mm ANTIGO
SÃOQMI LO PASTORAL DASAÚDE INFORMATIVO D O INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE E BIOÉTICA ANO XXVII N.290 NOVEMBRO/2010
Em memória: morrer é viver 2 O A
Iniciamos o mês de novembro com duas celebrações
ciência. A ciência finaliza quando a morte começa.
muito significativas e importantes para a Igreja: a
Apenas podemos encontrar respostas pela fé, e a fé
celebração do dia de todos os santos e do dia de finados.
cristã nos ensina que a morte não é o resultado da uma
A c e l e b r a ç ã o de t o d o s os santos é uma f e s t a
trágica luta existencial, mas que segue os passos da
e x c l u s i v a m e n t e católica que, t r a d i c i o n a l m e n t e .
morte de Jesus Cristo que a leva à glória da ressurreição.
reconhece a grandiosidade da vida de homens e mulheres
Morte não é " m o r t e " , mas entrada para a verdadeira
que viverem na i n t i m i d a d e com Deus. Santos são
vida, glória e ressurreição. Celebrar finados é celebrar
modelos apresentados pela Igreja como testemunhas
a alegria da vida face a face com Deus, na certeza da
que viveram na fé, na esperança e na caridade as
ressurreição nos dada por Jesus. São bonitas e humanas
verdades contidas no Evangelho. Por esse motivo, a
as palavras de esperança que traz o Prefácio da Missa
comunidade de fé reconhece a santidade dessas pessoas
de Finados: "Nele (em Jesus) refulge para nós a
e a Instituição eleva-as com o titulo de santo. Porém
esperança da feliz ressurreição. E aos que a certeza da
santos não são apenas aqueles que carregam esse titulo
morte entristece, a promessa da imortalidade consola.
institucionalmente, mas todos aqueles que viveram na
Ó Pai, para os que crêem em vós, a vida não é tirada,
intimidade de Cristo e fizeram do ensino contido no
mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos
Evangelho o guia da sua existência. Portanto, há muitos
é dado, nos céus, um corpo imperecível"
santos anónimos publicamente, mas aqueles que os
Romano).
conheceram ou os conhecem sabem da sua santidade. Esses também são lembrados no dia de todos os santos, pois certamente estão no convívio da glória de Deus.
^
_
(cs.Missal
São Paulo nos diz que somos salvos na esperança e que o Espírito socorre a nossa fraqueza (cf. Rm 8, 24.26). Sentimo-nos fracos e impotentes diante da morte.
O dia de finados também é uma festa católica, mas a
Choramos pela perda da pessoa amada, mas o amor
celebração ou o fazer memória dos falecidos ultrapassa
não é barrado pela morte. Sentimos saudades, mas
' o universo eclesial, pois todos vivem a experiência de
continuamos a amar aquele que certamente também está
perder alguém amado e um dia encontrarão com a própria morte. Contudo são poucos os que pensam a morte de forma profunda na nossa cultura ocidental. Infelizmente somos habituados a negar a morte e quando a sentimos de perto, seja pelo falecimento de alguém amado ou por estarmos doentes e percebermos sua proximidade, a tendência é recusá-la. Entretanto, a morte é uma companheira, ou melhor, uma irmã vigorosa da vida, que sempre nos acompanha e nos dá os seus sinais por meio das despedidas, das doenças, das dores, dos sofrimentos e das desilusões. Um dia "especifico" para lembrarmo-nos dos falecidos é uma oportunidade para refletirmos mais profundamente sobre a morte e, a partir dai, olharmos para a vida com um carinho muito especial, perguntando-nos sobre qual o sentido da existência.
"
nos amando ao lado de Deus, que é Amor (1Jo 4, 8). Neste mês, o nosso Boletim traz artigos que nos fazem refletir sobre a dor, o sofrimento e a importância da espiritualidade
nos
momentos difíceis da existência. temos
Também
a alegria
de
divulgar o lançamento de mais uma bela obra sobre Pastoral da Saúde do Pe. Anísio Baldessin, grande especialista
nesse
assunto, que nos oferece mais
uma
grande
contribuição para a ação
A morte é um mistério diante do qual ficamos sem
pastoral no mundo da
respostas se sobre ela nos apegarmos unicamente á
saúde. Boa leitura para todos!
