12345 12345
Informativo12345 12345 12345 do Instituto12345 12345 12345 12345 Camiliano12345 12345 12345 de Pastoral12345 12345 12345 da Saúde12345 12345 12345 e Bioética12345 12345
12345 12345 12345 12345 12345 Dezembro de 200412345 12345 ANO XXII – no 22612345 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA12345
❒ PASTORAL
❒ BIOÉTICA
❒ HUMANIZAÇÃO
MIOPIA NA ASSISTÊNCIA PASTORAL AOS DOENTES ANÍSIO BALDESSIN
R
muitos começam a reclamar ecentemente tive a opore pedir sua volta. Reclamatunidade de ler um arOu abrimos nossos olhos ções que, segundo Mahfood, tigo interessante de Teodoe vemos mais as pessoas do que “são sempre benéficas. Pois re Levit sobre miopia e maras pessoas que reclamam, keting. Nele o referido aupropriamente nossas estruturas, em geral, estão nos dando tor faz uma analogia entre a oportunidade para avalia miopia e a empresa, afirou caminharemos armos nossas atuações. Esmando que “O míope tem para uma agonia que certamente tejam elas certas ou errauma visão curta, não condas. Enquanto as que não segue enxergar a distância, nos levará à morte. se queixam ou estão satisfoca no que está perto. Perfeitas, acomodadas, não de assim a visão do todo. Assim também, as empresas apre- damente. Mas, para passar do querem mudanças, ou, o que é pior, sentam essa visão curta, pois não primata ao homem, foram suficien- vão à procura de algo melhor”. conseguem definir adequadamente tes alguns milhões. No mundo religioso, especialEssas mudanças estão presentes mente dentro do catolicismo, até por suas possibilidades”. Sem querer comparar as igrejas em todos os segmentos da vida. termos a maioria absoluta dos fiou instituições religiosas às gran- Desde as características físicas, éis, quase nunca demos importândes empresas, já foi dito que a Igre- como comportamento, alimentação, cia às reclamações dos nossos adepja católica é a empresa mais antiga maneira de pensar, e também, como tos. Ao contrário, pensávamos que e mais sólida que existe no mundo. não poderia deixar de ser, a reli- o erro estava sempre neles e não Afinal, com seus erros e acertos, gião. A exemplo do que acontece no na cúpula da Igreja. Ignorávamos, está no “mercado” há mais de dois mundo dos negócios, em que os quase que completamente, as nomil anos. Nela se trabalha com empresários ficam tão focalizados vas exigências do mundo atual e pessoas que, atualmente, não a no produto que esquecem os clien- secularizado, em que o espaço relibuscam somente para cumprir seus tes, a assistência pastoral aos do- gioso diminuiu consideravelmente. rituais ou celebrar sua fé, mas prin- entes fica tão preocupada em falar Na assistência espiritual hospicipalmente como um meio para do evangelho e de religião que talar, preferiu-se continuar fazenmudar de vida e estar em contato muitas vezes nem percebe que, por do as tradicionais obras de miseritrás de cada convicção religiosa, com uma comunidade. córdia. Não que isso não seja um existe uma pessoa que é mais imaspecto importante. Porém, as noportante do que qualquer religião. AS MUDANÇAS vas tecnologias e o mundo científiE somente percebe a necessidade As mudanças sempre estiveram de mudança se se sente ameaçada. co fizeram com que o homem tomasse consciência do seu poder sobre a presentes, principalmente na vida vida e a morte. Aquilo que era deidos seres humanos. O que chama AS AMEAÇAS xado à Providência, ao destino e à nossa atenção é a rapidez com que essas mudanças acontecem. Senão Toda e qualquer novidade é sem- religião, hoje a sociedade assume vejamos: para passar da vida ele- pre muito atraente. O novo padre como tarefa principal. Diante disso, mentar ao vertebrado e do verte- e/ou pastor, no início, é quase sem- nos perguntamos: Quais são as posbrado ao primata, a evolução de- pre melhor do que o anterior. No sibilidades de assistência espiritual morou 3 bilhões de anos, aproxima- entanto, com o passar do tempo, nas instituições de saúde?
