icaps-273

Page 1

Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética abril de 2009 Ano XXVI – no 273 Província Camiliana Brasileira

❒ Pastoral

❒ bioética

❒ humanização

ORAR COMO AGENTE DE PASTORAL DA SAÚDE FRANCISCO ALVAREZ

N

a espera de um ulterior desenvol­ vimento, orar como agente de Pastoral da Saúde pode entender-se aproximadamente assim: • O mundo da saúde e da doença cir­ cula, de alguma forma, pelas veias do agente. Seu ministério concreto leva à oração e esta, por sua vez, ao ministério. Na oração estão presentes o sofredor, o doente, o moribundo…, como memória e estímulo, como destinatários de uma súplica solidária. • A oração litúrgica da Igreja, sem perder nada de sua universalidade, se traduz e se encarna. Na Eucaristia po­ de-se ver presente o leito do doente; o culto a Deus passa pelo serviço. No pão que se parte pode-se ver o Samaritano que se entrega. A vítima que se oferece reúne em si o sofrimento solidário de muitos. Nos doentes dos salmos encon­ tra rostos conhecidos… • Na oração, cada um ao seu modo, o agente de pastoral reúne alegrias e tris­ tezas, a solidariedade que cura e salva e o desejo de viver daqueles que sentem a ameaça da morte. A oração do agente é uma oração “interessada”. • Na oração descobre que o enfer­ mo representa para ele uma fonte e um alimento de oração e de espiritualida­ de. Amado por si mesmo o enfermo se transforma em epifania (manifestação) de Deus e, ao mesmo tempo, em “pro­ feta” que sacode suas falsas seguranças e que o adverte do perigo de que o culto pode ser vazio. • O Cristo do agente de Pastoral da Saúde não pode ser outro que não o Cristo misericordioso: terapeuta que cura a partir da experiência de suas feridas e que, com

o dom de sua vida, oferece saúde a todos. Um Cristo, pois, solidário e saudável. • Na vida de oração do agente a cruz ocupa um lugar relevante. Sabe renun­ ciar posições acomodadas e privilegia­ das. Sua ação consiste em compartilhar sofrimentos alheios, ansiedades e espe­ ras intermináveis. Consiste também em viver constantemente a falta de seguran­ ça, de gratificações e respostas. Enfim, sua missão dar-se para que o próprio ministério seja saudável.

Orar a vida Com a expressão orar a vida, que foi muito usada após o Concílio Vaticano II, com certeza não se quer dizer, como se tem afirmado constantemente, que na vida do agente de pastoral tudo seja ora­ ção. Isto, como acredita a experiência, não tem redundado em benefício nem do apostolado nem da vida interior. No encontro de Deus com o homem orar a vida significa antes de tudo que a ora­ ção é um acontecimento no qual não há sentido algum prescindir do sujeito. Por isso, a vida é um cenário e também o centro do encontro. Ora-se pela vida, na vida e com a vida. Destaquemos três conseqüências importantes para a vida interior do agente de Pastoral da Saúde: • Para orar a vida é preciso antes de tudo levar a vida a sério. Viemos de uma longa tradição que não favorecia o sentido de totalidade da oração (nem da espiritualidade). Sempre havia algo que devia ficar fora do tempo e dos espaços de intimidade com o Senhor. Tinha que combater as distrações como inimigas do encontro com Deus. Não menos sus­

peito era o mundo dos afetos, dos sen­ timentos e das emoções. Esquecendo-se da sabedoria e da experiência de gran­ des oradores (por exemplo, Santo Iná­ cio e Santa Tereza), inclusive o corpo tinha que ser dominado mais que inclu­ ído no encontro. A oração é, por sua vez, um exer­ cício estupendo cujo valor saudável depende em boa medida de sua capa­ cidade de ajudar-nos a valorizar a vida inteira. Orar significa, de fato, aprender a acolher a si mesmo, o próprio corpo, com todos os seus limites e possibilida­ des, como dom vindo de outros (antes de tudo de Deus), para poder viver a si mesmo como obra boa, em homenagem a Deus, origem e consistência última de toda realidade, o qual, olhando-nos com bons olhos, viu que tudo era bom. Um sentido equivocado ou doentio de humildade, freqüentemente acompa­ nhado de sentimentos de indignação, encontra-se na origem de experiências patológicas e até de abandono progres­ sivo da oração. Não é fácil, por exem­ plo, dirigir-se a Deus quando se tem uma baixa auto-estima. O encontro se dá necessariamente a partir do próprio corpo. Oramos com o corpo, tomando posse dele, vivendo-o lucidamente, escutando seu silêncio e suas mensagens tranqüilizadoras ou preocupantes, aprendendo a respeitá-lo e amá-lo, dando graças por cada bati­ da do coração e por cada despertar, tornando-o cada vez mais instrumento da misericórdia de Cristo… Na oração, assim vivida, aprendemos a tornar-nos cada vez mais sensíveis ao que sucede no corpo dos doentes, a humanizar o en­


