Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética março de 2009 Ano XXVI – no 272 Província Camiliana Brasileira
❒ Pastoral
❒ bioética
❒ humanização
O TRABALHO VOLUNTÁRIO TEM HORA DE PARAR? ANÍSIO BALDESSIN
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á momentos em nossa vida em que é preciso parar e fazer uma revisão. Como na administração de uma loja, é preciso parar e fazer um balanço. Contar o estoque, atualizar os produtos, fazer alguns reparos na estrutura e aproveitar para fazer uma mudança no visual para que o cliente note e se sinta bem. Bill Gates, um dos mais importantes empresários dos últimos tempos ao anunciar sua saída da Microsoft deu uma lição de liderança: “saber o momento de dar o fora é decisivo para o sucesso”. O autor do livro do Eclesiastes afirma: “Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar a planta. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para bailar. Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras. Tempo para abraçar e tempo para se separar. Tempo para procurar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e tempo para costurar. Tempo para calar e tempo para falar. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz” (Ecle 3, 1-9). Depois de ouvirem uma palestra ou um sermão as pessoas costumam dizer: “o padre e/ou palestrante era realmente muito bom. Gostamos de quase tudo o que ele disse. Ele realmente conseguia manter o interesse dos ouvintes. Essa era a hora de parar. Como não o fez, começou a ser repetitivo não prendendo mais a atenção dos ouvintes. Conclusão, os participantes guardaram muito mais o tom repetitivo da palestra do que sua mensagem. Portanto, embora seja
difícil saber quando parar, existe uma dica: pare quando estiver “em alta”. Jerry Seinfeld, humorista americano, um dos grandes responsáveis pela popularização do gênero de comédia stand up em todo o mundo, fez enorme sucesso com a sitcom Seinfeld, que retratava o cotidiano de quatro amigos: Elaine Benes, Cosmo Kramer, George Costanza e seu homônimo Jerry Seinfeld. No entanto, a série foi encerrada na “alta”. Seinfeld recusou uma proposta de 5 milhões de dólares para apresentar o episódio na rede de televisão NBC. Na sua genialidade, Seinfeld explicou o inexplicável de um modo simples quando foi interrogado sobre o momento que percebeu que era hora de parar. “Apenas senti, respondeu ele. É difícil explicar, mas eu senti. É como quando você vai a um restaurante, e a comida está muito boa, e você come muito bem. Mas tem um ponto em que você percebe que, com mais uma garfada, você pode estragar uma bela refeição. Não é uma questão de quantidade. Você apenas sabe. E você sabe, sente que deve parar naquele momento”. Poderíamos citar inúmeros personagens de todos os setores da sociedade que conseguiram perpetuar a fama porque pararam na hora certa. Porém, existe algo que se chama ambição. E ambição não deixa de ser uma coisa boa. Pois ela nos desperta desejos, promove o comprometimento e estimula a perseverança. Torna-nos mais fortes e nos faz buscar a superação. Pela ambição conquistamos mais posses e mais poder. Sentimo-nos mais ricos, mais bonitos e até mais livres. O que a estraga é a ganância que não nos deixa parar. No salmo oitenta e nove o salmista afirma: “Há setenta anos vai a dura-
ção de nossa vida. Fato notável quando chega aos oitenta”. Todavia, chegar aos setenta anos hoje é algo muito comum. Pois com a melhora das condições de vida e os constantes avanços da medicina aumentamos sobremaneira a longevidade. Mas, se de um lado temos algo a comemorar, do outro temos a lamentar. Primeiro porque chega um momento da vida que contrariamente à nossa vontade somos obrigados a pedir aposentaria. Com isso, perdemos além do emprego e das atividades diárias, um pouco os recursos financeiros. Segundo, com o aumento dos anos aumentam também as possibilidades de adquirirmos uma ou mais doenças. O que fazer?