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
2
AS POSSIBILIDADES
EXPEDIENTE
O trabalho do assistente espiritual no campo hospitalar é um constante desafio. Primeiramente, é preciso ser humano, solidário, gostar do que faz, respeitar a si próprio e principalmente o outro. Acrescentam-se a isso a presença visível e constante e a disponibilidade para servir. É sabido que não é fácil reunir todas essas habilidades e qualidades. Sem contar com as limitações típicas dos seres humanos, não dispomos de pessoas que possam estar presentes em tempo integral. No entanto, mesmo com nossas fragilidades temos inúmeras possibilidades junto aos pacientes, familiares e principalmente junto aos profissionais que atuam no campo hospitalar. No hospital, além dos encontros pessoais, muito freqüentes, existem outras possibilidades de evangelização. Temos a Bíblia, folhetos litúrgicos semanais, ricos em conteúdos, de fácil acesso e de leitura agradável. Temos a possibilidade de mensagens escritas, folhetos com oração e preces apropriadas para os momentos de doença, que procuram esclarecer o sentido bíblico-cristão da dor e do sofrimento. Acrescenta-se a tudo isso a possibilidade de participação em comissões de humanização, ética e bioética, bem como em eventos, cursos e congressos ministrando aulas ou palestras. No entanto, devemos lembrar que tudo isso não dispensa a abordagem direta aos pacientes e profissionais. Aliás, causa-me espanto o assistente espiritual que é incapaz de estabelecer um contato com doentes, familiares e profissionais se não estiver com uma Bíblia debaixo do braço ou com um pacote de folhetos no bolso. No hospital, os encontros, na maioria das vezes, são ocasionais.
O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos. Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin. Diretor Responsável Anísio Baldessin. Secretária Cristiana Baldessin Maina.
ENCONTROS OCASIONAIS Evangelizar no ambiente hospitalar é muito diferente do que evangelizar numa paróquia ou Igreja, como queiram chamar. Pois à Igreja as pessoas, em geral, vão, ou deveriam ir de livre e espontânea vontade. No hospital, os profissionais que lá atuam não estão estritamente para ser assistidos espiritualmente, e sim para desenvolver atividades terapêuticas que visam proporcionar um maior bemestar ao doente e, conseqüentemente, ser uma fonte de renda para sua sobrevivência. Assim sendo, a assistência espiritual desses profissionais acaba ficando em segundo plano. Portanto, se pensarmos que assistir espiritualmente os profissionais é simplesmente fazer discursos no campo religioso, teremos imensas dificuldades. Pois como disse anteriormente essa não é a prioridade do corpo hospitalar. No entanto, se soubermos aproveitar bem as oportunidades poderemos, ainda que indiretamente, testemunhar o amor de Deus.
O MODELO DE JESUS Jesus pode ser considerado o grande modelo de assistente espiritual. Ele quase nunca encontrou as pessoas mais do que uma vez. Não se preocupou em organizar grandes congressos e muito menos encher estádios para evangelizar e curar. Mas soube como ninguém aproveitar as oportunidades. Entre os muitos exemplos, podemos citar o evangelho de São João, que narra o encontro com a mulher samaritana que estava apanhando água do poço (cf Jo 4), ou o evangelho de Lucas, que narra a caminhada com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-42).
Revisora Rita de Cássia Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 3.500 exemplares.
