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1234 Informativo 1234 1234 1234 do Instituto 1234 1234 1234 Camiliano 1234 1234 1234 de Pastoral 1234 1234 1234 da Saúde 1234 1234 1234 e Bioética 1234 1234

1234 1234 1234 1234 1234 Julho de 2005 1234 1234 o ANO XXIII – n 232 1234 1234 1234 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA 1234

❒ PASTORAL

❒ BIOÉTICA

UMA MISSÃO CAMILIANA ADOLFO SERRIPIERRO

No dia 14 de julho os padres camilianos comemoram o dia de São Camilo. Como acontece dia 14 de cada mês, nas paróquias que celebram a missa dos enfermos, os agentes de pastoral da saúde são convidados a celebrar o dia de São Camilo. Neste Boletim apresentamos uma das atividades camilianas na cidade de Fortaleza.

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ORMALMENTE ,

ao descrever uma missão camiliana, vem a tentação de mostrar ações, calcular números de obras e pessoas atendidas. Esses dados também fazem parte da missão, mas prefiro oferecer algumas reflexões. A palavra “missão” é repleta de significados, e quando a missão é camiliana ela enriquece-se de uma mística toda particular, ligada ao nosso Fundador e ao Evangelho. O Decreto Ad Gentes (AG2) do Vaticano II sobre a atividade missionária da Igreja afirma: “A Igreja peregrina é por natureza missionária, segundo o desígnio do Pai. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo”. A essência dessa missão é o anúncio. “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mt 16,15). Sendo missionários, anun-

ciamos o Cristo Filho de Deus feito homem, que vive a condição humana em sua mais humilde expressão e que dirige seus gestos proféticos em opção preferencial pelos pobres. Essa missão-envio, anúncio-profetismo nos é confiada como essencial pertença ao Cristo no momento do Batismo, e nossa consagração religiosa a torna ainda mais radical com a voluntária oferta de nossos bens, de nossa liberdade, de nosso corpo e de nossos sentimentos a serviço do Reino dos pobres. Essa foi a atitude de Jesus e portanto não temos como fugir dela. Não podemos testemunhar o Cristo sem ser espelho de sua imagem, que é gravada em nós pelo Espírito. Foi essa a intuição espiritual que fez São Camilo mudar completamente o rumo de sua vida. Portanto, para nós não existe outro cami-

❒ HUMANIZAÇÃO nho a não ser aquele feito de gratuidade, simplicidade, doação total, saindo de nós mesmos e colocandonos a serviço dos últimos, marginalizados e pobres em todo sentido.

O EVANGELHO NOS ILUMINA Foi a partir dessa iluminação evangélica que em 8 de dezembro de 1989 iniciamos nossa missão em Fortaleza, CE. O primeiro passo foi o de Jesus: sentar com os “pecadores”, ir ao encontro dos pequenos. Foi com muita alegria e emoção que escutamos os gemidos da vida das meninas e mulheres das ruas, das praias da cidade de Fortaleza, que são o lugar de trabalho, de sobrevivência delas, a zona de prostituição. O que fizemos e fazemos é ouvi-las com o coração misericordioso de Deus e numa dimensão espiritual tentarmos descobrir nelas a presença amorosa de Deus, apesar das sombras humanas que aparentemente mostram seres com corpos e almas destruídos. Todas apresentam as marcas da dor física (violência de todo tipo), da alma (violência dos homens), do espírito (violência da droga), da agressão sexual (gravidez entre adolescentes), HIV, DST etc., do abandono de todos: da família e até da Igreja, que lá deveria ter seu lugar preferido, imitando o Mestre. Ao longo dos anos de “escuta dos gemidos”, o Espírito, por meio delas mesmas, nos iluminou para oferecer algumas respostas “do fazer”, sempre acompanhadas do desejo de ser sinais gratuitos do amor misericordioso de Deus. A motivação da mística camiliana e missionária é fundamental: respeitar o ser humano onde ele se encontra e lhe dar mais coração do que mãos, para que pos-


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sa curar suas feridas profundas e construir sua história de filho de Deus e cidadão desta terra.