Ano XXVI – no 273 – abril de 2009 – boletim ICAPS

2

contro com eles e a glorificar a Deus no corpo ferido pela doença. Nosso minis­ tério se desenvolve precisamente num mundo onde o corpo tem uma especial relevância e significado. A oração nunca pode ser estranha ao que poderíamos chamar de “espaço vital” do indivíduo (e da comunidade). Cada um tem o seu. Normalmente está constituído por todos aqueles pontos de referência vitais através dos quais se vai evoluindo a própria existência. Para o agente de Pastoral da Saúde, um desses pontos de referência é (ou deveria ser) o mundo da saúde e da doença. Isto é: a re­ alidade e as experiências que aí se vivem, a própria implicação (seja qual for), os sentimentos e atitudes, as opções, a gene­ rosidade e a mediocridade, os rostos co­ nhecidos, o mistério que nos envolve… Orar pela vida, a partir dessa perspec­ tiva, significa, por um lado, aprender a ver este mundo com um olhar diferente: não só como o lugar onde se desenvolve uma profissão, mas também como mediação espiritual, onde o agente de pas­ toral vive e expressa sua relação pesso­ al com Deus, e aonde vai configurando sua existência a Cristo misericordioso. Por outro lado, quer dizer que na oração (pessoal ou comunitária) este mundo é uma presença habitual, mesmo que não possa sê-lo sempre de modo explícito e verbalizado. O agente de pastoral, apai­ xonado e aliado da vida, acolhe, distin­ gue, apresenta, celebra, agradece… o que acontece nesse espaço vital.

Orar como Cristo misericordioso

expediente

Por tradição e por espiritualidade, todo bom agente de Pastoral da Saúde se identifica com o bom samaritano e acolhe como dirigidas a ele as últimas palavras da parábola: “Vá e faça tam-

bém o mesmo”. Não está, por sua vez, acostumado a ver-se no lugar do ferido do caminho, e talvez ainda menos fami­ liarizado com a imagem do bom Sama­ ritano que ora. No entanto, o ideal do agente de pastoral consiste obviamente em servir como Cristo, mas, com igual razão, não nos esqueçamos, reside também em orar como Ele. Por quê? Em primeiro lugar porque o serviço prestado pelo agente não consiste unicamente em fazer, mas em um modo de imitar, o qual não é possível se a própria vida não vai adqui­ rindo o perfil de Cristo. Daí o sentido de totalidade do ministério: este, mais do que a ordem do fazer, há de inserirse no ser da pessoa, ou seja, como um prolongamento de sua interioridade, de sua pobreza ou riqueza íntima. Uma se­ gunda razão: Orar é um modo excelente de servir. Prestemos um pouco de aten­ ção neste último aspecto, especialmente importante em nossos dias. Cristo certamente orou ao Pai, su­ plicando e dando graças, pelos pobres, pelos doentes e também pelos mortos (como no caso de seu amigo Lázaro). Então, sem diminuir nem um pouco a importância desta atitude de Cristo, é ainda mais necessário constatar que sua comunhão com o Pai, a identifica­ ção com seu amor e com seu plano de salvação, se realizavam também – e de forma especial – a partir dos últimos. Ou seja, no serviço. Nessa escola o agente de pasto­ ral aprende que sua oração o levará a tornar seus os sentimentos e atitudes de Cristo. E irá se familiarizan­ do com algumas convicções básicas. Por exemplo, no horizonte habitual da relação de Cristo com o Pai esta­ vam sempre expressões como estas: “para isto eu vim: para os doentes, não para os sãos”, “para servir e não

