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O GANCHO BOLETIM INFORMATIVO DA COMISSÃO ARQUIDIOCESANA DE PASTORAL OPERÁRIA CAMPINAS/SP • ANO XXXVIII • Nº 278 • Novembro / 2015

Edição Comemorativa da

PASTORAL OPERÁRIA DA ARQUIDIOCESE DE CAMPINAS-SP

40 ANOS DE VIDA E DE LUTA “Memória, Missão, Compromisso e Utopia”


PASTORAL OPERÁRIA DA ARQUIDIOCESE DE CAMPINAS 40 ANOS DE VIDA E DE LUTA “Memória, Missão, Compromisso e Utopia” PASTORAL OPERÁRIA: 40 ANOS A SERVIÇO DA CLASSE TRABALHADORA A partir de 1959, Campinas passa por um processo de industrialização que se intensifica nas décadas de 60,70 e 80, especialmente com as indústrias de autopeças. Nas décadas de 60 e 70, a população de Campinas e região começa a crescer de forma bastante rápida, tornando-se um polo de atração de mão de obra. Para poder fixar a mão de obra na região, houve, por parte do Governo, a criação das Vilas Planejadas do BNH, formando um grande cinturão habitacional na periferia de Campinas. Neste período, sobretudo a partir de 1972 a 1975, com a coordenação de pastoral a cargo do Pe. Benedito Pessoto, a Igreja de Campinas, com a experiência dos círculos operários (1930 – 1950), da Ação Católica Operária e do Movimento do Mundo Melhor, preocupava-se com a situação dos trabalhadores e trabalhadoras que chegavam de vários lugares do Brasil, especialmente do interior do Estado de São Paulo, mas também do Norte do Paraná, por causa das geadas nos cafezais, e de Minas, por causa das enchentes. Na verdade, estávamos assistindo o processo do êxodo rural, motivado pela industrialização presente nesta região. Neste contexto histórico-social é que surge a criação da Pastoral Operária, em 1975. Entre 1964 e 1978, estávamos em plena ditadura militar, com muita repressão contra as organizações dos trabalhadores, pois o Golpe de Estado tornou-se o modelo político e a retaguarda ideológica para desmobilizar a classe trabalhadora. Com a euforia do “Milagre Econômico” (1964-1973) e seu estímulo ao nacionalismo e patriotismo, toda organização dos trabalhadores era vista como perigo para a segurança nacional. Por outro lado, estávamos também com a influência do Concílio Vaticano II (1962-1965) e, principalmente, com a sua recepção feita na Conferência de Medellín (1968), que sinalizava na direção das lutas em favor da libertação em todas as suas dimensões. A Pastoral Operária se baseia nesta nova orientação da Igreja. Bebeu da inspiração do Papa João XXIII, em sua encíclica Pacem in Terris (Paz na Terra) de 1963, que indica a presença dos trabalhadores no cenário mundial como um dos principais fenômenos, verRevista Comemorativa dos 40 anos da Pastoral Operária de Campinas, SP

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dadeiro sinal dos tempos: “Primeiro (fenômeno), a gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras. Partindo da reivindicação de seus direitos, especialmente de natureza econômico-social, avançaram em seguida os trabalhadores às reivindicações políticas e, finalmente, se empenham na conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de objetos, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas em todos os setores da vida social, tanto no econômico-social como no da política e da cultura” (Pacem in Terris, 40). Na mesma perspectiva, assume o Método VER-JULGAR-AGIR, próprio da Ação Católica, dinamizando-o no sentido de uma prática crítica e transformadora, como já estava delineado na Mater et Magistra (Mãe e Mestra, 1961) de João XXIII: “Para levar a realizações concretas os princípios e as diretrizes sociais, passa-se ordinariamente por três fases: estudo da situação; apreciação da mesma à luz desses princípios e diretrizes; exame e determinação do que se pode e deve fazer para aplicar os princípios e as diretrizes à prática, segundo o modo e no grau que a situação permite ou reclama. São os três momentos que habitualmente se exprimem com as palavras seguintes: “ver, julgar e agir”. Convém, hoje mais que nunca, convidar com frequência os jovens a refletir sobre estes três momentos e a realizá-los praticamente, na medida do possível. Deste modo, os conhecimentos adquiridos e assimilados não ficarão, neles, em estado de ideias abstratas, mas torná-los-ão capazes de traduzir na prática os princípios e as diretrizes sociais” (Mater et Magistra, 235-236). Este método tem sido assumido, com altos e baixos, pela Igreja Latino-americana e caribenha a partir de Medellín, passando por Puebla (1979), por Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), como está presente em muitos dos Documentos da CNBB. Com esta metodologia e incentivada pelo espaço eclesial com um pouco mais de liberdade, pois como afirma Frei Betto, a Igreja foi a única instituição em que a ditadura não conseguiu colocar um general, a Pastoral Operária se coloca a serviço da organização da classe trabalhadora, preparando quadros articuladamente com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que se iniciavam, em Campinas, a partir de 1968, nas Vilas Planejadas do Banco Nacional de Habitação (BNH), como também em alguns bairros periféricos com a Pastoral da Periferia. Com a ditadura sempre presente, a maioria dos trabalhadores, muitos vindos do campo por causa do êxodo rural, tinha medo de participar de qualquer organização e não percebia a ligação entre sua fé cristã e a luta pelos seus direitos. A Pastoral Operária procurou fazer este papel de des-

