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Informativo do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética novembro de 2009 Ano XXVI – no 280 Província Camiliana Brasileira

❒ Pastoral

❒ bioética

❒ humanização

DOENTE MENTAL: INTERNAR OU NÃO INTERNAR? MARCELO RIELLA BENITES

A

reforma psiquiátrica encontra resistência. Não faltam críticas de que boa parte da população com transtornos mentais começou a ficar abandonada nas ruas devido à diminuição dos leitos psiquiátricos. “Apresenta-se o problema da violência ligado à loucura como derivado da luta antimanicomial, o que é verdade. Onde há montagem de redes, as pessoas estão assistidas, estão cuidadas e se inserem na sociedade”, afirma Andréa Romanholi, que é também professora da Faculdade Salesiana de Vitória (ES) e coordenadora de saúde mental da capital capixaba. No entanto, nem sempre foi assim. Paulo Zampieri, responsável por duas clínicas de atendimento psiquiátrico para dependentes químicos em São Paulo, conta que no início da reforma, saíram dos manicômios pessoas cujas famílias não estavam preparadas para recebê-las. E também não havia ainda a estrutura adequada na saúde pública para que esses pacientes prosseguissem com o tratamento. “Por exemplo, algumas pessoas que não tinham capacidade de convívio social fugiram de casa, atropelaram alguém, furtaram coisas ou cometeram outros delitos. Aí foram presas e processadas na Justiça. Então, há hoje no Estado de São Paulo, por exemplo, um trabalho de ‘desinstitucionalização e descriminalização’ dessas pessoas, que saíram de instituições psiquiátricas e acabaram em instituições penais”, diz o psiquiatra. Sobre essa mesma questão Eduardo Sá de Oliveira, membro da diretoria da Associação Psiquiátrica de Brasília, afirma: “Não se trata de defender ou satanizar os hospitais. Eles são unidades

que devem oferecer o serviço adequado dentro das necessidades dos pacientes. Uma pessoa que viveu numa instituição por 30 anos não pode mais ir para a rua sozinha conviver socialmente. É diferente da situação de pacientes não institucionalizados. Nestes casos, a maioria precisará apenas de tratamento ambulatorial e, se tiver uma boa assistência, ficará nisso. Eventualmente, porém, um ou outro paciente, mesmo bem assistido, tanto pelo sistema quanto pela família, pode necessitar de internação”. Segundo Oliveira, as internações geralmente são necessárias quando a pessoa passa a representar risco para si mesma ou para outras. O psiquiatra do Distrito Federal cita o caso de um paciente em crise, um “homem enorme” que morava com a mãe, de 80 anos: “Teve que ser internado e só obteve alto quando apresentou condições de voltar ao convívio social”. O médico diz também que o ideal seria que houvesse menos hospitais psiquiátricos e mais unidades de psiquiatria em hospitais gerais, para diminuir o estigma da loucura. Esse estigma dificulta a busca de tratamento, tanto por parte dos doentes quanto de seus familiares e, se fosse eliminado, reduziria sensivelmente a trágica estatística da ONU, de 873 mil suicídios anuais em todo o mundo. Atualmente, já há Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) estruturados para o atendimento de doentes em crise. São centros que funcionam durante 24 horas, com cinco leitos. Embora passível de todos os problemas inerentes ao sistema público de saúde – da insuficiência de unidades ao precário funciona-

mento dos serviços, a reforma psiquiátrica vai se ampliando e tornando mais humano o atendimento.

A família e o doente Sobre essa humanização, Andréa Romanholi fala, por exemplo, do trabalho que na rede extra-hospitalar - sem o isolamento, as rotinas e outros entraves de um ambiente fechado – acaba envolvendo não apenas os usuários diretos, mas também seus familiares. São famílias que já passaram por extremos sofrimentos, inclusive com parentes se agredindo e pensando que não há mais jeito, senão internar a pessoa com problema mental: “Quando nas unidades da rede essas pessoas falam entre si sobre o seu sofrimento, começam a achar saídas, e nesse movimento de falar, de estar juntas, encontram formas de se cuidar, de dividir bens, criar projetos de geração de renda. Onde parecia não haver mais saída nenhuma aparecem soluções inesperadas”. Na rede pública ou particular, internados ou não, os pacientes mentais sempre ficam melhor quando têm o apoio da família. Do comparecimento às consultas ao consumo regular dos medicamentos, passando pela adesão às propostas de psicoterapia, atividades físicas, contatos sociais, hobbies, espiritualidade, trabalho, geração de renda, enfim, todos os procedimentos que contribuem para a estabilização da saúde mental são beneficiados pela participação de pais, mães, irmãos e outros familiares. Um exemplo típico é o relatado por Paulo Zampieri de um jovem dependen-


