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1234 Informativo 1234 1234 1234 do Instituto 1234 1234 1234 Camiliano 1234 1234 1234 de Pastoral 1234 1234 1234 da Saúde 1234 1234 1234 e Bioética 1234 1234
1234 1234 1234 1234 Janeiro/Fevereiro de 2006 1234 1234 1234 ANO XXIV – no 238 1234 1234 1234 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA 1234
❒ PASTORAL
❒ BIOÉTICA
❒ HUMANIZAÇÃO
DESCULPAS PARA NÃO ESCUTAR GRACIELA M. NIETO “
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SCUTA O QUE TE DIGO , mas escuta bem”. Todos nós, algumas vezes, dissemos ou ouvimos essa frase. Às vezes com resignação, com tristeza, com júbilo, com alegria, com raiva. Temos exigido dos outros, ou nos tem sido exigida total atenção, que é necessária para que possamos escutar realmente a outra pessoa. Acontece que escutar é um ato voluntário e, além disso, um ato de amor que requer um esforço que nem todos estão dispostos a realizar. Para não escutar, nos valemos de múltiplas desculpas: o cansaço, a pressa, nossos próprios problemas etc. Assim como ouvimos o ruído das sirenes, o som da chuva ou a conversa da mesa vizinha à nossa, é muito pouco o tempo que dedicamos a escutar. O sistema auditivo nunca descansa; até em sonhos percebemos os sons; e é o som desagradável do despertador que nos avisa que começa um novo dia. Entretanto, em que pese todo o tempo que passamos ouvindo, quando devemos passar para o plano da escuta as coisas mudam substancialmente. Vejamos, por exemplo, o seguinte caso: um conhecido me encontra na rua; não é alguém que considero um amigo, mas alguém com quem tenho uma relação de muita confiança. Ele tem tempo para beber algo e me convida para conversar. Eu estou apurado, mas não quero ser descortês, então aceito o convite, olhando o relógio para ver as horas. Enquanto o garçom nos traz o cardápio, falamos sobre o tempo chuvoso; percebo, então, que ele envelheceu um pouco, mas não lhe digo, nem que sua jaqueta não combina bem com a camisa. Estou pensando que chegarei mais tarde a uma reunião e que devo fazer algumas ligações telefônicas. Ele comenta a sua situação profissional, a economia e sobre o calor que faz. Percebo que não o estou escutando, que o que tem a me
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dizer não vai mudar o curso da minha vida nem da vida dele. Simplesmente, sentamos ali para preencher um silêncio que, de outro modo, seria incômodo. E penso, inevitavelmente, nessas oportunidades em que podemos compartilhar o silêncio com alguém, as palavras com alguém. Resgato de minha memória as palestras com amigos que não ficam só na “casca”, mas vão mais além; inclusive, até a madrugada, quando deixamos nossos lugares sabendo que somos os mesmos, porém diferentes. É que algo nos mudou: o escutar e o ser escutado nos tornam mais humanos, mais contraditórios; põem-nos entre parênteses em meio ao correcorre cotidiano… Penso em tudo isso enquanto não escuto meu amigo do bar. E soa contraditório que isso me ocorra quando o fato de falar sobre esse tema me obriga a dar-lhe mais atenção. Talvez, me consolo, o ato de escutar seja como o que ocorre nos casamentos: a culpa sempre é dos dois. Possivelmente, quando o circuito da comunicação falha em algum ponto, isso não se deva exclusivamente ao receptor (neste caso, eu), senão a um emissor que não usa o código correto (é vago, ambíguo ou irrelevante, etc.), ou ao canal, ou a determinadas situações que poderiam multiplicar-se até o infinito e também me deixariam com a certeza de saber que estava perdendo tempo; meu tempo, meu querido e precioso tempo, que é mal gasto enquanto correr de cá para lá, mas é meu. Se eu estivesse em conexão com este amigo, com certeza teria-me dado conta de muitas coisas; porque
