“Saúde Pública:
questão de prioridade”
André Luiz
de
Oliveira
A Seguridade Social (com a tríade: Assistência Social, Previdência Social e a Saúde) e o seu futuro representa
um dos principais problemas sociais que vivemos na atualidade. As preocupações são as mais variadas possíveis e representam uma análise contextual de uma sucessão de equívocos e falta de priorização na boa condução da coisa pública e das políticas governamentais deste país. E o povo brasileiro é tido como o principal prejudicado neste cenário. Cabe ainda ressaltar que só o setor da saúde movimenta R$ 270 bilhões/ano no Brasil e responde por 8,4% do PIB (em comparação com os 15,5% dos EUA) e emprega cerca de 10% da população brasileira. O Brasil, com cerca de 192,3 milhões de habitantes (IBGE, 2010) e 5.565 municípios, sendo que em aproximadamente 455 deles não há médicos, tem no SUS o único acesso à saúde para 145 milhões (75% da população) de brasileiros. São 63 mil unidades ambulatoriais, 6 mil hospitais e 440 mil leitos hospitalares espalhados pelo país. Segundo o próprio Ministério da Saúde, só em 2008 foram 2,3 bilhões de atendimentos ambulatoriais, 300 milhões de exames laboratoriais, 150 milhões de consultas médicas, 132 milhões de atendimentos de alta complexidade e 130 milhões de vacinas aplicadas. E, ainda, anualmente, há 11,3 milhões de internações, 2,3 milhões de partos e 19.000 transplantes de órgãos em toda a rede SUS. No entanto, a dura realidade que permeia o setor de saúde e que provoca uma interferência direta na vida da imensa maioria da população brasileira faz com que possamos inferir que a saúde no Brasil vive um dos períodos mais críticos e precários e, para alguns mais realistas, estamos diante de um verdadeiro caos ou um grave “apagão” do bem-estar. Podemos enumerar aqui alguns dos mais sérios e delicados problemas que enfrentamos no dia a dia dos estabelecimentos públicos de saúde; dentre eles destacamos:
a) superlotação das unidades de urgência e emergência (pronto-socorros); b) acesso precário com filas intermináveis de marcação de consultas, procedimentos e exames; c) falta ou má distribuição de leitos hospitalares no país e insuficiência de leitos de UTI; d) carência e má distribuição de profissionais de saúde pelo território nacional; e) comprometida e insuficiente assistência farmacêutica à população no sistema público; f) sucateamento de material permanente e precarização de material de consumo; g) falta de humanização e de acolhimento adequados nas unidades de saúde; h) carência de informações e esclarecimentos adequados à população; i) desorganização e ausência de planejamento nos serviços disponibilizados; j) tendência à terceirização de várias unidades públicas de saúde; k) tabela de valores SUS defasada e não condizente com a nossa realidade; l) baixa e desestimulante remuneração aos profissionais de saúde;
m) violência e tensionamento crescente entre pacientes/familiares e profissionais de saúde; n) fragilidade ou inexistência do complexo regulatório intermunicipal e, em especial, nas regiões de fronteira interestadual ou até internacional; o) sobrecarga de demanda em municípios “polo” ou “de referência”; p) redução contínua do montante de recursos financeiros aplicados na saúde com o descumprimento da EC 29 (financiamento insuficiente); q) ultra especialização do segmento de serviço de apoio ao diagnóstico e tratamento (SADT) com demanda crescente por tecnologias de ponta e mais onerosas; r) descaso com a atenção à saúde mental, mesmo diante de um aumento preocupante e indiscriminado de dependentes químicos no país, principalmente na camada mais jovem da população; s) preocupante tendência à Judicialização na Saúde, provocando demandas excessivas ao Poder Judiciário e desequilíbrios orçamentários na gestão da saúde; t) despreparo, falta de gerenciamento ou má gestão por parte dos responsáveis pela execução das políticas públicas em saúde, dentre outros.
