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Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética junho de 2009 Ano XXVI – no 275 Província Camiliana Brasileira

❒ Pastoral

❒ bioética

❒ humanização

OS DESAFIOS DA PASTORAL DA SAÚDE NO MUNDO ATUAL JOSÉ MEDRADO

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s agentes da evangelização no mundo da saúde devem começar por situar-se eles mesmos, isto é, saber aonde se encontram, qual é o ambiente no qual irão trabalhar. Para isso devem ter presente alguns desafios que irão enfrentar no atual contexto de evangelização. Secularização da medicina Acontece com a conseqüente perda da mística e capacidade de atração para os agentes de saúde. Hoje, nem todos têm a preocupação de cuidar do doente por vocação ou por missão, mas por outros motivos.

Desumanização da medicina Existe uma hipertrofia (aumento) técnica. O homem tem sido afastado pela máquina, criou-se uma mentalidade técnica onde o impessoal, o estresse e o sentir-se um robô impedem a

aproximação ao doente e realizar uma assistência integral. A assistência está se tornando cada vez mais técnica e menos humana.

Falta de preparação ética dos profissionais Incide em critérios negativos sobre temas tão importantes para a vida como a genética, a eutanásia, o aborto, a morte. Ou temas que derivam da profissão: a responsabilidade, o respeito, a justiça, a lealdade.

Envelhecimento do pessoal religioso Ocorre na maioria dos institutos com a conseqüente retirada dos postos de trabalho. A rápida e profunda troca que tem acontecido na assistência à saúde e

a falta de adaptação ao mesmo ritmo e nível por parte de muitos institutos religiosos de saúde; tem faltado um salto de qualidade para saber acompanhar as novas exigências de saúde. Este aspecto negativo num grupo importante como é a vida religiosa incide depois na pastoral também.

Vocação Sentir-se chamado a evangelizar este setor do mundo da saúde. Não serve só o mandato, o envio; é necessário que o evangelizador se sinta atraído, vocacionado. A partir da “vocação” nascerá depois um grande desejo de preparação, de estudo, de preocupação, de entusiasmo. Se não há ardor, é difícil a integração e a organização pastoral; caminha-se para a “manutenção” e não para a criatividade e menos ainda para a profecia.


Ano XXVI – no 275 – junho de 2009 – boletim ICAPS

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Todos responsáveis O Concílio Vaticano II pede aos bispos e aos sacerdotes que “cuidem dos enfermos e moribundos, visitando-os e animando-os no Senhor”. O Direito Canônico (Can. 519,1), lembra aos párocos o dever de assistir aos doentes e fazê-lo com generosa caridade. Esta solicitude pastoral é lembrada pela Igreja em seus documentos, em especial a Exortação Apostólica Cristifideles laici nº 53 e 54, e em numerosas mensagens da Jornada Mundial do Enfermo. Destacamos alguns em particular:

O capelão É o pastor, o servidor da Palavra (EN 6), testemunha qualificada na caridade: acolhe, dialoga, serve. Não é um “funcionário”, mas uma testemunha da fé que ilumina, estimula, coordena e transmite esperança. A comunidade religiosa Os religiosos, pela sua consagração, são um meio privilegiado e eficaz de evangelização (EN 69). Mais que diretores e organizadores técnicos, os religiosos devem ser: animadores do Espírito; colaboradores eficazes e responsáveis do serviço pastoral; testemunhas da especial solicitude e dedicação aos doentes; respeitosos com os doentes, família e colegas de trabalho.

Os leigos

expediente

Toda a Igreja é enviada a evangelizar. A missão é de todos (MT. 28; Ad Gentes, 1 e 35; LG. 5; EN 13 e 14). Os leigos estão no coração do mundo e à frente de variadas realidades temporais, devem exercer uma forma singular de evangelização (EN 70; AA, 5-8). O desafio das pessoas é grande. Um projeto pastoral deve estar atento ao pastor, ao agente de pastoral. A pastoral, a

evangelização e o apostolado valem o que vale o pastor, o evangelizador, o apóstolo.

