icaps-335

Page 1

SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE INFORMATIVO DO INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE ANO XXX N.335 NOVEMBRO 2014

EVANGELHO E VIDA O Evangelho, além do anúncio da salvação, nos fala de toda a existência de Jesus, desde seu nascimento até sua gloriosa ressurreição. Toda a realidade de sua vida rica, complexa e dinâmica. Realidade que envolve não apenas o anúncio da boa nova mas toda sua vida e sua atuação. Não apenas gestos sacramentais, mas promoção da justiça e da libertação. Ele nos ensina que não é possível separar o Evangelho da vida. Oração e ação precisam caminhar juntas. Neste sentido, é importante lembrar São Camilo de Léllis, que dedicou sua visa aos doentes, e fundou a Ordem dos Ministros dos Enfermos, padres e irmãos camilianos, que dizia: “mais coração nas mãos, irmão”. O que poderia ser traduzindo como: “Amor e competência”. Este é o desafio que nos é proposto hoje. Num mundo marcado por tantos sofrimentos e sem muitos recursos, principalmente financeiros, não faltam os aproveitadores que acreditam que a religião pode resolver todos os nossos problemas. É importante lembrar que nem só de “aleluia” sobrevive o ser humano. Alguém já disse que todo curandeiro é perigoso, e quando cura, é criminoso, porque cura os sintomas, mas não cura as causas. Também os fariseus estavam sempre nas sinagogas e nas praças públicas orando e louvando a Deus. Porém, não faziam nada para resguardar e proteger a vida dos que estavam sofrendo e eram discriminados pela sociedade. Não faziam nada para mudar a situação. Apenas tentavam impor o cumprimento da Lei. Exigiam adesão segundo a Lei. Enquanto que Jesus mostra que o cumprimento da Lei deve ser através da prática do amor. Não exige e nem impõe adesão, simplesmente propõe, aproveitando os momentos oportunos. Jesus, o nosso Mestre, que sem dúvida foi um grande evangelizador que quase nunca encontrou as pessoas mais do que uma vez. Nunca organizou grandes congressos e nem encheu estádios para evangelizar e curar. Mas, soube como ninguém aproveitar as oportunidades. Dentre os muitos exemplos, podemos citar o evangelho de São João que narra encontro com a mulher

samaritana que estava apanhando água do poço (Jo 4), ou no Evangelho de Lucas na caminhada com os discípulos de Emaús (Lc 24,13 42). Nestes encontros, “informais”, Jesus soube demonstrar sua sensibilidade, criatividade, disponibilidade e consciência de sua missão. Respeitou e se faz respeitar, dando uma verdadeira aula de como evangelizar. E o evangelizador, não pode desviar-se dos exemplos de Jesus. Principalmente sua acolhida, seu método de pregar, e a arte de aproveitar as oportunidades de evangelização. No hospital, a evangelização deve ser destinada não somente aos pacientes, mas também a familiares e profissionais da saúde que, mais do que qualquer pregação, têm uma enorme de necessidade de uma boa conversa ou tão somente uma presença amiga. Por isso, com essas pessoas é importante que aqueles que evangelizam estejam abertos ao diálogo, tentando ganhar a simpatia das pessoas inserindo-se nesse contexto. É bom lembrar que para muitos que trabalham no hospital, o Capelão e/ou o Agente de Pastoral da Saúde é a única referência de Igreja que ele têm. Dentro dessa realidade, o evangelizador precisa usar de muita habilidade para exercer sua missão de anunciar a Boa Nova no hospital. Em primeiro lugar, sua atividade não pode interferir no funcionamento, nos cuidados ao doente ou no desempenho profissional dos funcionários. Trata-se pois, de uma presença muito criteriosa, que tocará profundamente as pessoas. Como no tempo de Jesus, o povo anda sedento por algo de novo. No hospital essa realidade se faz mais evidente. Sem a intenção de prevalecer-se do momento difícil da doença, e do sofrimento, somos convidados a evangelizar. Estejamos certos que nosso trabalho de evangelização e testemunho trará uma nova motivação e renovará a esperança de todos os que enfrentam a realidade da doença e do sofrimento. A equipe de redação

Padres e Irmãos Camilianos a Serviço da Vida JUNTE-SE A NÓS, SEJA UM CAMILIANO TAMBÉM! “Estive enfermo e me visitastes” (Mt 25,36)