A FORÇA DO ESPÍRITO SANTO Um grande dom de Deus no caminho da missão camiliana foi a iluminação e a força que o Espírito Santo nos deu para iniciar uma nova comunidade de consagradas com esse mesmo espírito. São as Missionárias Camilianas Maria Mãe da Vida. Como presente de Deus, as meninas em situação de risco vivem a espiritualidade camiliana e do Evangelho com Maria Mãe da Vida: Maria recebe o Verbo, vai doá-lo e pôr-se a serviço da Vida na prima Isabel. Juntos visitamos as meninas e cuidamos de suas feridas, acolhendo-as, amando-as, defendendo e protegendo suas vidas e a dos pequenos que estão em seus ventres. As histórias de vida são inúmeras, mas o que conta são os momentos em que Deus manifestou seu amor como dom a ser partilhado entre elas e nós. Devemos descobrir em cada momento das nossas histórias a presença amorosa do Pai. É com grande sentimento de gratidão a Deus que vejo a generosa doação das jovens que se consagram ao carisma. Deus sempre faz surgir novos profetas no caminho da construção do Reino, quando estamos atentos à ação do Espírito que nos lembra a cada instante a ação de Cristo junto aos mais pobres. E essas consagradas renovam os gestos de Jesus em favor das mulheres sofridas de hoje.

A FÉ E A OBRA

EXPEDIENTE

Relembrando um pouco a história maravilhosa de Deus, devemos

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin Diretor Responsável Anísio Baldessin Secretária Cristiana Baldessin Maina

ressaltar que tudo aquilo que foi realizado sempre partiu de nossa atenção às iluminações do Espírito e às necessidades manifestadas explícita ou implicitamente pelas mulheres às quais nos dirigimos. Já temos quase catorze anos de missão, e milhares de meninas/mulheres foram atendidas nas ruas e nos Centros de Convivência que aos poucos surgiram. Os Centros de Convivência (segundo passo da nossa metodologia de evangelização) são lugares que as meninas em situação de risco são convidadas a conhecer durante nossas visitas e nos quais são acolhidas com amor e competência humana e profissional. Aí recebem atenção à saúde, particularmente as adolescentes grávidas, frágeis em sua constituição físico-psicológica e freqüentemente toxicodependentes e/ou portadoras do HIV. Temos quatro consultórios em que colegas voluntários juntamente conosco dão atenção médica e psicológica para as meninas, verdadeiras camilianas e missionárias no mundo dos últimos. As Missionárias Camilianas Maria Mãe da Vida, além de curar as feridas das meninas, planejam junto com elas ações para realizar seus sonhos, como criar e sustentar o filho que vai nascer, para que com ele não se repita a história dolorosa passada em sua infância. Alguns momentos fortes de nossa ação missionária são: cursos profissionalizantes, formação humana, momentos celebrativos para ajudar o crescimento da fé, escuta de seus medos e fortalecimento de tomadas de decisões para que cada uma escreva sua história pessoal com Deus, nesta sociedade cruel. Muitas meninas que já passaram por nossas vidas que aco-

Revisora Sandra Garcia Custódio Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 4.000 exemplares

lhemos com amor hoje são nossas colaboradoras na construção do Reino: novas camilianas. Quem anunciou primeiro a Ressurreição? Não foi a pecadora Madalena? Assim recebemos o anúncio e continuamos a missão de Cristo com as novas camilianas. Por sinal elas deveriam participar dos vários congressos ou encontros da Família Camiliana...