A formação É difícil realizar hoje uma nova evangelização, segundo o critério que estamos indicando, se os agentes não possuem uma formação pastoral de base e se esta não se atualiza periodicamente. O Concílio Vaticano II tem insistido muito nesta formação pastoral, e indica que todos os outros aspectos da formação devem estar dirigidos à finalidade pastoral. Os meios para esta formação hoje são muito variados; forma-se a partir da experiência, da inserção em atividades pastorais onde existe uma boa organização, coordenação e avaliação; esta é uma cátedra muito importante. Forma-se um agente assistindo a lições de bons mestres, cursos, encontros, semanas de reflexão. Para a formação na pastoral da saúde com os graus acadêmicos de Licenciatura e Doutorado em Teologia Pastoral da Saúde existe no mundo só um Centro, o Camillianum, em Roma, dirigido pelos padres Camilianos. Felizmente também estão nascendo em muitas nações escolas e centros de pastoral da saúde e igualmente este tema está se integrando nos seminários e institutos de pastoral. O agente de pastoral da saúde deve alcançar uma completa e adequada formação. Os conteúdos da missão devem orientar-se por uma dimensão teológicopastoral básica e por uma aquisição de conhecimentos especiais entre os quais não se pode esquecer a sociologia em relação às matérias de saúde, a psicologia tanto do doente como daqueles que o cercam; o tema de humanização e bioética é essencial para um bom exercício de Evangelização no campo da saúde.

O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e Bioética – Província Ca­miliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos

Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 2914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

O projeto pastoral A um hospital novo, a uma medicina nova, deve corresponder um projeto pastoral novo; pensado para as pessoas em suas diversas situações de doença; um projeto que tem muito presente os animadores e os meios modernos através dos quais podemos escutar a Deus. A ação pastoral requer orientações que dêem amplitude, eficácia, permanência. De acordo com a necessidade, temos que levar em conta que todas as estruturas são contingentes e por isso recicláveis, devem servir à vida e renovar-se com ela. O projeto deve ter presente o tipo de hospital, sua dinâmica, o tipo de doente que chega ao mesmo, a rapidez com a qual passa hoje um doente em muitos hospitais que faz pensar em um projeto pastoral “de urgência” para pessoas que permanecem pouco tempo no hospital. O que se pode fazer no hospital? Que relação tem o hospital com a paróquia? E vice-versa.

A oração A oração constante e perseverante, a conversão são motores que dão força, luz e entusiasmo ao evangelizador; sem estes motores torna-se difícil a evangelização, o evangelizador converte-se num sociólogo, um psicólogo e não em um pastor. Um desafio constante. Conduzir, guiar, animar, curar, só pode realizar-se pela oração e contemplação, pela contínua escuta da Palavra de Deus. O evangelizador é um “especialista” de Deus que o viu, o tocou, o vive e o dá aos outros – evangeliza, é testemunha de Deus vivo em meio à doença. Os outros – doentes, familiares, agentes da saúde – devem ver e sentir o serviço pastoral nas pessoas, uma testemunha que transmite com a vida a Boa Nova: Jesus passa e cura; Jesus passa a acolhe; Jesus passa e salva. Assinatura: O valor de R$15,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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O evangelizador não transmite algo como moeda falsa, mas real. Trata-se de que minha vida seja como um mata-borrão, que penetre e não simplesmente se molhe. Tudo se resume a isto: que os doentes sejam evangelizados. Mas antes os evangelizadores devem estar evangelizados. O Evangelho necessita pessoas sensíveis, humildes, “vulneráveis”, feridos, dignos de crédito, entusiastas, apaixonados palas coisas de Deus.

