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XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE TEMA: A PASTORAL DA SAÚDE DIANTE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS. SÁBADO - DIA 02 7h30 às 8h30 - Entrega de material e inscrições 8h30 às 9h15 – Celebração de abertura 9h15 às 10h - Fraternidade e pessoas com deficiências: ganhos e desafios – Pe. Léo Pessini 10h às 10h30 – Intervalo para café 10h30 às 11h30 - Doença e deficiência mental: Aspectos médicos – Dr. Sérgio Rigonatti 11h30 às 12h15 – A contribuição dos centros de reabilitação – Dr. Paulo Potiguá 12h15 às 13h30 – Intervalo para almoço 13:30 às 14h30 – Atividades com pessoas portadoras de deficiências – Renata Meca e Miriam Delboni 14h30 às 15h15 – Testemunhos de pessoas com deficiências - Geraldo 15h15 às 15h45 – Intervalo para café 15h45 às 17h15 - Atenção humanizada ao deficiente e doente mental – Aspectos médicos, psicológicos e pastorais – Equipe das irmãs de São João de Deus 17h30 – Encerramento Domingo 7h45 às 8h45 – Celebração da missa. 8h45 às 9h15 – Pastoral da saúde da CNBB: 20 Anos de caminhada – Dr. André Luiz de Oliveira 9h15 às 10h15 – A evangelização no mundo da saúde – Pe. Anísio Baldessin 10h15 às 10h45 – Intervalo para café 10h45 às 12h - Orientações práticas e legais nas terapias alternativas – Dr. Chin 12h às 13h30 – Intervalo para almoço 13h30 às 14h00 – Apresentação de atividades terapêuticas - Marici 14h às 14h45 – Agente de Pastoral de Saúde e o exercício na cidadania - Lirce Lamounier 14h45 às 15h15 – Intervalo para café 15h15 às 16h – A terapia da escuta na Pastoral da Saúde – Celeste Gobbi 16h às 17h15 – Sacramento ou sacramentalismo na Pastoral da Saúde – Pe. Júlio Serefim Munaro. 17h30 - Encerramento LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo - Avenida Nazaré, 1501 – Ipiranga – São Paulo. Telefone – (11) 3862-7286 Ramal 3 Com Cláudia – e-mail. icaps@camilianos.org.br


A PRÁTICA DA CARIDADE E A VIDA ETERNA TADEU DOS REIS ÁVILA Conta-se uma história de um grande fazendeiro que possuía muitas terras, lavouras de café, cana e muito gado.Tinha muito dinheiro, mas só pensava nele mesmo. Seus empregados eram mal remunerados, se ficassem algum doente ele não se preocupava e até descontava o dia que funcionário faltava do trabalho. Este fazendeiro não tinha sensibilidade nem caridade para com os funcionários de sua fazenda. Na fazenda desse senhor tinha um funcionário que, além de ser corretissímo, procurava praticar a caridade,tirava muitas vezes dinheiro do próprio bolso para socorrer os pobres e infelizes. Se ficasse uma pessoa doente na fazenda logo procurava o senhor João e todos eram socorridos sem demora. Uma vez, não tinha dinheiro para comprar remédio para sua comadre que já estava devendo à farmácia. E como ela não podia ficar sem o remédio, o seu João não pensou duas vezes, vendeu suas últimas cabeças de galinhas e deu o dinheiro para aquela aflita senhora comprar seu remédio. Um belo Domingo após participar da Santa Missa, como é costume entre os bons cristãos, o senhor João passou mal e acabou falecendo. Foi enterrado no dia seguinte com Missa de corpo presente e uma grande participação sobretudo dos pobres e doentes que tinha socorrido em vida. O senhor João foi recebido com muita festa no Céu.Tinha até banda de música formada pelos Anjos para animar a festa da chegada do senhor João no céu. Todos os Apóstolos, Nossa senhora, os Mártires, os Confessores, vale lembrar que entre estes estava São Camilo que não se continha de alegria por receber lá no Céu aquele que tinha cuidado tão bem dos doentes na terra. Por fim veio Nosso Senhor com toda solenidade que exigia a ocasião, abraçou o senhor João e pediu que ele o acompanhasse. O senhor João muito feliz por encontrar Nosso Senhor estava até esquecendo de agradecer São Pedro que lhe tinha aberto a porta. Ao passar pela avenida principal do céu em frente uma bela casa Nosso Senhor parou e olhando para o senhor João disse: aqui está a tua recompensa por tudo que você fez em favor dos pobres e doentes e passando as chaves da casa para o senhor João fez questão de acompanhá-lo até a porta de entrada. E até brincava com seu João dizendo: Você em vida mandou um excelente material para construir sua casa aqui no céu. Cada ato de caridade que você fazia na terra era um tijolo que você mandava para construir esta casa que, agora é sua para sempre. Naquela mesma semana morreu o fazendeiro, o patrão do seu João. Tinha muita gente grã-fina no enterro. Tinha até música ao vivo de cantores famosos. O problema foi quando este fazendeiro chegou no Céu. Ao entrar no Céu os Anjos ainda estava festejando a chegado do senhor João. O fazendeiro até pensou que a festa era para ele, mas São Camilo saiu lá do seu lugar e foi logo dizendo para o fazendeiro:está festa não é para você e sim do senhor João seu empregado. Todos estamos comemorando, e olha que já faz uma semana. O fazendeiro logo tirou a conclusão: se para meu empregado estão fazendo esta festa, já imagino que a minha festa será o mês inteiro.Ledo engano. Pois chega Nosso Senhor neste momento e sem muita conversa pede que o fazendeiro o acompanha. Ao passar pela avenida principal do Céu, Nosso Senhor faz questão de mostrar a linda casa do senhor João para o fazendeiro. O fazendeiro logo pensou: se meu empregado mora nesta casa linda eu já estou imaginando a minha como vai ser. Nosso Senhor e o fazendeiro chegaram ao final da avenida, onde havia uma pequenina casa de madeira sem telhado e abertura para todo lado, Nosso Senhor logo disse ao fazendeiro: está é a sua casa. O fazendeiro assustado e quase desesperado não queria acreditar no que estava vendo. Antes que ele abrisse a boca para protestar, Nosso


