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Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética julho de 2007 ANO XXV – no 254 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA

❒ PAStoRAl

❒ bioÉtiCA

❒ HUmAniZAÇÃo

SÃO CAMILO E O SACRAMENTO DA CARIDADE TADEU DOS REIS ÁVILA

A

Exortação Apostólica póssinodal Sacramentum Caritatis recém-publicada fala de maneira ampla e articulada sobre a Eucaristia como “Sacramento da caridade”. A pastoral da saúde pode extrair continuamente força da Eucaristia para socorrer de modo eficaz o ser humano e promovê-lo, segundo a dignidade que lhe é própria. Nos hospitais e nas clínicas, a capela deve ser o coração palpitante no qual Jesus se oferece intensamente ao Pai celeste pela vida da humanidade. A Eucaristia, distribuída com dignidade e com espírito de oração aos enfermos, é seiva vital que os consola e infunde em seu espírito luz interior para viver com fé e com esperança a condição de enfermo e o sofrimento. “Recomendo-vos, portanto, também este recente documento: fazei-o vosso, aplicai-o ao campo da pastoral da saúde, tirando dele indicações espirituais e pastorais apropriadas” (Bento XVI: “Pastoral da saúde, testemunho do amor de Deus pelos enfermos”. Palavras à sessão plenária do Conselho Pontifício para a Pastoral no Campo da Saúde, 22/03/07). A missão fundamental da pastoral da saúde é: ser no mundo sinal do amor de Cristo para com os enfermos e sofredores. A participação ativa na Eucaristia nos tornará mais conscientes de nossa missão no mundo, pois em cada

Eucaristia somos enviados, como “missionários da Eucaristia” sacramento da caridade, a difundir em todos os ambientes o grande dom recebido. Quem, de fato, encontra Cristo na Eucaristia não pode deixar de proclamar, com a vida, o amor misericordioso do Redentor (cf. João Paulo II). “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele. E como o Pai, que vive me enviou e eu vivo pelo Pai, assim, aquele que me receber como alimento viverá por mim” (Jo 6,5657). Nutridos pelo sacramento da caridade, os fiéis compreendem que o compromisso missionário consiste em ser uma “oferenda bem aceita, santificada no Espírito Santo” (Rm 15,16), para forma-

rem sempre mais “um só coração e uma só alma” (At 4,32) e tornarem-se testemunhas do seu amor até os confins da terra. Quanto mais viva e central for a Eucaristia na nossa vida, tanto mais profunda será a nossa participação na vida eclesial por meio de uma adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos e discípulas (cf. Bento XVI). Na Eucaristia somos chamados a configurarnos com Jesus Cristo, e assim tornamos nossa vida e nossas ações uma extensão da própria missão de Jesus. Quanto mais estivermos unidos a Cristo, mais a nossa vida se tornará um reflexo da sua e teremos já aqui na terra aquela vida bemaventurada que o Senhor reserva para cada um de nós. Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo, pelo contrário, torna-se “sacramento” para a humanidade, sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (Mt 5,1316). Quanto mais unidos a Cristo presente no sacramento da caridade, mais somos interpelados a nos fazermos próximos daqueles que sofrem. O segredo da vida e obra de São Camilo estava no tempo diário que dedicava à oração a Jesus sacramentado. Toda a fecundidade de seu apostolado da saúde tinha