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e Bioética – Província Ca­miliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos

Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 2914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

para ser servido”, “feliz é aquele que não se escandaliza de mim”. E como não descobrir na confissão de Jesus “por isso o Pai me ama, porque entrego minha vida… ninguém tira-a de mim, mas a entrego por mim mesmo” o momento culminante da comunhão de Cristo com o Pai? Comunhão, pois, a partir do oferecimento da própria vida, como o Pai teria feito no lugar do Filho. Que outra coisa pode signi­ ficar orar como Cristo misericordioso senão o adentrar-se por esta via de co­ munhão? Orar assim pode significar, por exem­ plo, orar “a partir de baixo”, onde se encontram os doentes e aqueles que so­ frem, encontrar Deus no fundo do poço da miséria humana, o rosto de Cristo nas periferias da exclusão, estar dispostos a dar vida sacrificando algo de sua própria no fogo lento do serviço diário…

Orar deixando-se curar Finalmente, quem vai acolhendo a graça de orar como Cristo miseri­ cordioso pode encontrar aí uma fonte inesgotável de experiências saudáveis. Bastam alguns exemplos. A sua será sempre a oração de alguém que vai conseguindo (ainda que custosamen­ te) centrar e unificar sua vida, que vai conquistando novos espaços de liber­ dade, tendo relações sãs e curadoras, enamorando-se cada vez mais pela vida sobretudo nas pequenas coisas, tantas vezes ignoradas ou deprecia­ das. Quem ora assim acaba deixando um rastro saudável por onde passa. O serviço à saúde e aos doentes precisa de homens e mulheres que tirem da oração e da liturgia sua força terapêu­ tica e saudável. Em nosso ministério pastoral, como na vida em geral, nin­ guém pode dar o que não tem. Assinatura: O valor de R$15,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


Ano XXVI – no 273 – abril de 2009 – boletim ICAPS

3

A UNÇÃO DOS ENFERMOS CONTINUA EXTREMA ANÍSIO BALDESSIN

N

o dia 07 de dezembro de 1972, sob as orientações do concílio Vaticano II, foi publicado o novo ritual da Igreja sobre o sacramento da Unção dos Enfermos. Assim declarou o concí­ lio: “A Unção dos Enfermos não é um sacramento apenas para aqueles que se encontram às portas da morte. Portanto, já é oportuno recebê-lo quando o fiel co­ meça a correr ‘risco’ de vida provocado por doença ou mesmo por velhice”. Esta afirmação faz sentido uma vez que o Sacramento da Unção dos Enfer­ mos têm o propósito de ajudar as pes­ soas atingidas por limitações físicas a superarem os momentos de desâni­ mo e de revolta, apelando para a fé e convidando-as a viver de maneira cristã seu estado de enfermidade durante um período de sua vida. Ou seja, deixar de ser Extrema Unção e se tornar Unção dos Enfermos. Aliás, é muito comum ouvir nas pregações dos bispos, padres, religiosos e leigos engajados a seguinte expressão: “Não existe mais a Extrema Unção, agora é Unção dos Enfermos”. Porém a prática mostra exatamente o contrário: após quase trinta e sete anos da elaboração das novas orientações sobre este sacramento, na prática, per­ mita-me aqui um trocadilho, a Unção continua extrema.

A teoria e a prática A velha mentalidade enraizada na pastoral tradicional ainda não foi total­ mente superada. Pois a maioria dos católicos espera para chamar o padre quando o doente entra em estado de inconsciência. Muitas vezes, o argu­ mento usado é que o doente poderia se assustar com a presença do padre. Alguns pedem para o padre visitar o doente no hospital ou em casa. Mas, o próprio padre pergunta se o doente está

morrendo. Se não estiver morrendo não precisa se apressar. Desde que fui ordenado padre sem­ pre atuei como capelão hospitalar em tempo integral. Durante esse período, além de prestar assistência religiosa diariamente num hospital, de vez em quando recebo pedidos para atender pacientes em outros hospitais. Além disso, profiro palestras de pastoral da saúde para visitadores de doentes e mi­ nistros da eucaristia. Dentre as muitas queixas que ouço nos cursos pastorais a respeito da unção a mais freqüente é aquela que diz que o padre (pároco) não visita os doentes. Na melhor das hipóteses vai visitá-lo quando o paciente está morrendo, em situação extrema. Até mesmo dentro do hospital quando alguém pede a unção para um doente, por força do hábito, os que atendem ao pedido interrogam se o doente está muito grave. Ou seja, em situação extrema. Passar nas Unidades de Terapia In­ tensiva (UTI) faz parte da rotina de um

