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Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética abril de 2008 Ano XXVI – no 262 Província Camiliana Brasileira

❒ Pastoral

❒ bioética

❒ humanização

ESPECIALISTAS EM HUMANIDADE JOSÉ CARLOS BERMEJO

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uando em meu local de trabalho expresso meu desejo de contar com voluntários, freqüentemente encontro resistências, espontaneamente apresentadas, sobre a fragilidade desse tipo de atividade ou seus personagens na organização ou com a suspeita de que estou buscando mão de obra barata para tirar proveito de trabalhadores. Entretanto, creio que o valor acrescentado pela ação voluntária constitui um bem para qualquer lugar, além de representar um dever ético de nossa condição humana. E, se paro para refletir, também eu - por mais trabalho que acredito ter, incluindo múltiplo emprego — sou voluntário em diferentes organizações e, como é óbvio, sinto como isso transforma minha pessoa. Menos claro talvez possa ser o significado profundo de ser voluntário. Eu o vejo especialmente ali onde as pessoas se ajudam sem dar nada materialmente visível — além do tempo — dando-se, isto é, oferecendo a própria pessoa para realizar processos de ajuda mediante a relação interpessoal.

Não é uma moda Nos últimos anos parece que estamos assistindo a um particular interesse pelo tema do voluntariado. Não é em absoluto um tema novo. Há muito tempo a humanidade tem estado atenta às injustiças que se produzem em seu seio e tem se preocupado pela assistência aos fracos também através do movimento solidário voluntário. Em diferentes contextos estamos encontrando incentivos à criação de grupos de voluntários, incluindo legislação a respeito ou obrigação em desenvolver programas tendentes à integração de

pessoas em situação de vulnerabilidade, segregação ou exclusão, com pessoas voluntárias. Isto acontece em lugares e países onde o problema de desemprego pode ser importante. Cabe perguntar-se sobre o verdadeiro sentido do voluntariado e sua função em uma sociedade como a nossa. Não há quem não tenha refletido sobre o tema, assim como não faltam aqueles que promovem o voluntariado sem uma visão clara de seu significado, de sua natureza, de suas funções, de sua organização, e inclusive da legislação atual a respeito. Refletir sobre o voluntariado requer estarmos atentos aos possíveis disfarces da verdadeira solidariedade, às possíveis falsas motivações na promoção do mesmo, à possível busca do mero prazer de ser voluntário pelos sentimentos que produz de apagamento da angústia que gera a consciência do sofrimento alheio e da injustiça. Refletir sobre o voluntariado supõe superar a tentação de uma busca fácil de lucros ou fins sem questionar-se sobre a validade dos meios.

Da exclusão à inclusão Atualmente é necessário, como afirmava García Roca, dar um passo adiante no processo histórico do movimento voluntário, mediante uma lógica de inclusão e não de exclusão. Segundo esse autor, “o voluntário tradicional tem sido vítima das grandes exceções produzidas pela modernidade cultural: o rompimento entre a razão e o sentimento, entre o interesse e a gratuidade, entre a teoria e a prática, entre o dever e o amor, entre a organização e a espontaneidade… Como outras instituições sociais, também o voluntariado tomou

partido por um dos termos de cada par, concretamente pelo sentimento, a gratuidade, a prática, o amor, a espontaneidade…; deste modo, cresceu dentro de uma intensa polarização que o obrigou a construir sua própria lógica de retaguarda e em contraposição ao outro termo, abandonando assim grandes conquistas sociais: a razão, o interesse, a teoria, o dever e a organização ficaram do outro lado. O voluntário podia viver um intenso sentimento altruísta sem preocupar-se demais em saber se era ou não de acordo com a racionalidade; bastava-lhe o amor, mesmo que este fosse exercido em detrimento aos direitos; apostava pela espontaneidade, com menosprezo evidente da cultura da organização, elegia a ação concreta, sem preocupação alguma pela globalidade. Enquanto o voluntariado tradicional se assentou em um dos cenários criados pela exceção da modernidade, o voluntariado atual aceita como um dos maiores desafios recriar sua própria lógica mais além da exceção e a polarização. Renuncia a ter que eleger entre a razão e o sentimento e, em seu lugar, tenta colocar sentimento na razão e razão nos sentimentos; renuncia a ter que eleger interesse e gratuidade e, em seu lugar, desenvolve essa região em que o máximo interesse humano é a gratuidade, e esta só se enraíza na condição humana se se descobre como interesse próprio. Já faz muito tempo em que, frente à intervenção pessoal, a ação voluntária se compreendia em termos de competência e de preparação; o voluntariado nem sequer é obrigado a defender a espontaneidade da vontade frente ao trabalho organizado. Essa transição constitui a principal tarefa das organizações voluntárias que


