pessoas querem percorrer e até mesmo conflita com interesses pessoais. Por isso, continuamos a viver em uma sociedade ultraviolenta, com valores tão diferentes dos valores evangélicos, e continuamos a acreditar que Jesus tem obrigação de resolver nossos problemas, porque para isso ele tem poder. É a fé mais descabida que existe, coisa mesmo de quem não crê, próprio de quem quer resolver tudo de modo rápido e sem custo. HÉLIO LIBARDI é padre jesuíta.
NOTÍCIAS DO ICAPS E CNBB 쮿 No período de 12 a 14 de abril de 2004, André Luís de Oliveira, o Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde, esteve em Bogotá (Colômbia), participando da reunião da equipe Latino-americana da Pastoral da Saúde do CELAM.
쮿 No dia 15 de maio, a vice-coordenadora da Pastoral da Saúde da CNBB, Lirce Lamounier esteve em Formosa (GO) ministrando palestra no I Encontro de Pastoral da Saúde promovido pelo Hospital São Camilo, em parceria com a Igreja local. 쮿 Nos dia 15 e 16 de maio, André Luís de Oliveira esteve na cidade de Bebedouro, (SP) ministrando curso de formação para agentes de pastoral da saúde e ministros da eucaristia daquela diocese. 쮿 Nos dias 5 e 6 de junho, o padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Recife animando um encontro de humanização e pastoral da saúde para agentes, ministros da eucaristia e visitadores de doentes para toda diocese. 쮿 No dia 5 de junho, à tarde, o religioso camiliano e estudante de teologia, Mário Kozik, esteve na cidade de Jacareí (SP) ministrando palestras para visitadores de doentes e ministros da eucaristia.
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TUBERCULOSE:
VIDA E MORTE
DE DOENÇA ROMÂNTICA A MAL SOCIAL
WILSON JOÃO
ANA BEATRIZ DE NORONHA A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta: nos próximos dez anos, 30 milhões de pessoas morrerão em conseqüência da tuberculose. No mundo inteiro, o número de casos da doença, cuja história remonta ao antigo Egito, vem aumentando assustadoramente por conta, principalmente, da pauperização das populações, do sucateamento do setor público, da resistência bacteriana e da Aids. A “doença romântica”, que até meados do século XX aparecia freqüentemente associada ao estilo de vida boêmio e desregrado dos artistas e intelectuais, aos poucos se transformou em um mal social e, desde 1993, a OMS pede que todos os países mobilizem recursos para combater a epidemia que mata mais adultos do que a Aids, a malária e as doenças tropicais juntas. No Brasil, onde a tuberculose ainda é uma das principais causas da morbimortalidade, a maior taxa de incidência da doença é no Rio de Janeiro. Em 2000, mais de 17 mil casos da doença, correspondendo a cerca de 20% do país, foram registrados no estado. Além disso, os coeficientes estaduais de incidência, de 99 doentes para cada 100 mil habitantes (99/100.000), e de mortalidade, de 6,15 óbitos para cada 100 mil habitantes (6,13/100.000), foram aproximadamente o dobro da média brasileira. Um dos principais fatores para o agravamento da situação no estado do Rio é o alto índice de abandono do tratamento, que chega a 25%, enquanto a média nacional é de 12%. O abandono é causado por vários motivos, entre os quais a longa duração do tratamento — seis meses —, a sensação de melhora nas primeiras semanas e os fortes efeitos colaterais da medicação. Em 1882, o médico alemão Robert Koch descobriu a bactéria causadora da tuberculose: a Mycobacterium tuberculosis, também chamada de Bacilo de Koch, em sua homenagem. Atualmente já são conhecidos diversos medicamentos efetivos contra a doença, transmitida principalmente por pequenas gotículas que as pessoas doentes expelem ao falar, espirrar ou tossir em ambientes pouco arejados. Segundo a OMS, o maior desafio no combate à tuberculose é evitar a irregularidade ou interrupção do tratamento, por meio de programas diretamente supervisionados, pelo menos para os pacientes de maior risco, como os alcoólatras e usuários de drogas. Nesse tipo de programa, os profissionais de saúde observam os doentes tomarem os medicamentos. Se todas as pessoas doentes fizerem seu tratamento de forma regular, na próxima década, mais de 300 milhões de novas infecções serão prevenidas no mundo e milhões de mortes serão evitadas. Artigo extraído da revista RADIS, agosto de 2003.
