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Informativo 12345 12345 12345 do Instituto 12345 12345 12345 Camiliano 12345 12345 12345 de Pastoral 12345 12345 12345 da Saúde 12345 12345 12345 e Bioética 12345 12345 12345
12345 12345 12345 12345 novembro de 2006 12345 12345 12345 ANO XXIV – no 247 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA 12345 12345
❒ PASTORAL
❒ BIOÉTICA
❒ HUMANIZAÇÃO
XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE AUTOR DO TEXTO?
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s desafios da Pastoral da Saúde diante de pessoas com deficiências” foi o tema central do XXVI Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde promovido pela Província Camiliana Brasileira, em parceria com o Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde — ICAPS —, com a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo, com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil — CNBB — e com o apoio do Centro Universitário São Camilo — São Paulo — local onde foi sediado o evento, nos dias 2 e 3 de setembro. Estiveram presentes mais de 650 pessoas, entre elas religiosos de todo o país, camilianos, representantes da CNBB, profissionais da saúde, leigos interessados e agentes de Pastoral da Saúde. “A Pastoral trabalha na sua plenitude, com o intuito de educar para a saúde, assim prevenindo doenças. A atuação dos agentes pastorais éde suma importância e independe da origem do paciente, se é proveniente da saúde pública ou privada”, explica o Dr. André Luiz de Oliveira, Coordenador da Pastoral da Saúde Nacional — CNBB —, que na ocasião leu aos presentes uma mensagem do Bispo Diocesano de Uberlândia, Dom José Alberto Moura, na qual justificou sua ausência e manifestou sua alegria pelos 26 anos de Congresso da Pastoral da Saúde e também pelos 20 anos da Pastoral da Saúde da CNBB. Pe. Christian de Paul de Barchifontaine, Reitor do Centro Universi-
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tário São Camilo, falou sobre a Bioética no Brasil e o papel do Estado em atender as necessidades básicas de saúde da população. “Temos que exercer nossa cidadania não só como agentes pastorais, mas também fiscalizar e cobrar o Estado no que desrespeita aos investimentos na saúde”, declara. “Deficientes no Brasil é um universo muito desconhecido do qual ninguém quer participar. É um quarto escuro onde ninguém quer entrar. O grande problema é reconhecer as pessoas pela sua deficiência”. Essa foi a tônica da conferência da palestra sobre “Os desafios da Pastoral da Saúde diante de pes-
soas com deficiências” ministrada pelo Prof. Dr. Pe. Léo Pessini, Superintendente da União Social Camiliana, finalizada com um filme apresentado aos participantes. Os dois dias do XXVI Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde coordenado pelo Pe. Anísio Baldessin foram bastante produtivos, permeados por uma extensa programação de palestras em torno da temática central do evento, cujos presentes interagiram com os palestrantes por meio de debates. Além da animada banda composta depadres e seminaristas camilianos, que motivaram os participantes com cânticos e danças.
AGUARDANDO FOTO
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III CONGRESSO DA PASTORAL DA SAÚDE REÚNE 200 PARTICIPANTES NÃO TEM AUTOR?
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erca de 200 pessoas participa-ram do III Congresso de Pastoral da Saúde e Evangelização, realizado em 23 e 24 de setembro pela Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, em parceria com o Centro Universitário São Camilo — Espírito Santo. O evento intitulado “Pastoral da Saúde diante do sofrimento humano” aconteceu no Campus I e contou com a presença de diversos palestrantes. O III Congresso foi aberto oficialmente pelo representante da Diocese, Pe. Joselito, o Reitor da São Camilo, Pe. João Batista Gomes de Lima, o Assessor da Reitoria e Coordenador Diocesano da Pastoral da Saúde, Pe. Américo Pinho de Cristo, e o Provincial dos Religiosos Camilianos, Pe. José Maria dos Santos. O primeiro palestrante foi o Provincial dos Camilianos, Pe. José Maria dos Santos, que dissertou sobre o tema: Formação e Espiritualidade do agente de Pastoral da Saúde. O Provincial falou sobre a importância do tema, ressaltando que é preciso que o Agente Pastoral tenha uma formação adequada e espiritualidade necessária para fortalecer a sua prática, e relatou suas experiências como enfermeiro, padre da Ordem dos Camilianos e Capelão. À tarde, o padre francês, Bruno Cadart, falou sobre o tema “Cuidados paliativos”. Por meio do próprio testemunho, o Padre expôs sua vivência com pessoas enfermas e como foi seu ingresso na área da saúde. Em seguida, a Enfermeira Profa. Jacqueline Damasceno abordou o tema “Atenção humanizadora aos portadores de necessidades especiais”, no intuito de sensibilizar para as práticas mais humanas.
