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Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética janeiro/fevereiro de 2009 Ano XXVI – no 271 Província Camiliana Brasileira

❒ Pastoral

❒ bioética

❒ humanização

OUVIR OU ESCUTAR O DOENTE? ANÍSIO BALDESSIN

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uem, no mundo moderno tem tempo para ouvir? Mais do que isso, quem dispõe de tempo para escutar? A primeira pergunta não é tão difícil de ser respondida. Pois segundo Reinaldo Polito “ouvir é apenas uma atividade biológica, que não exige maiores esforços do nosso cérebro. Pois eu posso ouvir uma música ou alguém enquanto eu dirijo um carro, arrumo a casa, preparo uma refeição, faço caminhada etc. Portanto, ouvir exige menos esforço do ouvinte do que o escutar”. Segundo o mesmo autor, escutar “pressupõe um trabalho intelectual, pois após ter ouvido, é preciso interpretar, avaliar e reagir à mensagem. Escutar é do campo da significação, implica num processo intelectual e emocional. “A escuta é muitas vezes silenciosa, escuta-se o não verbal, a entrelinha, o gesto, a atuação. Escutar requer atenção e atitudes, procedimentos que fazem parte do processo de aprendizagem. Por isso, escutar empaticamente, ou seja, colocar-se no lugar do outro, compreender a história da pessoa caminhando com ela através do ontem da vida (passado) nos desafios do hoje angustiante (presente) em direção de um amanhã (futuro) promissor é o que deveríamos fazer quando estamos visitando os doentes. Isso requer treino, atitude ativa, concentração e esforço intelectual. No entanto, a maioria das pessoas que visitam doentes prefere ficar numa situação mais cômoda e ouvir de maneira passiva, sem analisar ou interpretar o que está sendo falado. Finge que está prestando atenção, enquanto os pensamentos estão voltados para outros assuntos. Tudo isso sem contar que, muitas vezes, está mais preocupada com os seus próprios problemas e que na conversa com as

pessoas se desliga das palavras, ou seja, o corpo ficou, mas o pensamento está viajando para muito longe dali.

A importância do silêncio na escuta A sabedoria do silêncio e o intervir no momento oportuno podem ser produtivos para o processo do desenvolvimento. Em toda a comunicação há sempre o lado silencioso, que acolhe a palavra do outro. A pessoa que escuta fica em silêncio, mas é um silêncio produtivo. Um silêncio de acolhimento é o que está disponível para a fala do outro. Existem silêncios tão eloqüentes que o outro acaba percebendo aquilo que o outro está dizendo, ou seja, escuta o que ele está dizendo, diante do seu silêncio acolhedor. É um silêncio de bom ouvinte, ativo, e não um silêncio de ausência. Quando alguém se coloca na posição de ver e ouvir sem preconceito, ele começa a perceber as coisas de um modo global. Ultrapassa os conceitos e já não pensa mais como crente e não crente, como comunista e não comunista, como espírita e não espírita. Começa a ver as coisas como elas são na realidade, pois o conhecimento da verdade o libertará do erro. Conscientiza-se de que todos somos irmãos em Cristo e não há necessidade de criticar o budista, o protestante e o ateu. Também não precisa ir à procura de um guru, de um mestre ou de um herói.

A importância do escutar Só o fato de saber que muito do que conhecemos foi aprendido ouvindo as pessoas já justificaria mais dedicação para escutar melhor. Para aprimorar a habilidade de escutar é necessário procurar entender antes de interpretar ou

criticar. O primeiro passo para escutar melhor é refrear a tendência de interpretar ou criticar uma mensagem, antes mesmo que ela tenha sido concluída ou perfeitamente entendida. Para isso, um bom exercício para escutar melhor é procurar lembrar quais as informações que ouviu e quanto da mensagem conseguiu guardar. Com o tempo, a quantidade de informações retidas passa a aumentar e naturalmente a habilidade de escutar também. Às vezes, ficamos tão preocupados conosco que acabamos nos esquecendo de que as outras pessoas necessitam ser reconhecidas e consideradas. Por isso, para melhorar a capacidade de escutar, é preciso aceitar as pessoas como elas são e não como gostaríamos que elas fossem. Qualquer um que já tentou conversar com aquele tipo de pessoa que fala o tempo todo, ignorando ou desvalorizando a opinião de seus interlocutores, sabe quão desagradável essa experiência costuma ser. Quem age assim pode até pensar que está se comunicando, mas com certeza não está. A comunicação pressupõe uma interação entre as pessoas, uma troca ou uma partilha de opiniões, informações, sentimentos e emoções. É dessa forma que surge a empatia que irá estreitar os laços, fortalecer os relacionamentos e promover a cooperação.

