SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE INFORMATIVO DO INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE ANO XXXI N.344 SETEMBRO 2015
A ARTE DE OUVIR RUBEM ALVES Lembro-me do livro de contabilidade do meu pai. Ao lado esquerdo ficava a página do “Deve”, onde ele anotava os pagamentos feitos, dinheiro que não era mais seu. Ao lado direito estava a página do “Haver”, onde se registravam as “entradas”, sua pequena riqueza. Na alma também se encontra um livro de contabilidade. Tanto assim que o Vinícius escreveu um poema com o título “O Haver”. Ele já estava velho e fazia um balanço final do que restara. “Resta”: é assim que cada verso se inicia. “Resta essa intimidade perfeita com o silêncio… Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado… Resta essa vontade de chorar diante da beleza. Resta essa comunhão com os sons. Resta essa súbita alegria ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem história…” Quem diria que o som de passos na madrugada poderia ser parte da herança de felicidade um poeta! Os poetas são seres muito estranhos. Ficam felizes com nada. A poesia se faz com nada. Bem disse o Manoel de Barros: “Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para poesia. As coisas que não servem para nada têm grande importância”. Fernando Pessoa sofria da mesma peculiaridade auditiva do Vinícius. Lembro-me de um verso seu que não consegui encontrar, que é mais ou menos assim: “Por esse barulho do vento nos meus ouvidos valeu a pena eu ter nascido”. Se o verso não foi dele fica sendo meu porque eu já tive a mesma experiência várias vezes. Caminhando sozinho no silêncio das árvores o vento me sussurra segredos de felicidades: “Assim a brisa nos ramos diz sem o saber uma imprecisa coisa feliz…” (Fernando Pessoa). Ouvir os sons do mundo é uma felicidade que somente os artistas recebem por nascimento. Os outros têm de aprender. Para isso há de haver os mestres da escuta. Como John Cage que compôs uma curiosa peça para piano. É assim: o pianista faz precisamente o que fazem todos os pianistas. Entra no palco, encaminha-se para o piano, assenta-se, regula a distância do banco, concentra-se – e não faz o que todo pianista faz. Ele não toca! Não, não! Não está certo! Eu errei! O pianista toca sim. Ao piano ele executa o silêncio. O piano toca uma grande pausa! Cage faz o piano tocar silêncio para que se ouçam os delicados sons do mundo que não seriam ouvidos se o piano tocasse: as batidas do coração, a respiração, o ranger de uma cadeira, uma tosse, um sussurro… “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas”, disse Lichtenberg. O não fazer é a forma suprema de fazer, afirma a filosofia Tao. Fazer nada é estar à espera.
Por isso se aconselha meditação, que nada tem a ver com a meditação ocidental. A meditação ocidental é falar baixo os próprios pensamentos de uma forma metódica. O piano toca. Mas a meditação oriental é silenciar os próprios pensamentos para que os sons do mundo possam ser ouvidos. O piano não toca. Pra que serve isso? Pra nada. Não é ferramenta. Não tem utilidade. É coisa da caixa de brinquedos. Só dá felicidade. O mundo está cheio de música. Há os sons que não existem mais, que estão perdidos na memória. Meu amigo Severino Antônio, poeta de voz mansa, sugeriu aos seus alunos que um passo primeiro para a poesia seria chamar do esquecimento os sons que um dia ouviram e que não se ouvem mais. A música do realejo, o canto do carro de bois, o apito das fábricas, das locomotivas, o “din-din” dos bondes, o canto dos galos, o repicar fúnebre dos sinos, o crepitar do fogo nos fogões de lenha, a gaita do sorveteiro, a buzina das charretes… Parece que a poesia fica guardada nos sons que não mais se ouvem. Há também os sons da cidade, os gritos dos vendedores, o vozerio nas feiras, a algazarra das crianças ao sair das escolas, os bate-estacas das construtoras, o canto dos pardais, os rádios ligados dos trabalhadores, o latido ardido dos poodles… E há os sons da natureza: o assobio do vento, o barulho da chuva, os mantras das cachoeiras, o canto dos pássaros, dos