pertar a consciência crítica dos trabalhadores e trabalhadoras que viviam nas Vilas Planejadas e bairros periféricos. Este trabalho se deu com vários participantes da Pastoral Operária fazendo parte das Oposições Sindicais, pois os sindicatos dos trabalhadores estavam controlados pela ditadura. Fazendo parte das Oposições Sindicais, os militantes da Pastoral Operária entraram para enfrentar as eleições sindicais, buscando conquistar as direções dos sindicatos, para torna-los instrumento de luta da classe trabalhadora. Este processo foi muito longo e difícil e com muitos conflitos, perseguições, demissões sofridas por muitos membros da Pastoral Operária. Houve, neste processo, a aproximação da Pastoral Operária com outras correntes que também lutavam pele libertação da classe trabalhadora. Foi um tempo de aprendizagem de como atuar politicamente. Depois de muitas batalhas, os trabalhadores e trabalhadoras começaram a alcançar as primeiras vitórias nas eleições sindicais derrubando as direções pelegas. Vitórias dos metalúrgicos, dos condutores, da construção civil, das empregadas domésticas, dos professores/as, dos químicos. Momento de ascensão da classe trabalhadora na região de Campinas, como também em várias outras partes do Estado de São Paulo. Neste mesmo período, com o apoio dos sindicatos já conquistados, o Movimento dos Sem Terra também marca presença na região de Sumaré, fazendo várias ocupações de terras na região de Campinas, como também no interior do Estado de São Paulo. Com a entrada do neoliberalismo na América Latina e, de modo especial no Brasil, após a vitória eleitoral de Fernando Collor de Melo, a Pastoral Operária se desdobrou no combate ao desemprego que assolou a classe trabalhadora na década de 90. Se a década de 80 foi de concentração de forças, a década de 90 além de perdida, foi a década vendida. O processo de privatização corroeu o poder do Estado Brasileiro, com a venda das empresas estatais em nome do progresso. Com a hegemonia do capital neoliberal internacional, com o desemprego em massa durante praticamente toda a década de 90, o trabalho de base teve uma baixa. A Pastoral Operária, embora tenha continuado seu trabalho de conscientização e politização, teve que se voltar para o trabalho com os desempregados/as. Trabalho árduo na Praça do Palácio de Justiça por vários anos seguidos. Quem não se lembra da presença marcante da Ir. Genô junto dos desempregados e desempregadas da praça? Com a eleição do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, o Lula, em 2001, com sua posse em 2002, a classe trabalhadora se sentiu contemplada nesta longa batalha política. No primeiro mandato com muitas concessões ao capital, mas com um segundo mandato que realizou algumas conquistas

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para os trabalhadores e trabalhadoras, como também no primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff, embora não houve a realização das grandes reformas que o Brasil tanto espera: Reforma Agrária, Reforma Tributária, Reforma Urbana, Reforma Política, Reforma do Judiciário, Democratização da Mídia. Atualmente, frente às crises econômica, social, ecológica, a Pastoral Operária ganha fôlego no interior da Igreja com a presença do Papa Francisco. Em seus discursos, mas especialmente em seus gestos e atitudes, os trabalhadores e trabalhadoras podem enxergar a confirmação deste longo trabalho durante estes 40 anos da Pastoral Operária em Campinas e região. Em seu discurso no II Encontro Mundial com os Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o Papa Francisco resume o ideário da Pastoral Operária em sua colaboração com a classe trabalhadora: “O futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Estou convosco. E cada um, repitamos a nós mesmos do fundo do coração: nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem-terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice”. Benedito Ferraro Assessor da PO (Pastoral Operária) Campinas, SP

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PASTORAL NECESSÁRIA O início dos anos 70 foi marcado por momentos muito tensos e de muitos apelos para os/as agentes de pastorais: o regime militar no seu ápice; a indústria metalúrgica crescendo e incorporando as massas de trabalhadores/as chegando de diversos cantos do país e sendo acolhidos, com sua cultura e religiosidade, nas Cebs nascentes em Vilas Planejadas e bairros periféricos sem urbanização. É neste contexto que surgem as reflexões sobre as condições de vida e de trabalho dos operários/as “no pé da máquina”. A organização da Pastoral Operária se impunha na estrutura orgânica da diocese, substituindo, ao longo dos anos, a Pastoral do Mundo do Trabalho, termo por demais genérico. Em 1975, a PO é reconhecida oficialmente na Arquidiocese. Eu tive a felicidade de estar junto, até hoje, com os diversos grupos que caminharam nestes quarenta anos, ora contribuindo diretamente nas atividades, ora apoiando as iniciativas. A PO me deu bases para o entendimento da constituição da sociedade e identificar-me como trabalhadora, mesmo fora da fábrica. Incentivou-me a continuar estudando as formas da organização da produção e consequente exploração no atual sistema capitalista. Eu abri, literalmente, minha carteira de trabalho em 78/79, junto a muitos grupos de jovens “meninos e meninas” estudando a CLT, numa iniciativa de formação da PO nos Centros Comunitários da periferia. Acompanhamos as greves de 1979-80, o que nos deu bases para estudar o sindicalismo. De um lado, a inserção dos militantes cristãos nos grupos de fábrica e o entendimento do significado da robotização na produção que levou à eliminação de muitos postos de trabalho e ao desemprego. Contribuiu, por outro lado, para entender os mecanismos da exploração da força de trabalho e os embates que ceifaram a vida do jovem companheiro Santos Dias e a perseguição empresarial de muitos militantes. Estivemos juntos ao grupo de companheiros/as, na grande maioria jovens, que construiu as oposições sindicais e conquistou a direção dos grandes sindicatos: metalúrgicos, construção civil e outros. A criação da CUT foi uma grande alavanca no coletivo. Nasceu, neste momento, o grupo de mulheres das CEBs (Grupo de Mulheres da Periferia) mães, irmãs, amigas dos trabalhadores/as que ampliava os debates nos bairros e dava sustentação na frente ou na retaguarda das lutas. Na PO, ao longo dos anos, estivemos atentos a todas as iniciativas dos trabalhadores/as. Acompanhamos, na região, as lutas por terra para Revista Comemorativa dos 40 anos da Pastoral Operária de Campinas, SP