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queiram assumir os desafios culturais. Como toda transição, está se realizando através de um processo de maturação que afeta as motivações pessoais, sua condição política, as referências culturais e seu estatuto organizacional. A passagem de uma lógica de exceção para uma lógica de inclusão caracteriza a aposta cultural do voluntariado de nosso tempo. Talvez tivéssemos de falar da razão solidariamente sentida, como dizia Moratalla.

A solidariedade como encontro Entender a chave do voluntariado é pensá-lo tendo como pano de fundo a chave da solidariedade como encontro e o voluntariado como expressão da solidariedade. John Sobrino tem nos lembrado que, seguindo o conselho de Kant, não só há que se despertar do sonho dogmático para se atrever a pensar por nós mesmos, além de que no momento atual é preciso despertar de outro sonho, o sonho da cruel desumanidade em que vivemos sem nos darmos conta, com a finalidade de pensar a verdade das coisas tal e qual são, e assim, atuar de outro modo. A so-

lidariedade como encontro, com efeito, significa, em primeiro lugar, a experiência de encontrar-se com o mundo da dor e da injustiça e não ficar indiferente; e, em segundo lugar, significa ter a capacidade suficiente para pensar, isto é, para analisar o mais objetivamente possível a realidade de desumanidade e de injustiça em que vivemos, sem que o peso dessa análise nos derrube. E viver de modo que a solidariedade constitua um pilar básico no projeto de vida de quem se considere solidário. A consciência da responsabilidade que nasce da convicção da resposta pessoal é insubstituível diante do mal alheio, nos move a compaixão bem entendida.

Voluntariado O voluntariado constitui a expressão da solidariedade que tem como empenho mobilizar a sociedade civil não como estratégia política frente ao Estado ou ao mercado, mas também como modo de enriquecer o potencial ético dos grupos e pessoas que formam a sociedade. Antes de tudo, somos membros da sociedade civil, disse Adela Cortina, “que alcança desde a família, a amizade ou

a vizinhança, a Igreja, as cooperativas ou os movimentos sociais, a todo aquele espaço de associação humana sem coerção e ao conjunto da teia de relações que enchem esse espaço”. O voluntário é, antes de tudo, um especialista em humanidade. É aí onde se enraíza sua força. A força do voluntariado segue estando em superávit de humanidade e na mais valia do fator hu­mano. A riqueza de humanidade é um compromisso com os sujeitos frágeis, que finalmente configura a própria personalidade. Como observou Marx, quem tem a qualidade da humanidade olha, sente, ama e sonha de outra maneira. A riqueza de humanidade transforma e qualifica a própria sensibilidade pessoal: não olha para possuir, mas para compartilhar o olhar; e, em lugar de crer que o individualismo possessivo é a última palavra, pensa que só a sociedade cooperativa, de convivência, acessível e participativa é digna de ser desejada.

José Carlos Bermejo é religioso camiliano, diretor do Centro de Humanização São Camilo em Madri — Espanha.

ANOTE AÍ!!! - 06 E 07 de setembro - XXVIII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde no Centro Universitário São Camilo — São Paulo. - 27 a 29 de outubro - VIII Congresso de Assistente Espiritual Hospitalar - em São Paulo. Mais informações nos próximos boletins.