A Profª Doutora Dalza Gomes da Silva encerrou o primeiro dia do evento. Com o tema “Uso de agrotóxicos: porta aberta para as doenças”, a palestrante falou sobre a utilização de agrotóxicos e seus efeitos nos seres humanos. No segundo e último dia do evento, com o tema “Orientações práticas sobre terapias alternativas”, o médico homeopata e fitoterapeuta, João Hermínio Altoé Vargas, falou sobre as vantagens do uso das plantas medicinais para a cura e prevenção de algumas doenças. Dando prosseguimento ao evento, o Coordenador do Instituto Camiliano da Pastoral da Saúde, Padre Anísio Baldessin, palestrou sobre “Os desafios da Pastoral da Saúde nas dimensões: solidária, comunitária e político-institucional”. Ele falou sobre a importância de o Agente de Pastoral da Saúde atuar com competência, solidariedade e sensibilidade.
O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética – Província Camiliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos Conselheiros: Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Claúdia Santana
Encerrando o Congresso, o representante da CNBB, Doutor André Luiz de Oliveira, Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde, demonstrou o trabalho que está sendo desenvolvido na Pastoral da Saúde em âmbito nacional e internacional e exortou os Agentes de Pastoral da Saúde para um serviço de atuação junto aos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional. Segundo o Provincial dos Camilianos no Brasil, Padre José Maria dos Santos, a São Camilo apóia eventos que trazem uma formação humana, religiosa e psicológica para todos os profissionais da área de saúde. Para ele, a participação da São Camilo nesse Congresso, em especial na cidade de Cachoeiro, tem uma grande importância, pois nesse local encontra-se sediado um Centro Universitário que procura somar e articular com a sociedade local o bem comum de toda a sociedade onde esteja presente a São Camilo.
DVD DO XXVI CONGRESSO DE PASTORAL DA SAÚDE Informamos que já está à disposição o DVD contendo todas as palestra do XXVI Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde de 2006. Os interessados poderão adquirir o jogo completo por R$ 80,00 ou somente a palestra que lhes interessar pelo valor de R$ 15,00. Os temas são os seguintes: “Fraternidade e pessoas com deficiências: ganhos e desafios”, Pe. Léo Pessini; “Doença e deficiência mental: Aspectos médicos”, Dr. Sérgio Rigonatti; “A contribuição dos centros de reabilitação”, Dr. Paulo Potiguara; “Atividades com pessoas portadoras de deficiências”, Renata Meca e Miriam Delboni; “Testemunhos de pessoas com deficiências”, Geraldo Fonseca; “Atenção humanizada ao deficiente e doente mental — Aspectos médicos, psicológicos e pastorais”, Equipe das irmãs de São João de Deus; “Pastoral da Saúde da CNBB: 20 anos de caminhada”, Dr. André Luiz de Oliveira; “A evangelização no mundo da saúde”, Pe. Anísio Baldessin; “Orientações práticas e legais nas terapias alternativas”, Dr. Chin An Lim; “Agente de Pastoral de Saúde e o exercício na cidadania”, Lirce Lamounier; “A terapia da escuta na Pastoral da Saúde, Celeste Gobbi; “Sacramento ou sacramentalismo na Pastoral da Saúde”, Pe. Júlio Serefim Munaro. Os interessados poderão fazer seus pedidos na secretaria do ICAPS, pelo telefone (11) 3862-7286, ramal 3, falar com Claúdia. Pode ser feito também pela Internet icaps@camilianos.org.br
Revisoras: Rita Lopes e Sandra G. C. Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica:
Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares
Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
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“TODOS OS REMÉDIOS TÊM PREÇOS SUPERFATURADOS” ANTÔNIO BARBOSA
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s remédios estão mais caros desde fins de março. O farmacêutico Antonio Barbosa, presidente do Conselho Regional de Farmácia (CRF) do Distrito Federal e coordenador do Instituto de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum), fala nesta entrevista da ilegalidade do novo aumento e mostra que na verdade há motivo para redução dos preços, e não para reajuste, e denuncia: “Não existe, hoje, nenhum medicamento no Brasil que tenha margem de lucro inferior a 500%”, afirma. “Todos os medicamentos têm preços superfaturados.” O novo reajuste autorizado pelo governo, de até 5,51%, atinge 20 mil remédios. O Idum registrou representação no Ministério Público Federal. QUAL O ARGUMENTO PARA O REAJUSTE?