APOIO HUMANO E FINANCEIRO Os coirmãos da Comunidade Santa Maria Madalena no Pirambu, favela onde moramos, e a Província Camiliana Brasileira participam desta missão diretamente, como o Ir. Vicente que, como um anjo da favela, visita e faz curativos nos mais abandonados dos doentes. As Missionárias Camilianas Maria Mãe da Vida também fazem curativos em domicílio ou na própria casa. É muito bonito e gratificante ver as meninas que batem à nossa porta ou à das missionárias participar tanto da Missa como da Mesa. Assim tentamos viver a partilha, razão fundamental de nosso voto de pobreza. Além da Província Camiliana Brasileira, sempre tivemos ajuda e apoio dos coirmãos da Província Austríaca, a quem agradecemos a sensibilidade para com os mais pequenos. Com a ajuda deles e de outras entidades internacionais, bem como do Município às vezes, pudemos iniciar e executar essas atividades às quais junta-se um laboratório de análise para as nossas meninas e um Centro de Medicina Materno-Fetal com ultra-sonografia e tococardiografia, para um diagnóstico mais completo. Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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A SOLIDARIEDADE DOS VOLUNTÁRIOS Devido às exigências sempre maiores da sociedade para salvaguardar os menores e visando organizar melhor nosso trabalho em termos humanos, há dez anos instituímos uma associação sem fins lucrativos: a Associação Maria Mãe da Vida, que não só articula e administra os vários serviços da saúde, formação e profissionalização, mas também continua na prática a inspiração inicial de defesa da vida, principal objetivo de nossa ação missionária. Os voluntários são numerosos e atuam de verdade como camilianos. Estamos presentes nos Fóruns de Defesa da Criança e Adolescente em nível municipal, estadual e nacional. Coordenamos em âmbito nacional a área de ação de Meninas e Meninos em Situação de Risco da Pastoral do Menor da CNBB. Na arquidiocese de Fortaleza e no Estado do Ceará prestamos nosso serviço em quase toda a cidade, mas particularmente nas periferias mais pobres como as do Pirambu, Arraial Moura Brasil e Barra do Ceará. Sentimos o apelo sempre maior das necessidades e portanto estamos programando outro pequeno Centro de Convivência na zona de prostituição no Bairro do Farol. Como sempre, damos atenção (primária) à saúde integral: corpo, alma e espírito. Sentindo que essa missão não tem limites geográficos, instituímos com alguns amigos, em Verona, Itália, uma filial da Associação Maria Mãe da Vida, que não só sensibiliza as pessoas para ajudas materiais, mas também se propõe enfrentar a mesma problemática por lá, com o espírito de São Camilo e de Maria Mãe da Vida. Desejamos com estas linhas, mais que ser um relatório de atividades ou financeiro, ser um estímulo para aqueles que sentem a missão que lhes vem do apelo de Cristo: “Ide e anunciai com a vida” aos pobres que a bondade do Senhor é eterna. ADOLFO SERRIPIERRO é padre e médico camiliano que trabalha na cidade de Fortaleza.

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QUEM É ESTA PESSOA DE QUEM NOS PROPOMOS CUIDAR? MARA VILLAS BOAS DE CARVALHO

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S DIFICULDADES enfrentadas no ambiente hospitalar têm sido uma problemática discutida por vários autores. O hospital é uma instituição normatizada e utiliza rotinas rigorosas para atender à demanda cada vez mais crescente de serviços. As rotinas estão mais direcionadas ao atendimento da comodidade institucional do que ao atendimento das necessidades da clientela. A inflexibilidade nas rotinas, na maioria das vezes, é imposta principalmente pelos profissionais que aí trabalham. Conseqüentemente, o atendimento torna-se impessoal e robotizado.