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cultivar (MST), a organização das trabalhadoras domésticas, a luta dos desempregados “as segundas feiras na pedra” que originou o desenvolvimento de cooperativas. Incorporou-se a luta dos servidores públicos em suas organizações. Nos anos 90, as novas mudanças na forma de produzir bens de consumo (toyotismo) exigiu novas análises para o comportamento dos trabalhadores/as na produção. A formação nos grupos de base, com todas as dificuldades que conhecemos, pedra angular da espiritualidade operária foi sempre o objetivo primeiro da PO, sendo apoiada pela PO Nacional. A criação do boletim mensal do GANCHO, desde outubro de 1977, é uma ferramenta que permite uma formação bíblica colada à realidade vivida, sendo, sem dúvida, um marco de informação e formação para o trabalho de base. A estrutura organizacional desde o início com coordenação escolhida pelo grupo e, às vezes, remunerada, a formação continuada com a contribuição dos assessores leigos e sacerdotais e o apoio da hierarquia eclesial foram fundamentais para o fortalecimento da PO na Arquidiocese como pastoral eclesial, iluminada pelo exemplo de Jesus de Nazaré, com os pés na realidade socioeconômica de cada momento vivido. Estes quarenta anos pintaram em branco muitos cabelos. Novos desafios nascem todos os dias, mas também novas vitórias não tão visíveis como antigamente, mas reais. Juntos com as novas juventudes a despertar construiremos novos caminhos, apoiados nas palavras do nosso Papa Francisco: “Terra, Trabalho e Casa”. Tenho muita gratidão e carinho para as companheiros e companheiras com quem caminhei. Peço as benções de Deus para todos/as nós. Lise Roy —•—

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DEPOIMENTOS “A Pastoral Operária surge para alimentar a consciência comunitária e, principalmente, a consciência de classe no meio do povo trabalhador” (Subsídio: PO Como e Para Que, 1987) A Pastoral Operária da Arquidiocese de Campinas comemora 40 anos de muita luta e resistência na defesa dos direitos de trabalhadores e trabalhadoras, comemoração que nos permite celebrar nossa caminhada de muitas lutas e conquistas na solidariedade tão presente entre companheiros e companheiras, e refletir sobre os desafios de dar novo significado a utopia que acalentamos ao longo destes anos para construção de outro mundo possível a partir do mundo do trabalho nesta conjuntura tão adversa. É momento de olhar nossa história recordando toda a construção que fomos forjando nas diferentes frentes de lutas que participamos em defesa dos valores que coletivamente aprendemos a cultivar, a partir da leitura do evangelho vivo que nos alimenta e impulsiona ao compromisso de classe, com homens e mulheres que lutam e constroem alternativas de superação das desigualdades tão presentes no mundo de trabalho, que é a chave de análise e da transformação que buscamos. Ao longo dos anos construímos uma teia de solidariedade em diferentes momentos que sempre pautaram a vida da Pastoral Operária, a reflexão coletiva, a luta construída a partir das demandas da classe trabalhadora, a formação como instrumento pedagógico para a organização da classe, o convívio fraterno pautado no respeito, enfim a elaboração de novas práticas libertadoras fruto da síntese destes diferentes momentos alimentam a nossa caminhada, com o compromisso sempre presente na luta solidária com os movimentos de trabalhadores e trabalhadoras. Foi assim que aprendemos nos espaços de debate e na busca de novas sínteses cultivar práticas e lutas que incorporaram a luta das mulheres, a luta pela construção da igualdade racial, o respeito a livre orientação sexual, o combate a intolerância religiosa, que tem condenado à morte homens e mulheres fruto do conservadorismo que permeia nossa sociedade que deve ser combatido com novos valores e práticas mais inclusivas e respeitosas. O caminho para construção da nova sociedade é longo, aqui e agora se impõe a necessidade de organizar a defesa da democracia e dos direitos da classe trabalhadora, lutando por mudanças nos rumos da economia, lutando contra o Projeto de Lei 4330 que regulamenta a terceirização, e as Medidas Provisórias 664 e 665 que representam uma ameaça aos direitos de trabalhadores e trabalhadoras, impulsionando a luta pela redução da Revista Comemorativa dos 40 anos da Pastoral Operária de Campinas, SP

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jornada de trabalho sem redução de salário e contra o desemprego que vem aumentando significativamente, por fim defender arduamente nas ruas, nos campos e nas redes a realização das reformas estruturais (agrária, comunicação, politica, urbana e tributária). Só assim teremos a possibilidade de alterar o funcionamento do estado brasileiro, que foi corrompido por práticas seculares em que o público financia o privado e propor maior investimento em políticas sociais, é urgente pensar tais políticas na perspectiva de inclusão da nossa juventude que em sua imensa maioria precisam conciliar trabalho e estudos e estão mais propensas aos serviços precários, aos baixos salários e a alta rotatividade, políticas que possam permitir o fim do extermínio da juventude negra, historicamente privada de direitos nas periferias de nossas cidades. É também desafiador pensar o mundo do trabalho a partir da busca de autonomia para as mulheres alterando a pirâmide social, a manutenção da divisão sexual do trabalho que sustenta esta pirâmide impõe uma carga brutal de trabalho ás mulheres, a dupla ou a tripla jornada, impõe diferenças salariais para funções iguais e impede a ascensão nos postos de trabalho, assim as mulheres trabalhadoras em especial as mulheres negras estão mais vulneráveis as diversas formas de violência, ao assédio moral e sexual e a violência doméstica que mata uma mulher a cada noventa minutos. (Dados Ipea/2015) Os desafios são muitos e os compromissos também, celebrar os 40 nos da Pastoral Operária é renovar os compromissos de classe assumidos e ao longo destes anos com homens e mulheres que buscam mudar a realidade concreta que vivem a partir de práticas coletivas que combatam a injustiça e a desigualdade e possibilite chegar á nova terra que corre leite e mel, onde todos estarão lado a lado irmanados pelos mesmos ideais de justiça, solidariedade, paz e liberdade! “Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigos/as, não é verdade? ” (ROSA Luxemburgo)

Lourdinha —•—

“Para nós a Pastoral Operaria foi uma lição de vida, fé e amor ao próximo. No crescimento político, no mundo do trabalho, nos momentos marcantes, na partilha da palavra, no encontro com amigos, isso é Pastoral Operaria para nós.” Idair Luz e Sebastião Luz —•—