Senhor foi logo dizendo: Eu não tenho culpa. Aqui no Céu a casa de vocês são construídas com o material que vocês me mandam. O material que você mandou só deu para construir isso. O Fazendeiro muito triste e envergonhado disse: agora estou entendendo porque o senhor João mora naquela casa linda, teve festa a semana toda para ele e para mim só restou esta casinha. Cada ato de caridade para com os doentes e pobres que realizamos durante a nossa vida é um tesouro que estamos acumulando no Céu. Tadeu dos Reis Ávila é padre camiliano e trabalha na cidade de Monte Santo MG.

DEZ MANDAMENTOS PARA QUEM QUER VIVER EM PAZ COM SEU ESTÔMAGO Pacientes com problemas digestivos referem que suas queixas, como queimação na “boca do estômago”, azia e/ou má digestão, muitas vezes estão relacionadas com a alimentação e freqüentemente se referem a sintomas que melhoram com uma “dietinha”.Comer é um ato prazeroso e deve ser preservado.

Aqui vão algumas dicas úteis que podem ajudar. 1. Nunca tome nenhum medicamento sem orientação do seu médico. Os remédios que existem hoje em dia são muito potentes contra os sintomas e podem “mascará-los”, retardando o diagnóstico de doenças mais graves, como o próprio câncer. Cuidado com os remédios para dor, os antigripais e outros à base de ácido acetilsalicílico (Aspirina ou AAS), além dos antiflamatórios, principalmente aqueles conhecidos como nãoespecíficos. Eles são uma das principais causas de problemas digestivos. 2. Bom senso. A principal regra é evitar aquilo que você sabe que lhe fa mal e dar preferência aos alimentos que não costumam produzir sintomas. Você não precisa passar fome para fazer uma dieta. Nem deve comer até estufar. O segredo é comer certo. 3. Faça suas refeições, café, almoço e jantar. Nos horários corretos, em ambiente calmo, mastigando bem os alimentos. Não tenha pressa, pois, cá entre nós 10 minutos a mais não vão fazer tanta diferença. 4. Não fique muito tempo em jejum. Se você sabe que vai ficar mais de quatro horas sem comer, faça um lanchinho leve, uma frutinha à tarde sempre vai bem. 5. Deitar depois das refeições é a pior coisa que você pode fazer. Você deve aguardar um intervalo de no mínimo 90 minutos entre a última refeição e o sono (isso vale também para a dormidinha depois do almoço). 6. Frutas, verduras e legumes. Preparados da maneira que você mais gostar, sempre fazem bem.Dê preferência a esses alimentos em vez daqueles gordurosos ou muito condimentados (principalmente com excesso de alho, cebola, pimentão, etc.)


