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❒ PASTORAL

❒ BIOÉTICA

❒ HUMANIZAÇÃO

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A BÍBLIA, TANTO NO ANTIGO COMO NO NOVO TESTAMENTO encontramos muitas passagens que falam sobre curas e deficiências. Nelas, podemos observar as mais diferentes maneiras de comportamento e as diferentes alternativas. Neste artigo, dois personagens bíblicos nos ajudarão a refletir. Trata-se do paralítico da piscina de Betesda (Jo 5,2-9) e de Bartimeu, o cego que estava à beira do caminho de Jericó (Mc 10,46-52).

O COMODISMO DO PARALÍTICO, AS ALTERNATIVAS DE BARTIMEU ANÍSIO BALDESSIN OS PERSONAGENS BÍBLICOS “Em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, existe uma piscina rodeada por cinco corredores cobertos. Em hebraico a piscina chamava-se Betesda. Muitos doentes ficavam aí deitados: eram cegos, coxos e paralíticos, esperando que a água se movesse porque um anjo descia de vez em quando e movimentava a água da piscina. O primeiro doente que entrasse na piscina, depois que a água fosse movida, ficava curado de qualquer doença que tivesse. Aí ficava um homem que estava doente há trinta e oito anos. Jesus viu o homem deitado e ficou sabendo que estava doente há tanto tempo. Então lhe perguntou: ‘Você quer ficar curado?’. O doente respondeu: ‘Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina quando a água está se movendo. Quando vou chegando, outro já entrou na minha frente’. Jesus disse: ‘Levante-se, pegue sua cama e ande’. No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua cama e começou a andar” (Jo 5,2-9). “Chegaram a Jericó. Jesus saiu de Jericó junto com seus discípulos e uma grande multidão. À beira do caminho havia um cego que se chamava Bartimeu, o filho de Timeu; estava sentado, pedindo esmolas. Quando ouviu dizer que era Jesus Nazareno que estava passando, o cego começou a gritar: ‘Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!’. Muitos o repreenderam e man-

daram que ficasse quieto. Mas ele gritava mais ainda: ‘Filho de Davi, tem piedade de mim!’. Então Jesus parou e disse: ‘Chamem o cego.’ Eles chamaram o cego e disseram: ‘Coragem, levante-se porque Jesus está chamando você’. O cego largou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe perguntou: ‘O que você quer que eu faça por você?’. O cego respondeu: ‘Mestre eu quero ver de novo’. Jesus disse: ‘Pode ir, a sua fé curou você’. No mesmo instante o cego começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10, 46-52). ATITUDES DOS PERSONAGENS As atitudes dos dois personagens merecem reflexões distintas. As perguntas de Jesus vão na mesma direção. Para o homem paralítico ele pergunta: “Você quer ficar curado”? Ao cego a pergunta é: “O que você quer que eu faça”? Mas as respostas são bem distintas. Enquanto um (o cego) responde claramente que quer ver de novo, o outro (o paralítico) arruma algumas desculpas. Para maior compreensão dessa situação, é importante analisarmos o contexto histórico que cerca a realidade vivida pelos mendigos e aleijados da época de Jesus. Segundo Hanna Wolff “por trás de alguns daqueles mendigos cobertos de trapos, aparência essa necessária para conseguir esmolas em grande quantida-

de, escondiam-se pessoas com muito dinheiro nos bancos. Se aquele que vive a caridade sujeitou-se a essa condição, sua situação não é das piores, pelo contrário, não raro, ele se torna a principal fonte de renda para toda uma família numerosa. Por outro lado, seu nível de vida está garantido por organizações ou caixas de solidariedade, organizadas entre os próprios mendigos”. Portanto, ficar curado significaria a necessidade de trabalhar, assumir responsabilidades e mudar de vida. Por isso, a impressão que dá é que o homem paralítico não fica muito satisfeito com a cura que Jesus operou nele. Prova bastante evidente é o fato de que, quando Jesus lhe pergunta se quer ficar curado, ele não responde: “Mas é claro que quero!”. Em vez disso, põe-se a contar a própria desventura, fazendo uma síntese, uma acusação contra os outros. “São eles que não me deixam ficar curado, pois quando vou chegando, outro já entrou na minha frente”. Ou seja, na visão dele, são os outros que, além de não o ajudar a chegar à piscina, sempre passam na sua frente. Bem diferente é a atitude do cego Bartimeu. Ou seja, quando ouve dizer que era Jesus Nazareno que estava passando, ainda que contrariado pela multidão, começa a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. E, ao ser perguntado pelo próprio Jesus, “O que você quer que eu


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faça por você”? ele responde sem hesitação: “Mestre, eu quero ver de novo”. É a resposta convicta de alguém que está disposto a tomar qualquer atitude para sair daquela situação. Deixa transparecer que de sua vontade depende a atitude de Jesus. ATITUDES DE JESUS

