Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética agosto de 2009 Ano XXVI – no 277 Província Camiliana Brasileira
❒ Pastoral
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lícia estava a um mês de seu 16º aniversário quando os pais notaram alguns caroços em seu pescoço. “Está você se sentindo bem, Alícia?” “Sim. Por quê?” “Que são esses caroços?” “Não sei.” O médico não sabia tampouco. Prescreveu alguns exames. A enfermidade de Alícia era linfoma, uma enfermidade grave. Enquanto escrevo, Alícia está sofrendo terrivelmente como resultado da quimioterapia. Há quatro semanas ela sentia-se bem, mas o tratamento quase a matou. Os médicos esperam que o tratamento esteja matando suas células concerosas. Por que Alícia sofre tanto? Por que inocentes sofrem? Poderíamos aceitá-lo se o sofrimento só afetasse malfeitores, mas gente boa sofre. Por quê?
❒ bioética
QUANDO
DEUS DERRAMA LÁGRIMAS RICHARD W. COFFEN
É a vontade de Deus? Deveria Alícia e seus pais dar ouvidos àqueles que sugerem que seu linfoma é a vontade de Deus? Ao atribuírem sua doença à vontade de Deus, estão indicando que Deus a quer doente. Dizer: “É a vontade de Deus” é simplesmente outro modo de dizer: “Deus o deseja.” Segundo Hebreus 10:7, Jesus assim falou do propósito de Sua encarnação: “Vim para fazer, ó Deus, a Tua vontade.” Jesus veio para fazer o que Deus queria ou desejava. E que fez Jesus? Infectou Ele alguém com lepra? Feriu Ele alguém com cegueira? Não, em diversas ocasiões Ele abriu os olhos do cego. Fez Ele as pessoas ficarem surdas? Não, Ele curou os surdos. Certamente podemos garantir a Alícia e seus pais que Deus é a fonte de toda boa dádiva, mas Ele, decididamente não é a causa de coisas más. Como poderemos jamais detestar a miséria que achamos em nosso planeta se continuarmos a lançar sobre Deus a causa de tudo?
Aqueles a quem Deus ama Ele disciplina Cristãos bem intencionados têm dito a pessoas como Alícia: “Você deve ser muito especial para Deus. Deus não desperdiça Seus esforços em material inútil. Deus quer aperfeiçoá-la. Quando seu Pai celeste tiver completado Sua obra, você será como ouro provado no fogo.” Eliú, um amigo de Jó, disse praticamente o mesmo. Deus, segundo Eliú, envia o sofrimento não como castigo (como os outros amigos tinham insistido) mas como disciplina (ver Jó 33:15-22, 29-30). Que tal? Os pais de Alícia tinham notado imperfeições nela, e como todos os bons pais e mães a tinham disciplinado para que crescesse para ser uma honra ao nome da família e um benefício para a sociedade. É isto o que Deus está fazendo para Alícia agora? Suponhamos por um momento que o linfoma de Alícia tenha aperfeiçoado a sua alma. É esta uma causa apropria-
❒ humanização
da para o efeito desejado? Ellen White escreveu certa vez: “Deve o corpo ser mantido em estado saudável a fim de a alma estar sã.” Sendo este o caso, como pode o linfoma de Alícia aperfeiçoar sua alma? Um corpo doentio não é o caminho para a santificação. Se o linfoma de Alícia veio como uma disciplina divina, por que devia ela submeter-se à quimioterapia numa tentativa de curá-la? Longe dos pais de Alícia contrariar a disciplina divina na vida de sua filha! Não devem agir contrariamente ao propósito divino. Com efeito, se desastre, doença ou morte vêm para nos aperfeiçoar, todo cristão sincero, em vez de aliviar a dor, devia ajudar Deus em Sua obra de aperfeiçoamento causando dor sempre que possível! Outras explicações possíveis são também oferecidas aos sofredores. E como as poucas que examinamos brevemente, elas também têm faltas graves, especialmente quando aplicadas a casos individuais. A existência da doença, desastre e morte permanece um absurdo. À vista de tantas explicações falhas, é provável que nenhuma solução seja melhor.