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expediente

sua fonte e alimento na Eucaristia e transbordava no exercício da caridade para com os enfermos. Padre Mario Vanti nos conta em seu livro O espírito de São Camilo que a ciência da caridade desenvolveu-se em São Camilo de forma gradativa, à medida que ele progredia na fé e no espírito de oração. Quem testemunhou a caridade de Camilo acha impossível destacar o seu amor a não ser com as seguintes palavras: “Não houve mãe que amasse tanto os seus filhos quanto Camilo amou os pobres e os doentes”. A presença de Deus no pobre tornase sempre mais clara e radiante aos olhos e no coração de São Camilo. “Padres e irmãos meus”, repetia com insistência aos seus religiosos, “contemplemos nos pobres e nos doentes a pessoa do próprio Cristo, pois ele diz: ‘O que tiverdes feito ao menor deles, a mim o fizestes’. Meus irmãos, os pobres e doentes a quem servimos um dia nos levarão a contemplar a face de Deus”. Em Nápoles, no Hospital da Anunciação, um doente, tomado de febre, saltou da cama e, completamente nu, começou a andar gesticulando pela enfermaria. Os enfermeiros riam dele, mas Camilo, depois de cobri-lo com o seu manto e levá-lo para cama, disse: “Vocês pensam que este doente é lixo de rua? Não, não, filhos, não riam e não pequem como estão fazendo, pois é membro de Cristo”. São Camilo recomendava nas suas primeiras determinações sobre o cuidado dos enfermos: “Todos evitem tratar os doentes com maus modos, isto é, usando com eles más palavras e coisas seme­ lhantes; antes, procurem tratá-los

com mansidão e caridade, levando em conta as palavras de Cristo: ‘O que tiverdes feito a um desses menores, a mim o fizestes’. Por isso, considerem o pobre como a pessoa de Cristo.” O doente não é apenas uma pessoa igual a nós, a ser assistido com amor de mãe, mas um ser superior. “Os doentes”, repetia Camilo, “são os nossos senhores e patrões e devemos servi-los como seus servos”. Padre Vanti conta em seu citado livro que no Hospital do Espírito Santo havia um doente coberto de feridas e tão repugnante que ninguém queria aproximar-se dele. Camilo atendia-o com extraordinária bondade, dizendo: “Este é o meu Senhor, a quem sirvo com ardor e alegria”. Acabado o atendimento, acrescentava: “Deus seja louvado, pois servi Sua Divina Majestade”. Desfazia-se sobre os doentes, dia e noite. Afirma um contemporâneo seu: “Presenciei mais de uma vez Camilo chorando perto dos doentes e acho que era porque pensava que neles estava Cristo. Parecia uma chama de amor, servindo os doentes como se fossem a própria pessoa de Cristo, e, mais de uma vez, vi-o com meus próprios olhos”, diz o padre Somma, “ajoelhar-se diante deles e chamá-los de senhores e patrões”. Quando estava a caminho do hospital, Camilo não via a hora de chegar: “Sinto-me atraído como por um ímã”, dizia e sem dar-se conta acelerava tanto o passo que seu companheiro mal conseguia acompanhá-lo. Nem a sua doença conseguia mantê-lo longe do hospital. Mesmo quando se sentia mais doente que de costume, lá queria ir e até com maior motivação, afirmando:

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e Bioética – Província Ca­miliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos

Conselheiros: Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisão:

Joseli N. Brito e Sandra G. C.

Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

“Mal po­nho o pé no hospital, fico bom de qualquer doença”. Quando lá estava, pa­re­cia outra pessoa. Esquecia qual­quer doença, qualquer sofrimento, qualquer angústia; o seu rosto iluminavase extraordinariamente e de seus lábios pendia um sorriso celestial. Após sua renúncia ao cargo de superior-geral pediu e obteve licença para morar no hospital. Enviado antes ao Hospital de Milão, dizia: “Agora, graças a Deus, só me resta unir-me a Deus e encher minha bolsa de boas obras neste hospital e prepararme para a morte”. Mais tarde, ao ser enviado pelos superiores ao Hospital de Gênova, escrevia contente e satisfeito a um de seus religiosos: “Estou em Gênova, no meu ninho do santo hospital, por graça de meu Deus que me concedeu este favor e espero que me continue concedendo nos poucos dias que ainda me restam de vida”. A um outro escrevia: “Estou em Gênova no meu ninho do santo hospital, com grande satis­ fação e gozo espiritual; espero que Deus me conceda a graça, por todos os poucos dias que ainda me restam, de empregá-los todos nesta santa casa de Deus”. Questionado como se sentia ali, respondeu imediatamente: “E como não poderia estar bem no hospital se estou no paraíso terrestre, com a esperança e a garantia de alcançar também o celeste?”. No último período de sua vida, Camilo teve licença de ficar quase constantemente no Hospital do Espírito Santo, em Roma, onde difundiu tanto sua caridade que “todo o edifício ainda agora está impregnado dela”, escreveu anos mais tarde Saulnier. Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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Em sua última enfermidade, não pôde ir ao hospital durante alguns meses. Morria de vontade de ir, embora mandasse em seu lugar o Irmão que o assistia. Um dia conseguiu do médico licença para sair de charrete e tomar um pouco de ar. Quis ir ao Hospital do Espírito Santo e ao chegar perto do Castelo de Santo Ânge­ lo “começou a olhar e quase a sonhar­ com o hospital que ele tan­to amava”. Pouco tempo depois voltou novamente, mas pela última vez. Como estava muito fraco, foi necessário carregálo. Ao despedir-se, chorando, cumprimentou os doentes e lhes disse: “Deus sabe, irmãos, quanto gostaria de ficar sempre com vocês, mas como isso não é possível, ficarei aqui ao menos com o meu coração”. Tinha uma santa inveja dos seus religiosos que iam trabalhar no hospital e lhes dizia: “Felizes vocês, padres meus, que trabalham naquela santa vinha!”. Agora podemos entender onde estava a fonte da caridade de São Camilo e de seu intenso e heróico trabalho pastoral com os enfermos. Mais uma vez recorremos ao precioso livro do Padre Mario Vanti. Diz ele que a preocupação fundamental de São Camilo durante sua vida era com a santa missa e o breviário. Celebrava a santa missa todos os dias, mesmo

quando estava viajando. Prepara­ va-se para a celebração dos divinos mistérios com a confissão e uma longa oração. Dirigia-se ao altar profundamente compene­tra­ do da grandeza do que ia fazer.­ O seu fervor atingia os fiéis, e eles pediram, sem que Camilo soubesse, que sua missa fosse anunciada com um toque especial do sino. Muitas vezes, durante a missa, rompia em soluços. Seus olhos, após a consagração, fitavam a hóstia consagrada como se quisessem desvendar-lhe o mistério de amor. Após a santa missa, recolhia-se em profunda oração e não permitia que o incomodassem por nenhum motivo. “É este”, dizia, “o tempo mais indicado para pedir graças.” Tratava com respeito as sagradas espécies e era até escrupuloso nas purificações. Um dia, ao dar a comunhão, teve a impressão de que havia caído uma migalha de hóstia. Após a missa, tirou os paramentos e voltou à igreja com uma vela acesa para verificar se era verdade. Quando doente, se arrastava ou pedia que o levassem de seu quarto para a enfermaria a fim de participar da missa. No último dia de sua vida, começou cedo a pedir que celebrassem a missa. Às oito horas da manhã já lhe parecia tarde e dizia: “Mas ainda não celebraram­ a Missa?

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E, no entanto, será a última a que assistirei”. O centro da piedade de São Camilo foi a Eucaristia. O taber­ náculo se constituía para ele num centro de atração. Em Roma, no Hospital do Espírito Santo, na enfermaria Sistina, onde o santo passava a maior parte do seu dia e, às vezes, também a noite, tinha sempre o tabernáculo ao alcance dos olhos. Quando entrava ou saía do hospital, nos momentos de folga e mais ainda durante a noite, parava e punha-se em adoração. Todas as vezes em que passava diante do altar fazia genuflexão até o chão e muito devotamente. Quando assumiu a responsabilidade pela assistência dos doentes do Hospital da Anunciação, em Nápoles, sua primeira preocupa­ ção foi a de ter um pequeno ora­ tório perto da enfermaria a fim de conservar a Eucaristia para conforto dos doentes. Quando eles lhe pediam que os curasse, apontava-lhes o tabernáculo, dizendo: “Lá está o verdadeiro médico” ou então: “Vá ao altar do SS. Sacramento e reze cinco vezes o Painosso e a Ave-Maria. Só Ele pode e vai dar-te a cura”. Lembrava a um outro doente, apontando-lhe o sacrário: “Aquele pode dar-te toda a saúde”. Quando entrava ou saía de casa, passava pela Igreja para cumprimentar o seu Deus. Ao chegar a qualquer casa da Ordem, antes mesmo de tirar as esporas, visitava o SS. Sacramento, “adorando-o com grandíssimo amor e reverência”. Na Eucaristia (Sacramento da Caridade) estava o segredo da fecundidade do trabalho pastoral de São Camilo. Que a Eucaristia seja para nós também padres e irmãos camilianos, família camilia­na leiga e agentes de pastoral da saúde fonte de ardor, de generosidade no nosso trabalho pastoral com os que sofrem. Tadeu dos Reis Ávila é padre camiliano e trabalha em