1973 na minha região nascia a comunidade de base organizada pelas Cebs (novo modo de ser igreja) era tudo diferente de tudo aquilo que eu conhecia, fiquei muito surpresa pois vinha de uma igreja tradicional e conservadora. Em 1975 nascia a PO. Fui convidada pelo Terêncio e Zeferino, me sentia importante porque acreditava que Pastoral era um grupo que rezava e jogava água benta nas pessoas e era a aí que estava a grande surpresa, fui entendendo que para ser Pastoral é preciso Pastorar! Não bastava apenas participar das reuniões, era preciso ter compromisso com a classe trabalhadora, pois o critério era participar e formar grupo no local de trabalho e na região onde a gente morava para discutir e adquirir consciência dos deveres e direitos dentro do mundo do trabalho. E lutar em conjunto. Assim a PO foi criando grandes lideranças, como nos sindicatos, partidos políticos, organização das mulheres na periferia e outros movimentos, como na Saúde educação, moradia e outros mais, A PO para mim é a presença de uma igreja viva, solidária e sempre presente na vida dos militantes e nos acontecimentos sociais econômicos, políticos e voltada para a realidade do mundo do trabalho. A pastoral operária leva o povo trabalhador a conhecer o semblante do Deus Criador, que alguém havia escondido e assim a igreja de Campinas também conhecendo o Pai criador, trabalhador e que se revela tanto feminino como masculino e que se faz humano no ventre de uma mulher pobre simples e trabalhadora ao lado do carpinteiro: assim fomos conhecendo uma Trindade plena. Divina e plena humana e a grande mãe dessa nova geração foram (Cebs e PO) na igreja de Campinas. Eu resumo dizendo: quefazer opção pelos pobres como fez e faz Jesus Cisto é conhecer e aceitar seu projeto de vida é por isso digo aí está o colírio da Diocese, mas é preciso querer usar. E viva a PO! Izabel Delgado Comunidade São Lucas. Paróquia São Judas Tadeu.

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Com apenas 15 anos de idade comecei a trabalhar em uma indústria metalúrgica no bairro do Ipiranga em São Paulo. Desde o início me sindicalizei. Até então não conhecia a Pastoral Operária. No ano seguinte fui convidado a participar do Movimento da Legião de Maria na Paróquia Nossa Senhora Aparecida no bairro da Vila Ema, Zona Leste da cidade. Foi a partir deste momento que comecei minha militância na Pastoral Operária. Ao invés de fazermos visitas aos hospitais, alguns legionários da paróquia começaram a buscar outro caminho. Neste momento estava acontecendo as eleições no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo. Tomamos conhecimento da chapa encabeçada por militantes da Igreja Católica, entre eles Santo Dias da Silva e Waldemar Rossi. Foi quando com 17 anos de idade participei da vitória junto ao sindicato e também da minha primeira greve como metalúrgico, greve esta que ceifou a vida do companheiro Santo. Com o término da greve começara as perseguições dentro da empresa, pois eu havia participado dos piquetes, e também sempre panfletava o jornal do sindicato. No ano seguinte, veio o “FACÃO”, e ele me pegou. A grande crise de desemprego aliada ao meu histórico militante dificultava meu ingresso em outra empresa. Mudei então para Campinas em busca de algo novo. Em Campinas comecei minha militância na Pastoral Operária a convite do Padre Ferraro, quando era aluno seu no curso de Ciências Religiosas. João Mário Pastorelli —•— Entendo que a Pastoral Operária nasceu junto coma a nova etapa da Classe Operária no Brasil, a etapa da REORGANIZAÇÃO, após a dura repressão da Ditadura sobre os movimentos organizados, e na fase de uma nova expansão da Indústria Automobilística, e com isso a metalurgia, a Indústria Química, e outras, e da Industria da Construção Civil, sobretudo no Eixo Sudeste, e daí para os Estados do Sul. Foi um tempo de aprendizado, muitos sonhos e esperanças. Em tudo que fazíamos, sabíamos que estávamos golpeando a Ditadura, e ela já não tinha tanta força para golpear ao mesmo tempo tanta gente engajada, mas o nosso foco era mesmo a busca de uma Nova Sociedade, fruto de consciência e organização. Respondi perante a Arquidiocese de Campinas pela Pastoral Operária entre os anos 83 a 87, os meus primeiros 4 anos de padre. Com todos os conflitos e contradições, podíamos contar com uma Igreja engajada, sobre12

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tudo nas comunidades de Vilas, Bairros de periferia e favelas; mas também do Pastor, Dom Gilberto. Quantas vezes ele foi procurado pelos representantes das maiores empresas da Região, pedindo que nos repreendesse, pois aquilo não era serviço de Igreja e sim insuflação à luta de classes, etecetera e tal. Mas ele soube ser pastor e manter a unidade de suas ovelhas. Os anais da História, registram neste período as maiores conquistas das diretorias dos Sindicatos de Oposição à “pelegada” filhos da Ditadura; tive a alegria de participar e dar a minha contribuição, que não atribuo-me nenhum mérito pessoal, mas somente o de ter dado continuidade a uma prática militante iniciada por outros e continuada até hoje por tantos companheiros e companheiras valorosos. A luta da P.O. como em todas as Pastorais e movimentos conhece momentos de altos e baixas, mas trata-se de uma caminhada permanente da Classe Operária, pois a Luta de Classes é permanente, sendo parte Estrutural na Sociedade Capitalista. Quem dizer, ou pensar o contrário, apenas tapa o Sol com a peneira. Como é hoje, foi também aquele, um tempo de muitas lutas. Grandes greves, eleições Sindicais e eleições de toda ordem onde marcávamos presença; muitas madrugadas de panfletagens e piquetes... A polícia, como sempre, atuava a favor das empresas e das pelegadas. Lembro-me de acompanhar, uma tarde, para dar força a um operário da Construção Civil, levado à Delegacia, só por que ele estava no movimento. Novato, tremia para responder ao Escrivão da Polícia, que por sua vez era um animal sádico. Segurei forte no braço desse companheiro e lhe disse: Firmeza, ele é só mais um funcionário mal pago! E assim, éramos militantes, pau pra toda obra! Pe. Antonio Isao Yamamoto —•—