Ano XXVI – no 280 – novembro de 2009 – boletim ICAPS

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te químico, uma das causas mais comuns de internação psiquiátrica. O médico explica que, muitas vezes, alguém adoece porque a própria família como um todo já não tem uma convivência saudável. Então, pais e irmãos não percebem certos “sintomas”. O caso desse rapaz começou aos 13 anos: comportamento agressivo, isolamento do convívio familiar, duas expulsões escolares sucessivas, uso abusivo do dinheiro. Somente aos 21 anos, após a incapacidade, pela segunda vez, de acompanhar os estudos numa faculdade, é que o problema foi adequadamente admitido. Uso de drogas. “É o que chamamos de miopia familiar. Então, depois que essa miopia foi superada, a família teve uma fase na qual cada um precisou mudar em relação ao problema. O pai percebeu que tinha o hábito de chegar em casa, cansado do trabalho, e ficar diante do televisor, e não se envolver com o que estava acontecendo com a família. Procurou mudar. A mãe restringiu o uso de dinheiro pelo jovem, só permitindo que ele possuísse o necessário para se locomover, sair de casa e voltar. E a irmã, mais nova, quis se aproximar mais dele para entender como era esse universo de aprender a viver sem droga”, conta o médico. Mesmo assim, foi necessária a internação do rapaz por 60 dias, e mais 30 com saídas permitidas apenas para programas com a família. O tratamento prossegue com psicoterapia individual, medicamentos e terapia de grupo, no caso, os Narcóticos Anônimos (Nar – Anon). O pai, a mãe e a irmã também fizeram seções semanais de terapia familiar por dois meses e prosseguem com uma sessão mensal, para compreenderem melhor o quanto são responsáveis pela recuperação do filho e irmão.

expediente

ICAPS E CNBB REALIZAM O XXIX CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE E LANÇAM MAIS UM LIVRO O Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde – ICAPS – e a Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB realizaram em São Paulo, nos dias 05 e 06 de setembro de 2009, no Centro Universitário São Camilo, o XXIX Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde que teve como tema central: saúde e religião. Além dos palestrantes, médicos, profissionais­da saúde, advogados, leigos e religiosos o congresso contou com a participação assídua de mais de 600 participantes. Na oportunidade o religioso camiliano e membro da Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, Alexandre Andrade Martins lançou, pela Paulus Editora, o livro: “A espiritualidade é importante no mundo da saúde?”, que poderá ser adquirido na secretaria do ICAPS (11) 3862-7286 Ramal 3 com Cláudia ou na Paulus Editora.

Artigo extraído da Revista Cidade Nova – Exemplar 521 Ano LI Nº 9 Set/2009 O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e Bioética – Província Ca­miliana Brasileira. Presidente: José Maria dos Santos

Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin, Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima, André Luis Giombeli. Diretor-Responsável: Anísio Baldessin Secretária: Cláudia Santana

Revisão: Fadwa Hallage Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125 Tel. (11) 3862-7286 ramal 3 05024-000 São Paulo, SP e-mail: icaps@camilianos.org.br Periodicidade: Mensal Prod. gráfica: Edições Loyola Tel. (11) 2914-1922 Tiragem: 3.500 exemplares

Assinatura: O valor de R$15,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição.


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LIVROS E MATERIAIS PARA PASTORAL DA SAÚDE Pastoral da Saúde: orientações práticas – Anísio Baldessin Este livro nada mais é do que uma coletânea de artigos e/ou reflexões, fruto da atividade diária do autor junto aos doentes, familiares e profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Seus capítulos não precisam, necessariamente, ser lidos em seqüência. Os temas propostos são independentes. Seu único objetivo é provocar discussões e debates nos grupos que visitam os doentes, em casa ou no hospital. O livro pode ser útil também aos ministros da Eucaristia ou ministros extraordinários dos doentes.