Monte Santo de Minas - MG


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SAL A GOSTO?

AMARALIS LAGE e FLÁVIA MANTOVANI

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specialistas esclarecem 25 dúvidas sobre o consumo de sal, que está associado ao desenvolvimento de doenças e pode deixar de ser considerado substância segura. O sal começou a ser utilizado na culinária não por dar sabor aos alimentos, mas por seu potencial sanitário. Com um forte poder esterilizador, conservava a comida, impedindo a reprodução de bactérias. Mas esse aliado inicial da saúde agora está sob a mira das entidades médicas. Associado a uma série de problemas, entre eles a hipertensão, o sal foi alvo de uma ação recente da American Medical Association. A entidade pediu a FDA (agência responsável pela regulamentação de alimentos e remédios nos Estados Unidos) que mudasse o status do sal, até agora considerado uma substância de consumo seguro. Além disso, a associação quer reduzir pela metade a quantidade de sódio em alimentos processados ou servidos em lojas de fast-food. Qual é a importância do sal para a saúde? O sal está diretamente ligado ao volume de fluidos fora das células. Tudo o que modifica a quantidade de sal afeta a retenção de líqüidos no corpo. Ele ajuda a regular a passagem de líqüidos e de substâncias pelas membranas das células, mantendo a pressão osmótica delas. Além disso, é importante para a transmissão de impulsos nervosos. Sódio é sinônimo de sal? Não. Cada grama de sal tem 400 mg de sódio. Fique atento na hora de ler os rótulos dos alimentos: eles trazem a quantidade de sódio, e não de sal, que eles contêm. Quanto deve ser consumido por dia? A necessidade diária de sódio para um adulto é de 500 mg. Recomenda-se que o consumo de sal seja de 4 a 6 g, no máximo.

Há recomendações específicas para crianças e idosos? Ambos devem consumir menos sal do que os adultos. Aconselhase que os pais não adicionem a substância à comida das crianças até os 2 anos de idade. O leite materno e os alimentos já suprem naturalmente a necessidade de sódio das crianças. Além disso, evita-se, com isso, que elas se acostumem a uma alimentação muito salgada, já que é nessa fase que se forma o padrão gustativo. Já os idosos devem comer menos sal (o ideal seria cerca de 5 g por dia), porque tendem a reter mais sódio e também porque, com o envelhecimento, os vasos vão perdendo naturalmente a capacidade de distensão, sendo mais provável que desenvolvam hipertensão. Em média, quanto sal os brasileiros comem por dia? Não há estudos populacionais que determinem um valor médio para todo o país. Mas pesquisas realizadas em alguns Estados mostram que o consumo é de aproximadamente 12 g, valor muito acima do recomendado. Quem não acrescenta sal à comida come pouco sal? Não necessariamente. Estimase que 75% do sal que consumimos seja proveniente de alimentos processados industrialmente. Molhos, como o ketchup e o shoyu, produtos em conserva e embutidos são as opções mais ricas em sal. Os outros 30% vêm dos alimentos naturais e do sal que adicionamos à comida. Doces estão liberados? Depende. Quem tem hipertensão deve evitar produtos adoçados com ciclamato de sódio. Assim como o sal, esse adoçante tem sódio, que afeta a pressão. Posso suprir minha necessidade diária de sal só com alimentos naturais? Sim. O sódio está presente na maioria dos alimentos, embora em quantidade pequena. Alimentos