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Desses 40 anos de vida da PO, acredito que vivi intensamente uns 10 anos. Primeiramente contribuindo com os grupos de desempregados da Região do Campo Grande em meados dos anos 80 que dali muitos se organizaram no MST e hoje estão assentados. Foi o despertar para a mística em que fé e vida são intrínsecas, uma experiência profunda da vida comunitária numa ótica de construção de uma sociedade justa e fraterna. Aprendi com a Pastoral Operária o que significa estar a serviço dos trabalhadores/as, portando o servir é estar inserido na história como Jesus de Nazaré, companheiro de luta contra tudo que tira a vida. Com essa visão decidi me dedicar como liberada da Pastoral Operária por 02 anos a esse serviço. Nesse período privilegiado dois pontos ficaram marcantes, os Grupos de Base e a Formação. Os Grupos de Base eram espaços privilegiados de compartilhar as experiências, avaliar, mudar, reorganizar as ações, deixar ser questionado e questionar mutuamente e assim ir moldando novas práticas no espaço de atuação seja no trabalho, no sindicato, no partido político e na própria comunidade eclesial. Por outro lado, a formação era a base para discernir onde chegar, então era prioridade os cursos, seminários, estudos, leituras, sejam nos grupos de base como na coordenação. Como disse inicialmente a mística cultivada na Pastoral Operária é a mola propulsora de todas as ações e faz de nós cristãos e cristãs pessoas coerentes ao Evangelho, conforme Lucas nos mostra no Sermão da Montanha Bem-Aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Fátima Barbosa —•—

PASTORAL OPERÁRIA: 40 ANOS A SERVIÇO DA CLASSE OPERÁRIA A Pastoral Operária (PO Campinas) faz parte da minha militância sindical e política. Quando da minha chegada em Campinas no ano de 1973 com minha família tinha apenas 16 anos fui trabalhar no comércio em uma loja de bicicleta e peças. O que passava pela minha cabeça é que agora na cidade grande e trabalhando de empregado logo ficaríamos ricos, sonho de quase todos aqueles que vêm para cidade. Sempre participei da vida da igreja mesmo quando ainda morava na roça. Chegando aqui em Campinas logo procurei uma comunidade, no início Santa Margarida Alaquonte no Jardim do Vovô, depois fomos morar no Jd. Campos Elíseos onde ajudei a formar a Comunidade Cristã Maria Mãe do Salvador participando do Grupo de Jovens. Foi quando surgiu em 1975 dois membros da PO nos convidando para um curso de formação sobre Leis Trabalhistas (CLT), estes se chamam Terêncio e Lise. A partir desta formação tive outras iniciando ai minha militância sindical e depois política. A PO nestes 40 anos de luta em defesa dos trabalhadores (as) na década de 80 ajudou a ganharmos alguns sindicatos importantes como o dos Metalúrgicos, da Construção Civil em 86, dos Condutores (motoristas) e sempre incentivando as lutas como a greve da Construção Civil em 1985. Fui coordenador e liberado da PO da Arquidiocesana durante 3 anos no período de 86 a 88 ajudando a criação de grupos de base e na formação de militantes. Várias lideranças sindicais de Campinas tiveram formação através de cursos realizados pela PO com atuação nas Comunidades Eclesiais de Base. Por isso sempre digo que a minha militância sindical foi devido ao incentivo e motivação através da PO Campina e o Movimento Sindical reconhece e agradece esta Pastoral que foi, é e sempre será de muita importância para os trabalhadores(as) não só de Campinas como do Brasil. Parabéns PO pelos 40 anos do Reino de Deus no seio dos Trabalhadores(as) aqui e agora. Francisco Ap. da Silva (Chico), atualmente dirigente do Sindicato da Construção Civil de Campinas e Região. Chico Sindicato da Construção civil

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VINDE, VEDE E ANUNCIAI! Ao comemorarmos os 40 anos da Pastoral Operária de Campinas, venho por meio desse informe partilhar com os companheiros e companheiras minha pequena experiência de lutas e conquistas. Quando cheguei a Campinas em 2004 foi convidado pelo companheiro Zé Felipe a participar da Pastoral Operária, e eu pensei comigo, o que seria essa tal de Pastoral Operária? Que até então, seria para mim algo desconhecido, assim, aceitei o convite do companheiro e fui ver do que se tratava. Chegando ao Centro de Pastoral Pio XII me deparei com os companheiros e companheiras que preparavam a celebração do 1º de maio, então, pude vivenciar a Mística do Evangelho engajada em uma realidade de luta. A partir desse momento percebi que me encaixava nesse grupo que tinha os mesmos ideais de Jesus de Nazaré o carpinteiro trabalhador. E no decorrer desses anos fui aprendendo com a Pastoral Operária, que o trabalho é um direito humano e um dever fundamental de justiça social e solidariedade, mas também é um elemento chave para a estabilidade, convivência e para a segurança da própria sociedade. Entretanto, o próprio ser humano é o autor, o centro e o fim de toda a vida econômica e social. O ponto decisivo da questão social é que os bens criados por Deus para todos, de fato cheguem a todos, conforme a justiça e com a ajuda da caridade. O valor primordial do trabalho depende do próprio ser humano, que é seu autor e destinatário. Através de seu trabalho, o ser humano participa da obra da criação e é tido como um continuador da criação pelas qualidades com as quais foi dotado. O sistema capitalista dominante impõe pesados sacrifícios às vidas humanas e ao planeta. É contra essa corrida ambiciosa pelo lucro que ameaça o ser humano como imagem de Deus que a Pastoral Operária denuncia as injustiças e anuncia o Reino de Deus aqui presente entre nós. Portanto, os trabalhadores e trabalhadoras são profetas da mudança. Deve denunciar as injustiças presente no mundo do trabalho e anunciar a nova sociedade, baseada na democracia igualitária de liberdade e da dignidade humana. Em síntese, uma sociedade na qual o trabalho represente libertação e vida, não exploração e morte. A Pastoral Operária contempla a necessidade de contribuir na construção da sociedade justa e fraterna, em vista de uma nova cultura do trabalho como fonte de realização da pessoa humana em todas as suas dimensões na vivência do reino de Deus. Assim sendo, agradeço imensamente o companheiro Zé Felipe pelo convite e os demais companheiros e companheiras pela troca de experiên16

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cia. E parabéns a todos nós que somos Pastoral Operária por esses 40 anos fazendo história no mundo do trabalho. Por isso, convido a todos e a todas “vinde vede e anunciai”. Vagner —•—