Voluntariado é a solução? Há algum tempo fiz uma reflexão sobre a importância do trabalho voluntário, solidário, dizendo que o solidário não é solitário. Esta é uma verdade. Pois basta se colocar a serviço de alguém que a solidão tende a desaparecer. É o que acontece com milhares de pessoas que se engajam na pastoral da saúde para atuarem na dimensão solidária como ministros da eucaristia, visitador de doentes nas casas ou hospitais ou ainda trabalhar nas dimensões comunitária ou políticoinstitucional da pastoral da saúde. Não há dúvida que além de ser uma das obras de misericórdia, fazer um trabalho pastoral é proporcionar bem estar para os doentes e seus familiares como também para o próprio agente. No entanto, chega um momento em que é preciso parar. Essa decisão cabe ao próprio agente ou ao líder (coordenador) responsável por ele. Richard Green, presidente da empresa Blistex faz a se-
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guinte afirmação: “é imoral não demitir as pessoas que não são capazes ou não tenham mais condições de fazer o serviço”. Tal atitude deve ser tomada mesmo que venha contrariar o grupo. Certo dia desliguei do grupo uma agente que há muitos anos prestava assistência religiosa. Além de estar passando por dificuldades físicas, tinha também alguns distúrbios mentais. Porém, independente de não credenciá-la novamente, ela continuava vindo e dizendo que tinha condições. Quando mais uma vez disse que ela não faria mais parte do grupo ficou muito revoltada. Revoltados ficaram também alguns componentes do grupo dizendo: “você precisa pensar no mal estar que está causando a ela”. Ao que respondi: “eu entendo que possa estar causando um desconforto para ela. Porém, eu tenho que pensar no ‘mal’ que a agente poderia causar àqueles a quem ela, com muita boa vontade estava disposta a ajudar, mas que não tinha mais condições de fazê-lo.
A hora de parar Não é fácil, para o líder de uma empresa tomar a decisão de demitir um colaborador. Pois além de vínculos afetivos, estão presentes questões financeiras e até mesmo o sustento de uma família. Difícil também é a tarefa de um coordenador pastoral que precisa desligar um voluntário religioso. Afinal, do padre, pastor ou líder religioso se espera muita compaixão e caridade. Pois se nem a Igreja é capaz de aceitar a pessoa, o que dirão os outros setores da sociedade? Todavia, um primeiro elemento que deve ser considerado pelos que se propõem a desenvolver uma atividade voluntária, é ter consciência que o candidato (a) que se engaja num voluntariado não tem cadeira cativa (direitos adquiridos) até morrer. Além disso, quando o trabalho continua sendo feito por alguém que muitas vezes, não dispõe de condições físicas e intelectuais
o comentário de quem observa de fora é: “será que os mais saudáveis (líderes) não são capazes de perceber que essa pessoa não tem a mínima condição?” Os primeiros relatos desta reflexão mostram que muitas pessoas continuaram sendo famosas porque souberam parar na hora certa. No Brasil, seguindo talvez a sugestão do salmista, o cargo de um professor titular, por exemplo, vai até os setenta anos. Depois disso, seu posto é ocupado por outra pessoa. É claro que não vamos aqui estabelecer uma idade mínima para interromper a atividade voluntária (pastoral da saúde) de uma pessoa. Até porque perderíamos muitos adeptos. No entanto, se em todas as profissões existe um momento em que as pessoas são obrigadas a deixarem seus postos, será que nas atividades voluntárias, religiosas, também não deveria existir um momento de parar? Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP.
CURIOSIDADES QUE PREVINEM DOENÇAS Com tantas dietas e recomendações sobre alimentação, nós já não sabemos se é melhor comer ou passar fome. O melhor mesmo é ter bom senso e seguir algumas orientações já comprovadas cientificamente, como estas a seguir:
Para ouvir melhor
expediente
A vitamina B12 pode proteger a audição de pessoas que trabalham em lugares barulhentos. A especulação foi feita por pesquisadores que examinaram um grupo de soldados israelenses com perda da capacidade auditiva e zumbidos no ouvido. Metade dos homens apresentava baixo nível de vitamina B12, nutriente responsável pela proteção dos nervos. Como os danos são irreversíveis, os pesquisadores recomendam uma dieta rica em fontes da vitamina: carnes magras, peixes, frutos do mar, semente de girassol, ervilha, gérmen de trigo, fígado, amendoim, carne de porco, pão, cereais integrais.