quando alguém escuta não o faz somente com os ouvidos, mas toda nossa humanidade é posta a serviço do outro. Assim, se eu o tivesse advertido sobre a má combinação de sua roupa, possivelmente ele mencionaria que estava se separando de sua esposa – fato que seria reforçado pelo abatimento que tinha em seu rosto quando nos encontramos. No entanto, às vezes é muito complicado escutar; é necessária certa habilidade e treinamento; estamos tão acostumados a olhar para o próprio umbigo que perdemos a noção da existência do outro. Não é uma tarefa fácil a de conseguir separar o que é realmente importante numa conversa, daquilo que não é; às vezes, algo dito ao acaso, como uma piada, pode expressar muitas coisas que passarão despercebidas para alguém que ouve, ou, ao menos escuta parcialmente. Pobre do meu amigo, sentado neste bar diante de uma pessoa que finge escutá-lo e demonstrar interesse por seus comentários triviais. Para compensar minha atitude, decidi fazer o máximo esforço e comecei a escutá-lo atentamente; notei, então as contrações nos seus gestos, o tom de voz mais alto que o habitual, certa hostilidade que não
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EXPEDIENTE
usava quase nunca, o olhar carregado de tristeza. Esqueci-me da hora, de minha citação, do meu artigo, do esforço em escutá-lo e até da circunstância de o estar escutando. Entendi o que queria dizer-me. Minha indiferença ou minha ansiedade iniciais tinham-se convertido em empatia. Todo o meu ser estava escutando algo que para mim poderia ser irrelevante ou alheio, mas para o outro era motivo de angústia e sofrimento. Ofereci-lhe meu silêncio respeitoso e despojado de qualquer preconceito. Agora que me lembro, creio que até perdi a noção de minha própria consciência. Não me lembro o que lhe disse; não sei quais foram as minhas palavras ou se cheguei a dizer-lhe algo por meio da linguagem oral e o mais provável é que um abraço sincero nos tenha aproximado silenciosamente. É possível que ele se lembre melhor do que eu. A memória consegue recordar melhor do bem recebido que do oferecido. Quando saímos do bar era tarde. Muito tarde. Fui caminhando até minha casa, sabendo que era a mesma, mas, desta vez, diferente. Não havia perdido muito… Talvez algum contato interessante para meu futuro profissional; talvez não. Havia deixado de ligar para duas pessoas, por cortesia. Em casa, estariam preocupados ao perceber meu celular desligado. O mundo, finalmente, não havia caído. Pensei nas desculpas que os seres humanos são capazes de inventar para mostrar-se ocupados e imprescindíveis quando, na realidade, é muito mais prazeroso e gratificante sentirmo-nos simplesmente vivos. Vocês que “escutaram” minhas palavras, me converteram com seu silêncio respeitoso, naquele amigo do bar que tinha algo para dizer e foi escutado. E não é pouco.
A GENÉTICA DO ENVELHECIMENTO JOSÉ GOLDENBERG
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O ENVELHECER, o indivíduo pode desenvolver doenças predispostas ao seu perfil genético. Por isso, é fundamental um estilo de vida saudável que inclua alimentação balanceada, exercícios orientados e práticas esportivas, hábitos de higiene, redução do estresse, abolição total do fumo, consumo de álcool com moderação, relações afetivas bem estruturadas e atividade profissional vocacionada. Nessa fase, dependendo dos aspectos já mencionados, o indivíduo está sujeito a mudanças que conduzem a uma perda progressiva das suas capacidades físicas e/ou mentais, o que causa em alguns uma sensação de decadência. Em geral, quando envelhecemos, sistemas e órgãos podem sofrer modificações, tais como: os ossos podem tornar-se mais frágeis e vulneráveis a fraturas, músculos e articulações podem perder força e flexibilidade, o cérebro pode apresentar alterações da memória, dificuldades adaptativas para novas situações com prejuízo das funções intelectuais, artérias podem endurecer, dificultando a passagem de sangue, entre outros. O desejo de prolongar a vida, encontrar o elixir da juventude e adiar a velhice sempre fez parte dos anseios do ser humano e, nos dias atuais, em que a sociedade cultua a juventude e o corpo, alguns homens e mulheres são levados a uma obsessão por tratamentos que prometem o rejuvenescimento. Para além da aparência física, outros aspectos devem ser valorizados e estimulados. A vida se faz por meio de exemplos, como observou Albert Einstein, um sábio em sua área de atuação, e todos nós podemos ser sábios, transmitindo experiências, valores, fundamentos, capacidade inte-
O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética — Província Camiliana Brasileira.
