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Informativo 12345 12345

❒ PASTORAL

❒ BIOÉTICA

MORRER CEDO DEMAIS? EVALDO D’ASSUMPÇÃO

A morte é parte essencial da existência. Morremos porque vivemos. E o tempo da morte não é cedo nem tarde. Ela simplesmente é. Morrem idosos, morrem adultos, morrem crianças. Este é o ciclo da vida de que nenhum ser vivo escapa.

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a mitologia grega, o princípio de tudo era o caos, o abismo insondável. Do Caos, nasceu Gaia (a terra), Tártaro (as regiões profundas), Eros (o amor) e Nix (a noite). Gaia gerou Urano, que fecundava continuamente, e entre seus filhos estava Cronos (o tempo), que é, ao mesmo tempo, gerador e “elevador”. Ele cria, ele eleva. De Nix nasceram, entre outros, Éter (o céu superior, onde a luz é mais pura), Gueras (a velhice), as Moiras (que teciam o fio da vida, sorteavam os que iam morrer e executavam a sentença), Hipnos (o sono) e Tânatos (a morte). Em que pese a ficção que é a mitologia, ela nos traz ensinamentos fundamentais para entendermos os grandes mistérios da vida. Cronos, Éter, Gueras e Tânatos se entrelaçam durante toda a nossa vida. Contudo, presos ao espaço e ao tempo que nos limita e controla

toda a nossa existência, temos enormes dificuldades para compreender a transcendência do nosso próprio ser.

SÓ ILUSÃO Colocamo-nos inexoravelmente dentro do espaço limitado e do tempo, seqüência implacável. Numa tentativa de nos libertar deste julgo irresistível, criamos fantasias que, por sua persistência e consistência em nossa realidade tempo-espacial, aparentemente deixam de ser fantasias, ilusões, quimeras e tornam-se realidades completas. Passamos nossa vida medindoa pelo espaço que ocupamos e pelo tempo que vivemos. Chamamos de jovem quem está entre os 10 e os 20 anos, chamamos de adulto os que passaram dos 30, mas não alcançaram os 60, e de anciãos, os que vivem 60, 70 anos ou mais.

❒ HUMANIZAÇÃO

Ainda nessa fantasia (Buda chamava todas as nossas fantasias de maia, que significa ilusão), estabelecemos que a morte é algo destinado aos velhos. Até criamos a expressão “pé-na-cova” para defini-los. Como se somente os idosos morressem… Voltemos a Buda: ilusão! Vamos à Bíblia: Jesus aponta a ilusão do fazendeiro abarrotado: “Pobre tolo! Esta noite a morte levará a tua alma!” (Lc 12,20). Se voltarmos à Idade Média, ficaremos surpresos com reis que lideraram países e exércitos com 20 anos (ano 1032)… Que representa o tempo, senão ilusão? Ficamos pensando em tudo isso quando vemos uma criança, tão nova em nossa perspectiva iludida do tempo, sendo vítima de um acidente e perdendo a vida. Ficamos chocados, revoltados contra o absurdo de tal fato.

A DOR DA PERDA Numa cidade no interior de Minas Gerais, a população vive isso agora com a trágica morte de Matheus, garoto de 10 anos que, brincando num outdoor com sua mochila às costas, caiu e se enforcou em suas alças. Como negar a dor que dilacera o coração de pais, irmãos, parentes e amigos, quando a ilusão se torna realidade? Como enxugar as lágrimas tão legítimas de quem contempla estarrecido tal violência em suas vidas? O sentimento da perda não tem lógica nem regras. Ele é. Ele machuca. Ele causa dor. E só quem o está vivendo é capaz de compreender sua extensão. Por isso ele não precisa de consolo e sim de