sapos, dos grilos (tantos hai-kais sobre os grilos…), dos galos, o barulho das ondas… “Todo homem – até mesmo o rico – é poeta entre os quinze e os vinte anos. A nova educação deverá fazer do homem um poeta em todas as idades, sem que lhe seja necessário escrever versos. Viver a poesia é muito mais necessário e importante do que escrevê-la” – assim disse Murilo Mendes. Poesia é música. A primeira poesia que se ouve é uma canção de ninar. Depois, é a música do mundo… “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram”, escreveu Cummings. Acordar os ouvidos! Não me consta que essa tarefa tenha sido jamais mencionada em tratados sobre a educação. É compreensível. Para isso os professores teriam que ser artistas, pianos que não tocam nada e que só fazem ouvir. Quando isso acontecer, quem sabe, os nossos jovens aprenderão a identificar o canto dos pássaros e ficarão subitamente alegres “ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória…”
Rubem Alves, foi escritor de vários livros e centenas de artigos
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APRENDI Aprendi que se aprende errando; Que crescer não significa fazer aniversário; Que o silêncio é a melhor resposta, quando se ouve uma bobagem; Que trabalhar não significa ganhar dinheiro; Que sonhos estão aí para serem alcançados; Que amigos a gente conquista mostrando o que somos; Que os verdadeiros amigos sempre ficam com você até o fim; Que a maldade pode se esconder atrás de uma bela face; Que não se espera a felicidade chegar, mas se procura por ela; Que quando penso saber de tudo ainda não aprendi nada; Que a natureza é a coisa mais bela da vida; Que amar significa se dar por inteiro; Que um só dia pode ser mais importante que muitos anos; Que se pode conversar com estrelas; Que se pode confessar com a lua; Que se pode viajar além do
infinito; Que ouvir uma palavra de carinho faz bem à saúde; Que dar um carinho também faz... Que sonhar é preciso; Que se deve ser criança a vida toda; Que nosso ser é livre; Que o julgamento alheio não é importante; Que o que realmente importa é a paz interior. Não podemos viver apenas para nós mesmos. Que quando imaginamos saber todas as repostas, vem a vida e muda todas as perguntas. Que mil fibras nos conectam com outras pessoas, e por essas fibras nossas ações vão como causas, e voltam para nós como efeitos... Portanto, aproveite ao máximo cada instante da sua vida, pois ele é único. Autor desconhecido
AÇÚCAR OU ADOÇANTE? LAURA DOS SANTOS POLA Várias pessoas consideram o adoçante como uma alternativa saudável para perder peso. Mas, será mesmo? Em primeiro lugar, vamos definir adoçante. Adoçante é um produto composto de edulcorantes que são substâncias com alta capacidade de adoçar. Geralmente são dezenas, às vezes centenas de vezes mais doces do que o açúcar. Entre os edulcorantes estão os naturais e os artificiais: • Artificiais: sacarina, ciclamato, aspartame, acessulfame k, sucralose, perilartina e xilitol. • Naturais: steviosídeo e frutose*. * Somente a frutose contém calorias. A indicação de adoçantes é realizada para pacientes com patologias que restringem ou proíbem o consumo de açúcar como hipertrigliceridemia (aumento de triglicerídeos) e diabetes, respectivamente. Apesar disso, atualmente verificamos um elevado consumo de adoçantes e produtos diets pela população que não apresenta as patologias citadas acima. A maioria, pensando em emagrecimento e manutenção de peso. Mas será realmente efetiva a substituição do alimento convencional pelo diet neste caso? De acordo com pesquisa realizada em Indiana, na Universidade de Purdue, a sacarina, que é um edulcorante muito utilizado nos produtos diets, pode acarretar em ganho de peso, pois estimula o apetite por doces. Funciona da seguinte forma: na ingestão dessa substância nosso organismo se prepara para receber calorias do açúcar, e diante da ausência do nutriente nosso corpo passa a “solicitar” calorias através da ingestão de alimentos altamente calóricos como sorvetes, chocolates e tortas recheadas. É aquela famosa sensação de “preciso de um docinho urgente!”