O que fazer para escutar? Um bom método para se concentrar nas informações que ouve é fazendo anotações dos tópicos que julgar mais importante. Porém, é evidente que essa atitude só pode acontecer quando você está participando de palestras, aulas e reuniões. Em hipótese alguma quando está conversando com o doente. Pois,


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por incrível que possa parecer, tem pessoas que enquanto conversa em situações informais faz anotações ou fica arrumando alguma coisa na sala ou encima da mesa. Ou seja, as pessoas ficam tão preocupadas com elas mesmas que acabam esquecendo que as outras necessitam ser reconhecidas e consideradas. Prepare-se para se empenhar nessa empreitada porque, com freqüência, poderá ficar tentado a desistir e se voltar novamente para si mesmo.

Pois quando o visitador consegue resistir a tentação de se preocupar mais consigo mesmo do que com o outro dará espaço para que ou outro conte sua história. E atrás de cada história existe sempre alguém totalmente único, que nos apresenta uma história original, marcada pelos fatos e acontecimentos da vida. Interessantes aventuras de crescimento em meio a forças brutais de morte; em outras circunstâncias, nos defrontamos com a vida que poderia ter desabrocha-

do em história e, no entanto, foi estrangulada no seu nascedouro. Caso contrário, além de não aprender com a história que o outro nos conta, não seremos bons ajudantes, pois para ajudar não basta ouvir, é preciso escutar. Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas de São Paulo

Referência Bibliográfica POLITO, Reinaldo - Assim é que se fala 13a edição, 1999, São Paulo, SP, Editora Saraiva

LIVROS E MATERIAS PARA PASTORAL DA SAÚDE Assistência religiosa aos doentes: aspectos psicológicos – Mário Luís Kozik e Anísio Baldessin Este livro, que é uma coletânea de artigos, traz dicas muito importantes para padres, pastores, rabinos e leigos (ministros da Eucaristia) que diária ou semanalmente prestam assistência religiosa em hospitais, domicílios ou casas de repouso.

Pastoral da Saúde: orientações práticas Padre Anísio Baldessin Este livro nada mais é do que uma coletânea de artigos e/ou reflexões, fruto da atividade diária do autor junto aos doentes, familiares e profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Seus capítulos não precisam, necessariamente, ser lidos em seqüência. Os temas propostos são independentes. Seu único objetivo é provocar discussões e debates nos grupos que visitam os doentes, em casa ou no hospital. O livro pode ser útil também aos ministros da Eucaristia ou ministros extraordinários dos doentes.” Como visitar um doente Padre Anísio Baldessin Neste livro, o leitor encontrará algumas dicas pastorais sobre o que se deve e o que não se deve falar ou fazer na visita pastoral ao doente. O autor procura responder a algumas perguntas comuns como: o que dizer ao doente quando ele chora, permanece em silêncio, é de outra religião, está em estado grave, quanto tempo deve durar uma visita e outras informações. Como organizar a Pastoral da Saúde Anísio Baldessin Neste livro direcionado aos agentes de pastoral, capelães, assistentes religiosos hospitalares e domiciliares, visitadores de doentes, ministros da Eucaristia, seguindo as diretrizes da CNBB e camiliana, o autor apresenta dicas importantes e práticas que auxiliarão a organização da Pastoral da Saúde, nas dimensões solidária, comunitária e político-institucional, em dioceses, paróquias e hospitais.