capelão que atua diariamente no hospi­ tal. Porém, quando passo por esse setor e encontro um funcionário desconhe­ cido a pergunta é inevitável: “padre, o senhor veio visitar algum paciente em especial? E ainda afirma, “nossos pa­ cientes estão todos bem”. Porém, a reação de maior espan­ to frente a presença do padre acontece quando sou solicitado para atender um doente onde não existe trabalho de ca­ pelania e assistência espiritual aos doen­ tes. Quando chego, todos, profissionais e familiares imediatamente se assustam. Eles me olham com aquela cara onde está estampado: alguém vai morrer. O padre chegou! E o pior é que vai morrer mesmo. Pois se assim não fosse, dificil­ mente eu iria me dirigir apressadamente àquele hospital. Tal atitude, mais uma vez, comprova que a unção continua e vai continuar sendo, por um bom tem­ po, a temida Extrema Unção. Anísio Baldessin, padre camiliano, capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP.


Ano XXVI – no 273 – abril de 2009 – boletim ICAPS

4

DÊ UM BASTA NO MAU HÁLITO FERNANDA DANTAS

T

udo começa quando a pessoa se sen­ te excluída ou percebe que os outros se afastam tão logo ela ouse abrir a boca. A dificuldade de relacionamento social é apenas um dos problemas enfrentados pelos portadores de halitose – popular­ mente conhecida como mau hálito, um problema que aflige mais de 50 milhões de brasileiros que, por falta de informa­ ção ou preconceito, não buscam trata­ mento adequado. “Todo mundo acorda com mau hálito. Esse sintoma é fisioló­ gico. Apenas aqueles que apresentam ha­ litose após a higiene bucal ou a ingestão de alimentos é que devem se preocupar e procurar a orientação médica” – tranqüi­ liza a dentista Rosiene Lima Fagundes, especialista em Estomatologia e mem­ bro da ABPO (Associação Brasileira de Pesquisa e Estudo dos Odores da Boca). O mau hálito pode ser causado por dezenas de motivos. Entre os mais im­ portantes destacam-se os problemas bu­ cais, como a baixa produção de saliva, doenças da gengiva e falta de higiene oral. Para quem estranhou a ausência de fatores estomacais nessa lista, Dra. Rosiene explica que relacionar a halito­ se a problemas no estômago é um mito. “Há uma “válvula” entre o estômago e o esôfago que se fecha quando o alimento passa. Qualquer odor que tenha origem no estômago só vai ser sentido se houver uma eliminação de gases ou refluxo gás­ trico. Mesmo assim, o mau hálito, nesses casos, é temporário e absolutamente nor­ mal” – explica a dentista. A baixa produção de saliva – ou a xerostomia, como é chamada cientifica­ mente – é uma das principais causas da halitose. Isso porque a saliva possui papel muito importante na higiene bucal. “Ela lubrifica a boca e remove restos alimen­ tares. Se a pessoa tem uma boa salivação, dificilmente terá mau hálito” – garante.

Mas por que uma pessoa pode apre­ sentar baixa produção de saliva? Como boa parte das doenças contemporâneas o estresse é um dos principais vilões. Para Dra. Rosiene, ele interfere diretamente na saúde bucal, pois os estressados têm menos tempo para se dedicar à sua quali­ dade de vida, distanciando-se de hábitos saudáveis e descuidando do consumo de alimentos que beneficiam a saúde como um todo. Além disso, o estresse contribui diretamente para o desequilíbrio orgâni­ co. “O mau hálito é sinal de que algo no organismo está em desequilíbrio, e isso deve ser detectado, diagnosticado e tra­ tado” – adverte Dra. Rosiene. A saburra lingual – uma placa bacte­ riana branca ou amarelada que se forma na parte superior da língua – também é uma causa importante do mau hálito. Esta placa é normalmente produzida quando a higiene oral não é satisfatória e pode desencadear doenças bucais, que, se não forem controladas, podem levar a infecções mais graves. Ajuda anônima – esclarecer a popula­ ção sobre as causas da halitose e seus pos­ síveis tratamentos é o principal objetivo da ABPO, que inclui entre suas atividades a função de entrar em contato com pa­ cientes que apresentem mau hálito. Este trabalho envolve muito critério e dedica­ ção por parte dos profissionais, pois eles sabem que fatores psicológicos e emocio­ nais são traumatizantes para os pacientes, além de representarem um empecilho sig­ nificativo na busca por tratamentos. O serviço da ABPO, denominado Clique mau hálito, recebe “denúncias” de usuários que não têm intimidade e co­ ragem para avisar um amigo ou familiar da existência do mau hálito. “O serviço ajuda muito as pessoas que não sabem como avisar um portador, pois elas nos avisam sobre o portador do problema, ficando no anonimato. Enquanto isso, o paciente recebe a orientação necessária, com muita ética e discernimento, para procurar um tratamento específico para seu caso” – garante Dra. Rosiene. Depois que esse primeiro passo é dado e o paciente procura orientação