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solidariedade, de alguém que seja capaz de chorar junto em vez de sugerir o parar de chorar. Nada significa o consolo de quem diz: “Seja forte!”, “Aceite a vontade de Deus” ou coisas semelhantes, totalmente sem sentido para quem sofre. Ser forte como? Que vontade divina é esta que devo aceitar, se nenhum Deus amor, este é o Deus em quem acredito, é capaz de fazer tamanha crueldade? Não. Deus não quis nem nunca desejou nenhum mal, por menor que fosse, a seus filhos. Não há castigo vindo de Deus. Se o mal existe, ele provém de nossas próprias ações. Como diz a sabedoria popular: “Quem planta vento colhe tempestade”. Mas… e quando não plantamos vento? Por que colhemos terríveis tempestades? Buscamos explicações, fazemos atribuições, nada mais do que multiplicação de nossas fantasias e ilusões.

TEMPO DA MORTE

EXPEDIENTE

A morte é filha da noite, irmã da vida, prima do amor. A morte é parte essencial da existência. Morremos porque vivemos. E o tempo da morte não é cedo nem tarde. Ela simplesmente é. Morrem idosos, morrem adultos, morrem crianças. Este é o ciclo da vida de que nenhum ser vivo escapa. Sofremos muito porque queremos possuir demais. Somos apegados porque imaginamos o apego a forma mais exata de amar. Mais uma ilusão. Ninguém pertence a ninguém, senão a nós mesmos e àquele que nos criou. Ele, que está fora do tempo, e por isso tem um dia como mil anos (2Pd 3,8). Fora do tempo não há jovens, adultos O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos. Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin. Diretor Responsável Anísio Baldessin. Secretária Cristiana Baldessin Maina.

ou idosos, só existe a imortal individualidade onde todos são iguais, nem mais jovens nem mais velhos, por não haver tempo nem espaço. Realidade incompreensível para nós, ainda temporais e espaciais. Difícil entender e, até mesmo, acreditar. Mas é a verdade. A única verdade! Matheus partiu muito cedo, para nossa dimensão de tempo. Mas, em Deus, no final, todos nós nos encontraremos; ele não é jovem nem velho. Ele é. Agora, em caráter definitivo. Sem dores, sem sofrimentos, sem pesares nem arrependimentos. Ele está na plenitude que todos nós, bem no fundo de nosso coração, desejamos. Mas que, na superficialidade de nossos pensamentos e de nossa razão, rejeitamos.

Aos que ficaram, resta viver a dor. Que não é infinita. “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”, ensina o povo. Sábio povo que tudo sabe! Cronos (o tempo) criou a dor, devorará a dor com certeza. E a saudade dolorosa de hoje continuará saudade, porém transformada numa saudade gostosa. Cronos se encarregará da transformação. Por enquanto, é necessário viver a dor, expressá-la, pois sem expressão ela vira depressão. E depressão mata. Viver no tempo, morrer e só então viver eternamente. Esta não é uma ilusão. É a realidade que Cristo nos ensinou: só no Pai viveremos para sempre! EVALDO A. D’ASSUNÇÃO é médico cirurgião e tanatólogo.

ESTILO DE VIDA DETERMINA LONGEVIDADE “A atuação do médico e a assistência têm menos importância do que se imagina para a vida humana”, declarou o doutor Fernando Lucchese, cardiologista, na palestra de encerramento do II Simpósio de Aconselhamento da EST, na tarde de 14 de novembro de 2003. “É o estilo de vida das pessoas que determina, em 53%, os fatores de prolongamento da vida”, acrescentou Lucchese, diretor do Hospital São Francisco, do complexo da Santa Casa de Porto Alegre. Entre os mais importantes fatores que prolongam a vida, o meio ambiente ocupa o segundo lugar, com 20%; a genética está em terceiro, com 17%; e a assistência médica em quarto e último lugar, com 10%. Portanto, insistiu o cardiologista, importa fundamentalmente a preocupação com o estilo de vida, visando ao corpo, à mente e ao espírito sãos. De acordo com Lucchese, as três grandes epidemias da atualidade são a arteriosclerose, a depressão e a neurose. “As doenças da alma são cada vez mais as maiores causadoras de doenças”, assegurou. “O maior trio maléfico é a raiva, a inveja e a vaidade, e o quarteto perigoso é a solidão, o pessimismo, o egoísmo e a depressão”.