Nestes encontros informais, Jesus soube demonstrar sua sensibilidade, criatividade, disponibilidade e consciência de sua missão. Respeitou e se fez respeitar, mostrando, sem recursos materiais, como bem evangelizar. O assistente espiritual junto ao corpo hospitalar não pode desviarse dos exemplos de Jesus. Ainda que dois mil anos depois, devemos aprender com seus gestos de acolhida, seu método de pregar, e principalmente com sua arte de aproveitar bem as oportunidades. Assim, com base nos ensinamentos de Jesus, teremos condições para ouvir, instrur e assistir não só espiritual, mas integralmente, esses profissionais. A grande novidade de Jesus foi sem dúvida mostrar que não poderia haver uma religião que só se preocupasse com a observação das leis, e sim que o seguimento da lei passa, necessariamente, pela prática do amor. Abrir o coração do homem para mostrar que Deus é um Deus que, antes de ser justo, é extremamente misericordioso.
AUMENTANDO A VISÃO No mundo empresarial, segundo Levitt “quando o desenvolvimento de determinado segmento é ameaçado, retardado ou detido, não é porque o mercado está saturado, mas porque ocorreu falha administrativa. A falha está na cúpula. Os dirigentes, na maioria das vezes, desenvolvem essa miopia, que impede ver com maior amplitude”. Muitos assistentes espirituais ainda pensam que a atividade hospitalar está voltada para os pacientes e, às vezes, aos seus familiares. Os profissionais é que, livremente, devem procurar o assistente espiritual. Se quiserem, sabem e podem ir ao encontro do capelão. Além
Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
disso, acreditam que as únicas oportunidades de evangelização acontecem no escritório, na capela ou no momento de oração. Porém, não podemos ignorar que são poucas as entidades de saúde que contam com a presença de um representante religioso em tempo integral. Em muitas, ele só está presente durante algum período ou em determinados dias da semana. Outras ainda não sabem a quem recorrer quando o próprio funcionário, o paciente e/ou familiar pedem. Sem contar que em muitos hospitais até o espaço para o sagrado desapareceu. Acrescenta-se a tudo isso o fato de que tanto as igrejas como as capelas dos hospitais e até as capelas paroquiais parece que foram feitas para os fiéis não participarem. Se uma pequena porcentagem dos profissionais que trabalham nos hospitais decidisse participar das celebrações religiosas, certamente não teríamos espaço físico. Será que não continuamos com uma visão curta da realidade e reclamando a pouca participação?
SUPERANDO A MIOPIA É claro que seria muita ousadia da minha parte oferecer respostas prontas e acabadas para uma perfeita atuação do assistente espiritual junto ao corpo hospitalar. Primeiro, porque realmente não as tenho. Segundo, que minha atuação é bem diferente das muitas que existem por aí. Não que seja melhor. Mas eu, como poucos, tenho a oportunidade de estar quase diariamente dentro do ambiente hospitalar. Por fim, cada realidade é uma realidade diferente. No entanto, penso que algumas sugestões vindas das experiências pastorais podem ser úteis para aqueles que trabalham ou que desejam desenvolver alguma atividade junto aos profissionais da saúde. 1a) Não há dúvida de que os funcionários do hospital hoje merecem uma atenção especial por parte do assistente espiritual. Para isso é necessário se fazer presente e acessível. Atualmente, gasto uma grande parte do meu tempo no hospital no
atendimento aos profissionais. Percebo, no dia-a-dia, que uma das maiores necessidades das pessoas é conversar. Afinal, em casa não tem com quem falar. O padre, o pastor e o líder espiritual quase nunca estão disponíveis. No consultório médico, as consultas são cada vez mais rápidas. O terapeuta tem tempo disponível. Mas na maioria das vezes cobra por isso. 2a) Muitas pessoas trabalham em mais de um emprego. E a única referência de Igreja acaba sendo o assistente espiritual hospitalar. Por isso, é importante que este esteja inserido, aberto ao diálogo para ganhar a simpatia e ser merecedor da confiança, principalmente daqueles que não guardam uma boa lembrança de Igreja. 3a) Saber que a sua atividade junto ao corpo hospitalar não pode interferir no funcionamento normal do hospital. Portanto, é difícil programar algo durante o período de trabalho. Trata-se, pois, de uma presença muito criteriosa. 4a) Talvez a mais difícil. Particularmente, não vejo uma atuação na assistência espiritual que não seja em tempo integral, que conte com a presença de colaboradores não somente gente que convida pacientes para a missa ou o culto, mas capelães de direito e de fato. Caso contrário, continuaremos