médica, o dentista realiza exames clíni­ cos e aplica questionários para avaliar o grau de halitose e investigar suas possí­ veis causas. “Hoje existem exames mais específicos que avaliam a quantidade e a qualidade da saliva. Outro exame, a ha­ liometria, verifica a intensidade do mau hálito e a qualidade do ar que a pessoa expira” – explica a especialista, lembran­ do que entre as formas de prevenção ao problema estão uma higiene bucal bem feita, visitas periódicas ao dentista e in­ gestão de alimentos saudáveis.

Formas de prevenção • Beba de 2 a 3 litros de líquido por dia, pois isso aumenta a salivação e hidra­ ta o organismo e a boca, prevenindo a produção de placa bacteriana. • Visite regularmente o dentista para tratar da sua saúde bucal. • Não fique longos períodos em je­ jum. Faça intervalos entre as refei­ ções de, no máximo, 3 ou 4 horas. • Não utilize enxaguantes bucais com álcool, que ressecam a boca e indu­ zem a formação de placa bacteriana. • Coma alimentos mais duros e fibrosos, como frutas, pois fazem com que a glândula salivar produza mais saliva. • Controle seu nível de estresse. • Artigo extraído da Revista Família Cristã – novembro 2004


Ano XXVI – no 273 – abril de 2009 – boletim ICAPS

5

QUEM EXPLICA A MORTE?

O OLHAR DE JESUS

ODILO PEDRO SHERER

ALEXANDRE ANDRADE MARTINS

O

pensamento da morte assusta, tal­ vez por causa da dor e angústia que, geralmente, a acompanham, talvez por causa dos apegos que temos àquilo que julgamos ser nosso, pessoas queri­ das, o mundo que vamos construindo, os sonhos e projetos que temos… Não pedimos para nascer mas gostamos de viver; de repente, sem nossa decisão e vontade, temos que deixar de novo este mundo. Diante da morte, percebemos o mistério da vida. Pretensão e sober­ ba humana é achar que sabemos tudo, podemos dar um sentido a tudo por nós mesmos e somos senhores da vida e da morte. Recebemos a vida gratuitamente, vivemos por um instante, somos parte de uma realidade que é maior que nós, que não precisa de nós e, sem nós, continua a existir. Custa-nos aceitar nossa finitu­ de. No entanto, aquilo que mais apavora é a pergunta sobre o “depois da morte”. É difícil conformar-se com a pers­ pectiva de uma total aniquilação da nossa existência. Somos feitos para vi­ ver e, por mais dificuldades que a vida enfrente, é bom viver! A vida é projeto, é descoberta, é realização. Viver é cons­ ciência, morrer é mergulhar no nada. E então vem a suspeita que a vida seja apenas um sonho impossível, um enga­ no, que deixa frustradas as aspirações mais profundas do ser humano… Há quem tire logo as conseqüências e diga: Não vale a pena viver, a vida não tem sentido, ainda mais, se é mar­ cada pelo sofrimento. Muito antes de nós, a Bíblia já recolheu essa conclusão apressada e pragmática de quem não tem esperança: comamos e bebamos,