Serviço de Animação Vocacional Av. São Camilo, 1200 - Cotia - São Paulo - SP - CEP: 06709-150 Fone: (11) 3564-1634 vocacional@camilianos.org.br / www.camilianos.org.br


SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE

Página 2

MAIS ESPIRITUALIDADE, MENOS RITUAIS ANÍSIO BALDESSIN

“Os propósitos dos rituais são variados. Eles podem incluir a concordância com obrigações religiosas ou ideais, satisfação de necessidades espirituais ou emocionais dos praticantes, fortalecimento de laços sociais, demonstração de respeito ou submissão, estabelecendo afiliação, obtenção de aceitação social ou aprovação para certo evento - ou, às vezes, apenas o prazer do ritual em si. Eles podem incluir os vários ritos de adoração e sacramentos de religiões organizadas e cultos. Além desses, temos também os ritos de passagem de certas sociedades, como coroações, posses presidenciais, casamentos e funerais, eventos esportivos e outros”. No catolicismo os rituais são muito comuns. O primeiro é o ritual do sacramento do batismo. Aliás, mesmo os pais que não participam da comunidade (igreja), se preocupam em batizar os filhos. Muitos por acreditarem que se a criança não for batizada não obterá a salvação e terá problemas ao longo da vida. Esquecem, no entanto, que a finalidade principal do batismo não é salvar a alma da criança e muito menos para evitar que algo ruim aconteça. Afinal, a finalidade principal do batismo é integrá-la na comunidade cristã. Depois do ritual do batismo, todo batizado é convidado a continuar participando da comunidade para receber os outros sacramentos e participar dos rituais próprios da Igreja Católica. Todavia essa não era a preocupação do Apóstolo Paulo. Ou seja, fazer rituais e sim evangelizar. Vejamos o que ele diz a respeito do batismo, por exemplo: “Agradeço a Deus o fato de eu não ter batizado ninguém de vocês, a não ser Crispo e Caio. Portanto, ninguém pode dizer que foi batizado em meu nome. Ah! Sim. Batizei também a família de Estéfanas. Além deles não me lembro de ter batizado nenhum outro de vocês. De fato, Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo” (1 Cor 1, 14-17). Assistindo a uma palestra de um vendedor de carros uma expressão do palestrante chamou minha atenção. “Hoje, para a concessionária tão ou mais importante do que vender um carro para um novo cliente é nos esforçarmos para manter aquele que já comprou conosco. Ou seja, é importante conquistar novos clientes. Mas, é preciso cuidar daqueles que já o são para que eles não vão embora e, além disso, façam propaganda negativa da concessionária. Ao contrário, precisamos que ele “venda” para nós. Ou seja, fale bem de nós e de nossos produtos”. Hoje é normal ouvir as pessoas dizendo que a Igreja Católica está perdendo fiéis para as outras igrejas. Afinal, o número de católicos diminui de maneira significativa a cada ano. No entanto, sem querer negar as evidências eu tenho uma outra opinião a esse respeito. Eu acredito que ainda não há uma denominação religiosa (Igreja) que receba tantos novos adeptos num único final de semana quanto a Igreja Católica. Senão vejamos: quantas crianças são batizadas todos os finais de semana nas Igrejas católicas que estão espalhadas pelo Brasil e pelo mundo afora. Ah!!! Mas, eles vem para o batismo das crianças e depois nunca mais aparecem a não ser para o casamento, comentam os líderes da igreja. Ou ainda, eles só querem fazer o social. Não estão preocupados em participar da Igreja. É inegável que muitos dos que vão batizar os filhos pensam assim. Portanto, esses comentários têm um fundo de verdade. No entanto, será que a maneira de nós tratarmos os novos fiéis (clientes) bem como seus pais e padrinhos faz com que eles tenham vontade de voltar? Será que a Igreja e seus líderes estão sempre com a razão? A Igreja nunca erra? Por que ao invés de ficarmos criticando e correndo atrás de novos adeptos (crianças para batizar) não cuidamos daqueles que já estão conosco? Será que esse modelo ainda é o mais conveniente? A afirmação de Paulo dizendo que agradece a Deus