Um pouco mais sobre a vitamina B12: por que precisamos? — Bom para a saúde dos nervos e músculos, metabolismo e carboidratos, álcool e gorduras. Se não ingerimos… — Inicialmente temos irritação, falta de concentração, depressão, problemas de sono e perda de apetite. A longo prazo temos flacidez muscular, confusão mental e perda de memória. Churrasco saudável - A fumaça e o chamuscado do churrasco originam substâncias que, depositadas na carne, podem favorecer o aparecimento do câncer de estômago, quando consumidas em excesso. Algumas dicas: - Prefira carnes magras. Ao pingar sobre o carvão em brasa, a gordura cria mais fumaça e chamas, capazes de escurecer o alimento; - Se usar grelha, cubra-a com papel alumínio, furando alguns pontos para a gordura escorrer. Ajuda a proteger o alimento das chamas; - Enquanto a carne estiver no fogo, borrife-a com um pouco de água ou molho a
O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúdee Bioética – Província Camiliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos
Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana
Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 2914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares
ser usado. Mantêm a carne úmida e evita os chamuscados; - Se alguns pedacinhos queimarem corte rente e jogue-os fora. Mal de trabalho - Desemprego, estresse no trabalho e perda de um filho podem aumentar o risco de câncer no sistema digestivo, de acordo com um levantamento sueco. O grupo de maior risco é de pessoas com problemas no trabalho. Elas seriam cinco vezes mais propensas a desenvolver esse tipo de câncer. Abaixo os radicais - Exercitar-se durante 30 minutos, de três a cinco vezes por semana, pode ser uma excelente maneira de evitar a ação dos radicais livres, moléculas que provocam a degeneração celular. A constante atividade física permite ao organismo manter estável a produção das enzimas protetoras que anulam os inimigos. Artigo extraído do jornal Grupo Geração Saúde. Assinatura: O valor de R$13,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
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A FÉ PODE CURAR HAROLD KOENIG
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uem cultiva uma crença, independentemente da religião, é mais saudável e feliz do que os céticos. E ainda consegue lidar melhor com a dor física e emocional. A conclusão é do médico americano Harold Koenig, psiquiatra, geriatra e diretor do Centro para o Estudo da Religião/Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, na Carolina do Norte (EUA). Há duas décadas o professor americano se debruçou sobre a relação entre religiosidade e saúde e conseguiu provar o que muitas pessoas já percebiam na prática: a fé pode curar. Na década de 90, Koenig acompanhou 4 mil pessoas de mais de 60 anos e dos mais diferentes credos. O resultado, seis anos depois, foi que menos da metade daquelas que não tinham uma prática religiosa assídua estava viva. Em contrapartida, 91% das que tinham uma crença encontravam-se saudáveis. Por que o senhor resolveu pesquisar o assunto? Há 20 anos, percebi entre meus pacientes que quem tinha uma prática religiosa era mais feliz e reagia melhor, física e emocionalmente, às doenças. Esses também tinham menos depressão, mais paz interior e aceitavam melhor os tratamentos médicos. Comecei a me questionar se tal comportamento poderia realmente influenciar a saúde. O que o senhor concluiu? Pessoas que têm crença religiosa e a praticam vivem, em geral, sete anos mais do que as que não alimentam a fé. Quem reza ou freqüenta cultos religiosos ao menos uma vez por semana tem 40% menos chances de apresentar pressão alta. Outro estudo mostra que 50% dos idosos saudáveis que não rezam estão mais propensos a morrer nos próximos seis anos do que os que têm esse hábito. Por quê? Pesquisas mostram que pessoas religiosas são mais otimistas e têm uma visão mais positiva da vida. Isso dá a elas um significado, um sentido, um objetivo e esperança. É perceptível, ainda, que essas pessoas têm uma vida social mais intensa — mais amigos, com quem interagem e com quem podem contar para receber apoio e ajuda emocional. Finalmente, são homens e mulheres com um estilo de vida
mais saudável: fumam menos, não se excedem com bebidas alcoólicas, não usam drogas ou cometem atos criminosos. Todos esses fatores psicológicos, sociais e de comportamento influenciam nos processos de cura. Isso se reflete de maneira indireta na saúde, como reforço dos sistemas imunológico, endócrino e cardiovascular. Mas quais seriam exatamente os efeitos fisiológicos da fé no organismo? Práticas religiosas acalmam a mente e as emoções. E já é cientificamente comprovado que acalmar a mente reduz a pressão arterial e os batimentos cardíacos e reforça o sistema imunológico. Esses efeitos são similares aos da meditação? Sim. Mas se tornam mais poderosos se a prática vem acompanhada de uma crença religiosa forte, não apenas individual, mas de um grupo. Ter ou não ter fé pode fazer diferença na cura de algum problema específico de saúde? Observamos que os efeitos são especialmente relevantes para os males causados pelo excesso de stress, como doenças cardiovasculares, infartos. E pessoas que alimentam suas crenças espirituais enfrentam melhor as dores físicas. Em geral, são pessoas que não se deixam dominar pela dor.