A fim de que chegue o dia em que todos tenham plena consciência de que saúde não é simplesmente a ausência de doenças, mas o resultado de condições adequadas de saneamento, habitação, educação, geração de renda, alimentação, segurança, cultura, lazer, dentre outros, temos o desafio da Campanha da Fraternidade de 2012 (Fraternidade e Saúde Pública), que vem colaborar para que a cidadania seja um instrumento concreto e acessível a todos os cidadãos brasileiros. Para que esta realidade aconteça, é necessário garantir a contínua vigilância e a adequada qualificação também de agentes de pastoral no campo do controle social; pensar em como atuar benéfica e pró-ativamente com as Políticas Públicas do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, buscando a promoção de um mundo mais saudável, justo, fraterno e solidário, promovendo, ainda, a presença samaritana da Igreja junto aos enfermos e familiares e a disseminação permanente de uma cultura de uma vida saudável.
André Luiz de Oliveira Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde (2003 – 2011) Membro da equipe de apoio à Pastoral da Saúde da AL e Caribe do CELAM (2001 – 2015)
Pastoral
da
Saúde
no
Brasil
e em terras estrangeiras
E stimados leitores, escrevo longe das terras brasileiras. Porém, certamente já estarei de volta quando vocês estiverem lendo este editorial. Eu estou nos Estados Unidos da América, fazendo um curso de Capelania Hospitalar, por indicação do meu provincial, e gostaria de partilhar com vocês essa experiência, fazendo uma breve comparação entre o trabalho da Pastoral da Saúde realizado no Brasil e o realizado nos Estados Unidos.
Em tempos de Campanha da Fraternidade sobre a questão da Saúde Pública no Brasil, vale a pena termos um contraponto com outro tipo de realidade, para poder sentir o tamanho de nosso trabalho, nossas conquistas e pensar nos passos que ainda precisamos dar. A Pastoral da Saúde nos Estados Unidos tem uma abrangência bem menor do que a nossa. Aqui, nos EUA, eles nem chamam essa ação de Pastoral da Saúde, que seria, em inglês, “Pastoral Healthcare”, mas de Pastoral do Cuidado, ou seja, “Pastoral Care”. O trabalho se resume ao serviço de capelania hospitalar, contudo a organização, a estrutura, a abrangência do serviço de capelania e a preparação dos capelães fazem os olhos de qualquer capelão hospitalar, como eu, brilharem. Nos Estados Unidos, existe uma Associação de Educação em Pastoral Clínica (ACPE – Association Clinical Pastoral Education), à qual todas as pessoas que desejam se tornar capelães precisam estar associadas. Por meio dela, hospitais referenciados por todo o país oferecem curso de CPE (sigla em inglês para Educação em Pastoral Clínica). Esse curso consiste em uma atividade de capelania supervisionada por um capelão que fez todas as etapas do CPE para ser tornar um capelão supervisor. O curso prevê três momentos: (1) visita aos enfermos; (2) acompanhamento pessoal junto ao supervisor; e (3) partilha em grupo das dificuldades encontradas no acompanhamento aos enfermos e familiares. O curso é dividido em unidades, que podem ser realizadas em módulos intensivos, por três meses, com atividades diárias em tempo integral, ou módulos extensivos, por um ano, com atividades uma ou duas vezes por semana. Para se tornar um capelão, é necessário fazer no mínimo três unidades; já para se tornar supervisor, é preciso fazer seis unidades e passar em testes aplicados pela ACPE. Essa formação é muito personalizada e, além de conhecimento prático de como acompanhar os enfermos e familiares, permite um encontro do futuro capelão consigo mesmo, o que proporciona grande crescimento em autoconhecimento. É importante destacar que a ACPE é uma associação independente de qualquer denominação religiosa. Ela é ecumênica e inter-religiosa. Praticamente todos os hospitais do EUA têm serviço de capelania, com capelães formados e, diferentemente da realidade do Brasil, o serviço é remunerado e consta como uma especialidade terapêutica oferecida pelos estabelecimentos de saúde. A cultura norte-americana reconhece a importância desse trabalho tal como reconhece a importância do acompanhamento psicológico ou do tratamento médico. No âmbito da Igreja Católica, todo seminarista tem que fazer o CPE antes de se tornar padre, caso contrário os hospitais não aceitariam os padres para serem capelães. Isso também acontece na formação de outros líderes religiosos. Pelo pouco que falei acerca do serviço de Capelania nos EUA, é possível perceber