Viver as experiências de aprendizagem, refletir e poder compartilhar muitas vezes nossos sentimentos com os pacientes proporcionaram-nos crescimento pessoal e profissional, ressignificando nosso entendimento a propósito do ato de cuidar. Os depoimentos a seguir, extraídos de nossa tese de doutoramento, expressam com clareza a experiência vivida em meio à dor de pacientes hospitalizados e sua percepção a propósito dos cuidados recebidos. “Tenho muita dor. Eu sinto que as pessoas perdem a paciência com a gente. Elas acham que a gente está com frescura, fazendo fita, que sinto dor porque quero (choro). Não é bem assim. A dor é muito forte. Às vezes acho que não vou agüentar, não vou dar conta. Quando ela (dor) vem, peço a Deus para me levar embora o quanto antes. Quantas vezes a gente toca a campainha para chamar as enfermeiras para nos dar o remédio, e elas levam um tempão pra virem, isso quando vêm. As companheiras de quarto é que acabam levantando da cama e vão chamar as moças. Aí elas vêm e acham ruim. Elas falam que não sei esperar, eu sou afobadinha, e dizem que tenho que ter paciência. Sabe, a dor não é nelas. A médica vem de manhã me ver, falo com ela para dar um remédio mais forte pra tirar a dor, e o que acontece? Eu acho que elas esquecem, continuo tendo dor.” (d-1) “... Percebo que os profissionais de saúde entram aqui só para cumprir tabela, é mecânico demais, tudo muito fragmentado. Vejo as discussões dos professores com os alunos no pé da cama, eles não têm nenhuma preocupação com a pessoa que está doente. O foco da discussão é a doença e não vejo nenhuma integração com a pessoa. Na minha visão o grande responsável por isso é o professor que estimula no aluno a visão técnica, a patologia”. (d-4) A relação entre o profissional de saúde e o paciente hospitalizado apresenta problemas específicos que se revestem de grande importância na ação do curar e do cuidar. As súplicas dos pacientes, nestes discursos, são quase sempre pedidos angustiados de ajuda e de afeto. Além dos cuidados técnicocientíficos, o que o enfermo mais tem necessidade é de amor, de calor humano, que podem e devem lhe dar todos os que o rodeiam: familiares, amigos, médicos, enfermeiros... Entendemos que essa temática deva ser empregada na prática assistencial dos profissionais que atuam na oncologia e áreas afins e articulada entre a academia e o serviço de saúde em nível hospitalar, particularmente na rede básica de saúde, local em que os recursos são muito mais limitados. Consideramos, portanto, imprescindível que, para uma prática dessa natureza, os profissionais de saúde devam ser educados desde a graduação, tendo como eixo norteador a constante questão: Quem é esta pessoa de quem nos propomos cuidar? É preciso que o futuro profissional de saúde desenvolva a sensibilidade necessária, colocando em prática os fundamentos humanitários de sua formação acadêmica, de sua trajetória pessoal, como indispensáveis à percepção e contenção dos variados tipos de sofrimentos que experienciam os enfermos.


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A ESPERANÇA COMO MOTOR DA VIDA EM SITUAÇÕES-LIMITE Doenças, perdas, miséria, prisão: onde encontrar forças para seguir adiante? EDUARDO FRANCO

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ESPERANÇA é o combustível que

alimenta o ser humano para levar sua vida adiante, enfrentar as dificuldades e não se deixar abater. Mas, afinal, como a esperança se manifesta como experiência de vida, nas situações mais distintas do cotidiano, particularmente nos momentos em que esbarramos em nossos limites? O monge beneditino e teólogo Marcelo Barros explica que a esperança não vem só de uma visão da realidade, que, muitas vezes, se mostra tão dura, que é difícil extrair tal sentimento dela. Ele diz que a esperança vem tanto da fé cristã, que é o mistério da força de Deus que nos anima a enfrentar as vicissitudes da vida, quanto da fé na vida e no ser humano, que não tem esse sentido religioso, mas também dá coragem e impulsiona as pessoas a irem à luta. Segundo Barros, a esperança está mais na linha da promessa do que de uma visão otimista do futuro. Para quem tem fé, a esperança é um sinal da presença do Espírito. Santo Agostinho dizia que a história está grávida de Cristo. A esperança alimenta uma expectativa de transformação do futuro e superação das dificuldades. No caso dos excluídos, o monge analisa que o que sustenta a esperança deles é um grande amor pela vida, um crer na vida que os leva a enfrentar os percalços que encontram pelo caminho. Marcelo Barros

cita ainda os portadores de doenças graves, que também demonstram essa esperança de superar o mal e continuar vivendo. “Esse comportamento leva muitas dessas pessoas a transformarem a realidade para melhor”, completa. O teólogo lembra o fenômeno da física chamado de resiliência, que explica o aumento da resistência do ferro quando é insistentemente forjado. Geralmente, esse material é usado na construção de aviões. Mas o termo resiliência também é usado para explicar a resistência dos excluídos diante das dificuldades da vida. Essas pessoas são como o ferro que, quanto mais se bate, mais fortes se tornam. Marcelo Barros cita o filósofo Nietzsche, que disse: “aquilo que não me mata me fortalece”. Situações de extrema dificuldade econômica e financeira podem provocar um engajamento na defesa dos direitos, na luta contra as injustiças e na construção de um mundo mais solidário e fraterno. A fé, a esperança e o amor são a “gasolina” que faz esse povo não esmorecer e seguir lutando para conquistar seus ideais. Levar esperança para pessoas que se encontram transtornadas é a principal tarefa de alguns profissionais. A psicóloga e tanatóloga Rosemeire Rodrigues de Souza, a Rose, que há 13 anos trabalha na Clínica Nossa Senhora da Conceição, entidade mantida pela Arquidiocese de Belo Horizonte, diz que,