A fórmula usada pela Câmara de Medicamentos para justificar os aumentos não é legal. Não existe planilha. O governo já deu, no ano passado, incentivos fiscais aos laboratórios, e com isso foi anunciada uma redução nos preços em torno de 10%. Eles se beneficiaram e não baixaram os preços. Em 2003, o dólar estava em R$ 3,80, esse foi um dos argumentos dos laboratórios para quebrarem a norma que congelava o preço e conseguir aumento substancial. Hoje, o dólar está em R$ 2,15 e esse argumento não vale mais. QUAL A MARGEM DE LUCRO DOS LABORATÓRIOS? Não existe, hoje, nenhum medicamento no Brasil que, por mais barato que seja, tenha margem de lucro inferior a 500%. O que referencia o preço no mercado são as patentes. Perdem a patente e mantêm o preço: Interferom Peguilado, por exemplo, para tratamento da hepatite C, tem custo de produção de R$ 4, já com impostos, mas é vendido a R$
1 mil a ampola. O argumento do laboratório é que investiu em pesquisa e precisa tirar os custos. Só que no terceiro ano, em média, o laboratório já tira esse custo. Não há motivo para o reajuste, pelo contrário, há motivo para redução. De 1995 a 2005, o aumento acumulado foi de 954%, enquanto a inflação foi de 170% e o do salário mínimo, 250%. Exemplos: em novembro de 1995 o Naprix (Libbis) custava R$ 5,22, e em dezembro de 2005, R$ 55,06, variação de 954,79%; AAS (SanofiSynthelado), 582%, Beserol (SanofiSynthelado), 783,17%; Aspirina (Bayer), 374,77%; Gardenal (Aventis), 359,75%. OS PREÇOS ESTÃO LIBERADOS Há mais de dois anos os medicamentos de venda livre, que representam mais de 25% do mercado, estão com os preços liberados, que subiram três vezes acima da inflação do período. O mesmo com os fitoterápicos. Permitir reajuste neste momento é ato irresponsável e desumano. Hoje, 65% dos pacientes do SUS não têm acesso a medicamentos; 30% das internações ocorrem porque os pacientes retornam ao hospital em estado mais grave: não tinha acesso aos remédios indicados. O QUE O CONSUMIDOR DEVE FAZER? É preciso que todas as farmácias tenham listas comparativas, é uma recomendação da OMS. Todos os produtos com nome fantasia que tenham a mesma fórmula farmacêutica precisam ter o preço exposto, para comparação. E essas listas também devem ser expostas em hospitais, centros de saúde, consultórios. Hoje, 90% dos medicamentos não têm patentes. Para cada remédio produzido há, em média, sete iguais. Mas não há como identificar. Para se defender o paciente pode pedir três marcas diferentes ou o genérico.
E QUANTO AOS GENÉRICOS? É preciso ficar atento. Genéricos iguais são produzidos também por laboratórios diferentes com preços diferentes, alguns com o dobro do preço. A diferença média atinge 30%. Os genéricos estão supercaros. Os laboratórios dão descontos perenes às farmácias há mais de dois anos, em média de 40%, para todos os genéricos, não-repassados ao consumidor. É preciso uma movimentação da justiça, da defesa do consumidor para que a lei seja cumprida. MAS O SUS TEM A FARMÁCIA BÁSICA… Não há um acompanhamento desse programa. Eles atrasam o fornecimento dos remédios e prejudicam o tratamento. De 60% a 65% das pessoas não têm acesso. E A FARMÁCIA POPULAR? Não deixa de ser uma medida positiva, mas não resolve, ainda apresenta apenas 0,01% do consumo de medicamentos. E medidas como o fracionamento se tornam inócuas, pois são claramente boicotadas pelos laboratórios. QUAL SERIA A SOLUÇÃO? É preciso uma política de medicamentos melhor, como o modelo da extinta Central de Medicamentos, que já tinha um programa de farmácia popular. Ela recebia das secretarias todo o planejamento do consumo dos medicamentos e fazia uma grande licitação. Os medicamentos eram redistribuídos gratuitamente aos estados em embalagens da própria Ceme, com monitoramento de qualidade, do qual participavam universidades e instituições oficiais. Sobre o autor (no início do texto fala quem ele é. Basta assim?)