Os profissionais de saúde sabem respeitar a crença de seus pacientes ou percebem a importância disso nos processos de cura? Médicos são cientistas. Eles respeitam e valorizam os métodos científicos. Foi por meio dos métodos científicos que demonstramos que as pessoas que têm fé são mais saudáveis e felizes. Por isso, é crescente o número de médicos que levam em conta as crenças pessoais de seus pacientes como parte do processo de cura. No entanto, pesquisas demonstram que apenas 5% dos médicos incentivam seus pacientes a encarar sua religião ou seu credo espiritual como parte do tratamento. Mas isso está mudando nos Estados Unidos. Atualmente, mais de dois terços das escolas médicas americanas já têm disciplinas de “religião e medicina”. O senhor já vivenciou uma demonstração de que a fé pode curar que o tenha surpreendido? Um amigo teve um tipo agressivo de câncer no cérebro, cujas células doentes se alastraram para os rins. Ele foi operado e o cirurgião retirou o máximo possível do tumor, mas o avisou que tinha poucos meses de vida. Ele, a família e as pessoas da igreja que freqüentava rezaram pela sua cura. Hoje ele é um homem saudável. E isso mostra que, mesmo para a ciência, existem coisas para as quais não há explicação lógica ou científica. É fé. Texto extraído da Revista Criativa — julho/2005.
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COMO RELACIONAR-NOS HUMANAMENTE BEM JOSÉ GARCIA FÉREZ
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ós, os seres humanos, necessitamos relacionarnos com os demais para podermos viver em sociedade, por isso é importantíssimo saber comunicar-nos bem e sabermos estabelecer boas relações humanas. Todos queremos que nos tratem bem e precisamos saber tratar bem aos outros, mas nem sempre é fácil fazêlo, nem possível consegui-lo. Além disso, também somos conscientes das vantagens que uma boa relação interpessoal nos traz (confiança, aceitação, entendimento, ajuda mútua, etc.), assim como as desvantagens de uma má ou estremecida relação com os demais (falta de adaptação, crises, fracassos, medos, desconfiança, etc.). Efetivamente, os conflitos conjugais, os problemas familiares, as discussões no trabalho, o estresse social, etc., são fruto de relações humanas mal levadas e, por conseqüência, doentias. São sinais, na maior parte dos casos, de uma existência frustrada e de uma vida infeliz. Ao contrário, as relações pacíficas, cheias de harmonia, respeito e afeição nos permitem viver melhor as diferentes etapas e situações de nossa vida, assim como capacita-nos para podermos levar a termo nosso próprio projeto de vida. Como diria o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, não somos como ouriços que quanto mais nos aproximamos mais nos ferimos, porém podemos e devemos fazer com que nossos relacionamentos sejam os melhores possíveis, tanto para nós como para os outros. Também não acredito que existam relacionamentos equivocados, pois de todas as pessoas podemos aprender algo, embora considere que existam pessoas cuja relação pode ser desafortunada ou contraproducente para nós, por terem uma intenção maliciosa ou porque possam nos
prejudicar a curto ou longo prazo em algum aspecto de nossa vida, de forma intencional ou não. Entretanto, existem outros tipos de relações humanas muito gratificantes que nos permitem transitar pela vida com uma maior auto-realização social. Mas, para que estas possam acontecer é preciso aprender a integrar três valores fundamentais: diálogo, autoconhecimento e entendimento.