Um último desafio Um bom agente de pastoral da saúde deve ter presente muitas coisas; todas ou quase todas são urgentes, necessárias, importantes. Para não se perder e poder ser eficaz, assinalamos quatro verbos, quatro infinitivos; são dirigidos à pessoa, ao Agente, já que o consideramos “motor” da ação pastoral. Saber conjugar estes verbos dá um resultado pastoral próximo, autêntico e eficaz. Portanto, o pastor deve ser, aprender, dizer e fazer.

Ser Para obter-se uma boa música o mais importante é o músico, não o instrumento. Da mesma forma, na pastoral, o importante não são os programas, mas os pastores, o que eu sou, a vida e o espírito que ponho nos programas. Na pastoral, se não se conta com o espírito, iremos ao fracasso. O Espírito Santo é força, luz, protagonista da evangelização. O que tenho que ser para os doentes? Tenho que ser testemunha, presença, silêncio, sorriso, alegria, esperança, felicidade, cura, salvação. Este é o caráter que deve viver a equipe pastoral e ser capaz de infundir este espírito em toda a ação pastoral no hospital.

Aprender Do enfermo, de seus familiares, dos médicos e enfermeiros, aprendemos a entrar em contato, a confrontar-nos; aprendemos a contar com as pessoas; elas mostram-nos quão frágeis somos! E nos ensinam que é a partir daí, de nossa fragilidade, como se faz pastoral. Só o “ferido”, o vulnerável, pode curar e salvar.

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Dizer Antes de dizer, escutar, acolher. Criar ambiente de proximidade, de amizade que acompanha, que cura. Dizer, convidar, oferecer, exortar a “tomar a cama e andar” (Mc 2, 1-12). Entusiasmar, abrir espaços, dar vida às “paralisias”; iluminar a vida para que se realize o encontro; que o outro descubra sua fé sem que eu tente convencê-lo. Jesus nos serve de exemplo (Lc 24; Lc 19; Mt 9, 9-13). Certamente descobriremos a presença de Deus no outro, como Maria e Isabel (Lc 1, 39-47). Falemos, semeemos, mas deixemos espaço a Deus, pois ele semeia; deixemos crescer, a semente necessita tempo (MT 13).

Fazer Programar. Discernir necessidades, criar, celebrar, participar, coordenar, avaliar. Que devo fazer no hospital? Dar soluções? Fazer tudo? Ser bombeiro de Deus? Brincar de médico e enfermeiro? Enfim, que devemos fazer na pastoral? Como o Samaritano (Lc 10, 30-35), parar, aproximar-se, curar, mas atenção: somos mediadores, samaritanos que se aproximam do ferido, o curam, o carregam no jumento, o levam à pousada… O restante o Senhor fará.

XXIX CONGRESSO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE Como acontece há vinte e nove anos, nos dias 05 e 06 de setembro acontecerá o XXIX congresso brasileiro de humanização e pastoral saúde. Neste ano o tema central será: Saúde e religião. Apresentamos aqui as sugestões dos possíveis temas que discutidos no congresso. - A banalização da vida na sociedade atual - Os direitos fundamentais do ser humano - Motivação para solidariedade - A espiritualidade no mundo da saúde: aspectos científicos e pastorais - Cura e curandeirismo: realidade e ilusão - A doença e a saúde na bíblia - Câncer: o mal silencioso - A liturgia cura - palavras e gestos sacramentais na assistência aos doentes. - Aspectos práticos da assistência ao doente - A trabalho solidário (comunitário) como terapia e saúde - Modelos de formação pastoral


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PARA NÃO VIVER EM VÃO RICARDO GONDIM