como carne, peixes e ovos podem suprir essa necessidade. O problema é que nossa alimentação é pobre em iodo, e o sal de cozinha é, por lei, enriquecido com essa substância. O iodo é importante para a saúde (gestantes que têm um consumo insuficiente de iodo, por exemplo, podem ter filhos com distúrbios cognitivos). O que acontece a quem ingere uma quantidade insuficiente de sal? Problemas causados por ingestão insuficiente de sal são raros, mas acredita-se que uma dieta muito restritiva de sal (menos de um grama por dia para adultos) altera o perfil lipídico do organismo, aumentando os índices de colesterol ruim. Ainda não se sabe qual é o mecanismo que leva a essa alteração. O excesso de sal leva à hipertensão? Sim. Em populações que consomem muito sal, os índices de hipertensão são mais altos à medida que as pessoas ficam mais velhas. O efeito do sal é o mesmo em todas as pessoas? Não, os graus de sensibilidade ao sal variam de pessoa para pessoa. Acredita-se que alguns indivíduos, por determinação genética, tenham rins que não manipulam bem o excesso de sal no organismo. Por isso, seriam mais sensíveis ao sal. Essa característica também está ligada a grupos étnicos: entre negros, por exemplo, a prevalência de pessoas mais sensíveis ao sal é maior. Homens e mulheres também apresentam resistência diferente ao sal. As mulheres, de modo geral, são mais “protegidas” contra os efeitos do sal até a menopausa. Depois disso, o risco de ter hipertensão é mais acentuado nelas do que neles. Como é possível saber se alguém é hipersensível ao sal? Existem testes que permitem averiguar a sensibilidade ao sal.


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Entretanto, eles são utilizados apenas em pesquisas. Esses exames não são usados na prática clínica porque a recomendação para todas as pessoas, independentemente de serem sensíveis ou não, é comer pouco sal. Quem tem pressão baixa precisa comer mais sal? Não, pois o fato de a pessoa ter pressão baixa não significa que não possa ter hipertensão no futuro. Além disso, sabe-se que os riscos de problemas cardiovasculares são maiores entre pessoas que comem muito sal mesmo quando não apresentam hipertensão arterial. O mesmo vale para problemas renais e digestivos. Estudos também mostram que o excesso de sal pode causar broncoespasmos, piorando quadros de asma. Já que o excedente de sal é liberado pelos rins, por que se preocupar com a quantidade? O rim tem uma capacidade limitada para filtrar e excretar o sal. Quando o consumo é muito alto, esse órgão trabalha sob uma pressão maior e pode ter seu funcionamento comprometido. A hipertensão é uma das principais causas de doença renal crônica. Além disso, ingerir muito sal aumenta os riscos de cálculo renal — formação de pequenas “pedras” nos rins. Em quanto tempo o organismo consegue expelir o excesso após uma alimentação sobrecarregada de sal? Pessoas normais demoram de um a dois dias para reequilibrar o organismo. Em pessoas com hipertensão, o processo de eliminação do excesso de sal demora de cinco a sete dias. Consumir sal em excesso dá celulite? Não. A retenção de água que o sal promove é intravascular, e não na pele. Isso pode causar inchaço nas pernas ou nos dedos da mão, mas não celulite. O sal causa problemas na tireóide? Em termos. O cloreto de sódio não afeta a tireóide. Entretanto, no Brasil, o sal é enriquecido com iodo. Se consumido em excesso, o iodo pode levar à tireóide de Hashimo-