Então, qual é a última palavra sobre o mal? Temos examinado algumas das explicações que têm sido oferecidas para a presença do mal. Cada uma tem seu mérito, mas também algum sério defeito. Como podemos evitar fazer a obra de Satanás ao tentarmos defender Deus em face de desastre, doença e morte? Primeiro, quando explicamos o propósito do sofrimento e a relação de Deus com ele, precisamos permanecer sensíveis ao enigma do mal. Quando inventamos teorias sobre o por quê pessoas sofrem, a tentativa mesma tende a encorajar apatia da parte daqueles que estão formulando uma teoria. Defe-
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sas de Deus que procuram lidar com o problema do mal não devem diminuir nossa sensibilidade moral. O mal, onde quer que surja, deve indignar-nos. O sofrimento, onde quer que ocorra, deve despertar nossas emoções mais ternas. Segundo, a fim de manter nossa sensibilidade enquanto defendemos Deus e Sua relação com o mal, precisamos fazer duas coisas. Primeiro, precisamos sempre sentir com os que sofrem. Precisamos tentar colocar-nos em seu lugar. Não é sempre fácil projetar-nos na situação de outro, mas se não tentarmos fazê-lo, ficamos calejados. E mais cedo ou mais tarde o calejamento se transforma em frieza, e com o tempo a frieza se converte em crueldade. Segundo, precisamos sempre criticar nossas teorias. Não devemos ficar de tal modo enamorados de nossas teodicéias que percamos de vista suas fraquezas inerentes. Terceiro, devemos nos lembrar que Deus não precisa de nossas tentativas frágeis de defendêLo. Quarto, reconhecer que a existência do sofrimento é tão inexplicável como a existência do pecado. A maioria dos cristãos crê que o desastre, a doença e a morte de algum modo seguem ao pecado. O problema é que o pecado não tem uma explicação lógica. É por isso que as Escrituras o chamam um mistério. O mistério da iniqüidade (II Tessalonicenses 2:7). “O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. Se para ele se pudesse encontrar desculpa, ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser pecado.”
ro morreu. Onde estava Jesus? VêmoLo de pé junto ao sepulcro de Lázaro. E “Jesus chorou” (João 11:35). À porta do sepulcro de Lázaro, Deus (em Jesus) uniu-Se a Maria e Marta, seus vizinhos e conhecidos derramando lágrimas. Achamos a mesma situação no Antigo Testamento. “Então Se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na Terra, e isso Lhe pesou no coração” (Gênesis 6:6). Isaías registra que “em toda angústia deles foi Ele angustiado” (Isaías 63:9). Jeremias registra a mesma reação da parte de Deus: “Por isso uivarei por Moabe, sim gritarei por todo o Moabe; pelos homens de QirHeres lamentarei; chorarei por ti, como Jazer chora” (Jeremias 48:31-32). Portanto, não só nossa aflição comove a Deus, mas também somos encorajados a lançar “sobre Ele toda a vossa ansiedade; porque Ele tem cuidado de vós” (I Pedro 5:7). A doença de Alícia não significa que Deus a abandonou. Em sua dor não deve imaginar que Deus está aborrecido. Vendo Alícia sofrer, Deus mesmo derrama lágrimas. Isto é confortador, mas é isto tudo que Deus faz? É Ele um Deus compassivo mas impotente que torce Suas mãos
em frustração ao chorar em simpatia? Não. Volvamos a Maria, Marta e Lázaro. Disse Jesus: “Tirai a pedra” (João 11:39). Então depois de breve oração, Jesus, que é Deus encarnado, comandou: “Lázaro, vem para fora!” (verso 43). E “saiu aquele que estivera morto” (verso 44). Deus não só derramou lágrimas. Ele repeliu a morte. Nossas aflições comovem a Deus, mas também O movem a revelar Seu propósito. Nem sempre veremos a evidência de Seu poder hoje ao enfrentarmos desastre, dor e morte. Podemos, ao contrário, apenas sentir Suas lágrimas. Não obstante, o Novo Testamento torna claros os propósitos de Deus. Por fim, Deus fará novas todas as coisas (Apocalipse 21:5). Um dia “Ele enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”, e ao enxugar Deus as lágrimas de nossos olhos, imagino que Ele enxugará os Seus uma vez mais. Então o Deus que derrama lágrimas jogará fora para sempre Seu lenço divino. Richard W. Coffen é editor e autor de muitos artigos e livros.
