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Informativo 12345 12345 12345 do Instituto 12345 12345 12345 Camiliano 12345 12345 12345 de Pastoral 12345 12345 12345 da Saúde 12345 12345 12345 e Bioética 12345 12345 12345

12345 12345 12345 12345 março de 2007 12345 12345 12345 ANO XXV – no 250 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA 12345 12345

❒ PASTORAL

❒ BIOÉTICA

❒ HUMANIZAÇÃO

QUEM PODE RECEBER A COMUNHÃO? ANÍSIO BALDESSIN

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ra, ou ainda é muito comum, antes de o padre iniciar a distribuição da eucaristia, durante a celebração da missa, ele mesmo, ou alguém que o auxilia, fazer a seguinte recomendação: “Este é o momento da sagrada comunhão. Portanto todos os que estiverem preparados podem se aproximar. Quem não estiver preparado não venha comungar, pois quem recebe a eucaristia sem ter feito uma boa preparação comunga sua própria condenação”. Confesso que essa afirmação sempre me deixou intrigado. Afinal, o que significa estar preparado para receber a comunhão? Por isso, antes de ingressar na vida sacerdotal, quando participava de missas ou da celebração da palavra, muitas vezes deixei de comungar, pois a referida frase fazia com que, na dúvida, era melhor não fazê-lo. Depois que fui ordenado padre comungo em todas as missas. Será que após minha ordenação não tive mais atitudes inconvenientes (pecados) que me impossibilitem de receber a comunhão? Sem dúvida que não. Sou a mesma pessoa de antes. Simplesmente desenvolvo um ministério na Igreja. Portanto, não sou diferente dos outros fiéis. O que faz com que eu me sinta digno de participar da eucaristia em todas as missas é, em primeiro lugar, acreditar que a misericórdia de Deus é bem maior do que todos os meus pecados.

Acrescente-se a isso o ato penitencial que em todas as missas sou convidado a fazer. Nele, peço perdão pelas vezes que pequei por pensamentos, palavras, ações e omissões. Portanto, no meu entender, exceto em situações extremas em que nem o próprio pecador é capaz de se perdoar, penso que todos somos convidados para a comunhão. Ou será que Deus não nos concede o perdão que pedimos no ato penitencial? Atualmente, tenho ministrado muitos cursos e dado orientações para agentes de

pastoral e ministros da eucaristia que visitam os doentes e levam comunhão para eles em casa e nos hospitais. Quando o assunto é sacramento, o da Eucaristia é o que mais suscita discussões. As perguntas mais freqüentes são: alguém que não se casou na Igreja pode comungar? Podemos dar comunhão para quem é divorciado e casado novamente? E se a pessoa que está morrendo pedir perdão, mesmo que esteja vivendo em situação irregular, ainda assim podemos dar a comunhão? Alguém que se separou e não casou novamente, mas cultiva algum relacionamento amoroso, pode receber a eucaristia? A pessoa que, por um motivo ou outro, esteja em situação irregular com a Igreja, se desejar, pode receber a comunhão em outra comunidade em que ninguém conheça sua real situação?

O QUE DIZ A IGREJA? Na carta de 14 de setembro de 1994, sobre a recepção da comunhão eucarística por fiéis divorciados e novamente casados, a Congregação para a Doutrina da Fé afirma que “nos últimos anos em várias regiões foram propostas diversas soluções pastorais, segundo as quais certamente não seria possível uma admissão geral dos divorciados novamente casados à comunhão eucarística, mas poderiam aproximar-se desta em determinados ca-


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sos, quando segundo o juízo da sua consciência a tal se considerassem autorizados”. Algumas delas são: 1. QUANDO tivessem sido abandonados de modo totalmente injusto, embora tivessem se esforçado sinceramente para salvar o matrimônio precedente celebrado na Igreja; 2. QUANDO estivessem convencidos da nulidade do matrimônio anterior, mesmo não podendo demonstrá-la no foro externo; 3. QUANDO já tivesse transcorrido um longo período de reflexão e de penitência; 4. QUANDO não pudessem, por motivos moralmente válidos, satisfazer à obrigação da separação; 5. EM ALGUNS lugares também se propôs que, para examinar objetivamente a sua efetiva situação, os divorciados novamente casados deveriam iniciar uma reflexão com um sacerdote criterioso e entendido. Mas esse sacerdote teria de respeitar a eventual decisão de consciência deles de se aproximarem da Eucaristia, sem que isso implicasse uma autorização oficial.