to em pessoas com predisposição genética a doenças auto-imunes. Em 2003, a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, reduziu os níveis de iodo no sal para evitar esse tipo de problema. O que é o sal light e quais são os seus benefícios? O sal light é formado por uma mistura de cloreto de sódio e cloreto de potássio. O sódio e o potássio agem sobre a pressão osmótica de formas diferentes. Enquanto o potássio regula a retenção de líquidos dentro das células, o sódio age fora delas. Embora seja recomendado a pessoas com hipertensão, o sal light não é indicado para quem tem problemas renais. Apesar de o potássio não levar a doenças renais, problemas nos rins provocam um acúmulo de potássio no corpo, o que aumenta os riscos de problemas cardíacos. Qual é a diferença entre o sal marinho e o sal mineral? Embora sejam extraídos de formas diferentes (o mineral de minas subterrâneas e o marinho, da evaporação da água do mar), os dois apresentam a mesma composição e causam os mesmos efeitos no corpo. Qual é a diferença do sal para o glutamato monossódico? Além do cloreto de sódio, esse tempero tem outras substâncias que realçam o sabor de alguns alimentos. Como é rico em sódio, ele não pode ser considerado uma alternativa saudável ao sal. Faz diferença pôr o sal durante o cozimento ou adicioná-lo depois, quando a comida já está pronta? Em termos. Os efeitos do sal são os mesmos, independentemente do momento em que foi adicionado à comida. Mas os médicos recomendam que as pessoas tirem o saleiro da mesa porque elas tendem a pôr mais sal quando a comida já está pronta do que quando temperam na hora do cozimento. Posso substituir o sal por outra substância? Embora não exista um substituto para salgar os alimentos, o sal pode ser trocado, nas receitas, por ervas e condimentos que acentuem o sabor dos alimentos.

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Grávidas devem seguir alguma orientação específica? As regras são as mesmas, de 4 a 6 g por dia. Como a mulher já tem uma tendência a reter líquidos durante a gravidez, o consumo excessivo de sal pode levar à pré-eclampsia, com aumento de pressão arterial. Entretanto, a dieta também não pode ser muito restritiva em relação ao sal, já que, nos primeiros meses, a gestante tende a ter uma pressão mais baixa, e a falta de sódio pode diminuir o fluxo de sangue que chega até a placenta. Como deve ser o consumo de sódio por esportistas? O sódio, assim como outros sais minerais, é liberado pelo corpo junto com o suor. Por isso, pessoas que se exercitam intensamente podem perder mais sódio. Mas isso só se torna um problema se o exercício for praticado por muito tempo (uma hora, uma hora e meia), principalmente em ambientes quentes e úmidos. Nesses casos, a reposição deve ser feita por meio de bebidas isotônicas, e não pelo acréscimo de sal na comida. Quais são as regras para utilizar o sal nos alimentos processados? A legislação brasileira não impõe limites para a quantidade de sal adicionada aos alimentos industrializados nem obriga as empresas a pôr alertas nas embalagens. Mas os fabricantes são obrigados pela ANVISA a informar no rótulo o teor de sódio no alimento. Quantidade de sódio em alguns alimentos: Azeitonas verdes (30 g) • 925 mg Picles (30 g) • 440 mg Palmito (50 g) • 281 mg Biscoito salgado (30 g) • 475 mg Bacon (3 fatias grelhadas) 300 mg Batata frita (30 g) • 135 mg Salame (50 g) • 575 mg Presunto magro (50 g) • 700 mg

Artigo extraído do Caderno

Equilíbrio, da Folha de S. Paulo, de

05/10/2006


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CUIDADOS PALIATIVOS RUBEM ALVES

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rescimento sem limites num planeta que tem limites não é possível. Uma hora o “Dia do julgamento” chega! Faz alguns anos escrevi um livrinho no qual falava sobre a necessidade de se criar uma nova especialidade (O médico, Ed. Papirus). Assim eu argumentava: A vida começa com uma chegada. Termina com uma despedida. Chegada e partida são, igualmente, partes da vida. A gente prepara com carinho e alegria a chegada. Tem de preparar também com carinho e tristeza a despedida. A obstetrícia é a especialidade que cuida dos que estão chegando. Pensei então na necessidade de se criar uma especialidade que cuidasse dos que estão se despedindo. Até inventei um nome para ela: “morienterapia”, combinação de duas palavras: moriens, “que está morrendo”, e therapeuein, que quer dizer “cuidar”. Passado o tempo fiquei sabendo que uma nova especialidade havia nascido: “cuidados paliativos”. “Paliativo” é algo que alivia, mas não resolve. O diagnóstico está feito, mas os médicos sabem que não há nada a ser feito: o paciente vai morrer. Os que se dedicam aos cuidados paliativos são aqueles que, sabendo da inutilidade dos tratamentos, ficam ao lado do enfermo para garantir que a sua partida seja a menos dolorosa possível, sem dores nem ansiedade. Acho isso uma coisa muito bonita. Os “cuidados paliativos” me vieram à cabeça quando pensei nessa enferma tão querida, a nossa Terra, mãe de onde viemos e de quem dependemos. Se ela morrer, morreremos também. Sou favorável a todas as medidas para prolongar a sua vida: educação, reflorestamento, proteção das florestas e dos mananciais de água, despoluição dos rios, diminuição da emissão de gases pelos aviões, carros e fábricas. Mas todas

