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12345 12345 12345 do Instituto 12345 12345 12345 Camiliano 12345 12345 de Pastoral 12345 12345 12345 da Saúde 12345 12345 12345 e Bioética 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 Setembro 2004 12345 12345 12345 ANO XXII – Nº 223 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA12345 12345

Informativo 12345 12345

❒ PASTORAL

❒ BIOÉTICA

❒ HUMANIZAÇÃO

PROGRAMA DO XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE TEMA: OS NOVOS DESAFIOS DA PASTORAL DA SAÚDE DATA: 5 e 6 de setembro de 2004

LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo Avenida Nazaré, 1501 – Ipiranga – São Paulo – SP

DIA 5 – DOMINGO 7h30 8h30 9h30 10h15 10h45 11h30 12h15 13h30 14h00 15h15 15h45

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8h30 9h30 10h15 10h45 11h30 12h15 13h30 14h00 15h15 15h45 16h45

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Entrega de material e inscrições Oração e abertura Como vai a pastoral da saúde no Brasil – Dr. André Luís de Oliveira Intervalo – Café Vigília Social da água: estratégias de cidadania – Dom José Alberto Moura Pastoral da saúde na Colômbia e Família Camiliana – Izabel Calderon Intervalo – Almoço Tribuna livre A pastoral da saúde e o voluntariado no mundo moderno – Paulo Rogério Intervalo – Café Pastoral da saúde através do silêncio – Alessandra Santiago Vieira

DIA 6 – SEGUNDA FEIRA 7h30 8h30 9h45 10h30 11h00

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8h30 9h45 10h30 11h00 12h15

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13h30 14h30 15h15 15h45 17h00 17h00

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Celebração da missa A pastoral da saúde diante da morte no contexto hospitalar – Bárbara Obeidi A comunicação como parte da humanização – Luciana Bertachini Intervalo para café Competência, solidariedade e sensibilidade: Desafios da dimensão solidária Pe. Anísio Baldessin Intervalo para almoço Experiência do Centro de Valorização da Vida – Sílvia O agente de pastoral como esperança de cidadania e da vida – Ana Cândida Intervalo para café Despedir-se da vida com dignidade – Pe. Léo Pessini Encerramento

INSCRIÇÕES: (11) 3675-0035 com Cristiana


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Ano XXII – Nº 223 – Setembro 2004 – BOLETIM ICAPS

COMO FAZER UMA RÁPIDA VISITA AO DOENTE? ANÍSIO BALDESSIN

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o mundo moderno, e principal mente nas grandes cidades, a falta de tempo é o problema da maioria das pessoas. Estamos sempre correndo. Correndo contra o tempo, ou melhor, contra a falta de tempo. Para provar esta verdade é só observarmos quando, na rua ou em outro lugar, encontramos pessoas amigas: “Nossa! Quanto tempo! Este ano está voando!” E o outro diz: “É verdade, ainda ontem estávamos comemorando as festas natalinas! O tempo está passando muito rapidamente!” No entanto, a realidade não é a mesma para as pessoas que moram nas pequenas cidades e principalmente para aquelas que não têm nada a fazer. Para isso, basta perguntar especialmente aos doentes que estão em casa ou internados num hospital. Com certeza, eles dirão que o tempo não passa. Por isso, a famosa frase “o tempo cura tudo” deve ser bem entendida. Será que é o tempo que cura tudo ou o que cura é o que nós fazemos com o tempo. Pois se não tenho nada a fazer com o tempo, a cura é muito demorada.

ENCONTROS INFORMAIS

EXPEDIENTE

No pouco tempo de que dispomos, quando encontramos as pessoas as conversas são quase sempre muito informais. Ou seja, fala-se um pouco de tudo, mas não se aprofunda em quase nada. E antes de se despedir as pessoas até dizem: “Precisamos nos encontrar, vamos marcar alguma coisa. Você precisa ir lá em casa”. O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos. Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin. Diretor Responsável Anísio Baldessin. Secretária Cristiana Baldessin Maina.