EXPEDIENTE

D. Augsburger (The Westminster Press, Filadélfia, 1986), na metáfora (parábola) do Curador Ferido, traduzida para uma linguagem do agente da pastoral, afirma: “Em cada pessoa, seja em quem ajuda bem como em quem é ajudado, convivem a experiência do sofrimento (ferida) e o poder de cura. Porém, a minha ferida só reage positivamente ao meu poder de cura. O meu poder de cura não pode sanar a sua ferida, nem vice-versa. Ou seja, meu poder de cura só tem reação positiva no outro quando ele próprio estimula o dele”. Portanto, eu só tenho condições de ajudar alguém quando este quer ser ajudado. Com seu poder de cura e com a missão de tirar os doentes daquela situação, Jesus diz ao paralítico, que estava há trinta e oito anos ao lado da piscina: “Você quer ficar curado?”. Ao cego Bartimeu a pergunta é sobre o desejo dele: “O que você quer que eu faça por você?”. Podemos perceber que, no caso do paralítico, o próprio Jesus — usando seu poder de salvador, e sem necessariamente pedir que ele, o paralítico, estimule seu poder de cura — opera o milagre. Porém, faz um alerta: “Você ficou curado. Não peque de novo, para que não lhe aconteça alguma coisa pior”. Nesse contexto, parece que o pecado a que Jesus faz referência é o comodismo e a falta de vontade do próprio paciente. Ao perguntar a Bartimeu qual era seu desejo, faz com que ele, o cego, aguce o poder de cura que também está dentro dele. E Jesus, mediante o desejo do paciente e Dele, cura-o da cegueira.

Algumas indicações contidas nos textos dos evangelhos podem nos ajudar a entender mais claramente as atitudes de Jesus diante das dificuldades. “Mudai de vida” (Mt 4,17). “Esforçaivos” (Lc 13,24). “Pedi! Procurai! Batei!” (Mt 7,7). “Deixai de apresentar um rosto sombrio” (Mt 6,16). Antes “começai a fazer” e “não vos preocupais com o que éreis até agora” (Mt 18,3). “Vós também ficai preparados” (Lc 12,40). “Queres ficar curado?” (Jo 5,6). ATITUDES DOS AGENTES Até aqui, analisamos as atitudes dos personagens e de Jesus. E ambos têm algo a nos ensinar. Jesus nos mostra que devemos sair do comodismo e não agir como o homem paralítico e o cego Bartimeu que não foram capazes ou não tiveram coragem de ir ao encontro de Jesus. É Ele quem toma a iniciativa. Os doentes dos nossos dias, em casa ou nos hospitais, dificilmente saem à procura de assistência. Como alguém já afirmou: “À Igreja, vai quem quer. Ao hospital, vão os que precisam de cuidados e na maioria das vezes vão contrariados”. No hospital, por exemplo, se o padre capelão ou os agentes de pastoral ficarem em suas salas aguardando chamados ou esperando que as pessoas venham ao seu encontro, com certeza terão pouca coisa a fazer. Porém, basta sair do comodismo que a sala proporciona e ir ao encontro das pessoas que os trabalhos e as necessidades aparecem. O mesmo acontece com todos aqueles que se propõem a desenvolver alguma atividade pastoral junto aos doentes nas paróquias e nos domicílios. Por outro lado, os dois personagens acima citados nos fazem refletir. “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina quando a água está se movendo”, foi o que disse o homem paralítico.

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética — Província Camiliana Brasileira.

Revisora: Sandra G. C.

Presidente: José Maria dos Santos Secretária: Viviane Rodrigues Silva Conselheiros: Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin Diretor-Responsável: Anísio Baldessin

e-mail: icaps@camilianos.org.br

Redação: Av. Pompéia, 1214A Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05022-001 São Paulo, SP Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

Como Jesus, o agente de pastoral deve ser esse alguém que o “jogue” na piscina do ânimo, da esperança, da alegria, do posto ou centro de saúde, da convivência da família e da comunidade, de Deus etc. “Mestre, eu quero ver de novo.” Quantas são as pessoas e os doentes que perderam, não a visão física mas que, com a doença e as adversidades da vida, não conseguem enxergar um novo horizonte. Aqui, ao contrário da multidão que pedia que ele ficasse calado, somos convidados a incentivar seus gritos, a abrir os olhos para as novas realidades e possibilidades que, mesmo em meio às trevas, se abrem para uma vida nova. À semelhança das deficiências dos personagens bíblicos, convido-os para refletir também sobre nossas deficiências pastorais. Será que eu também, a exemplo do paralítico, não arrumo desculpas para não sair do comodismo pastoral? Sou capaz de tirar alguém da beira da “piscina” dos mais diversos tipos de sofrimento? Quero, a exemplo do cego Bartimeu, abrir meus olhos para ver as novidades pastorais que preciso buscar? Incentivo o grito ou faço parte do coro daqueles que pedem silêncio? Tenho parado para refletir sobre as minhas deficiências na atuação pastoral? Trabalhando no hospital, tenho a oportunidade de ver, diariamente, os mais tristes e diferentes tipos de deficiência. Paralelamente às limitações, vejo a grande capacidade de readaptação e superação que as pessoas demonstram. Ou seja, diante das dificuldades as pessoas procuram lutar com as forças que ainda restam. E é nessa busca constante que conseguem buscar alternativas para superar as limitações. A do cego Bartimeu foi o grito. E a sua, qual é? Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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ESPÉCIES AMEAÇADAS JÚLIO SERAFIM MUNARO