7. O leite. Alivia a queimação de alguns pacientes, mas, por conter muito cálcio e proteínas que estimulam a secreção ácida do estômago, é recomendado apenas um copo, uma a duas vezes ao dia, preferencialmente no período diurno. Procure evitar aquele “leitinhoantes de dormir”. 8. Cigarro, nem pensar. O fumo está relacionado a problemas que podem acontecer com seu estômago, como por exemplo, retardar a cicatrização da úlcera, alem de provocar azia. 9. Bebidas alcoólicas devem ser tomadas com moderação e nunca em jejum. Dê uma “forrada” no estômago antes de qualquer bebida. Refrigerantes e gasosos também devem ser tomados com moderação, pois o gás distende a parede do estômago, provoando aquela sensação de estufamento e estimulando também a secreção ácida. 10. Um cafezinho depois do almoço e um depois do jantar não causam problemas. O que não pode é “tomar um dedinho de café o tempo todo”. Atenção: o que vale para o café (mesmo o descafeínado) vale também para a maioria dos chás. Os melhores são os de erva-doce e camomila.

COMO ENCONTRAR DEUS MARC GELLMAN e TOM HARTMAN

Quando um acontecimento abala nossa cultura – como os ataques terroristas de 11 de setembro abalaram todo o Ocidente -, fazemos uma pausa, e não apenas por medo. Todos realizam um profundo auto-exame, e o amor, a família e a fé então emergem. Nesse momento, os solteiros estão acorrendo às agências de encontros, em busca de compromisso. Lojas especializadas em noivas proclamam um surto de vendas. A procura pelos antigos jogos de tabuleiros vem aumentando muito. Essa valorização do tempo passado com as pessoas que amamos propõe uma questão espiritual aos yuppies materialistas e aos carreiristas viciados em trabalho, e essa questão é: “Antes de 11 de setembro sua vida estava dando certo?” Para muitos, a resposta é negativa. Certa vez, ouvimos o presidente de uma empresa dizer a um grupo de jovens executivos, no discurso de seu jantar de aposentadoria: “Sei que desejam meu cargo e vou lhes dizer como consegui-lo. Na semana passada, minha filha se casou. Ao vê-la atravessar a nave da igreja, dei-me conta de que não sabia o nome de sua melhor amiga, nem o último livro que lera, nem sua cor preferida. Foi esse o preço que paguei por este cargo. Se quiserem pagar esse preço, ele será seu.” As pessoas estão calculando quanto vêm pagando por suas vidas e, para muitas, o preço é alto demais.


Em dezembro perguntamos a várias crianças qual o melhor presente que poderiam receber. A resposta nos deixou boquiabertos. A escolha esmagadora foi: “Mais tempo com mamãe e papai.” O mal é sempre raivoso e lesivo. Sempre se deleita com o sofrimento alheio. É esse o mal de Hitler e Stalin, de Mao e Pol Pot e de Osama bin Laden. O dia 11 de setembro não nos ensinou nada de novo a respeito do mal. O que se tornou aparente foi a assombrosa variedade e extensão da bondade humana. Escolham qualquer caso: a mulher idosa que doou dinheiro que pretendia gastar num aparelho de audição; o sacrifício do padre Mychal Judge, que morreu depois de ministrar os últimos sacramentos naquela chuva de pó e ossos; os voluntários de toda parte que atenderam às necessidades de estranhos, como se o apelo viesse de sua própria casa. Em diversas histórias verificamos que o grande mal humano que presenciamos foi enfrentado por uma onda de heroísmo e bondade que o minimizou. Essa bondade coloca o mal em perspectiva. Percebemos como o poder de cura da compaixão sobrepuja de longe o poder corrosivo da maldade. No fim das contas, é o bem que reside em nós que define esse momento de nossa história coletiva. Hoje se fala muito de espiritualidade e , com freqüência, o que se quer dizer é: “Não pertenço a nenhuma religião organizada.” Estamos aconselhando as pessoas a olharem bem para aquela religião de antigamente. Nosso clero tem feito um trabalho maravilhoso nesses últimos meses. Em milhares de locais de culto, os religiosos têm recebido e consolado os enlutados e os exaustos. Voltamos a ter fé. Há um ensinamento na fé judaica que também se reflete num provérbio africano: “As varas num feixe são inquebráveis, mas sozinhas podem ser quebradas por uma criança.” Precisamos nos reunir, e nossa reunião nos protegerá melhor se for além de nossa família e de um pequeno grupo de amigos. Precisamos ir a um lugar que não seja apenas o lar ou o trabalho, onde possamos nos reunir com outros que buscam a esperança. Os caminhos que nos levam a Deus são quase sempre os mesmos que nos levam uns aos outros. Marc Gellman é rabino e Tom Hartman é monsenhor

