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Páscoa do Senhor de 2015 Missa do Dia. Caríssimos Irmãos e Irmãs: Assim que Maria Madalena vira o túmulo vazio, correu à Jerusalém atrás de Pedro e João. “Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram” (Jo 20,2) Nem Maria Madalena nem Pedro nem João e os demais Apóstolos, quando souberam do desaparecimento do corpo, pensaram num milagre de ressurreição, mas na explicação mais plausível: roubaram o cadáver. A essa explicação, os céticos ao sobrenatural se agarrarão obstinadamente ao longo dos séculos. Até hoje, muitos atribuem aos discípulos o roubo do corpo de Jesus. Teriam rolado a pedra da entrada da sepultura enquanto os guardas dormiam. Estranhas essas sentinelas, que dormiam todas ao mesmo tempo e que não teriam acordado nem mesmo ao barulho do rolar da pedra da entrada do sepulcro! “Astúcia miserável”, dizia S. Agostinho, “apresentas umas testemunhas adormecidas! Na verdade, tu mesmo deves estar caindo de sono para te afundares em semelhantes suposições.” Só testemunha quem vê! 1


Com certeza, os Apóstolos e os seguidores do Senhor não teriam dado suas vidas apoiadas numa fraude. Se não tivessem visto e tocado o Senhor ressuscitado, não levariam avante o seu mandamento: “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho...” Pedro e João, bem como Maria Madalena, creram na ressurreição do Senhor, não porque o túmulo estava vazio, mas porque estiveram com Ele durante quarenta dias. Entretanto, não são apenas sonolentos, sonâmbulos e letárgicos os que acreditam terem os guardas adormecidos durante o roubo do corpo, como dizia S. Agostinho. Nós, herdeiros da Tradição dos Apóstolos, de fé católica, também não fazemos parte dos sonolentos que S. Agostinho acusava? Nossa vida, muitas vezes, descomprometida com o Evangelho parece evidenciar que não cremos verdadeiramente que o Senhor ressuscitou. Nossa lentidão para querer e aprender a amar, revela que a ressurreição do Senhor é um fato? Nosso apego pelas coisas passageiras e transitórias, não é prova de que possivelmente não cremos na vida futura? Uma família, uma comunidade religiosa ou paroquial cujos membros lutam pelo poder, ignorando a Palavra do Senhor que diz: “o maior é 2


aquele que serve”, não confirma aos chamados ateus, que o Cristo não ressuscitou? Em nossa vida, muitas coisas mal compreendidas são uma faca de dois gumes. Podem elas ser um testemunho vago e ambíguo. Eis alguns exemplos, possíveis de serem completados: A beleza é importante para a vida de fé. Devemos ser mártires da beleza e na feiúra, jamais da feiúra. Porém o apreço e a sensibilidade por uma bela liturgia, pela arte sacra e litúrgica, pelos cantos , pelos edifícios e templos poderão ser apenas uma vocação esteta e não seguimento Daquele que é “o mais belo dos filhos dos homens”. A luta pelos pequenos, oprimidos e injustiçados poderá ser apenas sustentada por um desejo de justiça pessoal ou social, de fato louvável, porém sem reconhecer o Cristo presente naqueles pelos quais se luta. Uma vida religiosa pode ser perseguida por muitos apenas como fuga de responsabilidades e desafios da sociedade e não uma experiência do Cristo ressuscitado que diz a todo instante: “Quem não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo.” Um matrimônio, perfeitamente, poderá ser mantido por comodidade, motivos econômicos ou sociais, com a aparência de fidelidade, sem os cônjuges experimentarem o “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” 3


Uma denúncia poderá ser mais por gosto e sede de vingança do que por amor à palavra do Cristo: “A verdade vos libertará” e “quem tiver sem pecado, atire a primeira pedra.” Uma vida de oração poderá ser busca de si mesmo e não de Deus. Se não nos conduz à estrada de Jericó, fazendo-nos um bom samaritano, é, com certeza, uma ilusão. Mas como saber se realmente cremos no Cristo ressuscitado, centro de nossa fé? O próprio Senhor já nos disse: “Pelos frutos conhecereis a árvore.” Aquele que morre pelo Cristo, que dá a vida pelo Cristo, que orienta sua vida pelas Palavras do Cristo, que opta em determinadas situações para estar de acordo com o amor de Cristo, que renuncia ao que é passageiro porque espera os bens eternos prometidos pelo Cristo, este, sem dúvida, crê na ressurreição. Essa foi a vida dos santos Mártires e Confessores. Não realizaram apenas boas obras, mas creram no mistério pascal do Cristo. S. Paulo nos exorta: “`É hora de acordarmos do sono”. Estejamos, pois, bem lúcidos para não ficarmos na experiência do túmulo vazio, que nada prova, mas na experiência do Senhor vivo presente

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em sua Igreja, presente nos corações de tantos homens e mulheres, presente em nós mesmos, que somos Templo de seu Espírito Santo. A ressurreição do Senhor Jesus é o núcleo de nossa fé, de nossa celebração litúrgica, de nosso compromisso batismal e de nossa esperança em participarmos, um dia, à mesa dos bem-aventurados na Jerusalém gloriosa, que esta Eucaristia já a antecipa sacramentalmente. Amém.

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