Revisora Joseli N. Brito Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola – Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 3.500 exemplares.

Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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NOTÍCIAS DO ICAPS Campo Limpo, SP – No dia 16 de agosto, padre Anísio Baldessin iniciou, na Diocese de Campo Limpo, São Paulo, a pedido do Bispo Dom Emílio, um curso para agentes que farão visitas aos doentes em hospitais e domicílios daquela diocese. O curso, que acontece todas as segundas-feiras e desde o início conta com a participação de mais de 300 pessoas, tem seu final programado para o dia 18 de outubro. São José dos Campos, SP – Nas noites de 17, 18, 24, 25 e 31 de agosto, padre Anísio Baldessin, a pedido dos padres e diretores de instituições de saúde daquela região, esteve na cidade de São José dos Campos ministrando curso intensivo para visitadores de doentes. O curso contou com a participação de mais de 200 pessoas. Vale destacar que mais de 30 participantes eram de diferentes denominações evangélicas. Ribeirão Preto, SP – No dia 15 de agosto, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, participando da II Jornada da Liga de Assistência Médico-social, organizada pelos alunos de medicina do Centro Acadêmico Rocha Lima e que teve como tema central Morte: valores e dimensões. A palestra do padre Anísio teve como tema O respeito à ortotanásia. Guaratinguetá, SP – No dia 22 de agosto, o diácono camiliano Rosivaldo Donizete Vieira e o clérigo camiliano e estudante de teologia Mário Kozik estiveram na cidade de Guaratinguetá, interior de São Paulo, ministrando um dia de formação para os agentes de Pastoral da Saúde, ministros da eucaristia e visitadores de doentes. Itapipoca, CE – No dia 27 de agosto, padre Anísio Baldessin esteve em Itapipoca, interior do Ceará, participando, como palestrante, do encontro de Pastoral da Saúde organizado pelo hospital São Vicente de Paulo, pertencente à Sociedade Beneficente São Camilo, em conjunto com a diocese local. Oliveira, MG – Nos dias 28 e 29 de agosto, padre Anísio Baldessin e o clérigo camiliano e estudante de teologia Mário Kozik estiveram na cidade de Oliveira, interior de Minas Gerais, participando, como palestrantes, do encontro de Pastoral da Saúde daquela diocese. Estiveram presentes agentes de Pastoral da Saúde, visitadores e ministros da eucaristia. Mariana, MG – No dia 11 de setembro, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Mariana, interior de Minas Gerais, participando do IV Encontro de Pastoral da Saúde, organizado pelos hospitais