•'E. ALEXANDRE ANDRADE MARTINS DIRETOR D O ICAPS - INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE
&PAST0RAL DASAUDE
Pastoral da Saúde e Democracia r \é cristã leva a caridade a se concretizar em prol
expressão de uma fé que oferece uma ajuda humana a
do próximo numa visão realista do bem comum. Como
infelizes de qualquer hospital, isto sem empecilho
acertadamente escreveu Miguel Real (ao comentar em
jurídico, não passa de uma decorrência histórica da
"Direito natural e direito positivo" sua admiração pela
democracia como conquista humana de alguns povos
obra do jurista austriaco Hans Kelsen), " a democracia
que souberam conciliar a solidariedade humana com o
significa reconhecer que o valor no qual eu ponho a
pluralismo das convicções e dos gostos da sociedade
minha fé não exclui o valor admitido por outrem. A
considerada. A César o que é de César e a isenção
tolerância é portanto o gérmen e o fundamento da
religiosa a uma nação ou, melhor, ao Estado que a
democracia." Quando São Camilo socorreu muitos
governa modernamente.
doentes pobres, ele não exerceu uma imposição de seus valores próprios sobre eventuais valores de cada doente e n f e r m o . A s a l v a ç ã o mais a b r a n g e n t e na q u a l acreditamos está virtualmente oferecida a todos, ainda que
a Instituição
eclesial
tenha
demorado
historicamente para admitir a liberdade entendida como livre opção dos valores de cada pessoa, com a condição de respeitar os valores comuns da sociedade, isto é, respeitando os outros.
O encontro do visitador ou da visitadora com o doente pode resultar numa descoberta recíproca dos valores da
outra
pessoa,
a qual
não c o m p a r t i l h a
necessariamente nossas opções.
Socialmente, na
prática, não são muitas as oportunidades de t a l confrontação a m e n a , f o r a da família
e
dos
círculos restritos
Em que isso interessa à pastoral da saúde? É nisso que
que
costumamos
a visita e a ajuda aos doentes não cristãos, num espaço
frequentar. Como
público, podem ser efetuadas por cristãos ou não
reparou
cristãos, sem antagonismos, isto é, excluindo as
M i g u e l Real, " a
intromissões nos sistemas administrativos ou médicos,
democracia
longe de todo sectarismo, com o beneplácito e a
existe."
ainda
satisfação virtual de um Estado secular liberal. A PE. H U B E R T
LEPARGNEUR
Rf L i G i o s o C A M I L I A N O . T E Ó L O G O
E FILÓSOFO
BB EXPEDIENTE • • o
J^^l^ASTORAL
B O L E T I M SÀO CAMILO
PASTORAL
DA SAÚDE
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SÃOQMILO D A ^ U D E
t U M A P U B L I C A Ç A O D O I N S T I T U T O C A M I L I A N O D E P A S T O R A L DA S A Ú D E E B I O É T I C A - P R O V Í N C I A C A M I L I A N A B R A S I L E I R A
PRESIDENTE: LEOCIR PESSINI CONSELHEIROS: ARJSEU FERREIRA D E MEDEIROS. A N T O N I O MENDES FREITAS. O L A C I R G E R A L D O A G N O U N E A R L I N D O T O N E T A D I R E T O R R E S P O N S Á V E L ALEXANDRE ANDRADE MARTINS SECRETÁRIA; C L Á U D I A S A N T A N A lORNAUSTA R E S P O N S Á V E L D É B O R A M O R A I S M T B ^ . 5 < ^ / S P PROJETO G R Á F I C O E D I A G R A M A Ç A O : FELIPE TORRES nMNSCRiOto REVISÁO: LINA MENDES E A D A Í L T O N M D A SILVA
^J^T^^T^O^^O^T^^L!^
REDAÇÁO; A V E N I D A POMPEIA. 888
T E U (11) 3862-7286. R A M A L 3
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,
,
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BRADfSOO. AGtNOA
0422 7. CONTA CORREffTE
89407-9
tX 11 fWpOtS. O PAGAMCNTD DtVE SfR f f f l D M f D I A N T T DÍPtíS/TD BANCÃRK)
IM NQMf Df PROVÍNCIA CAMfUAMA BRASILEIRA.
[3] Noções sobre a dor o que é a dor?
1.
Morte do filho.
O termo dor procede etimologicamente do vocábulo latino doíium que, por sua vez, deriva do verbo doleo (doer).
2.
Morte do cônjuge.
3.
Separação ou divórcio do cônjuge.
4.
Prisão ou perda da liberdade.
5.
Morte de familiares próximos.
V.
6.
Acidente ou doença.
• Hf"'
7.
Crise familiar grave.
8.