3
atendendo não a pessoa e sim a religião da pessoa. Diria, oferecendo um cuidado religioso paliativo. Atualmente, para corrigir a miopia existem dois caminhos. Usar óculos ou fazer uma cirurgia. O procedimento cirúrgico, em geral, tem dado resultados muito positivos. Porém, custa muito caro. As vezes, momentaneamente, é mais prudente optar pela primeira alternativa. Embora não resolva o problema melhora bastante a qualidade de vida. Na assistência espiritual, o ideal seria contarmos com padres, pastores e líderes espirituais com preparação específica e em tempo integral. Além disso, leigos preparados para exercer esse ministério. Ou seja, devemos fazer uma “cirurgia” para eliminar de vez a miopia. Já que isso não é possível, poderemos ao menos colocar óculos para abrir um pouco mais nossa visão. Caso contrário, como disse no início, sem querer fazer uma simples comparação, a linguagem mercadológica é esta: “Quem não se destaca, se descarta e quem não se organiza, agoniza”. Ou abrimos nossos olhos e vemos mais as pessoas do que propriamente nossas estruturas, ou caminharemos para uma agonia que certamente nos levará à morte num curto período de tempo. ANÍSIO BALDESSIN, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
4
O BRASIL DEVE BUSCAR RESPOSTAS BIOÉTICAS PRÓPRIAS VOLNEI GARRAFA
Nesta entrevista à revista Radis, Volnei Garrafa afirma que os países da América Latina não podem seguir importando acriticamente teorias éticas externas: “A bioética brasileira deve pesquisar nosso cotidiano cultural em busca de valores culturais genuínos à nossa realidade concreta”, disse. A seguir a entrevista que concedeu a Radis.
✓
O Brasil ainda está atrasado em bioética?
Costumo dizer que no Brasil a bioética é tardia. No mundo, de uma forma geral, ela começou a aparecer no início dos anos 1970. No Brasil, isso só se deu formalmente a partir dos anos 1990. Por outro lado, ela evoluiu aqui de forma espantosa. Tanto que, em 2002, sediamos o 6º Congresso Mundial de Bioética, em Brasília, que reuniu 1.400 participantes de 62 países. Foi nosso teste de maioridade. O tema oficial foi “Bioética, poder e injustiça”. Pela primeira vez, a pauta bioética foi internacionalmente politizada.
✓
Como era antes?
Até o fim dos anos 1990, a bioética era basicamente pautada numa linha chamada principialista, ou seja, baseada exclusivamente em quatro princípios: autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça. Corrente de origem anglosaxônica que acabou se tornando hegemonia sobre as demais, ela superdimensiona o individual em detrimento do coletivo e é insuficiente para análise, por exemplo, de
macroquestões sociais. Acaba deixando outros valores culturais, como os nossos, latinos, baseados nas virtudes, na proteção aos vulneráveis, na solidariedade. Podemos dizer que incorporamos novos valores à pauta internacional e que o Brasil não aceita importar pacotes éticos acriticamente.
✓
Como é a nossa ética de caráter solidário? O que isso significa?
Os países do hemisfério Sul do mundo, principalmente na América Latina, devem buscar suas próprias respostas bioéticas para a resolução dos seus problemas. Não podem seguir importando acriticamente teorias éticas externas. Nesse sentido, a bioética brasileira deve pesquisar nosso cotidiano cultural na busca de valores morais genuínos à nossa realidade concreta. Como latinos, o campo das “virtudes” precisa ser mais explorado, possibilitando melhor compreensão de termos como solidariedade, responsabilidade, tolerância e o que venho chamando de os quatro “pês” para uma bioética comprometida com o século 21: prudência, prevenção, proteção e precaução.
✓
Quais as resistências à bioética no Brasil?