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DIGNIDADE HUMANA: META AUGUSTO não deixam de afirmar sua presença. Trata-se de um lugar teológico, onde temos a oportunidade de ajudar as pessoas a encontrar o sentido para sua vida. Para isso, exige-se uma preparação adequada em relação a certas ciências humanas relacionadas com o mundo da saúde. Por exemplo, psicologia do doente, sociologia da saúde, teologia da Pastoral da Saúde, entre outras. O cansaço, no final do dia, é compreensível em todas as pessoas que trabalham num hospital, por causa da sobrecarga anímica a que estão constantemente sujeitas. Por experiência, tenho consciência da necessidade de um suplemento de forças que ia beber num contato quase puerilcom o Sacrário.
© J. Foxx
PRESENÇA DO CAPELÃO JUNTO DO DOENTE
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ara trabalhar, com espírito apostólico, no mundo da saúde é preciso ter uma vocação especial. Em que pesem os 37 anos (25 por encargo oficial e os restantes por opção voluntária) de doação e entrega na assistência aos doentes, familiares e profissionais, continuo ainda a pensar que esse espírito apostólico é difícil; e, em algumas situações, assalta-me a perplexidade se terei agido de modo conveniente. De fato, o trabalho num hospital é bastante diferente do que é efetuado numa outra comunidade qualquer, em virtude das características específicas que reveste esta espécie de paróquia sem território que é a comunidade hospitalar. Numa paróquia normal, os que passam por ali são sempre os mesmos e possuem a fé, pelo menos sociológica. Por um hospital passam pessoas muito diversas em termos de educação, cultura cívica e religiosa, mas que, mesmo num ambiente impessoal,
É quase sempre imprevisível a abordagem do outro, a relação em diálogo entre eu e o tu, o faceaface; e existe sempre o perigo de o “tu” se tornar objeto. No primeiro encontro com o outro, há que ter muito cuidado, porque se trata de um ser desconhecido; há que mostrar abertura afável, a fim de suscitar a empatia dele sobre o que vamos dizer e o modo como vamos agir. Nesse caso, a vontade de fazer muitas perguntas e de fornecer um certo tipo de respostas já prontas pode cortar o diálogo e, conseqüentemente, impedir o despontar da simpatia. Para que um diálogo seja de ajuda, deve, antes de tudo, facilitar a compreensão. Ou seja, mais do que explicações teóricas, o Capelão deve comunicar ao doente, à sua família, que está disposto a compreender o seu mundo interior. Deve compreender o outro não só racionalmente, mas com o coração. A idéia-mestra da vida é a dignidade da pessoa humana, simbolizada no rosto de cada um e na liberdade criadora. Por isso, a ação deve pautar-se pela delicadeza de “andar” no interior do outro com a sensação de que estamos dentro do nosso próprio eu. A dificuldade que o Capelão tem, ao abordar os utentes que dão entrada no hospital em situações críticas, é evidente no seu apostolado. A preocupação exagerada em falar de religião pode, até, bloquear o diálogo; sobretudo, se nos apresentarmos como donos da verdade e da salvação. Se não formos capazes de sentir, de ouvir e acreditar que o outro também tem algo a nos ensinar, dificilmente conseguiremos estabelecer uma relação empática. E, nos momentos difíceis, ele precisa muito mais da nossa empatia do que da nossa teologia.