para atender portadores do vírus do HIV e câncer em fase terminal, procura manter viva a chama da esperança entre os pacientes, seus familiares e também entre os funcionários. A forma de abordagem dos pacientes é diferente, dependendo do mal que os acomete. No caso dos pacientes portadores do HIV, Rose informa que tanto chegam os que receberam o diagnóstico recentemente e estão absolutamente transtornados quanto outros que já sabem que são portadores da doença há mais tempo, mas se revoltaram e não iniciaram o tratamento. O trabalho da psicóloga consiste em fazê-los recuperar a esperança, convencê-los de que a Aids hoje é uma doença que pode ser controlada e levá-los a fazer o tratamento. “Cada um tem um tempo para aceitar a doença e começar a tomar o coquetel de medicamentos, mas ninguém se recusa a fazêlo”, comenta. A maior parte dos pacientes que chega à Clinica Nossa Senhora da Conceição, além de ser carente financeiramente, ainda tem carência afetiva; muitos são usuários de drogas e enfrentam sérios problemas de relacionamento com seus familiares. Rose ajuda-os a repensar suas vidas, enxergar seus erros e restaurar seus elos familiares. Uma das técnicas que utiliza é a do abraço, que ajuda os pacientes a se sentirem acolhidos e amados. A psicóloga enfatiza que o amor contami-


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na e ninguém consegue se proteger do amor do outro. “Isso os leva a recuperar a esperança e a voltar a ter fé na vida”, observa.

POR UMA MORTE DIGNA O atendimento aos pacientes com câncer em fase terminal é diferenciado. Rose diz que muitos deles chegam lá falando em se recuperar, mas quando ela vai conversar em particular com eles percebe que esse discurso é uma forma de se defenderem ou até mesmo de darem força para os parentes. Na verdade, o que eles querem é poder morrer com dignidade, ter os familiares por perto e fazer as pazes com algum desafeto. Os funcionários procuram ajudá-los a realizar esses desejos, tranqüilizando-os, controlando a dor sem deixá-los completamente sedados e procurando pessoas com as quais eles estejam estremecidos para reatar as relações. O Serviço Social da Clínica dedica uma atenção especial aos familiares dos pacientes. Eles são procurados para que dêem mais atenção ao parente que está doente e recebem atendimento psicológico caso estejam com dificuldade em aceitar a doença. Rose diz que é comum alguns parentes se sentirem culpados pela doença do paciente, por não terem lhe dado a assistência que necessitavam ou não terem levado ao médico com mais antecedência. Ela procura tranqüilizá-los, explicandolhes que a morte é um processo natural, que um dia atingirá a todos nós. As famílias que têm parentes internados ou de pacientes que já morreram também são convidadas a participar de uma missa celebrada uma vez por mês na clínica. O quarto grupo que também é trabalhado pela psicóloga para conservar a esperança são os funcionários da clínica. Rose explica que é fundamental que eles tenham uma boa estrutura psíquica e muita disponibilidade para dar o máximo de si para um ótimo atendimento aos pacientes. Na época da admissão, eles são entrevistados e conscientizados sobre as situações que vão

enfrentar. A psicóloga conta que a clínica tem sido muito feliz, pois os funcionários desempenham suas funções com grande eficácia e carinho para com os pacientes e colegas. “A afetividade nos sustenta e, mesmo ficando tristes quando perdemos um paciente, temos a sensação do dever cumprido”, salienta.