Trocam o número de telefone com a promessa e a certeza de que a visita para uma conversa mais demorada e sem compromisso acontecerá. No entanto, despedem-se, não agendam nada e vão se encontrar nem Deus sabe quando. E quando, raramente, o encontro acontece, ainda assim a conversa normalmente é atrapalhada pelo barulho da televisão que transmite um capítulo imperdível da novela, um filme, um jogo de futebol ou outro programa qualquer. E lá se vai, mais uma vez, a conversa por água abaixo. A desculpa é sempre a mesma: a falta de tempo. Porém, esquecemos que, quando temos tempo, não ficamos com a pessoa ou não sabemos aproveitar o tempo que temos.

O TEMPO NA VISITA PASTORAL AO DOENTE A falta de tempo que toma conta de nossas vidas também está presente na visita pastoral aos doentes. Aqui também temos a presença deste “inimigo”. Os profissionais da saúde vivem o drama do grande número de pessoas sob seus cuidados. Envolvem-se tanto com os cuidados e com os recursos terapêuticos que esquecem quase que completamente da pessoa. O doente deixa de ser sujeito e passa ser quase um objeto de cuidado. O agente de pastoral também é alguém muito ocupado. Pois, em geral, além de fazer pastoral da saúde exerce inúmeras funções na Igreja. Às vezes, até mais do que Revisora C. Peres Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola – Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 3.500 exemplares.

poderia e deveria. Por isso, quando vai visitar os doentes e/ou levar comunhão está sempre apressado. A exemplo do que acontece com o profissional da saúde, o agente de pastoral acaba se envolvendo tanto com a assistência espiritual e com os sacramentos que esquece a assistência humana e solidária ao doente.

ENCONTRANDO TEMPO Como fazer isso? Não é fácil. Porém, não é impossível. Basta programar e aproveitar bem o pouco tempo que se tem. Embora não seja novidade para muita gente, penso que não é demais repetir um velho dito popular que diz: “Quer pedir algo para alguém, peça para aquele que já tem muitas atividades. Pois aqueles que não têm nada pra fazer nunca têm tempo”. Vejamos um exemplo concreto. O melhor exemplo de que é possível encontrar tempo é Jesus Cristo. Sua missão, segundo relatos bíblicos, durou apenas três anos. Durante esse pequeno espaço de tempo, Ele simplesmente revolucionou o mundo inteiro com sua maneira de pensar, falar e agir. Estava sempre rodeado de pessoas e quando elas não iam ao seu encontro, Ele próprio ia ao encontro delas. Embora nunca tenha se preocupado em reunir grandes multidões e encher estádios ou praças, sabia, como ninguém, aproveitar bem os momentos em que tinha a oportunidade de estar com as pessoas. Foi assim com os discípulos de Emaús e com a samaritana. Quanto tempo despendeu com cada um? Não importa, o que importa é que quando Ele se encontrava com alguém, ficava, literalmente, com a pessoa.