Como visitar um doente – Padre Anísio Baldessin Neste livro, o leitor encontrará algumas dicas pastorais sobre o que se deve e o que não se deve falar ou fazer na visita pastoral ao doente. O autor procura responder a algumas perguntas comuns como: o que dizer ao doente quando ele chora, permanece em silêncio, é de outra religião, está em estado grave, quanto tempo deve durar uma visita e outras informações. DVD – Como visitar um doente Este DVD apresenta uma conferência prática ministrada pelo padre Anísio Baldessin com dicas fáceis e oportunas sobre como visitar um doente. É um vídeo com a duração de mais ou menos uma hora.

Como organizar a Pastoral da Saúde – Anísio Baldessin Neste livro direcionado aos agentes de pastoral, capelães, assistentes religiosos hospitalares e domiciliares, visitadores de doentes, ministros da Eucaristia, seguindo as diretrizes da CNBB e camiliana, o autor apresenta dicas importantes e práticas que auxiliarão a organização da Pastoral da Saúde nas dimensões solidária, comunitária e político-institucional, em dioceses, paróquias e hospitais.

Assistência religiosa aos doentes: aspectos psicológicos – Mário Luís Kozik e Anísio Baldessin. Este livro, que é uma coletânea de artigos, traz dicas muito importantes para padres, pastores, rabinos e leigos (ministros da Eucaristia) que diária ou semanalmente prestam assistência religiosa em hospitais, domicílios ou casas de repouso.

Ministério da vida: orientações para agentes de Pastoral – da Saúde – Leocir Pessini. Esta obra traz orientações para pastorais junto aos doentes, seja em hospitais ou em domicílio, tendo sempre em vista as perspectivas e os desafios que o mundo da saúde apresenta para a ação pastoral. Seu conteúdo temático responde às solicitações de comunidades, de agentes da Pastoral da Saúde e recolhe experiências vivenciadas pelo próprio autor em seu trabalho pastoral.

Assistência Religiosa aos Doentes: Aspectos Bíblicos – Anísio Baldessin (ORGANIZADOR) Os autores dos artigos que compõem este manual utilizam textos bíblicos, principalmente os evangelhos. É um livro endereçado aos capelães hospitalares, (padres e pastores) ministros da eucaristia e visitadores de doentes. É simples e objetivo criando condições para ação pastoral dos que diariamente compartilham a fé com pessoas feridas. Portanto, será muito útil para reflexões individuais e, principalmente, para discussões em grupos.

Conheça a vida de São Camilo de Léllis De autoria de Ascânio Brandão o livro conta a história completa da vida de São Camilo. Após ler a vida desse homem que foi reconhecido como o grande santo da caridade você vai se sentir desafiado a também a praticar a caridade junto aos doentes.

Além dos livros você poderá encomendar, na nossa secretaria, todos os materiais de São Camilo tais como: novenas, santinhos, oração com a cruzinha benta, medalhas, cruz de metal bem como a oração de Nossa Senhora da Saúde. Todos esses livros bem como os materiais da São Camilo podem ser comprados na secretaria do ICAPS pelo tel.: (11) 3862-7286, ramal 3, com Cláudia, ou através do fax: (11) 3862-7286, ramal 6, e-mail: icaps@camilianos.org.br, ou em Edições Loyola, tel.: (11) 2914-1922, e nas livrarias católicas de sua cidade.

