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SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE INFORMATIVO DO INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE ANO XXX N.334 OUTUBRO 2014

XXXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE Aconteceu, nos dias 06 e 07 de setembro de 2014, o XXXIV Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde. O tradicional evento que neste ano teve como tema central: A fé desperta a ação: Como Enfrentar os Obstáculos na Pastoral da Saúde, foi realizado no anfiteatro do Centro Universitário São Camilo no bairro do Ipiranga – São Paulo. Neste ano, o número de participantes superou a expectativa dos organizadores ultrapassando a casa de 650 pessoas. Número esse que só não foi maior por falta de espaço físico. Nesses dois dias foram discutidos temas relevantes para as três dimensões da Pastoral da Saúde. No primeiro dia mereceu destaque a palestra do Dr. Dario Birolini. Ele fez uma análise da medicina nos dias atuais e lembrou que é de suma importância as pessoas investirem na própria saúde. Em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade 2014 o Dr. José Osmar Medina falou sobre transplantes e tráfico humano de órgãos. De forma clara e precisa a palestra do Dr. Medina além de informar, serviu para esclarecer uma série de dúvidas a respeito dos transplantes e desmistificar falsas informações sobre tráfico de órgãos. Fechando o primeiro dia, a sanitarista Bianca Borges discorreu sobre a importância do Agente de Pastoral da Saúde na promoção e prevenção da Saúde. Os temas do segundo dia trataram dos aspectos prá-

São Paulo discorreu sobre a importância da escuta ativa na assistência espiritual aos doentes. A professora do Centro Universitário São Camilo, Tereza Cristina Gioia Schimidt abordou, de maneira clara, como se comunicar bem com os doentes. Fechando o dia e o congresso, à tarde aconteceram ainda duas palestras. A primeira proferida pelo Pe. Anísio Baldessin, padre camiliano, capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP e diretor do ICAPS, que fez algumas ponderações, fruto de sua experiência prática na assistência espiritual aos doentes, sobre a assistência espiritual aos doentes. Por último e não menos importante, foi a palestra do Coordenador da Pastoral da Saúde da CNBB, Sebastião Geraldo Venâncio que deu dicas práticas sobre como organizar a Pastoral da Saúde na paróquia. Quero lembrar aos leitores que já foram agendadas as datas para 2015. O XXXV congresso acontecerá nos dias 05 e 06 de setembro, no mesmo local. Ou seja, no anfiteatro do Centro Universitário São Camilo em São Paulo. Aproveito para informar que as palestras do congresso, dentro de um mês ou pouco mais poderão ser adquiridas em nossa secretaria através do telefone (11) 3862-7286 ou e-mail icaps@camilianos.org.br . Os que acessam a internet poderão obter o conteúdo na íntegra de todo material no Youtube. Em nome da Província Camiliana Brasileira e da direção do ICAPS quero agradecer a todas as pessoas que

ticos da dimensão solidária da Pastoral da Saúde. Mereceram destaque nesse dia os seguintes temas: Assistência pastoral aos doentes terminais e aos idosos, que foi abordado pelo diácono Vicente de Paulo Nogueira, que trabalha na capelania do Hospital das Clínicas e também presta assistência espiritual no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Frei Hipólito e sua equipe do Serviço de Escuta de

direta ou indiretamente colaboraram para a realização de mais esse congresso. Que Deus recompense a todos. Pe. Anísio Baldessin – Diretor do ICAPS e coordenador geral do congresso.

Padres e Irmãos Camilianos a Serviço da Vida JUNTE-SE A NÓS, SEJA UM CAMILIANO TAMBÉM! “Estive enfermo e me visitastes” (Mt 25,36)

Serviço de Animação Vocacional Av. São Camilo, 1200 - Cotia - São Paulo - SP - CEP: 06709-150 Fone: (11) 3564-1634 vocacional@camilianos.org.br / www.camilianos.org.br