Revisora: Dayane Cristina Pal
Presidente: José Maria dos Santos Secretária: Viviane Rodrigues Silva Conselheiros: Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin Diretor-Responsável: Anísio Baldessin
e-mail: icaps@camilianos.org.br
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Redação: Av. Pompéia, 1214A Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05022-001 São Paulo, SP Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares
lectual, bom relacionamento com amigos e familiares e capacidade de receber e dar afeto, entre outros. É essencial manter sempre pensamento positivo, pois a saúde física e mental estão fortemente interligadas e deverão permanecer associadas, o que torna verdadeiro o ditado “mente sã em corpo são”. Para que se tenha um processo saudável de envelhecimento é necessário que, ao longo da vida, haja um preparo físico, mental e financeiro, o que permitirá a manutenção da autonomia do indivíduo e contribuirá para uma autoimagem positiva. É lógico que um bom estado de saúde física e mental favorece a aceitação das mudanças que ocorrem com o passar dos anos, mas quando ocorrem doenças, dependendo da gravidade das mesmas, a adaptação poderá ser mais difícil. Em todo caso, para se manter ativo no envelhecimento não é necessário lutar contra o tempo ou ter a preocupação de retardá-lo. É muito importante a avaliação que cada indivíduo faz de si mesmo no relacionamento com as outras pessoas (núcleo familiar, relação conjugal, relação com filhos e amigos, convivência com um doente, com um animal de estimação e, principalmente, com a sua ocupação). A aposentadoria pode ser uma fase agradável para aqueles que conseguem realizar tudo aquilo que planejam em suas vidas. Mas para outros, infelizmente, a aposentadoria traduz-se em exclusão social, sensação de ser um fardo para a família e sociedade, e a crença em que o trabalho e o êxito profissional são as únicas formas de satisfação e ascensão social. A pessoa passa a sentir– se inútil e não encontra mais estímulo e sentido de vida, deixa de ser produtiva e perde a capacidade de realizar um trabalho eficiente. Artigo publicado no jornal, O Diário de São Paulo, em 27/9/2005
Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições ( janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
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VERDADE SOBRE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS IVES GANDRA DA SILVA MARTINS E LILIAN PIÑERO EÇA
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da República ingressou com ação direta de institucionalidade contra lei que aprovou a manipulação de embriões humanos vivos para investigação científica. Os dois signatários deste artigo estão convencidos de que a ação, juridicamente, é irrepreensível e, cientificamente, se acolhida, uma enorme contribuição à comunidade científica. Do ponto de vista jurídico, dúvida não existe. Declara a Constituição que o direito à vida é inviolável. O tratado internacional sobre direitos fundamentais de São José determina que a vida começa na concepção e que a pena de morte é condenável tanto para o nascituro quanto para o homem adulto. Seria, pois, ridículo se todos os direitos estivessem garantidos, exceto o direito à vida. A vida começa, portanto, na concepção, não se justificando que os seres humanos sejam, como nos campos de concentração de Hitler, também no Brasil objeto de manipulação embrionária. A lei é manifestadamente inconstitucional do ponto de vista jurídico. PROCURADOR GERAL
DO PONTO DE VISTA CIENTÍFICO, A LEI NÃO MERECE MELHOR SORTE
1 No caso da utilização de embriões congelados há mais de 3 anos, trata-se de um transplante heterólogo, com grande possibilidade de rejeição, visto que, à medida que essas células se diferenciam para substituir as células lesadas num tecido degenerado, elas começam e expressar as proteínas responsáveis pela rejeição (Jonathan Knigth). 2 Allegrucci e colegas dizem que as células-tronco de embriões congelados estão longe de ser a “perfeita fonte de células para terapias”, pois originam teratomas (tumores de caráter embrionário). 3 Além disso, ocorrem metilações no DNA dos embriões congelados, as quais não são passíveis de iden-
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tificação, aumentando o risco de silenciarem genes. Portanto, não servem para a pesquisa. 4 Há total descontrole das células embrionárias, o que faz surgir diferenciações em tecidos distintos nas placas de cultura, com o que se poderia renovar experiências que fossem atribuídas a Frankstein. 5 Cada blastocisto fornece entre 100 e 154 células-tronco embrionárias. É preciso saber quantos embriões humanos frescos seriam sacrificados. Por exemplo, na terapia com autotransplante de célulastronco adultas provenientes da medula óssea é necessário um total de 40 milhões de células-tronco; vale dizer, então, que haveria necessidade de 300 mil a 400 mil embriões, pois não se pode expandir o número dessas células em placas, por motivo de contaminação. 6 Andrews e Thomson, em 2003, afirmam que as células-tronco humanas em cultura apresentam anormalidades cromossômicas à medida que se diferenciam, o que produz o risco de se tornarem malignas. 7 Quanto à clonagem terapêutica, não se conseguiu até agora clonar um primata. Nas tentativas realizadas, foram obtidas meia dúzia de células aneuplóides (células cujos núcleos contêm um número diferente de cromossomos). 8 Feeder layes são camadas de tecidos retiradas de fetos vivos em qualquer estágio, vendidas em dólares nos Estados Unidos, e que são utilizadas para garantir a qualidade do cultivo das células-tronco embrionárias. 9 Joel R. Chamberlain e colegas mostraram em estudo que há doenças genéticas que podem ser tratadas com células-tronco adultas, modificadas geneticamente, como no caso da Osteogenesis Imperfecta, doença que origina desordens ósseas no esqueleto. Os resultados demonstrados foram um sucesso.