Há uma espécie de endeusamento da ciência, e vários cientistas não aceitam intensificar os debates. Pensam que sabem de ética espontânea e naturalmente. Isso é um equívoco, pois a bioética tem um estudo epistemológico próprio e precisa ser estudada. Precisamos sempre buscar respostas socialmente úteis e moralmente aceitáveis. Também há muita incompreensão política sobre o que é bioética e o que ela representa. Como exemplo, temos a lei de biossegurança. A Comissão de Educação do Senado recentemente chamou 40 entidades para discuti-la, mas, absurdamente, deixou de fora a Sociedade Brasileira de Bioética.
✓
Que mudanças são necessárias na Resolução 196?
O ministério da Saúde montou uma comissão para formular uma resolução que regulamentasse a pesquisa com seres humanos no Brasil. Na época, isso foi um avanço, mas, como todo documento, precisa ser revista. Primeiro, a resolu-
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
ção do MS precisa se transformar em lei, e mais abrangente. Segundo, a resolução é principialista. Portanto, temos, de contextualizála. E, terceiro, a composição da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) não deve mais ser feita por sorteio a partir de nomes indicados pelos comitês locais. É preciso que essa escolha seja meritória.
✓
Por quê?
Há no Brasil cerca de 400 comitês de ética que não estão sendo adequadamente avaliados. A Conep, hoje, tem uma composição frágil do ponto de vista acadêmico e de formação em bioética. Há integrantes de qualidade, mas a média está muito aquém da real qualidade acadêmica dos campos científico-tecnológicos e da bioética. Apenas um terço desses 400 comitês é de ótima ou boa qualidade. Outro terço é razoável e precisa de treinamento específico. E o último terço não tem condições de funcionamento.
✓
De que forma isso prejudica o trabalho da Conep?
A Conep, devido à sua política centralizada e centralizadora, está sobrecarregada, o que não permite uma avaliação aprofundada do número excessivo de projetos que recebe, que acabam aprovados a toque de caixa, muitos praticamente sem discussão. Os comitês locais não são avaliados, e isso é urgente que se faça, porque os Ceps (Comitês de Ética em Pesquisa) de qualidade devem ter autonomia exatamente para evitar a sobrecarga na Conep.
✓
Que confusão se faz com o termo bioética?
Alguns setores religiosos vem se apropriando indebitamente do termo e isso traz certos transtornos. A bioética laica não trabalha com absolutismos morais. Deve haver conflitos de idéias. Afinal, se há absolutismo, não há discussão. No campo do direito acontecem coisas semelhantes. Criaram de forma oportunista um termo chamado de biodireito, que se propõe discutir
bioética no campo jurídico. Mas a raiz ethos desaparece do neologismo, trazendo à luz uma visão estritamente legalista. Tudo isso passa à sociedade. Defendemos o pluralismo de idéias, e não imposições religiosas ou legais.
✓
O senhor sempre se refere à diferença entre ética e moral. Em sua visão, qual é essa diferença?
A diferença é histórica. Para muitos filósofos, moral e ética significam a mesma coisa. Particularmente, vejo diferenças na construção histórica das duas. A moral está dentro de nós, é tudo aquilo que nos é atual, costumeiro. O campo da moral não trabalha o legalismo, mas a legitimidade. A ética, por sua vez, vem se tornando crescentemente legalista neste século 21, incorporando os códigos (de ética) profissionais, as regulamentações e normalizações. Com relação aos conflitos morais, algumas questões devem ser necessariamente legalizadas. Outras, é preferível que sejam deixadas mais “livres”, para que a decisão aconteça de acordo com a modalidade de cada pessoa, de cada cultura, num mundo irreversivelmente pluralista do ponto de vista de moralidades. Os dilemas éticos na área da saúde não se limitam ao campo da pesquisa em seres humanos. No diaa-dia dos hospitais e postos de saúde os profissionais da área são obrigados até mesmo a escolher o paciente a ser atendido. Como ser ético nesses momentos? Essas escolhas são mesmo muito difíceis. Se houvesse mais recursos sendo aplicados, poderíamos prevenir mais esse tipo de situação. Tenho uma posição utilitarista e conseqüencialista sobre a decisão a ser tomada. Isso quer dizer que ela deve levar em conta o maior número de pessoas a ser atendidas, pelo maior espaço de tempo e que traga as melhores conseqüências sociais. Os profissionais de decisão isoladamente. É preciso que os hospitais tenham comitês pluralistas de bioética para discutir as prioridades. No Brasil, os comitês de éti-
5
ca ainda estão muito restritos à área da pesquisa e da atuação profissional.