Há 40 anos nascia a Pastoral Operária em Campinas com o Lema: “evangelizar os homens e as mulheres que vivem do trabalho na cidade, com renovado ardor missionário, respeitando sua cultura, contribuindo para que compreendam a realidade e assumam a cidadania, de maneira organizada e solidária.” Certamente esse Lema ajudou a própria Igreja alargar seu horizonte e perceber que lá onde se dá o mais duro embate entre capital e trabalho, Padres e Bispos não chegam, mas o trabalhador (a) cristão pode se fazer presente nesse ambiente onde a dignidade humana tem pouco valor. A Pastoral Operária enquanto serviço da Igreja, ajudou os trabalhadores(as) redescobrir sua identidade cristã e desenvolver a consciência crítica e por conseguinte lutar por dignidade humana para todos (as). Ao longo dessas quatro décadas de caminhada, muitos companheiros(as) tombaram na luta. Dentre eles (as) faz se necessário ressaltar a honrosa figura de Pe Milton Santana ao nosso lado. Ir Santa Genô, o exemplar trabalhador cristão João Calixto. Esses valorosos irmãos e irmãs de fé e caminhada não morreram por completo, pois em espírito, estão ao nosso lado ,encorajando nos à enfrentar a “Besta Fera” chamada Neo liberalismo, que mente, mata e lambe o suor dos trabalhadores(as). Apesar de tudo, temos muito o que comemorar; pois o “Melhor Vinho está se servindo agora” (Jo2,9-10) e chama se Papa Chico. Enquanto isso o Santo Espírito sopra as brasa da P.O., que continua fumegando e incomodando os modernos fariseus. Para eles é fumaça. Para nós é o aroma dos Cedros e serragem da oficina de José que encurtou o espaço geográfico e a linha do tempo e chegou até nós. Chico Toledo Grupo de base da região Boa Vista.

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O Brasil viveu, nestes últimos 60 anos, várias fases e alterações no seu sistema político e econômico. Quero aqui, de certa forma, resumidamente, tentar colocar algumas destas etapas políticas e também econômicas, porque para mim elas são íntimas e necessariamente inseparáveis. Porque é na questão econômica de um país que se pode através de decisões políticas fazer alterações nas questões sociais. É verdade também, que os movimentos sociais se mobilizaram durante todo este período resultando em mudanças reais. Na década de 1950, inicia-se no governo federal de Juscelino Kubitschek o período em que o Estado criaria todas as condições estruturais para que, posteriormente, o capital internacional viesse a se apoderar dessa infraestrutura extraordinária (indústrias de aço, elétrica, estradas e ferrovias, etc.), que na década de 1990 entra no processo de privatizações, o que continua até hoje. O capital se desenvolveu e o Brasil virou este gigante que é hoje, com uma classe trabalhadora geradora e multiplicadora de riquezas, que continua indo para as mãos de poucos, crescendo as desigualdades sociais. No Brasil se produz de tudo. Desde os produtos mais simples e com menos valor agregado, até os bens mais sofisticados com altíssimos preços. O país cresceu economicamente e o capital se desenvolveu, porém, à custa de muita exploração, tortura, sofrimento e morte da nossa classe. O capital se apropriou de tudo, mas deixou as dívidas para a classe trabalhadora pagar. Todo esse processo de acumulação do capital se deu, mas nunca sem reação da classe trabalhadora na cidade ou no campo. Estas reações aconteciam, mas foram sempre reprimidas pelo aparato do estado a serviço do capital. Foram várias lutas e organizações, algumas explícitas, mas a maioria delas clandestinas, principalmente após o Golpe Militar de 1964. O arrocho salarial, desemprego e o custo de vida em alta levaram os trabalhadores a intensificar o seu movimento contra tudo isso. Lembramos de duas situações contrárias aos interesses da classe trabalhadora naquele momento: o governo era do golpe e a maioria dos principais sindicatos era pelega, havia interventores, direções de confiança dos patrões e dos governos. Esse movimento se intensificou e em meados da década de 1970 para cá e cada vez mais, aumentava sua importância, já que eram movimentos autônomos de oposições contra os pelegos, a carestia e o regime militar.

As pessoas se organizavam nos bairros e nas comunidades da igreja, a maioria vinda das chamadas CEBs (Comunidade Eclesial de Base), que naquela época tinha assumido suas ações como igreja na qual um mundo novo, solidário e de justiça social não poderia ficar para depois, e nem distante dos trabalhadores. Com esse compromisso então, tinha um olhar com especificidades de cada realidade, de cada setor, dos trabalhadores, da juventude, mas sempre com uma ação no sentido de que todos necessitavam de algo concreto para manutenção e geração da vida. E tudo isso significava emprego, salário, moradia, saúde, que dependiam de uma política e de uma organização que pudesse ajudar os trabalhadores, os operários. E então, com essa necessidade de organizar esses trabalhadores nasce a Pastoral Operária dentro das comunidades, e, que agora, está completando seus 40 anos. São mais de quatro décadas em várias cidades no Brasil e em algumas categorias de trabalhadores, e a P.O. teve um papel de destaque na derrubada dos pelegos de dentro dos sindicatos. Algumas cidades com grande referência como foi o caso de São Paulo e Campinas vivíamos um período de muita expectativa e muitas esperanças, e as organizações cresciam apesar de todo o tipo de repressão desse Estado, que nunca será diferente porque foi criado para dar a manutenção que o capital precisa para sua exploração e ampliação. Ajudamos a construir organizações que hoje, tornaram-se o seu contrário, transformando-se em instrumento de parceria com patrões e governos, e, como prova de sua ação contraditória submete aos trabalhadores a Medidas Provisórias que retiram direitos, terceirizações, layoff, corte de aposentadoria e o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que na verdade é o programa de proteção ao empresariado, pois reduz salários de trabalhadores. Mas a nossa fé e esperança se renovam. São 40 anos de muitas lutas e experiências, e a P.O. em Campinas trouxe uma contribuição muito grande para os trabalhadores de algumas categorias, por exemplo, nós trabalhadores metalúrgicos, na construção civil, etc. Mas a luta continua! A classe trabalhadora não vai desistir e os erros que cometemos, principalmente quando na estrutura, temos mais condições de não mais cometê-los. A luta pelo socialismo continua viva e necessária! Viva a classe trabalhadora! Eliezer Mariano da Cunha

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Participou da P.O. de 1979 a meados de 1980.