EXPEDIENTE

Nesse contexto, merecem uma especial atenção as dificuldades e os sofrimentos dos fiéis que se encontram em situações matrimoniais irregulares. De fato, os pastores são chamados a fazer sentir a caridade de Cristo e a materna solicitude da Igreja, acolhendo-os com amor, exortando-os a confiar na misericórdia de Deus e, com prudência e respeito, sugerindo-lhes caminhos concretos de conversão e participação na vida da comunidade eclesial. Nesses e em casos semelhantes, tratar-se-ia de uma solução pastoral tolerante e benéfica para poder fazer justiça às diversas situações dos divorciados novamente casados.

Mesmo que se saiba que soluções pastorais semelhantes foram propostas por alguns padres da Igreja, e que algumas, de certo modo, se tornaram práticas, elas jamais obtiveram o consenso dos padres e de nenhum modo vieram a constituir a doutrina comum da Igreja nem a determinar a sua disciplina. Compete ao Magistério Universal da Igreja, na fidelidade à Escritura e à Tradição, ensinar e interpretar autenticamente. Diante das novas propostas pastorais mencionadas, a Congregação para a Doutrina da Fé considera, pois, seu dever reafirmar a doutrina e a disciplina da Igreja nessa matéria. Por fidelidade à palavra de Jesus Cristo, a Igreja sustenta que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro matrimônio foi válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam em uma situação objetivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persiste tal situação. A Igreja deve-se preocupar em acompanhá-los pastoralmente e convidá-los a participar na vida eclesial, caso isso seja compatível com as disposições do direito divino, sobre as quais a Igreja não possui qualquer poder de decisão. Além disso, é necessário esclarecer os fiéis interessados que não considerem a sua participação na vida da Igreja reduzida exclusivamente à questão da recepção da Eucaristia. Os fiéis hão de ser ajudados a aprofundar a sua compreensão do valor da participação no sacrifício de Cristo na missa, da comunhão espiritual, da oração, da meditação da palavra de Deus, das obras de caridade e de justiça.

A REALIDADE Quantas situações semelhantes você, agente de pastoral da saúde ou ministro da eucaristia, já vivenciou?

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética – Província Camiliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos Conselheiros: Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisora: Rita Lopes e Sandra G. C. Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica:

Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

São fatos que sempre nos deixam numa encruzilhada. Seguir aquilo que a Igreja manda ou respeitar a liberdade e a consciência da pessoa? Particularmente, penso que é sempre mais fácil seguir o que a Igreja prega, pois, além de nunca estar errado diante de suas normas, não terei de dar explicações e muito menos ter crises de consciência. Afinal, se alguém está errado, não sou eu. Simplesmente cumpro o que manda a Igreja. É semelhante àquele religioso que ao ser questionado se ganharia o céu respondeu: “Certamente, faço tudo o que meu superior manda. Se alguém tem de ir para o inferno é ele. Afinal, eu só faço aquilo que ele me obriga fazer”. Estamos sempre entre a cruz e a espada. Toda atividade pastoral que desenvolvemos o fazemos em nome da Igreja. Ou seja, a palavra do agente e/ou do ministro da eucaristia é, de certa forma, a palavra da Igreja. É correto ter uma postura que contraria o que a Igreja prega? E mais, como podemos explicar a situação das pessoas (até membros atuantes na Igreja) que legalmente estão casadas, mas que na prática têm vida dupla (amantes) fora do casamento? Será que, só porque não estão separadas judicialmente, estão aptas para comungar? Como não temos conhecimento da real situação de tais pessoas, basta que se confessem para estar aptas? A comunidade teria a coragem de proibi-las de receber a Santa Comunhão? Alguém poderá dizer: “Ah, isso vai depender da consciência de cada um. É ele(a) quem vai ter de responder pelos seus atos!”. É verdade. Porém, se nesses casos agimos assim, não deveríamos adotar o mesmo critério para os que, segundo as normas da Igreja católica, estão em situação irregular no matrimônio? Ou seja, respeitar a consciência de cada um? Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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A PRÁTICA DIÁRIA A maioria das pessoas que participam das missas na capela do hospital, bem como as que visito nos leitos, são desconhecidas. Não tenho condições de saber se estão ou não em situação irregular. Todavia, na fila da comunhão, mais de uma vez o doente já perguntou: “Eu estou irregular com minha situação matrimonial. Posso receber a comunhão?”. Sem ter muitas alternativas no momento, respondi que, se a consciência dele(a) não o proibia, não seria eu que iria proibi-lo. Não sei se minha atitude foi correta. De acordo com as normas da Igreja certamente não foi. Porém, quando isso acontece sempre me pergunto o que Jesus faria se estivesse no meu lugar. No livro, O Evangelho de São João, de Juan Mateos e Juan Barreto, quando comentam a Santa Ceia, mais especificamente os versículos 26 e 30 do capítulo 13: “é aquele a quem eu der o pão que eu vou umedecer no molho”, “tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente”, os autores fazem o seguinte comentário: “Ao oferecer o pão a Judas, Jesus quer que ele esteja em comunhão. Oferece sua acolhida até o último momento, oferta-se a si mesmo; brinda-lhe sua amizade até o fim. Oferecer a um comensal um pedaço de pão molhado na salsa ou um pedaço de alimento era sinal de deferência. Mesmo sabendo qual era a intenção de Judas, Jesus oferece a ele sua própria pessoa disposta a aceitar a morte. O gesto de Jesus convida Judas a ser dos seus, a retificar todo o seu passado. Agora ca-