Diálogo São muitos e bem diferentes os planos que norteiam a existência biográfica humana (biológico, afetivo, racional, social e espiritual), assim como os aspectos circunstanciais e culturais que influem no desenvolvimento vital da mesma. Não obstante, partindo desses princípios, devemos aprender a planejar nossa vida em relação aos outros, esforçando-nos para construirmos junto um futuro comum, justo e pacífico, evitando qualquer tipo de discriminação (ética, étnica, sexual, econômica, religiosa, etc.) e fomentando o respeito à dignidade de cada ser humano.
Considerando que não vivemos numa sociedade perfeita nem num mundo ideal, qualquer relação humana não está isenta de problemas, conflitos, riscos, possibilidades e responsabilidades. E todo pluralismo social exige certa dose de tolerância moral, ou seja, toda relação entre seres humanos deve almejar a ser, pelo menos, igualitária e respeitosa. Embora aceitar e respeitar as formas de pensar e de agir dos outros possa ser uma tarefa difícil. Entretanto, só o fato de tentar fazê-lo contribuirá notavelmente para a construção de uma sociedade mais livre e mais humana para todos. É indispensável saber relacionar-se. Por isso é importante resgatar o valor da palavra “diálogo”, não só como instrumento de conhecimento e de aproximação entre as pessoas, mas também como forma de respeitar os direitos humanos fundamentais de cada um. A atitude de diálogo nos permitirá, em muitos casos, saber escutar os outros, compreender suas razões, compará-las com as nossas, aceitar ou recusar dita forma de pensar alheia ou até transformar, de certo modo, nossa personalidade se descobrirmos que as razões vitais dos outros são tão válidas, boas ou úteis como as nossas. Negar-se a dialogar por manter atitudes egocêntricas, racistas ou não solidárias podem supor, em muitos casos, deixar a porta aberta à violência, ao desprezo, aos maus tratos e à falta de horizontes de sentido comuns.
Autoconhecimento Não pode haver uma verdadeira relação interpessoal se previamente não tem havido uma exploração de nosso autêntico “eu interno”, ou seja, se antes
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não tivermos feito o esforço de compreender e conhecer a imagem ou percepção que temos de nós mesmos. Se pretendemos conhecer-nos tal como somos na realidade, necessitamos analisar cuidadosa e continuamente os diferentes aspectos que configuram nossa maneira de pensar, sentir e atuar. E isso só é possível através da interiorização, isto é, pela busca de nosso ser interior. Já dizia Santo Agostinho eu sua obra “A Cidade de Deus”, que “a autoconsciência é a primeira certeza que temos”, pois é preciso partir dela para poder transcender nossa relação do plano intimista para o plano da alteridade. Também o manifesta em outra passagem da verdadeira religião: “Não busques fora de ti … entra em ti mesmo; a verdade encontra-se no interior da alma humana”. E parece que temos dedicado e investido grande quantidade de tempo e esforço em descobrir o mundo, em conquistar o universo, mas não temos tido o mesmo empenho em conhecer a nós mesmos. Assim, pois, cada um deve saber como é ou deveria ser para poder saber como são ou deveriam ser os outros. Não obstante, podemos ter uma imagem equivocada ou deformada de nós mesmos e dos outros, pois o ser humano tem uma capacidade estimativa e hermenêutica falível, ou seja, tem a possibilidade de errar ao imaginar ou considerar as coisas como não são na realidade. E isso ocorre também com as pessoas, pois frequentemente não conseguimos compreender como somos na realidade, ou o que podemos fazer, nem a nós nem aos outros. Mas apesar dessas dificuldades temos de aventurar-nos a nos conhecer, temos de atrever-nos a entrar em nós mesmos e averiguar quem somos realmente. Mas esta auto-exploração psicoemocional não deverá ser feita às pressas, mas da forma mais séria e adequada possível. Caso contrário, poderíamos transformá-la num jogo sem substância, em um entretenimento banal ou numa experiência não transcendente. Nosso “eu” interno pessoal merece toda nossa atenção e todo o nosso tempo e dedicação. O êxito de nossa vida social e o estabelecimento de relações maduras e satisfatórias dependerá, em grande medida, do nível ou grau de conhecimento que tenhamos de nós mesmos.