AVISO AOS ASSINANTES DO BOLETIM ICAPS Estamos iniciando mais um ano de atividades pastorais. Aproveitamos a oportunidade para informar nossos assinantes do boletim ICAPS que é preciso renovar a assinatura. Veja na etiqueta quando é o vencimento da mesma. Independente de qualquer coisa estaremos remetendo, junto com o boletim, uma cartinha informando se a sua assinatura venceu.

expediente

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O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e Bioética – Província Ca­miliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos

Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal

Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 6914-1922

Tiragem: 3.500 exemplares

Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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A MORTE DO CHORO ANÍSIO BALDESSIN

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ão chore! Quem é que nunca disse isso para alguém que estava chorando? E quando as pessoas dão esse conselho, têm plena convicção que estão prestando uma grande ajuda àquele que chora. Dizer não chore, é um provérbio (chavão) tão antigo que desde criança, ainda quando não entendemos o que isso significa, ouvimos nossos pais repetirem com freqüência. Essa talvez seja uma das razões pela qual crescemos repetindo essa frase para as crianças que choram por diferentes motivos e para aqueles que perderam familiares ou pessoas queridas. Usamos também para tentar consolar quem não conseguiu passar no vestibular, ou que na entrevista para um emprego não foi aprovado. Para os jovens que desmancharam o namoro, ou para aqueles que não conseguem se livrar de um relacionamento enrolado. Para aquela pessoa que não consegue se casar e para aquela que não agüenta mais a vida sofrida do casamento. Dizemos para não chorar os que se lamentam por terem de viver na miséria e também para as pessoas que não sabem o que fazer com tudo aquilo que possuem. Para aqueles que não conseguem se aposentar e para aqueles que não agüentam mais a vida de aposentado. Falamos não chore até para o doente que acabou de receber a desagradável notícia que está com uma doença incurável. A verdade é que, por diversas razões, enquanto uns choram de alegria outros choram de tristeza, de emoção, raiva, desespero e tantos motivos querendo comunicar algo àqueles que os cercam. Aliás, estudos feitos sobre a comunicação não-verbal estimam que apenas 7% dos pensamentos (das intenções) são transmitidos por palavras, 38% são transmitidos por sinais paralinguísticos (entoação de voz, velocidade com que as palavras são ditas) e 55% pelos sinais do corpo. Portanto, não podemos negar que o choro também é um meio de comunicação. Por isso, ter consciência que o choro é um meio de comunicação é imprescindível. Não menos importante é saber o que fazer e como ajudar quem chora. O que fazer com o choro? Acima afirmei que o choro é uma maneira de comunicação e apontei também alguns motivos que levam as pessoas a chorarem. Agora, com uma experiência pessoal, quero mostrar que quando alguém está chorando eu, (o ajudante) peço para que não chore, na verdade, estou muito mais preocupado em resolver o meu problema e minha angústia do que as dificuldades e as inquietações alheias. Pois quando a gente chora, em geral, não tem a mínima noção do mal estar que está causando. O choro da criança, por exemplo, causa muito mais aborrecimento aos que a rodeiam.