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OS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO MAIS COMUNS CAUSADOS PELA DOENÇA DE ALZHEIMER Um aspecto muito importante a ter em conta nos doentes de Alzheimer é a alteração da sua capacidade de comunicação, o que pode tornar a comunicação com estes doentes um desafio. Perante esta situação geralmente os cuidadores e/ou familiares ficam impacientes. É assim importante estes se informarem sobre que problemas de comunicação são mais comuns em doentes de Alzheimer de forma a ter uma ideia melhor de como lidar com essas alterações. • Dificuldades em encontrar a palavra certa durante uma conversa; • Dificuldades em compreender o significado das palavras; • Dificuldades em manter a atenção durante longas conversas; • Perda do raciocínio durante uma conversa; • Dificuldades em referir passos de atividades comuns como cozinhar, vestir, etc; • Problemas em abstrair-se de barulhos de fundo como os da televisão, rádio, outras conversas, etc; • Frustração quando não conseguem comunicar-se; • Ser muito sensível ao toque, ao tom e volume da voz. É portanto difícil compreendê-los mas também estes se fazerem compreender. Assim é essencial que os familiares e/ou cuidadores “aprendam” a comunicar e a lidar com estes doentes, de forma a tornar o dia-a-dia menos estressante e a melhorar a sua relação com o doente. Para uma eficaz comunicação é essencial criar um ambiente positivo para a interação com o doente, sendo importante tratá-lo de forma amável e, acima de tudo, com respeito. Muitas vezes a atitude e a linguagem corporal são mais importantes que as próprias palavras, podendo então utilizar por exemplo, expressões faciais e contato físico, para auxiliar a transmissão da sua mensagem e a demonstrar os seus sentimentos e afetos. As seguintes sugestões podem facilitar a comunicação com o doente: • Tentar optar sempre por palavras simples e frases curtas, falar calma e pausadamente, bem como utilizar um

tom de voz baixo e suave. Nunca deve falar com estes doentes como se tratassem de bebés, ou falar destes como se não estivessem presentes. • Limitar as distrações e o barulho (exemplos: desligar o rádio e a televisão, fechar as cortinas, etc.) de modo a focar a atenção do doente no que lhe está dizendo. Estabelecer contato visual e chamar o doente pelo nome, garantindo que antes de falar com ele tem a sua atenção. • Como estes doentes apresentam dificuldades em reconhecer familiares e amigos, pode começar a conversa apresentando-se, ou seja, relembrando-o de quem é. • Simplificar as questões colocadas ao doente. Fazer uma pergunta de cada vez, optar por questões cuja resposta é “sim” ou “não”, ou então fazer a pergunta de forma a limitar as opções de resposta. • Ser paciente e permitir que o doente tenha tempo para responder às questões, ouvindo-o atentamente. Acima de tudo não o interromper mesmo que saiba aquilo que ele está tentando dizer. • Se o doente estiver com dificuldades em encontrar a palavra correta ou a comunicar um pensamento, auxiliar gentilmente a expressar-se fornecendo-lhe as palavras que ele está à procura, isto se o doente parecer estar aberto à ajuda. • Quando o doente começar a ficar perturbado, tentar mudar o assunto de conversa ou o ambiente. • Muitas vezes estes doentes sentem-se confusos e ansiosos o que os pode levar a recordar de coisas que nunca ocorreram. Aqui é importante tentar não os convencer de que estão errados, mas sim confortá-los e apoiá-los, caso o assunto não seja de risco. • Se o doente parecer triste, encorajar a expressão dos seus sentimentos, e mostrar que é compreendido. Usar o humor sempre que possível, já que pode ajudar a liberar a tensão e ser uma boa terapia! Ter para com estes doentes uma atitude carinhosa e tranquilizadora. • Estar sempre atento a possíveis problemas de audição e visão do doente que possam afetar a comunicação. Texto recebido pela equipe de redação do ICAPS