que ele está à frente de nós, no Brasil, em termos de organização, capacitação e reconhecimento por parte do mundo da saúde. Até o fato de os padres norte-americanos terem formação em CPE é um avanço muito grande, coisa que não existe no Brasil como algo obrigatório. Os seminaristas, no Brasil, não têm formação específica para atuar na Pastoral da Saúde, como têm para outras áreas (exceção para o camilianos, pois é parte do seu carisma). Se, por um lado, o serviço de capelania é avançado nos EUA, e ainda temos muito o que aprender, por outro a Pastoral da Saúde se resume a esse tipo de atividade, ou seja, se resume à dimensão solidária. A Pastoral da Saúde no Brasil, por sua vez, avançou para campos impensáveis na cultura norte-americana. O CF 2012 é uma prova disso. Nossa atuação nas dimensões comunitária e político-institucional é uma conquista que deve nos orgulhar, ainda mais se pensarmos em toda a nossa atuação em vista de um sistema de saúde público com cobertura universal, como dever do Estado e direito do povo, algo que não entra na cabeça da maioria dos norte-americanos, pois eles têm como base do cuidado da saúde um sistema baseado em instituições privadas e na oferta de planos e seguros-saúde. Estimados agentes de Pastoral da Saúde, temos que ter a humildade para reconhecer que precisamos avançar na Pastoral da Saúde, sobretudo no seu reconhecimento por parte das instituições de saúde pública e privadas, e na formação dos agentes de pastoral e capelães. Contudo também temos algo para nos orgulhar, que é toda a atuação no campo social e comunitário em vista de um país mais justo, equitativo e universal no seu sistema de saúde.
«Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (Lc 17, 19)
P
Amados irmãos e irmãs
or ocasião do Dia Mundial do Doente, que celebramos no dia 11 de fevereiro de 2012, memória da Bem-Aventurada Virgem de Lourdes, desejo renovar a minha proximidade espiritual a todos os enfermos que se encontram nos lugares de cura ou recebem os cuidados das famílias, enquanto manifesto a cada um deles a solicitude e o afeto da parte de toda a Igreja. No acolhimento generoso e amoroso de cada vida humana, sobretudo da frágil e doente, o cristão expressa um aspecto importante do seu testemunho evangélico, segundo o exemplo de Cristo, que se debruçou sobre os sofrimentos materiais e espirituais do homem para curá-lo. 1. Neste ano, que constitui a preparação mais próxima para o solene Dia Mundial do Doente, que será celebrado na Alemanha, no dia 11 de fevereiro de 2013, e que meditará sobre a emblemática figura evangélica do bom samaritano (cf. Lc 10, 29-37), gostaria de chamar a atenção para os «Sacramentos de cura», ou seja, o Sacramento da Penitência e da Reconciliação, e o Sacramento da Unção dos Enfermos, que encontram o seu cumprimento natural na Comunhão Eucarística. O encontro de Jesus com os dez leprosos, narrado no Evangelho de São Lucas (cf. Lc 17, 11-19) - e de maneira particular as palavras que o Senhor dirige a um deles: «Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (v. 19) - ajuda a tomar consciência acerca da importância da fé para aqueles que, angustiados pelo sofrimento e pela enfermidade, se aproximam do Senhor. No encontro com Ele, podem experimentar realmente que quantos acreditam nunca estão sozinhos! Com efeito, no seu Filho, Deus não nos abandona às nossas angústias e sofrimentos, mas está próximo de nós, ajuda-nos a suportá-los e deseja curar profundamente o nosso coração (cf. Mc 2, 1-12). A fé daquele único leproso que, vendo-se purificado, cheio de admiração e de alegria, contrariamente aos demais, vai imediatamente até Jesus para lhe manifestar o próprio reconhecimento, deixa entrever que a saúde readquirida é sinal de algo mais precioso do que a simples cura física, pois constitui um sinal da salvação que Deus nos concede através de Cristo; ela encontra expressão nas palavras de Jesus: a tua fé te salvou! Quem, no seu próprio sofrimento e enfermidade, invoca o Senhor está convicto de que o Seu amor nunca o abandona, e que também o amor da Igreja, prolongamento no tempo da Sua obra salvífica, jamais desfalece. A cura física, expressão da salvação mais profunda, revela deste modo a importância que o homem, na sua integridade de alma e corpo, reveste para o Senhor. De resto, cada Sacramento expressa e põe em prática a proximidade do próprio Deus que, de modo absolutamente gratuito, “nos toca por meio de realidades materiais... que Ele assume ao seu serviço, fazendo deles instrumentos do encontro entre nós e Ele mesmo”. “Aqui, torna-se visível a unidade entre criação e redenção. Os sacramentos são expressão da corporeidade da nossa fé, que abraça corpo e alma, isto é, o homem inteiro”. A tarefa principal da Igreja é, sem dúvida, o anúncio do Reino de Deus, “mas precisamente este mesmo anúncio deve revelar-se um processo de cura: ‘...tratar os corações torturados’ (Is 61, 1)”, em conformidade com a função confiada por Jesus aos seus discípulos (cf. Lc 9, 1-2; Mt 10, 1.5-14; e Mc 6, 7-13). Por conseguinte, o binômio entre saúde física e renovação das dilacerações da alma ajuda-nos a compreender melhor os “Sacramentos de cura”. 