Entendimento Vivemos em sociedades abertas, diversas e plurais, com códigos morais variáveis, e a partir desta realidade caberia propor uma ética que evite os enfrentamentos, promova o diálogo e nos permita viver em paz uns com os outros. Entretanto, observamos formas de fanatismo cultural, de fundamentalismo político-religioso, de ideologias que tentam impor-se, dominar ou eliminar outras, de atitudes intolerantes e desrespeitosas com o ideal ético de um hipotético entendimento universal que deveria ser sustentado, pelo menos em alguns valores mínimos ou princípios morais básicos. Esta moral de mínimos baseada nos direitos humanos (respeito à vida, à liberdade, à igualdade, à justiça, etc.) e em repúdio a toda forma de violência ou de atentado contra a dignidade e a integridade de qualquer ser humano, é que pode garantir-nos uma convivência sadia e uma irmandade universal… Como habitamos num mundo cada vez mais interligado e interdependente, com pessoas muito diferentes pela sua procedência e maneira de viver, estamos obrigados a entender-nos, e a conviver da melhor maneira possível. E a primeira máxima para aprender a conviver é saber respeitar o mundo que temos e as pessoas que vivem nele. Os valores do respeito, do diálogo e do entendimento, representam os pontos angulares para uma ética comunitária que aspire a um encontro de identidades culturais pacífico e tolerante. Estes valores fomentarão, sem dúvida, a responsabilidade de forjar um mundo melhor para todos, isto é, uma humanidade onde impere o civismo e a concórdia. Mesmo que este ideal de entendimento global possa parecer utópico, dado o rastro pessimista que o ser humano vem deixando nos últimos séculos de sua história (injustiças, guerras, fome, pobreza, desigualdades, falta de solidariedade, intolerância, violência, etc.). Relacionar-nos-emos humanamente bem só quando partirmos destas premissas: saber dialogar, aprender a conhecer a nós mesmos e querer buscar um entendimento mútuo, seja entre duas ou mais pessoas, entre grupos sociais ou, do ponto de vista global, entre todas as culturas. Esta filosofia da fraternidade interpessoal e intercultural de todos para com todos é e deveria ser nossa meta moral mais elevada como pessoas e como sociedade que caminha para um futuro inexorável e incerto.
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LEITE MATERNO É FUNDAMENTAL PARA A SAÚDE DO BEBÊ DANIELA JOBST O leite materno é o alimento mais completo que existe e é muito importante para o desenvolvimento sadio do bebê. Fatores como a inteligência e a prevenção de doenças ao longo de nossas vidas estão ligados à amamentação materna que recebemos quando criança. Sua composição é específica e sutilmente modificada de acordo com a necessidade do lactente. Em todos os mamíferos, os nutrientes e, em especial, as proteínas do leite produzido, são para estimular, nesta espécie, o melhor crescimento e desenvolvimento orgânico e funcional. Quanto mais a tecnologia nos oferece mais conhecimentos específicos sobre a composição e as funções do leite materno, mais esforço é despendido em relação ao aleitamento materno pelo maior tempo possível, pelos quais já foram comprovados os inúmeros benefícios que isto trará para o resto da vida do bebê. O leite materno é um líquido rico em gordura, proteína, carboidratos, minerais, vitaminas, enzimas e imunoglobulinas que protegem contra várias doenças. Composto por 87% de água e 13% de uma poderosa combinação de elementos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da criança, a prepara adequadamente para aceitar e utilizar os alimentos que serão introduzidos gradualmente, a partir de um mecanismo imunológico perfeito, desenvolvido a partir das substâncias nele presentes. O leite humano também é rico em leucócitos e anticorpos que protegem o bebê contra infecções e alergias e possui fatores de crescimento que aceleram a maturação intestinal, também prevenindo alergias e