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TA ÚLTIMA DE UM CAPELÃO VILA-CHÃ Nesse sentido, tenho uma devoção singular ao “Sacramento da Presença”, sem deixar de ter em conta as outras dimensões sacramentais. Por isso, defendo que devemos ter uma pastoral de presença, de disponibilidade constante. Nos Estados Unidos, cada Capelão tem 100 camas. No Canadá tem 120. Na Espanha tem 150. No caso do hospital de Braga, dois Capelães têm cerca de 600 camas sob a sua alçada, isto é, 300 cada um, o que dificulta um bom atendimento. Não nos consideramos onipotentes e onipresentes para poder atender os pedidos que constantemente nos reclamam os familiares e até alguns amigos. Por vezes, há exigências que são incompatíveis com a nossa presença libertadora.
NÃO CEDER AO SACRAMENTALISMO Em certas pessoas impera ainda, e fortemente, um tipo de sacramentalismo que nos é exigido apenas à última hora. Mas os sacramentos têm de ser celebrados com o mínimo de dignidade e em clima de festa. Deve evitar-se o rito litúrgico que não exprima um ato de fé pessoal. Mais importante ainda: na celebração dos sacramentos (Penitência, Comunhão, Unção dos enfermos) deve-se evitar toda a aparência de magia e de superstição. Por princípio, tentei passar todos os dias junto dos doentes, fazendo uma espécie de sondagem àqueles que, na primeira abordagem, deram mostras de querer algo mais. Depois, voltava uma segunda vez, sem pressa e com pausa, para poder dialogar com certas pessoas que têm necessidade de falar com mais profundidade, ouvindo-as com atenção e respeito. A Pastoral adotada no hospital deve situar-se na linha de uma medicina preventiva espiritual, e não de um “pronto-socorro” espiritual. A dimensão espiritual ajuda muito a recuperar plenamente o doente. Por vezes, as complicações nascem das famílias dos doentes, porque têm enraizada a idéia de que o capelão só deve aparecer nos momen-
tos finais da vida, e a sua presença é, muitas vezes, vista como uma fatal profecia. É, certamente, desejável estar presente nesse momento. Por isso, é importante adotar uma medicina espiritual preventiva e não curativa logo que o doente entra no hospital. Da parte do Capelão, é necessário muito tato, quando nos aproximamos dos doentes e de seus familiares, que se encontram em situações frágeis. Há que ter em conta também as fragilidades do Agente da Pastoral. Finalmente, a lição que se deve retirar é a de que o capelão não impõe nada a ninguém. Propõe a salvação em Jesus Cristo, obedecendo ao seu preceito: “Ide, anunciai a Boa Nova a todas as gentes”. Se um doente não é católico e manifesta o desejo de ser assistido religiosamente, existe o dever de chamar o ministro da sua religião. Se o enfermo se confessa ateu, é dever dos crentes que lidam com ele mostrar, com o seu exemplo de bondade, que a religião não é uma coisa alienante, mas algo de muito concreto com implicações muito sérias na vida. Acresce ainda que a própria situação de doente facilita e suscita o pensamento sobre a brevidade da vida e a fragilidade de tudo quanto nos conduz ao Absoluto: DEUS. Augusto Vila-Chã, sj. Alguma referência deste autor???????