O ESTAR COM O OUTRO Quando ministro cursos de pastoral da saúde é muito comum as Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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pessoas perguntarem: “Quanto tempo deve demorar a visita”? A resposta é: “Depende”. A visita pode ser longa, média ou curta. Tudo vai depender das necessidades do doente, da maneira como ele nos receber e ainda da metodologia do agente para conduzir a conversação. Porém, é sempre importante ter presente dois fatores: 1) a pessoa com a qual estamos conversando, naquele momento, é sempre a mais importante e necessitada. Fique com ela o tempo que for necessário; 2) se você não dispõe de muito tempo, como acontece na terapia com o psicólogo, estipule um tempo determinado. É melhor determinar um tempo do que ficar olhando o relógio na frente do doente. Portanto, quando você estiver com um doente, ainda que seja para uma rápida visita, o segredo não é, em primeiro lugar, fazer algo por ele, mas estar com ele. Pois estando com ele você poderá fazer algo por ele. O agente e/ou profissional da saúde poderá dizer: “É, mas isso leva tempo!” É verdade. Mas um exemplo pode nos ajudar. Quando o enfermeiro toma o pulso do paciente para controlar os batimentos cardíacos, ele demora um minuto. Ele pode fazer este procedimento olhando e voltado para o doente ou simplesmente virado para o lado. O tempo gasto vai ser o mesmo. No entanto, se ele fizer este procedimento voltado para o doente demonstrará que está, literalmente, com o doente. Portanto, para aqueles que trabalham na pastoral da saúde e que, devido à falta de tempo, precisam fazer rápidas visitas aos doentes, aqui vai um conselho, resultado da prática pastoral: a visita rápida pode ser tão benéfica e importante quanto a longa. Depende da maneira como você a faz. Pois uma visita sempre causa bem-estar para a pessoa. Alguém já disse que nós esquecemos, facilmente, muitos acontecimentos de nossa vida. Porém, jamais esqueceremos as experiências vividas no hospital e principalmente as visitas que recebemos. Mesmo que sejam rápidas. ANÍSIO BALDESSIN é padre camiliano, capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

VII CONGRESSO DE PASTORAL DA SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL Nos dias 17 e 18 de julho foi realizado em Porto Alegre o VII Congresso de Pastoral da Saúde do Rio Grande do Sul. Como tem acontecido todos os anos, exceto no ano passado, o congresso foi realizado em parceria com o Centro Educacional São Camilo de Porto Alegre, a Conferência Religiosa Brasileira (CRB), com a Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB e com o Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde. Além dos mais de 300 participantes, estiveram presentes, Dom Dadeus, arcebispo de Porto Alegre, Dom Clemente Weber, padre Agostinho Sauthier representando a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Pe. Leo Pessini, superintendente da União Social Camiliana, Dr. André Luís de Oliveira, Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB e Pe. Anísio Baldessin, diretor do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde. Agradecemos a presença de todos e principalmente dos que trabalharam na organização de mais este evento.

IV CONGRESSO DE PASTORAL DA SAÚDE DE FORTALEZA Nos dias 31 de julho e 1o de agosto foi realizado em Fortaleza – CE, o IV Congresso de Pastoral da Saúde de Fortaleza. O evento foi promovido pela Sociedade Beneficente São Camilo com apoio do Hospital Cura D’Ars de Fortaleza em parceria com a Pastoral da Saúde da Diocese de Fortaleza. O congresso, além da participação dos agentes, contou com a presença do Provincial da Província Camiliana Brasileira, Pe. José Maria dos Santos, e Pe. Anísio Baldessin.

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APRENDA A ESCUTAR ROBERTA ISRAELOFF

O que todos desejamos quando estamos nos sentindo deprimidos, agitados ou loucamente felizes é encontrar um amigo que pareça ter todo o tempo do mundo para nos ouvir.

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ocê sabe ouvir… de verdade? Meus sogros tinham acabado de chegar a Nova York, após uma angustiante viagem da Flórida, onde passaram o inverno. “Da primeira vez que o carro parou, estávamos na Carolina do Norte”, contou minha sogra ao telefone. “Mandamos consertá-lo, mas o motor pifou outra vez em Delaware. O pior, porém, aconteceu na ponte Verrazano, na hora do rush. Parecia que nunca chegaríamos em casa”. “Que horrível!”, exclamei, pronta para começar minha própria história de terror: um carro enguiçado às 21h30 no estacionamento deserto de um shopping center. Mas alguém bateu à porta e ela teve de se despedir. “Obrigada por me ouvir”, disse ela. “E obrigada principalmente por não ter me contado uma historia de carro ainda pior.” Com o rosto em brasa, desliguei o telefone. Nos dias que se seguiram peguei-me refletindo sobre a sabedoria daquelas últimas palavras. Não consigo contar o número de vezes que comecei a reclamar de uma briga com meu filho, uma decepção profissional ou até mesmo de problemas com o carro e uma colega me interrompeu dizendo: “O mesmo acaba de acontecer comigo”. E, de repente, passamos a falar do filho ingrato dela, do chefe insuportável dela, do vazamento no tanque de combustível dela. E só me resta concordar com a cabeça nos momentos certos, perguntando-me se teríamos todos sido acometidos de um