essas medidas são “cuidados paliativos”. Não evitarão que nossa Terra morra. Elas não vão à raiz da enfermidade mortal. Quando a doença é feia e provoca dor, a gente se movimenta. Mas a enfermidade de que sofre a Terra é prazerosa, cria objetos maravilhosos que todos desejam e os países brigam uns com os outros para ter mais dessa deliciosa enfermidade. Enquanto os cientistas anunciavam o efeito estufa em Paris, no Brasil os governantes e economistas discutiam medidas para que ficássemos mais doentes e mais felizes! “Crescimento econômico”: esse é o nome da doença. Há muito que se sabe que a Terra sofre dessa doença. Foi anunciado em 1968 pelo “Clube de Roma” no seu relatório “Os limites do crescimento”. Crescimento sem limites num planeta que tem limites não é possível. Mais cedo ou mais tarde o “Dia do julgamento” chega. Mas ninguém ligou. Essa doença é mortal porque para haver crescimento econômico é preciso que haja aumento no consumo de energia. Aumento de energia implica aumento do calor na superfície da Terra. O aumento do calor, por sua vez, aumentará o ritmo do aquecimento global. Já se fazem previsões sinistras sobre o que acontecerá quando os bilhões de chineses, acometidos da deliciosa doença do “crescimento econômico”, atingirem o nível de “prosperidade” dos Estados Unidos... Resta-nos o conselho que o médico deu a Manoel Bandeira, tuberculoso: — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito está infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango

argentino.


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XXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE TEMA: PASTORAL DA SAÚDE: DESAFIOS ECLESIAIS, ÉTICO-AMBIENTAIS E SOCIOPOLÍTICOS DATA: 7 e 8 de setembro de 2007 LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo Avenida Nazaré, 1501 – Ipiranga – São Paulo DIA 7 ‒ SEXTA-FEIRA 7h30 às 8h15 8h15 às 9h15 9h15 às 10h15 10h15 às 10h45 10h45 às 12h15 12h15 às 13h30 13h30 às 14h00 14h00 às 15h15 15h15 às 15h45 15h45 às 16h30 16h30 às 17h15

DIA 8 ‒ SÁBADO

7h45 às 8h45 8h45 às 9h30 9h30 às 10h15 10h15 às 10h45 10h45 às 12h15 12h15 13h30 14h00 15h00 15h30 16h15

às às às às às às

13h30 14h00 15h00 15h30 16h15 17h15

Entrega de material e inscrições Oração e abertura O futuro da Igreja e perspectivas para a pastoral da saúde Intervalo para café Pastoral da saúde na Igreja: níveis de responsabilidade dos padres, leigos, religiosos(as) e profissionais Intervalo para almoço Tribuna livre Mesa-redonda – Saúde e meio ambiente; Amazônia: reflexos da campanha da fraternidade 2007; Bioética e meio ambiente Intervalo para café Aquecimento global: verdades e mitos Espaço para perguntas e discussão Celebração da missa Políticas nacionais de saúde A pastoral da saúde da CNBB no contexto da saúde no Brasil Intervalo para café Experiência de organização da assistência religiosa no hospital no Hospital das Clínicas de São Paulo; A organização da pastoral da saúde na diocese – Experiência de São José dos Campos. Intervalo para almoço Tribuna livre Distúrbios alimentares: anorexia e bulemia Intervalo para café Aspectos práticos da dimensão solidária Aspectos psicológicos na assistência religiosa