A CRUZ DE CADA DIA NILO LUZA

E Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir a Jerusalém, e sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Então Pedro levou Jesus para um lado, e o repreendeu, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!” Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: “Fique longe de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!” (Mt 16, 21-23) Jesus anuncia sua decisão de ir a Jerusalém, onde será julgado e condenado injustamente. Pedro procura intervir, alertando-o do perigo. Jesus responde, chamando Pedro de satanás, pois se coloca como obstáculo ao projeto do Mestre. A partir daí, Jesus convida a segui-lo todo aquele que estiver disposto a renunciar aos projetos incompatíveis com o reino e assumir a própria cruz. Diante dessas exigências, muitos tomam outros rumos. A cruz assusta e constitui um obstáculo ao seguimento de Jesus; é vista como loucura, desafiando os discípulos de todos os tempos a amadurecer numa fé profunda e comprometida com o Mestre. Não se trata de criar ou buscar cruzes do dia a dia, muito menos lançar cruzes sobre os ombros do povo já sobrecarregado de problemas e dificuldades. Carregar a cruz significa ser fiel ao projeto de Jesus, abandonando tudo o que não condiz

com seu evangelho e aceitar as consequências dessa opção. Jesus não quis nem buscou o sofrimento para si nem para ninguém. Ao contrário, procurou livrar as pessoas da dor e dos fardos inúteis – combateu as causas do sofrimento do povo. Justamente por isso é que foi levado à cruz. Quem quiser segui-lo terá de solidarizar-se com os que sofrem e não se acomodar diante das estruturas que afligem a vida humana e a vida do planeta. Seguir o Cristo glorioso é fácil e consolador. O Jesus da cruz não anima e nem atrai. A exemplo de Pedro, muitas vezes queremos amenizar as exigências do Mestre e impedi-lo de continuar fiel ao Pai. Não admitimos vê-lo fracassado, pregado numa cruz. Queremos um Jesus vitorioso, triunfante, milagreiro e açucarado. Antes desse episódio Pedro foi chamado de rocha, porque confessou Jesus por Filho de Deus. Hoje é chamado de satanás, porque se põe como obstáculo aos seus planos. Somos rocha, como Pedro, à medida que nos abrimos à revelação divina e nos deixarmos conduzir por ela, colaborando com seu projeto. Mas podemos também ser chamados de satanás, se seguimos interesses e caprichos egoístas e nos fazemos um obstáculo aos planos do Pai.

Nilo Luza é padre da congregação dos padres Paulinos e escreve no folheto O DOMINGO.


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PASTORAL DA SAÚDE

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PICADA QUE AMEAÇA BRUNO DOMINGUEZ Pequenas picadas, grandes ameaças. Esse é o mote da campanha da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Dia Mundial da Saúde de 2014, comemorado em 7 de abril. Anualmente, a instituição define um tema de saúde pública a ser priorizado pelos países; a intenção desta vez é alertar para os riscos das doenças vetoriais, aquelas que não passam diretamente de pessoa para pessoa, sendo necessários vetores, como mosquitos, moscas, carrapatos, caramujos e outros insetos, para a condução dos microorganismos contaminadores. “A escolha da OMS é importante para lembrar que essas doenças são passíveis de controle. Se você elimina o vetor, você elimina a doença”, analisa o chefe do Departamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o tropicalista José Rodrigues Coura, especialista em doenças infecciosas e parasitárias. A transmissão das doenças pelos vetores — entre elas malária, dengue, febre amarela, leishmaniose e doença de Chagas — pode se dar com apenas uma picada. Segundo a organização, metade da população mundial está em risco, especialmente em áreas tropicais e em lugares com problemas no acesso a água potável e a saneamento. A estimativa é que um milhão de pessoas morrem por ano em decorrência dessas doenças.

tre 2000 e 2010, foram 8,44 milhões. “Podemos multiplicar esse número por 10, já que apenas 10% dos casos são notificados, somando 80 milhões de brasileiros infectados por algum tipo do vírus da dengue”, comenta Coura. A incidência de dengue cresceu dramaticamente pelo mundo nas décadas recentes, segundo a OMS. Hoje, mais de 2,5 bilhões de pessoas — ou 40% da população mundial — estão em risco de contrair a doença, e os casos chegam a 100 milhões por ano. “Antes de 1970, somente nove países tinham experimentado epidemias severas de dengue. E a doença agora é endêmica em mais de cem países na África, nas Américas, no leste do Mediterrâneo, no sudeste da Ásia e no Pacífico Ocidental”, informa a organização. As medidas de prevenção são conhecidas, mas nem sempre seguidas. Na avaliação de Coura, faltam ações de controle do Aedes aegypti no Brasil: “O Governo Federal passou a tarefa para os municípios, mas muitos não cumprem essa tarefa. E é impossível controlar a doença se um município atua e outro não. O inseto não reconhece fronteiras”. O pesquisador lembra que prevenir sai mais barato do que tratar pessoas já infectadas — e ainda evita mortes.