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Monsenhor Horta, de Mariana, e São Vicente de Paulo, de Itabirito, em conjunto com a diocese local. Bebedouro, SP – No dia 12 de setembro, o diácono Rosivaldo Donizete Vieira esteve pela manhã na cidade de Bebedouro, interior de São Paulo, ministrando palestras sobre relação de ajuda e visita aos doentes para agentes de Pastoral da Saúde, ministros da eucaristia e visitadores de doentes. Curitiba, PR – Nos dias 13 e 14 de setembro, os padres camilianos André Luís Giombelli e Anísio Baldessin e a irmã Lúcia Rochenbach estiveram na cidade de Curitiba, Paraná, dando um curso sobre políticas de saúde, a situação da saúde no Brasil e saúde alternativa para as irmãs catequistas franciscanas. São Paulo, SP – No dia 16 de setembro, padre Anísio Baldessin esteve pela manhã no Hospital Geral Pedreira, em São Paulo, que pertence às irmãs de Santa Catarina, ministrando palestras para os agentes de Pastoral da Saúde que futuramente desenvolverão atividades pastorais naquele hospital e em domicílios. São Paulo, SP – No dia 16 de setembro foi encerrado o curso intensivo de Pastoral da Saúde para visitadores de doentes e ministros da eucaristia na paróquia Santa Marina da Vila Carrão, em São Paulo. O curso foi promovido pelo Instituto Brasileiro do Controle do Câncer (IBCC) em conjunto com a paróquia Santa Marina da Vila Carrão e coordenado pela assistente social Stela. Agradecemos aos profissionais do IBCC e a todos os religiosos, padres e leigos que deram sua contribuição ministrando aulas no curso. Ponta Grossa, PR – No dia 18 de setembro, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Ponta Grossa, interior do Paraná, participando, como palestrante, do encontro de Pastoral da Saúde, organizado pelo hospital Vicentino, de Ponta Grossa, que pertence à Sociedade Beneficente São Camilo, pelo hospital Bom Jesus e pela coordenação diocesana da Pastoral da Saúde daquela cidade. São José do Rio Preto, SP – No dia 19 de setembro, o clérigo camiliano e estudante de teologia Mário Kozik esteve na cidade de São José do Rio Preto participando, como palestrante, do encontro de Pastoral da Saúde que foi organizado e dinamizado pela coordenação da Pastoral da Saúde daquela diocese. Candeias, BA – No dia 8 de outubro, padre Anísio esteve na cidade de Candeias, interior da Bahia, participando do II Encontro da Pastoral da Saúde, organizado pelo hospital Unidade Médica Integrada, que pertence à Sociedade Beneficente São Camilo, e pela Pastoral da Saúde local.


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A DIMENSÃO ESPIRITUAL NO PROCESSO TERAPÊUTICO ISABEL MARIA LOURENÇO

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or espiritualidade entendemos algo que dá sentido à vida, o que nos satisfaz e nos encoraja no dia-a-dia a encarar os contratempos e as vicissitudes terrenas, que nos ajuda a respeitar o próximo, a entendê-lo mesmo naquilo que muitas vezes não achamos correto. Procuramos orientá-lo no bom caminho e no viver cada dia o máximo de esperança e felicidade durante a nossa passagem na terra. Consideramos ainda a espiritualidade como um ponto fundamental para o bem-estar, que se obtém num conceito de saúde ideal ou holística, ou seja, ver o homem como um todo em seu corpo (estrutura física) e na mente (estrutura psíquica), bem como em seu transcendente (estrutura espiritual). Ao adoecer, o homem desligase de todas essas estruturas em que se integra; é seu corpo físico que deixa de funcionar adequadamente, mas seu espírito também fica abalado com a doença

física. Por essa razão, a dimensão espiritual deve ser valorizada e enquadrada com a merecida atenção no processo terapêutico, visando à recuperação do indivíduo, pois é nas situações de crise que o homem mais reflete e se debruça sobre o transcendente, sobre tudo o que ultrapassa ou que está além da morte. É nesse momento que o homem se questiona sobre sua vida terrena e sobre o que há além desta vida. Nas situações de crise a pessoa sofre e tem necessidade de ser compreendida, de ter esperança, de perdoar e ser perdoado, ou seja, de encontrar um significado para a vida e, desse modo, conseguir superar a crise.

A NECESSIDADE DE AJUDA Ora, este significado ou este sentimento para a vida não se pode dar a ninguém. Embora este sentimento deva ser encontrado pela

