SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE INFORMATIVO DO INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE ANO XXXI N.338 MARÇO 2015
REMENDO NOVO EM ROUPA VELHA ANÍSIO BALDESSIN Estamos iniciando mais um ano. Como sempre acontece, as paróquias, dioceses, hospitais e instituições religiosas recomeçam as atividades de Pastoral da Saúde e da assistência espiritual aos doentes nos hospitais e nas casas. Por isso, nesta época surgem pessoas interessadas em trabalhar nesse ministério. Juntam-se a esses os que há muito tempo já desenvolvem essas ações pastorais. Para os que estão começando, o desafio é fazê-lo entender que embora o trabalho seja voluntário, existe alguns passos que precisam ser trilhados. O primeiro é saber que o agente de pastoral (assistente espiritual) deve estar em sintonia com tudo o que já existe. Ou seja, não pode ser feito quando, como, onde e do jeito que ele quer. Segundo, é que para bem desenvolver essa pastoral é preciso ter o mínimo de preparação. Por isso, o interessado deve buscar algum curso que possa ajudá-lo na formação e preparação para visitar doentes e prestar assistência espiritual. Pode-se acrescentar a esses, outros desafios. Principalmente o comprometimento com o grupo, com a comunidade e com os doentes. Assim sendo, antes de se candidatar para essa tarefa é importante que o interessado analise se dispõe de tempo e condições, até mesmo física, para isso. Com aqueles que já estão há muito tempo nessa pastoral, os desafios são outros, tais como: fazê-los acreditar que precisam mais de formação, que as atividades nem sempre podem ser do jeito que bem entendem, que há um momento de parar, que a participação deve ser constante, e que as mudanças são importantes e necessárias. Ou seja, não ficar repetindo a famosa frase: “eu já estou aqui há muito tempo”, ou ainda, “nós sempre fizemos assim”. Basta fazer apenas umas pequenas mudanças. Pensando nisso, recorri ao capítulo nono do Evangelho de Matheus e encontrei a seguinte parábola de Jesus: “Ninguém coloca remendo novo em roupa velha; porque o remendo força o tecido da roupa e o rasgo aumenta. Nem se põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, os odres rebentarão, o vinho derramará e os odres se estragarão. Mas, põe-se vinho novo em odres novos, e assim ambos ficam conservados”. Embora não se saiba qual o significado exato desta famosa parábola em seu contexto original, geralmente se interpreta o trecho indicando que Jesus estaria propondo uma nova forma de realizar as coisas. Ou ainda que Ele estivesse tentando indicar que é necessário jogar fora as coisas velhas que são incompatíveis com Seu novo caminho. Daí a expressão, o novo remendo não pode ser costurado em vestido velho, pois irá encolher e au-
mentar o rasgo. E o vinho “novo” em odres “velhos” pois o vinho irá fermentar e expandir, rompendo os odres velhos. Sem querer afirmar qual seria a correta interpretação, minha opinião é que, pelo que tenho percebido ao longo dos anos, a Pastoral da Saúde vem pondo “remendo” novo em roupas velhas. Ou seja, tentando melhorar o que está ruim. Como alguém já disse: “Ao invés de ficar colocando remendo novo no pano velho do circo é necessário recriar um circo novo”. Essa comparação com o mundo do circo é interessante pois o circo sempre ocupou um lugar de destaque na sociedade com uma vasta clientela. Todavia, num determinado momento precisou se renovar. Exemplo disso foi quando os animais foram envelhecendo e principalmente pela proibição de envolver animais nos espetáculos. Diante dessa realidade, quem não se renovou e inovou fechou as portas. Já o famoso Cirque du Soleil que surgiu em 1984, formado por um grupo de artistas de rua, em menos de 20 anos foi visto por mais de 40 milhões de pessoas. Ou seja, em meio a tantas opções de divertimento conseguiu se destacar. Hoje, no mundo moderno, são muitas opções que estão à disposição das pessoas. O mesmo acontece nos hospitais. Pois além da tradicional assistência técnica (médica) oferecem várias opções para agradar o paciente (cliente). Exemplo disso são os vários grupos formados pelos doutores da alegria, contadores de histórias, musicoterapia, bibliotecoterapia, e até a dog terapia. Ou seja, a terapia que usa os cachorros. E entre todas essas, existem as opções religiosas. Embora eu não tenha uma proposta pronta, gostaria de deixar uma reflexão onde estão presentes três virtudes que julgo importantes para nossas ações pastorais. A primeira virtude é a insatisfação positiva. Ou seja, não se contentar com aquilo que já se sabe. Pois como dizia Guimarães Rosa, “o animal satisfeito dorme”. Portanto, é preciso ser insatisfeito para não dormir. Ou ainda, não fechar a porta para aquilo que ainda não sei. A segunda virtude é a humildade. Humildade não é a mesma coisa que subserviência. Ser humilde não é ser menos, é pensar menos em si. Por isso, é importante ter humildade para voltar e buscar aquilo que ainda não sabemos. A terceira virtude é saber sempre respeitar a tradição e descartar aquilo que é arcaico. Portanto, se a “roupa” do ministério pastoral está velha, não vale a pena ficar colocando remendo novo. Anísio Baldessin, padre camiliano, diretor do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde.
SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE
Página 2
DOENÇA DAS ARTÉRIAS CARÓTIDAS MARCELO DE SOUZA MORAES
As artérias carótidas são os principais vasos responsáveis pela irrigação do cérebro, um tecido complexo, extremamente sensível, e sem ele você não seria capaz de pensar, de sentir, ter lembranças ou emoções. O cérebro nos define como seres humanos. Atualmente sabemos que quatro em cada dez acidentes vasculares cerebrais (AVC), ou simplesmente derrame, têm sua origem em uma ou ambas as artérias carótidas. São dois os mecanismos principais do derrame associado a aterosclerose nas carótidas. No primeiro, ocorre o acúmulo de gordura e cálcio na parede da artéria (placa aterosclerótica) com estreitamento progressivo impedindo o sangue de chegar ao cérebro. No segundo, fragmentos podem se desprender da placa de aterosclerose e ocluir artérias dentro do próprio cérebro. Isto é chamado embolia arterial. Derrames graves e extensos podem ocorrer repentinamente, mas eventualmente podemos identificar alguns sintomas de alerta, permitindo o diagnóstico precoce e o tratamento que poderia evitar este grave desfecho. Perda súbita de força ou alteração de sensibilidade em metade da face e/ou de um lado do corpo, perda súbita da visão em um ou ambos os olhos; alterações agudas da linguagem (dificuldade em articular ou compreender palavras) e do equilíbrio (vertigens) com náuseas e vômitos são alguns desses sinais de alerta. A causa da doença nas carótidas é muito semelhante à origem do infarto cardíaco, tanto que existe uma forte associação entre ambos. Os riscos de desenvolver os derrames são conhecidos: tabagismo, obesidade, sedentarismo, pressão alta, diabetes e colesterol aumentado. Portanto, uma excelente forma de se proteger é modificar seus hábitos de
vida e tratar os fatores de risco já existentes. Indícios da doença podem ser verificados em uma consulta especializada e o diagnóstico inicial pode ser feito através de exames não invasivos como o ultrassom das carótidas. Havendo alterações importantes, tais exames são complementados com outros mais precisos, como angiotomografia, angiorresonância e até mesmo cateterismo arterial. Casos com comprometimento leve e sem sintomas normalmente podem ser tratados clinicamente através do controle dos fatores de risco e medicações que diminuem a chance de trombose (antiagregantes plaquetários) ou que agem na placa aterosclerótica (estatinas). Casos com estreitamento muito acentuado ou embolização cerebral normalmente precisam ser corrigidos através de cirurgia convencional ou métodos endovasculares (colocação de stents). Cada caso deve ser analisado individualmente para a escolha da modalidade de tratamento mais adequada. O médico cirurgião vascular é um especialista que tem o conhecimento sobre todas as técnicas de investigação e tratamento desta doença e pode, em conjunto com o paciente, definir a melhor forma de controlar este problema. Os médicos associados à SBACV têm acesso diferenciado a cursos de aperfeiçoamento, informação técnica e educação continuada. Para saber mais sobre esta e as outras doenças vasculares e encontrar um médico associado à SBACV-SP, acesse www.sbacvsp.com.br. Fonte: Dr. Marcelo Rodrigo de Souza Moraes
VAI MORRER DE QUÊ? HÉLIO SCHWARTSMAN