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UM SENTIDO PARA VIVER O FIM ÂNGELO BRUSCO
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pergunta sobre o sentido da vida acompanha a pessoa humana ao longo de toda sua existência. Segundo Victor Frankl [psiquiatra austríaco], da resposta a essa interrogação depende a saúde psíquica e espiritual do indivíduo. Dar um sentido à vida que se extingue significa garantir à pessoa a possibilidade de fazer da última etapa de sua existência uma ocasião de crescimento humano e espiritual. ESCOLHAS DIFERENCIADAS
Nem todos crêem nessa possibilidade; muitos a julgam um empreendimento difícil, mas não faltam os que sabem realizá-la. Três diferentes situações permitem ilustrar essas modalidades de confronto com a vida que se extingue. A primeira é constituída por alguns dramáticos e macabros episódios que aparecem na crônica, como o que aconteceu recentemente num hospital de Viena, onde algumas enfermeiras tiraram a vida de vários idosos. os Ao comentar esses fatos, um jornalista relacionou-os a uma certa cultura do nosso tempo. “Toda a cultura irrefletida e hipócrita comunica todos os dias nas telas da TV que, depois de uma certa idade, a vida não tem mais valor, e que os velhos e os doentes são um peso.” A mesma mentalidade não aparece por acaso, de forma mais mórbida, na crescente busca da eutanásia, que pode ser interpretada como uma resposta ao não sentido da dor e da vida que se extingue? A segunda situação está contida nestes fragmentos de um diálogo entre uma enfermeira e uma senhora idosa que vive numa casa de repouso. As duas senhoras já se encontraram diversas vezes, e a enfermeira se dá conta de quanto a anciã está aflita por causa da perda lenta e progressiva da visão. Em dado momento, o diálogo toma este rumo:
E — Então, Elisa, está melhor? A — Bem… não me iludo. Sei que não chegarei a suportar o que está me acontecendo. A alegria de antes já não posso esperar. E depois… a visão… isto de não enxergar… E — Sim, imagino que deve ser duro perder a visão pouco a pouco… A — Sim, porque quando você perde outras coisas não lhe parece tão grave… Mas isto, creio que não poderei superar. E — Elisa, parece-me que, mais que perder a visão com o passar dos anos, preocupava-a a incapacidade de enfrentar tal fato. Gostaria de ser capaz de enfrentar esta situação e de poder vivê-la com confiança? A — Sim. Mas não sei como posso superar… E — E como vive tudo isso, Elisa? A — Com resignação. Que posso fazer? Não posso fazer outra coisa. E é tão insuportável. E — (Silêncio) É muito grande a solidão que está vivendo. A — Ah, sim. Lembre-se de mim nas suas orações. E — Pode ficar tranqüila. Eu, sem dúvida, o farei. A — Reze, reze…Porque assim é muito difícil viver. E depois… Não é como na casa da gente. Aqui você deve fazer o que te mandam. E como somos tantas… É como se estivesse sozinha… E — A solidão é um outro peso, Elisa… A — E depois, quando você piora, a enviam para lá (indica a residência dos dependentes). Aquilo é que é triste. Lá você morre só ao ver os outros… E — Você não gostaria de ter de passar para o pavilhão dos dependentes? A — Não, não! Prefiro morrer. Se não fosse pelo fato de ser católica… E — Sinto que, não obstante o que você está vivendo, a sua fé a ajuda…
Os poucos lances do diálogo indicam um princípio da deterioração do sentido da vida, devido à perda progressiva das forças, à diminuição da capacidade física e psíquica e à solidão. Em tais situações, também a fé pode ser ameaçada em sua integridade. A terceira situação, finalmente, é indicada por uma luminosa prece de Teilhard de Chardin [padre jesuíta]: “Quando em meu corpo (e mais ainda em meu espírito) os sinais da idade começarem a deixar suas marcas, quando se abater sobre mim o mal que diminui ou carrega consigo, no minuto doloroso no qual tiver consciência, subitamente, de que estou doente ou que estou velho, sobretudo neste último momento, quando sentir que estou fugindo de mim mesmo, absolutamente passivo nas mãos das grandes forças desconhecidas que me formaram, em todas essas horas agitadas, faz-me compreender, ó Senhor, que és tu (desde que minha fé seja suficientemente grande) que afastas dolorosamente as fibras do meu ser para penetrar até o cerne da minha essência, e levame contigo”. Nessas admiráveis palavras podemos identificar a atitude ideal do homem em face da vida que se extingue. A fé cristã conduz para a realização desse ideal. Para o que crê, de fato, a morte é o “dia do nascimento”, o dia do nascimento para uma nova vida, na qual a vida presente encontra a sua plenitude. “A vida não é tirada, mas transformada”, canta-se num dos prefácios da Missa de Finados. O COMPROMISSO DA COMUNIDADE
Como a comunidade cristã pode ajudar as pessoas a encontrar o sentido da vida que se extingue? Parece-me que são dois os caminhos a percorrer.