2. O Sacramento da Penitência esteve, com frequência, no centro da reflexão dos Pastores da Igreja, precisamente devido à sua grande importância no caminho da vida cristã, uma vez que “toda a eficácia da Penitência consiste em restituir-nos à graça de Deus e em unir-nos a Ele numa amizade perfeita”. Dando continuidade ao anúncio de perdão e de reconciliação feito ressoar por Jesus, a Igreja não cessa de convidar a humanidade inteira a converterse e a crer no Evangelho. Ela faz seu o apelo do apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo... sejamos embaixadores: através de nós, é o próprio Deus quem exorta. Suplicamo-vos, em nome de Jesus Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20). Ao longo da sua vida, Jesus anuncia e torna presente a misericórdia do Pai. Ele veio não para condenar, mas para perdoar e salvar, para incutir esperança também na obscuridade mais profunda do sofrimento e do pecado, para conceder a vida eterna; deste modo, no Sacramento da Penitência, na “medicina da confissão”, a experiência do pecado não degenera em desespero, mas encontra o Amor que perdoa e transforma.
Deus, “rico de misericórdia” (Ef 2, 4), como o pai da parábola evangélica (cf. Lc 15, 11-32), não fecha o coração a nenhum dos seus filhos, mas espera por eles, procura-os e alcançaos onde a rejeição da comunhão aprisiona no isolamento e na divisão, chamando-os a se reunirem ao redor da sua mesa, na alegria da festa do perdão e da reconciliação. O momento do sofrimento, no qual poderia surgir a tentação de se abandonar ao desânimo e ao desespero, pode transformar-se, assim, em tempo de graça para voltar a si mesmo e, como o filho pródigo da parábola, reconsiderar a própria vida, reconhecendo os próprios erros e fracassos, sentindo a saudade do abraço do Pai e repercorrendo o caminho rumo à sua Casa. No seu grande amor, Ele vigia sempre e de qualquer modo sobre a nossa existência, e espera-nos para oferecer a cada um dos filhos que volta para Ele, o dom da plena reconciliação e da alegria. 3. Da leitura dos Evangelhos sobressai claramente o modo como Jesus sempre demonstrou uma atenção particular para com os enfermos. Ele não só convidou os seus discípulos a curarem suas feridas (cf. Mt 10, 8; Lc 9, 2; 10, 9), mas também instituiu para eles um Sacramento específico: a Unção dos Enfermos. A Carta de Tiago dá testemunho da presença desse gesto sacramental já na primeira comunidade cristã (cf. 5, 14-16): mediante a Unção dos Enfermos, acompanhada pela oração dos presbíteros, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado, a fim de que alivie as suas penas e os salve; aliás, exorta-os a se unirem espiritualmente à paixão e à morte de Cristo, para contribuir, deste modo, para o bem do Povo de Deus. Tal Sacramento leva-nos a contemplar o dúplice mistério do Monte das oliveiras, onde Jesus se encontrou dramaticamente diante do caminho que lhe fora indicado pelo Pai, a senda da Paixão, do supremo gesto de amor, e aceitou-a. Naquela hora de provação, Ele é o mediador, “transportando em si mesmo, assumindo em si próprio o sofrimento e a paixão do mundo, transformando-os em clamor a Deus, levando-os diante dos olhos e até às mãos de Deus, e assim conduzindo-os realmente até o momento da Redenção”. Mas “o Horto das Oliveiras é... inclusive o lugar a partir do qual Ele subiu ao Pai, tornando-se assim o lugar da Redenção... Este dúplice mistério do Monte das Oliveiras também está sempre ‘ativo’ no óleo sacramental da Igreja... sinal da bondade de Deus que nos toca”. Na Unção dos Enfermos, a matéria sacramental do óleo é-nos oferecida, por assim dizer, “como medicamento de Deus... que agora nos torna seguros da sua bondade e deve revigorar-nos e consolar, mas ao mesmo tempo aponta para além do momento da enfermidade, para a cura definitiva, a ressurreição (cf. Tg 