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E O VERBO SE FAZ CLASSE “No ventre de Maria Deus se fez homem. Mas, na oficina de José Deus também se fez classe.” (Dom Pedro Casaldáliga)

Três espaços de militância pastoral no final dos anos 70 e começo dos anos 80 formaram minhas opções éticas, políticas e sociais. Na Pastoral da Juventude, desenvolvi o compromisso de fé com a transformação da realidade de injustiça e opressão. Nas CEBs, as comunidades eclesiais de base, descobri o mundo dos pobres como o espaço fundamental dessa transformação. Na Pastoral Operária, percebi a classe trabalhadora como a espinha dorsal desse grande sujeito coletivo que promove a transformação. Na PJ, fortaleci a fé. Nas CEBs, vivenciei a teologia da libertação. Na PO, a espiritualidade do trabalho. Em uma década nesta tripla participação, forjei os valores fundamentais que me acompanham até hoje como militante político que atualiza em cada conjuntura a vivência d”as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem”, pois elas “são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração.” (Gaudium et Spes, 1). Este depoimento ao “Gancho” consolida uma relação que começou bem no início da década de 80 quando, no Centro de Documentação e Comunicação da Arquidiocese, passei a dar apoio à publicação do boletim da Pastoral Operária e à produção de material para a militância operária nas Oposições Sindicais. Cursinhos de comunicação popular para trabalhadores fazerem suas filipetas, boletins de fábrica, panfletos para distribuição nos bairros, cartilhas para reflexão nas CEBs e grupos de base nos bairros. Era a época do III Plano de Pastoral da Arquidiocese, com quatro prioridades que se entrecruzavam de forma profética: CEBs; Mundo do Trabalho; Educação para a Justiça e Socialização dos Bens da Igreja; e Apoio aos Movimentos Populares. Teologia da Libertação na veia... Ao longo desses mais de trinta anos, acompanhei altos e baixos da Pastoral Operária e, de resto, do compromisso transformador da Igreja com a classe trabalhadora. A luta por enraizar-se na base, através de grupos de trabalhadores nos bairros e comunidades, o desafio de formação sólida para trabalhadores que assumiram o desafio de encarar a militância sindical 20

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e partidária, as dificuldades de renovar sua metodologia para abrir-se a uma juventude trabalhadora em permanente transformação, os conflitos e crises de relação com uma instituição eclesiástica cada vez mais fechada por mais de vinte anos de papados conservadores... foram momentos importantes dessa permanente busca de continuidade de uma missão na sociedade e na Igreja que, para avançar, precisa se atualizar a cada conjuntura. Uma figura emblemática desta caminhada, que nos deixou fisicamente este ano, é com certeza a Genô. Se alguém poderia ser entronizada como santa padroeira da Pastoral Operária, é esta mulher que encarava com a mesma dedicação preparar as liturgias anuais da Missa do Trabalhador na Catedral e animar grupos de base nas comunidades, estar nas manifestações, passeatas e greves gerais e manter aberta e viva a salinha da PO no Pio XII, sempre com uma palavra de esperança e animação para uma militância nem sempre de bem com a vida. A Irmã Genoveva não viveu conosco, mais recentemente, as expectativas abertas para as Pastorais Sociais com a eleição do papa Bergoglio. Nem os conflitos que se abrem neste momento entre o legado de um passado opressivo dos últimos vinte anos e o ar novo e fresco que sopra a partir de brechas que se abrem com o pontificado de Francisco. Genô também não sofreu com as ambiguidades que vivemos hoje no projeto sindical e político que escolhemos lá atrás, que trouxe grandes conquistas e fortes impasses para os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. Isso é conosco agora. Aproveitar as oportunidades que se abrem na Igreja para a lenta reconstrução das relações das pastorais sociais com as comunidades e destas com o conjunto da instituição, ao mesmo tempo em que atualizamos na sociedade as velhas e atualíssimas bandeiras das reformas de base, de caráter democrático e popular, que permitem ao povo trabalhador sair da crise econômica e política que se aprofunda. Para dentro e para fora da Igreja, a Pastoral Operária continua tendo seu espaço, seu valor e seus desafios. Renato Simões —•—

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PASTORAL OPERÁRIA FEZ E FAZ HISTÓRIA! Quando conheci a Pastoral Operária... Tudo começou assim... “Vem lutando pela primazia do trabalho sobre o capital, rompendo com o sistema capitalista.” Em mil novecentos e setenta e cinco, enredados por dias obscuros, surgíamos, crescíamos, organizávamos comunidades, fábricas, ruas, praças, a Classe Operária acordava, ao tempo que aspirava, por um jardim a florescer.

lembram dos famosos slides: Como funciona a sociedade. Tivemos cursos sobre Mais Valia, Análise de Conjuntura, sobre Espiritualidade do Trabalho, Teologia da Libertação, Doutrina Social da Igreja e tantos outros que muito nos ajudaram a entender a Realidade Brasileira e dos trabalhadores/as. Foi na Pastoral Operária que tive a consciência sobre o verdadeiro sentido do Dia de Luta dos Trabalhadores e das Trabalhadoras – o 1º de maio. A Pastoral Operária foi um apoio importante na criação das oposições sindicais. Sempre esteve presente, contribuindo para a transformação social. “Quantos Santos em dias de amargura, Sindicatos fechado, violação, Assassinatos, mas o “operário de Sonho e Criança, Vítima da ditadura, construía uma esperança, Santo Dias da Silva.”