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Uma cultura atenta ao morrer — É necessário criar uma nova cultura, na qual a atitude em face da morte se contraponha àquela que domina a sociedade contemporânea, em que a morte é considerada problema. Segundo o filósofo G. Marcel, o “problema é algo que está diante de mim em seu conjunto; está separado de mim. É como um obstáculo que interdita o meu caminho”. Quem considera a morte um problema tem a tendência de suprimila da própria experiência, de afastála. A morte, único acontecimento previsível com certeza no futuro de qualquer um, é tenazmente ignorada pela atual sociedade de futurólogos, de planejadores, de programadores e de organizadores do futuro. Obsessão constante, a morte permanece um tabu. A subtração das crianças à experiência do negativo (sofrimento, frustração, morte dos familiares…) indica a enorme influência do processo de socialização na criação de mecanismos de defesa no confronto com a morte. A rejeição da morte repercute na atitude para com o morrer e para com o paciente terminal. A pessoa, hoje em dia, está menos exposta ao espetáculo humano do morrer, que no passado fazia parte da experiência comum. Hoje, paradoxalmente, a televisão e os meios de comunicação social levam, antes, para dentro de casa, a face violenta e traumatizante da morte. A maioria das pessoas morre em situações de saúde, que regulam com minuciosas prescrições as fases do processo, visando isolar quer o acontecimento, quer o cadáver. O período que precede a morte é desassocializado, como se a sociedade, afetada pela supressão da morte, se encontrasse impotente para assumir a responsabilidade pelos últimos instantes daqueles que morrem. Contrariamente ao que acontecia na sociedade tradicional, o paciente terminal é abandonado ao peso da solidão. Promover uma nova cultura em face da morte significa levar as pessoas a considerarem esse acontecimento um “mistério”. Sempre seguindo a terminologia de Marcel, mistério é “algo que não está diante de mim em seu conjun-
to; faz parte de mim, nele estou implicado”. Assim compreendida, a morte é encarada como parte da minha própria experiência, não para ser suprida, mas antes, para ser integrada criativamente. Os lugares para se promover essa nova cultura são aqueles em que se dá a socialização primária e secundária, o processo pelo qual a cultura é interiorizada pelo indivíduo: a família, a escola, a paróquia, as instituições de saúde e os meios de comunicação social. É necessário propor uma educação que não se limite a refletir a sociedade, mas que vise também melhorá-la por meio da proposta de valores que ajudem a definir o sentido do viver e do morrer em termos respeitosos da dignidade da pessoa humana. A ASSISTÊNCIA AOS PACIENTES TERMINAIS
Chama a atenção o testemunho de dois médicos, responsáveis pela unidade de terapia do sofrimento e do atendimento paliativo do hospital V. Buzzi, de Milão: “Podemos afirmar que em nossa experiência com aproximadamente 200 doentes cancerosos, acompanhados por um espaço que variou de uma semana a um ano ou pouco mais, não registramos nem suicídios, nem pedidos de eutanásia, não registramos sequer tentativas de suicídio, nem paciente algum nos pediu para ajudálo a morrer, para abreviar o período da doença”. E acrescentam: “Observamos, além disso, que essas pessoas por nós acompanhadas tiveram uma vontade grande de viver, não obstante o agravamento contínuo de seu estado de saúde”. Assim concluem seu depoimento os dois médicos do hospital milanês: “Temos consciência de haver desempenhado, também do ponto de vista humano, o nosso papel de médicos, sabendo que a assistência do tipo global que oferecemos aos pacientes e às famílias contribui para ajudálos a aceitar viver a experiência da doença grave e da morte em vez de rejeitá-la, e de ter ajudado antes os sofrimentos e sentimentos de culpa”.