5, 14)”. Este Sacramento merece hoje uma maior consideração, quer na reflexão teológica, quer na obra pastoral em favor dos doentes. Valorizando os conteúdos da oração litúrgica que se adaptam às diversas situações humanas ligadas à doença e não só quando o doente está no fim da própria vida, a Unção dos Enfermos não deve ser considerada como que “um sacramento menor” em relação aos demais. A atenção e a cura pastoral pelos enfermos, se por um lado são sinais da ternura de Deus por aqueles que se encontram no sofrimento, por outro trazem benefício espiritual também aos sacerdotes e a toda a comunidade cristã, na consciência de que o que fazemos aos mais pequeninos, é ao próprio Jesus que o fazemos (cf. Mt 25, 40). 4. A propósito dos “Sacramentos de cura”, Santo Agostinho afirma: “Deus cura todas as tuas enfermidades. Portanto, não temas: todas as tuas enfermidades serão curadas... Tu só deves permitir que Ele te cure e não deves rejeitar as suas mãos”. Trata-se de meios preciosos da Graça de Deus, que ajudam o doente a conformar-se cada vez
mais plenamente com o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Juntamente com esses dois Sacramentos, gostaria de sublinhar também a importância da Eucaristia. Recebida no momento da doença, ela contribui, de maneira singular, para realizar tal transformação, associando aquele que se alimenta do Corpo e do Sangue de Jesus, à oferenda que Ele fez de si mesmo ao Pai, para a salvação de todos. Toda a comunidade eclesial, e as comunidades paroquiais em particular, prestem atenção para garantir a possibilidade de se aproximarem, com frequência, da Comunhão sacramental àqueles que, por motivos de saúde ou de idade, não podem acorrer aos lugares de culto. Deste modo, a esses irmãos e irmãs é oferecida a possibilidade de revigorar a relação com Cristo crucificado e ressuscitado, participando com a sua vida oferecida por amor a Cristo, na missão da própria Igreja. Nesta perspectiva, é importante que os sacerdotes que exercem a sua obra delicada nos hospitais, nas casas de cura e nas habitações dos doentes sintam-se verdadeiros “ministros dos enfermos”, sinal e instrumento da compaixão de Cristo, que deve alcançar cada homem assinalado pelo sofrimento. A conformação com o Mistério pascal de Cristo, realizada também mediante a prática da Comunhão espiritual, adquire um significado totalmente particular, quando e Eucaristia é administrada e acolhida como viático. Naquele momento da existência ressoam de modo ainda mais incisivo as palavras do Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia” (Jo 6, 54). Com efeito, a Eucaristia, principalmente como viático, é — segundo a definição de Santo Inácio de Antioquia — “remédio de imortalidade, antídoto contra a morte”, sacramento da passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai, que a todos espera na Jerusalém celeste. 5. O tema desta Mensagem para o XX Dia Mundial do Doente: “Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!”, visa também ao próximo “Ano da Fé”, que terá início a 11 de outubro de 2012, ocasião propícia e preciosa para redescobrir a força e a beleza da fé, para aprofundar os seus conteúdos e para a testemunhar na vida de todos os dias. Desejo encorajar os doentes e quantos sofrem a encontrarem sempre uma âncora segura na fé, alimentada pela escuta da Palavra de Deus, da oração pessoal e dos Sacramentos, enquanto convido os Pastores a permanecerem cada vez mais disponíveis à sua celebração para os enfermos. Segundo o exemplo do Bom Pastor, e como guias do rebanho que lhes foi confiado, os presbíteros sejam repletos de alegria, atentos aos mais frágeis, aos simples, aos pecadores, manifestando a misericórdia infinita de Deus com as palavras tranquilizadoras da esperança. Àqueles que trabalham no mundo da saúde, assim como às famílias, que nos seus próprios entes queridos veem a face sofredora do Senhor Jesus, renovo o meu agradecimento e o da Igreja, a fim de que, na competência profissional e no silêncio, muitas vezes inclusive sem mencionar o nome de Cristo, manifestamno concretamente. A Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos, elevemos o nosso olhar confiante e a nossa prece; a sua compaixão materna, vivida ao lado do Filho agonizante na Cruz, acompanhe e sustenha a fé e a esperança de cada pessoa enferma e sofredora ao longo do caminho de cura das feridas do corpo e do espírito. A todos asseguro a minha recordação orante, enquanto concedo, a cada um, uma especial Bênção Apostólica.
