SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE INFORMATIVO DO INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE ANO XXX N.331 JULHO 2014
PARA QUEM EU VOU REZAR? ANÍSIO BALDESSIN
Encontrei no elevador um dos médicos responsáveis pela cirurgia de transplante cardíaco. Depois dos tradicionais comentários do calor, do trânsito e de que o tempo está passando rápido demais fiz a clássica pergunta: “Como vão os transplantes?” Ele respondeu: “estamos fazendo muitos. Mas, não tantos como gostaríamos. Aliás, este ano, aqui no Instituto do Coração, esperamos atingir nossa meta que é transplantar, no mínimo, quarenta pacientes. Por isso, o senhor precisa nos ajudar. Ou seja, reze para que possamos atingir essa marca”. Após sua saída fiquei pensando. Mas, rezar para quê e para quem? Pois para atingir essa meta vai ser preciso que quarenta pessoas percam a vida. E essa morte deve acontecer de maneira repentina e muitas vezes de maneira violenta. Diante dessa situação voltou à minha mente antigos e novos questionamentos. Deus vai ouvir as orações de quem? Daqueles que precisam do coração ou de quem, ao se levantar, reza pedindo proteção para seu dia e para que não aconteça nenhum acidente que o leve à morte cerebral? Mas, nestas circunstâncias sempre um vai se dar bem e outro se dará mal! Senão vejamos: numa disputa, apenas um pode vencer. Dois alunos não podem ocupar uma única vaga na mesma universidade. Até mesmo no episódio relatado na Bíblia entre Davi e Golias, algo estranho aconteceu. Ou seja, houve um vencedor. Davi matou Golias. Mas, se “não matar” é um dos mandamentos, por que então Deus permitiu e deu forças para Davi aniquilar seu adversário? Não poderia Ele destruir o mal sem fazer com que alguém morresse? Ou quando Deus usa Seu poder para aniquilar o mal tudo é permitido até mesmo usar a força para matar? Pois para libertar o povo de Israel das garras do Faraó ele fez com que centenas de Hebreus morressem afogados nas águas do mar vermelho. A primeira conclusão a que eu cheguei é que a oração não muda a realidade material e/ou o rumo dos fatos. Pois quando ocorrem os maremotos, terremotos, desabamentos e chacinas, as pessoas, independente da religião, se unem e, de mãos dadas, saem às ruas para rezar. E apesar de toda fé daqueles que rezam tudo se mantém da mesma maneira. Ou seja, as casas que caíram continuam caídas e as pessoas que morreram continuam mortas. O próprio Jesus, antes de ser preso e crucificado saiu para orar no Jardim das Oliveiras. Todavia, Sua oração não eliminou nem o sofrimento físico e muito menos o livrou da morte. Então, por que Jesus se colocou em atitude de ora-
ção? A meu ver por três motivos: primeiro, para estar em sintonia com o Pai; segundo, para compreender qual era a vontade do Pai, que era diferente da d’Ele. Por fim, para pedir ao Pai que o ajudasse a enfrentar todo o sofrimento que estava por vir. Portanto, o que a oração muda é a maneira de encarar as adversidades da vida. Pois apesar da oração não trazer as coisas materiais e os entes queridos de volta, dá às pessoas uma sensação muito importante. Ou seja, de não se sentirem sozinhas. Estão unidas entre si e com Deus. Isto porque com Deus você pode falar a qualquer momento e de qualquer lugar. Entretanto, com as pessoas, isso nem sempre é possível. A conclusão a que cheguei diante de todos esses questionamentos é que em situações limites todos têm muitas esperanças. Porém, nenhuma certeza absoluta. E a maioria se agarra à esperança que, embora não faça desaparecer os problemas, dá às pessoas muita força e coragem para enfrentá-los ou contorná-los. Assim, tanto aqueles que pedem para receber um coração bem como os que rezam para não sofrer um grave acidente o fazem com a mesma certeza de que serão atendidos. E os que ajudam não podem dissuadi-los dessa ideia. Ou seja, não tire a bengala da pessoa sem antes dar outra para que ela possa se apoiar. Caso contrário ela vai desabar.