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INGUÉM SABE ONDE,

quando ou como a vida começou na Terra. Quanto ao lugar, nenhuma hipótese. Quanto ao tempo, prevalece a idéia de que a vida remonta a 3 bilhões de anos. Quanto ao modo, acredita-se que tudo começou de forma simples e elementar, com moléculas dotadas de características distintas e simples matéria. Uma inovação da natureza sem precedentes e, talvez, única, pois ainda não se tem prova que exista vida fora do planeta Terra. A vida enfrentou dificuldades, mas, graças à sua força intrínseca e à capacidade de se transformar e adaptar, venceu todos os obstáculos. Sua característica fundamental é a capacidade que tem de se reproduzir, evoluir, assumir novas formas e transformar a matéria inorgânica em realidade viva. Do quase nada de seu início a vida evoluiu, multiplicou sem parar suas formas, passou de formas imperceptíveis a olho nu para plantas gigantescas, peixes enormes e animais mastodônticos, até chegar ao homem, que não se destaca pelo porte físico, mas por sua inteligência e capacidade de se impor à natureza, constituindo-se em ameaça para os demais seres vivos. Até o momento, o homem não conseguiu sequer catalogar todas as espécies vivas existentes, e não se sabe se um dia conseguirá. A vida não perdeu sua capacidade de evoluir e de produzir novas espécies, sobretudo entre os microorganismos e os seres de menor porte como formigas, cujas modalidades se multiplicam aos milhares. Mas a criatividade da natureza defronta-se com a sempre crescente ação dominadora do homem, que ocupa espaços cada vez maiores, tirando o meio de sobrevivência de um grande número de espécies vegetais e animais. Não se trata de extinção programada. A extinção simplesmente decorre do crescimento numérico do homem e do uso desenfreado que faz dos bens da natureza, sem medir desperdícios. Felizmente, a sociedade está se dando conta de que a extinção de qualquer espécie viva, animal ou vegetal, não beneficia ninguém. Só empobrece o conjunto da vida. Graças a essa tomada de consciência, a extinção das espécies é acompanhada com preocupação crescente. Surgiram organismos especializados no assunto, como a União Internacional para a Conservação da Natureza que, em relatório publicado em 17 de novembro, em Bancoc, Tailândia, forneceu números preocupantes de espécies já perdidas e de outras ameaçadas de extinção no mundo. Segundo o relatório da entidade, de 2003 para 2004, o número de espécies ameaçadas de extinção passou de 12.259 para 15.589, com um crescimento de 3.330 unidades. 1.362 delas correm risco imediato de desaparecimento. Nos últimos 500 anos, 784 espécies desapareceram. Outras 60 vivem apenas em cativeiro. Plantas, liquens e algas contribuem com o maior número de espécies em extinção: 8.323, seguidas dos anfíbios com 1.856, pássaros com 1.213 e mamíferos com 1.101. segundo os organizadores do relatório, o número de espécies amea-

çadas deve ser bem maior que o apresentado. A justificativa é simples: existe um grande número de espécies que os cientistas não conhecem. Ainda segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, 32% das espécies conhecidas de rãs, sapos, salamandras estão ameaçadas de extinção. Os países com maior número de espécies ameaçadas são, em ordem decrescente, México, Indonésia, China, Brasil. Juntos, os quatro países detêm 1.420. O Brasil contribui com 333. O relatório não exerce o papel de almanaque de curiosidades, mas de obra científica que adverte para a necessidade de políticas abrangentes de preservação da vida em seu conjunto e não apenas de algumas espécies de plantas e animais selecionadas em função da utilidade imediata do homem. As espécies vivas formam um conjunto harmônico, fruto de bilhões de anos de trabalho da natureza. A destruição de espécies ameaça esse equilíbrio natural. É o que revelam as monoculturas animais ou vegetais, infectadas de pragas que não vigoram na natureza, pragas que, segundo a OMS, podem afetar o próprio homem, como a gripe do frango. Preservar as espécies não significa perder tempo e dinheiro, como muitos pensam, mas investir na sobrevivência do próprio homem. Júlio Serafim Munaro, padre camiliano, é coordenador da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo.


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A EVANGELIZAÇÃO E O MUNDO DA SAÚDE

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EVANGELIZAÇÃO PROMOVIDA pela Igreja é a encarnação e o prolongamento da ação evangelizadora de Cristo. Isso significa que encontra seu fundamento e inspiração na ação salvífica de Cristo. Essa fidelidade ao seu Senhor deve levar a Igreja a proporcionar e transmitir a salvação de Jesus Cristo como força terapêutica que pode ser experimentada desde já no sofrimento e na fraqueza da vida humana neste mundo, como primícia e esperança de vida eterna.