UMA LUZ NA FRIEZA DAS PRISÕES O ambiente frio das prisões é um local onde é difícil para os encarcerados conservarem a esperança. Muitos vivem em condições subumanas, ociosos, convivem com a tortura e longe de seus familiares. É dentro dessa realidade que atuam os agentes da Pastoral Carcerária, que são uma presença de amor e esperança dentro dos presídios. A coordenadora da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Belo Horizonte, Mary Lúcia Anunciação, explica que, se o preso não mantém vivo o sonho de um dia conquistar sua liberdade, ele sucumbe. Os agentes de pastoral são uma presença constante em muitos presídios, animando os encarcerados, mantendo-os informados sobre sua situação jurídica e denunciando a violência da qual eles possam ser vítimas. Mary analisa que, quando

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o preso demonstra preocupação com o tempo que ainda vai ficar preso, cobra os benefícios a que tem direito pela lei e faz planos de retomar uma vida normal depois que sair, é sinal de que a esperança de transformar sua realidade está viva. A coordenadora da Pastoral salienta que a própria presença dos agentes nos presídios é um sinal de esperança, já que eles não estão ali para julgar nem condenar ninguém, mas para ser uma presença amiga e afetuosa. Uma das preocupações da Pastoral Carcerária é não fazer doutrinação religiosa. É claro que aqueles que querem um conforto espiritual são atendidos, mas esse não é o objetivo central do trabalho. Os familiares dos presos, conforme Mary, na maioria das vezes ficam mais desesperançados do que eles próprios, porque não vivem a experiência carnal da prisão, mas estão presos pelo amor e pela preocupação que têm para com o parente encarcerado. A família fica fragilizada, pois não sabe bem o que acontece dentro dos presídios. A coordenadora da Pastoral diz que o trabalho do organismo com os familiares dos presos ainda é tímido, mas existe um projeto de incrementá-lo. “A Pastoral deve ser o elo que mantém viva a chama da esperança entre os presos e seus familiares”, acredita.


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A AIDS PERSISTE PADRE JÚLIO MUNARO

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o dia 23 de novembro de 2004, a ONU divulgou seu relatório anual sobre a Aids, a pandemia mais recente e que mais mortes causa no mundo. Ao surgir, há pouco mais de 20 anos, a Aids assustou muita gente pela rapidez com que se alastrava e pela facilidade com que levava suas vítimas. Hoje, a Aids já não assusta tanto, embora sua gravidade persista e o número de pessoas que afeta e de mortes que provoca não deixe de crescer. Os números do relatório impressionam. As pessoas infectadas pelo HIV passam de 39 milhões. Só no ano de 2004, o número de novos infectados beirou os 5 milhões ou uma média de 14 mil por dia. Segundo a Unaids, nunca houve tantos doentes de Aids como nesse ano. Quando a epidemia começou, os homens constituíam a grande maioria das vítimas, mas aos poucos o número de mulheres foi crescendo. Hoje representam 47,3% dos adultos infectados, e, entre 2002 e 2004, a porcentagem de mulheres infectadas cresceu 56% no Leste da Ásia, 48% na Europa e 60% na África Subsaariana. A persistir essa tendência, a Aids será, preponderantemente, doença de mulheres. Diante desta realidade, a Unaids intensifica a prevenção junto às mulheres. “O controle de casos entre mulheres e meninas é essencial para conter a escalada da epidemia”, afirma Carlos Lopes, representante da ONU no Brasil. E acrescenta: “Não há perspectivas de conseguirmos reduzir os índices entre o grupo feminino em curto espaço de tempo”. O grande obstáculo para conter a expansão da Aids no mundo feminino é a precária condição econômica e social das mulheres, além da baixa escolaridade, que as expõem à violência, à exploração e ao abuso sexual. Os mortos por Aids chegam a 3 milhões e 100 mil, 510 mil dos quais são crianças e adolescentes. Graças