Ministério da vida: orientações para agentes de Pastoral da Saúde – Leocir Pessini Esta obra traz orientações para pastorais junto aos doentes, seja em hospitais ou em domicílio, tendo sempre em vista as perspectivas e os desafios que o mundo da saúde apresenta para a ação pastoral. Seu conteúdo temático responde às solicitações de comunidades, de agentes da Pastoral da Saúde e recolhe experiências vivenciadas pelo próprio autor em seu trabalho pastoral. Como lidar com o paciente em fase terminal. Leocir Pessini Dizer a verdade ao paciente? O que é eutanásia, distanásia, ortotanásia? Esta obra também aborda aspectos importantes relacionados ao tema, como alguns princípios ético-cristãos, qualidade de vida, meios ordinários e extraordinários de tratamento, dor e os direitos do paciente em fase terminal, o processo de morrer e o direito de dizer adeus à vida com dignidade. Assistência Religiosa aos Doentes: Aspectos Bíblicos Os autores dos artigos que compõem este manual utilizam textos bíblicos, principalmente os evangelhos. É um livro endereçado aos capelães hospitalares, (padres e pastores) ministros da eucaristia e visitadores de doentes. É simples e objetivo criando condições para ação pastoral dos que diariamente compartilham a fé com pessoas feridas. Portanto, será muito útil para reflexões individuais e, principalmente, para discussões em grupos.

expediente

Adquira já o seu na secretaria do ICAPS pelo tel.: (11) 3862-7286, ramal 3, com Cláudia, ou peça por fax: (11) 3862-7286, ramal 6, e-mail: icaps@camilianos.org.br, ou em Edições Loyola, tel.: (11) 2914-1922, e nas livrarias católicas de sua cidade.

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e Bioética – Província Ca­miliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos

Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 2914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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AQUI O REMÉDIO É A PALAVRA ADALBERTO DE PAULA BARRETO

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Projeto 4 Varas, um achado para a gente pobre abandonada nas comunidades. Nessa entrevista a Revista Radis, Adalberto de Paula Barreto explica como funciona esse projeto. Entre patologia e sofrimento. Temos um posto de saúde do PSF (Programa da Saúde da Família) e lá se trabalha a patologia, com médico, enfermeiro, dentistas. Aqui se trabalha o sofrimento e a promoção da saúde, usando curandeiros e recursos disponíveis da cultura, como massagem, argila com as pedras mornas, banho de ervas e rezas. Então, são duas medicinas complementares: lá a patologia com os especialistas; aqui se trabalha o sofrimento promovendo a saúde e reduzindo os danos.

Para que as redes? Temos as redes armadas para as pessoas se deitarem. A casa acolhe o sofrimento, a dor da alma numa massagem, por exemplo. Observamos que a maior parte das pessoas que geralmente vão aos postos de saúde quer ser acolhida e desabafar, e muitos hospitais e postos estão medicalizando o sofrimento, os problemas existenciais. Uma mãe ansiosa e desesperada por que o filho entrou no mundo das drogas precisa de um psicólogo para dormir ou ser acolhida? Na massagem ela pode chorar, falar e compreender. Essa é a distinção que queremos fazer aqui, uma medicina científica e popular que aja de forma complementar. Não estão em competição, não estão brigando pela patologia.

Como funciona? São seis massoterapeutas pagos pela prefeitura. As pessoas encaminhadas pelo SUS recebem a massagem gratuitamente. Vem gente da comunidade mandada pelos médicos do PSF, dos CAPS. Fazem 10 massagens duas ou três vezes por semana e participam da terapia comunitária, de resgate da auto estima. É a terapia comunitária virando política pública do Ministério da Saú-

de. A Fiocruz vai ter um pólo formador desta metodologia.

Essa união com a medicina alternativa é o ideal para a saúde pública? Acho que sim. Não diria medicina alternativa, porque o alternativo pressupõe a exclusão do diferente. Eu chamaria de medicinas complementares. Temos um modelo biomédico centrado na patologia, no medicamento, uma medicina muito cara. Mas existe no cotidiano muito sofrimento decorrente de estresse, da educação dos filhos, do desemprego. Este sofrimento no passado era tratado por benzedeiras, padres, pajés, havia essas instituições de escuta, de apoio. Com a modernização da sociedade, a tendência é jogarmos fora e medicalizarmos o sofrimento. Quando vim para a favela, dei-me conta de que a maior parte das pessoas que vinham falar comigo trazia uma dor na alma que psicotrópicos não revelariam. Não que eu seja contra: cabem em determinados momentos. Percebi que se ficasse medicalizando os problemas existenciais acrescentaria mais sofrimento. Descobri que não podia exercer

a psiquiatria do mesmo jeito do hospital, onde diagnostico e prescrevo medicamentos. Mesmo quando podia prescrever as pessoas não podiam comprar. Essas foram algumas dificuldades.