sério caso de déficit de atenção emocional. É fácil perceber como essa pseudo-empatia “sei como você se sente e posso provar isso” às vezes se confunde com a verdadeira empatia. Não há nada mais natural do que tentar acalmar um amigo transtornado com garantias de que ele não está só. Mas as calamidades assemelham-se apenas a distância; de perto, são tão únicas quanto impressões digitais. O marido de sua amiga perdeu o emprego, assim como o seu, mas não há duas famílias que tenham contas bancárias idênticas, indenizações ou planos de emergência iguais. Dizer “entendo sua dor” também pode ser um prelúdio para oferecer conselhos: “Ouça o que eu fiz e o que você deve fazer”. Mas quando você leva três vezes o tempo

normal para cobrir um trajeto ou seu filho tem febre alta no meio da noite, você quer mesmo saber como sua amiga enfrentou a situação parecida? Claro que não. O que todos desejamos quando estamos nos sentindo deprimidos, agitados ou loucamente felizes é encontrar um amigo que pareça ter todo o tempo do mundo para nos ouvir. Essa capacidade de estar ao lado de uma pessoa na dor ou na alegria é pedra angular da verdadeira empatia. Felizmente, essa é uma habilidade fácil de aprender. Desde a conversa que tive com a minha sogra, por exemplo, venho reprimindo o impulso de interromper minhas amigas quando elas querem se abrir comigo. Estou aprendendo a trilhar o caminho aberto pela outra pessoa, prestando atenção à linguagem corporal, às expressões faciais, ao tom de voz e ao que não é dito. Também estou me tornando mais capaz de reconhecer e apreciar a empatia quando sou eu a beneficiária. Outro dia, liguei para uma amiga a fim de me queixar que estava nervosa e sem concentração. “Quer falar a respeito?”, perguntou ela. Assim, discorri sobre meus sentimentos durante algum tempo. Por fim, eu lhe agradeci a atenção em me ouvir e perguntei como ela estava se sentindo. “Podemos falar sobre mim amanhã”, foi a resposta. Isso, sim, é empatia. Não é sempre que queremos respostas ou conselhos. Às vezes, só queremos companhia.


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NOTÍCIAS DO ICAPS E CNBB 쮿 No dia 15 de maio, Lirce Lamonier, Vice-Coordenadora Nacional da Pastoral da Saúde, esteve na cidade de Formosa – GO, participando do I Seminário de Pastoral da Saúde, organizado pelo Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde, Beneficência Camiliana em parceria com a pastoral diocesana.

쮿 No dia 22 de junho, Dr. André Luís de Oliveira, Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, esteve na cidade de Cachoeiro de Itapemirim – ES, ministrando palestras para funcionários, estudantes e professores do Centro Universitário São Camilo daquela cidade.

쮿 Nos dias 15 e 16 de maio, Dr. André Luís de Oliveira, Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde, juntamente com Celene Maria de Oliveira, assessora científica da CNBB, estiveram na cidade de Bebedouro, interior de São Paulo, para dois dias de formação para agentes de pastoral, ministros da eucaristia e visitadores de doentes.

쮿 No dia 24 de junho, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Itabira – MG, participando como palestrante do V Encontro de Pastoral da Saúde da diocese de Coronel Fabriciano. O encontro foi promovido pela Sociedade Beneficente São Camilo, pelo Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde, pelo Hospital Carlos Chagas de Itabira e pela coordenação diocesana da Pastoral da Saúde.