A importância
do cuidado espiritual na saúde Geraldo Trindade *
– CF 2012
A Campanha da Fraternidade - neste ano de 2012 em sua 49ª edição - vem colocar em realce o tema da saúde pública que, por sua vez, evoca a temática do cuidado.
“Cuidar” implica instantaneamente o “descentralizamento” em si para focar-se no outro. Esse é o princípio ativo de toda e qualquer profissão, em especial daquelas ligadas à saúde. Este cuidado não se limita somente ao aspecto fisiológico, mas perpassa os elementos afetivos, éticos, sociais e espirituais. O “cuidado” autêntico é marcado pelo amor e o expressa plenamente. Ele faz o outro sentir-se especial, implica o interesse pelo outro, pelo seu passado, pelo futuro e pela sua história. Faz o outro sentir-se seguro em suas mãos, aproxima-se dele, mesmo sabendo que não pode lhe oferecer a cura. A partir de então, vem a pergunta: “Qual a marca que deixamos em nossa vida e na vida daqueles com os quais nos relacionamos?” Essa busca de sentido é um árduo caminho trilhado por todo homem e mulher. Toda pessoa vive em uma constante busca de respostas e explicações que lhe garantam o sentido da vida e das suas escolhas. Diante dessas questões e problemas existenciais, é preciso questionar: o cuidado da nossa saúde pública tem como finalidade e propósito apenas o cuidado da doença, esquecendo seu lado espiritual? (cf. SILVA, MJT. Espiritualidade como foco de atenção de enfermagem. 3º Congresso Brasileiro Nursing, 2005. Anais. São Paulo, 2005). A espiritualidade deve ser cada dia mais buscada e valorizada na arte de cuidar, ainda mais em relação às pessoas adoentadas. Ela, a espiritualidade, possibilita um cuidado mais global do paciente, estabelecendo um círculo relacional rico entre equipe médica, paciente e família. Porém, o que se vê nos hospitais é um cuidado setorial, marcado pela especificação. O ser humano é um todo-integral, corpo e espírito, e isso não se ausenta quando este adoece. Mesmo que a esperança advinda de um processo espiritual possa não ser a cura do paciente, pelo menos propiciará a ele o ânimo necessário para que batalhe por sua melhora. Tendo feito essas considerações, o lema da CF 2012 “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8) é atual e pertinente. Faz-nos repensar todo um complexo que se foi estruturando no paciente como número e protocolo, ao invés de focalizá-lo como sujeito. Por isso, os pontos a seguir levam à percepção da espiritualidade e sua ligação íntima com a saúde e os procedimentos terapêuticos: O ser humano é um mistério aberto ao infinito e ao Absoluto, ou seja, a Deus. O ser humano é constituído de corpo e alma, por isso toda e qualquer doença deve ser analisada e tratada tendo em vista a globalidade de cada homem e mulher. O conjunto de experiências vividas influi decisivamente na forma como se enfrentam as enfermidades e adversidades. A “con-vivência” natural e espontânea entre equipe médica/enfermagem e pacientes deve ser enriquecedora e profícua, para ambas as partes em um enriquecimento mútuo. As situações cotidianas que acarretam stress influem decisivamente na inteligência emocional e podem acarretar problemas na saúde. O amor não é para ser direcionado em uma única direção, mas ao todo e a todos. Portanto, a espiritualidade no âmbito da saúde é ampla e pertinente. Daí a necessidade de todos os envolvidos nesta área não menosprezarem seu lado espiritual, sua relação pessoal e íntima com Deus, e não descartarem a experiência espiritual dos pacientes. Termos como “cuidar”, “respeitar”, “conviver” relacionam-se diretamente com a espiritualidade; pois não se pode idealizar saúde com uma realidade abstrata, mas como uma equação de diversas interações da vida e tudo isso deve ser levado em consideração. À luz de Cristo, no espírito do bom samaritano, a Igreja sempre esteve presente na vida daqueles que se encontram debilitados, sendo que incentiva os seguidores de Cristo a realizarem ações que concretizem as obras de misericórdia e vida plena (cf. Jo 10,10), especialmente os mais necessitados, por isso ela exige a sabedoria e a ética samaritana para cuidar das pessoas.