“Diante de ti ponho a vida e ponho a morte, ponho a bênção e ponho a maldição. Cabe a ti escolher.” É a sabedoria de Deus. É a sabedoria da vida. É a sabedoria de Deus que não impõe a ninguém nem o bem nem o mal, nem a bênção nem a maldição. Tudo é escolha pessoal. É decisão pessoal diante da morte e da vida. Cabe a cada criatura humana escolher.
Cabe a mim escolher a morte: 쮿 Intoxicando meu corpo com o veneno dos cigarros e das drogas, que aos poucos me aproximam da morte e me fazem escravos da infelicidade e da dor. 쮿 Poluindo meu corpo com bebidas e alimentos artificiais, cheios de conservantes, que tiram a resistência e a imunidade do corpo. 쮿 Envenenando as fontes e os rios, os lagos e os banhados, os mares e os poços, obrigando a população a consumir água tratada com poluentes químicos ou gastar dinheiro, à toa, com águas comercializadas. 쮿 Poluindo o ar com poluentes químicos, com chaminés que vomitam a morte com gases malcheirosos que a população é obrigada a respirar. 쮿 Infectando o ambiente, a vizinhança e a comunidade com ódio, agressividade, pessimismo, inveja, raiva e violência, que produzem a morte da amizade, do amor e da vida de convivência.
Cabe a mim escolher a vida: 쮿 Arejando minha casa com janelas e portas abertas, com limpeza ao redor dela, com muito cuidado para não produzir lixo, evitando assim usar em excesso materiais de limpeza que envenenam as águas. 쮿 Cuidando da mãe e irmã terra, não matando a vida com veneno de todos os tipos, plantando árvores, cultivando hortas e jardins e toda espécie de vegetação que alimentam sadiamente a humanidade. 쮿 Alimentando o corpo com alimentos sadios, sem venenos e conservantes, e bebendo o que a natureza oferece e não o que os comerciais impõem. 쮿 Respirando ar puro da natureza e não o ar dos ambientes fechados das casas e das empresas, repassados pelos condicionadores de ar. 쮿 Criando um clima de boa convivência familiar e social, em que cada pessoa se sinta acolhida e amada, se sinta alguém com direito de viver bem e sonhar um futuro com dignidade. 쮿 Enchendo o coração de alegria e otimismo, de esperança e liberdade, de fé e amor, de confiança e misericórdia. 쮿 Sonhando uma vida sem fim, fazendo da morte somente um ato na caminhada da vida, na certeza do encontro com aquele que é a vida plena, e que nos dá total liberdade de escolher a vida que queremos ter. 쮿 Morrendo com plena consciência e liberdade de estar escolhendo para sempre a vida.
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7 XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE
TEMA: OS NOVOS DESAFIOS DA PASTORAL DA SAÚDE DATA: 5 e 6 de setembro de 2004 LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo Avenida Nazaré, 1501 – Ipiranga – São Paulo – SP 5 DE SETEMBRO – DOMINGO
6 DE SETEMBRO – SEGUNDA-FEIRA
7h 30 às
8h 30 – Entrega de material e inscrições
8h 30 às
9h 30 – Oração e abertura
9h 30 às 10h 15 – Como vai a pastoral da saúde no Brasil? 10h 15 às 10h 45 – Intervalo para o café 10h 45 às 12h 15 – Água: qual é a real preocupação? 12h 15 às 13h 30 – Intervalo para o almoço 13h 30 às 14h 14h
às 15h 30 – A pastoral da saúde no mundo moderno
15h 30 às 16h 16h
– Tribuna livre
– Intervalo para o café
às 17h 15 – Pastoral da saúde através do silêncio
7h 30 às 8h 30 às 9h 45 às 10h 30 às 11h às 12h 15 às 13h 30 às 13h 45 às 14h 45 às 15h 15 às 16h 17h 15
às
8h 30 – Celebração da missa 9h 45 – A pastoral da saúde diante da morte no contexto hospitalar 10h 30 – A comunicação como parte integrante da humanização 11h – Intervalo para o café 12h 15 – Competência, solidariedade e sensibilidade na visita ao doente. 13h 30 – Intervalo para o almoço 13h 45 – Tribuna livre 14h 45 – Experiência pastoral do grupo Centro de Valorização da Vida – CVV 15h 15 – Intervalo para o café 16h – O agente de pastoral como esperança de cidadania e da vida 17h 15 – Despedir-se da vida com dignidade – Encerramento
Taxa: R$ 18,00 até 25 de agosto • R$ 30,00 após esta data ATENÇÃO: A organização do congresso não se responsabilizará pela hospedagem e alimentação dos participantes.