쮿 Nos dias 5 e 6 de junho, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Recife – PE, animando um encontro de Pastoral da Saúde. Estiveram presentes agentes de Pastoral da Saúde, ministros da eucaristia e visitadores de doentes. 쮿 No dia 5 de junho, à tarde, o religioso camiliano e estudante de teologia Mário Kozik esteve na cidade de Jacareí, interior de São Paulo, ministrando palestra para agentes de Pastoral da Saúde que fazem visitas aos doentes em hospitais e domicílios. 쮿 Nos dias 19 e 20 de junho aconteceu, em Uberlândia – MG, o III Congresso Científico de Bioética da Pastoral da Saúde, que teve como tema central Bioética, ética e moral. O congresso, organizado pela Pastoral da Saúde da diocese de Uberlândia, com mais de 300 participantes, contou com a colaboração do Centro Universitário São Camilo e do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde (ICAPS).

쮿 No dia 26 de junho, padre Anísio Baldessin e o Dr. André Luís de Oliveira estiveram na cidade de Timóteo – MG, participando como palestrantes do VI Encontro de Pastoral da Saúde da Diocese de Coronel Fabriciano. O encontro foi promovido pela Sociedade Beneficente São Camilo, pelo Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde, pelo Hospital de Timóteo e pela coordenação diocesana da Pastoral da Saúde. 쮿 No dia 27 de junho, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Resplendor – MG, participando como palestrante do VI Encontro de Pastoral da Saúde da Diocese de Governador Valadares. O encontro foi promovido pela Sociedade Beneficente São Camilo, pelo Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde, pelo Hospital Nossa Senhora do Carmo e pela coordenação diocesana da Pastoral da Saúde. 쮿 Nos dias 2 e 3 de julho, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Macapá – AP, participando como palestrante do IV Congresso de Humanização e Pastoral da Saúde promovido pela Sociedade Beneficente São Camilo, pelo Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e pela Pastoral da Saúde daquela diocese. 쮿 No dia 04 de julho, Dr. André Luís de Oliveira, Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, esteve na cidade de Presidente Prudente, interior de São Paulo, animando um encontro diocesano de pastoral da saúde daquela cidade. 쮿 No dia 4 de julho, Pe. Tadeu Ávila Reis esteve na cidade de Franca, interior de São Paulo, animando um dia de encontro da Pastoral da Saúde daquela diocese. Além da presença maciça dos agentes de Pastoral da Saúde, esteve presente também Dom Diógenes, bispo diocesano.


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EPILEPSIA SEM TABUS JULIANA BORGA

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que teriam em comum o escritor Machado de Assis, o imperador romano Júlio César, Alexandre, o Grande. e Dom Pedro I? Inteligência? Coragem? Ousadia? Não! Todos eles eram portadores de epilepsia. Quer prova mais concreta de que esta não é uma doença incapacitante? A epilepsia é a condição neurológica de maior freqüência no mundo. Só no Brasil são cerca de 3 milhões de pessoas portadoras desta condição, caracterizada por crises causadas pelo mau funcionamento do cérebro. “A pessoa portadora de epilepsia possui disfunção transitória num grupo de neurônios que temporariamente pode funcionar de maneira errada. Fazendo uma analogia, é como se o cérebro possuísse uma fiação elétrica que sofreu um curto-circuito”, explica o neurologista Li Li Min, professor do departamento de neurologia da Universidade de Campinas e presidente voluntário da Aspe (Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia). Metade dos portadores de epilepsia teve suas crises iniciadas na infância ou na adolescência. A disfunção é mais freqüente na região rural e nas periferias urbanas. Suas causas estão diretamente ligadas às más condições de higiene, à desnutrição, ao precário atendimento à saúde e à falta de atenção médica ao parto e à gestação. Entretanto, acidentes vasculares, traumatismos e tumores cerebrais também podem causar epilepsia. A forma mais conhecida da doença é a que se caracteriza pelas crises em que a pessoa perde a consciência, cai no chão e se debate. “Este tipo de crise responde por cerca de 50% das crises totais. Existe, porém, vários graus de epilepsia e muitas crises passam despercebidas. Há pessoas que perdem o controle do movimento das mãos, outras entram em transe, todavia continuam realizando suas atividades e algumas passam a ter um comportamento bizarro, sendo até tachadas de loucas”, comenta o neurologista. A falta de conhecimento e informação sobre a doença faz com que o portador de epilepsia sofra preconceitos, principalmente na hora de procurar emprego. Para melhorar o entendimento da epilepsia, fortalecer os serviços de saúde e lutar contra a discriminação e o estigma da doença, foi criada a Aspe, uma ONG (Organização Não-Governamental) que tem como missão melhorar a qualidade de vida e promover a saúde biopsicossocial das pessoas com epilepsia. O estereótipo do portador de epilepsia na sociedade é de alguém que tem retardo mental e é incapaz de desenvolver alguma atividade. “Isso está completamente fora de propósito, já que as crises podem ser controladas pro meio de medicamentos disponibilizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Tomando a medicação de maneira correta, em cerca de 80% dos casos a pessoa tem o controle sobre a disfunção”, afirma Dr. Li. O tratamento tem duração mínima de dois anos e uma pequena parcela dos casos precisa passar por cirurgia. “São feitos vários exames por uma equipe multidisciplinar e a cirurgia só é realizada em centros especializados e credenciados pelo Ministério da Saúde. Cerca de 80% a 90% das pessoas que são operadas ficam livres das crises”, completa.