10 “Célula adulta age como embrionária”, de acordo com o cientista Rudolf Jaenish. O segredo está guardado em uma “chave” molecular: o gene Oct-4. A molécula trabalha no estágio inicial do embrião, “segurando” as células para não se diferenciarem antes da hora. No tempo adequado, o gene se desliga e as células formam, então, os tecidos certos. Com o controle do gene, é possível fazer com que certas células-tronco adultas sejam mantidas nesse estágio sem diferenciação, o que pode expandir seu campo de atuação na pesquisa de novos tratamentos. Há alternativas para estudar a cura das doenças. Cresce o número de trabalhos nos quais se verifica, com sucesso, a recuperação de tecidos e órgãos lesados, utilizando células-tronco adultas. Um exemplo a ser citado é o trabalho de Nadia Rosenthal, publicado no “Proceedings of the National Academy of Sciences”, sobre o sucesso em usá-las para recuperar tecidos musculares. Devemos lembrar, também, do sucesso do pioneirismo brasileiro nas aplicações de células-tronco adultas em seres humanos, no tratamento das cardiopatias, doenças auto-imunes, lesão da medula espinhal, lesão de nervos periféricos, entre outras. Como se percebe, em vez de o governo aplicar recursos na manipulação e eliminação dos seres humanos, transformados em cobaias, como ocorreu no nacional-socialismo alemão, poderia investir maciçamente na investigação das células-tronco do próprio paciente ou na dos cordões umbilicais. Cremos que, se o STF declarar a inconstitucionalidade da manipulação dos embriões humanos, voltará o governo seus olhos para aquelas experiências com células-tronco adultas, cujos resultados, no mundo inteiro, são cada vez mais auspiciosos. Ives Gandra da Silva Martins é advogado tributarista, professor emérito de algumas universidades. Lilian Piñero Eça é biomédica e doutora em biologia molecular pela UNIFESP.
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O QUE ACONTECE QUANDO UMA CRI ALEJANDRO ROCAMORA BONILLA
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eraldo tem oito anos. Por duas vezes foi operado de um tumor cerebral que havia sido diagnosticado quando tinha seis anos. “Passou de uma vida normal — nos disse a mãe — a estar freqüentemente no hospital, até o implante de uma válvula”. Converteu-se numa criança retraída que tem, algumas vezes, ataques de raiva. Como reagiu o resto da família? VEJAMOS: Uma criança com uma doença grave desperta um total aglomerado de sentimentos que podemos resumir em dois: culpa e impotência. Uma criança é um ser débil e vulnerável. Sua fragilidade precisamente se manifesta quando aparece a dor e o sofrimento. Além disso, a experiência da doença no filho faz aparecer os velhos fantasmas das próprias limitações. Em termos psicodinâmicos é o que se chama “a ferida narcisista”. Constatamos que não podemos tudo e que não temos a “chave mágica” da felicidade do ser querido. A doença nos situa em nossa realidade autêntica: somos seres finitos. E essa tomada de consciência nos produz angústia. CULPA E IMPOTÊNCIA O pai de Geraldo me dizia certa vez: “Minha dor é de raiva e impotência, pois não posso fazer nada para aliviar o sofrimento do meu filho; não me importaria em morrer por ele, pois não posso suportar sua angústia”. Além disso, a doença de uma criança rompe todos os esquemas. Por isso, nos apressamos em buscar rápidas explicações: “você é o culpado”, “eu sou inocente”, “houve um erro médico” etc. Queremos diminuir a angústia por meio da culpa, mas es-
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se sentimento acaba por não solucionar nada e ainda piorar as coisas, pois reforça mais o sofrimento, se isso é possível. Tanto faz se é uma “culpa paranóica” (o mal está na família, nos médicos, na instituição etc.) ou se é uma “culpa depressiva” (“desde o diagnóstico do meu filho, a vida não tem sentido para mim e só desejo a morte”, nos dizia a mãe de Gerardo). Tanto uma culpa como outra podem produzir um “bem-estar” momentâneo, porém no fundo não solucionam nada. É a “felicidade” do delinqüente que reconhece seu delito. A culpa e a impotência se dão as mãos, geram um mal-estar em toda a família e se transformam em angústia. Definitivamente, a doença do filho modifica nossa escala de valores (começamos a dar importância verdadeiramente ao que se deveria: a companhia, o dividir etc.) e nos faz pisar na terra e sentir que neste mundo existe a dor e o sofrimento e que, porém, não podemos evitá-lo, nem sequer às pessoas que mais amamos: nossos filhos. RESPOSTA DOS PAIS Os pais de Geraldo, como tantos outros, entraram numa dinâmica de atenção a seu filho doente que se concretizou nas seguintes condutas: MULTIPLICAÇÃO DE CONSULTAS: é uma entre as tantas falsas saídas para a situação; tudo parece pouco para a criança doente: urgência hospitalar, o melhor especialista no assunto e até mesmo a curandeira de plantão ou a mais famosa da região. Mas o que se consegue é “deixar o doente mais doente” e incapacitado para um desenvolvimento normal de suas possibilidades reais e objetivas. Tudo isso cria uma vivência de confusão em relação ao diagnóstico e ao tratamento, que em nada favorece a cura da pessoa. E tal confusão leva a mais impotência e a mais angústia, com o que a espiral de culpa prossegue. SUPERPROTEÇÃO: é uma conseqüência do fato de sentir a criança doente