Quando Deus derrama lágrimas
expediente
Alícia ainda está no hospital. Sua infecção ainda se alastra. A quimioterapia a mantém balançando à beira da morte. Mas o que dizer sobre o Deus da Bíblia? Onde está Ele neste tempo de sofrimento trágico? Que está Ele fazendo? Temos uma pista na experiência de Maria e Marta quando seu irmão LázaO Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúdee Bioética – Província Camiliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos
Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana
Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 2914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares
Assinatura: O valor de R$15,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.
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QUEM DEVE CUIDAR DA SAÚDE? ANÍSIO BALDESSIN
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direito à vida, ou seja, o exercício da vida como um direito de todas as pessoas surge com a Revolução Francesa em 1789, estando consignado no Artigo Primeiro da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão: “Os homens nascem e vivem livres…”. A Constituição Federal brasileira de 1988, artigo 196 afirma: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. É baseado nesse artigo que milhões de brasileiros, quando padecem de alguma doença acorrem às instituições municipais, estaduais e federais de saúde. Já os que dispõem de mais recursos financeiros e bom plano de saúde procuram os serviços privados. Outros, além de procurar os serviços públicos ou privados, buscam na religião a cura ou quem sabe um milagre para recuperar a saúde. Diante disso, vem a inevitável pergunta: afinal, quem deve cuidar da saúde do povo?
O Estado? Dentre as muitas reclamações dos usuários dos serviços públicos (SUS) as mais comuns são: falta de hospitais, leitos, postos de saúde, remédios, aparelhos sofisticados e profissionais da saúde. Reclamações que sem dúvida são todas procedentes. Porém, os gastos públicos federais do Ministério da Saúde, em 2007, por exemplo, segundo relatório da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento, entregue rotineiramente ao Conselho Nacional de Saúde foram de R$ 44,343 bilhões. Portanto, podemos perceber que os recursos são bastante expressivos. O que merece reflexão é se esses recursos foram usados de maneira correta. Pois sabemos que uma grande parcela do dinheiro investido na saúde é usado para tratar e não prevenir doenças. Além disso, muitas pessoas gostam de obter uma segunda opinião a respeito da do-
ença. Ou seja, o paciente procura mais um ou dois hospitais a fim de fazer nova consulta e se possível, também novos exames. Tal atitude acaba acarretando um custo maior aos cofres públicos.
Deus? Se por um lado muitos acreditam que a responsabilidade de cuidar da saúde é do Estado, por outro, existem aqueles que acreditam piamente que essa é uma responsabilidade divina. Argumento que não é compartilhado pelo professor Júlio Munaro. Segundo ele, “a saúde, sua preservação e sua restauração constituem um problema que Deus confiou à responsabilidade dos homens, independentemente da fraqueza ou do vigor de sua fé. Os antibióticos sempre tiveram efeito terapêutico muito superior à fé de todos os tempos e de todas as pessoas. Portanto, não se deve esquecer que a doença é um fenômeno intimamente ligado à natureza, cujas causas devem ser procuradas nela e resolvidas em seu âmbito. Além disso, nunca é demais lembrar que os cuidados naturais valem mais que qualquer devoção ou ato religioso para preservar a saúde. Ou seja, à medida que melhoramos as condições de vida e progredirmos nas ciências médicas, tanto maiores serão as possibilidades de prolongar a vida e de livrá-la da doença. A história, sobretudo a mais recente demonstra isso com inegável clareza”.