Foi Arthur Schopenhauer quem afirmou que o homem está condenado a ser um eterno insatisfeito. Nós nos esforçamos e sofremos para tentar obter aquilo que desejamos, mas, quando finalmente conseguimos, o sentimento de satisfação é no máximo efêmero e, assim, mergulhamos no tédio, para dele sair apenas quando surge um novo desejo, num ciclo torturante que se repete ao longo de toda a vida. A fim de não desmentir o filósofo, faço hoje uma análise pessimista dos avanços da medicina. Sim, é verdade que esse ramo do saber deu, ao longo dos últimos séculos, passos notáveis, que tiveram significativo impacto na saúde e na vida das pessoas. Destacam-se aí as medidas de saneamento básico, que reduziram bastante as diarreias – historicamente as maiores assassinas de bebês -, vacinações e o advento dos antibióticos. Isso já bastou para mudar radicalmente o mapa da mortalidade. Em 1950, 40% dos óbitos no Brasil se deviam a moléstias infectocontagiosas; hoje, elas são
menos de 10%. Em termos de expectativa de vida ao nascer, passamos dos 43,3 anos em 1950 para 73,5 em 2010. Ótimo, não é mesmo? Sim, mas como todos precisamos morrer de alguma coisa, quando tiramos as doenças infecciosas da frente, pulamos para o próximo item da lista, que são as moléstias cardiovasculares. Elas representavam 12% dos óbitos em 1950 e hoje são 40%. E a coisa não para por aí. As causas cardíacas, em certa medida evitáveis com mudanças no estilo de vida, medicamentos e cirurgias, já vão perdendo espaço para outras moléstias, notadamente os cânceres, mas também demências, doenças que afetam a mobilidade, e as várias enfermidades crônicas capazes de tornar nossa existência especialmente miserável. Estamos ficando mais saudáveis, mas isso apenas nos empurra para mortes mais sofridas. Schopenhauer morreu do coração em 1860 sentado no sofá de sua casa com seu gato. Artigo extraído do Jornal Folha de São Paulo, 30 de novembro de 2014
SÃO CAMILO
PASTORAL DA SAÚDE
Página 3
PÁSCOA: A FESTA DAS FESTAS A Páscoa é considerada a maior festa dos cristãos e faz referência à última ceia de Jesus com seus discípulos, sua prisão, julgamento, condenação, crucificação e a ressurreição. Para os cristãos, a Páscoa é a festa da vida, da esperança, da fé e do amor! FESTA DA VIDA - somos convidados a libertar-nos de todo tipo de escravidão para vivermos a vida em sua plenitude. FESTA DA ESPERANÇA - a ressurreição de Cristo enche nosso coração de esperança e instaura um novo tempo diante dos sofrimentos. Esperança e fé andam juntas e são elas que nos dão forças para não desistirmos, para irmos em frente, acreditando que as coisas podem mudar. FESTA DA FÉ – a fé é uma força interior poderosa que nos possibilita quebrar barreiras aparentemente difíceis de serem superadas e como definiu o escritor Russo Leon Tolstoi, ela é a “força motriz da vida” que nos motiva quando estamos desanimados, nos dá forças para continuarmos a lutar quando fracassamos, nos mantêm firmes quando passamos por momentos difíceis, nos faz sorrir quando somos feridos pela dor da desilusão.
FESTA DO AMOR - a aliança de amor e comunhão realizada entre Deus e o homem em Jesus, dá sentido à nossa vida e nos entusiasma a continuar lutando pela construção de uma sociedade fundamentada no amor e na solidariedade. Sabemos que as confraternizações, os encontros familiares, os alimentos específicos e muitos outros costumes são importantes e nos ajudam a celebrar a Páscoa, mas não podem nos desviar do seu principal e essencial sentido: Cristo, que morreu e ressuscitou para nos mostrar que o Reino de Deus, pregado por Ele, está presente e vivo entre nós. Esse sim é o verdadeiro sentido da Páscoa! Que nesta Páscoa nosso olhar se encha de luz, como os olhares das mulheres que viram o sepulcro vazio e o Filho de Deus ressuscitado (Mt 28). Que nós possamos exclamar como elas, com fé e a certeza da presença de Cristo no meio de nós: “o Senhor ressuscitou, aleluia!”! Feliz Páscoa! São os votos da equipe ICAPS a todos os que, a exemplo de Jesus, doam sua vida em favor dos doentes. Reflexão encaminhada por Rosemary Ross.