CONTEXTO TEOLÓGICOPASTORAL

Isso significa que a evangelização do mundo da saúde não deve ser algo acrescentado à ação terapêutica, mas deve integrarse ao esforço de cura do ser humano. Não se trata, portanto, de acrescentar inicia-tivas de cunho catequético ou litúrgico à atividade dos profissionais da saúde, mas de colaborar na cura e na assistência integral da pessoa de tal forma que isso se torne sinal de um Deus amigo e Salvador e convite a aceitar a sua salvação.

Antes de mais nada devemos traçar o horizonte teológico-pastoral para, partindo dele, entender e orientar a evangelização no mundo da saúde. A SALVAÇÃO COMO CURA

Jesus Cristo representa o anúncio e a salvação de Deus sob forma de cura. Essa é a nota que caracteriza, em grande parte, a sua ação evangelizadora. Eis como a resume a memória da primeira comunidade cristã: “Deus o ungiu com o Espírito Santo e com o poder, ele que passou fazendo o bem e curando a todos aqueles que haviam caído no poder do maligno, porque Deus estava com ele” (At 10,38). Jesus gera saúde tanto nas pessoas como na sociedade. Sua presença e sua ação têm sempre um caráter salutar. A tradição sinótica apresenta a ação evangelizadora de Jesus como um esforço para desencadear um profundo processo de cura, tanto individual como coletivo: “Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). O quarto evangelho, por sua vez, interpreta todo o agir de Jesus como “biofilia” e criação de vida: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). É interessante observar como Jesus entende a sua missão como ação de cura: “Os sãos não têm necessidade de médico e sim os doentes; não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, à conversão” (Lc 5,31-32; Mt 2,17; Mt 9,12-13). Jesus nunca separa a sua atividade terapêutica da proclamação do Reino. Pelo contrário, “curar os

O PAPEL DA IGREJA doentes” e “anunciar o Reino” são dois aspectos complementares da sua ação evangelizadora: “Jesus percorria toda a Galiléia... pregando o evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença e enfermidade do povo” (Mt 4,23). As curas físicas, psicológicas ou espirituais que Jesus faz não constituem fatos fechados em si mesmos, mas a serviço da evangelização. Quando João Batista manda perguntar a Jesus se ele é o Messias, recebe apenas a resposta: “Os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). A atividade terapêutica de Jesus não pode ser comparada à ação de um profissional da saúde, mas é uma cura global do ser humano, que revela e encarna Deus “amigo da vida”. “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12,28). A cura integral como processo de recuperação da vida, crescimento positivo da pessoa, domínio sobre o próprio corpo, vitória sobre as forças do mal, é uma experiência privilegiada para anunciar e proporcionar a salvação de Deus.

A Igreja é enviada a evangelizar curando. Ao confiar aos seus discípulos a missão de anunciar o Reino de Deus, Jesus lhes recomenda a cura dos doentes como horizonte, caminho e conteúdo da evangelização: “Quando entrardes numa cidade... curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’” (Lc 10,89). A missão é esta: penetrar na sociedade, curar o que nela existe de doente e, partindo dessa ação terapêutica, anunciar ao mundo a presença de um Deus salvador. Anúncio missionário e atividade terapêutica fazem parte de uma só e mesma dinâmica que deve abrir o caminho para anunciar o Reino de Deus entre os homens: “Enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar” (Lc 9,2; cf. Lc 10,9; Mt 10,7-8 etc.). A Igreja nem sempre compreendeu o sentido evangelizador da cura do ser humano como experiência de libertação a partir da qual anunciar a salvação total de Deus: “De certa forma, a teologia deixou de lado o tema da cura. Descuidou-o na teologia e na soterologia e, sobretudo, na proclamação da salvação” (Haring