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM BIOÉTICA O curso de Pós-graduação em Bioética e Pastoral da Saúde capacita, atualiza e proporciona ao profissional o conhecimento de novos campos, tendências, paradigmas e propostas da Bioética e Pastoral da Saúde à luz das ciências humanas e bíblico-teológica, a fim de contribuir para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo, da família e das comunidades. Público-alvo: profissionais da área da saúde, padres, pastores, agentes pastorais e religiosos. Áreas de atuação: Comitês de ética e bioética; grupos de humanização; assistência religiosa e hospitalar. Disciplinas: Saúde no Brasil: reali­ dades e perspectivas; Pastoral da Saúde: fundamentos, diretrizes de ação da CNBB e perfil da capelania hospitalar; Bioética: gênese, desenvolvimento, abrangências temáticas e perspectivas para o século XXI; Questões de Bioética ligadas ao Inicio da Vida Humana; Psicologia no Contexto da Saúde; Metodologia da Pesquisa Científica; Antropologia Filosófico - teológica na contemporaneidade; Liturgia no Mundo da Saúde: celebrações e sacramentos; Introdução à Administração Hospitalar; Comunicação e Relação de ajuda no Mundo da Saúde; Bíblia e Saúde; Saúde e Direito; Questões de Bioética ligadas ao final da Vida Humana; Bioética, Ciência e biotecnologia. Carga Horária: 488 horas. Duração: 12 meses (módulo intensivo nos meses de Janeiro e julho Dias da semana e horários: 2ª à 6ª feira das 8h00 às 16h30 (Pompéia) Coordenador: Anísio Baldessin Mensalidades: Os interessados poderão solicitar bolsa integral desde que o façam com antecedência.


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PASTORAL DA SAÚDE E ASSISTÊNCIA RELIGIOSA AOS DOENTES ANÍSIO BALDESSIN

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uando se fala em Pastoral da Saúde, a primeira idéia que ocorre para a maioria das pessoas é aquela de doentes e dos cuidados que lhe devem ser prestados para que se restabeleça ou, se isto escapar ao nosso alcance, sofra o menos possível e tenha uma morte serena e digna. Todavia, este é um conceito parcial e negativo da saúde, que não se ajusta bem aos anseios profundos do ser humano. Pois a saúde relaciona-se primordialmente à plenitude de vida ou, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde, a um “estado de completo bem-estar físico, psíquico e social”, ao qual acrescentaríamos como pessoas que professam uma religião, completo bem-estar espiritual. O ser humano dispõe de potencialidades limitadas e ricas ao mesmo tempo. A explicação para essas potencialidades contidas no homem pode ser favorecida ou não por fatores internos e externos, que geram, inclusive, a doença, um mal sempre à nossa espreita e diante do qual podemos sucumbir em parte ou por inteiro. Isto porque, por um lado, existem muitas deficiências de ordem genética, isto é, falhas constitutivas do ser. E por outro, falhas provenientes dos meios externos, como por exemplo, de um meio ambiente desfavorável gerado por circunstâncias estranhas ao homem e até mesmo por culpa dele. As deficiências de ordem genética, apesar de todos os progressos científicos já realizados neste campo, escapam quase por inteiro à responsabilidade do homem. Pois algumas hereditariedades genéticas só se desenvolvem com o decorrer de gerações; outras se acentuam, sem esquecer que outras, ainda, podem ser adquiridas por circunstâncias quase sempre desconhecidas, que constituem o misterioso jogo genético, sempre presente nas gerações humanas ao longo de sua caminhada. Já os condicionamentos externos também exercem sua inteligência no jogo genético. Carências

alimentares, que se prolongam por gerações seguidas, diminuem a qualidade genética de forma acentuada, como certos vícios, do tipo alcoolismo ou drogas, que deixam seus rastros. Por outro, as falhas provenientes de fatores externos, são mais facilmente controláveis pelo homem, muito embora nem sempre tenhamos condições efetivas para tanto, sobretudo em certas circunstâncias. Prova disso foi o que ocorreu nos séculos passados com as epidemias, a peste negra ou bubônica, por exemplo, e ainda hoje ocorre com o câncer, aids e até há pouco com a poliomielite. Ou seja, o despreparo científico deixava-nos ou deixa-nos totalmente vulneráveis.