intolerâncias. A vitamina A presente no leite materno previne e/ou reduz a gravidade de algumas infecções e previne doenças oculares causadas por sua deficiência. A grande quantidade de ácidos graxos de cadeia longa são importantes para o desenvolvimento e mielinização do cérebro. Os ácidos araquidônico e linoléico, fundamentais na síntese de prostaglandinas, existem em maiores concentrações no leite humano do que no leite de vaca. O principal açúcar do leite materno é a lactose, porém, mais de 30 açúcares já foram identificados no leite humano, como a galactose, frutose e oligossacarídeos, com ação bifidogênica comprovadamente muito maior do que os do leite de vaca. É ideal que se amamente o bebê até que complete 6 meses de idade, o que traz benefícios não só à criança, mas para a mãe também, que tem o risco reduzido de contrair câncer de mama e ovário e volta ao peso normal mais rapidamente. Em um estudo em Cambridge, Reino Unido, com 926 bebês que foram acompanhados por 5 anos, foi demonstrado que quanto maior o tempo de consumo do leite materno, maior o nível de mineralização óssea aos 5 anos, com uma diferença de até 38% em relação aos que receberam fórmulas infantis, apesar das mesmas terem uma proporção maior de cálcio. Fonte: Support Produtos Nutricionais
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SILÊNCIO DEOLINO PEDRO BALDISSERA
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á uma canção do Padre Zezinho que começa assim: “O silêncio está cantando uma canção de amor e paz…”. Fico pensando quanta gente gostaria que isso fosse verdade. No lusco-fusco de cada manhã que renasce ao sair da noite, o vozerio do novo dia vai tomando conta de todos os cantos e no seu ritmo nós entramos na dança pela sobrevivência correndo atrás da condução para chegar ao trabalho, para não atrasar na escola, e subindo e descendo escadas vamos meio ofegantes para o nosso compromisso. E assim, na correria do sobe e desce, amenizada um pouco pelo fone de ouvido que repassa os sons do MP3 com nossas músicas preferidas, vamos levando a vida. O silêncio vai ficando longe, perdido no barulho do atropelo que se impõe. Ouvir o silêncio de amor e paz como queria o Padre Zezinho não dá, sem chance! Não é fácil para as pessoas silenciarem para ouvir aquela canção. Os ruídos tomam conta das ruas, das casas, de todos os lugares. Muita gritaria e pouco silêncio.
Na verdade, fazer silêncio é muito exigente. Ele costuma acordar os problemas adormecidos e aí os incômodos de tal situação geram muita tensão. Por isso “melhor nem pensar”, assim fazemos de conta que eles não existem e tudo bem. Quando se faz silêncio dá-se espaço para as vozes internas, a mente se agita e o coração se inquieta e a paz pode ir logo para a dispersão! Nem todos estão dispostos a ouvir o que o silêncio interior tem a dizer. No entanto, é preciso silenciar! Sem ele a vida passa e não a percebemos.
Se não ouvimos a voz do silêncio corremos riscos de não saber para que existimos e por quê vivemos. A vida assim pode ficar sem paz e sem amor! Por isso silenciar é preciso! Como chegar lá, eis o desafio. Na verdade, parece que temos medo do silêncio. Quem o teme? Os amantes do barulho? Os sem-tempo? Os desocupados? Talvez nós temamos um pouco, e por isso o evitamos. Contudo, é através dele que temos a chance de alcançar as profundezas de nosso ser e entender nossas perguntas ou ao menos perceber para onde elas apontam ou querem nos levar. Ninguém pode experimentar suas profundezas se não fizer silêncio fora e dentro! É no silêncio que se abre o espaço para as diferentes “canções” presentes no coro das vozes surdas do coração. Por isso experimente, faça um pouco de silêncio e descubra qual a canção que ele canta! Muito silêncio para você e cante sua canção de amor e paz! Deolino Pedro Baldissera é padre, psicólogo e professor.
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP
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