be a Judas fazer sua última opção: ou aceitar o amor de Jesus e a ele responder, ou endurecer-se em sua postura e consumar a traição”. Portanto, na visão desses autores, o evangelista João evita dizer que Judas comeu o pedaço de pão. Pois comer, na teologia de João, teria o significado de assimilar-se a Jesus, o qual se lhe ofertou, mas fica suspenso o que Judas faz com o pão. Porém, na frase “tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente”, insinua figuradamente qual era sua opção. Não fazer comunhão com Jesus e sim entregá-lo aos que vão matá-lo”. Embora essa seja uma reflexão segundo a “teologia joanina” e de acordo com o pensamento desses autores, ela nos faz refletir. Ou seja, Jesus se oferece e quer fazer comunhão com todos. Até mesmo com aquele que iria traí-lo. Essa atitude nos adverte que o amor não só não exclui ninguém, como abrange até o inimigo mortal, e que a pessoa também a ele deve doarse sem se poupar. Jesus não julga nem obriga Judas a estar em comunhão com Ele, simplesmente o convida. Porém, respeita sua decisão. Essa atitude de Jesus, portanto, nos faz refletir se cabe a nós ou à própria pessoa dizer se pode ou não receber a comunhão. Comungar para Judas seria o mesmo que concordar com aquilo que Jesus iria fazer. E Judas não concordava, não estava em comunhão. Portanto, seguindo o raciocínio da teologia de João, não foi Jesus que disse a Judas que ele não poderia comungar. Foi ele próprio que entendeu que

FALTA PROPAGANDA

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não estava em comunhão. Se nem Jesus decidiu pela consciência do outro, nós temos condições de fazê-lo? Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JOÃO PAULO II. (Carta às Famílias, 2 fev. 1994), nº 3. JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris consortio, nº 79, 84: AAS 74 (1982) 180, 186. Catecismo da Igreja Católica, nº 1650; cf. também nº 1640 e CONCÍLIO DE Catecismo da Igreja Católica, nº 1640. Código de Direito Canônico, cân. 1085, §2. Exortação Apostólica Familiaris consortio, nº 84: AAS 74 (1982) 185. MATEOS, Juan & BARRETO, Juan. O Evangelho de São João (grande comentário bíblico). São Paulo. Paulinas, 1989, pp. 578-579.

AVISO AOS AMIGOS ASSINANTES DO BOLETIM ICAPS Primeiramente, queremos dizer a vocês, amigos assinantes, que para nós da equipe ICAPS é um prazer tê-los como leitores de nosso boletim. Sabemos que muitos de vocês se servem dele para seu trabalho pastoral, tanto nos hospitais como nas paróquias e nas visitas em domicilio. Como é do conhecimento de muitos, o boletim possui três dimensões: a pastoral, a de bioética e a de humanização. Por essa razão, quase todo mês procura trazer temas relacionados a essas questões. Neste ano estamos abrindo espaço para os interessados que queiram publicar algum artigo. Os artigos deverão tratar, preferencialmente, das questões de saúde, pastoral da saúde, bioética ou humanização. Aceitamos também relatos de experiências que vocês tenham vivido ou estejam vivendo em sua paróquia, hospital ou diocese. Os artigos deverão ter no mínimo uma página e no máximo três. Se for uma oração ou mensagem, pode ser mais curta. Portanto, se vocês gostam de escrever, façam seu artigo e mandem para a secretaria do ICAPS. Teremos imenso prazer em publicá-lo.