Num velório, por exemplo, a atitude mais comum de alguém que perde um ser querido é chorar. Por outro lado, aquele que ajuda fica sem saber o que fazer. Ressuscitar o morto ele não vai conseguir. Sentindo-se angustiado e inseguro com o desespero do outro pede para que ele não chore e começa a dar-lhe uma série de conselhos. No entanto, para aquele que perdeu alguém e está chorando essas palavras não servem para nada. O que pode ser útil para aqueles que choram é, num primeiro momento, deixá-los chorar a vontade. Foi isso que fiz uma vez que fui chamado para atender o esposo e a filha da paciente que quando chegaram para fazer visita ficaram sabendo que a mesma acabara de falecer. É claro que quando cheguei ambos estavam totalmente transtornados. Sem ter a mínima condição de dizer coisa alguma e certo de que eles também não prestariam a mínima atenção naquilo que eu tinha pra dizer, fiquei ouvindo as lamentações e a gritaria. Depois de uns quinze minutos eles foram se acalmando e tivemos condições de tomar algumas providências práticas que seriam necessárias. No entanto, confesso que não foi fácil suportar todo aquele desespero. Pois além do incômodo causado por aqueles que choravam tive que encarar a atitude dos profissionais que pareciam dizer: “faça alguma coisa. Acabe com esse choro!” Naquele momento, reconheci que toda aquela situação causou muito mais inquietação para mim do que para eles. Depois disso, aumentei ainda mais minha convicção de que nessas circunstâncias, a única tarefa do ajudante é acolher a pessoa e principalmente seu choro. Não há muito que fazer. Afinal, quando a criança chora pedindo colo, não é a chupeta, um presente e muito menos a mamadeira que vai consolá-la. O colo, o carinho da mãe ou simplesmente alguém que seja capaz de ouvi-la, vai consolar muito mais. As técnicas de relação de ajuda trazidas pela psicologia têm contribuído de maneira significativa para acompanhar as pessoas nos momentos de doenças e sofrimentos. Por outro lado, o mundo moderno e individualizado, nem sempre nos dá a oportunidade de expressarmos nossos sentimentos. Por isso, a humanidade (visitadores de doente e agentes de pastoral) que já “matou” as manifestações de apreço, de carinho e de cuidado, corre o risco de provocar a “morte” do choro também. Se isso acontecer será uma pena. Afinal, o choro produz descanso e tranqüilidade de espírito. Anísio Baldessin, padre camiliano é capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.


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COMER E BEBER: MITOS E VERDADES AMARÍLIS LAGE

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ualquer praça de alimentação serve como prova: beber durante as refeições é um hábito muito comum. Assim como é comum encontrar quem avise que beber e comer ao mesmo tempo aumenta a barriga, piora a digestão ou dilata o estômago. Advertências que, segundo especialistas, não passam de mitos. O problema, afirma Osmar Monte, presidente da Sabem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), não é beber durante as refeições, e sim o tipo da bebida ingerida. Sucos e refrigerantes são ricos em calorias e levam ao aumento de peso. É o açúcar presente nessas bebidas que pode provocar o aumento da gordura visceral e da barriga. “Muita gente acha que o suco não engorda, mas isso também é um mito. Ele tem um valor nutricional melhor que o do refrigerante, mas ambos são calóricos”, afirma Monte. A única exceção, diz, é o suco de limão puro ou com adoçante. Já beber água durante o almoço, por exemplo, não engorda nem deixa o estômago dilatado. “O estômago é um órgão elástico e não corre esse risco”, explica Kênia Mara Baiocchi, professo-

ra do departamento de nutrição da UnB (Universidade de Brasília). Mas tudo depende de bom senso, ressalta Baiocchi. O ideal é que quem tem esse hábito beba, em média, 200 ml durante a cada refeição (o equivalente a um copo). A recomendação é especialmente importante para crianças, diz Baiocchi. “O problema ocorre quando elas substituem a comida pela bebida, que é mais fácil de engolir. Temos que estimular a mastigação das crianças; por isso, não dá para elas darem um gole a cada colherada. Assim, elas ficarão sabendo mais rapidamente e não comerão tudo o que deveriam”. Adultos também devem estar atentos para que a ingestão de bebidas não os leve a engolir a comida sem mastigar bem. Quem tem refluxo gastroesofágico precisa ser ainda mais cuidadoso. De acordo com Antônio Frederico Magalhães, presidente da Federação Brasileira de Gastroentorologia, a ingestão de líquidos ocupa espaço no estômago e, associada à comida, aumenta o volume do órgão. “Se esse volume aumentar muito, a chance de o refluxo ocorrer é maior”, afirma.

O quadro está relacionado a um defeito no esfíncter inferior do esôfago, que permite que o suco gástrico “suba” e atinja a garganta, irritando a região. Magalhães ressalta, porém, que o hábito apenas piora a situação de quem já sofre de refluxo, mas não é capaz de danificar o esfíncter e gerar o problema. “O refluxo é uma tendência pessoal, e sua incidência está relacionada à obesidade”.