Coordenador do Congresso: Pe. Anísio Baldessin Informações e Inscrições: ICAPS – Avenida Pompéia, 1214A • 05022-001 São Paulo – SP Fone: (11) 3675-0035 com Cristiana • e-mail: icaps@camilianos.org.br Promoção: Província Camiliana Brasileira, Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde – ICAPS Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB Apoio: Província Camiliana Brasileira • União Social Camiliana
FICHA DE INSCRIÇÃO O depósito para o pagamento da inscrição deverá ser feito em nome de: Província Camiliana Brasileira – Banco Bradesco – Agência 0422-7 – Conta corrente 89407-9. Após o depósito, mandar esta ficha e o comprovante bancário do depósito para a secretaria do ICAPS no endereço citado anteriormente. Você poderá mandar a ficha e/ou comprovante também pelo Fax. (11) 3865-2189. Nome Nº
Endereço Cx. Postal Estado
Cidade Cep
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O EFEITO DE UM REMÉDIO MUDA DE ACORDO COM A FORMA PELA QUAL É INGERIDO
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diferença entre o remédio e o veveneno está na dose. Apesar de verdadeiro, o ditado não é levado a sério. Recente levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) constatou que na hora de tomar um medicamento só metade das pessoas segue o que foi recomendado pelo médico. Quanto maior o tempo de tratamento, pior, porque a tendência é de o paciente deixar de seguir as recomendações médicas. Os dados da OMS referem-se a quem toma o remédio correto, receitado por um especialista, mas o fazem de maneira errada. Há ainda os que ingerem remédios por conta própria. Os erros mais comuns são não respeitar as orientações sobre doses e horários, interromper o tratamento, usar um remédio receitado anteriormente diante de sintomas semelhantes, dobrar a dose seguinte quando se esquece de tomar a droga no horário determinado e utilizar remédios de adultos em crianças e vice-versa. Se usadas indiscriminadamente, as drogas criadas para curar podem trazer conseqüências danosas para o paciente. O efeito do
remédio pode ficar aquém do desejado ou simplesmente não acontecer. Nos casos mais graves, o medicamento pode causar efeitos colaterais como dores e alergias ou agravar doenças como diabetes e hipertensão. Para fazer efeito sem comprometer o organismo, o remédio precisa chegar a seu destino na quantidade exata e na velocidade certa. Isso só acontece quando o medicamento encontra condições ideais para ser absorvido, entrar na corrente sangüínea e circular pelo corpo. Estômago cheio ou em jejum, intervalo maior ou menor entre as doses, mudanças aparentemente inofensivas podem atrapalhar o trajeto do medicamento.
Os médicos explicam que se o remédio demora muito para chegar ao organismo ou chega incompleto, porque foi quebrado pelos ácidos da digestão, não surte o efeito desejado. Ao contrário, se encontra o alvo rápido demais ou é ingerido em doses elevadas, pode atingir níveis tóxicos. Alguns medicamentos se grudam aos alimentos ou competem com eles pela absorção. Nesse caso, podem não ser aproveitados ou simplesmente são destruídos pelo aparelho digestivo. Outras drogas, como antiinflamatórios e analgésicos, irritam a mucosa estomacal e precisam ser ingeridas após a refeição. Os antibióticos só funcionam se o horário for respeitado com rigor. Ultrapassar o momento exato da dose derruba o pico de concentração do medicamento no sangue e, em vez de matar os microorganismos, o remédio pode torná-los mais resistentes. Enfim, não basta tomar o remédio certo para curar determinada doença; deve-se fazê-lo de maneira correta.
DICAS PARA NÃO ERRAR 쮿 informar ao médico o uso de outros remédios, se já teve reação alérgica, se está grávida ou amamentando. 쮿 não tomar remédios com leite ou sucos, e 쮿 avisar se surgirem sintomas estranhos após início da medicação, mas não interromper o tratamento por conta própria.
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