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PSIQUIATRA ANALISA LUTO E VÊ O AMOR FABIANE LEITE so Brasileiro de Tanatologia (estudos sobre a morte) e Bioética. Na oportunidade concedeu uma entrevista para o jornal Folha de S.Paulo. Folha – Por que o senhor escolheu trabalhar com luto?

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m dos maiores especialistas em luto do mundo, o psiquiatra inglês Colin Murray Parkes, 77, parou na frente de uma escultura em mármore negro, a de que mais mâstou em seu passeio pela Pinacoteca do Estado de São Paulo. “Está quebrada, mas inteira. A impressão é que quebrou, mas continua inteira, continua uma pessoa, uma vida, uma coisa. É reconhecer o valor das suas partes, mesmo quebradas”, disse Parkes, que é consultor do St. Christopher’s Hospice, em Londres, uma instituição para pacientes fora de possibilidades terapêuticas. “Figura Quebrada”, obra de 1975 do compatriota Henry Moore, materializou a teoria de Parkes sobre a dor da perda, construída durante mais de 50 anos. Para Parkes, o luto é o preço que se paga pelo amor, por uma vida feliz. É assim que ele impulsiona seus pacientes a não esquecer, mas seguir com boa lembrança. Para ele, o luto é uma importante transição, pode ser um momento para recriar a própria história, diz. “O apego é poderoso, e quando o apego é quebrado, você se sente exatamente assim. O que essa escultura captou é que, ainda assim, é bonito”, disse Parkes, quando esteve em São Paulo para participar do 3º Congres-

Parkes – Muitas coisas diferentes contribuíram para isso. Uma delas foi meu descontentamento com a forma como alguns médicos tratam seus pacientes. Mesmo quando eu era um jovem estudante de medicina, era interessado em psicologia, tinha vontade de estudar os fatores de estresse dos pacientes e ajudá-los nesses momentos decisivos, quando você se depara com as perdas ou fica doente. Eu vejo a morte e o luto como parte dos eventos que mudam a vida, o que inclui a perda, que sempre traz um elemento de ganho. O nascimento de um bebê pode ser muito traumático, dolorido, pode ser uma perda também, em alguns pontos de vista, e é ainda um ganho tremendo. A parte recompensadora de trabalhar com pessoas que estão vivenciando o luto é vê-las crescer. Eu acho que uma das coisas que o luto ensina é que as pessoas que amamos nunca perdemos. Elas são parte da nossa vida pra sempre. Quando alguém diz “ele vive em minha memória”, isso é verdade. O problema é que no primeiro momento em que se perde alguém, sente-se que todas as coisas boas que vieram com essas pessoas se perderam também. Só quando a pessoa pára de tentar recuperar é que percebe que nunca perdeu. Folha – Viver diariamente outros lutos é doloroso para o senhor? Parkes – Claro que é. Mas a dor do luto é igual à do nascimento, como disse. É doloroso, mas algo bom pode vir com isso. Você se sente fraco, carente, mutilado, acha que tudo que é importante foi embora. Mas a mesma pessoa, talvez dois, três, quatro anos depois vai dizer coisas como “estou surpreso de como sou forte”. Eles perceberam que sobreviveram, que começaram a valorizar a si mesmos e à pessoa que morreu de uma maneira que é mais madu-