*Natural de Cipotânea (MG), bacharel em Filosofia pela FAM (Faculdade Arquidiocesana de Mariana), cursa atualmente a Teologia no Seminário São José da Arquidiocese de Mariana e mantém o blog: http://www.pensarparalelo.blogspot.com
Diretor do ICAPS e vice-coordenador da Pastoral da Saúde Nacional – CNBB lança mais dois livros O Pe. Alexandre Andrade Martins, professor do Centro Universitário São Camilo, lançou mais dois livros referente
à saúde na realidade brasileira, sua problemática, suas questões éticas e sua interface com a teologia. O primeiro livro, Bioética Saúde e Vulnerabilidade: em defesa da dignidade dos Vulneráveis, pela Editora Paulus e o segundo, Teologia e Saúde: Compaixão e fé em meio à vulnerabilidade humana é uma publicação da Editora Paulinas.
Bioética Saúde e Vulnerabilidade: em defesa da dignidade dos Vulneráveis A saúde pública brasileira é um assunto que está sempre em evidência. O motivo é a quantidade de desafios que ainda precisam ser superados. Em 2012, o assunto será ainda mais discutido pela Igreja católica, afinal, é o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Envolvido nessa questão, Pe. Alexandre, na obra Bioética Saúde e Vulnerabilidade: em defesa da dignidade dos Vulneráveis dá ao leitor um interessante subsídio para pensar sobre o assunto, a partir dos vulneráveis de nosso continente latino-americano e brasileiro, ações transformadoras e de cidadania em prol dos sem voz e sem vez, a quem são negados injustamente os direitos básicos de uma vida digna, entre os quais o fundamental direito à saúde.
Valor: R$ 20,00
Dividida em três partes, a obra é um convite a “fazer bioética” de forma diferente, proposta essa que, se assumida, permitirá o desenvolvimento e o aprofundamento de uma bioética latino-americana para que todos ganhem em qualidade de vida. Com linguagem simples, a obra se serve do método ver-julgar-agir, sendo o eixo central das suas reflexões a opção pelos pobres e necessitados.
O livro pode ser adquirido nas livrarias, ou pelo telefone: (11) 3789-4000, ou pelo site: www.paulus.com.br
Teologia e Saúde: Compaixão e fé em meio à vulnerabilidade humana A Coleção Teologia na Universidade fundamenta-se numa postura interdisciplinar e apresenta contribuições resultantes do diálogo entre a Teologia e outras áreas do conhecimento. Este volume estabelece o diálogo entre Teologia e Saúde. Suas reflexões propõem-se como instrumento à maturação das ideias entre alunos universitários e todos aqueles que pretendem fazer da saúde um espaço de desenvolvimento do ser humano em situação de vulnerabilidade. A obra procura apresentar a reflexão crítica e profética da teologia no mundo da saúde. De acordo com a estruturação básica da coleção, sua primeira parte considera o desenvolvimento histórico da saúde junto às sociedades e as diversas formas de compreensão e abordagem da saúde e da doença. Em seguida, dá-se espaço à reflexão propriamente teológica, entendendo a saúde como dom divino gratuitamente oferecido à humanidade. A parte final se dedica a compreender o contexto e as questões emergentes da biotecnologia, encarando seus principais dilemas e tensões. Nesse sentido, permeia a obra uma sintonia de fundo com a nova consciência mundial, que eleva a primeiro plano a equidade, a fim de se atingir a meta de uma população muito mais saudável. O livro pode ser adquirido nas livrarias, ou pelo telefone: 0800-701-0081, ou pelo site: www.paulinas.org.br Os dois livros também podem ser adquiridos na Secretária do ICAPS: (11) 3862-7286
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ICAPS - Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética Tel: (11) 3862-7286 E-mail: icaps@camilianos.org.br Avenida Pompeia, 888 Cep: 05022-000 São Paulo-SP
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