O indivíduo? Nos encontros e conferências sobre saúde e/ou pastoral da saúde, quando o assunto é sobre o cuidado com a saúde do povo, uma frase que em geral é sempre proferida pelos conferencistas e invariavelmente aplaudida pela platéia é: “cuidar da saúde é dever do Estado. O governo tem obrigação de cuidar da saúde do povo”. Afirmação que não merece nenhuma contestação. Pois como afirmamos acima, está escrito na constituição. Portanto, não podemos
querer caminhar na contramão tirando essa responsabilidade do poder público. Além disso, pela quantidade de impostos que pagamos, o governo não faz nada mais do que a obrigação. No entanto, entre tantas pesquisas sobre envelhecimento da população mundial, destaca-se a que foi feita em Stanford, famosa universidade americana, que concluiu que mais do que em outras épocas, a valorização do estilo de vida tem propiciado uma sobrevivência, com qualidade, de mais de vinte anos para quem já está na faixa dos sessenta e cinco anos. Esse aumento qualitativo de vida segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) depende: 53% de hábitos saudáveis de vida; 20%, meio ambiente; 17%, herança genética e apenas 10% de assistência médica. Ou seja, nunca é demais lembrar a importância do controle da alimentação, atividades diárias de no mínimo trinta minutos, como caminhadas, leituras com temas de interesse e participação em trabalhos sociais propiciam um enorme bem estar. Além disso, é fundamental administrar o tempo para que seja possível ter momentos de lazer e sair do “aposento” e desfrutar o que o mundo tem de bom. Portanto, penso que é hora de superarmos, primeiro uma mentalidade fatalista. Ou seja, continuar acreditando que a doença e a falta de saúde são coisas do destino e da vontade de Deus. Segundo, que não basta o governo investir fortunas no cuidado à saúde se o próprio indivíduo não fizer o mínimo esforço mudando seus hábitos e estilo de vida. Afinal, não adianta rezar para emagrecer e continuar comendo, por exemplo. Por isso, se cada um não assumir sua parte no cuidado à saúde e o governo não se preocupar mais em prevenir do que tratar, não demorará muito para que em pouco tempo tenhamos, em nosso país, um Ministério da doença e não um Ministério da Saúde. Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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GRIPE SUÍNA: VERDADES, MENTIRAS E DÚVIDAS
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gripe suína uma doença respiratória de porcos causada por um vírus influenza tipo A que causa regularmente crises de gripe em porcos. Ocasional mente, o vírus vence a barreira entre espécies e afeta humanos. O vírus da gripe suína clássico foi isolado pela primeira vez num porco em 1930. Saiba o que conhecemos desta doença. Quantos vírus de gripe suína existem? Como todos os vírus de gripe, os suínos também mudam constantemente. Os porcos podem ser infectados por vírus de gripe aviária e humana. Quando todos contaminam o mesmo porco, pode haver mistura genética e novos vírus que são uma mistura de suíno, humano e aviário podem aparecer. No momento, há quatro classes principais de vírus de gripe suína do tipo A são H1N1, H1N2, H3N2 e H3N1. Qual é o vírus que está causando a crise atual? É uma versão nova do H1N1. Como os seres humanos pegam gripe suína? Normalmente, esses vírus não infectam humanos. Entretanto, vez por outra, mutações no vírus permitem que eles contaminem pessoas. Na maioria das vezes, os contágios acontecem quando há contato direto de humanos com porcos. Mas também já houve casos em que, após a transmissão inicial do porco para o homem, a partir dali o vírus passou a circular de pessoa para pessoa. Foi o caso de uma série de casos ocorridas em Wisconsin, EUA, em 1988. Nesses casos, a transmissão ocorre como a gripe tradicional, pela tosse ou pelo espirro de pessoas infectadas. Consumir carne de porco pode causar gripe suína? Não. Ao cozinhar a carne de porco a 70 graus Celsius, os vírus da gripe são
completamente destruídos, impedindo qualquer contaminação. O que fazer para evitar o contágio? O CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA) fez algumas recomendações para evitar a doença. • Cubra seu nariz e boca com um lenço quando tossir ou espirrar. Jogue no lixo o lenço após o uso. • Lave suas mãos constantemente com água e sabão, especialmente depois de tossir ou espirrar. Produtos à base de álcool para limpar as mãos também são efetivos. • Evite tocar seus olhos, nariz ou boca. Os germes se espalham deste modo. • Evite contato próximo com pessoas doentes.