ra. Não estou sendo Pollyana, eu não espero que minha mulher morra. Mas não importa se vou morrer antes dela ou ela antes de mim. Quando isso acontecer, nós sabemos que podemos continuar um sem o outro. Folha – Alcançar isso independe de uma crença religiosa? Parkes – Eu diria que isso é parte de um lado espiritual. Porque espiritualidade é achar um sentido na vida, qualquer que seja a linguagem que você utiliza para explicar esse significado. Muitas pessoas gostam da linguagem de Deus. Quando trabalhamos com pessoas que vivem o luto estamos fazendo o que os padres fazem, tentando ajudá-los a achar um novo significado. Folha – O senhor afirma em seus livros que o luto é o preço que pagamos pelo amor, por termos aceitado compromissos em nossas vidas. O luto é inerente a uma vida feliz? Parkes – Não há dúvida de que o luto é a experiência psicológica mais dolorosa que qualquer pessoa irá viver, e, quanto maior o amor, maior é essa dor. Não há duvida, o luto é um preço que temos de pagar. Algumas pessoas acham seu luto tão doloroso que ficam com medo de amar novamente. Mas o preço vale a pena. Folha – É possível educar para o luto? Parkes – Isso certamente ajuda. As perdas são inevitáveis na vida. Perdas que podem ser de uma boneca ou de uma pessoa. E os pais devem aproveitar essas oportunidades para ajudar as crianças a aceitar a perda que é parte da vida. Eu estava dirigindo com minhas filhas no carro uma vez – elas tinham cinco, três e dois anos de idade – e uma delas viu um gato morto. Eu parei e disse: vocês querem ver? Começou um debate (risos). Elas decidiram que sim e eu dei permissão. Ainda bem que o gato não estava num estado muito ruim (risos). Mas conversamos sobre o


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que aconteceria com ele. Eu disse que um dia poderia virar adubo, que faria mais flores bonitas crescerem no jardim. Alguns dias depois a mais nova perguntou: “Papai, o que vai acontecer com você quando você morrer?”. Eu perguntei o que ela achava. “Adubo!”, ela respondeu. Folha – O senhor fala de outros lutos, que existem mesmo quando não há morte? Parkes – Um exemplo é se sua mulher ou seu marido tem o mal de Alzheimer, uma demência. Ela se torna uma pessoa diferente, infantil, insensível. Você lamenta pela pessoa que perdeu. Algumas pessoas conseguem superar isso, lembrar como a pessoa era.

É assim também com a mãe, que sempre espera uma criança perfeita e tem um bebê com uma deficiência física. Algumas irão rejeitar essa criança. Se puder ajudar essas pessoas em seu luto, elas poderão chegar à conclusão de que sim, é muito triste, mas que podem amar de uma maneira diferente e até mais forte. Sim, e pode haver luto mesmo se você perder o que nunca teve. É o caso de alguém que sempre quis se casar e o noivo abandonou antes da cerimônia. Folha – Como as políticas de saúde devem lidar com a morte? No Brasil a criação de regras para a manutenção de terapia intensiva gerou acusações de que o governo queria um holo-

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causto. A mesma comoção que há sobre a eutanásia. Parkes – É uma decisão muito difícil. Há muitas pessoas envolvidas. Não é só a questão sobre se o sofrimento justifica uma autorização para que o paciente morra. Mas como irá afetar pais, irmãos. Sim, sabemos que há as questões econômicas. Se bloqueio este leito, outras cinco pessoas irão morrer. Não há resposta simples. Essa questão não tem que ser decidida na base do “não matarás”, ou de preconceitos, mas em um contexto em que todas as variáveis têm que ser levadas em conta, inclusive familiares e políticas de saúde. Entrevista extraída do jornal Folha de S.Paulo. Domingo 30 de abril de 2006

BIBLIOGRAFIAS PARA A PASTORAL DA SAÚDE

COMO VISITAR UM DOENTE Acaba de ser publicada pela Edições Loyola a sexta edição do livro Como visitar um doente, de padre Anísio Baldessin. É um pequeno livro que procura dar algumas dicas para capelães (padres, pastores), agentes de pastoral da saúde e ministros da eucaristia que visitam doentes em hospitais e domicílios. Neste livro, o leitor encontrará algumas dicas pastorais sobre o que se deve e o que não se deve falar ou fazer na visita pastoral ao doente. O autor procura responder a algumas perguntas comuns como: Quanto tempo pode durar a visita? O que dizer ao doente quando ele chora, fica em silêncio, é de outra religião, está em estado grave?, entre outras.

COMO FAZER PASTORAL DA SAÚDE? Trata-se de um roteiro ágil, de leitura fácil e agradável. Nele o autor, padre Anísio Baldessin, apresenta a pastoral da saúde nas três dimensões: solidária, comunitária e político-institucional. O conteúdo é enriquecido com a prática pastoral que o autor desenvolve no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, dos congressos e cursos de pastoral da saúde que tem ministrado em hospitais, paróquias e dioceses. Portanto, poderá ser muito útil a todos os que atuam na pastoral da saúde paroquial, domiciliar e principalmente hospitalar.