Demissão do emprego.
9.
Perda económica importante.
10.
Aposentadoria.
A dor é a atividade e a atitude de pessoa ante à reação emocional, espontânea e n a t u r a l que provoca o sofrimento produzido por: - Perda de bens, prestígio, posição, afetos, liberdade, amores, amizade, matrimónio (divórcio), vínculos (adoção), identidade pessoal, autoestima, ilusões, honra, verdade, possibilidades, saúde, integridade corporal, raízes culturais, pátria, trabalho... - Omissão daquilo que não se pode ter, ser, fazer, amar ou ser amado. - Distanciamento ou separação parcial/definitiva de alguém amado. -Morte de entes queridos ou a proximidade da própria morte. Sua intensidade A intensidade dos sofrimentos nas dores, obviamente, é muito maior pela morte de entes queridos que por perdas de bens preciosos. Com efeito, a intensidade dos sentimentos se produz por: - O definitivo da perda ou da morte. - A ansiedade da separação. - O vazio ou desconserto da ausência. - A causa e as circunstâncias que a ocasionaram (ação ou m o r t e i m p o s t a , indigna, desumanizada, c o m abandono, com negligência, com violência...). - A profundidade da relação existente. - As atividades e funções desempenhadas pelo defunto ou ausente. -A força do "apego": dependência e independência que foram geradas. - A atitude assumida: passiva ou ativa. - A consideração sobre a realização, satisfação e duração da vida do falecido. - Assuntos sem resolver entre sofredores e defuntos. - Canalização e ressignificação afetivas esclarecidas. - Utilização dos recursos humanos e religiosos de que dispõe cada pessoa: caráter, saúde mental, autoestima, capacidade adaptativa, experiência de outras dores, ação de vínculo e familiar, capacidade de expressar a dor, vivência e s p i r i t u a l . Sofremos como somos, pensamos, cremos e esperamos, isto é, segundo nossa própria personalidade. Muitos autores mencionam a intensidade conforme as seguintes situações:
.vr
_^
Como afeta? No processo de dor ocorrem danos à biologia da pessoa (corporeidade). Ela é afetada (projetos, estilos de vida, mundo emocional, vida social, vida espiritual...) e se diminui a biofilia (autoestima, razão vital, gosto pela vida, sentido existencial...). .
.
,
DIMENSÕES DO SER HUMANO
A dor e uma experiência global. Afeta toda a pessoa, em todas e em cada uma de suas dimensões. Quando m o r r e um ser querido, t o m a m o s consciência da r e a l i d a d e : somos também nós mortais, iremos morrer. Se a pessoa que faleceu é muito querida, também nós morremos um pouco. Nessa pessoa morta se estende um prolongamento de nosso " e u " , porque ela sentia conosco e nós sentíamos com ela ou para ela. Curar essas f e r i d a s abertas em todas e em cada uma das dimensões da pessoa, em um extenso processo terapêutico, é elaborar positivamente as dores. Neste processo, a pastoral da dor, com seus recursos de s a ú d e - s a l v a ç ã o , será instrumento decisivo de cura e de crescimento pessoal, como iremos ver nos artigos seguintes.
PE. M A T E O BAUTISTA
REUGioso C A M I L I A N O MISSIONÁRIO N A BOLÍVIA
A ESPIRITUALIDADE Q
è
Q u confesso que sentia certa apreensão quando, nos
próximo e não necessariamente com um assistente
cursos e palestras de t r e i n a m e n t o para assistente
religioso. A partir de então, comecei a entender o porquê
religioso (capelães) e visitadores de doentes pediam
de uma palestra sobre espiritualidade ser proferida
para que eu falasse sobre e s p i r i t u a l i d a d e . Esse
também àqueles que não prestam serviço diretamente
desconforto se dava por dois motivos: o primeiro por
na assistência religiosa.
não saber definir claramente esse tema e o segundo era entender que tipo de espiritualidade o assistente religioso precisa ter para bem atender aquele que sofre.
o Cu
Para i l u s t r a r o t e m a , o p a l e s t r a n t e r e l a t o u uma história de quando ele ainda
Definições encontrei muitas. Algumas rebuscadas e
era padre recém-ordenado.
outras bastante teóricas. Os artigos, que em geral são
A história era mais ou menos
bem escritos, parecem mais preocupados com as normas
assim:
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e com a indexação das revistas do que em esclarecer as pessoas. Outros, de conteúdo m u i t o teórico, não respondiam a minhas angústias.