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Desses eloqüentes depoimentos, conclui-se que a qualidade da assistência prestada aos pacientes terminais desempenha um papel determinante para dar ou minar o sentimento da vida que se extingue. É nesse campo, acima de tudo, que se coloca o êxito da batalha contra a eutanásia. RESPONSABILIDADE DA COMUNIDADE
As instituições católicas de saúde devem dar prioridade, nas suas escolhas, aos doentes em fase terminal, garantindo-lhes um atendimento especializado. As comunidades paroquiais são chamadas a assumir o encargo da assistência aos irmãos que sofrem e morrem, desenvolvendo iniciativas de solidariedade, grupos de visitadores voluntários em domicílio e nas instituições de internamento. Aos Agentes da Pastoral compete atualização do estilo de acompanhamento e de animação espiritual mediante encontros humanos mais profundos e celebrações litúrgicas que tornem mais significativa a força salvadora de Cristo. Os agentes de saúde católicos são chamados a inserir os valores cristãos no exercício da profissão, dando uma contribuição específica ao debate ético em relação à vida que se extingue (terapia intensiva, eutanásia, experimentação, verdade para o doente…). Na elaboração dos próprios planos e estratégias, a comunidade cristã é chamada a entrar em diálogo e colaboração com todas as forças que atuam no campo da assistência aos pacientes terminais, forças que, embora não partilhem da mesma perspectiva religiosa, estão animadas por uma visão positiva da pessoa humana e de sua vida até o último instante. Essa é a solução contida na mensagem de amor que Cristo deixou aos homens e que cada cristão é chamado a traduzir por meio de uma aproximação que se torne, para o paciente terminal, fonte de sentido e sinal de esperança. Ângelo Brusco é Sacerdote Camiliano, italiano e atua como educador na área de relação pastoral de ajuda.
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OBESIDADE: UM PESO NA CONSCIÊNCIA? ANETE HANNUD ADDO
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té recentemente, a obesidade era considerada o simples resultado da ingestão excessiva de calorias associada ao sedentarismo. O obeso era considerado uma pessoa “sem força de vontade”, recaindo sobre ele a culpa pelo seu estado. Estudos têm demonstrado que a herança genética pode ser muito importante na gênese da obesidade. Stunkard [psiquiatra americano] verificou que o grau de obesidade de crianças adotadas assemelhava-se mais com o de seus pais biológicos do que com seus pais adotivos. Os mesmos autores, em outro estudo, analisaram pares de gêmeos idênticos e identificaram um padrão de peso muito semelhante entre eles (discordância de 3% a 4%), mesmo entre os que não foram criados juntos. Alguns pesquisadores chegam a afirmar que até 70% da responsabilidade pela obesidade é da hereditariedade. Os números são provavelmente exagerados, pois, apesar do aumento da obesidade, não se registraram mudanças genéticas significativas no mundo. Vários estudos comprovam a influência do meio ambiente como o início da obesidade. Por exemplo, um estudo de Lerario e outros pesquisado-
res mostra que os japoneses que moram no Japão aumentam de peso quando migram para outros países, pois modificam sua alimentação e tornam-se mais sedentários. O mesmo acontece com índios que saem de suas tribos para as cidades, como mostra a pesquisa de Ravussin. Fatores emocionais também estão envolvidos, como causa e conseqüência do aumento de peso. Para seu tratamento deve-se ter em conta a psicodinâmica da obesidade. Pode-se concluir que a obesidade resulta de uma complexa integração entre a genética e fatores ambientais e psicológicos, que muitas vezes estão além do controle do indivíduo. Conforme a filosofia de trabalho de Projeto de Atendimento ao Obeso — PRATO — do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, coordenado por Arthur Kaufman, é necessária uma abordagem multiprofissional no tratamento da obesidade, com ênfase em mudanças de estilo de vida, de mente e corpo, focando sempre o indivíduo e nunca a doença. A fim de ampliar o alcance do PRATO, foram criadas as reuniões psicoeducacionais para obesos e familiares, que acontecem mensalmente,
são gratuitas e abertas à população em geral. Nos encontros acontecem palestras psicoeducativas informais e interativas, ministradas por profissionais das diversas áreas que fazem parte da equipe do PRATO. A cada mês, um tema relacionado à obesidade é abordado, com o objetivo de informar sobre o problema, apontar tratamentos disponíveis, esclarecer dúvidas e desmistificar falsas crenças. O grande número de pessoas que procuram as reuniões mostra a carência da população por informações. São muito ricas as oportunidades de troca de experiência entre os pacientes e os profissionais de saúde. A decisão do obeso de mudar seu estilo de vida pode ser influenciada pelo modo com que os profissionais o abordam. Eles devem compreender a complexidade dos fatores envolvidos, sensibilizar-se com a luta constante do paciente, tratá-lo numa linguagem acessível e auxiliá-lo com atitudes positivas, de aceitação e suporte, sem preconceitos. Anete Hannud Addo, doutora em endocrinologia pela FMUSP, médica assistente do projeto de atendimento ao obeso — PRATO — do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP
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