Proclamação das Solenidades Móveis Clayton Dias1
No próximo domingo celebramos a Epifania do Senhor. Segundo as Normas Universais do Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral, “a Epifania do Senhor é celebrada no dia 6 de janeiro, a não ser que seja transferida para o domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro, nos lugares onde não for considerada dia santo de guarda”.i Segundo o Cerimonial dos Bispos: “A antiga solenidade da Epifania do Senhor deve-se contar entre as maiores festas do ano litúrgico, pois celebra, no Menino nascido de Maria, a manifestação daquele que é o Filho de Deus, o Messias dos Judeus e a Luz das Nações.”ii Uma antiga tradição que remonta aos primórdios da Igreja e que se faz ainda presente nas rubricas do Missal Romano, do Cerimonial dos Bispos e do Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2013 da CNBB diz o seguinte:
Após a proclamação do Evangelho, o diácono ou o sacerdote ou outro ministro idôneo pode fazer o anúncio do dia da Páscoa.iii
Se tal for o costume local, após o canto do Evangelho, um dos diáconos, ou algum cônego ou beneficiado ou outra pessoa revestida de pluvial, subirá ao ambão e daí anunciará ao povo as festas móveis do ano corrente.iv
Depois da proclamação do Evangelho ou em seguida à Oração depois da Comunhão, faz-se o anúncio das solenidades móveis do ano (conforme página 39 do Diretório Litúrgico).v
Proclamação das Solenidades Móveis de 2009 Basílica de S. Pedro – Vaticano Conforme relatamos, essa tradição remonta aos primórdios da Igreja. O Patriarca de Alexandria, cidade na qual os astrônomos eram os mais qualificados do cristianismo, tinham a missão de enviar a data da solenidade pascal para os outros patriarcas orientais e ao Pontífice Romano, que informaria aos Metropolitas do Ocidente. Embora não haja nenhuma menção à fixação da data da Páscoa nos cânones do Concílio de Nicéia que foram preservados, sabemos que o assunto foi discutido e decidido pelo Concílio, com três textos: uma carta do imperador Constantino, um carta sinodal Doutorando em Música pela UNICAMP, membro da Comissão de Liturgia do Regional Sul 1 da CNBB, Coordenador do Setor de Música Litúrgica da Comissão Arquidiocesana de Liturgia de Campinas, Diretor do CEMULC, regente do Coro da Arquidiocese de Campinas. 1
à Igreja de Alexandria, e uma carta escrita por Santo Atanásio em 369 aos bispos da África. Assim, os bispos tomaram a prática de publicar, anualmente, em 6 de janeiro, uma Epistola festalis – uma carta pastoral na qual foram anunciadas a data da Páscoa e as festas móveis do ano em curso. Muitos Padres da Igreja primitiva falam do anúncio da data da Páscoa, na festa da Epifaniavi. O IV Concílio de Orleães (541) traz o seguinte cânone sobre o anúncio das Festas Pascais: “Foi decidido, com a ajuda de Deus, que a santa Páscoa seja celebrada por todos os bipos na mesma data, segundo a tabela de Vítor de Aquitânia. Esta festa deve ser anunciada ao povo, na igreja, no dia da Epifania. Sempre que se levante alguma dúvida a propósito desta solenidade, aceite-se a decisão pedida ou conhecida da Sé Apostólica pelos metropolitas”.vii Um cânone semelhante é promulgado pelo Concílio de Auxerre (561-605): “Todos os presbíteros, antes da Epifania, enviem os seus emissários que os informarão sobre o início da Quaresma; e o povo seja avisado disso no dia da Epifania”.viii O Pontificale Romanumix traz uma fórmula melódica para se cantar o Anúncio das Solenidades Móveis. É uma fórmula que faz uso do mesmo recitativo gregoriano usado para o Exultet gregoriano da Vígilia Pascal, o que dá um gosto da alegria da Páscoa para esta publicação da data da Páscoa. Essa melodia encontra-se publicada no Hinário