TRAGÉDIA DO SÉCULO 21 Somente a malária causou 627 mil mortes em 2012, em um total de 207 milhões de infectados. A maior parte das vítimas está na África, que concentra 80% dos casos da doença. De acordo com o Relatório Mundial de Malária 2013, da OMS, 3,4 bilhões de pessoas estão em risco de ser infectadas na África e no sudeste da Ásia. “O fato de que tantas pessoas estão sendo infectadas e morrendo por picada de mosquito é uma das grandes tragédias do século 21”, comenta a diretora da OMS, Margaret Chan, no documento. A medida de prevenção mais comum por lá é a distribuição de redes para cama tratadas com inseticida. Mas essa e outras formas de controlar o mosquito tiveram queda pelo segundo ano seguido, informa o texto. Em 2012, foram distribuídas 70 milhões de redes em países onde a malária é endêmica, quando seriam necessárias 150 milhões por ano para garantir que todos estivessem protegidos. Na África subsaariana, a proporção de famílias com acesso a essas redes de proteção está abaixo de 50%. “A OMS tem que olhar para esses países, muito pobres, e o Dia Mundial da Saúde é uma maneira de estimular a prevenção dessas doenças”, observa Coura. “O Brasil conseguiu controlar a malária nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e em parte do Centro-Oeste, mas ainda temos cerca de 300 mil casos da doença por ano na Amazônia”.

PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA Por outro lado, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) a Certificação Internacional de Eliminação da Transmissão da Doença de Chagas pelo Triatoma infestans, conhecido popularmente como barbeiro, principal vetor de transmissão da doença no país, em 2006. Hoje, os novos casos estão relacionados principalmente ao consumo de açaí contaminado por outros vetores. A OMS afirma que o objetivo da campanha do Dia Mundial da Saúde é aumentar a visibilidade das doenças vetoriais e divulgar formas de preveni-las. As famílias que moram em áreas de risco devem estar protegidas com a instalação de telas mosquiteiras ou redes para cama. Viajantes devem usar repelentes, tomar vacina contra febre amarela e usar roupas compridas e de cores neutras. Aos governos, a organização recomenda melhorar as medidas de prevenção e as de vigilância. “A globalização e os desafios ambientais, como as mudanças climáticas e a urbanização, estão impactando a transmissão de doenças vetoriais e causando o aparecimento delas em lugares onde antes não existiam”, informa a OMS. Nos países em que essas doenças são ameaças emergentes, a indicação é para que autoridades sanitárias trabalhem em conjunto com autoridades do meio ambiente e com nações vizinhas para aprimorar as ações de vigilância de vetores e tomem medidas que previnam sua proliferação. Nos países em que as doenças vetoriais já são um problema de saúde pública, os ministros da Saúde devem estabelecer como prioridade ações que garantam a proteção da população.

BRASIL CONTRA A DENGUE Por aqui, aponta o pesquisador, a maior preocupação é com a dengue — “aguda, crescente e com forma hemorrágica grave”. Em 2013, o Ministério da Saúde registrou 1,4 milhão de casos prováveis de dengue. En-

O boletim “São Camilo Pastoral da Saúde” é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde - Província Camiliana Brasileira. Provincial: Pe. Antonio Mendes Freitas / Conselheiros: Pe. Mário Luís Kozik, Pe. Mateus Locatelli, Pe. Ariseu Ferreira de Medeiros e Pe. João Batista Gomes de Lima/ Diretor Responsável: Anísio Baldessin /Secretária: Fernanda Moro / Diagramação: Fernanda Moro / Revisão: José Lourenço / Redação: Av Pompeia, 888 Cep: 05022000 São Paulo-SP - Tel. (11) 3862-7286 / E-mail: icaps@camilianos.org.br / Site: www.icaps.org.br / Periodicidade: Mensal / Tiragem: 2.000 exemplares / Assinatura: O valor de R$20,00 garante o recebimento, pelo correio, de 11 edições. O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, Agencia 0422-7, Conta Corrente: 89407-9.