" A p ó s minha ordenação, com menos de dois anos de ministério, fui procurado por um amigo dizendo que seu
Porém, certo dia, f u i assistir a uma palestra sobre
casamento estava em perigo
espiritualidade que seria proferida para religiosos e
devido
diretores executivos de escolas e hospitais. O tema era:
avassaladora. Aquelas que
"A espiritualidade dos profissionais". Fiquei imaginando
parecem irresistíveis. Já
como seria essa abordagem. Sem dúvida que pensei:
não sabia mais o que fazer
deve ser mais uma daquelas falas teóricas. Afinal, para
e via que seu casamento
que os executivos necessitam de espiritualidade uma
b r e v e m e n t e chegaria ao
vez que eles não prestam assistência religiosa? Mas
f i m . Diante disso pensei: o
quem iria ministrar a referida palestra era um bispo.
que devo fazer? Falar para
Dele, em geral, sempre se espera um bom conteúdo.
ele esquecer era bobagem. Os apaixonados não agem
O palestrante, ao contrário da maioria dos que eu tinha ouvido até então, não se preocupou em dar uma definição do tema nem e x p l i c a r seu significado. Simplesmente lembrou que todos os seres humanos têm sua espiritualidade. Todos, inclusive os ateus. Isso porque
nem
toda
espiritualidade
provém
necessariamente de uma religião. Além disso, as nossas necessidades espirituais são partilhadas com quem está
a
uma
paixão
pela razão e sim pela emoção. Aconselhá-lo parecia não ser a melhor estratégia. Primeiro por ser um "solteirão" celibatário e não ter muita experiência. Segundo por não estar envolvido emocional e afetivamente no caso. Portanto, não sabia se deveria fazer discursos religiosos, ou ler textos com conotações moralistas, ou então pegar textos bíblicos que condenam de maneira veemente essa prática. O certo é que não sabia bem por onde começar.
A G E N T E RELIGIOSO Depois de muito pensar, tomei uma decisão. Vou ficar
suas visitas e o jogo de baralho eram muito mais para
muito perto deles, sem a preocupação de fazer discursos
evitar que eu saísse à noite e fosse fazer outros
e dar conselhos. Por isso, como gostavam de jogar cartas
programas? Eu entendi muito bem quais eram os seus
nos finais de semana e sempre que tinham tempo livre,
propósitos. Por isso, eu lhe agradeço tudo o que fez por
decidi começar por aí. Ou seja, ir também à noite à
mim. Graças ao seu apoio eu consegui constituir minha
casa deles uma vez q u e ambos trabalhavam o dia inteiro. E assim eu fiz.
família". Nesse exemplo é importante observar que em nenhum momento o ajudante (o bispo) fez discursos religiosos,
O tempo passou, o casal retomou sua
moralistas e recordou os mandamentos da lei de Deus
vida normal, constituíram família e se
ou da Igreja. Não leu textos bíblicos, não fez sermões
mudaram. Eu também mudei, f u i
ou apontou através de palavras qual o caminho que o
convidado e me tornei bispo. Por um
r e f e r i d o rapaz deveria percorrer. Mas, com suas
longo período acabamos perdendo o
atitudes, o ajudado entendeu muito bem a mensagem.
contato. Mas, depois de muitos anos, recebi um comunicado que o rapaz estava muito doente e queria muito me encontrar. No dia em que fui visitálo o rapaz estava bastante abatido pela
doença.
Conversamos
longamente e recordamos o passado. Ele falou da esposa, dos filhos, enfim, de tudo o que tinha se passado em sua vida até então.
Ao visitar o doente, o assistente religioso se preocupa com as questões e s p i r i t u a i s dos e n f e r m o s . Essa preocupação, diga-se de passagem, é muito louvável. Mas a pergunta é: que tipo de espiritualidade deve ter o ajudante para que ao mesmo tempo em que leve o ajudado (enfermo) a mudar a postura possa fazer com que essa mudança de atitude não seja motivada por medo ou castigo de Deus. Por isso, o exemplo mostra claramente que, mais i m p o r t a n t e
Num determinado momento, ele pediu
do que discursar
uma oração e uma bênção onde
sobre
Deus,
é
aproveitou para fazer o pedido de perdão. Porém, antes
testemunhar com
da despedida fez um momento de agradecimento por
atitudes
tudo o que eu havia feito por ele. E dentre os muitos
misericórdia. Essa
agradecimentos lembrou o momento difícil que quase
pode ser uma boa
colocou fim ao seu casamento. Então, ele me disse:
característica da
"eu quero lhe agradecer tudo o que o senhor fez por
espiritualidade do
mim, especialmente naquele episódio. Pois num
a s s i s t e n t e
momento tão difícil você esteve ao meu lado para 'jogar
relisiOSO
baralho*. Você acha que eu não sabia que, na verdade.
