ENTRE A VIDA E A MORTE, MEDICINA E RELIGIÃO, É O NOVO TÍTULO DO LIVRO DO PADRE ANÍSIO
N este livro, não é meu objetivo é simplesmente fazer um relato de
histórias, embora isso também vá acontecer. Afinal, eu sempre gosto, tanto quando escrevo meus textos como quando dou palestras, de ilustrá-los com situações ou casos práticos. Por isso, sempre que for oportuno narrarei alguma história ilustrativa. Alguns desses relatos poderão causar algumas inquietações relacionas à fé. Mas o leitor pode estar certo de que escreverei somente coisas em que eu acredito. Podem até deixá-lo desapontado, principalmente quando essas coisas são ditas por um padre. Porém, esse é o meu jeito de ajudar as pessoas que passam por sofrimento. Ou seja, sendo autêntico, honesto e verdadeiro. Sem “matar” a esperança e/ou tirar a fé de ninguém, mas ao mesmo tempo sem alimentar falsas ilusões, passando por cima dos sentimentos daqueles que sofrem.
EU JÁ SABIA! ANÍSIO BALDESSIN
É comum durante os jogos, principalmente nos estádios de futebol, algum torcedor exibir uma faixa com a frase: “eu já sabia”! O fanático a leva em todos os jogos. Mas é claro que ele só mostrará a faixa se o time de coração estiver ganhando. Todavia, ele e todos os que estão assistindo não imaginam que o time de coração vai perder o jogo e/ou campeonato. Portanto, contrariando a opinião dos cronistas desportivos e dos torcedores adversários ele continuará acreditando que o melhor (a vitória) vai acontecer. Ultimamente, quem atua no mundo da saúde ou lida com questões relacionadas à espiritualidade, têm se defrontado com uma enxurrada de artigos, pesquisas e conferências que versam sobre a importância da espiritualidade na recuperação da saúde. Para se ter uma idéia entre 1980 e 1982, foram publicados nas revistas especializadas 101 artigos a esse respeito. “Já entre 2002 e 2005 nada menos que 1,8 mil estudos foram dedicados ao tema”. Tudo isso para dizer que as pessoas que cultivam o lado espiritual são mais otimistas e esperançosas quando enfrentam problemas de saúde; que a religião proporciona mais segurança e menos estresse na tomada de decisões relativas à doença; ou ainda quem pratica alguma religião tem mais convicção de que sua força interior pode influenciar na cura; o fervor da oração, nesse caso, é considerado um poderoso instrumento para alcançar esse objetivo. Mas, além da melhora clínica e da qualidade de vida dos pacientes, a prática espiritual abrevia o tempo de internação e do uso de medicação, diminuindo o custo do tratamento médico ao paciente e ao sistema de saúde. Essa prática que passou a ser tema de pesquisa e discussão intensa mais especificamente a partir da década de oitenta, com diversas e distintas posições e achados, a Igreja e principalmente os líderes
espirituais já sabiam, há muito tempo, que a prece, introspecção, meditação e espiritualidade práticas milenares de diversas e distintas religiões estavam diretamente associadas ao bem-estar e à promoção de saúde. Mas, talvez, movido pelo ditado, ver para crer, o mundo científico (medicina) nunca levou isso muito a sério. Porém, hoje, convivendo com a realidade do mundo hospitalar, às vezes chego a pensar se isso não é mais um modismo. Afinal, são muitos os que se aventuram a escrever e principalmente falar sobre essa temática. Parece que falar, organizar congressos ou simpósios sobre espiritualidade dá grande ibope. Até mesmo os que não são ligados ao mundo transcendental se prestam para isso. Alguns, é verdade, fazem verdadeira “feijoada” religiosa. Ou seja, misturam religião, religiosidade, espiritualidade, energia, esoterismo entre outras coisas dizendo que tudo isso faz bem à saúde. Muitos cientistas proclamam certa religiosidade, entretanto, religião e religiosidade são duas coisas distintas. Histórica e culturalmente, religião é uma instituição, uma organização social, com dogmas e um sistema teológico próprio a cerca do sagrado. Religiosidade é o sentimento sutil de embevecimento diante da ordem e beleza do universo, a gratidão por essa maravilha chamada “existência”, a vontade de compartilhar esse estado com os outros e fazê-los felizes, é um profundo sentimento de respeito e amor para com a natureza e todos os seres, e um forte projeto de conhecer os princípios organizadores do Cosmos. Penso que não se trata de afirmar se é bom ou ruim. Primeiro porque não é este meu objetivo. Além disso, acredito que tudo o que está ao nosso alcance, devemos proporcionar para que o outro se sinta um pouco melhor. O mundo religioso (igreja) não vai mudar sua atenção no mundo da saúde ou intensificar sua atuação junto aos que sofrem simplesmente porque as pesquisas científicas disseram que a espiritualidade faz bem aos doentes. Tais pesquisas só servem para provar aquilo que há muito tempo a Igreja, apesar das limitações humanas, fez em prol dos sofredores. Pois enquanto a ciência precisa ver para crer, a Igreja afirma que muitas vezes basta crer para ver. Pois quem crê, vê, mas aqueles que esperam e precisam ver para crer talvez nunca tenham essa experiência. Em meio a todas essas discussões, uma coisa é certa. Tudo aquilo que a ciência esperou muitos e muitos anos para dizer, eu já sabia. Padre Anísio Baldessin é membro da capelania e do Comitê de Assistência Religiosa do Hospital das Clínicas da FMUSP.
ICAPS NA INTERNET
Com o objetivo de divulgar as atividades, congressos, cursos e palestras, artigos, livros e outras publicações o ICAPS, Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde criou um site onde os internautas poderão ter acesso a todas essas informações e também poderão manter contato direto com nossa secretaria. Para acessá-lo digite www.icaps.org.br. Entre e fale conosco.
CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE
Aconteceu, nos dias 07 e 08 de setembro, no Centro Universitário São Camilo no bairro do Ipiranga – SP, o XXXII Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde. Estiveram presentes mais de 600 participantes. Dentre eles, agentes de pastoral, religiosos (as), padres, seminaristas, ministros da eucaristia e profissionais da saúde. O congresso teve como tema central: A pastoral da Saúde na Sociedade Brasileira, contou com palestrantes de renome. Dentre eles o Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner e o cardiologista, e eis ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, Dr. Adib Jatene. O padre Anísio Baldessin, padre da Ordem de São
Camilo e coordenador do Congresso proferiu a palestra e lançou o livro que tem como título: Entre a Vida e a Morte, Medicina e Religião. No final do primeiro, o Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB, Sebastião Geraldo Venâncio realizou a Assembleia Geral Ordinária da Coordenação Nacional da CNBB. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todos os participantes, colaboradores e parceiros que direta ou indiretamente contribuíram de maneira significativa para a realização desse evento. A todos, nosso muito obrigado e a lembrança que o próximo congresso acontecerá em São Paulo nos dias 07 e 08 de setembro de 2013.
Não se esqueça! Nos dias 23, 24 e 25 de outubro será realizado o XIII Congresso Brasileiro Ecumênico de Assistência Espiritual Hospitalar. Inscrições pelo site www.congressocampinas.com.br, maiores informações pelo telefone (19) 3521-9381.
Espiritualidade e arte de cuidar
Esta obra aborda o tema da interface entre a espiritualidade e a arte de cuidar, dois aspectos da vida humana que estão ganhando importância na sociedade pós-moderna. O autor a inspirar-se nas atitudes de Jesus de curar e cuidar da vida dos mais frágeis e doentes. Busca resgatar aspectos fundamentais da espiritualidade camiliana, na pessoa de Camilo de Lellis, o santo dos doentes e profissionais da saúde, em que o cuidar é uma obra de arte que une ética e estética, amor e beleza. AUTOR: Pe. Léo Pessini EDITORA: Paulinas Valor: 10,00 R$ Adquira este livro na secretaria do Icaps pelo telefone: (11) 3862-7286 ou pelo e-mail: icaps@camilianos.org.br
O DOM DE BEM ENVELHECER JOÃO BATISTA LIBÂNIO
A sociedade antiga cultivava a velhice como momento de sabedoria, memória e profecia. Prezava a presença do ancião ao ver nele aquele que guardava e transmitia as tradições familiares e culturais. Como memória, retinha o passado. Como sabedoria, salpicava o presente de sabor. Como profecia, ao jogar com a dupla experiência do acontecido e do presente, apontava sinais do futuro. A modernidade e a pos-modernidade abandonaram esse ritmo. Vários fatores pesaram na transformação da velhice, a começar pelo nome. Chamam-na de terceira idade, bela idade, melhor idade. Frei Betto forjou a simpática expressão: “terna idade”, que alude à característica de ternura dos anciãos e da proximidade com a eternidade. Os eufemismos cumprem duplo papel: revelam e escondem. Revelam o respeito que os velhos merecem. Evitam-se apelativos que os ofendem, os diminuem e fazem pesar-lhes ainda mais o somar dos anos. Escondem, porém, a verdade libertadora da cercania do mistério maior, não diria da morte na negatividade, mas do saldo para dentro da eternidade de Deus. O romance Os Buddenbrooks, de Th. Mann, retrata a decadência de uma família de comerciantes bem sucedidos, pela experiência da morte, desde a solene do patriarca até a inexpressiva do neto. Analogamente, a maneira de encarar a velhice exprime, em parte, a decadência da atual cultura. Entre a verdade da realidade, prefere-se a ilusão da aparência. Em relação à terceira idade, há dois extremos a serem evitados. O enruste dos anos com artificialidades falsas, sem que a pessoa assuma a areal condição existencial e, de outro, o acabrunhamento dos anos, como se a velhice anunciasse a antecâmara do cemitério. Nem o
esquecimento da vida já transcorrida, nem o tormento da fragilidade anciã. Dentro dos limites da idade, cabe buscar a melhor condição de vida possível, com realismo e lucidez. Dom Luciano, no final da vida, quando a enfermidade o ameaçava mortalmente, repetia com simplicidade: “Estamos nas mãos de Deus”. A velhice adquire beleza pelas possibilidades que oferece de entrega de vida. À medida que o ancião já não consegue realizar as tarefas de antanho e inicia o lento processo de despedida das atividades, abre-selhe, por outro lado, o imenso espaço e tempo para a contemplação, para o silêncio interior junto ao Senhor. A imagem usada do vinho que se faz saboroso com os anos esconde parte de verdade. Serve de objetivo de vida. Acontece, no entanto, que o vinho mau azeda ainda mais, como disse o filósofo romano Cícero. O envelhecimento não se reduz ao inexorável fato biológico. Pertence ao universo das decisões e da liberdade. Toca-nos escolher entre o caminho da pura acomodação e da resignação, ou até mesmo da amargura, e o da liberdade de trabalhar o próprio caráter até que se entre na noite da inconsciência. No último trilhar da existência, ilumina-se a opção de mergulhar no crescente silêncio da proximidade com o mistério de Deus. Ele já se anuncia no desejo de diminuir o mundo do ruído para gozar de sua presença inefável, sem ritualismos, sem obrigações exteriores e impostas. Vislumbra-se o espaço maior da gratuidade. João Batista Libanio é padre e professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Artigo extraído do Jornal de Opinião, de 20-27/08/2012.
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