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B., 1986, 55). Deu-se atenção ao mandato de ensinar (“Ide e ensinai”) e de batizar (“Ide e batizai”). Mas nem sempre se pôs em prática o mandato: “Ide e curai”. De uma parte andou assumindo a valência evangélica e da fé em geral. De outra, a atenção ao mundo dos doentes limitou-se, muitas vezes, a uma atividade de cunho caritativo e assistencial e a uma assistência religiosa vista, sobretudo, na perspectiva de preparação para a morte. Uma das urgências de hoje está em resgatar “o sinal messiânico da cura”, desenvolvendo a dimensão terapêutica da evangelização. Não se deve, porém, confundir o plano da salvação com o plano de saúde. A atividade de cura da Igreja situa-se num nível mais profundo que o das técnicas e terapias médicas, pois o que o evangelho de Jesus alcança é a salvação do homem. A força de curar da Igreja é uma participação misteriosa, mas real, no evento salvífico de Cristo, morto e ressuscitado, fonte de vida e de salvação integral. Por isso, a ação evangelizadora, que ajuda desde já a promover a saúde integral do homem, atinge o seu objetivo último quando leva o homem à sua plena salvação em Deus. LINHAS DE AÇÃO PARA UMA EVANGELIZAÇÃO NA SAÚDE Recuperar a atitude de Jesus para com os doentes. Evangelizar o mundo dos doentes segundo o estilo de Jesus requer que se supere a atitude puramente sacramental ou de assistência para “bem morrer”, para adotar uma posição mais integral, orientada para oferecer a salvação de Cristo desencadeando toda a sua força humanizante. Mais concretamente, a evangelização deve promover no mundo do sofrimento tudo aquilo que pode encarnar na sociedade atual a atividade de Jesus a bem dos doentes: a defesa da saúde e do bem do doente, a luta contra a doença e a dor, as suas causas e as suas conseqüências; a colaboração para a cura integral do doente em todas as suas necessidades; a ajuda à família que sofre as conseqüências; a solidariedade do mundo da saúde (doação de sangue, transplante de órgãos...); a colaboração para que as estruturas, as instituições e a técnica estejam a serviço do doente, não

dos outros interesses; a defesa dos direitos do doente; a denúncia dos abusos e injustiças no mundo da saúde; a humanização crescente da assistência; o acompanhamento dos doentes terminais. Isso não significa diminuir a importância dos sacramentos dos doentes, mas, antes, situá-los numa ação evangelizadora mais ampla, como os sinais mais densos e expressivos de uma Igreja que deseja, pede e busca a salvação total para o doente. O verdadeiro lugar para a evangelização está junto aos doentes mais necessitados e menos assistidos. Uma igreja que queira ser fiel a Cristo, “enviado a anunciar aos pobres a Boa Nova” (Lc 4,18), deve lembrar que o lugar determinante do qual Jesus evangeliza são os doentes pobres, o setor mais abandonado e marginalizado da sociedade hebraica. Jesus se apresenta onde a vida está mais ameaçada e deteriorada. Somente a partir da sua ação salvadora neste mundo de dor e de miséria anuncia a todos o Reino de Deus. Esse serviço samaritano aos doentes mais necessitados e descuidados se concretiza ao se tornar mais próximo dos mais abandonados, na defesa incondicionada dos mais indefesos, na denúncia das injustiças para com os mais fracos ou na ajuda gratuita aos últimos. Construir a comunidade cristã que gera saúde. Em geral, as paróquias e as comunidades cristãs ainda não descobriram a evangelização como ação que gera saúde, nem compreendem a sua presença em meio à sociedade como irradiação de vida sadia que anuncia e prepara a salvação plena do homem. Não se trata de diminuir o valor das diversas atividades da comunidade paroquial, mas, antes, de enriquecê-las e torná-las mais dinâmicas com a força de cura que Cristo proporciona. Devem ser redescobertas, na prática, as oportunidades que a atividade catequética proporciona para educar para a saúde; a força terapêutica que pode irradiar a ação litúrgica da comunidade cristã mediante a escuta da palavra de Deus. Redescobrir o papel da pastoral da saúde. As diferentes definições usadas para descrever a pastoral no mundo da saúde (pastoral dos doentes, pastoral sanitária, pastoral da

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saúde) indicam, de alguma forma, o diferente conteúdo que se lhe pode atribuir. Prescindindo da definição adotada, esta pastoral deve, de preferência, voltar sua atenção aos doentes; mas deve fazer isso segundo o modelo terapêutico de Cristo, orientado a ajudar o homem a viver de forma sadia e salvífica a doença e a saúde, a velhice e a juventude, a morte e a vida. A pastoral da saúde foi vista, muitas vezes, como uma forma secundária de pastoral, que não mereceu a devida atenção. Empobrecida nos seus objetivos, desprovida de suficiente apoio, pouco apreciada no conjunto das atividades das dioceses, não teve condições de manifestar toda sua riqueza em ordem à evangelização. Todavia, essa pastoral no mundo da saúde pode ser, do seu ponto de vista, memória e estímulo para que a evangelização não descuide da missão de curar que Cristo confiou a toda a Igreja. A PRESENÇA EVANGELIZADORA NO MUNDO HOSPITALAR A Igreja deve, de maneira especial, tornar presente a força humanizadora e salvífica de Jesus Cristo no mundo da assistência hospitalar. Presença evangélica: a ação da Igreja não deve se limitar à assistência religiosa dos doentes, mas promover a evangelização sobretudo em três direções: contribuir para uma visão integral da assistência segundo as diferentes necessidades dos doentes; colaborar de uma forma eficaz para humanizar sempre mais a assistência; dar atenção à assistência pastoral dos profissionais da saúde. Organização Pastoral: Para exercer esta função de evangelização deve-se passar de um trabalho pastoral confiado quase exclusivamente a capelães concentrados na assistência sacramental, para uma pastoral missionária vivida por toda a comunidade presente na organização de saúde. Uma das primeiras tarefas será a de constituir uma equipe de pastoral, sob a orientação de um responsável, da qual podem fazer parte, além dos capelães, religiosos e religiosas, profissionais da saúde, doentes, voluntários e familiares.