O QUE ENTENDER POR HUMANIZAR? ALEJANDRO ROCAMORA Com freqüência afirmamos que um médico é muito humano quando nos atende com respeito e leva em conta nosso sofrimento; pelo contrário, o profissional desumanizado é aquele que nos considera como se não tivéssemos direitos e antepõe seus próprios desejos aos do ajudado. Mas humanizar a relação entre o profissional de saúde e o doente significa muito mais. Geralmente entendemos que a atitude humanizadora é o ponto intermediário entre a carinhoterapia e a tecnificação. Melhor: se alimenta de ambas dimensões. Ou seja, não somos mais humanos se somente nos preocupamos com o outro em seu aspecto emocional, sendo seu “lenço”, nem tampouco se administramos um hospital com todas as comodidades (ar condicionado, boa comida, limpeza excelente, etc.) mas esquecemos a preparação profissional de seus trabalhadores ou não estamos usando os últimos avanços da ciência médica para atender aos doentes.


De início podemos afirmar que a técnica não é humanizadora nem desumanizadora, mas que depende de como a empregamos. Qualquer intervenção médica (técnicas de diagnóstico ou de tratamento) se torna desumana se não se faz com respeito e levando em conta o outro; mas, também, hospital e seus profissionais que somente se preocupam em atender aos doentes com ternura, seria desumanizador, pois descuidaria da possibilidade de um melhor tratamento aos pacientes e portanto os privaria de uma possível cura. Em outras palavras: se antepomos a técnica às necessidades psicológicas dos doentes provocamos uma relação perversa pois estamos instrumentalizando os doentes e os convertemos em “objetos” de nossos conhecimentos e habilidades para curar; mas também é certo que a carinhoterapia (entendida como uma preocupação exclusiva das necessidades psicológicas, sociais e familiares do doente) é uma forma de paternalismo onde o que impera é a dimensão emocional, mas se relega a segundo plano tudo o que signifique técnica (preparação dos profissionais médicos, conhecimentos dos últimos avanços da medicina, utilizar os últimos progressos para a exploração e tratamento dos doentes, etc.).

Relação pessoal Esta é a base de toda ação humanizadora: relacionar-se com o outro, desde a minha condição de pessoa sã com outra pessoa sofredora. Na terminologia de Martin Buber seria uma relação “Eu-Tu”. Em nossa prática diária, nós, os profissionais de saúde, corremos o risco de nos relacionarmos com o doente, não em sua totalidade, mas geralmente com sua parte enferma: seu fígado, suas varizes, o tumor cerebral, a hérnia de disco, etc. Isto provoca uma “coisificação” do doente: nos relacionamos com seu fígado, suas varizes ou seu tumor mas “esquecemos” a pessoa em sua totalidade, que sente e tem preocupações, desejos e projetos. Mas nestes casos, não somente sai prejudicado o doente, mas essa atitude se volta contra o profissional e converte sua ação curativa ou de cuidados em uma rotina. O grande risco que corre o homem doente é sua degradação em coisa: calcula-se quanto custou sua cura à sociedade, trata-se somente sua parte enferma (o fígado, o coração, etc.). Ou seja, o doente é um objeto e não um sujeito, aquele que observo e curo, mas ignorando sua essência de pessoa. Esta relação “Eu-Isso” (Martin Buber, 1979) carrega em si o germe de seu próprio fracasso, pois um vínculo coisificante coisifica também o sujeito; ou seja, “o escravo escraviza o amo”. Entretanto, numa relação “Eu-Tu”, o outro é considerado como um todo que sofre, e não somente um aparato ou parte do organismo que está estropiado. Neste tipo de vinculação ambos os elementos ficam enriquecidos. Segundo Mardaras Platas (1980) seria “uma relação de tipo secundário com todas as características de uma relação primária”. Ou seja, se tenta um fim determinado: a cura do doente (expressão da relação secundária, representada pela técnica), mas em um clima claramente emocional e afetivo (expressão da relação primária).