✓
Quais os passos do país no campo da bioética?
No fim de 2003, o governo nomeou um grupo de trabalho para construir a Comissão Nacional de Bioética. A proposta deve ser entregue em novembro deste ano. A SBB participa deste grupo e a sociedade brasileira será consultada. Se já tivéssemos essa comissão, o projeto de lei de biossegurança, por exemplo, não teria chegado tão verde ao Congresso.
✓
O que é bioética de intervenção?
Em países periféricos como o Brasil, o estado tem de intervir em favor das populações vulneráveis, que, ao contrário do que acontece nos países centrais, não tem autonomia. Para isso, é preciso priorizar recuperar para a área da saúde. No Brasil, são investidos menos de 3% do PIB em saúde, enquanto nos países desenvolvidos esse índice varia entre 10% a 14%. Gastamos pouco e gastamos mal em saúde. A bioética de intervenção defende a legitimidade do papel do Estado na proteção das maiorias populacionais excluídas.
✓
O que é bioética de situações persistentes e de situações emergentes?
Chamo de persistentes aquelas situações historicamente configuradas, que persistem desde épocas remotas de nosso desenvolvimento. Entre elas, incluo a exclusão social, todas as formas de discriminação, a vulnerabilidade, o tema da priorização na alocação de recursos escassos em saúde, o aborto, a eutanásia, entre outros. As situações emergentes são produto do desenvolvimento científico e tecnológico acelerado das últimas décadas: as novas tecnologias reprodutivas, os transplantes e a doação de órgãos e tecidos humanos, o campo da genômica com todos os seus desdobramentos morais… Texto extraído da revista Radis, de agosto de 2004.
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
6
DICAS DE SAÚDE
O QUE É MELHOR, CORRER OU ANDAR? NABIL GHORAYEB
Do ponto de vista médico, qualquer exercício físico feito regularmente é útil
E
sta tem sido a pergunta mais freqüente dos últimos tempos. Vale a pena conversarmos sobre ela. Do ponto de vista médico, qualquer exercício físico é útil. Inúmeras pesquisas pelo mundo comprovam que pelo menos 30 minutos por dia de atividade leve a moderada, ou seja, caminhadas um pouco aceleradas (100 metros por minuto) na maioria dos dias da semana (quatro a cinco dias) resulta em enorme benefício para o coração. A diminuição do risco de um ataque cardíaco se aproximou dos 35% após cinco anos de exercícios moderados, feitos regularmente. Essa informação científica foi divulgada pelo Ministério da Saúde dos EUA (NIH) em 1996 e foi adotada em vários países. Quero ressaltar que mesmo o andar lento, porém regular, das pessoas com mais de 65 anos e até muito mais, mudou completamente
a qualidade e até mesmo a quantidade de vida delas. Uma pesquisa que durou 20 anos, feita no Havaí com descendentes de japoneses que lá vivem, e que comparou pessoas com mais de 75 anos ativas com as sedentárias, concluiu que as ativas viviam muito mais e melhor. Desde o ano 2000 a Federação Mundial de Cardiologia (World Heart Federation) determinou que fosse estimulada a simples “Caminhada” para toda a população mundial. Ela não exige treinamento, técnica, equipamentos ou instrutores. Entre nós a Sociedade Brasileira de Cardiologia (www.cardiol.br ou www.emforma.com.br), assumiu essa recomendação que atualmente faz parte de suas diretrizes. Quanto à corrida, desde que esteja em boas condições médicas para a sua prática, poderá ser recomendada. Seus benefícios cardiovascu-
“Estive enfermo e me visitaste” (Mt 25,36) Jovem, você se sente chamado para ser Padre ou Irmão Camiliano? Escreva-nos: SEMINÁRIO SÃO CAMILO Rua Roque de Paula Monteiro, 245 Jaçanã 02772-000 – São Paulo – SP
Fone (11) 6243-1118