como mais frágil do que ela é. No fundo, o que se pretende é diminuir a culpa que nos corrói e compensar com dedicação e abnegação as fantasias erradas que temos cometido para que a doença se produza. Por isso, o que estamos conseguindo não é tranqüilizar o doente, mas a nós mesmos. INFANTILIZAR A CRIANÇA: é o resultado das condutas anteriores: supõe negar à criança sua capacidade para controlar as conseqüências da doença. Às vezes, com nossa proteção e cuidados excessivos diminuímos nossa culpa, mas impedimos o desenvolvimento adequado da pessoa doente. A mensagem pretende ser esta: “Eu sou todo-poderoso; não se preocupe”. Mas a realidade é muito diferente: os pais são limitados e a criança doente tem muito mais possibilidades do que pensamos. Um exemplo: Javier é uma criança diabética. É dependente de insulina e deve ter um cuidado estrito com a comida (deve evitar doces e medir os carboidratos que come, entre outras limitações). Neste verão, ele participou de um acampamento e, durante doze dias, teve de controlar sua própria alimentação e as doses de insulina que deveria tomar. Resultado: um controle perfeito de seus níveis de glicemia… e isso porque os pais (exatamente por isso) estavam a muitos quilômetros de distância. DESCUIDO DOS FILHOS SADIOS: o que, no início da doença, parece ser algo compreensível, com o passar do tempo pode produzir um forte sentimento de abandono nos filhos sadios. Assim se expressava Andrés, irmão de uma criança com Síndrome de Down: “Desde muito pequeno me dei conta que somente estando doente meus pais me davam atenção”. Atualmente, precisa de ajuda psiquiátrica por uma sintomatologia de hipocondria. Não é uma relação de causa e efeito, mas pode acontecer, nas famílias com um filho doente, uma supervalorização do corpo que leve a uma preocupação excessiva por ele.
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MA CRIANÇA ADOECE?
BONILLA REAÇÕES DOS IRMÃOS A doença de uma criança sempre atinge todos os que vivem ao seu redor. É como uma pedra lançada numa represa: as ondas se expandem por toda a superfície. Aqui a doença leva a supor, como dissemos em outras ocasiões, uma troca de posição de cada membro da família a respeito do outro. E isto é assim por uma questão de sobrevivência, pois do contrário a família poderia naufragar, desestabilizar-se totalmente. As reações dos outros irmãos são muito diferentes. Podemos analisar algumas delas: TRAVESSURAS OU “CONDUTAS NOVAS”: o irmão sadio, para encontrar sua nova posição, ou para não perder a atenção dos pais, pode-se fazer presente por meio de condutas muito diferentes: travessuras, pequenos furtos, baixo rendimento escolar etc. No entanto, algumas vezes essas condutas geram atitudes opostas por parte dos pais: afastamento, castigo, ou, em alguns casos, esquecimento. CIÚME: é mais um degrau na escala de rivalidade com o irmão doente. Luta-se para conseguir afeto e proteção, mas por meio da “destruição” da pessoa em questão: desqualificando-a, ridicularizando-a etc. Mas também, neste caso, se consegue o contrário do que se pretende: maior atenção à criança doente, supostamente mais frágil e indefesa, ante os “ataques” do outro. MOLÉSTIAS PSICOSSOMÁTICAS: a doença pode-se transformar, nessas famílias, na única via de comunicação e de atenção entre pais e filhos. Converte-se em “uma boa desculpa” para receber carinho e afeto. Não é estranho, pois, que os sintomas psicossomáticos (cefaléias, dores difusas, náuseas etc.) apareçam nos outros membros da família. São famílias que se comunicam através do corpo, que se converte na única forma de manifestar o prazer ou o desprazer. CRIANÇA MODELO: A reação pode, também, ser a oposta: converter-se na “criança perfeita” para que papai
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e mamãe não sofram. Tudo isso vem carregado de uma forte agressividade (ódio) contra o membro enfermo, que provocou esta situação: ninguém pode nunca quebrar as normas, nem a lei familiar. A doença se constitui na pedra principal de toda a estrutura familiar e tudo gira em torno dela: tanto o positivo como o negativo. CHAVES PARA REORGANIZAR-SE A família de Geraldo perdeu vários anos para reorganizar-se depois da aparição do câncer. Foi um momento de inflexão na dinâmica familiar. “Com grande esforço – nos disse o pai – temos podido re-situar-nos no lugar que nos corresponde, mas sem esquecer a nova realidade da doença”. Essas são algumas das pistas que têm seguido para chegar a esta meta. OS PAIS COMO FIGURAS PRINCIPAIS: sempre os pais devem ser, pela lei natural, o ponto de referência do resto da família, mas quando aparece uma crise (a doença de um de seus filhos) se convertem em figuras insubstituíveis. Sua estabilidade será um perfeito amortecedor da angústia do resto da família. É deles e com eles que se poderá sair fortalecido dessa situação crítica. Todos são informados sobre a doença (sobre suas possibilidades e limites) e serão tomadas decisões de forma colegiada, nos aspectos que afetem a dinâmica familiar (horários, folgas, etc). COMPARTILHAR OS SENTIMENTOS: Diante da doença grave de uma criança, geralmente tendemos a ocultar nosso sentimento de angústia e de pena. Dizia-me uma mãe no hospital: “Tenho de sair do quarto do meu filho para que ele não me veja chorar”. O negativo não é essa conduta, mas negar a evidência: “Aqui