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lint Eastwood produz e dirige filmes densos, especialmente os que lidam com o abuso de crianças. Gostei da trama de “A Troca” (Changeling), baseado em fatos reais. Um garoto desaparece enquanto a mãe, divorciada, trabalha algumas horas extras no sábado. Para encontrar o filho, Christine, personagem encenada por Angelina Jolie, precisa enfrentar sozinha a corrupta máquina policial de Los Angeles e ainda tem de manter o emprego, apesar da solidão e do desespero pelo sumiço do menino. O pastor presbiteriano Reverendo Gustav Briegleb (John Malkovich), que lutava contra a violência policial, se une a Christine em sua luta contra a politização do xerife que deveria cuidar da segurança pública. A militância de Briegleb é ética, corajosa e persistente. No final, enquanto projetavam as explicações finais sobre os desdobramentos do que aconteceu no filme, desabafei: “Quando crescer, quero ser igual a esse pastor”. O ministério de Briegleb desencadeou mudanças profundas nas leis da cidade. A obstinação de um homem salvou a vida de milhões de pessoas que ainda nem tinham nascido. Fui ordenado ao ministério em 1977. Desde então, trabalho com evangelização, missões urbanas e implantação de igrejas. Preguei milhares de sermões, participei de centenas de congressos, mesas-redondas e seminários. Comparo-me ao que Jesus disse aos primeiros discípulos: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça” (Jô 15.16). Conto os anos de ministério, vejo que o meu futuro é mais curto que o passado e me pergunto: “Qual a pertinência do meu esforço? O fruto do ministério permanecerá?” Não pretendo terminar os dias desempenhando as funções sacerdotais como mero sacerdote que batiza, celebra ritos de passagem e enterra os mortos. Não almejo acomodar-me à função

de xamã. Não tolero o papel de babysitter de crentes burgueses, sempre ávidos por bênçãos. É possível encontrar muitos cristãos em movimentos populares que reivindicam reforma agrária. Porém os pastores, com certeza ocupados com a máquina religiosa, não dispõem de tempo para se aliarem aos oprimidos pela burocracia estatal, que perpetua a injustiça. Poucos se atrevem a sair do conforto das catedrais para defender o meio ambiente. Como pastor pentecostal, inquieto-me com o massacre da teologia da prosperidade, que ocupa a maior parte do culto com promessas de bênção. Não gosto de ver a instrumentalização de quase todo esforço missionário para fazer proselitismo, em nome de uma evangelização. Pastores semelhantes a mim vivem a responder a questões sobre doutrina, a legislar sobre moralismos e a apagar fogo de contendas entre os membros de suas comunidades. O discipulado desaparece na catequese que tenta adequar as pessoas às demandas religiosas. O resultado é trágico e o testemunho cristão, pífio. Por todos os lados pipocam sinais de que os evangélicos começam a repensar a teologia fundamentalista que lhes serviu de suporte. Agora urge fazer o dever de casa com a eclesiologia. O significado de ser igreja em áreas cosmopolitas tem de ser mais bem avaliado. Os paradigmas atuais sufocam o surgimento entre os evangélicos de gente como Martin Luther King ou Dorothy Stang. Caso não mexamos com os conceitos fundamentais da teologia da missão, continuaremos repetindo fórmulas desgastadas. Resgatar pessoas do inferno, garantir o céu, mas esquecer a “plenitude da vida” diminui brutalmente o mandato cristão. O tempo gasto das pessoas, os recursos financeiros aplicados, a mobilização de talentos, não podem ser desperdiçados. A função da

igreja é também resgatar vidas, proteger os indefesos da burocracia estatal, da opressão do mercado e até da frieza eclesiástica. Como cuidei basicamente de igrejas urbanas, lamento o tempo perdido com a máquina religiosa. Fui absorvido por programações irrelevantes. Defendi teologias desconexas da existência. Fiz promessas irreais. Discuti idéias estéreis. Corri em busca de glórias diminutas. O tempo é uma riqueza não renovável, portanto, resta-me lamentar tanto esforço para tão pouco resultado. Entreguei-me de corpo e alma à oração, fiz vigílias, jejuei. Ralei os joelhos em busca de uma espiritualidade eficiente. Acreditei piamente que a maturidade humana aconteceria pelo caminho da piedade religiosa. Ledo engano. Muitos companheiros de oração se levantaram ferozmente contra mim. O mundo passa por mudanças radicais e as igrejas, se quiserem ser relevantes, precisam repensar seu papel na sociedade. Se não quiserem sucumbir à tentação de serem meros prestadores de serviços religiosos, os pastores precisam abrir mão de egolatrias tolas como o fascínio por títulos. É tolice brincar de importante usando o nome de Deus. O descrédito do cristianismo ocidental se tornou agudo nos últimos 20 anos. Urge que os pastores revejam os seus sermões e se questionem se pregam conceitos relevantes em uma sociedade profundamente injusta, cruel e opressiva. Não fazer nada custará muito à próxima geração. Mais jovens se fatigarão prematuramente. E os idosos morrerão com o gosto amargo de terem gastado a vida em vão. O que seria muito triste.

Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil. Texto extraído da revista Ultimato mar-abr/2009.


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Desafio do cuidador: Ser leve nas horas difíceis NANCI ALVES

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onsiderado missão para uns e gratidão para outros, cuidar, com carinho e respeito, de uma pessoa que está muito doente, às vezes por muito tempo, é um grande desafio. Chamado de paciente terminal, expressão que significa aquele que está fora de possibilidade terapêutica, pelo qual a medicina curativa não tem mais nada a fazer, o doente, seja em casa, seja em um hospital, demanda amor, atenção e muitas outras ações que precisam ser realizadas por um cuidador especial. Isso porque essa pessoa, familiar ou não, tem que estar disposta a compartilhar com o doente a própria vida e a enfrentar as profundas angústias existenciais que a doença provoca. Para a especialista em Psicologia Hospitalar, Eunice Miranda, em geral, os parentes estão despreparados, cultural e emocionalmente, para lidar com a morte iminente. “Isto requer do cuidador uma clareza de que a morte é uma possibilidade e que poderá ocorrer a qualquer momento. A nossa cultura não favorece esse tipo de aceitação, pois a morte é o maior dilema existencial do ser. Dessa forma, para que ele tenha condições emocionais de ser um cuidador, precisa ser escutado nas suas questões ontológicas, levando-se em conta que ele também é um ser finito e que terminais somos todos nós”, explica. Além disso, segundo Eunice Miranda, o cuidador precisa aprender com a equipe de saúde alguns cuidados mais técnicos, necessários ao bem-estar do doente,

no que se refere ao cuidado com o corpo, a administração de medicação, aspectos nutricionais e legais. “Isso porque, geralmente, a família não tem a menor noção que terá que assumir essas funções, atribuindo a cura e os cuidados ao médico e à equipe hospitalar”, explica. Toda essa preparação e preocupação podem gerar, no cuidador, um estresse que precisa ser levado em conta. Principalmente quando o doente fica internado por muito tempo ou, mesmo em casa, mas na cama, o cuidador deve avaliar sua própria condição física e emocional. Segundo a psicóloga, a capacidade de suportar esse período vai depender de como o cuidador está vivenciando esse processo. “Geralmente, se ele é um parente ou pessoa amiga, nesse momento entrará no que chamamos de luto antecipatório, que possibilitará a elaboração da perda que está se processando ou que está para acontecer. A condição de cada um dependerá da sua história de vida, da sua condição para tolerar frustrações, lidar com limitações, perdas anteriores, vivências traumáticas e sua estrutura psíquica”, afirma. De acordo com a psicóloga, caso o cuidador não se sinta capaz de assumir esse papel, deverá buscar ajuda na equipe de saúde, principalmente do profissional de saúde mental. “Tentar se colocar no lugar do doente para compreender o seu processo de sofrimento também é uma estratégia, que ajuda a desenvolver a compaixão e a tolerar as reações emocionais do paciente, que, muitas vezes, projeta no cuidador os seus sentimentos de raiva, desespero, culpa e impotência frente ao adoecimento e à morte”, explica. Segundo Eunice Miranda, muitas vezes torna-se necessária uma intervenção junto à família, para que ela possa se ver nesse processo, lembrando que ela também passa pelos estágios vivenciados pelo paciente frente à doença terminal, descritos pela psiquiatra Eli-