divirtamos-nos, aproveitemos esse instante fugaz, pois nada mais haverá depois. Amanhã morreremos certamente (Sb 2). Vem também a tentação de sair da passividade e de tomar de­ cisões radicais para si e para os outros sobre vidas que valem a pena e vidas que não valem a pena ser vividas. Cálculos frios e utilitaristas, então, excluem vidas com sofrimento, improdutivas e onerosas para a sociedade, ou sem certos “padrões de qualidade” definidos pelo interesse dos saudáveis e fortes. A morte se torna banal e a existência banalizada. O Livro Sagrado chama tudo isso de insensatez e falta daquela sabe­ doria, que vem do santo temor de Deus (Sb 3). A inteligência humana consegue explicar muitas coisas mas, sem a ajuda de Deus, não consegue encontrar uma ra­ zão suficiente ao mistério da existência. Sozinhos, podemos ser levados a conclu­ sões falsas sobre aquilo que nós mesmos não fizemos. Precisamos conhecer o de­ sígnio de Deus sobre nós e o mundo. Não é por nada que se relaciona, qua­ se sempre, a morte com ritos e expres­ sões religiosas, mesmo quando não há fé. É a tentativa espontânea de entrar no mistério, para conhecer seu sentido. A morte nos supera e precisamos achar seu sentido a partir da sabedoria do Criador. Deus não nos fez para a morte, mas para a vida. A centelha de vida que colocou em nós não é enganosa, nem desejo im­ possível. Deus leva a sério sua obra e não quer frustrar o desejo de viver do nosso coração. A Bíblia é contra o pessimismo e o pensamento negativo em relação à vida e ao nosso futuro. É por uma ques­ tão de justiça e fidelidade de Deus: “não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, mas a justiça é imortal” (Sb 1,14). Deus é fiel e justo. Esta é a razão mais profunda para a serenidade e a esperança diante da vida e da morte. Odilo Pedro Scherer é Cardeal Arcebispo de São Paulo.

Expressar a riqueza dos ensinamentos de Jesus é uma tarefa quase impossível. Por mais palavras que se utilize, sempre ficará aquém da mensagem de Jesus. Assim sendo, neste pequeno artigo abordarei um aspecto da transformação do ver o ser humano provocado pelas atitudes e palavras de Jesus de Nazaré. Ficaremos somente com o aspecto do olhar de Jesus que leva a um novo olhar (o nosso) e resgata o ser humano da situação de excluído do amor misericordioso de Deus. No tempo de Jesus os pequeninos (entendido no sentido amplo do termo para o evangelho) eram simplesmente colocados à margem da sociedade, obrigados a viverem no submundo da miséria e da humilhação. Eles (os pequeninos) não podiam ascender socialmente e voltar para uma situação de vida digna, pois estavam assim devido ao pecado cuja conseqüência era a doença, a pobreza… Se estava doente, a pessoa não tinha valor, se fosse pobre nada podia ser feito, pois segundo o pensamento da época Deus quis assim. Nesse contexto, Jesus, por opção, escolhe viver para promover vida digna para os pequeninos. Seu olhar é novo e provoca uma ruptura com a mentalidade da época. O olhar de Jesus é o olhar daquele que ama e enxerga o ser humano como ele é. Ou seja, com suas fragilidades, limitações, mas principalmente com suas qualidades. Um olhar que não julga, nem condena, apenas ama, perdoa e acolhe. Na sua ação, movido por compaixão, Jesus tem um olhar especial para os doentes. Mais do que qualquer milagre, seu jeito de amar e acolher o outro na sua fragilidade mostra claramente como o ser humano deveria ser tratado. Jesus nos ensinou um novo jeito de olhar para o outro, sobretudo os mais fragilizados. Ensinou, viveu e testemunhou. Mas, infelizmente a humanidade pouco aprendeu com Jesus. Porém, a esperança não pode acabar, pois Cristo ressuscitado caminha conosco fortalecendo todos aqueles que lutam por sua causa de misericórdia e compaixão. Se voltarmos um pouco na história veremos que é possível viver como Cristo nos ensinou. Afinal, muitas pessoas seguiram seus ensinamentos. Dentre elas podemos citar Francisco de Assis, que quando descobriu o amor de Cristo, deixou tudo para se dedicar única e exclusivamente aos mais pobres olhando para eles com amor. Temos também São Camilo de Léllis, que depois de uma vida desregrada descobriu sua missão junto aos doentes inspirado nas palavras de Jesus: “estive enfermo e me visitastes” (Mt 25, 36). Não há dúvida que olhar para o outro com o olhar de Jesus é um desafio para todos os cristãos. Pois ele pede que nós olhemos para os nossos irmãos com um olhar diferente daquele que o mundo tem. Por isso, devemos fazer o mesmo pedido que fez o cego Bartimeu: “Senhor eu quero ver de novo” (Mc 10,46-52). Isto é, ver o mundo (outro) com o olhar de Jesus. Isso porque muitas vezes nós colocamos os “óculos de Deus” e julgamos. Mas, esquecemos de colocar o Seu “coração” que sabe olhar o outro com amor. Alexandre Andrade Martins, religioso camiliano, é estudante de teologia e atua como agente de pastoral no Hospital das Clínicas da FUMSP.