Álcool No caso de bebidas alcoólicas, beber de estômago vazio é ruim. Ao contrário da comida e das outras bebidas, que são “quebradas” no estômago e absorvidas no intestino, o álcool é absorvido mais rapidamente, ainda dentro do estômago, que pode também irritar a mucosa do órgão. Quando o álcool acompanha uma refeição completa (não confundir com um prato de toresmo ou algo do tipo), sua absorção fica mais lenta, o que é melhor para a saúde. Segundo Baiocchi, pequenas doses de álcool não interferem na digestão. Mas é preciso lembrar que o produto também é hipercalórico e pode engordar. As bebidas destiladas são as menos indicadas, devido a suas “calorias vazias” ou seja, não acompanhadas de nutrientes. Já as fermentadas costumam ter nutrientes importantes. O vinho tinto, por exemplo, é bom para a saúde cardiovascular, segundo estudos avaliados numa revisão feita na escola de medicina de Yale. “Os benefícios, porém, não vêm do álcool, e sim da uva”, afirma Baiocchi. Para quem tem refluxo, o melhor é evitar álcool. Segundo Magalhães, o álcool aumenta a secreção de ácido produzido pelo estômago e diminui a pressão do esfíncter inferior do esôfago, facilitando o refluxo. Extraído do Jornal Folha de São Paulo — Caderno Equilíbrio de 22 de março de 2007.


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CONHEÇA SÃO CAMILO SOCIEDADE BENEFICENTE SÃO CAMILO: DIMENSÃO ASSISTENCIAL

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história de vida de São Camilo de Lellis sempre foi norteada pela preocupação em cuidar dos enfermos e promover a saúde. Registros mostram que onde houvesse alguém sofrendo, ali era para Camilo lugar de culto, sem importar a distância e as dificuldades de locomoção e transporte existentes há 400 anos. Fundada no dia 17 de julho de 1923 pelo Pe. Inocente Radrizzani, tinha como finalidade principal representar civilmente, as atividades dos religiosos camilianos no Brasil. O primeiro Estatuto Social indicava como finalidades da Sociedade Beneficente São Camilo: assistência educacional e vocacional gratuitas para a preparação de sacerdotes e irmãos enfermeiros que se destinavam à orientação e aos serviços gratuitos de caridade da Sociedade, bem como de outras particulares ou oficiais que o solicitarem: assistência corporal e espiritual aos que a ela recorrerem, sem distinção de cor, religião, credo político ou nacionalidade em hospitais, casa de saúde, dispensários, ambulatórios ou postos de assistência. O Estatuto da Sociedade Beneficente São Camilo sofreu numerosas reformas e culminou com a atual redação das suas finalidades: prestar assistência à saúde a quantos buscarem seus serviços, sem distinção de nacionalidade, raça, credo, opinião política ou qualquer outra condição; desenvolver atividades educacionais na área religiosa e da saúde, podendo, para tanto, fundar e manter escolas, faculdades e outros cursos e franqueá-los a quem de direito os procurar; elaborar e editar material didático relacionado com suas finalidades estatutárias; prestar serviços de assistência social ao menor por meio de creches e maternais. A Sociedade Beneficente São Camilo é uma entidade filantrópica e de Utilidade Pública Federal e do Estado de São Paulo e desenvolve as seguintes atividades hospitalares: Na cidade de São Paulo a Sociedade conta com quatro hospitais e duas casas de repouso (recantos) para idosos. São eles: Hospital e Maternidade São Camilo da Pompéia - Hospital e Maternidade São Camilo de Santana - Hospital e Maternidade São Camilo do Ipiranga.