NUTRIÇÃO CORRETA E O DIREITO A ALIMENTAÇÃO ADEQUADA PARA TODOS LEO PESSINI
Organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e Agricultura (FAO), em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou-se em Roma de 1921 de novembro de 2014, a 2°. Conferência Internacional sobre Nutrição, que teve como tema “nutrição melhor, vida melhor”. Os países signatários reconhecem que conseguiram-se avanços importantes na luta contra a desnutrição desde a 1°. Conferência Internacional sobre Nutrição em 1992, mas o progresso “foi insuficiente e desigual”. Estes países, solicitaram para que a ONU considere na agenda do desenvolvimento pos-2015 a possibilidade de declarar um “Decênio de Ação em relação a nutrição para 2016-2025”. Os países reconhecem que apesar das conquistas importantes na luta pela erradicação da desnutrição no mundo até o momento, ainda existe muita coisa que precisa ser realizada. Nesta perspectiva mais de 170 países aprovaram uma declaração política, a Declaração de Roma e um outro documento intitulado “Marco de ação para combater a fome e a obesidade no mundo”. Os países assumiram uma série de compromissos concretos e adotaram um conjunto de recomendações sobre as políticas e investimentos necessários para garantir que todas as pessoas tenham acesso a dietas mais saudáveis e sustentáveis. O Diretor Geral da FAO, o brasileiro Jose Graziano da Silva em sua fala, afirmou que “temos conhecimento, experiência e os recursos necessários para superar todas as formas de desnutrição”. “Os governos devem liderar o caminho, acrescentou, porém a pressão para melhorar a nutrição global deve ser um esforço conjunto, com a participação das organizações da sociedade civil e o setor privado.” Por sua vez a Diretora Geral da OMS, Dra. Margaret Chan, recordou que “o sistema de nutrição mundial, com sua dependência da produção industrializada e os mercados globalizados, produzem abundantes reservas, porém cria alguns problemas de saúde pública. Uma parte do mundo tem muito pouco para comer, com milhões de pessoas vulneráveis frente à morte ou às enfermidades causadas por carência de nutrientes. Outra parte come em excesso, com uma obesi-
dade generalizada que faz retroceder as cifras de esperança de vida e eleva os custos na atenção sanitária em níveis astronômicos”. Embora a prevalência da fome tenha sido reduzida em 21% desde o período 1990-92, ainda hoje no mundo 805 mil pessoas padecem de fome crônica. Calcula-se que em 2013 havia 161 milhões de crianças com menos de 5 anos afetadas pelo pouco crescimento (estatura baixa pela idade) e 51 milhões com baixo peso. A subnutrição está vinculada a quase metade de todas as mortes de crianças com menos de 5 anos, em torno de 2.8 milhões por ano. Hoje, mais de dois bilhões de pessoas são afetadas pela carência de micronutrientes, ou “fome oculta”, devido a insuficiência de vitaminas ou minerais. Enquanto isto, a obesidade cresce espantosamente, com aproximadamente 500 mil pessoas obesas e em torno de 1.5 milhão de pessoas com sobrepeso. Em torno de 42 milhões de crianças com menos de 5 anos já têm sobrepeso. Por outra parte, as diferentes formas de desnutrição, com frequência se superpõem, com as pessoas que vivem nas mesmas comunidades – por vezes na mesma casa – sofrendo fome, carência de micronutrientes e obesidade. Em geral, metade da população mundial é afetada com algum tipo de desnutrição. O próximo dia mundial da saúde, 7 de abril de 2015, abordará uma importante questão de saúde publica, a “segurança alimentar”. Estima-se que 1,8 milhões de pessoas morram no mundo devido a doenças diarreicas, que, na maioria dos casos estão ligadas a alimentos ou água contaminados. A preparação higiênica dos alimentos pode prevenir a ocorrência da maioria destes casos. Hoje sabemos que mais de 200 doenças são transmitidas através dos alimentos contaminados ou portadores de bactérias, vírus, parasitas ou substâncias químicas danosas a saúde humana! Leo Pessini- atualmente é Superior Geral dos Camilianos, residindo em Roma (Itália)
O boletim “São Camilo Pastoral da Saúde” é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde - Província Camiliana Brasileira. Provincial: Pe. Antonio Mendes Freitas / Conselheiros: Pe. Mário Luís Kozik, Pe. Mateus Locatelli, Pe. Ariseu Ferreira de Medeiros e Pe. João Batista Gomes de Lima/ Diretor Responsável: Anísio Baldessin /Secretária: Fernanda Moro / Diagramação: Fernanda Moro / Revisão: José Lourenço / Redação: Av Pompeia, 888 Cep: 05022000 São Paulo-SP - Tel. (11) 3862-7286 / E-mail: icaps@camilianos.org.br / Site: www.icaps.org.br / Periodicidade: Mensal / Tiragem: 1.000 exemplares / Assinatura: O valor de R$20,00 garante o recebimento, pelo correio, de 11 edições. O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, Agencia 0422-7, Conta Corrente: 89407-9.
SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE
Página 4
SAÚDE DA PESSOA IDOSA: SUS COMBATE SEDENTARISMO E ESTIMULA A AUTONOMIA E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL MARÍLIA CRISTINA PRADO LOUVISON
O fenômeno do envelhecimento populacional exige o um novo paradigma: o foco deixa de ser a cura e passa a ser o cuidado, com o objetivo de manter a autonomia e a capacidade funcional dos idosos. “É preciso eliminar preconceitos e acreditar que ainda é tempo de promover saúde e reconstruir projetos de felicidade na velhice”, diz a médica sanitarista Marília Cristina Prado Louvison. Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Presidente da Associação Paulista de Saúde Pública, a Dra. Louvison coordenou por cinco anos a área técnica de saúde da pessoa idosa, da Secretaria Estadual de Saúde/SP, e hoje integra o grupo assessor da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde. Segundo a especialista, o trabalho com idosos é muito gratificante e todos os profissionais de saúde que se envolvem costumam ter histórias significativas para relatar, relacionadas aos encontros, repletos de emoção e gratidão. “O que mais nos emociona e mobiliza é a possibilidade de desenvolver a autonomia dos indivíduos, ajudando-os a construir redes e potências de vida”. Essa também é a orientação da Política Nacional de Humanização – PNH, que apoia as práticas que promovem a autonomia do idoso e fomentam grupos e espaços de convivência não impositivos. Entre as ações do SUS que a sanitarista destaca estão o forte combate ao sedentarismo, o incentivo à alimentação saudável e a criação de possibilidades de encontro, que favorecem a inclusão e participação social e a formação de vínculos. “O desafio é adequar esse olhar às necessidades dos idosos, que permanecem mais em casa do que as outras faixas etárias (que estão na escola e no trabalho). Na sua atuação como professora, a médica costuma mostrar em suas aulas que questões que afetam o bem estar físico dos idosos podem comprometer também sua socialização, como por exemplo, os problemas de incontinência urinária, bem como a saúde bucal, ocular e auditiva. Existem ainda os desafios específicos, como oferecer serviços de saúde mental preparados para lidar com idosos, ações de prevenção de quedas e combate à violência. A DOENÇA DO PRECONCEITO Se a longevidade se deu em função da redução da mor-
talidade - graças às melhorias das condições sócio sanitárias – o maior desafio a ser enfrentado hoje, segundo a sanitarista, é a redução da natalidade, que acelera o envelhecimento populacional, reduzindo a população economicamente ativa e aumentando o número de dependentes, que passam a ser os idosos, e não as crianças. “Esse fenômeno pode ser observado no mundo todo, em particular na América Latina”, explica. “Somando-se a esse quadro a transição demográfica e a transição epidemiológica, amplia-se a prevalência de doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares, endócrinas e oncológicas, que demandam cuidados ao longo de toda vida.” É a partir desse contexto que a médica aponta a necessidade de um novo paradigma: “Para além da cura, o paradigma do cuidado leva em conta a capacidade funcional do idoso.” Os principais desafios para implantar o novo paradigma são: 1) formar e qualificar os profissionais de saúde para atender o idoso, 2) vencer a barreira do preconceito. A sanitarista lembra que os idosos são vítimas de vários tipos de violência, entre eles o preconceito social, que os rotula como caducos, vendo-os como pessoas incapazes de aprender, sem sexualidade, sem serventia, disseminando a ideia de que os idosos voltam a ser crianças, de que são todos iguais, etc. “Além disso, existe também a violência institucional que acaba ocorrendo nos serviços de saúde com frequência. Um dos preconceitos, por exemplo, é a visão de que o idoso procura os serviços sem necessidade”, diz ela. Se as queixas deles não tiverem a escuta necessária, isso pode retardar diagnósticos. “O idoso reage de forma diferente em vários agravos e precisa, por exemplo, de um gerenciamento do uso de medicamentos, que quando são consumidos em excesso, podem ser iatrogênicos, causando efeitos adversos”, alerta. A médica conclui que para qualificar a atenção à saúde da pessoa idosa será preciso vencer esses dois desafios e integrar as ações voltadas para esse público, por exemplo conectando a política de saúde com a política de direitos das pessoas idosas, entre outras. Marília Cristina Prado Louvison é professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Presidente da Associação Paulista de Saúde Pública.
São Camilo PASTORAL DA SAÚDE
ICAPS - Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde Tel: (11) 3862-7286 Site: www.icaps.org.br E-mail: icaps@camilianos.org.br Avenida Pompeia, 888 Cep: 05022-000 São Paulo - SP