=
a Sua
PE. ANÍSIO BALDESSIN PADRE, C C X J R D E N A A PASTORAL DA SAÚDE •
DA ARQUIDIOCESE D E SP EATUA C O M O CAPELÃO N O I N S T I T U T O D O C Â N C E R D E SÃO PAULO.
SÃOQMILO
k?J
J^i^STORAL DA^AUDE
O
z o
Cu
o
Carta ao PAI Q s t i v e internado no Hospital São Camilo no período
Encostado na vidraça, eu parecia estar flutuando como
de 21 de setembro a 3 de outubro de 1988. Passei 9
folha seca no espaço. Senti que a vida do outro lado é a
dias na UTI entre esta vida e a outra vida. Problema?
razão de ser da vida daqui. Uma é a continuação da
Uma hemorragia gástrica, sem úlcera e sem qualquer
outra. A do lado de cá, limitada no tempo, no espaço e
tipo de gastrite. Apesar do esforço da equipe médica,
no grau de felicidade. A do lado de lá, ilimitada,
o sangue não estancava e precisei ser operado.
definitiva, plena, um mundo de tranquilidade, paz e
Gastrectomia total. Hoje estou bem, completamente
f e l i c i d a d e indescritíveis. Parecia-me uma grande
restabelecido.
superfície, enfeitada com véus de nuvens coloridas e
Quero agradecer a Deus a vida t e r r e n a que me^
fundo musical suavíssimo.
prorrogou. Não fora sua infinita bondade, não teria
Deus me apareceu como uma grande luz, clara e
por certo chegado ontem aos 60 anos de idade. Devo
dourada. Seu clarão não ofusca e seu calor não queima.
dizer que renasci. Para ser objetivo, estou com menos
Naquele momento desapareceram os sentidos do tato,
de dois meses de idade.
gosto e olfato. Eu só via e ouvia. Não sei com que
Quero agradecer também, as orações de toda a comunidade paroquial, sacerdotes, religiosas, parentes e amigos. Espero fazer de todos os dias desta minha nova vida, uma vida nova, dedicada à minha família e ao serviço de Deus e da Igreja.
sentidos. Os do espírito? Vi e senti Deus bem próximo de mim. Ele não me puxava para Si e nem me afastava Dele. O ficar nesta vida ou passar para a outra dependia exclusivamente de mim. Senti que Deus não quer tomar a iniciativa mesmo no momento derradeiro. Respeita até o fim a liberdade que deu ao homem. A decisão de
Quero agradecer de modo especial á experiência que Deus me concedeu sobre a vida do lado de lá. Não sei quanto tempo durou. Minutos? Segundos? Não sei.
passar para a outra vida era minha. Senti muitas e insistentes ondas de orações, transformadas em forças positivas e concretas que me queriam aqui.
-<
Estava na UTI. Senti-me um cometa, dirigindo-se desta para a outra vida. Eu não tinha o formato de estrela,
Eu tinha um grande apego à vida de lá que é maravilhosa
mas era um ponto luminoso, do tamanho de uma
e à vida de cá que Deus nos concede como estágio para
cabeça de alfinete. Uma pequena luz brilhante rumando
a vida definitiva. É um tirocínio com tarefas a realizar.
em direção à Grande Luz...
Naquele momento achei que alguns compromissos ainda não estavam totalmente saldados. Compromissos em
A certa altura deparei-me com uma vidraça de alguns milímetros de espessura, muito alta e muito larga. Sem limites. Era uma espécie de barreira que separava
família (esposa e filhos), com a comunidade paroquial e com o São Camilo. Minha opção foi a de continuar vivendo aqui. E aqui estou.
a vida daqui da vida de lá. Que o bom Deus me dê forças para viver esta vida com Esta vidraça tinha uma infinidade de orifícios. Por um deles eu poderia passar para o outro lado. Nesta passagem, a cauda do cometa ficaria do lado de cá. Ela representa o conjunto de coisas de que o homem se serve para viver sua vida terrena, e que fazem parte dele, aqui, mas que não passam para a vida do além.
intensidade e com sanidade. É só o que quero. Texto e s c r i t o por Dário Paterno, que f a l e c e u no Hospital São Camilo de São Paulo no dia 17 de outubro de 2010.
iZi
Por que eu? Porque estou vivo Em um mundo
o
Livre.