lares são os mesmos da caminhada, que aparecerão em menor prazo (mas não muito menor!!!), porém os riscos de problemas ortopédicos e cardiovasculares aumentarão. Nessa opção convém ter orientação médica prévia. Algumas recomendações são convenientes: escolher lugares aprazíveis, longe dos escapamentos, sempre se proteger da insolação com bonés, camisetas de algodão ou outro material que permita suar naturalmente, evitando forte desidratação provocada por vestimentas de poliéster/nailon etc. Nunca saia em jejum, coma uma fruta ou algo leve, tome água à vontade e aos goles, antes e durante sua caminhada ou corrida, sempre use tênis em bom estado. Agora vejamos como o esporte pode ajudar na manutenção da saúde. Desde criança o fazer exercícios regulares deve ser estimulado e incentivado para ser mantido por toda a vida, e, sem dúvida, os esportes coletivos como futebol, basquete, vôlei e outros trarão maior sociabilização e aprendizado. O esporte individual na criança é bom, porém requer um acompanhamento e orientação mais cuidadosa da família e do técnico, para uma boa formação psicológica. Não são raros maravilhosos jogadores jovens de esporte individual se tornarem medianos jogadores adultos. Até ao redor dos 12 anos o esporte em equipe, sem dúvida, traz vantagens para o futuro social do atleta. Uma vitória ou uma derrota será dividida entre todos e nesse ambiente aparecerão os futuros líderes. Mas, atenção, os benefícios para a saúde adquiridos na prática de atividade física regular de qualquer modalidade só serão mantidos caso ela não seja abandonada. Não existe “poupança de benefícios do exercício físico” para o futuro. Esportistas jovens que depois se tornaram sedentários, tiveram a mesma porcentagem de doenças cardiovasculares dos nossos criticados sedentários, os que nunca haviam praticado esporte antes. NABIL GHORAYEB é presidente do GE em cardiologia do exercício e esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia
○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
7
Mensagem do V Congresso Ecumênico Brasileiro de Assistência Espiritual Hospitalar Nós, assistentes espirituais hospitalares, reunimo-nos fraternal ecumenicamente para realizar o V Congresso Ecumênico Brasileiro de Assistência Espiritual Hospitalar, em Atibaia, SP, nos dias 18 a 20 de outubro de 2004, sob o tema: “Evangelização e Espiritualidade na Saúde”. Fomos encantados pelo ambiente acolhedor e com a hospitalidade proporcionados pelas Irmãs de Schoenstatt do Santuário Mãe Rainha. Embora em número menor de participantes (em relação a congressos anteriores), alegramo-nos muito com a representação de maior número de Igrejas Cristãs: católicos, luteranos, anglicanos, batistas, reformados, metodistas e irmãos menonitas. Experimentamos a verdade evangélica de que a Igreja de Jesus Cristo ultrapassa os limites de nossas denominações. E que o enfoque de nossa ação é um só: a pessoa fragilizada do enfermo. Conscientizamo-nos, com maior clareza, da amplitude, da urgência e da complexidade de nossa missão que exige, além da disposição de servir, junto com a escuta de Deus e a espiritualidade pessoal, um aperfeiçoamento constante e integrado no meio em que agimos. “Não basta querer ser bom. É preciso saber ser bom.” Desafiados e reanimados levamos deste Congresso: — a certeza de que o Espírito Santo torna Cristo presente em nós para que possamos tornar concretos seus gestos e palavras na assistência espiritual às pessoas enfermas; — o entendimento de que lidar com o ser humano não tem receita pronta e que cada um deve ser respeitado em sua unicidade; — o conhecimento em profundidade do sofrimento e das necessidades dos enfermos e de seus familiares na realidade de nosso País; — a necessidade do estudo e aperfeiçoamento contínuos para maior eficiência do nosso servir integrado no contexto hospitalar; — a consciência de estender o cuidado aos cuidadores, incluindo-nos pessoalmente entre eles; — e, sobretudo, o compromisso “samaritano” de testemunhar com a própria vida e postura a compaixão e a misericórdia de Deus que nos impelem a servir. Por fim, conclamamos a todos que estão engajados nesta missão da Assistência Espiritual Hospitalar a fazer suas estas experiências, participando do próximo Congresso Ecumênico Brasileiro de Assistência Espiritual Hospitalar a ser realizado em Curitiba, PR, na terceira semana de outubro de 2005.