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Programação: A equipe de pastoral pode agir eficazmente apenas com um programa bem definido. Isso requer que se analise a situação do hospital, descobrindo problemas e necessidades partindo da perspectiva de evangelização; que se escolha as prioridades; que se formule com realismo objetivos concretos e mensuráveis; que se elabore um plano de ação, a ser revisto periodicamente. Serviço integral ao doente: O doente deve ser o centro privilegiado de um engajamento pastoral que queira inspirar-se no estilo de Jesus e fundamentar-se no amor cristão e no serviço gratuito ao doente em todas as suas necessidades. Trata-se de dar-lhe sobretudo aquilo que normalmente não recebe da assistência hospitalar e do que realmente necessita para viver de forma humana as diferentes fases da doença, para lutar dignamente pela sua saúde ou para se preparar para a morte com esperança. A assistência aos moribundos deve merecer especial atenção, para ajudar o doente a curar as feridas do passado, descobrir um sentido para seu sofrimento, reconciliar-se consigo mesmo, com os outros e com Deus, preparar-se para a separação com serenidade e dignidade e aceitar a morte com esperança cristã. Atenção pastoral aos profissionais da saúde: Este aspecto, tantas vezes descuidado, é muito importante. Os profissionais da saúde devem ser ajudados a descobrir o sentido próprio do seu trabalho e o conteúdo cristão do serviço que prestam; deve-se apoiar os seus esforços na humanização da assistência aos doentes; estudar os graves problemas que surgem no exercício da profissão; estimular a sua contribuição nos debates em questões éticas; facilitar a sua participação para melhorar a assistência religiosa aos doentes. Colaborar para humanizar a assistência. A ação pastoral deve contribuir para que seja reconhecida a dignidade do doente, seus direitos e necessidades; para que a téc-

nica, as estruturas e o trabalho do pessoal estejam a serviço do doente e não de interesses econômicos, profissionais, políticos ou sindicais. Isso implica lutar contra tudo quanto pode levar ao descuido, à coisificação ou à instrumentalização do doente, pondo-se ao lado dos mais necessitados e desvalidos, apoiando tudo o que venha a favorecer um estilo mais humano, lembrando as exigências da ética nas intervenções médicas. A AÇÃO EVANGELIZADORA NA PARÓQUIA A paróquia é o lugar privilegiado para mostrar a força terapêutica da evangelização desde que se torne fonte de vida salutar na sociedade e abra espaço de forma efetiva e significativa para os doentes na vida da comunidade. Educar para a saúde. A paróquia deve assumir com maior responsabilidade a tarefa de educar para a saúde. A catequese das crianças, a educação cristã dos jovens, a pastoral pré-matrimonial, o trabalho catecumenal, a pastoral da terceira idade, a celebração dos sacramentos, a escuta da palavra de Deus, a pregação, a missa dominical... devem fazer da comunidade paroquial o lugar onde se aprende a viver de forma sadia. Promover uma vida sadia e tornála sempre mais possível para todos significa construir uma comunidade que leva à salvação. Sobre os doentes. As paróquias devem estimular maior aproximação dos doentes, especialmente aos mais solitários e abandonados: idosos, crônicos, doentes mentais, marginalizados etc. Nenhum doente deve ser esquecido pela comunidade cristã. Essa aproximação significa visitar os doentes com profundo respeito e amizade, acompanhá-los ao longo de sua doença de forma gratuita e desinteressada, mais com gestos do que com palavras, atento às suas necessidades. Além disso, não podemos esquecer que a própria família precisa de apoio e de ajuda da comunidade cristã para viver de maneira humana e cristã a enfermidade do seu parente.

Estar perto dos doentes que têm fé significa fazer chegar até eles a eucaristia, a palavra de Deus, a vida da comunidade cristã. Sobretudo aos domingos, a paróquia deve fazer um esforço especial para que os doentes se sintam membros vivos da comunidade, levando-lhes a comunhão e ajudando-os a escutar a palavra de Deus. A presença dos doentes na comunidade. As paróquias devem preocupar-se que, na medida do possível, os doentes estejam presentes e participem da vida da comunidade. É importante promover a sua participação ativa nas celebrações litúrgicas, nos grupos cristãos, nas equipes de pastoral. Gestos concretos como a eliminação de barreiras arquitetônicas, o transporte de doentes e inválidos para a missa dominical, a celebração comunitária da unção, a boa preparação pra o Dia do doente etc; dando à comunidade cristã um rosto mais evangélico e evangelizador. A equipe de pastoral de saúde. A evangelização do mundo da saúde partindo da paróquia requer a formação de grupos de pastoral, não para diminuir a responsabilidade dos outros, mas para sensibilizar toda a comunidade paroquial e para canalizar a sua ação pastoral no mundo da saúde e da doença. Entre as tarefas dessas equipes de pastoral podem ser apontadas as seguintes: sensibilizar toda a paróquia, principalmente os encarregados da catequese e da liturgia; tomar iniciativas para que a paróquia conheça e acompanhe os seus doentes; garantir a participação ativa dos doentes na vida da comunidade; levar-lhes a comunhão aos domingos; participar do Dia do doente; promover a formação permanente da equipe para que conheça melhor o mundo do doente e desempenhe melhor o seu serviço; manter bom relacionamento com os centros de saúde para incentivar uma boa assistência aos doentes. Do ponto de vista da evangelização, é importante que esses grupos assumam outras tarefas, como: favorecer o conhecimento dos grandes problemas de saúde e a responsabilidade da sociedade; defender os direitos dos doentes; promover a saúde e a melhoria das condições de vida; suscitar a tomada de consciência e a solidariedade com os países pobres.