• Se você ficar doente, fique em casa e limite o contato com outros, para evitar infectá-los. Quais são os sintomas da gripe suína? Os sintomas são normalmente similares aos da gripe comum e incluem febre, letargia, falta de apetite e tosse. Algumas pessoas com gripe suína também tiveram coriza, garganta seca, náusea, vômito e diarreia. Como se faz o diagnóstico de gripe suína? Para identificar uma infecção por um vírus influenza do tipo A, é preciso analisar amostras respiratórias do paciente durante os primeiros 4 ou 5 dias da doença -- quando uma pessoa infectada tem mais chance de estar espalhando o vírus. Entretanto, algumas pessoas, especialmente crianças, podem manter o vírus presente por dez dias ou mais. A identificação do vírus é então feita em teste de laboratório.
Há medicamentos disponíveis para tratar infecções de gripe suína em humanos? As drogas zanamivir e oseltamivir (nome comercial Tamiflu) já mostraram eficácia ao tratar ou ajudar na prevenção de infecção com vírus da gripe suína. Impressões iniciais dão conta de que essas drogas diminuem a agressividade do quadro infeccioso para a versão atual do H1N1 suíno. Há vacinas para a gripe suína? No momento, somente para porcos, que são mais constantemente afetados por esse tipo de vírus. Mas as autoridades já anunciaram estar trabalhando numa versão humana da vacina. As vacinações rotineiras de gripe feitas em humanos não combatem os vírus do tipo H1N1.
INSCREVA-SE JÁ Ainda estão abertas as inscrições para o XXIX Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde que terá como tema central: SAÚDE E RELIGIÃO. Data: 05 e 06 de setembro LOCAL: Anfiteatro do Centro Universitário São Camilo — Avenida Nazaré, 1501 — Ipiranga — São Paulo. Telefone — (11) 3862-7286 Ramal 3 Com Cláudia — e-mail. icaps@camilianos.org.br Informações e inscrições: ICAPS Rua Barão do Bananal, 1125 - 05024000 | São Paulo - SP | Fone (11) 386272 86 Ramal 3 com Cláudia. FAX (11) 3862-7286 Ramal 6 Como chegar ao local do congresso. Terminal rodoviário do Tietê — Chegando ao terminal rodoviário do Tietê, você deverá tomar o metrô sentido Jabaquara e descer na estação Paraíso. Nesta estação, pegue o metrô sentido estação Alto do Ipiranga. Esta estação fica próxima à Avenida Nazaré. Você poderá tomar um táxi, ônibus ou mesmo fazer uma caminhada de uns dez minutos. Terminal Rodoviário da Barra Funda — Chegando ao terminal rodoviário da Barra Funda, você deverá tomar o metrô sentido Praça da Sé. Na praça da Sé, tome o metrô sentido Jabaquara e desça na estação Paraíso, tome o metrô sentido estação Alto do Ipiranga. Esta estação fica próxima à Avenida Nazaré. Você poderá tomar um táxi, ônibus ou mesmo fazer uma caminhada de uns dez minutos.
