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Natal do Senhor de 2014 Missa da Noite Queridos irmãos e Irmãs: Nesta Noite Santa, o Verbo Eterno se faz carne no seio virginal de Maria. Hoje, os Anjos vão ao encontro dos pastores para anunciar-lhes o nascimento do Messias em Belém, a cidade de Davi. Sem demora, partem em direção para onde se encontra o Menino recém-nascido com sua Mãe e José, seu pai adotivo. Na gruta, eles O adoram ao som da silenciosa música do mistério, executada para ser ouvida apenas quando a razão desposa o coração. Nas Escrituras sempre houve uma predileção pelos pastores. Lembremo-nos daquele considerado pelo povo da 1


Antiga Aliança como o mais humilde dos filhos de Abraão. Fora instrumento de Deus para libertar seu povo da escravidão. Pastoreava as ovelhas de seu sogro.

Moisés, “certo dia, levou as ovelhas deserto adentro e chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe o Anjo do Senhor numa chama de fogo, do meio da sarça. Moisés notou que a sarça estava em chamas, mas não se consumia. Pensou: “Vou

aproximar-me para admirar esta visão

maravilhosa: como é que a sarça não pára de queimar? Vendo o Senhor que Moisés se aproximava para observar, Deus o chamou do meio da sarça: “Moisés! Moisés!”. Ele respondeu: “Aqui estou! Deus lhe disse: “Não te aproximes daqui! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa.” E acrescentou: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de

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Jacó.” Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus.” (Ex. 3, 1-6) Possivelmente a predileção das Escrituras pelos pastores tem raízes na experiência do povo peregrino no deserto. O deserto foi o lugar da Aliança; momento de sua história na qual Israel era um povo nômade, portanto, vivendo de rebanhos e peregrinando rumo à Terra da promessa. Os pastores, por sua vez, vivem um certo nomadismo. Caminham buscando novas pastagens para o rebanho, numa certa solidão à margem da civilização. Assim foi Israel no deserto, vivendo a solidão que a fazia ter IHWH como único Deus. Mais tarde, quando sedentário, fará aliança com outros povos e incorrerá na idolatria.

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Hoje, na região de Belém, pastores passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. “Um Anjo do

Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor lhes envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O Anjo então lhes disse; “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também de todo o povo: hoje na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recémnascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. De repente, juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado”! (Lc 2,1-14) Queridos irmãos, nesta noite os pastores também contemplam a sarça ardente, mas de uma forma diversa. O fogo que não se consome está em seus olhos. Porque está em seus olhos, são capazes de o contemplar na 4


manjedoura, Deus feito carne, na fragilidade de um recémnascido. Ali, no presépio, com certeza, nossos pastores tiram as sandálias, pois o lugar onde pisam é santo. Hoje, a gruta de Belém é o novo Horeb. Novo Horeb onde as taboas da Lei se tornam carne de nossa carne. Onde a Antiga Aliança se torna a Nova e Definitiva. Onde o povo eleito, os filhos de Abraão, não será mais do sangue e da circuncisão da carne, mas da fé em Cristo. Nele, nós nos tornamos filhos da Nova Aliança e herdeiros da vida eterna. Hoje, pela liturgia que atualiza o mistério que celebramos, os pastores somos nós, com os olhos purificados pela água do batismo e iluminados pelo fogo do Espírito Santo, podendo contemplar o Menino na manjedoura, qual Sarça Ardente.

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Hoje, somos convidados a tirar nossas sandálias, porque onde estamos, aqui e agora, a eternidade irrompe no tempo pela solene liturgia. Hoje, o “Eu sou o Deus de teu pai Abraão, o Deus

de Isaac e o Deus de Jacó” assumiu a nossa humanidade para nos libertar da escravidão do pecado. Hoje, irmãos, o mistério celebrado – O Verbo se fez carne—é para ser contemplado no silêncio da razão e do coração. Tudo o que aprendemos da doutrina da Igreja, fundamental e importante, é para termos uma fé pura, reta e esclarecida. Mas, nossa compreensão é limitada, atinge apenas até onde a razão alcança. Tudo mais referente ao mistério do Natal do Salvador, nós o experimentamos extasiados no silêncio, como Moisés diante da Sarça Ardente, como os pastores diante da manjedoura. 6


Assim como Moisés, após ter contemplado a Sarça Ardente, é enviado a uma missão, assim também nós, que contemplamos a Sarça Ardente na manjedoura de Belém, também somos enviados à mesma missão: manifestar a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens que se encontram prisioneiros de seus faraós, inertes nas sombras da morte e do pecado. A Encarnação do Verbo nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade. Libertos da terra da escravidão do pecado, livres em Cristo, nós somos convidados a assumir o poeta que está dentro de nós. E, só o poeta é contemplativo, pois tudo o que vê, escuta e toca vai para além do visível, audível e sensorial. Atinge uma realidade onde só a fé abraça o invisível, orquestra ao inaudível, e oscula a face do inefável existir. 7


Neste divino mistério, a poesia que está latente no coração de cada um de nós, tem palavras, pensamentos, e imagens, que abrem, mas não fecham, que se lançam para o infinito, porque o mistério do amor de Deus por nós, em nós e conosco, o Emanuel, é verdadeiramente insondável. Nesta noite, deixemo-nos levar pela brisa suave do mistério da Encarnação do Verbo, nascido em Belém, que nos faz companheiros da estrelas; testemunhas privilegiadas da onipotência ação da Santíssima Trindade na história da salvação! Assim seja.

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