QUEBRANDO TABUS A epilepsia não pega! A saliva, chamada por muitos de baba, escorre da boca na hora da crise, mas não há nenhum risco de contágio através do contato com ela. “Nunca havia presenciado uma crise. A pessoa caiu no meu colo e a sorte foi que, de tão assustado, fiquei sem reação, mas lembro muito bem das pessoas em volta gritando: ‘Sai daí, isso pega!’” comenta o voluntário do Departamento de Comunicação da Aspe, André Luiz Prezzi. Ao presenciar uma crise, a orientação é colocar algo macio embaixo da cabeça da pessoa e afastar objetos perigosos para ela não se ferir. Vire a cabeça dela a fim de o lado para que a saliva flua e não dificulte a respiração. Fique a seu lado até que a respiração volte ao normal e ela se levante. Não tente desenrolar a língua e não introduza objetos em sua boca. O ideal é manter-se calmo e tranqüilizar os demais. Após a crise, a pessoa pode ficar confusa e com sono, por isso é bom que se procure ajuda médica. Se a crise durar mais de 15 minutos ou se a pessoa não se recuperar, é necessário encaminhá-la com urgência ao pronto-socorro. Depois que se informou sobre epilepsia, André Prezzi pôde ajudar um menino a controlar suas crises. “O pai batia muito em sua cabeça e ele sofria crises constantes. Ele cresceu ouvindo o pai falar que ele era filho do demônio e por isso não estudava nem trabalhava. Estabeleci um relacionamento com a família e, já durante o tratamento, ele conseguiu um emprego numa empresa de sua cidade”, lembra. A quebra dos tabus em torno da epilepsia é o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas que, se tiverem uma assistência adequada, podem ter uma vida normal e saudável. “Somam-se aos 3 milhões de pacientes cem mil novos casos de epilepsia a cada ano no Brasil. Por isso, existe a necessidade de essa situação ser encarada como um problema de saúde pública”, acredita Dr. Li Li Min.