a novos tratamentos, os afetados que, em média, viviam 18 meses hoje sobrevivem cinco ou mais anos. Mas a prevenção e o tratamento da Aids têm custos, nem sempre moderados. Por incrível que pareça, os governos nem sempre investem o suficiente para combater o mal, embora, convém reconhecer, os investimentos tenham quase triplicado nos últimos três anos. De 2001 a 2004, passaram de US$ 2,1 para 6,1 bilhões. Os especialistas, porém, estimam que, em 2004, a quantia razoável deveria ter sido de US$ 14 bilhões e deveria subir para US$ 20 bilhões neste ano. Muito dinheiro, mas bem menos do que se investe em guerras e se consome em drogas ou cosméticos. Por falar em drogas, a ONU alerta para o aumento dos casos de Aids decorrentes do uso de drogas injetáveis. O relatório adverte o Brasil de que não subestime as infecções provenientes do uso de drogas que, em algumas localidades, chega a 50% dos casos. Vários países resistem a adotar medidas a respeito. “Em alguns países será necessário esperar alguns anos para que os governos passem a admitir tal necessidade”, afirma Carlos Soares.

A distribuição gratuita de seringas descartáveis para os usuários de drogas contribui para evitar o contágio, como também o uso da camisinha nas relações sexuais, embora nem todos se disponham a usá-los. São recursos mecânicos que não interferem na mudança do comportamento ético das pessoas, mudança essencial para atingir a raiz do mal. As vias de transmissão do HIV são conhecidas e de fácil controle, mas a ignorância e o descuido se sobrepõem. Mas quem controla o tráfico de drogas ou o exercício da sexualidade numa sociedade que tudo subordina ao prazer e ao dinheiro, mesmo com risco de morte? Carlos Soares insiste em que “não podemos continuar baseando a prevenção somente no uso do preservativo”. Como não concordar com ele? O que não se pode é continuar buscando recursos mecânicos apenas, pois sem mudanças de comportamentos pessoais e coletivos nada se altera. Os recursos para combater a Aids aumentam, mas nem todos têm aceso a eles. O acesso a antiretrovirais, por exemplo, é extremamente baixo. Apenas uma em cada dez pessoas consegue tratamento. A ONU propõe que se garanta medicamentos para 3 milhões de doentes no ano de 2006. JÚLIO SERAFIM MUNARO é padre camiliano, coordenador da pastoral da saúde da Arquidiocese de São Paulo.

HOSPEDAGEM PARA O CONGRESSO Para aqueles que ainda não dispõem de lugar para hospedagem, os hotéis EXCELSIOR e TIMBIRAS oferecem hospedagem e transporte até o local do congresso. Entre em contato pelo telefone abaixo. A ligação é gratuita. HOTEL

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7 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE

Ano XXIII – no 232 – Julho de 2005 – BOLETIM ICAPS

TEMA: CELEBRANDO 25 ANOS DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE DATA:

10 e 11 de setembro de 2005

LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo Avenida Nazaré, 1501 – Ipiranga – São Paulo – SP 10 DE SETEMBRO – SÁBADO

11 DE SETEMBRO – DOMINGO

9h 00 às 9h 45 – História dos 25 anos de congresso 9h 45 às 10h 30 – As conquistas na área da saúde 10h 30 às 11h – Intervalo 11h às 11h 45 – Descobertas científicas e desafios éticos e bioéticos 11h 45 às 12h – Espaço para perguntas 12h às 13h 30 – Almoço 13h 30 às 14h – Tribuna livre 14h às 14h 45 – Campanha da fraternidade 14h 45 às 15h 15 – Relatório da Pastoral da Saúde CNBB 15h 15 às 15h 45 – Intervalo 15h 45 às 17h – A importância no cuidado de si mesmo 17h – Missa

8h 8h 40 9h 20 10h 10h 15 10h 45 11h 20 12h 15 13h 30 14h 14h 30 15h 15 15h 45 16h 30 17h

às 8h 40 – Aspectos médicos dos cuidados paliativos às 9h 20 – Aspectos práticos: controle da dor às 10h – Aspectos sociais dos cuidados paliativos às 10h 15 – Espaço para perguntas às 10h 45 – Intervalo às 11h 20 – Aspectos psicológicos dos cuidados paliativos às 12h 15 – Aspectos teológicos pastorais dos cuidados paliativos às 13h 30 – Almoço às 14h – Tribuna livre às 14h 30 – Prática saudável de vida às 15h 15 – Hipertensão arterial: um mal invisível às 15h 45 – Intervalo às 16h 30 – Obesidade: Um mal evidente às 17h – Espaço para perguntas – Missa e encerramento

Taxa: R$ 18,00 até 30 de agosto • R$ 30,00 após esta data ATENÇÃO: A organização do congresso não se responsabilizará pela hospedagem e alimentação dos participantes.