OS
CONGRESSISTAS
Ano XXII – no 226 – dezembro de 2004 – BOLETIM ICAPS
8
Notícias da CNBB e do ICAPS Boa Vista, RR – No dia 5 de agosto de 2004, o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, André Luiz de Oliveira, esteve reunido com a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Boa Vista – RR, falando sobre os aspectos organizacionais da Pastoral da Saúde. Contou com a presença de 17 representantes. Porto Velho, RO – No dia 7 de agosto de 2004, foi promovido pela Pastoral da Saúde de Porto Velho – RO um curso de formação de agentes da Pastoral da Saúde O encontro contou com a presença do coordenador nacional da Pastoral da Saúde, André Luiz de Oliveira. Estiveram presente cerca de 72 pessoas. Formosa, GO – No dia 14 de agosto de 2004, foi promovido pela Pastoral da Saúde da Beneficência Camiliana de Formosa – GO o I Curso de Formação de Agentes da Pastoral da Saúde. O encontro contou com a presença da vice coordenadora da Pastoral da Saúde, Lirce Lamounier e Ana Cândida. Estiveram presentes cerca de 39 pessoas. Belém, PA – No dia 17 de agosto de 2004, o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, André Luiz de Oliveira, esteve reunido com a Pastoral da Saúde de Belém – PA, falando sobre aspectos organizacionais da Pastoral da Saúde. Contou com a participação de 19 representantes. Macapá, AP – No dia 18 de agosto de 2004, o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, André
Luiz de Oliveira, esteve reunido com a Pastoral da Saúde de Macapá – AP, falando sobre os aspectos organizacionais da Pastoral da Saúde. Contou com a presença de 19 representantes. Concórdia, SC – No dia 21 de outubro, padre Anísio Baldessin e Dr. André Luiz de Oliveira, coordenador nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, estiveram na cidade de Concórdia, interior de Santa Catarina, participando, como palestrantes, do IV encontro de Pastoral da Saúde que foi organizado pelo Hospital São Francisco de Concórdia, Hospital São Bernardo de Quilombo e Hospital São Roque de Seara, que pertencem à Sociedade Beneficente São Camilo, e pela coordenação diocesana da Pastoral da Saúde. Caxambu, MG – No dia 6 de novembro, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Caxambu, sul de Minas Gerais, participando, como palestrante, do encontro de Pastoral da Saúde que foi organizado pelo Hospital Casa de Caridade São Vicente de Paulo que pertence à Sociedade Beneficente São Camilo, e pela Pastoral da Saúde diocesana daquela cidade. Francisco Beltrão, PR – No dia 13 de novembro, padre Anísio Baldessin esteve na cidade de Francisco Beltrão, interior do Paraná, participando, como palestrante, do encontro de Pastoral da Saúde, que foi organizado pela Pastoral da Saúde diocesana daquela cidade.
Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde Fone (11) 3675-0035 e-mail: icaps@camilianos.org.br Av. Pompéia, 1214 A 05022-001 São Paulo, SP
IMPRESSO