Esses hospitais embora pertençam a uma entidade filantrópica não são credenciados com o SUS. Portanto, não atendem paciente do SUS. No entanto, por não terem finalidade lucrativa, esses hospitais repassam mensalmente um montante alto de recursos financeiros que servem para subsidiar os hospitais que atendem, no mínimo 60% dos usuários do SUS, espalhados pelo Brasil (veja a lista abaixo) que também pertence à Sociedade Beneficente São Camilo. O IBCC (Instituto Camiliano do Controle do Câncer) também filiado à Sociedade Beneficente São Camilo atende, na cidade de São Paulo, mais de 90% dos pacientes pelo SUS. A seguir a relação completa dos hospitais camilianos espalhados pelo Brasil. Hospital Anita Gerosa, Ananindeua – PA Hospital Anna Fiorillo Menarim, Castro – PR | Hospital Beneficente Santa Terezinha, Encantado – RS | Hospital Carlos Chagas, Itabira – MG | Hospital Casa de Caridade São Vicente de Paulo, Caxambú – MG Hospital Cura D’Ars, Fortaleza – CE Hospital e Maternidade Sagrada Família, Santarém – PA | Hospital e Maternidade São Francisco de Assis, Crato – CE | Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, Itapipoca – CE | Hospital e Maternidade Vital Brazil, Timóteo – MG | Hospital Escola São Camilo e São Luiz, Macapá – AP Hospital Leonor Mendes de Barros, Campos do Jordão – SP | Hospital Maternidade Madalena Nunes, Tianguá – CE | Hospital Monsenhor Horta, Mariana – MG | Hospital Nossa Senhora do Carmo, Resplendor – MG | Hospital Regional de Caridade Nossa Senhora Aparecida, União da Vitória – PR | Hospital Santa Cruz, Pedro II – PI | Hospital São Bernardo, Quilombo – SC | Hospital São Camilo, Formosa – GO | Hospital São Francisco de Assis, Grajaú, MA Hospital São Camilo, Ponta Grossa – PR Hospital São Francisco, Concordia – SC Hospital São José, Balsas – MA | Hospital São José e São Camilo, Aimorés – MG Hospital São Marcos, Nova Venécia – ES | Hospital São Raimundo Nonato, Limoeiro do Norte – CE | Hospital São Roque, Seara – SC | Hospital São Vicente de Paulo, Itabirito – MG | Hospital Vicentino, Ponta Grossa – PR | IBCC - Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, São Paulo – SP Clínica Mens Sana, São Paulo – SP | Recanto Maria Tereza, Cotia – SP.

Dimensão social O atual Estatuto da Sociedade Beneficente São Camilo prega em suas finalidades, entre outros, o seguinte argumento: “prestar assistência a quantos buscarem seus serviços, sem distinção de nacionalidade, raça, credo, opinião política ou qualquer outra condição; e prestar serviços de assistência social ao menor por meio de creches e maternais”. Não há dúvida que o Estatuto é seguido à risca, o que prova a explanação desta Dimensão Social, que congrega 19 Centros de Educação Infantil, 2 Abrigos, 2 Albergues, 1 Núcleo Sócio-educativo e 1 Clube de Campo, todos tendo a Sociedade Beneficente São Camilo como entidade mantenedora.

Relação das Creches 1. CEI Jardim Tremembé, São Paulo – SP 2. CEI Jardim Damasceno, São Paulo – SP | 3. CEI Vila Carioca, São Paulo – SP | 4. CEI Sonho de Criança, São Paulo – SP | 5. CEI Chácara Bela Vista, São Paulo – SP | 6. CEI Mãe Wanda, São Paulo – SP | 7. CEI Ponte Pequena, São Paulo – SP 8. CEI Guguinha II, São Paulo – SP 9. CEI Jardim Novo Horizonte, São Paulo – SP 10. CEI Parque Residencial Cocaia, São Paulo – SP | 11. CEI Jardim Guanabara, São Paulo – SP | 12. CEI Maria Natividade Machado, São Paulo – SP | 13. CEI Vila Maria, São Paulo – SP | 14. CEI Inácio L. Oliveira, São Paulo – SP | 15. CEI Jardim Itaguaçu, São Paulo – SP | 16. CEI Jardim Arpoador, São Paulo – SP | 17. CEI São Savério, São Paulo – SP | 18. CEI Teotônio Vilela, São Paulo – SP | 19. CEI Jardim das Camélias, São Paulo – SP.