Anísio Baldessin, padre da Ordem de São Camilo, é capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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DOUTOR, SÓ QUERO SABER DE UMA COISA... LEO PESSINI
O médico especializado em genética, conhecido como geneticista, procura escutar as histórias das famílias, dar um significado à situação e aconselhar frente a situações de desordem ligadas à hereditariedade genética, a respeito dos riscos e consequências de geração de vidas com possíveis taras genéticas. A genética muitas vezes é associada erroneamente ao eugenismo, mas ser geneticista, segundo o geneticista francês, Arnold Munnich, é “frente a uma longa lista de doenças hereditárias, lutar contra as injustiças do nascimento, bem como aliviar o sofrimento das crianças e a angústia dos pais”. Segundo a Sociedade Americana de Genética Humana “o aconselhamento genético consiste no processo de comunicação que trata de problemas humanos relacionados com a ocorrência e o risco de recorrência de uma doença genética em uma família”. A maioria dos pacientes é surpreendida com a notícia de um diagnóstico de doença genética e, sem ajuda, ficam desamparados, o que gera ansiedade, medo do futuro e sentimento de culpa. Daí a importância do aconselhamento genético que vá além da mera informação técnica e seja capaz de apoiar humanamente o casal, a família, ou a pessoa envolvida. Vejamos uma história! Maurício é um jovem médico, especialista em Genética Humana, profissional competente e com uma enorme clientela. Dedica-se a tempo integral para esta nobre especialidade médica, principalmente no âmbito do aconselhamento genético para casais. Lida com frequência com situações adversas, de bebês que nascem com seriíssimos problemas genéticos. Apenas nascem, vivem pouquíssimo tempo e já partem! Que contraste! A esperança de vida de chegada acaba se misturando com o luto, ou seja, dor da perda no coração dos pais que passam por uma experiência dolorosa como esta.
Jaqueline é uma jovem mãe, cliente sua já há alguns anos, procura o Dr. Maurício no Hospital com o atestado de óbito nas mãos, de seu amado bebê, Leandro, que falecera há alguns dias de uma estranha doença genética. Após saudá-lo ela lhe pergunta: “Doutor, só gostaria saber de uma coisa. Será que meu filho me amou? O médico não sabendo o que dizer, portanto sem resposta, não escondendo seu ar de surpresa e desconserto, pelo tipo de pergunta nada científica ou médica, a olha atentamente, franze a testa, e pede licença para sair um instante.... procura ver se encontra alguma resposta adequada para esta situação. Vai até o fundo do corredor daquele andar, toma um rápido café, enquanto isto seus neurônios trabalham a mil por hora...pensa na estranheza da pergunta nada médica e muito menos científica, mas empaticamente sintonizou com a dor e a preocupação afetiva de Jaqueline! Após alguns minutos ele volta e responde: “Sendo que Leandro foi muito esperado, desejado e, portanto amado, podemos sim dizer, com toda certeza que ele também muito lhe amou Jaqueline!” Esta jovem mãe cai num pranto convulsivo, quase sem entender, verbaliza ao médico: “Eu o amei muito doutor”! Este emocionado, respeitosamente a abraça em silêncio por alguns instantes. Ela o agradece, emocionada e em seguida se despede do médico. Eis um flagrante da vida real, inusitado! Ainda bem que existem profissionais médicos humanos, sensíveis e éticos. Para além de sua competência profissional técnico-científica, não se esquecem de serem humanos, sendo compassivos, e sensíveis com a dor do outro, procurando sempre “colocar o coração nas mãos”. Prof. Dr. Pe. Leo Pessini é Provincial da Província Camiliana Brasileira e Presidente das Organizações Camilianas do Brasil