“Estive enfermo e me visitaste” (Mt 25,36) Jovem, você se sente chamado para ser PADRE ou IRMÃO CAMILIANO Escreva-nos: SEMINÁRIO SÃO CAMILO Rua Roque de Paula Monteiro, 245 – Jaçanã 02772-000 – São Paulo – SP FONE (11) 6243-1118

própria pessoa, alguém pode ajudá-la a encontrá-lo. É esse o papel fundamental que não só o assistente espiritual, mas também o profissional de saúde têm ao valorizar as necessidades espirituais do doente. Para uns pode ser na religião, para outros na família, para outros ainda nos amigos, nos próprios profissionais da saúde, na leitura ou na música. Mas para que essa ajuda seja dada, os assistentes espirituais e os profissionais de saúde deverão ter sua própria espiritualidade desenvolvida, ou orientá-lo e encaminhá-lo para quem possa ajudá-lo. Tudo isso passa pela humanização dos serviços de saúde, de que hoje tanto se fala e que pouco se valoriza na prática diária, mas que é tão apreciada pelos doentes. Para eles o que conta é o carinho, o sorriso, a escuta, a atenção e a compreensão que recebem, pois no dia-a-dia, os doentes sentem necessidade de valorização do homem como ser único e indivisível, que tem um corpo e um espírito, que, quando em desequilíbrio fisiológico é, muitas vezes, conseqüência do desequilíbrio psicológico ou espiritual e vice-versa.

O PAPEL DOS ASSISTENTES Os técnicos da saúde têm de valorizar o homem espiritual em sua recuperação, como complemento de todo o processo terapêutico aplicado à doença, quer pela aquisição de conhecimentos para melhorar o atendimento e a aplicação, quer aceitando a colaboração de vários tipos de medicina complementar, quer, ainda, trabalhando em conjunto. Para isso, é necessário que haja uma preparação acadêmica adequada para motivar os profissionais que em sua formação pessoal não possuem valores que os levem a respeitar o outro com dignidade. Deve ser redobrada na situação debilitante e de sofrimento, como é a doença.


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Será importante a formação dos profissionais de saúde na área das ciências humanas para uma melhor compreensão do homem. Paralelamente aos conhecimentos em autonomia, fisiologia, biologia etc., deverão estar presentes os conhecimentos em filosofia, sociologia, teologia etc., pois é considerando o homem um ser físico, psíquico, mental e espiritual que se vai entender a importância da espiritualidade no processo terapêutico. Mas para que este cuidado seja prestado, é necessário que se saiba o que é espiritualidade e quais as necessidades espirituais, por exemplo, necessidade de um significado para a vida, necessidade de amor e relacionamento, necessidade de perdão, de esperança e outras que são importantes para se prestar um cuidado completo.

NECESSIDADES ESPIRITUAIS Estas necessidades, bem como o conceito de espiritualidade, vão se modificando ao longo da vida de cada ser humano, sendo diferente seu conceito nas várias etapas da vida de cada um. A razão da pouca valorização espiritual tem a ver, de certa forma, com a perda dos valores humanos, com a dessensibilização da sociedade pelos valores da vida, que se têm perdido nas sociedades industrializadas e materialistas, valorizando-se mais os prazeres terrenos que os espirituais. Podemos considerar que temos duas vidas: uma interior e outra exterior. Por exemplo: no meio hospitalar, há o médico e o enfermeiro que cuidam do doente, prestandolhe todos os cuidados necessários à sua recuperação, da avaliação diagnóstica à administração terapêutica. Cuidam de sua vida exterior. Mas depois outra pessoa (o capelão, uma visita, o voluntário, o próprio médico ou enfermeiro) vem sentar-se à cabeceira do doente e passa com ele meia hora, não diz grande coisa, mas o doen-

te, quando ela sai, fica consolado e conformado. É disso que muitas vezes o doente em sofrimento moral necessita. Ou seja, de alguém que o ouça, que esteja atento a suas emoções e a seus sentimentos. Quantas vezes mais importante que toda terapêutica administrada, e mesmo para esta terapêutica fazer efeito, é a palavra amiga, a paciência para ouvir, que toda tecnologia moderna tem quebrado.