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CÂNCER SOB CONTROLE ROBERTA VIGANÓ O câncer, assim como qualquer outra doença, está 50% ligado a hábitos de vida, 20% à parte genética, 20% à exposição a fatores de risco e 10% à acessibilidade aos serviços de saúde. A tradução desses números, apontada pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC), é simples: 50% do desenvolvimento de uma doença está em nossas mãos e pode ser evitado com alimentação adequada, prática de exercícios, baixo nível de estresse e o hábito de não fumar ou beber. Outra pesquisa, divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), revela que apenas um terço dos diagnósticos de câncer está fora de controle. Um terço poderia ser evitado e outro terço, curado. Mesmo com esses dados, o número de mortes em decorrência dessa doença maligna ainda é enorme. Nos países desenvolvidos, o câncer representa a segunda maior causa de óbitos, só perdendo para as doenças cardiovasculares. Atualmente, somam-se mais de 200 tipos de câncer. Apesar de todos resultarem no crescimento autônomo e desordenado de uma pequena parte do organismo, cada um deles é tratado de forma diferenciada, conforme a região do corpo. Entretanto, para qualquer tipo de câncer, o melhor remédio ainda é a informação em prevenção e em detecção precoce. “Se uma mulher está acostumada a fazer o auto-exame de mama (sempre no décimo dia) desde a primeira menstruação, aos 30 anos ninguém melhor do que ela saberá reconhecer qualquer anomalia nos seios. E as chances de cura, nesse caso, para um diagnóstico feito logo no início são de 90%”, afirma Gisele Brandt, 36, fisioterapeuta e secretária-executiva do Day Care desde 2000. O câncer não escolhe idade para aparecer. Quanto maior a sintonia com o próprio corpo, mais fácil será reconhecer uma alteração: ferida,

pinta, mancha ou até uma afta que está na boca há mais de uma semana. “É preciso estar de olho e procurar o médico a qualquer sinal de anomalia”, completa Gisele.

ATIVIDADES PREVENTIVAS Segundo a OMS, 70% dos pacientes com câncer podem ser curados quando a doença é diagnosticada precocemente. No Brasil, infelizmente, a realidade é inversa: 70% dos casos são diagnosticados em fase avançada, dificultando muito o tratamento e a cura. Isso deve-se em grande parte à insuficiência de programas de prevenção e detecção precoce. “Campanhas sobre atividades preventivas custam muito mais barato do que os tratamentos curativos. É nisso que precisamos focar e investir”, explica a secretária-

executiva do Day Care. O Instituto de Suporte e Informação em Oncologia tem como meta levar às escolas paulistas, principalmente às públicas, um programa de prevenção e detecção precoce. O foco são adolescentes de 15 a 18 anos, idade em que estão sedentos por informações. “Queremos ensinar que, da mesma forma que não se deve beber água da rua, devido ao acúmulo de bactérias e impurezas, não é legal fumar (um cigarro contém mais de 40 substâncias cancerígenas), deve-se ter higiene íntima, lavar muito bem os alimentos (tirar acúmulo de agrotóxicos) e dar preferência à ingestão de frutas e sucos naturais (não contêm corantes)”. Um pré-piloto foi realizado em dez escolas de São Paulo, com o apoio da Pharmacia, um laboratório farmacêutico americano. Com duração de quase duas horas, as crianças assistiram a um filme sobre hábitos saudáveis, ouviram uma hora de palestra e tiveram meia hora para perguntar e esclarecer dúvidas. “Deu super certo, e queremos dar continuidade ao programa”, concluiu Gisele.

FIQUE DE OLHO INFORMAÇÃO • A qualquer alteração física em seu organismo, como manchas, pintas, ferimentos ou fadiga excessiva, procure o médico. ALIMENTAÇÃO • Dê preferência aos alimentos naturais e orgânicos, que não contenham agrotóxicos, corantes e conservantes; lave muito bem as frutas, verduras e os legumes antes de ingeri-los. Faça uma dieta equilibrada, variando e combinando água, proteínas, gorduras, doces, vitaminas e sais minerais. EDUCAÇÃO • Tenha hábitos saudáveis, como dormir bem e fazer atividades físicas, que aumentam a capacidade imunológica do organismo. AUTO-EXAME • Segundo a Organização Mundial da Saúde, 70% dos pacientes com câncer podem ser curados quando a doença é diagnosticada precocemente. Faça sempre o auto-exame de pele, boca, testículos e mama. HIGIENE • Sabe-se que um dos motivos do desenvolvimento do câncer de pênis está associado à higiene precária e ao comportamento sexual de risco. TABACO • O cigarro tem a capacidade de inibir a função filtradora dos cílios do aparelho respiratório. Portanto, além de inalar a nicotina e as outras substâncias cancerígenas do tabaco, a pessoa respira todas as impurezas existentes no ar. ÁLCOOL • O álcool potencializa a ação do cigarro. Não há nada pior do que fumar e beber ao mesmo tempo.