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REMÉDIO NATURAL NÃO DISPENSA CUIDADOS

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Para não perder as propriedades alternativas naturais Outro aspecto que deve ser obserpara tratar enfermidades tem vado é a procedência das ervas. As das plantas, é preciso cuidado tamdespertado interesse de um número propriedades terapêuticas das plan- bém na hora de preparar os tradiciocada vez maior de pessoas. Segundo tas são alteradas se elas não forem nais chás caseiros. Segundo o Minisa OMS (Organização Mundial de cultivadas, colhidas, armazenadas e tério da Saúde, para fazer chás com Saúde), 80% da população já fez uso processadas de forma adequada. Os as partes tenras da planta, como flode algum tipo de tratamento com- fitoterápicos — medicamentos encon- res, folhas, frutos, deve-se adicionar plementar à medicina convencional. trados nas farmácias, feitos exclusi- água fervente sobre a planta e abaA fitoterapia, ou seja, o uso de plan- vamente com os princípios ativos das far por 10 ou 15 minutos. Se o chá tas medicinais para tratamento de plantas, produzidos por laboratórios for obtido das partes duras, como sedoenças, é uma das áreas da medi- idôneos, com registro nos órgãos de mentes, caule e raízes, o correto é cina alternativa que mais se desen- saúde — são seguros, pois são repro- colocar a planta em um recipiente duzidos sempre com a mesma quali- com água fria, tampar e deixar fervolve atualmente. Além de serem uma opção mais dade. Porém, é muito comum a po- ver por 10 minutos. Os chás não debarata, o efeito de muitas ervas me- pulação utilizar as plantas in natura, vem ser guardados de um dia para dicinais já foi comprovado cientifi- colhidas dos quintais, das beiras de o outro, precisam ser tomados imerodovias, para tratar suas enfermi- diatamente após o preparo. camente. Assim como os remédios alopáO crescimento desse mercado é dades. “As pessoas nunca devem usar positivo, mas tem fomentado o uso uma planta medicinal que está con- ticos, os princípios ativos das planindiscriminado das plantas, um ris- taminada por fungos (bolor), insetos tas têm contra-indicações e efeitos ou agrotóxicos, cultivadas em locais adversos. O uso de ervas medicinais co para a saúde. O antigo ditado “se não curar, mal impróprios, próximos a rodovias, fos- e de fitoterápicos pode ser especialnão faz” não pode ser aplicado às sas ou depósitos de lixo, ou ainda que mente perigoso para pessoas que plantas medicinais. “As plantas têm sejam regadas por água poluída”, tomam medicamentos de uso reguprincípios ativos recomendados para explica Virgínia Koch. lar (para tratamento da AIDS, para tratar doenças específicas. Se usadas A procedência também é o princi- insuficiência cardíaca, broncodilade maneira errada, podem causar pal problema quando se compra er- tadores, anticoagulantes, antifúnefeitos colaterais e até prejudicar a vas medicinais de vendedores ambu- gicos, anticoncepcionais, hipoglicepessoa”, explica a bióloga Virgínia lantes. Segundo pesquisa realizada miantes), pois podem anular ou Koch, coordenadora do projeto de pela Unisinos, a maioria dos ambu- potencializar os efeitos dos reméplantas medicinais da Universidade lantes conhece a planta e sabe para dios, interferindo no tratamento. Por do Vale dos Sinos (Unisinos), de São que ela serve, mas não sabe se ela foi isso, recomenda-se sempre consultar Leopoldo (RS). “Tem-se idéia de que cultivada em solo apropriado, livre de um especialista antes de tomar qualo que é natural não faz mal. Isso não agrotóxicos e poluição. quer fórmula. é verdade, existem plantas com efeito tóxico poderoso. São o segundo fator responsável por LIVRO: MINISTÉRIO DA VIDA – Orientação para agentes da Pastoral da Saúde AUTOR: Leo Pessini, 22ª ed. PREÇO: R$ 13,00 intoxicações no país”, completa a farmacêutiEsta obra apresenta orientação para pastorais junto aos doentes, quer em hospitais quer em domicílio, tendo sempre em vista as perspectivas e os desafios que o ca Maria José Martins mundo da saúde traz para ação pastoral. Seu conteúdo temático responde às de Souza, do Ministério solicitações de comunidades, de agentes da Pastoral da Saúde, e recolhe experida Saúde. ências e necessidades vivenciadas pelo próprio autor em seu trabalho pastoral. Uma publicação da Editora Santuário. Segundo Virgínia Koch, o primeiro cuidado é escolher a planta correta para cada enferLIVRO: REFLEXÕES PARA AGENTES midade. Em segundo luDA PASTORAL DA SAÚDE: A contribuição bíblica gar, usar a quantidade AUTOR: Pe. Anísio Baldessin, Loyola, São Paulo, PREÇO: R$ 10,00 recomendada pelos esOrganizado pelo Pe. Anísio Baldessin, Reflexões para agentes de pastoral da saúpecialistas. “O efeito da de: a contribuição bíblica é composto de artigos cujos autores procuram fazer fitoterapia costuma ser uma leitura paralela dos textos bíblicos, dando a eles uma versão pastoral. Embora não contenham respostas prontas, os artigos mostram inúmeras faces e mais demorado do que o contribuições que a Bíblia oferece ao trabalho pastoral na área da saúde. dos remédios alopáticos, É um livro endereçado a capelães, padres, pastores, assistentes espirituais e mas não adianta auagentes de pastoral da saúde, para reflexões individuais e, principalmente, mentar a dose por conta para discussões em grupos. própria”, alerta. BUSCA DE