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UMA PRESENÇA CONSOLADORA ANÍSIO BALDESSIN “E junto à cruz estavam a mãe de Jesus e a irmã dela, Maria, mulher de Cleópas, e Maria Madalena. Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa” (João 19:25-27). O que estavam fazendo lá essas pessoas? Elas por acaso provocaram alguma mudança naquela situação ou aliviaram o sofrimento de Jesus? Pois com ou sem eles Jesus foi crucificado e morreu do mesmo jeito. Enfim, em que aquelas pessoas ajudaram Jesus? Essas perguntas, ou seja, o que vocês fazem quando vão visitar os doentes no hospital ou nas casas são muito comuns. Até mesmo os assistentes espirituais se perguntam qual é a finalidade de visitar alguém que está enfermo. Essa inquietação advém de uma convicção onde a maioria ainda acredita que para ajudar é sempre necessário fazer algo concreto. Afinal, se o médico faz diagnóstico, os enfermeiros medicam, a assistente de nutrição leva alimentos, a faxineira limpa e todos os profissionais contribuem, como agente de pastoral (assistente espiritual) qual é a minha contribuição em prol do doente? Essa talvez seja a razão pela qual muitos dos que se propõem a visitar os doentes deixam de fazê-lo logo após as primeiras visitas. Pois nem sempre é fácil entender que ajudar não é solucionar os problemas dos outros. Nesse sentido, os versículos acima citados bem como as atitudes das pessoas que lá estavam, junto a cruz de Jesus, nos mostram uma outra face do trabalho solidário. Ou seja, que é possível ajudar alguém sem ações práticas e muitas vezes também sem palavras. Somente com uma presença consoladora. Digo isso não somente baseado nos escritos bíblicos ou em relatos alheios mas principalmente na minha longa experiência como capelão no hospital. Pois inúmeras vezes já me defrontei com situações semelhantes ou até pior do que vivenciaram aquelas abnegadas almas

junto à cruz. E devo confessar que na maioria delas também me angustiei por não saber o fazer. Mas, tudo ficou mais simples quando entendi essa sensação de inutilidade diante do doente era sentida somente por mim. Pois para aqueles que estavam sofrendo eu já estava ajudando. Afinal, eu estava ali. E para a pessoa que sofria, isso tinha uma profunda importância. Pois ao receber uma visita, a pessoa se convence que alguém está valorizando-a. Jesus sabia que aquelas pessoas que estavam lá junto D’Ele não seriam capazes de mudar o rumo dos acontecimentos. Mas, para Ele bastava que elas estivessem lá. Não precisariam fazer mais nada. O mesmo acontece com os doentes, principalmente aqueles que estão acometidos de uma grave enfermidade. Ou seja, eles sabem que nós, que o visitamos não temos a capacidade de mudar o rumo das coisas resolvendo seus problemas e muito menos promovendo curas. Entretanto, saber que alguém está perto dá a eles a sensação de não estarem sozinhos. Por isso, sugiro que todas as vezes que você sair para visitar algum doente, seja em casa ou no hospital, o faça de maneira muito humana. Ou seja, não prepare discursos, dicas, ou formule conselhos. Faça a visita de maneira natural. Pode ser do mesmo jeito que você faz quando sai para ir à casa de um amigo ou familiares. Afinal, nessas ocasiões, não costumamos levar discursos pré estabelecidos. Somente quando já estamos na casa das pessoas é que vamos decidir sobre o que vamos conversar. Assim sendo, pergunto: qual é a razão de levarmos discursos prontos para nossas visitas pastorais? Enfim, muitas vezes é difícil e até mesmo inútil dar alguma coisa. Mas, é sempre importante e necessário dar um pouco de si mesmo. E isso qualquer pessoa pode fazer. Basta querer e fazer com que isso se torne uma das suas prioridades. Anísio Baldessin é diretor do ICAPS e capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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ICAPS - Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel: (11) 3862-7286 Site: www.icaps.org.br E-mail: icaps@camilianos.org.br Avenida Pompeia, 888 Cep: 05022-000 São Paulo - SP


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