Estar na comunidade também é um diferencial do projeto? A gente contextualiza melhor esse sofrimento. Quando uma pessoa diz que está com insônia, a insônia é o sofrimento e a cura é voltar a dormir. A tendência é prescrever um psicotrópico. Quando se está na comunidade e vem uma mulher chorando, com insônia ou engasgo porque a filha de 14 anos engravidou, essa mulher precisa de um psicotrópico, um benzodiazepínico? Ou precisa ser desengasgada pela própria comunidade? Quando a boca cala os órgãos falam: se essa mulher não desengasgar hoje entra em processo depressivo, de doença mesmo. Então, a terapia comunitária, numa proposta inicial, é criar um espaço de palavra. Aqui o remédio é a palavra. Ela é para quem fala, é para quem ouve. Na troca a comunidade cria vínculos, vai se reconhecendo no apoio. Partindo de uma situação-problema, a mãe viu que 15


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pessoas já viveram isso, inclusive na situação contrária: a filha que diz, eu também engravidei com 14 anos. Ela se vê na filha, a relação do espelho de Freud. E entende que tem que ter calma, sabedoria e tolerância.

E gente que vem se tratar acaba tratando... A Cleinha, quando veio, era também uma pessoa entalada. Quando se curou começou a mandar pessoas, e de tanto mandar vi que tinha capilaridade a comunidade, capacidade de formar uma rede de apoio social. Veio o curso e a convidei. Dona Zilma era doida de pedra, alguém disse que era curandeira também. Um dia estávamos numa terapia e uma pessoa passava mal: ela disse que era um encosto. Então, eu disse, se a senhora sabe o que é, vai fazer, eu não sei. Ela foi, outras pessoas começaram a pedir que ela rezasse e depois não deu mais tempo de endoidar. Dona Francisca me trouxeram neuleptizada, tomava vários remédios, babando. Alguém me disse, ela é rezadeira de umbanda. Eu disse a ela, os meus remédios não dão conta de tanto sofrimento. Ela olhou para mim, babando e disse: você acredita que eu vou ficar boa? A senhora não nasceu assim, vai ficar boa. Fui tirando a medicação e orientando, terapia e conversando. Hoje é uma das nossas curandeiras.

Abordagem que olha mais a saúde do que a doença... Por isso dá certo. Nossas rezadeiras são pessoas desvalorizadas em busca de valor. O doutor não cura câncer, a minha reza cura câncer, dizia para se valorizar. O meu trabalho tem sido dizer: a medicina de vocês não é para combater a patologia, eu cuido da promoção da saúde. Aí as duas medicinas se aproximam, se valorizam e são complementares. Cada uma é rica naquilo em que a outra é a pobre. A medicina popular é rica no afeto. No acolhimento, mas é pobre no tratamento da patologia. Já a medicina científica é rica no arsenal de antibiótico e psicotrópicos, mas humanamente é uma favela existencial. Quando me aproximei dela aprendi a acolher melhor e a valorizar os recursos que se tem. Agreguei valor ao ato médico.

Explique melhor Desde o início a nossa pedagogia é centrada na competência, e não na carência. Vivemos num modelo de influência judaico-cristão que valoriza o que não funciona, o pecado, o negativo. Esse modelo desestabiliza o indivíduo, culpabiliza o outro. A pessoa culpabilizada se desestabiliza e busca o salvador. O modelo do Salvador da pátria se baseia na carência e no negativo. A nossa imprensa só evidencia o que não funciona, o que funciona não dá notícia. A educação é a mesma coisa: seu filho faz tudo normal, ninguém diz nada, mas se faz alguma coisa errada, o sermão é enorme. Ninguém quer compreender o que funciona, porque não dá status. Sempre conto uma história sobre dois índios tomando banho num rio e vêem duas crianças morrendo afogadas. Salvaram os dois, apareceram quatro, oito,16. Um dos índios disse: você salva os que puder que eu vou ver quem está jogando estes meninos na água. O índio que ficou salvando os afogados é a nossa medicina curativa: acha que só ela salva, tem as estatísticas, precisa de bons salários, de melhores condições etc. e tem um discurso crítico desvalorizador de quem vai fazer a prevenção e a promoção da saúde, que considera “turista”, “sonhador”.