Importa saber
Mundo de acertos
Que há uma nova vida
Senhor,
E erros,
Escondida
Aqui estou,
Mundo no qual
Cheia de realizações
Em silêncio
Sou ator
Aguardando
Junto a Ti.
E paciente.
A oportunidade De existir.
Faça em mim
Existem razões
Um novo homem
Para muitas coisas,
Depende
Uma nova mulher
E outros tantos
De como
Pois m i n h ' a l m a
Mistérios
Me levanto.
Ficou sã.
Sem explicação.
Refeito.
Importa saber
Se alguém fala em mim,
Que a vida Ferida,
Se ouço e respondo,
Resgata a humanidade
Tudo poderá
Esquecida,
Ser novo.
João Paulo é agente de Pastoral da Saúde do Instituto de Ortopedia e Traumatismo do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Perdida.
ASSISTÊNCIA RELIGIOSA AOS DOENTES: ASPECTOS PRÁTICOS Esse é o título do novo livro do Padre Anísio Baldessin que acaba de ser publicado pelas Edições Loyola.
--
.
Como sugere o título, o livro apresenta várias reflexões e sugestões que são úteis para padres, pastores, ministros da eucaristia bem como para todos os que desenvolvem ou querem desenvolver assistência pastoral aos doentes nos hospitais, asilos e domicílios. Como os artigos são resultados da prática diária do autor, o livro se destaca pela f a c i l i d a d e de compreensão. Você poderá adquiri-lo nas Livrarias da Edições Loyola (11) 2914-1922 ou mesmo na secretaria do ICAPS (Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde) (11) 3862-7286 com Cláudia,
ou
ainda
icaps@camilianos.org.br
através
do
nosso
e-mail:
Pe. Anísio Baldessin
Assistência religiosa aos doentes: aspectos práticos
SÃOCAMILO
g^i^STORAL DA^jAUDE
Hábitos Alimentares: Como Prevenir-se Algumas mudanças
nos nossos hábitos alimentares podem nos ajudar a reduzir os riscos de desenvolvermos câncer. A adoção de uma alimentação saudável contribui não só para a prevenção do câncer, mas também de doenças cardíacas, obesidade e outras enfermidades crónicas como diabetes.
o
CO
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Desde a infância até a idade adulta, o ganho de peso e aumentos na circunferência da cintura devem ser evitados. O índice de massa corporal (IMC) do adulto (20 a 60 anos) deve estar entre 18,5 e 24,9 kg/m2. O IMC entre 25 e 29,9 indica sobrepeso. Com IMC acima de 30 a pessoa é considerada obesa. O IMC é calculado dividindo-se o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em m). Frutas, verduras, legumes e cereais integrais contêm nutrientes, tais como vitaminas, fibras e outros compostos, que auxiliam as defesas naturais do corpo a destruírem os carcinógenos antes que eles causem sérios danos às células. Esses tipos de alimentos também podem bloquear ou reverter os estágios iniciais do processo de carcinogênese e, portanto, devem ser consumidos com frequência. Hoje já está estabelecido que uma alimentação rica nesses alimentos ajuda a diminuir o risco de câncer de pulmão, cólon, reto, estômago, boca, faringe e esôfago. Provavelmente, eles reduzem também o risco de câncer de mama, bexiga, laringe e pâncreas, e possivelmente os de ovário, endométrio, colo do útero, tireóide, fígado, próstata e rim. As fibras, apesar de não serem digeridas pelo organismo, ajudam a regularizar o funcionamento do intestino, reduzindo o tempo de contato de substâncias cancerígenas com a parede do intestino grosso. A tendência cada vez maior da ingestão de vitaminas em comprimidos não substitui uma boa alimentação. Os nutrientes protetores só funcionam quando consumidos através dos alimentos, e o uso de vitaminas e outros nutrientes isolados na forma de suplementos não é recomendável para prevenção do câncer. Vale a pena frisar que a alimentação saudável somente funcionará como fator protetor quando adotada constantemente, no decorrer da vida. Nesse aspecto devem ser valorizados e incentivados antigos hábitos alimentares do brasileiro, como o uso do arroz com feijão. Na próxima edição do boletim São Camilo Pastoral da Saúde, confira novas dicas da seção Saúde É Bom Saber! fonte: www. inca. gov.ór
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„ . DASAUDE
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