está tudo bem…”. Não queremos dizer que devamos compartilhar com a criança todos os nossos sentimentos (temores, culpa, medos etc.), mas sim tentar fazê-la participante de alguns deles, sobretudo dando-lhe a oportunidade de expressar suas próprias angústias. CULPA REPARADORA: Existe uma culpa inoperante e estéril, que só consegue produzir mais angústia e desassossego. Manifesta-se por meio de contínuas queixas e remorsos pelo que se fez ou se deixou de fazer. Mas também existe uma culpa reparadora que oferece os meios para que a doença, em si algo negativo, seja motivo para o crescimento pessoal da criança e da própria família. É a “culpa” que produz uma mudança na própria pessoa e nas pessoas a seu redor, favorecendo a autonomia e a maturidade da criança, dentro das limitações próprias da doença. Quando a culpa é reparadora, a pessoa acaba por tirar algum proveito, inclusive de uma situação tão adversa como a doença de uma criança.
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A SAÚDE HOJE AUGUSTO VILA CHÃ
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IS UM TEMA QUE NOS TOCA ,
que nos preocupa, que precisa de uma reflexão. Gozar da saúde é uma aspiração de todos. Todavia, em que consiste, ou em que deve consistir, a saúde? O que é a saúde para o homem de hoje? Formular o conceito de saúde não é fácil. Descobrir em que é que para isso pode contribuir a Igreja, na perspectiva de valores evangélicos, é outro desafio. Um desafio que está relacionado com a cultura da saúde e com a função evangelizadora da Igreja.
A SAÚDE HOJE A saúde é uma aspiração fundamental do ser humano. Vivemos imersos numa cultura da saúde. Caracterizam-na atitudes e comportamentos que a configuram em diversos aspectos. Aspectos esses que correspondem à maneira de viver a própria saúde. Podemos transformá-la num valor absoluto, porque é o critério supremo do nosso estilo de vida. Podemos exaltá-la tanto que nos leve a negar a realidade da doença. Podemos transcurá-la e pô-la em risco levando um estilo de vida pouco saudável. Podemos “medicá-la”, refugiando-nos num recurso exagerado de fármacos e instituições de assistência médica. Definir a saúde não é tarefa fácil. A OMS deu uma primeira definição. “Um estado perfeito de bem-estar físico, mental e social, e não só uma ausência de doenças”. A definição distingue dois níveis de saúde. O primeiro refere-se à saúde biológica, isto é, à ausência das patologias descritas nos tratados de medicina. O segundo refere-se à saúde biográfica, isto é, à realização do projeto de vida que cada pessoa desenha para si. Os dois níveis devem relacionar-se de forma coerente e complementar. O aprofundamento do conceito de saúde tem levado à formulação de novas definições. Do X Congresso de Médicos e Biólogos de Língua Catalã, realizado em Perpinhão, saiu esta definição: “Toda a maneira de viver que é autônoma, solidária e agra-
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dável”. Mais que uma definição é uma descrição que põe o acento nas atitudes que favorecem o viver saudavelmente. Posteriormente, o Prof. Dr. Garcia Guillén propôs a sua versão: “A capacidade de nos apropriarmos de nosso corpo de forma racional e agradável”. Ao analisar as diversas definições, apercebemo-nos de que em cada modelo de saúde se encerra uma determinada concepção de homem. A definição de saúde é relativa e referida sempre a um determinado contexto social. A pessoa e a sociedade é que definirão e estabelecerão o que para elas seja saúde. Nessa definição ou concretização entrarão a concepção de vida, as necessidades e prioridades individuais e comunitárias, o sistema sanitário, a economia, a distribuição de recursos. O Dr. Lain Entralgo assinala quatro facetas que definem a situação atual no mundo da saúde: a) A tecnicização instrumental levada ao extremo. b) A crescente coletivização da assistência médica. c) A personalização do doente. d) A prevenção da doença e a promoção da saúde.
JESUS E A SAÚDE O Evangelho de S. João revela-nos com estas palavras a missão de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Vida e saúde constituem o horizonte e inspiração da atividade messiânica de Jesus. A sua presença, as suas intervenções, gestos e atitudes, tudo nele é sanativo. Tudo nele promove a vida e a saúde do ser humano. O tema escolhido para este ano é “Jesus é a saúde”.