A medicina popular... Nossa luta é dizer: você que está salvando o outro, teu trabalho é tão importante quanto o de quem está fazendo a prevenção e a promoção da vida. Aí, no ano passado veio o estudo de impacto da terapia comunitária: 2 mil questionários em dois estados, 88 % dos problemas resolvidos in loco, apenas 11,5% encaminhados aos postos de saúde.

Ela já existe em todo o país? Hoje, sim. Já treinei 11 mil terapeutas comunitários, temos 30 pólos formadores no Brasil – a Fiocruz será o 31º. Já foi criada a Associação Brasileira de Terapia Comunitária (www.abrapecom.org.br). O impacto foi esse: apenas 11,5% dos problemas encaminhados aos postos. Multiplique isso por milhares... Há um enxugamento nos postos de

saúde, ou seja, o índio – ou o médico – que salva os que estão morrendo continua salvando, respira melhor. Então nossa idéia é complementar o cuidado. Nós na promoção também tendemos a ridicularizar e menosprezar o trabalho da medicina científica, mas precisamos tanto dela como da nossa.

A expectativa de trabalho do PSF... Exatamente. A academia produz conhecimento, mas a experiência de vida também. Tenho observado: damos melhor o que não recebemos, ensinamos melhor o que precisamos aprender. As que não foram amadas e foram rejeitadas estão acolhendo, as que foram violentadas estão dando massagem, acolhendo a dor do outro. Até hoje uso a metáfora: a ostra que não foi ferida não produz pérola. A pérola é resposta a uma agressão. Toda família está ferida. As vitórias do ano são: meu marido deixou de beber, comprei minha casa, arranjei emprego. Se as pessoas arranjam emprego ficam mais autônomas, conquistam as coisas. Nós intervimos nos determinantes sociais da saúde, evitamos que essa pessoa vire cardiopata, diabética, e daqui a 15, 20 anos precise de tratamento caríssimo. Nosso trabalho é intervir nos determinantes sociais usando os recursos da comunidade, a argila, as mãos, a música e a sabedoria produzidas pelas carências de vida. Eles faziam isso no anonimato, sem reconhecimento. Minha função é oficializar esse poder.

Que conselho dar a quem está se formando em terapia comunitária ou se interessou e não sabe por onde começar? O curso se faz para acabar com a mania de querer curar o povo. Temos duas fontes geradoras de competência, a academia e a experiência de vida. O saber da academia nos dá identidade profissional como médico, dentista e enfermeiro, o salário financeiro, o saber pela competência. No sofrimento temos ainda o salário afetivo: não é preciso ser médico, enfermeiro, não precisa ter faculdade para exercer a terapia comunitária; não precisa ser psicólogo porque não vai fazer análise, não precisa ser mé-


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dico porque não vai prescrever remédio. Precisa ter engajamento com a comunidade, uma ação cidadã que transcenda classe social, profissões. Cuidando do outro, curo a mim mesmo.

Como é a capacitação? São quatro módulos em quatro dias em regime de internato, com intervalo de dois meses, ao longo de um ano. As pessoas vão aprendendo as técnicas de como garimpar a pérola das feridas da vida. Começam por um trabalho pessoal. Como será um trabalho de acolher o outro e escutar, tem que aprender a valorizar e a escutar. É muito prazeroso, porque além do salário financeiro

há o salário afetivo. Partimos do pressuposto de que a primeira escola é a família, e o primeiro mestre, a criança que fomos. Com a minha criança aprendi muita coisa. Numa família em que os pais se disputam de forma injusta, a criança que observa se torna mediadora. Sempre atribuímos competência a um livro que lemos, a um curso, jamais ao que vivenciamos. Na terapia comunitária, fazemos a pessoa perceber que a competência dela se inscreve em sua história de vida. Com mulheres injustiçadas pelos maridos descobre-se que em casa a mãe vivera esta situação. Compreender isso dá capacidade para um trabalho genial. O seu Zequinha fala errado, mas quando

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não estou dirige toda a terapia. Como ele entendeu o espírito, ele faz.