por não ter batizado nenhum daqueles que o seguiam nos faz pensar. Eu não saberia dizer em qual circunstância o apóstolo fez essa afirmação. Imagino que tenha sido diante das reclamações daqueles que tinham aderido a fé cristã e que por isso acreditavam que a partir de então, teriam uma vida sem percalços. Porém, vendo que as dificuldades continuavam devem ter ido cobrar de Paulo uma explicação. É o que acontece com muitos que são batizados, frequentadores da igreja e cumpridores de ritos que a Igreja estabelece. Quando vem as dificuldades e suas necessidades não são atendidas, começam a se lamentar e até mesmo blasfemar contra tudo. Até mesmo contra Deus. Ou seja, imaginam que os ritos possam livrá-los das adversidades. Os agentes de pastoral em geral, têm excessiva preocupação com os rituais para os doentes. Seja o da Comunhão, Confissão, Unção dos Enfermos ou orações. Para muitos visitadores se não fizerem algum desses rituais a visita não valeu. Numa das minhas palestras uma visitadora fez o seguinte comentário: “padre o que eu mais gosto de fazer quando vou visitar os doentes em casa é rezar o terço para eles”. Ao ouvir tal afirmação eu respondi para ela. “Que a senhora goste eu não tenho nenhuma dúvida. Porém, é preciso saber se ele quer que a senhora faça isso”. Ou seja, eu não tenho que fazer aquilo que eu acho importante e é bom para mim e sim aquilo que faz bem para o doente. Por estarmos vivendo uma “onda” de espiritualidade no mundo da saúde, nos perguntamos: quem pode atender as necessidades espirituais dos doentes? Em princípio é o assistente espiritual. Todavia, as necessidades espirituais são partilhadas, não com os padres e assistentes religiosos e sim com quem está próximo. Por isso, nem todos podem fazer os rituais dos sacramentos. No entanto, todos podem oferecer sua espiritualidade através da acolhida, solidariedade, compaixão, diálogo, escuta, entre outras. Não sou contra os ritos. Eles fazem parte da nossa vida. O que não devemos é usá-lo para simplesmente não nos envolvermos com o outro. Pois é muito mais fácil para o padre e/ou assistente espiritual proferir uma bênção ou fazer um ritual do que colocar-se em atitude de escuta e solidariedade para com aquele que sofre. Anísio Baldessin é padre da Ordem de São Camilo, capelão do Hospital das Clínicas da FMUSP e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.


SÃO CAMILO

PASTORAL DA SAÚDE

Página 3

A VELHICE TEM SEUS ENCANTOS, ACREDITEM FLÁVIO TINÉ Todos conhecem os encantos da juventude: agilidade física e mental, desembaraço, disposição para tudo, excitação à flor da pele, sensibilidade intensa, o corpo em desenvolvimento. Ninguém é feio nessa fase da vida. O amor aflora, estimulando todos os nossos desejos. Tem-se fôlego para tudo, até para uma esticada após uma noite inteira de balada. Muitos se orgulham de continuar bebendo na manhã seguinte, como se isso fosse uma grande qualidade ou uma demonstração de boa saúde. Na juventude, como se sabe, todos estão aptos a trabalhar, comemorar, disputar, correr, sem a menor demonstração de fraqueza. Em momentos festivos observam-se claramente as demonstrações de juventude. Quando em grupo, então, os homens fazem questão de alardear sua virilidade e as mulheres não se cansam de exibir seus dotes físicos. No litoral, essas demonstrações são ainda mais nítidas, graças aos estímulos do calor, que possibilitam o uso de pouca roupa. As demonstrações de senilidade são mais discretas. Na maioria dos casos os velhos sequer se expõem, preferindo esconder-se por trás de um aparelho de televisão. Conhecemos os achaques da velhice: diabetes, hipertensão arterial, dores nas costas, enxaqueca, sinusite crônica, depressão – enorme quantidade de males ataca qualquer um depois dos 50, com maior ou menor intensidade. Não há quem não tenha um parente com pelo menos um desses males, ou com todos juntos. Raramente se escreve ou se fala dos encantos da velhice. Admitamos que não se trata, de fato, de encantos, mas pelo menos de vantagens que a idade proporciona. O mais simples deles é andar de graça em ônibus, trem e metrô. Fura-se a fila no caixa dos bancos, dos Correios e das loterias, bem como de qualquer Repartição de cujos serviços necessitem. É verdade que em alguns casos não adianta, como na fila dos Precatórios. Nesse caso, o Estado não está nem aí para a idade. Velhos morrem aos 80 ou 90 anos esperando o dinheiro a que teriam direito. Para os que ainda conseguem dirigir há vagas para idosos e deficientes. Embora nem sempre seja uma vantagem estacionar em tais vagas, que estão mais ou menos na mesma linha de proximidade do supermercado, da farmácia ou do restaurante. Já nos cinemas, o idoso tem desconto de

