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IV DOMINGO DO ADVENTO – ANO B Neste domingo que antecede o Natal do Senhor, a liturgia nos fez ouvir dois belíssimos diálogos. Na primeira leitura, Davi está falando com o profeta Natã e no Evangelho é o Anjo que fala com Maria.Na primeira leitura, Davi se dá conta de que foi imensamente abençoado por Deus, porque está em paz e gozando de toda a riqueza que conquistou. Ele se dá conta de que vive num palácio suntuoso e que a Arca, o sinal da presença de Deus em meio ao seu povo está desprotegida numa tenda. O seu desejo de construir um grande santuário para “abrigar” Deus é algo legítimo e bem aceito. O que ele não havia ainda compreendido é que Deus não se deixa conter na sua grandiosidade por umas paredes ou por um templo igualmente suntuoso. Os homens de todos os tempos quiseram sempre se apoderar do sagrado, manter o seu deus nesse ou naquele lugar. Deus não se deixa enquadrar nas dimensões da razão humana. Por mais que tentemos, jamais poderemos dominar Deus e ditar a Ele as nossas normas. O que acontece é exatamente o contrário. Nós, sim, devemos nos submeter a Ele, não como escravos, mas como filhos amados. Quando Jesus dialoga com a mulher samaritana, quando Ele está sentado e lhe pede de beber, ao fim do seu discurso diz a ela que não será em Jerusalém ou qualquer outro lugar que Ele será adorado. Ele quis dizer que não será num templo feito por mãos humanas que Ele será encerrado, permanecerá preso ou se deixará dominar. Os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram em espírito e verdade. Com o Batismo, Deus passa a ser adorado num templo vivo. O trono de Deus, a casa de Deus, o lugar privilegiado de adoração passa a ser o nosso coração. São Paulo reconhece na segunda leitura, que as profecias se completaram; se cumpriram definitivamente, porque nos foi enviado o Salvador. Ele é carne da nossa carne, homem como todos os homens, mas, isento do pecado, veio ao mundo para em tudo fazer a vontade do seu Pai, que com amor eterno nos amou, tornando-nos irmãos a partir de seu Filho Único. Tudo aquilo que os profetas anunciaram tornou-se realidade na encarnação do Verbo. Deus se fez Homem para divinizar o homem. O Evangelho de hoje nos apresenta um diálogo. É um diálogo sem precedentes! Um Anjo foi enviado a uma Virgem e a Ela faz a mais bela saudação de toda a história da Salvação: “Ave cheia de graça, o Senhor está contigo!” Ela ficou perturbada e silenciosamente começou a se perguntar o que de fato significava aquela bela saudação. Percebendo, o Anjo continuou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus”. Maria questionou o Anjo, mas não duvidou do poder de Deus. Ela não foi, em momento algum, obrigada a aceitar essa missão. Ela exerceu sua total liberdade, e, como todos aqueles que amam verdadeiramente, se deixou envolver pela loucura do amor de Deus. Deus tanto amou o mundo que nos enviou o seu Filho Único para a salvação de toda a humanidade mergulhada nas trevas do pecado e da morte. A Mãe de Jesus, que se tornou também nossa Mãe, aceitou a sua missão, porque no seu silêncio foi capaz de ouvir a voz de Deus através do Anjo. No silêncio Deus


foi gerado no ventre de uma Virgem. No silêncio Ela acompanhou os passos do seu Filho, e, ao dar o seu “sim” foi consequente até o momento derradeiro. Tive a graça de ganhar um livro e, como todos os livros, caem em nossas mãos no momento certo da nossa história pessoal ou comunitária. Chama-se “O Vendedor de Sonhos”. O Vendedor vende ao outro homem uma vírgula e é essa vírgula que muda completamente a história de alguém que estava à beira do suicídio. No momento da venda ele diz: “Você sempre esteve usando somente o ponto final. Eu te ofereço uma vírgula para que você continue escrevendo a sua história a partir de agora!” Aceitando e reconhecendo a importância da teoria da vírgula, o homem compreendeu que sempre usava a teoria dos pontos finais. “Alguém me frustrava? Eliminava-o, colocava um ponto final no relacionamento. Alguém me feria, anulava-o. Enfrentava um obstáculo? Mudava a trajetória. Meu projeto estava com problemas? Substituía-o. Sofria uma perda? Virava as costas” (O Vendedor de Sonhos livro Augusto Cury). Porque estou contando isso nessa homilia? Exatamente para mostrar que Maria, a Virgem e Mãe de Jesus, ela também usou a teoria das vírgulas e não a dos pontos finais. Ela aceitou colaborar com Deus nesta grande historia da Salvação e assumiu com todos os riscos a sua missão de ser Mãe de Jesus. Portanto, porque Ela aceitou a sua missão, como humilde serva, aquele mesmo Deus que não se permitia conter num templo suntuoso de pedras, se fez tão pequeno que foi acolhido no ventre de uma mulher. Aquele Deus grandioso se tornou tão pequeno, que não hesitou em se deixar embalar pelos braços de uma jovem mãe, e, mais ainda, o Criador de todas as criaturas, aquele que alimentava a todos os seres vivos, se deixou alimentar pelo leite de uma mãe. Essa é a grandiosidade de Deus, que em nada se diminuiu, mas elevou a nossa condição de homens transformados pela graça. Quando Deus se manifestou a Elias, que estava numa gruta, não o fez no turbilhão, nem na tempestade, mas no silêncio de uma brisa suave. Da mesma forma, Jesus encontrou abrigo seguro no silêncio de Maria, que Lhe ofereceu não somente o seu coração, mas todo o seu corpo como Templo Vivo do Deus Vivo. É esse o grande mistério do Natal que estamos para celebrar. Deus virá no silêncio da noite e deseja encontrar o nosso coração silencioso para que seu Filho seja novamente acolhido. Que a Santa Mãe de Deus nos ensine a guardar tudo no coração e, que assim possamos escrever a nossa historia a partir do nosso encontro com Jesus, que quer nascer no nosso coração.


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