O QUE NOS IMPEDE DE ESCUTAR DIREITO Uma grande variedade de distrações pode impedi-lo de escutar corretamente. BARULHO – O excesso de barulho no ambiente pode causar interferência. Você consegue ouvir as pessoas com facilidade quando elas falam num tom normal ou a voz deles não é encoberta por música ou barulho de televisão em alto volume, pelo burburinho geral ou pela fala de seus colegas e de outras pessoas. INTERRUPÇÕES – A comunicação acontece quando duas pessoas interagem. Você já tentou explicar algo a alguém que dizia a todo momento “só um segundo, preciso atender o telefone” ou olhava por cima de sua cabeça para gritar informações ou passar orientações para outras pessoas. Essas interrupções, que podem ser evitadas, dizem ao outro (paciente) “você não é importante” ou na verdade, não estou interessado em escutá-lo. DISTRAÇÃO – As interrupções podem partir tanto da sua mente quanto do exterior. Quando você percebe que está pensando no filme que pretende ver à noite ou na briga que teve com alguém pela manhã, essa interrupção interna pode ser exatamente tão prejudicial à escuta eficaz quanto o fato de você trabalhar em um ambiente barulhento. TECNOLOGIA – Esse fator pode tanto nos atrapalhar a ouvir com atenção quanto nos ajudar a manter o contato. Apesar de todo o bom serviço viabilizado pelos aparelhos de telefone, pelos terminais ativados por voz e por microfones remotos em janelas que se abrem para o atendimento a motoristas, é muito mais difícil ouvirmos alguém que não podemos ver cara a cara ou cuja voz seja distorcida por um aparelho. O monitor em
sua mesa de trabalho também pode causar interferências. Em vez de tentar escutar o cliente enquanto procura pelo cadastro dele, você talvez simplesmente diga: “tudo bem, Dona Maria, estou acessando seus dados na minha tela. Sim, aqui estão. Agora vou dar uma olhada geral para ver se consigo captar todos os detalhes”. ESTERIÓTIPOS – Quando rotulamos as pessoas, isto é, quando fazemos suposições sobre sua aparência e seu comportamento, bem como sobre o que deveriam dizer, dificultamos a compreensão do que elas estão expressando realmente. Com base nesse início equivocado, adaptamos o que vemos, vivenciamos e ouvimos mais tarde a esse prejulgamento falho. E quase sempre estamos completamente errados. PALAVRAS E FRASES – Todos nós temos calos nos quais o outro pode pisar sem querer. E, uma vez feridos, em geral paramos de escutar. Lembre-se de que sua preocupação principal é descobrir o que o outro (paciente) está tentando dizer, e não apenas ouvir cada uma de suas palavras individualmente. O que faz você subir pelas paredes pode ser, do ponto de vista do outro, algo inocente. E, mesmo que ele esteja sendo muito agressivo, o fato de você não reagir à altura mostra seu estilo e sua boa vontade. ATITUDE – Sua atitude colore o que você escuta e seu modo de responder. Pessoas na defensiva avaliam tudo à procura de mensagens ocultas. Indivíduos agressivos quase sempre estão atrás de briga e dizendo frases do tipo “Alto lá, fique sabendo que ... “ antes mesmo de o outro ter terminado. A postura que você adota deve ajudá-lo a escutar o cliente, e não torná-lo surdo às palavras dele.
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PASTORAL DA SAÚDE
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SEGUNDA EDIÇÃO
DICIONÁRIO INTERDISCIPLINAR DA PASTORAL DA SAÚDE
Acaba de ser lançada a segunda edição do livro: ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL AOS DOENTES: ASPECTOS PRÁTICOS, que é de autoria do Padre Anísio Baldessin. O livro traz vários artigos para orientar agentes de Pastoral da Saúde, assistentes espirituais hospitalares e ministros extraordinários dos enfermos. Você poderá adquiri-lo na secretaria do ICAPS (11) 38627286 com Fernanda, através do e-mail icaps@camilianos.org.br ou mesmo nas Edições Loyola.
São mais de 200 verbetes que abrem novos horizontes de reflexão do saber teológico e oferecem aprofundamentos originais de temas. A pastoral da saúde poderá encontrar, neste dicionário, grande número de estímulos e motivações para renovar-se e tornarse imagem profética do amor de Deus para a humanidade, sobretudo a que sofre.