Relação dos Abrigos 1. Abrigo Capela do Socorro, São Paulo – SP | 2. Abrigo Ipiranga, São Paulo – SP

Relação dos Albergues: 1. Albergue São Camilo I, São Paulo – SP | 2. Albergue São Camilo II, São Paulo – SP

Relação dos Núcleos: 1. Núcleo Sócio Educativo, São Paulo – SP


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A GENTE É VELHO RUBEM ALVES

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gente é velho quando, para descer uma escada, segura firme no corrimão. E os olhos olham para baixo para medir o tamanho dos degraus e a posição dos pés. Quando eu era moço, não era assim. Não segurava no corrimão e não media degraus e pés. Descia os dois lances de escada do sobrado do meu avô com a mesma fúria com que um pianista toca o prelúdio 16, de Chopin. Ele, pianista, não pensa. Se pensasse, não conseguiria tocar, porque o pensamento não consegue seguir a velocidade das notas. Toca porque seus dedos sabem sem que a cabeça saiba. O pianista se abandona ao saber do corpo. Assim descia eu as escadas do sobradão do meu avô. Mas no dia em que o pé começou a tropeçar, a cabeça compreendeu que eles, os pés, já não sabiam como antes. Agora é preciso o corrimão. Depois virão as bengalas, corrimões portáteis que se leva por onde se vai. A gente é velho quando, no restaurante, é preciso cuidado ao se levantar. Moço, as pernas sabem medir as distâncias que há debaixo da mesa. Mas, agora, é preciso olhar para medir a distância que há entre o pé da mesa e o bico

do sapato. Há sempre o perigo de que o bico do sapato esbarre no pé da mesa e o pé da mesa lhe dê uma rasteira, você se estatelando no chão. Quando se é velho, até uma pequena queda pode se transformar em catástrofe. Há sempre o perigo de uma fratura. A gente é velho quando é objeto de humilhações bondosas. Como aquela que aconteceu comigo 25 anos atrás. O metrô estava cheio. Jovem, segurei-me num balaustre. Notei então que uma jovem de uns 25 anos me olhava com um olhar amoroso. Olhei para ela. E houve um momento de suspensão romântica. Minha cabeça e meu coração se alegraram. Até o momento em que ela se levantou com um sorriso e me ofereceu o seu lugar. Foi um gesto de bondade. Com o seu gesto ela me dizia: “O senhor me traz memórias ternas do meu avô…” A gente é velho quando entra no box do chuveiro com passos medrosos e cuidadosos. Há sempre o perigo de um escorregão. Por via das dúvidas, mandei instalar no box da minha casa uma daquelas barras metálicas horizontais que funcionam como corrimão. A gente é velho quando começa a ter medo dos tapetes. Os tapetes são peri-

gosos de duas maneiras. Há os pequenos tapetes de fundo liso, que escorregam. E há os grandes tapetes que ficam com as pontas levantadas e que fazem ondas. O pé dos velhos movimenta-se no arrasto e tropeça na ponta levantada do tapete ou na armadilha da onda. A gente é velho quando começa a ter medo dos fotógrafos. Fugir das fotos de perfil porque nelas as barbelas de nelore aparecem. Nelore é um boi branco. Os pastos estão cheios deles, vivos, e as mesas também, sob o disfarce de bifes. E eles têm uma papada balançante, as barbelas, que vai da ponta do queixo (boi tem queixo?) até o peito. Velhice é quando as barbelas de nelore começam a aparecer. Aí vem a humilhação conclusiva. Prontas as fotos, eles nos mostram e dizem: “Como você está bem!” A gente é velho quando, tendo de subir ao palco para dar uma palestra, tem sempre uma jovem simpática que nos oferece a mão, temendo que a gente se desequilibre e caia. A gente aceita o oferecimento com um sorriso. Nunca se sabe. A gente é velho quando perde a vergonha e se desnuda fazendo as confissões que acabei de fazer.

Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP

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