JUBILEU DA ORDEM DOS PREGADORES 1216 – 2016
Em 2016, a Ordem dos Pregadores (dominicanos) completará 800 anos de existência, quando celebrará o ano jubilar com o tema Enviados a pregar o Evangelho.
Este jubileu recorda a publicação das Bulas promulgadas pelo Papa Honório III, há 8 séculos, confirmando a fundação da Ordem em 1216 e 1217.
O principal objetivo, ao comemorar o Ano Jubilar, é promover uma renovação da Ordem, a partir do seu fundador, Domingos, abrindo novos caminhos frente a um mundo em profunda transformação.
Ele quis levar a Igreja à sua missão mais original: anunciar a Palavra de Deus – PREGAÇÃO – por meio de um diálogo atento e acolhedor das necessidades e esperanças de uma humanidade em busca de justiça, de felicidade ¬ e de amor.
A Família Dominicana tem sua origem na Europa da Idade Média, na época das Cruzadas e de Francisco de Assis. Ela brotou da experiência de vida evangélica de São Domingos de Gusmão, aproximadamente em 1170.
Um acontecimento mudou radicalmente os rumos da caminhada de Domingos. Quando acompanhava seu bispo Diogo, numa missão diplomática ao norte da Europa, tomou contato com os hereges do sul da França, chamados ‘Cátaros’ que iam difundindo doutrinas contrárias ao próprio Evangelho. O povo cristão, sedento da Palavra de Deus e, em muitos casos, revoltado contra os maus exemplos de sacerdotes e monges, era facilmente influenciado por esta pregação avassaladora, e acabava por afastar¬-se da vida cristã e da comunhão com a Igreja e seus legítimos pastores. Domingos experimentou aqui um tipo de ‘fronteira’ da fé: era o povo de Deus, que abandonava a verdadeira fé e a prática da vida cristã.
Foi então que surgiu a ideia de fundar uma ordem de frades pobres e estudiosos, para que pudessem pregar a doutrina cristã, não só nas palavras, como também com o exemplo de sua vida, sem as suspeitas de interesses materiais.
Dentro de pouco tempo, ao redor de Domingos, formou-se uma primeira comunidade de discípulos e colaboradores: homens e mulheres, leigos e clérigos. Com o tempo, a Igreja reconhece a urgência de intensificar a pregação ao povo cristão. Para isso, estabelece que, em cada diocese, se escolhessem sacerdotes de vida realmente evangélica que, ficando livres de outros compromissos pastorais, pudessem se dedicar exclusivamente à pregação.
Era o que Domingos queria! No final de 1216, ele obteve do próprio Papa, para a pequena comunidade de Tolosa, o reconhecimento oficial e o título de Ordem dos Pregadores.
Domingos guiou com amor de pai, por cinco anos, os primeiros passos da obra do seu coração, a nova Ordem dos Pregadores, até que a morte o levou para o encontro do Senhor: em Bolonha, na Itália, no dia 6 de Agosto de 1221.
Alguns pormenores: . Desde que pressentiu que ia ser mãe pela terceira vez, Joana d’Aza, redobrou a vigilância sobre si mesma, desejando transmitir apenas impressões salutares ao seu pequenino. Certa noite, sonhou que dava à luz um cachorro branco e preto que segurava na boca uma tocha, com a qual ia incendiando o mundo por onde passava. Preocupada com um sonho tão singular, foi visitar o mosteiro de São Domingos de Silos, e pediu ao monge que fizesse a interpretação daquele sonho. Na intimidade de sua oração, ouviu a seguinte resposta: “Seu filho será um fervoroso pregador do Evangelho e com sua palavra atrairá muitos à conversão e alertará os pastores da Igreja contra seus inimigos”.
. A aparência de Domingos era esta: estatura mediana, magro, rosto corado, cabelos e barba levemente ruivos. Tinha mãos grandes e elegantes, uma voz forte e sonora. Nunca foi calvo e conservou sempre cabelos fartos com alguns fios brancos em redor da tonsura, que consiste no alto da cabeça raspado.
. Narra uma lenda antiga a Domingos que, um dia, rezando na Basílica de São Pedro em Roma, apareceram¬ lhe São Pedro e São Paulo. Os dois Apóstolos lhe entregaram o livro do Evangelho e o cajado do peregrino, dizendo- lhe: “Vai e anuncia o Evangelho pelo mundo inteiro”.
. São Domingos e São Francisco são contemporâneos, mas talvez nunca tenham se encontrado. Uma lenda tardia afirmou que eles se encontraram e se tornaram amigos.
. Durante um duro período de miséria entre a população, sabedor de que havia tanta gente necessitada, Domingos vendeu todos os seus bens, inclusive os preciosos livros, a fim de comprar-lhe comida. Declarou a quem o questionou: “Não quero estudar em peles mortas*, quando o povo morre de fome”. Vários outros universitários seguiram-lhe o exemplo. * “peles mortas” porque os livros mais caros eram elaborados com o couro raspado de animais.
A semente lançada por Domingos vingou e cresceu com rapidez surpreendente, transformando- se logo numa grande árvore com diversas ramificações: a Família Dominicana.
Ela é hoje uma grande fraternidade espiritual, composta de religiosos frades e irmãos cooperadores, monjas de vida contemplativa, irmãs de vida apostólica, padres diocesanos, leigos e leigas. Distinguem-se nela cinco ramos fundamentais, conforme os diversos modos de encarnar o carisma de São Domingos.