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PROGRAMA DO XXXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE A FÉ DESPERTA A AÇÃO: COMO ENFRENTAR OS OBSTÁCULOS NA PASTORAL DA SAÚDE? SÁBADO – DIA 06 DE SETEMBRO
DOMINGO – DIA 07 DE SETEMBRO
07:30 - às 8:30 – Credenciamento e entrega de materiais – Equipe de secretaria 08:30 às 9:15 – Oração e abertura 9:15 às 10:15 – 400 Anos da Morte de São Camilo – Vídeo de São Camilo – Padre Lélis e Equipe 10:15 às 10:45 – Intervalo para café 10:45 às 12:00 – Invista na Sua Saúde: Análise da Medicina nos Dias Atuais – Dário Birolini 12:00 às 13:15 – Intervalo para almoço 13:15 às 13:45 – Tribuna Livre, música e relaxamento. 13:45 às 15:00 – Transplantes e Tráfico de Órgãos Humanos – Dr. José Osmar Medina de Abreu Pestana 15:00 às 15:30 – Intervalo para café 15:30 às 16:15 – O Agente da Pastoral da Saúde e os Desafios da Promoção e Prevenção da Saúde - Bianca Borges 16:15 às 17:00 - Décima Quinta Conferência Nacional de Saúde: Desafios e Possibilidades – Dr. Gilson de Carvalho 17:15 – Encerramento 17:30 –Assembleia Ordinária da Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde da CNBB
7:45 às 8:45 – Celebração da missa 8:45 às 9:45 – Assistência Pastoral aos Doentes Terminais e aos Idosos – Diácono Vicente Nogueira 9:45 às 10:30 - “Escuta Ativa na Assistência Espiritual ao Doente” – Pastoral da Escuta 10:30 às 11:00 – Intervalo para café 11:00 às 12:15 – Como se comunicar bem com os doentes – Tereza Cristina Gioia Schimidt 12:15 às 13:15 – Intervalo para almoço 13:15 às 14:30 – Assistência Espiritual aos Doentes: Como confortá-los? – Pe. Anísio Baldessin 14:30 às 15:00 – Intervalo para café 15:00 às 16:30 - Como Organizar a Pastoral da Saúde na Paróquia nas Três Dimensões - Sebastião Geraldo Venâncio 16:30 às 17:15 - Informações e agradecimento 17:30 – Encerramento
ATENÇÃO: A organização do congresso não se responsabilizará pela hospedagem e alimentação dos participantes. A inscrição somente será efetivada após confirmação via telefone. FICHA DE INSCRIÇÃO
A inscrição deve ser feita mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira - Banco Bradesco - Agência 0422-7 - Conta Corrente 89407-9. Após efetuar o depósito, enviar esta ficha juntamente com o comprovante de pagamento para o endereço Av. Pompéia, 888 - CEP 05022-000- São Paulo SP; pelo fax (11) 3862-7286 ou por e-mail icaps@camilianos.org.br
NOME ENDEREÇO CIDADE FONE
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VAGAS LIMITADAS - Antes de mandar sua inscrição entre em contato com a secretaria para saber se ainda dispomos de vagas. Não deixe para fazer a inscrição nos últimos dias. TAXA: Até o dia 26 de agosto R$ 28,00. A partir desta data até o dia do congresso o preço será de R$40,00. Não será permitida inscrição no dia do evento.
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AS CRIANÇAS E A MORTE CONTARDO CALLIGARIS
Alguém me pergunta: a partir de que idade é certo levar uma criança para um velório de caixão aberto? Cedo, soube o que era a morte e como era um morto. Ainda pequeno, acompanhei os enterros de familiares e amigos dos meus pais. E, sobretudo, quando eu tinha por volta de 11 anos, meu avô se apagou progressivamente nos meus braços, enquanto o sangue jorrava da garganta dele, a jatos longos e descontínuos, pelo buraco aberto de sua traqueostomia -a aorta tinha estourado, alcançada por um tumor. Minha avó se desesperava gritando e berrando pelo quarto. Minha mãe tentava acalmar minha avó e evitar que ela fizesse pior do que se arrancar os cabelos. Meu pai estava voltando para casa e fez milagres, chegou antes da ambulância, mas, mesmo assim, tarde demais: para olhar nos olhos de meu avô enquanto a vida o deixava, só sobrei eu. Depois, ajudei a lavar e vestir seu corpo. Escolhi a gravata e os sapatos. Ele foi velado em casa, durante três dias, para que os parentes tivessem o tempo de chegar do Centro-Itália. Durante esse tempo, várias vezes, de dia e de noite, fiquei no quarto dele, para lhe fazer companhia. Por isso, os mortos são para mim presenças