Ano XXIV – no 240 – Abril de 2006 – BOLETIM ICAPS

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MODISMOS AMEAÇAM SAÚDE DO CONSUMIDOR A busca por uma melhor forma física muitas vezes envolve até o uso de ervas medicinais. Muita gente toma chá com o intuito de emagrecer. Segundo a bióloga Virgínia Koch, esses modismos que cercam as plantas medicinais são um risco para a saúde dos consumidores. “Basta alguém anunciar que determinada erva ajuda a perder peso que percebe-se a busca desenfreada por essa espécie”, observa a especialista. “O problema é que algumas plantas têm aparência muito semelhante e na ânsia de obter vantagem do modismo tanto os vendedores quanto os consumidores não certificam-se da real identificação e da procedência da planta. Isso é uma ameaça à saúde, além de não obter o efeito desejado, muitas espécies são tóxicas”, afirma Vigínia. “O ideal é sempre informar-se com um especialista antes de ingerir essas substâncias”, recomenda. COLETA INDISCRIMINADA LEVA À EXTINÇÃO Além de não se ter certeza sobre a qualidade das plantas medicinais (se estão contaminadas por agrotóxicos ou outros poluentes) colhidas diretamente do meio ambiente, essa prática ainda gera outro problema grave, a extinção de espécies. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) criou ainda em 2002 um núcleo de plantas medicinais. O objetivo é controlar o mercado brasileiro dessas espécies e propor o manejo sustentável de pelo menos 221 plantas nativas consideradas prioritárias para conservação, por já estarem sob o risco de extinção naquela época. A arnica, que é muito explorada como cicatrizante, é uma das ameaçadas. No Rio Grande do Sul, a popular espinheira-santa, indicada para o tratamento de gastrite, azia e úlcera do estômago, é uma das espécies que mais correm risco de desaparecer. “Ela é muito utilizada pela população e seu crescimento é lento”, explica a bióloga Virgínia Koch. Segundo ela, além da coleta indiscriminada, a destruição das matas é outro motivo para redução drástica do número de espécies.

Por outro lado, ainda há muito a se descobrir. Milhares de espécies ainda não foram identificadas e outras tantas aguardam análise dos cientistas. Em 2002, o Ibama tinha uma lista de 300 espécies de plantas medicinais que, segundo os especialistas não representam nem 10% do potencial brasileiro. Esse desconhecimento dificulta o combate a biopirataria. Sabemos que muitas plantas já foram retiradas do país e, mais tarde, seus princípios ativos foram patenteados por laboratórios farmacêuticos de outros países. ATENÇÃO Ao adquirir um medicamento fitoterápico, verificar se o produto tem:

• Registro no Ministério da Saúde; • Responsável técnico; • Bula, com indicações de tratamento, concentração e doses definidas; • Prazo de validade.

DIFERENÇAS Planta medicinal: é toda planta, silvestre ou cultivada, que se utiliza diretamente como recurso para aliviar, curar ou modificar um processo fisiológico normal ou patológico, ou como fonte de fármacos e de seus precursores. Fitoterápico: é o medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É produto medicinal acabado e etiquetado, caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos do seu uso, sendo possível reproduzi-lo com a mesma qualidade. Sua eficácia e segurança são validadas por documentações. Artigo extraído do Jornal Correio Riograndense, 28/07/2005

Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Av. Pompéia, 1214A 05022-001 São Paulo, SP

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