Sabe-se hoje que o uso constante de adoçantes, em quantidades elevadas, pode funcionar como um agravante para diversas doenças. Os adoçantes artificiais, como o próprio nome diz, foram criados em laboratório. Dessa forma, nosso organismo não foi projetado para “decifrá-los” ou metabolizá-los, fazendo com que essas substâncias se acumulem em nossas células e promovam inflamações constantes. Vale lembrar que os adoçantes a base de ciclamato foram proibidos nos EUA, devido às diversas constatações dos prejuízos e riscos à saúde. Além disso, algumas pesquisas relacionam o aspartame com o desenvolvimento da doença de Alzheimer e de tumores cerebrais. As informações ainda não são conclusivas, pois foram realizadas somente com animais (ratos). Porém, é fato que como qualquer outro conservante, adoçante em excesso faz mal à saúde. Em contrapartida, sabemos que o consumo excessivo de açúcar refinado está relacionado com hiperatividade, inflamações, acne, lipogênese (acúmulo de gordura corporal) e risco de desenvolvimento de diabetes mellitus. Por isso, vale a regra: não exagere. Aproveite o sabor natural dos alimentos e tente “desviciar” seu paladar do sabor “muito doce”. Além disso, prefira sempre consumir o açúcar na versão mais natural como mascavo, cristal ou utilize o mel para adoçar as bebidas e alimentos. Caso seja diabético, não precisa se desesperar: como eu relatei no início do artigo existem 2 tipos de adoçantes: os naturais e os artificais. Procure, dessa forma, utilizar sempre os adoçantes à base de steviosídeo, em quantidade moderada, sempre preferindo o sabor natural dos alimentos. Laura dos Santos Pola é nutricionista - CRN3 27426/P
CALENDÁRIO CAMILIANO DA PASTORAL DA SAÚDE Já está à sua disposição, para o ano 2016 o calendário camiliano de pastoral da saúde. Além das informações tradicionais, o calendário camiliano traz informações e orientações para os agentes de pastoral da saúde e ministros dos enfermos. Adquira o seu entrando em contato com nossa secretaria no telefone (11) 3862-7286 ou através do e-mail icaps@camilianos.org.br
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O IMPACTO DA DOENÇA CRÔNICA NA FAMÍLIA Quando pensamos numa doença crônica associamos geralmente, a algo que envolve sofrimento físico e psíquico no doente, tendo em consideração, que este tem que lidar com a patologia durante a maior parte da sua vida. No entanto, este sofrimento não se restringe apenas ao elemento que padece da doença crônica, mas sim, a toda a rede de relações estabelecidas, principalmente ao ciclo familiar, quando convive diariamente com os problemas inerentes à própria doença. Dependendo da gravidade da patologia, a família acaba por alterar as suas rotinas diárias, para poder cuidar e apoiar o doente, o que acaba por influenciar não só o relacionamento, como modifica o estilo de vida familiar. Tendo como base todas estas alterações, decidi abordar o impacto que a doença crônica exerce na família em vários níveis. Resumidamente, doença crônica pode ser considerada como: um estado de saúde alterado que não pode ser curado com uma simples intervenção cirúrgica ou com um tratamento médico de curta duração. O que torna uma doença crônica ou os seus efeitos tão graves, não é apenas a natureza da doença e do tratamento, mas a necessidade de a suportar por tempo indeterminado. As doenças crônicas podem ter um carácter hereditário ou um componente genético, mas também podem ser adquiridas, de acordo com um determinado estilo de vida adotado. Por exemplo, diabetes; obesidade; cancro; doenças respiratórias; doenças cardiovasculares; tuberculose, lepra, sífilis ou gonorreia; SIDA; Por isso, muitas doenças crônicas podem ser prevenidas através da alteração do estilo de vida; alterando os hábitos alimentares: privilegiar frutas, vegetais, frutos secos e cereais integrais; substituir as gorduras animais saturadas por gorduras vegetais insaturadas; reduzir as doses de alimentos salgados e doces; prática de exercício físico diário, mantendo um peso normal: Índice de Massa Corporal entre 18,5 e 24,9 e principalmente eliminando o consumo de tabaco. Quando a família enfrenta uma doença crônica, é como se ela estivesse pela primeira vez num país estrangeiro. Embora alguns aspectos sejam bem semelhantes à sua terra natal, outras são completamente diferentes. Quando um membro da família tem uma doença crônica, poderá não existir uma mudança drástica no estilo de vida familiar, em alguns casos, no entanto, noutros a situação poderá ser bem diferente. Para começar, a própria doença pode ter um impacto sobre a rotina normal da família e forçar cada membro a fazer ajustes, a fim de lidar com a situação. Mesmo o tratamento, que deveria servir de alívio da doença, pode interferir ainda mais na nova rotina da família. À medida que o paciente se ajusta ao desconforto, e às vezes à dor, do tratamento médico e de ser examinado pelos profissionais de saúde, torna-se, cada vez mais dependente do apoio emocional da família. Em