A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA Hoje não paramos para pensar, para refletir, para ouvir o outro, estamos demasiadamente ocupados, absorvidos pelos prazeres materiais. Para ajudar os doentes é necessário que o agente de pastoral e/ ou profissional da saúde prove de sua própria saúde espiritual. Por isso, é importante que conheça a si mesmo, reconhecendo suas próprias necessidades espirituais. Espiritualidade e religião, embora se equiparem, não são a mesma coisa e não se devem confundir. Da mesma forma, espiritualidade não deve ser entendida apenas como a prática ou não de religião. A espiritualidade inclui a religião, mas esta não inclui aquela,

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pois a espiritualidade não é uma questão de fé ou de acreditar em algo que oriente nosso caminho. Para atender às necessidades espirituais do doente, não há uma regra nem uma forma única, pois de acordo com sua variedade, como já dissemos, os recursos para satisfazê-las são diversos. E não são só os agentes que devem satisfazêlas e valorizá-las, mas também os profissionais. Estes, sendo os advogados do doente, devem ter a capacidade de avaliar suas necessidades e transmiti-las a outros, para que sejam satisfeitas. Em conversa com os doentes, ficou constatado que para atender às necessidades espirituais do doente, quando este o solicitava, é preciso não só o profissional, mas também o capelão (assistente espiritual) e a família. Por isso, é importante a integração do capelão (assistente espiritual) à equipe de saúde, com participação mais ativa no processo terapêutico, quando o doente o solicita, e é pertinente sua intervenção no processo da recuperação. Pois quem trabalha na saúde ou está em contato diário com o sofrimento, maior ou menor, sabe que a pessoa o sente de uma forma diferente, embora cada um tenha uma espiritualidade própria.


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DOENÇA DE ALZHEIMER O QUE HÁ PARA FAZER?

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doença de Alzheimer é uma doença neurológica freqüentemente associada ao envelhecimento. Quanto mais idosa a pessoa, maior sua chance de ter esta doença. Assim, entre os que têm de 65 a 70 anos, cerca de 5% a 8% sofrem da doença de Alzheimer, enquanto para as pessoas com mais de 80 anos este percentual pode chegar a 40%. Considerando-se o rápido envelhecimento de nossa população, este é um problema que vai adquirir cada vez maior peso. Hoje existem entre 850 mil e um milhão de pessoas com a doença de Alzhei-mer no Brasil, um número que deverá aumentar rapidamente. A doença de Alzheimer é a causa mais freqüente de demência — demência como o que popularmente se conhecia em outra época por “esclerose”. Existem outras causas de demência, como múltiplas isquemias cerebrais e outras doenças que degeneram o sistema nervoso central. Em outros tempos, fazer o diagnóstico diferencial da causa da demência não tinha importância prática, pois não havia tratamento específico para essas doenças. Hoje isso é importante no atendimento atual das demências, porque existem tratamentos específicos, inclusive para a doença de Alzheimer. Nesta doença há falta de um dos mensageiros químicos que atuam no aprendizado e na memória, a acetil-colina, que é produzida em pequena quantidade. Existem medicamentos que inibem a enzima que degrada a acetil-colina, de modo que a pequena quantidade produzida pode ser eficiente por mais tempo. O glutamato, outro transmissor neuronal, também está envolvido nos processos de aprendizado e memória, mas quando sua ação é excessiva pode ocasionar a morte de neurônios. Recentemente foi lançado um medicamento que pode reduzir sua atividade excessiva na doença de Alzheimer a níveis mais normais. Esses avanços mostram por que não há tempo a perder no diagnóstico da doença de Alzheimer, que deve ser o mais precoce possível.