Você poderá comprar estes livros na secretaria do ICAPS, pelo telefone: (11) 3862-7286, ramal 3, com Cláudia, ou fazer seu pedido por fax, carta ou internet: icaps@camilianos.org.br. Os interessados poderão encontrá-los nas livrarias católicas ou na Edições Loyola (11) 6914-1922.


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REFLEXÕES SOBRE O ABORTO EVALDO D’ASSUMPÇÃO

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olta a discussão sobre a descriminalização do aborto. Poucos entendem realmente o que isso quer dizer. Descriminalizar significa retirar a condição de “crime” de algum ato. Para se definir a favor ou contra a descriminalização do aborto, torna-se indispensável refletir sobre alguns pontos indesejáveis. O primeiro deles é o elevado número de abortos que anualmente seriam realizados em todo o mundo. Algo em torno de 50 milhões, dos quais de 2 a 3 milhões em nosso país. Fico pensando como se consegue contar quantos abortos se fazem no Brasil, se aqui eles são feitos clandestinamente, escondidos de qualquer estatística... O segundo ponto diz respeito a quando se inicia a vida. Segundo Callahan, existem três escolas a respeito: a) a escola genética, que define como humano todo ser que tem um código genético. Portanto, desde a concepção; b) a escola desenvolvimentista, que exige certo grau de desenvolvimento do novo ser: que pode se dar com a implantação do ovo no útero, ou com a formação do córtex cerebral, ou com sua saída do útero; c) a escola das conseqüências sociais: em vez de “quando a vida começa”, discute-se “quando a vida humana começa”. Contudo, a escola genética nos parece a mais adequada, já que, se da união de duas células humanas — o espermatozóide e o óvulo —, só é possível surgir outro ser humano e, nesse caso, com todas as suas características físicas e mentais já definidas, é na concepção que a vida humana se inicia. O terceiro ponto se refere aos aspectos psicossociais. Se levarmos em conta que vivemos numa sociedade marcada pela antivida, em que se constata a total falência do sistema de saúde; em que a pena de morte como castigo para criminosos e a eutanásia escondida sob a capa da morte misericordiosa são constantemente defendidas por multidões inconseqüentes e facilmente manipuláveis pelos interesses de um capitalismo selvagem; em que a vida só vale enquanto produtiva e consumista, então somos todos abortistas. A criança que escapa de um aborto na gravidez certamente será abortada pela sociedade no decorrer de sua vida, rejeitada que foi, desde o início, como inútil. Nessa sociedade não é de se estranhar que a visão do início de uma vida hu-

mana limite-se ao biologicismo pragmático, com desprezo pelos elementos psíquicos e espirituais do ser humano. Por isso mesmo, a mulher se torna uma simples máquina reprodutora de outras máquinas de produção e consumo. O quarto ponto é a participação do homem nessa discussão, uma vez que as feministas radicais defendem ser esse um problema exclusivo da mulher. Ora, qualquer discussão sobre a geração de um filho diz respeito ao casal, e nunca a um só de seus membros. Se para a geração de um filho é essencial uma célula masculina e outra feminina, o futuro desse novo ser não é responsabilidade de um só, mas de ambos. Mesmo que um deles, quase sempre o homem, caia fora quando a geração do filho não estava em seus planos. Essa é mais uma razão para envolvê-los na discussão, pois é inadmissível que o momento do prazer seja dos dois e o da responsabilidade para com um terceiro ser seja somente de um. Para se debater a questão do aborto, não se pode deixar de lado o valor da vida, porque ele é indiscutivelmente incalculável. Não precisamos, também, cair em histórias dramáticas, em que um filho que seria abortado e escapou veio a se tornar um grande homem ou uma grande mulher. Não precisamos questionar a postura das feministas, que defendem o direito de a mulher abortar, esquecidas de que o feto que será morto poderá ser também uma mulher. O que nos permite questionar: a partir de que idade a mulher merece e deve ser defendida? O mais importante é debater o que se precisa fazer e o que se pode fazer para que o aborto não seja mais necessário. O mais importante é procurar o que fazer para acolher a mulher que se viu na contingência de abortar, deixando a condenação somente para o ato do aborto e seus aproveitadores, nunca para suas vítimas: a mãe e a criança. O importante é insistir na educação, na formação sexual correta, na valorização do que é ético, rejeitando-se as campanhas que estimulam a sexualidade precoce, que propagam a mentira do sexo seguro — que nunca existe na promiscuidade —, somente porque se usa um preservativo. É cientificamente comprovado que sua segurança está em torno de 80%, havendo, portanto, a possibilidade de falhas em cerca de 20% dos casos. Tanto no que diz respeito à fecundação como na prevenção da AIDS. O importante é apontar para a responsabilidade do homem no aborto, jamais o excluindo das discussões e da educação, essenciais à formação de pessoas com valores morais e éticos que, se multiplicados, tornarão totalmente desnecessárias as absurdas campanhas para a legalização do crime pela simples justificativa de que ele existe. Mais do que descriminalizar, é preciso — repetimos — criar condições que tornem o aborto desnecessário, em que a ignorância e a miséria não caminham lado a lado com o hedonismo, a ganância, o egoísmo, a irresponsabilidade e o desamor. Podem dizer que isso é utopia. No entanto, utopia não é o que não existe, mas somente o que está distante. Portanto pode ser alcançado. Edvaldo A. D’Assumpção, escritor, bioeticista, biotanatólogo, cirurgião plástico e membro da Academia Mineira de Medicina.