O PERFIL SANATIVO DE JESUS — Fala de uma saúde integral. Jesus procura a cura integral das pessoas, a inteira reconstituição do doente. Fala mesmo de um homem novo (Jo 7,23). Para curar, Jesus põe o doente em contato com a parte de si ainda
sã e estimula o melhor desse desejo de vida que se esconde em cada homem e em cada mulher. A sua pergunta é concreta: “Queres curar-te?” (Jo 5,6). Apela a todos para a “conversão do coração”. Jesus traz paz, bênção, perdão, harmonia e confiança perante o futuro e à vida das pessoas. Facilita a reconciliação com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a criação inteira. — Fala de uma saúde libertadora. Curar é libertar uma agrilhoada pelo mal, desbloquear aquilo que impede o são desenvolvimento da pessoa. A cura liberta a pessoa, leva-a a apoderar-se mais plenamente do seu corpo e da própria existência. — Fala de uma saúde crucificada. A cruz continua hoje a ser “escândalo e loucura” na maioria dos modelos vigentes de saúde. Essa saúde crucificada por amor é juiz e libertador radical ante qualquer forma de saúde desumanizada pelo egoísmo, pela falta de solidariedade ou pelo medo. Continuamos a ouvir distintamente: “Quem perder a vida por mim e pelo Evangelho há de salvála” (Mc 8,35). — Fala de uma saúde individual e social. Jesus promove também uma saúde social: toda a cura pessoal tem uma repercussão comunitária. Refazer o convívio é favorecer a solidariedade, a justiça, o amor, a verdade, a dignidade da pessoa. — Fala de uma saúde oferecida aos mais fracos. Jesus tem preferência pelos grupos ou pessoas que se acham mais desvalidos e sem recursos. A marginalidade em que vivem é parte do seu mal. A saúde é-lhes oferecida como reconstrução interior e como integração no círculo social.
A IGREJA E A SAÚDE Na missão da Igreja, a saúde deve ser também horizonte e inspiração da sua ação evangelizadora. Dialogar com a cultura da saúde e prestar um serviço à saúde são dois aspectos fundamentais na luta e na colaboração por uma saúde para todos. Uma colaboração que ajude a buscar e gozar deleitosamente a saúde, a viver “sãmente” a doença e a assumir serenidade diante do incurável.
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As grandes linhas de ação poderiam ser:
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NUNCA É TARDE — VOCÊ AINDA PODE CORRIGIR SEUS MAUS HÁBITOS
AJUDAR A DISCERNIR A Igreja pode ajudar a elaborar criticamente um modelo de saúde que acolha contributos interdisciplinares relacionados com a totalidade do homem e do humano. A análise crítica pretenderia ajudar a definir a saúde que buscamos, a determinar prioridades e a distribuir recursos. Promover a saúde integral é uma tarefa muito importante que a Igreja desempenha por meio de várias ações: educar para viver a vida de forma sã em toda a sua complexidade; acompanhar o doente no processo da cura; acompanhar o doente crônico ou terminal no seu esforço para assumir a sua situação; ajudar a descobrir novas possibilidades e sentido na própria vida.
PROPOR UMA CULTURA DO CORPO Supõe sublimar não só o vigor, a beleza e o bem-estar corporal, mas também a vida afetiva, mental e espiritual. Ajudar a cultivar os valores espirituais é uma maneira de favorecer uma vida com qualidade, que humaniza, que equilibra e dá sentido a tudo o que vive.
PROMOVER UMA VIDA MAIS SÃ Supõe que cada pessoa e cada comunidade cristã assimila o estilo de vida evangélico. Nada mais são do que crer, esperar, amar, viver em comunhão e em paz consigo mesmo, com Deus e com os outros. Do mesmo modo, desenvolver uma dimensão de compromisso e de colaboração em iniciativas e programas que visem dar qualidade e sentido à vida: a luta por melhorar certas condições de vida menos saudáveis; a luta por elaborar estruturas mais humanas que facilitem o bem-estar integral; o cultivo de relações mais humanas e cordiais; o fomento a costumes sãos no nosso estilo de vida. Nada mais são e sanativo do que valorizar o esforço e a entrega de tantos profissionais que se sentem comprometidos com as pessoas para tornar possível a saúde. Nada mais são e sanativo do que construir comunidades vivas, capazes de acolher com atenção e calor humano, capazes de construir lares saudáveis.