Sem ser médico nem enfermeiro... Diria que para ser terapeuta comunitário tem-se que gostar de trabalhar com comunidade, tem que aceitar fazer um trabalho sobre si mesmo para desconstruir os modelos mentais que nos foram construídos. Não precisa ser médico nem enfermeiro. Se for, agrega valor. Vai descobrir que não é o salvador nem o bombeiro da pátria: vamos encontrar soluções partilhadas. A pessoa tem o problema, nós temos problemas e a solução vem da partilha.

DISTÚRBIO DA FALA comunicação é um processo complexo porque depende de estruturas anatômicas do aparelho respiratório e digestivo e uma integração com o cérebro.

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É comum crianças apresentarem problemas de fala? Sim, algumas crianças, principalmente os meninos, podem apresentar trocas na fala. Exemplo: falar “tasa” ao invés de “casa”, isso não é indicação de que estas crianças tenham, necessariamente, alteração mental. Indicam apenas que elas apresentam uma dificuldade articulatória e que necessitam de ajuda de um profissional especializado, no caso o fonoaudiólogo. Até que idade é normal as crianças falarem errado? No processo de desenvolvimento da linguagem, esperamos que qualquer criança sadia consiga falar todos os sons de nosso idioma até quatro anos e meio de idade ou, no máximo, até os cinco anos. Se ela passar dos cinco anos de idade e ainda apresentar dificuldades na fala, o que devemos fazer? Procure o fonoaudiólogo e conte suas preocupações. Ele poderá orientar sobre o desenvolvimento de seu filho, e se suspeitar de algum outro motivo que o impeça de falar, o fonoaudiólogo irá indicar consultas com outros especialistas e talvez alguns exames, se for o caso.

Podem existir outros motivos que impeçam uma criança de falar? Sim, como a deficiência mental, a deficiência auditiva, problemas neurológicos graves, desnutrição, falta de estimulação em casa. Existe alguma maneira de prevenir que crianças falem errado? Sim. A amamentação no seio materno até, pelo menos seis meses de vida, promove um fortalecimento de língua, lábios e bochechas. É comum as crianças que falam errado escreverem errado quando começam a freqüentar a escola? Sim. Isto ocorre porque a criança se apóia muito na maneira de falar para escrever. Todo pensamento da criança se realiza por meio de palavras que ela conhece e utiliza. Além disso, ela cria uma imagem dos sons da sua própria fala no cérebro. Se essa fala estiver errada, a imagem gravada no cérebro também será errada. Assim quando ela elaborar um pensamento e precisar escrevê-lo, poderá fazer de forma errada. O que é gagueira? Por que algumas crianças gaguejam? A gagueira é uma alteração na fluência da fala. Ela pode manifestar-se sob forma

de repetições de sons, de sílabas ou palavras, ou sob forma de hesitações, bloqueios e titubeios. Nos casos mais graves a criança fica até com medo de falar. Durante o desenvolvimento da fala, algumas crianças costumam gaguejar. Isto se chama gagueira fisiológica, e costuma aparecer quando a criança está com cerca de três anos de idade. Se os pais não chamarem a atenção para o fato e nem se preocuparem em demasia, a gagueira atende a desaparecer sozinha. O que fazer quando a criança começa a gaguejar? Nunca corrija a criança, e jamais termine uma frase por ela. Tenha paciência e espere que ela mesma termine a frase. Se você não entendeu o que ela quis dizer, retome mais tarde essa mesma frase, dizendo que você estava um pouco distraído e se esqueceu do que ela queria. Outra dica: nunca peça para a criança repetir o que disse ou parar para pensar no que vai falar ou mesmo respirar antes de falar. O que fazer quando uma criança fica rouca constantemente? Quando uma criança fica rouca com freqüência sem estar gripada pode ser indicativo de disfonia, sendo uma alteração da voz devido ao desgaste das cordas vocais. Artigo extraído do jornal Grupo Geração Saúde.