Ações da pastoral da saúde A pastoral da saúde, portanto, não se volta primordialmente para ações de terapias, de saneamento básico, de nutrição e dietética ou de formação técnica de profissionais da saúde, nem tampouco de pesquisas científicas ou de planejamento de saúde. Pode fazer também­ isso, mas não como ação especificamente própria. Diante das necessida-

des urgentes e não atendidas, poderá exercê-la como ação agregada a fim testemunhá-la, através dessas ações. Ela deve anunciar os valores da vida humana, à luz da palavra de Deus, e chamar a atenção tanto do indivíduo quanto da sociedade sobre o dever de preservar e promover esses valores, sob pena de incorrer em riscos no que há de mais fundamental: a vida, raiz e fundamento de toda razão de ser do homem, e a saúde, condicionamento indispensável para a sua plenitude de participação. A vida, porém, não é de interesse apenas de quem a recebeu. Ela pertence também à coletividade pelos benefícios que dela decorrem para todos. Colaborar para a preservação e promoção plena da vida de todos tornase um dever de cada um. A defesa da vida, portanto, deve engajar cada um e a todos numa tarefa delicada e imensa, que não parte de uma opção livre e descompromissada, mas a uma submissão total. A tarefa da pastoral da saúde consiste em revelar aos homens suas contradições e omissões perante a vida e a saúde. Neste sentido, a pastoral da saúde tem hoje um campo imenso de ação, pois são tantas e tamanhas as aberrações que não há quem delas se possa esquecer, muito menos a Igreja. Tais deficiências não se situam primordialmente no mundo terapêutico, apesar de todas as mazelas que o acompanham, mas no contexto geral de nossa vida. Basta lembrar nesse sentido as agressões à ecologia, as carências alimentares e habitacionais que afligem a sociedade, os sistemas de segurança de trabalho e de trânsito, o uso de drogas maléficas, o abortamento e a contenção da natalidade a qualquer preço, os menores abandonados, a criminalidade crescente etc. São tantas e tamanhas as falhas que podemos afirmar, sem ofensas a ninguém, vivermos numa sociedade de cultura de descaso, ou melhor, de menosprezo pela vida.


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Eis aí, portanto, o pano de fundo da pastoral da saúde, uma pastoral rica e ampla, além de urgente, voltada para a vida e as condições de saúde e sua melhoria, numa caminhada longa e difícil de mudanças de mentalidade e de estruturas, à luz da Palavra de Deus, a fim de que “todos tenham vida, e a tenham em abundância”, isenta de frustrações.

A pastoral da saúde e os doentes E os doentes, onde ficariam neste caso? Em primeiro lugar, a doença dimi­ nuiria em muito a sua agressividade e, em segundo lugar, disporíamos de melhores condições para bem atendê-los. Pois os especialistas em saúde concordam, hoje, que a maioria das doenças que fere e matam os homens, sobretudo nos países em desenvolvimento, poderiam ser evitadas sem grandes esforços científicos ou financeiros. Bastaria apenas uma atitude diferente e mais sábia perante a vida e seus valores e o conseqüente reescalonamento das prioridades culturais, sociais, políticas e econômicas dos povos. Adoecemos e morremos, em grande parte por falta de valores básicos ou de sabedoria. Mas, por mais esforços que façamos em favor da vida e da saúde, a doença e a morte serão sempre nossas companheiras inseparáveis. E deveremos continuar fazendo tudo quanto esteja ao nosso alcance para proporcionar ao doente e ao moribundo nossa solidariedade terapêutica, psicológica e espiritual, para que recupere a saúde, se restabeleça plenamente ou entre na eternidade na plena paz dos filhos de Deus. O cristianismo e a Igreja jamais se omitiram nessa tarefa. Antes, a encararam como um dever de todo o ser humano e imposto por Cristo como um dever inerente à caridade fraterna, sem a qual ninguém se realiza e se salva. Mas também aqui não bastam ciências, técnicas, hospitais e profissionais competentes. Faz-se necessário que, sobre tudo isso, paire o Espírito de Deus, que renova e dá sentido a todas as coisas. Anísio Baldessin é padre camiliano e capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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VOCÊ SABE SE DIVERTIR SEM PREJUDICAR A SAÚDE? SIMONE NEGRÃO

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r ao shopping fazer compras, brincar na seção de jogos eletrônicos ou mesmo saborear algumas delícias na praça de alimentação. Comparecer à festa de aniversário e não resistir àquele brigadeiro ou cajuzinho. Pular ao som de uma tarantela, durante uma típica festa italiana, ou se sacudir atrás de um trio elétrico. Quantas vezes você já vivenciou essas situações? Certamente, várias. Elas fazem parte de nosso cotidiano. Mas qual será o impacto dessas atividades no organismo de quem tem diabetes? O endocrinologista Severino Farias decidiu analisar em sua clínica em Salvador (BA), como se comporta quem tem diabetes nos momentos de lazer e o que deve ser feito para evitar que algumas extravagâncias coloquem sua saúde em risco. Foram selecionados para o estudo 19 pacientes com diabetes tipo 1, entre 12 e 48 anos, apresentando problemas de controle das taxas de glicemia, juntamente com seus familiares. Durante um ano, a turma participou de eventos como festas de aniversário, passeios a shopping centers, visitas a hotéis-fazenda, baladas em danceterias e até refeições em “fast-foods”.

