Profissão Solene e Consagração Monástica de Ir. Bernarda Olivetana
10 de outubro de 2015 Caríssima Ir. Bernarda; Me. Prioresa Maria Lucia, Monjas, Oblatas, Irmãos e Irmãs:
No relato evangélico proclamado, S. Lucas narra o encontro do Arcanjo que saúda, com um título honorífico: “Salve !”, que significa “agraciada”, a jovem Virgem Maria. Em seguida, pronuncia uma benção: “o Senhor está conti-
go! ” Essa promessa de benção de Deus – “o Senhor está
contigo ” – é comum no Antigo Testamento e foi sempre dirigida a homens que se encontravam diante de uma difícil missão. Por exemplo, a missão de Moisés, ao tirar o povo
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da terra da escravidão. “Deus disse: "Eu estarei contigo; e
este será o sinal de que eu te enviei:' quando fizeres o povo sair do Egito, vós servireis a Deus nesta montanha."1 . E, também, ao juiz Gedeão, quando Deus o chama para lutar contra os madianitas: “O Anjo de Iahweh lhe apareceu
e lhe disse: "Iahweh esteja contigo, valente guerreiro!2" Portanto, a jovem Maria, como Moisés e Gedeão, foi escolhida por Deus para uma missão difícil na história da salvação. Assim como por meio de Moisés, Deus tirou o povo do Egito para fazê-lo livre e de sua eleição e, igualmente, como Deus havia escolhido Gedeão para exterminar os madianitas que ameaçavam a conquista da terra prometida, assim também Deus escolhera Maria, na fragilidade de uma jovem virgem de Nazaré, e por meio dela, deu ao mundo o
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Ex 3,12 Jz 6,12
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Novo Moisés, para constituir o Novo Israel
e o Novo Ge-
deão para enfrentar todos os inimigos que impedissem o povo da Nova Aliança tomar posse da verdadeira terra prometida: a Jerusalém do Alto. Difícil missão dessa jovem Virgem, porque será o lugar onde Deus tomará nossa carne; será o trono da glória de Deus, que o Templo de Jerusalém prefigurava. O Filho de seu seio, sem a intervenção humana, será mais do mundo e para o mundo, do que dela e para ela, porque para isso veio: “para salvar o que estava perdido”. O sim de Maria não se restringiu à missão de ser Mãe do Filho do Altíssimo, e na impotência do amor, contemplá-Lo como vítima imolada no altar da cruz, o verdadeiro Cordeiro Pascal que tira o pecado do mundo. Aceitou, com seu sim, ser Mãe, Discípula e Testemunha de sua oblação e ressurreição.
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“No sim de Maria, o mundo recebe Deus; no sim de seu Filho Jesus, Deus recebe o mundo”.3 Maria foi eleita pelo Altíssimo desde toda a eternidade, para ser a Nova Eva, aquela pela qual a encarnação seria perfeitamente possível. Foi preservada pela graça – por isso o Anjo a chama de “cheia de graça” – para que nela não se repetisse o não da velha Eva. Com ela – por causa de sua missão: a divina maternidade – inicia-se a nova criação. Hoje, na memória da Virgem Maria, Ir. Bernarda emitirá seus Votos Solenes e receberá a Consagração das Virgens para viver como monja nesta família Beneditina de Monte Oliveto.
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Bouzon e Romer, A Palavra de Deus, Ed. Paulinas, 1979, pg.26
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Pelo batismo, Ir. Bernarda também é cheia de graça, e livremente, como o Mãe do Salvador, se dispõe a viver uma difícil missão: ser monja. Uma monja de São Bento, por sua vida de castidade, opções, palavras e pelo silêncio, não só de seus lábios, mas sobretudo de seu coração, será um sinal da vida futura: “Com efeito, na ressurreição, nem eles se casam e nem
elas se dão em casamento, mas são todos como os anjos no céu” (Mt 22,30). Ir. Bernarda faz parte dessa família religiosa, o monaquismo que surgiu, naquele momento de baixa qualidade da vida cristã, após a paz constantiniana no ano 314, como um protesto dentro da própria Igreja, antes mesmo de sê-lo para a sociedade. Continuará sendo ao longo da história porque é de sua essência nadar contra a correnteza da mundanidade e optar pela exclusividade do Cristo e seu
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Reino. Isso, porém, supõe uma forma de vida, qual sinal de contradição. Em sua sabedoria, São Bento propõe em sua Regra para os Monges três votos: estabilidade, conversão de seus costumes e obediência. O voto de estabilidade garantirá à monja estreitar, cotidianamente seu compromisso de vivência evangélica com uma específica comunidade, como os mártires estáveis e invencíveis em sua proclamação de fé. O voto de conversão dos costumes – sábia pedagogia – conduzirá a monja a uma concreta forma de viver o Evangelho, privilegiando a celebração litúrgica, a oração pessoal, a ruminação da Palavra saboreada na lectio, o trabalho de sustento e de serviço fraterno, a ascese corporal, a clausura como espaço de câmera nupcial e o hábito, sinal de um coração e um corpo não dividido com ninguém.
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O voto de obediência, mais do que renunciar à vontade própria, uma capacidade desenvolvida pela estabilidade e conversão de costumes para inclinar o ouvido do coração à vontade de Deus, para ser Igreja com a Igreja, na Igreja particular onde se vive. Essa difícil missão de ser monja, mas não impossível, levará, sem dúvida alguma, nossa Ir. Bernarda a ser um “Magnificat Vivente”, exatamente como pronunciou os lábios da Mãe do Cristo. Um Magnificat Vivente que conduzirá muitos da terra da escravidão do pecado para a liberdade do Reino. Estimulará tantos outros a não esmorecer na luta contra os modernos madianitas na conquista de uma terra que lhes é oferecida para reinar a justiça e a paz. Enfim, firme nas circunstâncias da impotência do amor, como a Virgem ao pé da Cruz, será uma força na aparência da inutilidade e
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uma fecunda castidade na aparente visibilidade de uma estéril mulher. Livre para se deixar conduzir por tantas palavras de nossa hodierna cultura, que prometem felicidade e realização humana, na aparência de submissão, Ir. Bernarda se põe na escola daqueles que se fazem servos e servas de uma só Palavra: Jesus Cristo. “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoa-
dos de Judá”, que, justamente, podemos traduzir por “Tu Mosteiro Regina Pacis, pequenina entre os mil mosteiros da Ordem de São Bento”, de ti, na esperança de que Deus não confunde os pequeninos, surge, da fragilidade, a potência do amor de Deus, porque o Todo-poderoso olha a humildade dos pequenos, que pela vida proclamam: “ para
Deus nada é impossível” (Lc 1,37) Sem dúvida alguma, é neste contexto que Ir. Bernarda se deixa consagrar monja.
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Sendo Ir. Bernarda um Magnificat Vivente pacificará a muitos corações à beira de extinguir a chama da esperança por uma vida digna de ser vivida e como preparação para estar em dignidade no festim da Gloriosa Jerusalém. Ir. Bernarda, Deus a abençoe, juntamente com sua comunidade nessa difícil tarefa der ser monja, esposa apaixonada de Cristo. Assim seja.
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