Em 1975 com a criação da Paróquia Cristo Ressuscitado, na Periferia sul da cidade de Joinville/SC, através de um trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), grupos de base foram nascendo, denominados Círculos Bíblicos e destes surgiram muitas lideranças cristãs. Na Paróquia Cristo Ressuscitado que surgiram as Pastorais Sociais – que tiveram uma grande presença na cidade, no estado e no país e que resistem até hoje, que é o caso da Pastoral Operária. A Pastoral Operária nasce com a proposta de unir e organizar a classe trabalhadora, na defesa dos seus interesses e ouvir os clamores dos trabalhadores e das trabalhadoras, um povo pobre, sofrido, esquecido e explorado. São 40 anos de caminhada, com muitas histórias de luta e de compromisso com o Povo de Deus! Vivendo e anunciando a Boa Nova do Evangelho com alegria, humildade, compromisso, sendo presença profética na Igreja e na Vida dos Trabalhadores/as, lutando por justiça, direitos humanos, valorizando e respeitando as diferenças. Nesta época que Iniciei a minha participação na Pastoral Operária, lembro que foram feitos trabalhos em fábricas, comércios, indústrias têxteis, metalúrgicas, serviços públicos. Na Pastoral Operária aprendi a celebrar Fé e Vida, a conhecer a realidade dos trabalhadores/as, a ter vez e voz junto das Comunidades Eclesiais de Base, partilhando e refletindo sobre a nossa vida de trabalhadores/as. Foi na Pastoral Operária que tive meus primeiros cursos de formação para entender o mundo do trabalho. Lembro de algumas temáticas,

No ano de 1992 – Fui morar em Campinas/SP, e trabalhar no Sindicato da Construção Civil, onde continuei tendo contato direto com os trabalhadores/as. Conheci a Pastoral Operária da diocese de Campinas e comecei a participar. Aprendi muito com a PO de Campinas, assumimos juntos muitos desafios e tivemos muitas conquistas. Foi um tempo de muitas conquistas e buscas, participava do grupo de base da PO, dos encontros diocesanos e estadual da PO e com isso fui assumindo diversas atividades na Pastoral Operária, nas Comunidades Eclesiais de Base, no movimento sindical e político. Um grande aprendizado para a minha vida pessoal e comunitária. Fui indicada para assumir a Coordenação Nacional da Pastoral Operária do Brasil por três anos. Resolvi dizer SIM e neste período pude acompanhar e conhecer de perto a realidade do nosso povo trabalhador, visitei e acompanhei a Pastoral Operária nos diversos estados do nosso país e pude ver e sentir o quanto o nosso povo é alegre, criativo, incansável na luta em defesa da vida. Levo comigo todo esse aprendizado, esses valores, essas amizades construídas e a esperança de que juntos somos fortes e o nosso sonho se torna realidade. Neste cenário que temos hoje se fala muito em crise, ou crises. Podemos dizer que a Pastoral Operária continua sendo essa presença profética,

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denunciando há muitos anos esse modelo capitalista que tira os direitos e a vida dos trabalhadores/as e dando seguimento a prática libertadora de Jesus de Nazaré, o Filho do Carpinteiro de Nazaré. Toda essa caminhada reafirmou o compromisso de que temos que seguir firmes, somando forças com outros movimentos populares, sindicatos, igrejas na conscientização e mobilização deste grande mutirão de resistência, persistência e teimosia. Muito temos para contar e precisamos contar a nossa história, porque preservam memórias. Precisamos continuar nossa caminhada, nossa missão, sempre pensando e buscando novos desafios e soluções. “Santo a luta vai continuar os teus sonhos, vão Ressuscitar...” Um abraço carinhoso e viva a Pastoral Operária! Conceição —•— A Pastoral Operária teve e tem uma grande influência no meu crescimento como pessoa humana e principalmente como cristão atuante na sociedade, pois através de sua espiritualidade e dinâmica transformadora voltada para a classe trabalhadora, fez com que eu tivesse uma visão cristã preocupada com o bem comum e as questões vitais para sociedade. Agradeço a P.O. por tudo que acrescentou em minha vida, e especialmente quero lembrar a irmã Genô, amiga Genô, que sempre esteve presente e me incentivou na caminhada de Pastoral Operária. “Queremos uma sociedade menos desigual, democrática, solidária e sustentável” Márcio Augusto

PASTORAL OPERÁRIA - 40 ANOS Penso que, a PO ocupou um lugar privilegiado na história contemporânea do Brasil, em assumir de maneira corajosa e abnegada, a resistência e oposição classista ao sindicalismo pelego, herança da ditadura civil militar. Lembro-me do trabalho que fizemos de construção e organização dos grupos de trabalhadores nos bairros, com as nossas Ceb’s e Paróquias de nossa Diocese, sempre com o apoio generoso de leigos, padres, freiras referenciados na Teologia da Libertação, e também, da solidariedade do nosso querido D. Gilberto. Como operário metalúrgico, a minha palavra é de agradecimento e gratidão a todos esses companheiros e a essas bravas companheiras de caminhada. Tempo de comunhão de sonhos com um Brasil politicamente democrático, socialmente justo com o nosso povo trabalhador, em que o sindicalismo pudesse voltar a ser escola de formação e organização política das categorias profissionais, na unidade da nossa classe trabalhadora num projeto libertário e emancipatório! Toda a minha solidariedade e admiração, para os que continuam resistentes caminhantes, antigos e novos! Viva a nossa PO! Os sonhos e a luta continuam! Abraço fraterno Durval de Carvalho —•—

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1984 - Ação Sindical

1989 - Missa: Dia do Trabalho

1985 - Passeata dos Trabalhadores no Centro de Campinas, SP

1991 - Encontros da Pastoral Operária em Campinas, SP

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1998 - Missa: Dia do Trabalho

2001 - Manifestacao: Ato Ecumênico Eldorado dos Carajás

2000 - Encontro de Formação

2002 - Colocando a Mão na Massa

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2002 - Cooperativa Mão na Massa

2005 - Trajetoria Sindical

2003 - Curso: Conserto de Máquinas de Lavar

2005 - Pastoral Operária na Praça com Desempregados em Campinas, SP

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2005 - 30 Anos da Pastoral Operária

2006 - Cooperativa de Delícias e Saladas

2005 - Caminhada dos Mártires na Região do Campo Grande

2013 - Encontro com Jovens

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2014 - Dezembro: Confraternização

2015 - Fevereiro: Encontro sobre Terceirização

2014 - Dezembro: Descontraindo com os Amigos da P.O.

2015 - Março: Formação do CEB’s

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RECONHECIMENTO

2015 - Celebração e Encontro de Avaliação e Planejamento

2015 - 7 de Setembro: Grito dos Excluídos em Campinas, SP 36

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Comissão Arquidiocesana de Pastoral Operária CENTRO PASTORAL PIO XII Rua Irmã Serafina, 88 - Bosque - CEP 13026-066 - Campinas - SP Tel.: (19) 3519-3050 - E-Mail: pocampinas@yahoo.com.br


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