A PREVENÇÃO Todos os que convivem com pessoas que têm a doença de Alzheimer se perguntam se há algum modo de prevenir esta terrível doença. Não existe nada, tanto em atitudes como em medicamentos, que possa tornar totalmente isento o risco da doença, mas há algumas medidas que podem diminuir a chance de seu aparecimento. Existem dois mecanismos básicos para isso: o primeiro é preservar a reserva cerebral; o segundo é, se possível, aumentá-la. Preservar a reserva cerebral significa preservar o cérebro, controlando adequadamente doenças que possam afetá-lo, como hipertensão, elevação de colesterol e diabetes; evitar substâncias que possam prejudicá-lo, como álcool e drogas ilícitas; manter uma boa circulação cerebral, praticando atividades físicas regulares. A perda de neurônios, um processo que faz parte do envelhecimento e que pode ser acelerado por diversas doenças, inclusive as já citadas, pode, pelo menos em parte, ser desacentuado pelo uso de antioxidantes, como vitaminas C e D e pela selegilina. A reserva cerebral depende, pelo menos em parte, da atividade intelectual e, de fato, na doença de Alzheimer, para níveis semelhantes de comprometimentos, pessoas com menor nível educacional mostram atrofia cerebral intensa. Adicionalmente, idosos que praticam atividades intelectualmente estimulantes, como xadrez e jogos de cartas, apresentam menor chance de desenvolver a doença de Alzheimer, que tende a aparecer mais tarde. Assim, ainda que não haja garantia de estar livre desta doença, muito pode ser feito para combatê-la, não mais se justificando uma atitude fatalista e passiva. Quanto mais cedo essas


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atitudes forem tomadas, mais efetivas serão. Não há tempo a perder. SINAIS QUE PRECISAMOS CONHECER 1. Perda de memória que afeta as relações pessoais — quando o esquecimento ocorre com mais freqüência sem que seja possível lembrar-se, por exemplo, de nomes, telefones, compromissos etc.; 2. Dificuldades em executar tarefas domésticas — quando atividades simples e rotineiras como acender e apagar o fogo do fogão são esquecidas, podendo oferecer risco; 3. Problemas com vocabulário — quando acontece o esquecimento de palavras comuns, podendo acontecer até a substituição por outras totalmente inadequadas; 4. Desorientação de tempo e espaço — quando ocorre dificuldade para localizar-se dentro da própria casa, em determinado cômodo ou ainda para localizar a própria casa na rua onde vive; 5. Incapacidade para julgar situações — quando existe diminuição ou perda do senso crítico, levando a pessoa a ter comportamentos não-usuais ou estranhos diante de outras pessoas; 6. Problemas com raciocínio abstrato — quando existe, por exemplo, dificuldade em entender e controlar o próprio dinheiro, talão de cheques ou cartão bancário; 7. Colocar objetos em lugares errados — quando, por exemplo, a pessoa guarda o relógio no açucareiro ou um ferro elétrico na geladeira. 8. Mudança de humor ou comportamento — quando se observam comportamentos de calma seguidos de choro ou sinais de raiva sem nenhuma razão aparente; 9. Mudanças na personalidade — quando, por exemplo, a pessoa demonstra medo, complexo de perseguição, desconfiança e/ou confusão; 10. Perda de iniciativa — quando a pessoa torna-se muito passiva, necessitando de estímulos para voltar a se envolver em alguma atividade.