Litúrgico da Arquidiocese de Campinas – Fascículo 1 (Advento e Natal) nº 95. Ao final desse artigo colocamos a partitura, com o texto adaptado com as datas das Solenidades Móveis de 2013 facilitando assim o acesso a este canto. Para finalizar esse breve artigo, citamos as palavras do nosso amado papa Bento XVI: “No mistério da Epifania, ao lado de um movimento de irradiação para o exterior, manifesta-se um movimento de atração para o centro, que leva a cumprimento o movimento já inscrito na Antiga Aliança. A fonte deste dinamismo é Deus, Uno na substância e Trino nas Pessoas, que atrai a si tudo e todos. A Pessoa encarnada do verbo apresenta-se assim como princípio de reconciliação e de recapitulação universal (cf. Ef 1, 9-10). Ele é a meta final da história, o ponto de chegada de um ‘êxodo’, de um caminho providencial de redenção, que culmina na sua morte e ressurreição. Por isso, na solenidade da Epifania, a liturgia prevê o chamado ‘Anúncio da Páscoa’: o ano litúrgico, de fato, resume toda a parábola da história da salvação, em cujo centro está ‘o Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado”.x
Proclamação das Solenidades Móveis de 2013
Irmãos caríssimos, a glória do Senhor manifestou-se, e sempre há de manifestar-se no meio de nós até a sua vinda no fim dos tempos. Nos ritmos e nas vicissitudes do tempo recordamos e vivemos os mistérios da salvação. O centro de todo o ano litúrgico é o Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, que culminará no Domingo de Páscoa, este ano a 31 de março. Em cada Domingo, Páscoa semanal, a Santa Igreja torna presente este grande acontecimento, no qual Jesus Cristo venceu o pecado e a morte. Da celebração da Páscoa do Senhor derivam todas as celebrações do Ano Litúrgico: as Cinzas, início da Quaresma, a 13 de fevereiro; a Ascensão do Senhor, a 12 de maio; Pentecostes, a 19 de maio; o primeiro Domingo do Advento, a 1º de dezembro. Também nas festas da Santa Mãe de Deus, dos Apóstolos, dos Santos, e na Comemoração dos Fiéis Defuntos, a Igreja peregrina sobre a terra proclama a Páscoa do Senhor. A Cristo, que era, que é e que há de vir, Senhor do tempo e da história, louvor e glória pelos séculos do séculos. Amém.
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NORMAS UNIVERSAIS DO ANO LITÚRGICO E CALENDÁRIO ROMANO GERAL, nº 37 in MISSAL ROMANO. 10. ed. Tradução da CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Paulus, 2006, p. 98. ii
CERIMONIAL DOS BISPOS, 3. ed. Tradução da CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Paulus, 2004, p. 81, nº 240. iii
MISSAL ROMANO. 10. ed. Tradução da CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Paulus, 2006, p. 164.
iv
CERIMONIAL DOS BISPOS, 3. ed. Tradução da CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Paulus, 2004, p. 81, nº 240. v
DIRETÓRIO DA LITURGIA E DA ORGANIZAÇÃO DA IGREJA NO BRASIL 2013. CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Brasília: Edições CNBB, 2012. vi
PUBLICATION of the Date of Easter on the Day of the Epifhany. New Liturgical Movement. Disponível em: <http://www.newliturgicalmovement.org/2012/01/publication-of-date-of-easter-on-day-of.html> Acesso em 03 jan. 2013. vii
IV Concílio de Orleães nº 1 in ANTOLOGIA LITÚRGICA: Textos Litúrgicos Patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 1242. viii
Concílio de Auxerre, nº 2 in ANTOLOGIA LITÚRGICA: Textos Litúrgicos Patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 1255. ix
PONTIFICALE ROMANUM , editio typica 1961-1962 in Monumenta Liturgia Piana III. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2008.
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Papa Bento XVI, Homilia da Epifania do Senhor, 6 de janeiro de 2006.