Modelo integral O filósofo francês Edgar Morin propõe uma concepção do homem como totalidade, que choca com a idéia aristotélica da simplicidade e de dividir em partes (biológica, psicológica e social) para compreender o todo. Edgar Morin afirma: “ser sujeito é colocar-se no centro de seu próprio mundo, ocupar o lugar do “Eu”. É evidente que cada um de nós pode dizer “Eu”; todo mundo pode dizer


“Eu”, mas cada um de nós não pode dizer “eu” mais que por si mesmo. Não pode dizer nada por outro... Ser sujeito é ser autônomo sendo ao mesmo tempo, dependente. É ser algo provisório, incerto, é ser quase tudo para si mesmo, e quase nada para o universo”. O homem “é um ser totalmente biológico e totalmente cultural”. Não o considera como formado por partes (biológico-psicológico e social) mas que é biológico total, psicológico total e socialmente total. Um modelo integral pressupõe não somente considerar o homem em todas as suas partes (corpo, mente, espírito, a cultura, a técnica, o meio a que ele pertence, os meios que se utilizam, etc.) mas em algo mais. É partir da complexidade do universo e de como o ser humano forma parte dessa complexidade e é um todo (não a soma das partes) mas uma realidade que é atravessada toda ela pelo vector suceso da enfermidade. Além disso, essa nova realidade que resulta se inter-relaciona com a totalidade dos demais sujeitos, produzindo-se uma concatenação de vínculos que pode favorecer ou prejudicar o processo curativo.

Caminho A condição indispensável é que o médico, enfermeira, assistente social, agente de pastoral não se situe exteriormente ao círculo do sofrimento mas que interaja com os sentimentos e as angústias do doente, não para “chorar” com ele mas para percorrer o novo caminho que a enfermidade sugere. Belamente o expõe Thorwald Dethlefsen e Rudiger Dalke (1993): “ O caminho do indivíduo vai do insano ao são, da doença à saúde e à salvação. A doença não é um obstáculo que se cruza no caminho, mas que a doença em si é o caminho pelo qual o indivíduo vai até a cura. Quanto mais consciente contemplemos o caminho, melhor poderá cumprir-se a incumbência. Nosso objetivo não é combater a doença, mas servirmo-nos dela; para conseguir isto devemos ampliar nosso horizonte”. Nós acrescentamos que este caminho não se faz sozinho, mas em companhia de todas as pessoas que estão próximas ao doente. O mesmo ocorre no encontro entre o paciente identificado e o resto do sistema, se o parcelamos entenderemos cada parte mas não conseguiremos aproximarmos a pessoa doente ao “ser total”.

Novo vínculo curador No organograma atual da atenção ao doente sucede que o que preocupa ao agente de pastoral é a vivência do doente de Deus; para o médico o importante é seu processo biológico; o assistente social se preocupará com a situação familiar; a enfermeira se preocupa com os cuidados do doente. Mas nada contempla o doente como um ser total. Ou seja, o agente de pastoral com um ser sofredor e sem apoio social, que se aproxima ou se afasta de Deus; o médico com um ser com dificuldades familiares, que não crê ou crê e que padece tal doença; o assistente social deveria contemplar o enfermo como um ser sofredor, que crê ou não crê e que tem que ajudar em sua situação familiar; e a enfermeira, tendo presente as crenças do doente, seu processo biológico e sua situação familiar deveria implementar os cuidados. A atenção integral, humanizadora, não consiste em atender o doente em todas as suas partes (é uma forma de coisificar também o sujeito) senão melhor em estar aberto às mensagens do ser sofredor, para que desde as partes mais sãs do cuidador possamos construir


um novo vínculo curador, tanto para um como para o outro, e sempre em um meio técnico adequado. Artigo extraído e traduzido da revista espanhola Humanizar. Alejandro Rocamora é médico psiquiatra.