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A COMUNICAÇÃO DA MORTE ÀS CRIANÇAS JÔNIA LACERDA FELÍCIO
É
freqüente a pergunta aos psicólogos sobre como se pode falar a uma criança sobre fatos difíceis, como uma doença grave e morte iminente de alguém próximo, ou pior, uma doença ou tratamento médico mais sofrido que a própria criança vai ter que passar. Estas situações exigem que algo deva ser comunicado, pois alternativas como a mentira, a omissão, o silêncio e o segredo são, em si mesmas, formas de comunicação de conseqüências muito mais imprevisíveis do que outras tentativas de aproximação e diálogo. No silêncio abre-se espaço para muitas fantasias, em geral fóbicas. É como se estivéssemos por muito tempo em um quarto escuro, onde barulhos, texturas e cheiros incompreensíveis fossem percebidos. Seria possível imaginarmos coisas boas se estivéssemos sozinhos nesta situação, sem informações, acolhimento ou esclarecimento? Por isto é que a Psicologia entende que o compartilhamento amoroso destas experiências junto à criança fortalece nela a capacidade de pensar, sentir e lutar pela vida.
A espiritualidade é importante para o mundo da saúde? Neste pequeno ensaio, mostraremos que ela merece ter um espaço nele e que pode ajudar as pessoas enfermas no processo de recuperação. Este livro demonstra que a espiritualidade no mundo da saúde se justifica por razões antropológicas, com bases filosóficas e teológicas. A busca da transcendência não pode ser negada pelo mundo da saúde, pois é indo além da realidade material que o ser humano pode encontrar sentido para sua existência, mesmo em situações de dor e sofrimento. Vendas na secretaria do ICAPS - Telefone (11) 3862-7286 r. 3 com Claúdia ou nas lojas Paulus Editora.
Mas, como lembra Raimbault (1979), este testemunho da compreensão da morte pela criança é a última fronteira daqueles ideais burgueses sobre a infância angelical, que persistiram até o sec. XIX, quando muitos destes tabus foram vencidos por novas concepções de desenvolvimento infantil. As novas teorias indicaram que todas as experiências afetivas que vemos tão claramente no adulto na verdade começam na infância. Até mesmo a sexualidade, outro grande tabu, não se apresenta repentinamente no adulto, mas se desenvolve delicada e gradualmente desde os primeiros momentos, quando se espera que a criança encontre condições de construir significados íntegros e prazeirosos às suas vivências com seu corpo e o mundo que a cerca. Entretanto, se o tabu da sexualidade sofreu transformações na maneira como é compreendido, o mesmo não se pode dizer do tabu da morte, ainda mais em uma cultura como a nossa, tão firme na negação dos limites do tempo e do avançar do ciclo de vida. E novamente citamos Raimbault (1979) na lembrança das falas de seus
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jovens pacientes de câncer e familiares, que ela acompanhava como analista: “Eles não me dizem nada, mas eu sei. Tenho um tumor. Há crianças que morrem. Eu também vou morrer!” “Minha filha já sabe da morte. A morte acaba com o pensamento. E os que ficam? Os pais?” Diante destas falas, esta autora testemunha que se morrer é perder o mundo, os sentidos, a motricidade e o pensamento, nunca mais olhar, tocar, ouvir e trocar, então compartilhar a dor com alguém próximo é ainda confiar no amor do outro e, por isto, não desistir e se entregar ao desespero. Em linguagem psicanalítica, isto significa que o compartilhamento é uma força contra a pulsão de morte. É assim que entendemos as pesquisas de Psicologia da Saúde demonstrando que crianças adequadamente informadas da terminalidade da doença de um dos pais apresentam menos ansiedade do que aquelas que nada sabem. Mas, como em qualquer tarefa vital, também aqui temos que nos capacitar. Primeiro, porque nós, os cuidadores, familiares ou profissionais, não podemos estar inteiramente sozinhos. Temos que ter nosso próprio sistema de amparo. E, além disto, comunicar é entender e acessar os limites e possibilidades do outro, em termos afetivos, culturais e cognitivos. O conceito de morte tem uma apreensão muito difícil, e por isto, não só as crianças, mas também os adultos,