FiCHA DE INSCRIÇÃO

O depósito para o pagamento da inscrição deverá ser feito em nome de: Província Camiliana Brasileira Banco Bradesco – Agência 0422-7 – Conta corrente 89407-9. Após o depósito, mandar esta ficha e o comprovante bancário do depósito para a secretaria do ICAPS no endereço abaixo. Você poderá mandar a ficha e o comprovante também pelo Fax. (11) 3862-7286, ramal 6. Nome Endereço

Cx. Postal Estado

Cidade CEP

Fone

TAXA: R$ 20,00 até 30 de agosto | R$ 30,00 após esta data ATENÇÃO: A organização do congresso não se responsabilizará pela hospedagem e alimentação dos participantes. INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: ICAPS – Rua Barão do Bananal, 1125 • 05024-000 - São Paulo – SP FONE: (11) 3862-7286, ramal 3, com Cláudia – das 8h às 17h30. FAX: (11) 3862-7286, ramal 6 E-mail: icaps@camilianos.org.br


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DEIXE-SE AJUDAR ALDO COLOMBO

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m homem muito piedoso recebeu um dia um aviso de Deus. Dentro de algumas semanas haveria uma grande enchente, mas ele poderia ficar tranqüilo, pois, apesar dos perigos, sua vida seria poupada. Semanas depois, começou de fato a chover muito forte, e o homem lembrou-se de Deus e de sua promessa. A chuva continuou, os regatos transformaram-se em rios. E os rios deixaram seus leitos e suas águas barrentas carregaram todo o tipo de destroços. As autoridades pediram à população que abandonasse suas casas e procurasse lugares mais seguros, mas o nosso homem não seguiu o conselho, esclarecendo que Deus iria salvá-lo. E as águas continuaram subindo, e ele foi obrigado a subir para o segundo andar da casa. Os bombeiros encostaram um barco na janela, mas ele recusou a oferta, pois confiava em Deus. As águas cresceram e ele teve de subir no telhado da moradia. Veio um helicóptero para resgatálo, mas ele foi inflexível: que fossem socorrer os que corriam perigo, pois não era este seu caso. Naquela mesma noite morreu afogado. Porque era uma pessoa de bem, foi acolhido no céu. Embora feliz, reclamou a Deus: “o Senhor não havia prometido me salvar?”. E Deus respondeu: “por três vezes tentei salvá-lo. No início mandei as autoridades, depois os bombeiros, até mesmo lancei mão de um helicóptero, mas você foi inflexível, recusou todos eles”. Essa história se repete na vida real, com duas derivações: os auto-suficientes, que recusam a ajuda

dos outros, e os ingênuos, que pretendem que Deus faça o que eles mesmos deveriam fazer. O auto-suficiente imagina-se iluminado, possuidor de todas as qualidades e iniciativas. Para que perder tempo com os outros? Baseado nos sucessos do passado, baseado em seus diplomas, age de forma individualista e rejeita qualquer sugestão. Até mesmo sugestões que lhe parecem boas, ele as deixa de lado. Seria humilhante fazer o que os outros sugeriram. Em relação às críticas, ele é ainda mais radical: são invejosos e incompetentes, melhor ignorá-los. A outra categoria é constituída de pessoas piedosas, mas de profunda miopia religiosa, rezam muito, pedem a Deus, mas esquecem de fazer sua obrigação. Deus não é desculpa para preguiçosos. Só depois de fazer tudo o que está ao nosso alcance, temos direito de pedir a Deus. O auxílio divino vem depois que nossas forças terminam. O modo de agir de Deus passa pelas pessoas. De alguma maneira, os outros são anjos enviados por Deus para nos auxiliar, corrigir e indicar o caminho. A vocação cristã é comunitária. E, quase sempre, os outros enxergam melhor nossos problemas e as possíveis soluções. Trabalhar em equipe é também uma prova de maturidade e inteligência. O povo costuma lembrar que quatro olhos enxergam melhor do que dois. O amor providente de Deus, quase sempre, passa pelos irmãos. Artigo extraído do Jornal Correio Riograndense Jan/2007

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