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UITAS AGRESSÕES que pratica-
mos contra o nosso corpo quando adultos — exagerar na comida, ter uma vida sedentária e nos aborrecer com pequenos problemas — fundamentam-se em dois conceitos herdados da infância. O primeiro deles é a suposição de que somos indestrutíveis. O outro é a crença de que basta nos dispormos a corrigir nossos erros para reverter todo o mal que infligimos a nós mesmos. Se a evidência do equívoco da primeira suposição ainda não salta aos olhos quando você se surpreende nu diante do espelho, basta esperar. Mas e se você começasse a se alimentar direito, a cuidar da forma física e abandonasse todos os maus hábitos? Ainda haveria tempo para corrigir os estragos? Surpreendentemente, a resposta é sim. Nos últimos cinco anos, os cientistas acumularam muitos dados sobre o que acontece aos preguiçosos que começaram a envelhecer e decidem dar uma virada em suas vidas. A conclusão é alentadora: o corpo tem uma capacidade impressionante de recuperação, desde que os danos não sejam extremos. As conseqüências de alguns hábitos nocivos — o fumo, em particular — podem-nos perse-
guir por décadas. No entanto, grande parte dos malefícios de outros hábitos, em especial os que afetam o sistema circulatório, pode ser neutralizada. “Mudanças no estilo de vida e comportamento saudáveis têm impacto a partir do momento em que são adotados”, diz o Dr. Jeffrey Koplan, diretor dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. “Pode não ser na mesma hora. É como pisar no freio. É necessária certa distância até o carro parar”. Mas essa distância pode ser bastante curta. Considere as recentes conclusões em linhas de frente da pesquisa médica: — Em um estudo de janeiro de 2001, o Journal of the American Medical Association concluiu que o risco de mulheres que consomem duas porções de peixe por semana sofrerem um acidente vascular cerebral (AVC) trombótico é a metade daquele de mulheres que comem menos de uma porção por mês. — Exames laboratoriais mostram que um maior consumo de frutas, vegetais e fibras reduz a pressão arterial e, por conseguinte, o risco de doenças cardíacas e AVC. Os cientistas descobriram que mulheres sedentárias até os 40 anos, que começaram a fazer
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Ano XXIV – no 238 – Janeiro/Fevereiro de 2006 – BOLETIM ICAPS
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caminhadas aceleradas de meia hora por dia, quatro dias por semana, passaram a apresentar quase o mesmo baixo risco de enfarte de mulheres que praticaram exercícios a vida toda. — No mesmo dia em que você pára de fumar, os níveis de monóxido de carbono do corpo caem de forma drástica. E, em algumas semanas, o sangue vai ficando menos viscoso e o risco de morte por enfarte começa a diminuir. É óbvio que a adoção de hábitos saudáveis não vai curar todos os males. Os médicos, porém, acreditam que muitas doenças crônicas — da diabete e da hipertensão às doenças cardíacas e mesmo a alguns tipos de câncer — podem ser evitadas com algumas alterações sensatas no estilo de vida. Você não sabe por onde começar? Por incrível que pareça, não faz diferença, pois uma transformação positiva costuma conduzir a outra. Aumentar a atividade física, por exemplo, inspira muitas pessoas a comer de modo mais saudável. Faça um número razoável de mudanças e descobrirá que adotou um novo estilo de vida. Não dá para se tornar indestrutível, dispensar os médicos ou esperar viver eternamente. Mas, se você não tentar, ficará sem saber até que ponto é possível reverter os prejuízos. Nunca é tarde demais para: 1) Comer direito. A vantagem imediata de uma dieta saudável é a diminuição da pressão arterial. Em pessoas hipertensas, a versão com baixo teor de
sódio da dieta DASH (Abordagens Dietéticas de Controle da Hipertensão) — que dá ênfase a frutas, vegetais, laticínios desnatados e cereais com alto teor de fibras — pode ser tão eficaz na redução da pressão arterial quanto a medicação anti-hipertensiva. Além disso, o cálcio extra da dieta DASH ajuda a reduzir o risco de osteoporose. A fibra presente em frutas, vegetais e cereais contribui para controlar os níveis de glicose no sangue em muitos pacientes com diabetes tipo 2, podendo chegar a diminuir a necessidade de medicação. A longo prazo, a dieta DASH pode ajudar a diminuir o risco de alguns tipos de câncer. “É uma dieta para todas as doenças”, diz o Dr. Lawrence Appel, pesquisador das Johns Hopkins Medical Institutions, de Baltimore. 2) Manter a forma. Uma das descobertas surpreendentes da última década é que a musculação reverte alguns efeitos do envelhecimento. Aumenta a força, ajuda a restaurar a densidade óssea e reduz a dor da atrite no joelho. Segundo os especialistas, qualquer um pode se beneficiar-se da musculação. Isso não significa abandonar os exercícios aeróbicos. Até mesmo uma caminhada acelerada de meia hora, três vezes por semana, faz bem. Praticamente, no instante em que o coração começa a bater com mais vigor, os vasos sanguíneos ficam mais flexíveis, diminuindo a pressão arterial. Texto extraído – USC Informa – Jan./Fev./Mar. – 2002.
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Av. Pompéia, 1214A 05022-001 São Paulo, SP
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