Informações e Inscrições: ICAPS – Avenida Pompéia, 1214A • 05022-001 São Paulo – SP Fone: (11) 3862-7286, ramal 3, com Cristiana – das 13h às 18h. Fax: (11) 3862-7286, ramal 6 E-mail: icaps@camilianos.org.br Promoção: Província Camiliana Brasileira, Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde – ICAPS Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB Apoio: Província Camiliana Brasileira • União Social Camiliana – USC

 FICHA DE INSCRIÇÃO O depósito para o pagamento da inscrição deverá ser feito em nome de: Província Camiliana Brasileira – Banco Bradesco – Agência 0422-7 – Conta corrente 89407-9. Após o depósito, mandar esta ficha e o comprovante bancário do depósito para a secretaria do ICAPS no endereço acima. Você poderá mandar a ficha e comprovante também pelo Fax. (11) 3862-7286, ramal 6. Nome Endereço

Cx. Postal Estado

Cidade Cep

Fone


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II Conferência Nacional de Agentes da Pastoral da Saúde

Prioridade 5 – Exigir dos conselhos de saúde e profissionais afins à saúde as fiscalizações das condições de trabalho e a situação ética do atendimento à saúde.

Uberlândia – 23 de abril de 2005

Prioridade 6 – Trabalhar junto a escolas as dimensões comunitária e político-institucional, valorizando as políticas de saúde bucal, visual e auditiva.

CARTA DE PRIORIDADES DA PASTORAL DA SAÚDE Prioridade 0 – Aprofundar o conhecimento sobre a E.C. 29/2000 e reivindicar o cumprimento desta emenda nas três esferas de Governo, junto às secretarias de saúde, Câmara Municipal, Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados, envolvendo a Sociedade Civil organizada e ainda fortalecer e integrar com outros conselhos.

Prioridade 7 – Incentivar a formação de uma equipe de agentes da Pastoral da Saúde para acompanhar as deliberações de conferências, as dotações orçamentárias, os planos de saúde e a agenda de saúde. Prioridade 8 – Incentivar e motivar o trabalho voluntário nas paróquias e instituições de saúde, reforçando a ação da Pastoral da Saúde. Prioridade 9 – Lutar pela Humanização dos profissionais de saúde para que vejam a pessoa como um ser humano e pleno.

Prioridade 1 – Incentivar os agentes da Pastoral da Saúde a se integrarem nos conselhos de saúde, nas esferas municipais, regionais, estaduais e federais, para otimização de uma consciência política e sua disseminação na comunidade.

Prioridade 10 – Realizar atividades como palestras, passeatas esclarecendo que “ com o semelhante do Criador não se faz experiências”, opondose a novidades contestáveis da Ciência no campo da Ética e Moral .

Prioridade 2 – Capacitar os agentes da Pastoral da Saúde para atuarem na área da Saúde Pública, priorizando um reconhecimento da área dos trabalhadores informais e promovendo uma transformação dos mesmos.

Prioridade 11 – Conscientizar os usuários dos seus direitos para exigir, nas três instâncias competentes, políticas eficazes de Assistência Farmacêutica, com distribuição de medicamentos garantidos em lei.

Prioridade 3 – Divulgar as políticas sociais e econômicas que garantam uma vida saudável, com vistas ao enfrentamento dos problemas nacionais prioritários em defesa da vida. Prioridade 4 – Participar na organização e confecção de cartilhas, com linguagem acessível à população, com distribuição em locais acessíveis a todos.

Prioridade 12 – Estabelecer parcerias com entidades da sociedade civil organizada, com o poder público e também com as dioceses para que todos possam produzir material informativo e educativo em Políticas Públicas em Saúde para a população em geral.

Participantes da II Conferência Nacional de Agentes da Pastoral da Saúde

Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde Fone (11) 3675-0035 e-mail: icaps@camilianos.org.br Av. Pompéia, 1214 A 05022-001 São Paulo, SP

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