Os Frades São os religiosos, ordenados e não ordenados, que vivem conforme o projeto de vida religiosa, radicalmente inovadora, suscitado por Domingos. Os monges vivem na ‘fuga do mundo’; os dominicanos na inserção mais plena no mundo, sobretudo nos centros urbanos, no compromisso com a realidade.
O claustro dos monges têm uma única abertura, para o céu; o claustro dos dominicanos têm, sim, a abertura para o céu, mas têm também a porta sempre aberta para o mundo, para acolher e para andar. Os monges fazem voto de estabilidade no mosteiro; os dominicanos praticam a itinerância mais radical, para anunciar o Evangelho de Cristo aos irmãos dos quatro cantos do mundo.
Hoje os frades da Ordem estão presentes em mais de oitenta países, nos cinco continentes. No Brasil atuam em comunidades situadas, especialmente, na parte central do país.
As monjas contemplativas Em 1206, Domingos consegue que um grupo de mulheres convertidas de heresia se constituissem como comunidade, encontrando uma casa onde se estabelecem e apoiam a missão da santa pregação, na vila de Prouille. Foi a primeira fundação do que viria a ser a Ordem dos Pregadores. Elas vivem no silêncio do mosteiro, mas participam plenamente da missão apostólica da Ordem, colocando¬-¬¬se como sinais e testemunhas vivas dos valores evangélicos.
A característica própria dos mosteiros das contemplativas dominicanas é de estar inseridos, junto com os conventos dos frades, nos centros urbanos, como sinal profético do absoluto de Deus no meio dos homens, como mestras de oração e da experiência de Deus, como intercessoras para a humanidade e para a missão apostólica da Igreja e de toda a Família Dominicana. É significativo lembrar que, desde o começo, elas foram consideradas como parte integrante da Ordem dos Pregadores, sendo conhecidas e reconhecidas como as monjas pregadoras!
No Brasil existe atualmente uma comunidade de monjas dominicanas: o Mosteiro de Cristo Rei, em São Roque, no interior do Estado de São Paulo.
Ao longo dos séculos, verdadeiras legiões de leigos e leigas realizaram sua vocação cristã seguindo os passos de Domingos, no caminho da Fraternidade dominicana. Lembramos entre eles: Catarina de Sena, a jovem analfabeta italiana proclamada, pela sua doutrina espiritual, “Doutora da Igreja”. Rosa de Lima, jovem leiga do Peru, primeira santa canonizada do novo Mundo. Giorgio La Pira, o prefeito santo da cidade de Florença, na Itália. O jovem Piergiorgio Frassati, morto aos 24 anos por uma doença contraída nas visitas aos pobres dos cortiços, da cidade de Turim.
No Brasil, existem atualmente 18 Fraternidades já constituídas e várias em formação.
Outros grupos de Leigos Dominicanos: além desta forma mais tradicional de vida dominicana “leiga”, representada pelas Fraternidades, existem várias outras articulações e grupos de leigos que estão em comunhão com a Ordem e são parte da grande família espiritual de São Domingos. Eles têm níveis e formas diferentes de pertença na Ordem, mas todos se reconhecem na vivência de sua espiritualidade e na participação ao seu carisma apostólico. Também no Brasil, temos hoje vários tipos e modos desta pertença ‘leiga’.
Lembramos, por exemplo, o Movimento Juvenil Dominicano, que agrega ao redor do ideal dominicano adolescentes e jovens de várias regiões do país, o Grupo Solidários de São Domingos, atuante na defesa dos direitos humanos. Muitos leigos e leigas participam da Comissão dominicana de Justiça e Paz, junto com frades e irmãs do Brasil. Muitos leigos dominicanos são ativos nas nossas paróquias e em várias pastorais de Igreja. Os púlpitos de todos estes leigos e leigas “pregadores” e “pregadoras”, não estão propriamente nas igrejas, mas fora das igrejas: na família, no mundo do trabalho, nas escolas, nos hospitais, na política, na economia, no serviço social, enfim, no “mundo”, na mais plena inserção e no compromisso com a realidade. Eles foram entre os primeiros discípulos de Domingos, os primeiros colaboradores de sua pregação. Eles estão na vanguarda de uma Ordem que Domingos quis presente e atuante no ‘mundo’ e nas ‘fronteiras’.
As Irmãs Dominicanas Temos hoje um número muito grande de Congregações religiosas femininas dominicanas, como o ramo mais recente da grande Família de São Domingos, sendo que estas Congregações foram fundadas, quase todas, a partir de 1800, como uma porção significativa daquele verdadeiro ‘milagre’ do florescimento dos ‘carismas da caridade’, numa época em que a sociedade moderna perseguia os religiosos e os expulsava dos conventos, alegando serem eles “socialmente inúteis”.
A Família Dominicana conta atualmente com mais de 150 Congregações femininas de vida apostólica, somando mais de trinta mil irmãs, presentes e atuantes nos cinco continentes. Elas vivem como mulheres consagradas ao Senhor, dedicando¬-se à educação, ao ensino, ao acompanhamento pastoral de comunidades e às mais variadas formas do serviço social em prol dos empobrecidos e marginalizados.
As irmãs dominicanas testemunham hoje, no mundo inteiro, a solidariedade de Cristo e de Domingos para com os últimos e os excluídos.
No Brasil, estão presentes atualmente 15 Congregações de Irmãs dominicanas - uma delas, é a nossa: Congregação das Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils.
Família Dominicana, a grande família espiritual que oito séculos atrás brotou do coração de Domingos, continua viva e atuante na Igreja e no mundo de hoje. Ela carrega consigo toda a riqueza do seu passado e a sempre renovada liberdade de recriar o novo da verdade e da justiça, a serviço da humanidade a caminho, neste começo do terceiro milênio.