resultado disso, os membros da família não só têm de aprender novas capacidades para prestar cuidados físicos ao paciente, mas também se vêem obrigados a ajustar sua atitude, as emoções, o estilo de vida e a rotina. É compreensível, que isso exija cada vez mais perseverança da parte da família. Uma mãe cuja filha estava no hospital em tratamentos, lutando contra um cancro, pode se sentir mais cansada que a própria filha, alvo desses tratamentos.Quando a família se envolve demasiado com a própria doença sente de forma mais intensa o impacto que esta exerce, podendo haver uma probabilidade maior para desenvolver problemas psicológicos como a Depressão ou um Transtorno ObsessivoCompulsivo, entre outros. ORIENTAÇÕES PARA AS FAMÍLIAS • Prestar os cuidados necessários e básicos ao paciente, tendo sempre consciência, que não deve descurar a sua própria vida, ao centrar-se exclusivamente na vida do familiar; • A família necessita de tempo para se adaptar à nova condição de vida do doente, deve então reorganizar-se, nos seus papéis e funções para que não haja uma desorganização mais intensa, prejudicando ainda mais o equilíbrio e estabilidade familiar; • É importante que a família procure apoio e ajuda no esclarecimento de dúvidas, junto de profissionais da saúde que acompanham o paciente, mas também por amigos, vizinhos ou mesmo parentes mais distantes do paciente, deverá ainda procurar acompanhamento psicológico, caso sinta essa necessidade; • Tentar não transmitir preocupação excessiva nem sentimentos como: pena, desgosto ou demasiada tristeza, pois poderão aumentar os níveis de tensão ou ansiedade e irão dificultar o processo de tratamento e a forma como o paciente vivencia a doença. • É essencial a transmissão de pensamentos positivos e otimistas, apelando sempre à boa disposição. Tente distrair o paciente, através de atividades do interesse do próprio e compatíveis com o seu estado de saúde para que o doente se possa abstrair do seu problema, ainda que por momentos. Esteja certo de que outras famílias sobreviveram à viagem pela terra desconhecida da doença crônica. Muitos descobriram que simplesmente saber que outros conseguiram lidar com o problema lhes dava um certo alívio e esperança. Mais uma vez, os profissionais de saúde são de extrema importância, no sentido de apoiar, promover, orientar e dar suporte à adaptação do núcleo familiar, uma vez que, a Doença Crônica implica situações de crise, limitações e perdas que irão influenciar e marcar drasticamente a estrutura familiar. Artigo enviado à redação do boletim por Célia Felix
O boletim “São Camilo Pastoral da Saúde” é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde - Província Camiliana Brasileira. Provincial: Pe. Antonio Mendes Freitas / Conselheiros: Pe. Mário Luís Kozik, Pe. Mateus Locatelli, Pe. Ariseu Ferreira de Medeiros e Pe. João Batista Gomes de Lima/ Diretor Responsável: Anísio Baldessin /Secretária: Fernanda Moro / Diagramação: Fernanda Moro / Revisão: José Lourenço / Redação: Av Pompeia, 888 Cep: 05022000 São Paulo-SP - Tel. (11) 3862-7286 / E-mail: icaps@camilianos.org.br / Site: www.icaps.org.br / Periodicidade: Mensal / Tiragem: 1.000 exemplares / Assinatura: O valor de R$20,00 garante o recebimento, pelo correio, de 11 edições. O pagamento deve ser feito mediante depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, Agencia 0422-7, Conta Corrente: 89407-9.
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LANÇAMENTO!!! A assistência espiritual aos doentes têm despertado enorme interesse dos cientistas. Prova disso, são as inúmeras publicações e pesquisas nessa área. Com isso, aumentou também o número de pessoas ligadas às mais diversas igrejas que procuram hospitais, casas de saúde ou mesmo domicílios para assistir espiritualmente os doentes. Todavia, quando procuram por essa atividade estão, em geral, movidas por amor e boa vontade e fé. Mas, quase sem nenhuma preparação. Assim sendo, mesmo tendo o intuito de ajudar quem sofre pode, em certas circunstâncias e por ignorância, gerar um certo mal-estar. Dividido em pequenas reflexões, o objetivo do livro é oferecer algumas dicas práticas e reais que tive, ao longo dos mais de vinte anos prestando assistência espiritual no hospital aos pacientes, familiares e profissionais da saúde. Embora o livro não apresente respostas totalmente prontas e definitivas, eu não tenho dúvida que os leitores encontrarão muitas pistas que o ajudarão neste grande desafio que é assistir espiritualmente o doente. O autor – Anísio Baldessin
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