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MALÁRIA DA BOCA PARA FORA MARCELO LEITE

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virtual pesa cada vez mais que o real. No caso da malária, doença que só mata gente pobre e escura, governos e cidadãos de países ricos devem achar que podem dormir com a consciência leve, pois estariam fazendo muito para livrar o mundo de sua segunda doença mais letal (a primeira é a Aids). A malária mata mais de 100 milhões de pessoas por ano, 90% delas na África, 70% de mulheres e seus filhos. São 3.000 crianças africanas mortas por dia. A consciência dos doadores politicamente corretos pode estar tranqüila porque, afinal, os países ricos apoiaram a iniciativa Roll Back Malária (RBM, algo como “Faça a Malária Recuar”), da Organização Mundial da Saúde. A meta do programa RBM é cortar pela metade as mortes até 2010, e de novo pela metade daí até 2015. Foi também com pompa e circunstância, além das melhores intenções, que a nata da intelectualidade tecnocientífica anunciou em outubro passado a finalização do seqüenciamento dos genomas do principal parasita causador das mortes pela doença, o Plasmodium falciparum, e do mosquito transmis-

sor mais comum na África, o Anopheles gambiae. Leitura obrigatória na elite cosmopolita da pesquisa, as revistas científicas mais famosas do mundo, Nature e Science, publicaram na ocasião 34 artigos de 168 autores. Não faltaram entrevistas coletivas. Todos deram um lustro adicional aos próprios currículos. Também sabiam todos, com conhecimento de causa, que isso pouco ou nada contribuirá para acuar a malária nos próximos anos. Não é preciso biologia molecular para controlar plasmódios e anofelinos, mas remédios eficazes e uma tecnologia de baixíssima intensidade: mosquiteiros tratados com inseticida. Coisa simples de fazer, mas que não rende capa de revista. Os dois genomas até que saíram barato, US$ 15 milhões, perto do custo projetado para que o RBM alcance a meta de cortar pela metade as mortes até 2010: de US$ 1,5 bilhão a US$ 2,5 bilhões anuais. Montado na popularidade midiática do DNA, até que é fácil imprimir na opinião pública internacional a convicção de que algo está sendo feito, e algo especial, ultratecnológico, com

a precisão e a eficácia patibulares associadas à genética. A realidade é bem outra e também se mede em dólares. Segundo levantamento demolidor de Vasant Narasimhan e Amir Attaran, da Universidade de Harvard, o dispêndio anual real dos 23 países mais ricos não passa de US$ 100 milhões anuais (ou 0,0004% do PIB somado dessas nações). Pior, só 37% vão para a África, onde ocorrem 90% das mortes. O estudo saiu numa publicação científica de acesso aberto, Malaria Journal (www.malariajournal.com/ content/pdf/1475-2875-2-8.pdf). O ataque mais ferino da dupla foi assestado contra o benevolente Banco Mundial, que em abril de 2000 assumiu o compromisso público de investir US$ 500 milhões para combater a malária na África, mas que nos últimos três anos teria desembolsado US$ 10 milhões. Não é de estranhar, assim, que só 15% das crianças africanas estejam indo para a cama com mosquiteiros e, menos ainda, 3% sob filó impregnado com inseticida. Estas, sim, podem dormir com as consciências tranqüilas, assim como os outros 97% desamparados por um público afluente que financia fantasias necrófilas como Titanic, mas não comparece com metade de seu valor para salvar vidas de verdade com pedaços de pano. MARCELO LEITE é editor de ciência do jornal Folha de São Paulo. Artigo extraído do Caderno Mais de dia 11 de maio de 2003.

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