familiares - e singulares: acho que cada um deles tem uma expressão própria, como se o caráter de quem nos deixou fosse reconhecível depois da morte. Aos 11 anos, eu ainda tinha medo do escuro - o medo só passou quando me tornei adulto, ou seja, quando eu tive que proteger alguém que estava com mais medo do que eu. Mas algo mudou com a morte do meu avô: entre os monstros que povoavam o escuro, não houve mais mortos e fantasmas - desde então, se eles compareceram, sempre foi na luz, e foram bemvindos. Agora, muitos pais temem que uma experiência precoce da morte seja impossível ou não seja boa para as crianças. Às vezes, alguém me pergunta: até que idade devemos esconder das crianças que alguém morreu? A partir de que idade seria certo levar uma criança para um velório de caixão aberto? Não conheço nada, em psicologia do desenvolvimento, que nos diga a partir de quando uma criança entende o que é a morte (claro, a partir dos sete anos - estágio operatório concreto - qualquer criança vai entender melhor do que entre os dois
e os sete). Também, nos estudos da dinâmica afetiva do luto, não tem nada (que eu saiba) que nos diga com certeza a partir de que idade uma criança deve poder encarar a morte de um próximo. Os pais podem procurar no “Google” em “Luto em Crianças” ou em “Child Bereavement”: eles encontrarão uma série de sites que oferecem conselhos honestos e bem pensados. Mas vai ser difícil encontrar uma resposta argumentada clínica e “cientificamente”. A leitura de um famoso estudo longitudinal, o GH/Harvard Child Bereavement Study, tende a sugerir que as crianças e os jovens participem das cerimônias fúnebres quando seus pais morrem - mas, de novo, é só uma sugestão. A decisão fica com os adultos. E é justo que seja assim, por uma razão simples: quando ajudamos as crianças a não enxergar a morte, não estamos protegendo as crianças - as quais se protegem muito bem sozinhas e são, em geral, muito mais vigorosas (mentalmente) do que a gente imagina. Quando agimos dessa forma, repito, não estamos protegendo as crianças, mas a “infância”, ou seja, a visão ideal que nós, adultos, temos das crianças; nessa visão, não há espaço nem para a morte nem para o pensamento da morte, só há espaço para uma encenação permanente da felicidade e do brincar, que é a careta que nós chamamos de infância sorridente. Mas a morte é aqui apenas um exemplo. A lista é longa das coisas que gostaríamos de manter afastadas de nossa visão idealizada da infância e que, portanto, escondemos das crianças. Isso aqui, só depois dos 14. Que 14? Só depois dos 16 ou dos 18. Há os que tentam esconder tudo das crianças, porque querem “preservá-las”. E há os que acham que nada deveria ser escondido das crianças, porque tudo é “natural”, tudo é “bonito”, nada é vergonhoso. Os dois grupos são menos opostos do que parece. Em ambos os casos, os adultos mostram coisas às crianças ou escondem coisas delas por uma mesma razão: para preservar sua visão de um mundo encantado e infantil, onde todos são “felizes” e tudo é “legal”. Esse mundo não é o das crianças; é o mundo dos sonhos dos adultos. Enfim, voltarei ao tema por um viés menos de Quintafeira Santa: o que mostramos às crianças ou escondemos delas em matéria de sexo.
O boletim “São Camilo Pastoral da Saúde” é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde - Província Camiliana Brasileira. Presidente: Pe. Leocir Pessini / Conselheiros: José Carlos Dias Sousa, Antonio Mendes Freitas, Mário Luís Kozik e Jorge Sérgio Pinto de Souza / Diretor Responsável: Anísio Baldessin /Secretária: Fernanda Moro / Projeto Gráfico e Diagramação: Fernanda Moro / Revisão: José Lourenço / Redação: Av Pompeia, 888 Cep: 05022-000 São Paulo-SP - Tel. (11) 3862-7286 / E-mail: icaps@camilianos.org.br / Site: www.icaps.org.br / Periodicidade: Mensal / Tiragem: 2.000 exemplares / Assinatura: O valor de R$20,00 garante o recebimento, pelo correio, de 11 edições. O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, Agencia 0422-7, Conta Corrente: 89407-9.
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