zabeth Kubler-Ross, que compreende a negação, a raiva, a barganha, a depressão e aceitação. “Por exemplo, se a família está na fase da negação, pode não tomar as providências necessárias em relação aos cuidados, o que poderá gerar sentimento de culpa depois. Se a família está vivenciando a raiva, esta poderá ser projetada na equipe de saúde ou no próprio paciente, que pode ser maltratado, como se fosse responsável pela sua doença ou porque negligenciou o seu tratamento, levando a um agravamento”, afirma. Diante de uma situação prolongada, muitos familiares se acomodam quando um ou dois resolvem assumir os cuidados pelo enfermo. Entretanto, segundo Eunice Miranda, é fundamental levar em consideração que o cuidador também precisa de atenção especial. Inicialmente, no processo de desospitalização, quando o paciente é levado para o domicílio, é importante que seja avaliado pelo psicólogo da equipe de saúde o impacto da doença na família e quais os familiares teriam condições emocionais de assumir o papel de cuidador. “É pertinente avaliar os conflitos familiares, pois, muitas vezes, assumir esse papel pode estar ligado à necessidade de reparação de uma culpa. Porém, de qualquer forma, o cuidador precisará ser assistido, pois também demandará ajuda, tanto do ponto de vista da suas necessidades físicas (ter um tempo para descansar, uma noite inteira para dormir, afastar-se um pouco da situação em si, ter alguém para revezar com ele na função de cuidador) quanto do ponto de vista psíquico (ter também com quem possa falar e externar os seus sentimentos e que o ajude na elaboração do luto antecipatório)”, avalia.

Artigo extraído do Jornal Opinião (28/10 a 3/11/2008).


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BANALIZAÇÃO DOS MEDICAMENTOS O consumo inadequado desses anorexígenos causa sintomas como boca seca, dor de cabeça, perda do sono, euforia, crises de ansiedade, pânico, arritmia cardíaca, aumento da pressão arterial, agitação, tremores. Alguns desses efeitos podem matar. A longo prazo, causam dependência química e sua suspensão torna-se cada vez mais dificil.

Diuréticos e laxantes:

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emédios indicados para o tratamento de doenças vêm sendo usados por quem deseja perder peso. A seguir, os que mais se popularizaram para este fim.

Anfetaminas: São drogas que de fato provocam redução ou perda do apetite, levando ao emagrecimento. Porém, só deveriam ser indicadas quando outros tratamentos para obesidade grave falham. As anfetaminas agem nos neurônios responsáveis pela sensação de fome, bloqueando-os. A endocrinologista Ellen Simone Paiva, do Centro Integrado de Terapia Nutricional, afirma que abolir a fome não é

uma boa estratégia para perder peso. “Sem fome, não seguimos dieta alguma, simplesmente paramos de comer, principalmente os alimentos nutritivos e continuamos ingerindo guloseimas, pois não é por fome que comemos chocolate, sorvete, salgadinhos, mas porque são saborosos e gostamos”, explica. Segundo a médica, o resultado do uso de anfetaminas é um padrão alimentar extremamente restritivo, com dietas de quantidade calórica muito baixa e nutricionalmente condenáveis. O usuário perde peso rapidamente, fica desnutrido, mas jamais consegue manter o peso quando a medicação é suspensa.

Esses remédios não emagrecem. Eles desidratam e levam à perda de peso em função da perda de água e não pela perda de gordura.

Hormônios tireoideanos: Também não emagrecem. Quando levam à perda de peso é pela perda de massa magra (músculo) não de gordura. Quando ingeridos por quem não têm deficiência desses hormônios, elevam os índices normais dessas substâncias no organismo, imitando o que ocorre no hipertireoidismo. Ou seja, provocam uma doença para levar à perda de peso. Equipe de redação

Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP

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