COMUNICADO AOS COORDENADORES DIOCESANOS Nos dias 05 e 06 de setembro estará acontecendo em São Paulo o XXIX congresso brasileiro de humanização e pastoral da saúde. Como acontece todos os anos, no dia 05 logo após o término do primeiro dia do congresso acontecerá, no mesmo local do evento, a Assembléia Geral Ordinária da Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB com a participação de todos os coordenadores ou representantes diocesanos. Qualquer dúvida entre em contato com a secretaria da coordenação nacional no telefone (34) 3217-6434 das 8:00 às 12:00 com Maria Marta ou através do e-mail pastoraldasaudenacional@yahoo.com.br
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necessitam de informação no grau de compreensão que lhes é possível, além de tempo para se ajustarem à situação. Quanto à cognição, contamos com a teoria piagetiana, que estudou o desenvolvimento da compreensão lógica do mundo, para esclarecer estas dificuldades. Sabemos que do nascimento até cerca de 2 anos, a inteligência da criança é fundamentalmente sensorial. Neste momento, conhecer é explorar o mundo através dos recursos sensoriais e motores. Então, o bebê não tem como compreender a morte de um ponto de vista conceitual. Aqui, Morte é a vivência quase pura de separação e perda de conforto corporal, de emoções de raiva e medo sem suporte da linguagem e do símbolo. Pois para o bebê a dependência amorosa em relação ao outro corresponde à própria sensação de integridade do próprio corpo. Os pais e irmãos confrontados com a morte e adoecimento grave de um bebê também partilham esta dor que não nomeada e que quase não pode ser aplacada, um terror sem nome. Por isto, eles têm muita dificuldade em deixar aquele bebê ir embora, alguém que dependia tanto deles, exigindo então um longo e cuidadoso acolhimento.
Entre 2 e 7 anos, a inteligência da criança é representacional, do mundo da imaginação. São ações mentais que já supõem uma representação simbólica do mundo. Mas no raciocínio destas crianças, coisas e objetos têm funcionamento mágico, pois eles são percebidos através do auto-centrismo, sem plena noção de tempo, espaço e da conservação de propriedades básicas e essenciais. As vivências de perdas dos objetos amados, inclusive a integridade do próprio corpo, são então mais plenas, assim como a compreensão da morte é mais profunda. Mas como seu raciocínio ainda é mágico, para elas a morte seria uma partida temporária, reversível a partir do seu desejo. Isto traz o risco da culpa por não ter, magicamente, protegido seu ente querido da morte, ou de não ter, pela força de seu desejo, impedido a partida de um pai. E só no final deste período da primeira infância é que será possível um entendimento menos confuso de idéias como a da transmutação, como a noção do amado ter se tornado um anjo no céu. Na infância tardia, entre 7 e 11anos, as crianças já entendem a natureza essencial das operações entre objetos, mas
ainda se trata de uma inteligência que depende de demonstrações de natureza mais concreta e tangível, não completamente abstrata. A morte e as tragédias são compreendidas como permanentes, não mais reversíveis, o que torna estas crianças ainda mais assustadas, especialmente com as dores da mutilação física. Por isto, alguns profissionais de saúde reportam ser mais fácil acalmar e distrair uma criança menor, pois que a mais velha entende o mundo de forma mais realística. Mas, ainda crianças, estes púberes contam com ideais de poder e super-heróis, fantasias e anseios de reparação mágica que lhes são importantes, e que indicam que os riscos emocionais de associações indevidas de culpa e responsabilidade pessoal devem ser considerados. Bibliografia: Raimbault, G. A criança e a morte RJ: Francisco Alves, 1979. INHELDER,B; PIAGET,J Da lógica da criança à lógica do adolescente São Paulo: Pioneira, 1976. Jônia Lacerda Felício possui doutorado em Psicologia e coordena do curso de Psicologia do Centro Universitário São Camilo em São Paulo.
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP
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