HARMONIA AO DAR À LUZ. É POSSÍVEL? O Ministério da Saúde está implementando o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, promovendo a formação de enfermeiras obstetras, autorizadas a fazer partos de baixo risco sem a presença de médico, e tem oferecido cursos a parteiras tradicionais nas regiões Norte e Nordeste e nas áreas quilombolas. É um início, mas ainda distante do chamado parto humanizado, comum em países desenvolvidos como Suécia, Holanda, Alemanha, França e Canadá. O Brasil seguiu o paradigma americano, que é o da medicalização do parto e do nascimento, com foco na tecnologia, em intervenções e procedimentos custosos, mais convenientes para a equipe médica do que para a parturiente e a criança. Em sua vivência profissional, a especialista em Saúde da Mulher e pediatra Maria José de Araújo viu tanta agressividade nas salas de parto que decidiu não ter filhos. Ela fez essa revelação na 2ª Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, em dezembro, no Rio de Janeiro. A maioria dos relatos ouvidos nos quatro dias do evento, porém, eram bem diferentes das histórias que muitas mães têm para contar, e que deixam qualquer um apavorado apenas de ouvir a expressão “parto normal”. Porque, em vez de agressividade, medo e sensação de desamparo, os relatos de partos humanizados falavam de acolhimento, introspecção, harmonia consigo mesma e até de prazer ao dar à luz. Será possível? O Brasil chegou a ser o campeão de cesarianas no fim dos anos 80, com o assustador índice de cesáreas ultrapassando 80% do total de partos. Diante desse quadro, alguns profissionais de saúde começaram a reagir. Em 1993, foi criada a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa), que organizou a primeira conferência em 2000 e foi também responsável pela promoção desta segunda, cinco anos depois. Algumas vitórias importantes já podem ser contabilizadas. O SUS adotou um limite para o pagamento de cesáreas, reduzindo drasticamente seu uso nos serviços públicos de saúde. Em 7 de abril de 2005 entrou em vigor a Lei 11.708, da senadora Ideli Salvatti (PTSC), dando às mulheres o direito a acompanhante de sua escolha antes, durante e após o parto. Alguns municípios criaram as Casas de Parto, fora do ambiente hospitalar. AINDA EXCEÇÃO Mas parto e nascimento humanizado ainda é a exceção. Daí a importância da conferência, que reuniu profissionais do Brasil e de fora para troca de experiências e elaboração de propostas que agilizem a mudança do paradigma e da cultura dominante quando o assunto é dar à luz. Um dos maiores críticos da medicalização do parto é o perinatologista e epidemiologista perinatal americano Marsden Wagner, escolhido presidente de honra da conferência. Por 15 anos ele foi responsável pela saúde materno-infantil no escritório europeu


da OMS. Em sua palestra na conferência defendeu o trabalho das parteiras e ressaltou a importância da difusão de boa informação sobre o assunto. Conhecedor do Brasil, afirmou que 1.500 mulheres morrem a cada ano no país por complicações relacionadas a gravidez e parto. E pelo menos 500 delas morrem por causa de cesarianas desnecessárias. É claro que parto humanizado supõe a mãe saudável, com gravidez de baixo risco. Mas mesmo nos casos em que a cesariana é imprescindível ou que a mulher opta, esclarecidamente, pela cirurgia é possível tornar o procedimento mais humanizado. Com a presença, por exemplo, de uma doula — acompanhante treinada para dar apoio emocional e orientação à parturiente. O MOMENTO CERTO Marsden disse que, numa cesárea, se o médico aguarda até que a mãe entre em trabalho de parto diminuem os riscos de problemas para o bebê. Mas com freqüência não se espera esse momento: quem determina a hora é a agenda do médico. Ao jogar por terra vários argumentos geralmente usados a favor das cesarianas, Marsden também se queixou da falta de informação para a população sobre os riscos dessa e de outras intervenções no parto. “As brasileiras não são informadas sobre esses riscos, que não são apenas de morte, mas também de lesão de órgãos da mãe, de redução da possibilidade de ter outro filho, de problemas num próximo parto”, disse ele. Para o perinatologista, usar parteiras é uma maneira de reduzir o número de cesáreas desnecessárias. Nos países em que a medicalização é mais radical — Brasil, Estados Unidos e Rússia —, as parteiras quase desapareceram, e a taxa de cesarianas é mais alta. No Brasil, com todo o controle do serviço público, a média geral de cirurgia chega ainda a 40%; nos hospitais privados, entre 80% e 90% dos partos são cesáreas. As taxas de cesáreas em nosso país não têm amparo nem em evidências científicas nem no respeito à vontade das mães. “Não aceite que ninguém lhe diga que esse alto índice de cesáreas no Brasil é porque as mulheres querem”, alertou Marsden. “Há estudos mostrando que, quase sempre, essas cirurgias são feitas contra a vontade das mulheres”. De fato, pesquisa publicada por Potter e Berquó no British Journal of Medicine (2001) mostrou que a taxa de cesarianas não-desejadas pelas pacientes no Brasil chega a 31% nos hospitais públicos e a 72% nos privados. “Os médicos substituíram as parteiras sob a alegação de que assim seria mais seguro”, disse. “A ciência provou que para os partos normais de baixo risco as parteiras são opção mais segura do que os médicos, porque são menos intervencionistas, e agora temos boa evidência científica de que é tão seguro, ou mais, dar à luz fora de hospitais”. Artigo extraído da Revista RADIS nº 43 Março 2006


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