50% garantido. Nas farmácias oficiais há remédio gratuito, propiciado pelo Governo Federal. Quando o idoso viaja de avião recebe tratamento especial, ao lado de crianças, portadores de deficiência, grávidas, etc. São os primeiros a entrar, a receber as refeições e a sair do avião. Cortesia das empresas na disputa de mercado e também cumprimento das leis que determinam atendimento prioritário aos idosos. Não sei por que não se divulga mais intensamente os benefícios concedidos ao deficiente, que em sua maioria são também idosos. Eles podem adquirir veículos automáticos ou adaptados com desconto de IPI e ICMS, o que significa uma redução aproximada de 25% do valor de mercado. Basta o deficiente submeter-se a um exame e obter uma carteira de habilitação especial. Em seguida, requerer o benefício junto aos órgãos competentes. Não se divulga, ainda, que o deficiente pode livrarse do rodízio, no caso de São Paulo, se necessita de tratamento permanente, como fisioterapia, hidroterapia, quimioterapia, transfusão de sangue, etc. A lei relaciona as doenças e os tratamentos que proporcionam tais benefícios. Admitamos que desfrutar de tais regalias não chega a ser um encanto, mas pelo menos é um conforto a mais para quem já está debilitado e muitas vezes deprimido. O uso da bengala oferece certo glamour. Nas crianças, desperta carinho e curiosidade. Em outras pessoas, mesmo desconhecidas, provoca solidariedade. Todos querem ajudar a atravessar a rua, a sentar, levantar, apanhar um objeto, entrar ou sair de um automóvel. Testemunhei essas demonstrações de carinho várias vezes, em diferentes locais e oportunidades. Aí, sim, senti os encantos da velhice. Uma recomendação para quem ainda não chegou à velhice: pensar na possibilidade de manter um plano de saúde, o mais modesto que seja para as horas de dificuldade. Não sendo possível, inscreva-se num programa de saúde pública (SUS). Questione sempre sua saúde, para seu bem-estar e de sua família. Flávio Tiné é jornalista e foi assessor de imprensa do Hospital das Clínicas da FMUSP.

O QUE SÃO CÉLULAS TRONCOS? LUAN GALANI Elas são os curingas do corpo humano, com capacidade de se transformar (diferenciar) em qualquer tipo de célula especializada, como as sanguíneas, nervosas, musculares, entre outras. Por isso, constituem-se em um material promissor para o tratamento de doenças cardiovasculares (patologias que mais matam no mundo ocidental atualmente), doenças neurodegenerativas, como mal de Parkinson e mal de Alzheimer, entre outras. Há dois tipos gerais de célula-tronco: as embrionárias, coletadas de embriões, e as adultas, que são retiradas da pele e do sangue e são reprogramadas. Diferente de outras células, elas podem se replicar várias vezes. Atualmente, os desafios da ciências consistem em entender o que induz a proliferação dessas células e sua transformação. Sabe-se hoje que, além dos genes, que determinam que tipo de célula ela vai se tornar, secreções celulares e o contato físico com moléculas vizinhas podem fazer a diferença se a célula vai se transformar em um neurônio ou em uma hemácia. Luan Galani é especialista em divulgação científica e religião O boletim “São Camilo Pastoral da Saúde” é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde - Província Camiliana Brasileira. Provincial: Pe. Antonio Mendes Freitas / Conselheiros: Pe. Mário Luís Kozik, Pe. Mateus Locatelli, Pe. Ariseu Ferreira de Medeiros e Pe. João Batista Gomes de Lima/ Diretor Responsável: Anísio Baldessin /Secretária: Fernanda Moro / Diagramação: Fernanda Moro / Revisão: José Lourenço / Redação: Av Pompeia, 888 Cep: 05022000 São Paulo-SP - Tel. (11) 3862-7286 / E-mail: icaps@camilianos.org.br / Site: www.icaps.org.br / Periodicidade: Mensal / Tiragem: 2.000 exemplares / Assinatura: O valor de R$20,00 garante o recebimento, pelo correio, de 11 edições. O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, Agencia 0422-7, Conta Corrente: 89407-9.


SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE

Página 4

COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS FIDEL GARCIA RODRIGUES

A igreja católica ensina que os vivos devem ajudar os falecidos com oração e penitência. Esta prática começou no ano 1000 por iniciativa do Abade de Cluny, que instaurou a celebração em todos os mosteiros de sua ordem, no dia seguinte à festividade de todos os santos. Posteriormente, ela se estendeu a toda a Igreja. Sabemos que, para todo cristão, a morte é um simples transito para a vida eterna e não uma imersão no nada e no esquecimento. Existe a outra vida. A glória e a felicidade vão depender das boas obras que tenham sido realizadas, segundo os Evangelhos, durante esta vida. Nos Salmos e nos textos bíblicos podemos encontrar ideias que nos convidam e estimulam a reza pelos nossos falecidos, para que estejam junto de Deus gozando da plenitude da vida. A imagem do paraíso aparece ao longo das Escrituras. Paraíso, para os orientais, é um jardim de delícias, regado com abundantes águas, pleno de vegetação e frutos, como um precioso oásis no deserto. Na Sagrada Escritura, a palavra “Paraíso” significa a morada de Deus. Adão, no Paraíso, falava ao entardecer com Deus como um amigo fala com outro amigo. Também Jesus falou sobre o Paraíso na cruz quando perdoou o bom ladrão. A Liturgia cristã compara o paraíso à cidade de Jerusalém, que depois da ressurreição dos mortos será iluminada com a Glória de Deus. Essa Jerusalém é a pátria em direção a qual caminhamos, uma vez que somos perseguidos. Nesse peregrinar nem sempre vivemos os valores que Jesus viveu e que estão nos Evangelhos; aí necessitamos do amor misericordioso de Deus, que nos perdoa e refaz; das nossas boas obras e das orações e sacrifícios dos irmãos no Senhor (2Mc 12,45). Nossa oração por eles se realiza especialmente pelo agradecimento do sacrifício da Eucaristia. Tambem pelas obras de misericórdia que praticamos e pelas indulgências, que têm sua eficácia a partir do ministério da Igreja, quando aplica em casos concretos os méritos ou a sacrificação de Jesus Cristo e dos Santos. Dessa forma a Igreja pode, não só ajudar aos defuntos, desagravando-lhes da pena temporal devida pelos pecados, e assim chegarem à visão beatífica de Deus, mas também fazê-los eficazes intercessores por aqueles que ainda vivem.

MENSAGEM E ATUALIDADE A fé dos cristãos em Deus Pai Filho e Espírito Santo, na criação, salvadora e santificadora, culmina com a ressurreição dos mortos, ao final dos tempos, para a vida eterna. Por isso, depois da morte, viverão para sempre com Cristo Ressuscitado. Efetivamente, como afirma São Paulo, “e, se o Espírito daquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos vivificara também nossos corpos mortais, pelo Espírito que habita em nós”, Cristo é o princípio e a causa de nossa futura Ressurreição (Rm 8,11; 1Cor 15, 20-22; 2Cor 5,15). Todo esse sentido positivo deve iluminar a comemoração dos fiéis defuntos e nossa fé, esperança e caridade sobre o nosso destino definitivo pessoal o de todos já falecidos. O momento da morte dos fiéis deve estar repleto da fé viva. E a Igreja entrega nas mãos de Deus o que vai morrer. Os corpos dos mortos são tratados com respeito e caridade pela fé e certeza da ressurreição. Já que o corpo dos que são filhos de Deus é templo do Espírito Santo. A palavra “cemitério” vem do latim “coemeterium”, que também procede do grego “koimao”, “dormir” e que significa “dormindo”, lugar onde se dorme na espera da ressurreição. Os fiéis nunca mais se separarão no futuro porque no futuro viverão em Cristo, e como agora estão unidos a Cristo e caminham ao seu encontro, assim estão definitivamente unidos em Cristo. A morte é nosso encontro com Deus vivo. Os que morreram em Cristo vivem para sempre. Fidel Garcia Rodrigues, padre jesuíta, diretor das Edições Loyola.

São Camilo PASTORAL DA SAÚDE ICAPS - Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel: (11) 3862-7286 Site: www.icaps.org.br E-mail: icaps@camilianos.org.br Avenida Pompeia, 888 Cep: 05022-000 São Paulo - SP


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.