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A TOLERÂNCIA GRACIELA NIETO

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empre sonhamos com um mundo de tolerância no qual todos fôssemos felizes: os idosos, as crianças, os fracos, os excluídos. Com esse desejo vem a dificuldade da definição de tolerância: é um conceito fácil de elogiar, difícil de praticar e mais difícil, ainda, de explicar. A tudo isso se acrescenta a dificuldade de não cair em fanatismos e evitar a facilidade de proclamar bandeiras. É muito freqüente que à intolerância alheia imponhamos nossa própria intolerância. Mas, talvez porque as coisas difíceis sejam as que valem a pena tentar, buscamos, primeiramente, despojar-nos de preconceitos. O que significa ser intolerante? Podemos dizer que é uma posição imutável, um modo de deter-se diante da vida que não admite outra perspectiva. Um intolerante é um sectário, um fanático, uma pessoa de visão estreita. É comum a intolerância espalhar seus efeitos em todas as direções. A tolerância é o respeito pelo alheio, pelo que nos une e nos separa. Ser tolerante é ser respeitoso. Ser respeitoso é ter em conta a humanidade do próximo, respeitar sua individualidade, aceitá-lo com suas virtudes e defeitos. A tolerância consiste em tentar compreender o outro e ter a liberdade de questioná-lo nos limites do respeito. Esta é a acepção que seguimos: respeito à diversidade. A tolerância é um ato de amor que deve aplicar-se, em princípio, à nossa pessoa; quanto mais crescemos como seres humanos, mais conhecemos a nós mesmos. Por esse caminho, às vezes áspero, às vezes agradável, temos de aprender a conviver com defeitos pessoais dos quais não gostamos. Ter uma atitude de tolerância requer, além de respeito, paciência. Em primeiro lugar, tem de estar disposto a ver a realidade tal qual ela é. Então, é necessária certa dose de coragem para assumi-la Como as potencialidades do homem são inesgotáveis, dependerá também de nós transformarmos a realidade em experiência de vida curativa e integradora. Se praticar a tolerância com nós mesmos é um processo às vezes bastante complicado, mais difícil se torna quando se trata de cultivar uma atitude tolerante para com os demais. Porque é mais fácil o rótulo, o desprezo, a segregação, a indiferença e, finalmente, o ato de pensar guiado pelos preconceitos. Talvez aí resida o germe de toda a intolerância: em não permitirmos a reflexão (o pensamento sobre o pensamento) e nos fecharmos em uma única possibilidade, produto de condicionamentos cultu-