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PARASITAS MAIS COMUNS E DOENÇAS QUE ELAS PROVOCAM Ascaridíase — A ascaris lumbricoides, conhecida como lombriga, é um dos vermes mais comuns no Brasil: vive no intestino das pessoas. Seus ovos são eliminados com as fezes do ser humano, contaminando o chão, as águas e os alimentos, que, por sua vez, contaminam outras pessoas quando comem esses alimentos, tomam essa água ou pisam descalços nesse chão contaminado. Esquistossomíase ou xistosa — O esquistossoma vive nas veias do fígado e instestino dos seres humanos. Os ovos saem com as fezes das pessoas e caem nas águas. Suas larvas abrigam-se em caramujos e depois penetram na pele do homem, provocando doença grave. Estrongiloidíase — O estrangilóide vive nas primeiras porções do intestino do homem, provocando sintomas semelhantes a úlcera ou gastrite. Penetra nas pessoas através da pele e seus ovos e larvas saem pelas fezes dos infectados, contaminando o solo e as águas. Oxiuríase — O oxiúros vive no intestino e põe seus ovos no ânus das pessoas, provocando coceira. A transmissão se dá através das mãos, de roupas e sanitários. Amebíase — A ameba é tão pequena que atravessa a vela do filtro de água. Nós a adquirimos através da água e/ou alimentos contaminados pelas fezes humanas. Vive em nosso intestino e provoca diarréia. Teníase e cisticercose — A Taenia Solium e a Taenia Saginata popularmente conhecidas como “solitárias”, vivem no intestino das pessoas e medem aproximadamente dois metros. Seus ovos saem com as fezes dos infectados e são ingeridos por porcos ou vacas, alojando-se em seus organismos. A carne de boi ou porco contaminada, conhecida como “canjiquinha”, não deve ser usada para alimentação. Mesmo a carne sadia deve ser muito bem cozida ou frita antes de ser consumida. As solitárias soltam pedaços de seus corpos nas fezes das pessoas. Ancilostomíase ou Amarelão — O ancilóstomo entra no corpo humano pela pele e vai para o intestino, onde se alimenta de sangue, provocando anemia e desânimo. Seus ovos são eliminados com as fezes humanas e contaminam o chão, as águas e verduras, e, assim, outras pessoas.

O QUE FAZER? Procure imediatamente seu médico quando desconfiar da presença de parasitas em seu organismo, pois só ele poderá indicar o tratamento adequado para seu caso.


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XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE

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oi realizado nos dias 5 e 6 de setembro, na cidade de São Paulo, o XXIV Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde, que teve como tema central Os novos desafios da Pastoral da Saúde. Seguindo essa temática, Dr. André Luiz de Oliveira, coordenador nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, na conferência de abertura fez uma exposição de como vai a Pastoral da Saúde no Brasil. Dom José Alberto Moura, bispo de Uberlândia, falou sobre a vigília social da água como um desafio e uma estratégia de cidadania. Izabel Calderon, coordenadora da Família Camiliana da Colômbia e membro da coordenação da Pastoral da Saúde daquele país, expôs a situação da família camiliana e da Pastoral da Saúde. À tarde, foi a vez do especialista em recursos humanos, Paulo Rogério, apresentar os desafios da Pastoral da Saúde

e do voluntariado no mundo moderno e fazer um relato histórico do voluntariado no mundo com ênfase na Pastoral da Saúde, iniciada pelos padres camilianos. Sobre o desafio de se fazer a Pastoral da Saúde por meio do silêncio falou a psicóloga Alessandra Vieira Santiago. No segundo dia, de acordo com a avaliação dos participantes, os temas: Pastoral da Saúde diante da morte no contexto hospitalar; comunicação como parte da humanização; competência, solidariedade e sensibilidade; experiência do Centro de Valorização da Vida (CVV); o agente de pastoral como esperança de cidadania e da vida; e despedir-se da vida com dignidade foram muito importantes e práticos. Os palestrantes do segundo dia foram: Bárbara Obeidi, Luciana Bertachini, Anísio Baldessin, Carlos Braga, Ana Cândida e Leo Pessini. O Congresso contou com a participação de mais de 650 pessoas provenientes de várias cidades do Brasil. Elas foram antecipadamente informadas de que o próximo congresso acontecerá nos dias 3 e 4 de setembro de 2005 em São Paulo. Nesta oportunidade, estaremos comemorando bodas de prata. Afinal, será o XXV Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde. Anote em sua agenda e venha celebrar conosco. Aproveitamos a oportunidade para agradecer à Província Camiliana Brasileira e principalmente à União Social Camiliana que, além de ceder o anfiteatro e o pessoal de apoio, patrocinou a confecção das pastas. Agradecemos também à Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB pelo apoio à parte científica e à escolha dos palestrantes.

Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde Fone (11) 3675-0035 e-mail: icaps@camilianos.org.br Av. Pompéia, 1214 A 05022-001 São Paulo, SP

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