Mudança de hábitos Logo nas primeiras etapas do projeto, o endocrinologista percebeu um problema grave. Somente as pessoas com maior tempo de diabetes preocupavamse com a alimentação. “Na festa de aniversário, aqueles que tinham diabetes há anos me perguntavam quais produtos eram dietéticos ou procuravam consumir pequenas quantidades de doces. Já um jovem, com o diabetes recémdesenvolvido, comeu de tudo sem questionar”, recorda. Com base em situações como esta, o Dr. Farias realizou testes de glicemia capilar antes e após cada atividade e, periodicamente, exames de Glicohemoglobina (ou hemoglobina glicosada, responsável por medir a média glicêmica dos últimos 3 meses). Também aplicou questionários de conhecimentos sobre a patologia e promoveu muitas tardes de discussões sobre o assunto. Tudo com o objetivo de orientar e despertar nos pacientes maior responsabilidade no controle do diabetes. “Sempre procurei conversar individualmente com cada um, destacando qual o melhor comportamento para cada tipo de diversão. Uma pessoa que sai para dançar, por exemplo, deve antes medir a glicemia. Se as taxas estiverem elevadas, o indivíduo não pode ingerir álcool, deve tomar muita água e, se necessário, aplicar alguma insulina de ação rápida orientada pelo médico. São atitudes simples que fazem toda a diferença na hora de equilibrar os níveis de açúcar”, ressalta o Dr. Farias. Toques como esse fizeram uma revolução ao término do projeto. Após seguir as dicas do médico, os pacientes modificaram os hábitos alimentares, além de intensificar o monitoramento. Consequentemente os estados de hiper e hipoglicemia diminuíram e as internações, antes frequentes, deixaram de acontecer.


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OITO DICAS PARA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE INSTESTINO

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ara ajudar a proteger você e aqueles que você ama, siga estas valiosas dicas de prevenção: — Se você tem mais de 50 anos, converse com seu médico sobre o exame de colonoscopia. Pólipos, que podem dar origem ao câncer, são mais freqüentes por volta dos 50 anos. Sendo assim, fazer o rastreamento a partir desta idade é uma ótima maneira de prevenção

liar de pólipos e câncer pode aumentar o risco de câncer de intestino. — Fale com seu médico sobre os seus antecedentes médicos. Passado de pólipos e câncer ou inflamação crônica do intestino aumentam o risco de desenvolver câncer de intestino. — Não fume. O tabagismo é um fator de risco também para o câncer

de intestino, principalmente porque a fumaça ingerida transporta substâncias prejudiciais até o intestino. — Procure um médico se você apresenta qualquer sintoma que leve a suspeitar de câncer de intestino. Em estágios avançados pode causar diarréia, prisão de ventre, cólicas na barriga, sangue nas fezes e perda de peso.

­— Faça uma dieta balanceada. Alimentos ricos em gordura, colesterol e carne estão associados ao maior risco de câncer de intestino. Coma boa quantidade de fibras, encontradas nas frutas, verduras, legumes e cereais (aveia, farelo de trigo, grãos). As fibras têm um efeito protetor. — Mantenha um peso saudável. Pessoas obesas parecem ter maior risco de desenvolver câncer de intestino. ­ Faça exercícios. Fazer ativida— des físicas pode diminuir o risco de câncer de intestino. Pratique no mínimo 30 minutos de atividades físicas 3 vezes por semana. — Aprenda sobre a história médica da sua família. Uma história fami-

Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel. (11) 3862-7286, ramal 3 e-mail: icaps@camilianos.org.br Rua Barão do Bananal, 1.125 05024-000 São Paulo, SP

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