rais. Quando alguém nos diz: “Eu não tolero isso”, na realidade poderia estar nos dizendo: “Isso é algo que me faz, em princípio, muito mal e sobre o qual não consegui ainda refletir, mas vou tentar buscar as causas desse sentimento em mim”. Esta é a verdadeira revolução humana: o pensamento. Se deixamos esse exercício nas instituições ou nos discursos padronizados, caímos perigosamente na aceitação incondicional. Um intolerante condena sem julgar e julga sem olhar para si mesmo. Seus fundamentos estão baseados principalmente no “porque sim”. Aí se resume sua única força: a arbitrariedade. Convenhamos no perigo que pode resultar (e sobram os exemplos ao longo da história) a aceitação de pensamentos e/ou ações arbitrárias como coisas normais. Tem-se definido a tolerância como a capacidade, maior ou menor, para admitir nos outros determinada maneira de ser, fazer ou pensar. Ou seja, uma atitude variável que conduz a que uma pessoa seja permeável a permitir um sentimento, uma conduta ou um pensamento diferente do seu. A tolerância, segundo palavras de Savater (catedrático de Ética na Universidade do País Basco), é o reconhecimento do direito de não crer: de não crer na religião, na ciência, na sexualidade, no sentido comum estabelecidos. Esse reconhecimento é um exercício árduo que devemos fazer diariamente; não surge de maneira automática, mas consciente e livremente. Não podem obrigar-nos à tolerância. Também não podem obrigar-nos à intolerância disfarçada sob o medo do diferente. Precisamos estar alertas a mensagens que subliminarmente encobrem uma atitude de intolerância; precisamos, em suma, de estar atentos, olharmos objetivamente, analisar, refletir e assimilar em nossa humanidade todo esse processo. Por que uma pessoa se torna intolerante? Acaso não quer para si toda a tolerância e respeito? Ou será o inverso? Um intolerante, mais que haver-se convertido, é alguém a quem falta uma etapa do pensamento que o torna tolerante? Se ficamos com essa possibilidade, estamos mais perto de aceitar que a tolerância é produto de um exercício, de uma atividade do homem, e que, além disso, é um ato de amor, já que supõe os quatro elementos básicos que o compõem: respeito, conhecimento, responsabilidade e cuidado. A tolerância com os intolerantes é possível e necessária uma vez que, embora todos sejamos


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um, também cada um de nós constitui uma entidade única; somos iguais porque somos todos filhos de Deus e somos diferentes porque somos todos irmãos em Deus. Uma atitude intolerante traz conseqüências em diversos aspectos da vida; a mais dolorosa de todas as que experimenta um intolerante é a solidão. O intolerante decide afastar-se dos outros, nega o amor fraterno encerrando-se em si mesmo. A solidão e o isolamento vão de mãos dadas com a intolerância. Todos temos, em maior ou menor medida, atitudes de intolerância na vida cotidiana. Todos sofremos, de modo correlato, ações provenientes da intolerância. Saber ver essas atitudes em nós mesmos, tratar de entender as razões, de compreender e de colocarnos ante nossos próprios medos não só aprofunda fortemente nossos laços cristãos, como também nos brinda com a luz poderosa do verdadeiro conhecimento. Estar atentos à intolerância dos outros é, também, uma ferramenta adequada para uma melhor convivência com os semelhantes. Por trás da intolerância há um indivíduo que sofre. O comum das pessoas é dar à palavra tolerância o sentido semântico de suportar as coisas sem questionamentos. Mas, se entendemos a tolerância como uma capacidade que pode exercitar-se e que, além disso, provém do amor, devemos concluir que, antes de ser um peso para a alma, é uma sensação de bem-estar. Quanto mais assim a admitirmos, maior será nossa capacidade de oferecer um espaço franco às idéias, sentimentos e ações de nossos semelhantes. Um possível e último remédio paliativo a ser aplicado nas circunstâncias de intolerância aguda é a felicidade. SER FELIZ é um trabalho, o mais árduo de todos e um dos mais descuidados. Trabalhar nosso desenvolvimento pessoal conduz, lentamente, à felicidade. Tornar nossa vida e a do próximo suportáveis é um exercício, uma opção e uma virtude que se aprende. É difícil, embora possível de implementar em qualquer circunstância da vida.

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Caso você não tenha condições de pagar a taxa e quer continuar recebendo o boletim, fale conosco para que possamos resolver seu problema. Se você não quer continuar a assinatura, entre em contato conosco para que possamos cancelála, oois os assinantes que não estiverem cumprindo as exigências estabelecidas poderão ter sua assinatura suspensa. Atenciosamente, Padre ANÍSIO BALDESSIN Diretor do ICAPS

Artigo extraído da revista espanhola Humanizar, nov./dez. 2002.

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