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O VALOR DA ALIMENTAÇÃO

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organismo humano pode ser comparado a uma espécie de máquina que trabalha continuamente com o combustível adequado: o automóvel vale-se da gasolina ou do álcool para funcionar; o corpo humano, dos alimentos, do oxigênio e da água. Alimento é toda substância que se come e fornece ao corpo a energia e os elementos necessários ao desenvolvimento, ao crescimento, ao trabalho; enfim, a uma boa saúde. Ter uma boa alimentação balanceada não quer dizer comer muito, por isso devemos nos preocupar com a qualidade e utilização dos alimentos. A mastigação também é fundamental, pois mastigar bem os alimentos é sinônimo de um maior aproveitamento de seus nutrientes e de uma melhor e mais fácil digestão. Além disso, variar o cardápio sempre que possível (através da substituição entre os alimentos que se equivalem, que têm a mesma função) levando em consideração a combinação do sabor, a aparência e o preço, é o segredo para atingir o equilíbrio alimentar. Para que possamos atingir esse tão desejado equilíbrio, as aplicações de algumas regrinhas são necessárias:

Bons hábitos de compra — Comprar hortaliças e frutas de boa aparência, sem partes envelhecidas, manchadas, rachadas ou comidas por insetos; — Comprá-las frescas, macias e firmes; — Observar a cor característica de cada produto; — Comprar frutas e hortaliças da época, pois tem melhor preço, maior valor nutritivo, melhor aparência e sabor; — Consumir rapidamente frutas e hortaliças compradas no ponto certo de amadurecimento, pois, se deixadas fora da geladeira por um ou dois dias, poderão apodrecer.

Conservação de frutas e hortaliças Para obter uma melhor conservação e evitar que os alimentos se estraguem mais rapidamente, as hortaliças devem ser limpas (retirar folhas amassadas e murchas), guardadas inteiras (e não cortadas ou descascadas) em sacos plásticos na gaveta da geladeira e mantidas secas.

Preparo de frutas e hortaliças Certos cuidados tornam-se necessários quando desejamos preparar corretamente uma refeição; —Sempre lave as hortaliças e frutas em água corrente; — Ao cozinhar, não tire as cascas dos alimentos e, de preferência, deixe-os inteiros. Esse hábito permitirá que esses produtos mantenham as características nutritivas em sua quase totalidade durante o cozimento; — Cozinhe o vegetal apenas o tempo suficiente para que ele fique macio (deixá-lo muito tempo no fogo, diminuirá seu valor nutritivo e tornará sua aparência, cheiro e sabor desagradáveis); — Para acentuar a cor das hortaliças, não utilize bicarbonato de sódio, pois ele destrói as vitaminas. Prefira pingar algumas gotas de limão ou vinagre na água de cozimento; — Utilize a água de cozimento das hortaliças para fazer sopas, cozinhar arroz ou em outras preparações. Estas ficarão muito mais saborosas e nutritivas; — Aproveite as folhas e talos, sempre que possível, na preparação de refeições alternativas saudáveis, criativas e práticas.

Aproveitamento de cascas e folhas Às vezes, por preconceito ou falta de hábito, partes de certos alimentos (cascas, folhagens, talos, etc.) são desprezadas. No entanto, o

que muitos não sabem é que estas podem transformar-se em deliciosas e nutritivas refeições: Cascas de frutas - Bata-as no liquidificador com água e açúcar. Coe e você obterá deliciosos refrescos. Cascas de batatas – São um delicioso aperitivo ou mistura. Com uma escovinha, lave as batatas muito bem. Retire a casca e frite-a em óleo quente. Folhas – As folhas de beterraba, cenoura ou abóbora, quando refogadas ficam deliciosas e tão saborosas quanto suas próprias fontes de origem. Artigo extraído do jornal Grupo Geração Saúde.

ANOTE AÍ! XXIX Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde. Acontecerá em São Paulo nos dias 05 e 06 de setembro de 2009. X Congresso Brasileiro Ecumênico de Assistentes Espirituais Hospitalares. Acontecerá em Curitiba nos dias 26, 27 e 28 de outubro.

Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP

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