Ano XXVI – no 273 – abril de 2009 – boletim ICAPS

6

SAÚDE E DINHEIRO WILSON JOÃO

T

er saúde é uma beleza! Nada de do­ res. Nada de remédios. Nada de de­ pendência de médicos. Sempre disposi­ ção. Sempre de bem com a vida. Comer e beber sem dietas. Dormir tranqüilo. Presença total no trabalho. Quem não deseja uma vida assim? Ter dinheiro é uma beleza! Nada de medir. Ter dinheiro para a comida que se quiser. Dispor de dinheiro para ter a casa e o carro que se quer. Dispor de di­ nheiro para roupas, viagens e férias que se planeja. Não ficar medindo o dinhei­ ro para comprar o que se precisa, e até dar-se o luxo de caprichos pessoais, é uma liberdade que o dinheiro pode dar. Mas… existe sempre um “mas”. Que pode estragar toda essa tranqüilidade e combinação de saúde e dinheiro. É comum perder a saúde para ter dinheiro. Trabalha-se para amontoar di­ nheiro. Dispensa-se o descanso. Forçase o corpo e a mente. Toma-se como lema: “a vida é trabalhar”. Para esse tipo de gente o que importa é ganhar dinhei­ ro. O final de semana é sacrificado. Uma fruteira é suficiente para se viver bem. Mas a ganância faz adquirir outra mais e mais outra. Já não se dorme bem. Já não se faz refeições com tranqüilidade.

É preciso correr. É preciso dar conta. É preciso ser eficiente. Em nome da efici­ ência, da necessidade de produzir, sacri­ fica-se o bem estar e a saúde. Perde-se a saúde para ter dinheiro, conta bancá­ ria, bens desnecessários. Mas, é preciso trabalhar! E vêm os problemas. Vem o cansaço, o esgotamento, a depressão e a doença. E para que serve o dinheiro? É comum gastar o dinheiro para ter saúde. Na verdade, é uma ignorância, mas é o que acontece. Quantas pessoas dedicam tempo e saúde, simplesmente, para o progresso econômico. E no final da vida, ou mesmo em situações de doen­ ças inesperadas, surge o triste sentimen­ to de mágoa que expressa nessa frase: “Eu só trabalhei, trabalhei, e vejam em que estado me encontro!” E como um condutor de água de uma represa, lá vai sendo gasto todo o dinheiro que se ga­ nhou, gastando a saúde. A sabedoria da vida vem sussurrando ao da gente, como lembrança não escutada: “não perca a saúde para fazer dinheiro, para depois não perder o dinheiro para ter saúde”. É preciso globalizar a vida. A vida não é só trabalho e nem só vagabunda­ gem. Somos mais que uma máquina de produção para amontoar dinheiro. A de­

cepção das pessoas ricas é perceber que são tão pobres que somente têm dinheiro. A vida é soma de trabalho, lazer, espiri­ tualidade, estudo, convivência, presente e futuro. Chegar ao final da vida e poder dizer “estou realizado” é a sensação de quem não passou em vão por este mun­ do, porque pisou na olhando o céu. Artigo extraído do Jornal Correio Riograndense Março 2007.

AVISO AOS ASSINANTES DO ICAPS Comunicamos aos assinantes do boletim ICAPS que a partir de março o custo para assinar ou renovar a assinatura do boletim passará de R$ 13.00 (treze reais) para R$ 15.00 (quinze reais). O reajuste se deve ao aumento no preço do correio e impressão do boletim.

Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP

IMPRESSO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.